Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da renúncia ao cargo pela Presidente Dilma Roussef.

Autor
Ronaldo Caiado (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Ronaldo Ramos Caiado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Defesa da renúncia ao cargo pela Presidente Dilma Roussef.
Publicação
Publicação no DSF de 02/07/2015 - Página 213
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • DEFESA, RENUNCIA, DILMA ROUSSEFF, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, AUSENCIA, QUALIDADE, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Oposição/DEM - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Maria do Carmo, Srªs e Srs. Parlamentares, nós ouvimos aqui os Parlamentares que me antecederam preocupados com temas que são, sem dúvida alguma, relevantes, e esta Casa tem a responsabilidade de deliberar sobre cada um deles, mas eu quero trazer aqui à discussão um outro assunto que é extremamente atual e que considero, dentro da escala de importância, o mais relevante de todos. O que nós hoje estamos assistindo é algo que preocupa a todos os brasileiros. Nós aqui representamos as 27 unidades da Federação, como Senadores da República que somos. A pergunta que eu faço, Srª Presidente, é se, num momento tão delicado como este, esta Casa também não deveria abrir o espaço para discutir o momento de total ingovernabilidade que o País está vivendo.

            Hoje, todos os brasileiros receberam a última pesquisa do Ibope, que relata que, desde a redemocratização, é a primeira vez na história do País que uma Presidente da República atinge o índice de 68% de ruim e péssimo. É algo inimaginável. O comparativo que o próprio Ibope fez mostra uma sequência na pesquisa desde final de 2013, início de 2014. A Presidente tinha uma avaliação de bom e ótimo de 43%. Neste início de 2015, ela chega a uma aprovação de 9%. A aprovação da Presidente da República é de 9%, ou seja, em cada cem brasileiros, nove confiam na Presidente da República. Logo a seguir, há o gráfico que lhe dava uma condição de um governo regular: 35%. Ele hoje vem a 21% como um governo regular. Vejam bem a escala ascendente, a curva ascendente que é aquela que caracteriza o governo ruim e péssimo. Ela saiu, exatamente, de um percentual de 20% e chegou hoje a 68% de ruim e péssimo.

            Isso aqui nada mais é do que o atestado maior daquilo que nós estamos falando e, cada dia mais, mostrando: o processo de ingovernabilidade tem que ser uma preocupação desta Casa. Aqui não é questão de oposição ou Governo. A questão, neste momento, é discutirmos o Brasil, é discutirmos a condição de este País voltar a ter governabilidade e uma gestão confiável junto à população brasileira. Esta Casa não tem que se esforçar apenas para manter a figura da Presidente da República. Esta Casa tem que se esforçar para poder, como em toda democracia, dar ao Governo as condições de governar, mas, ao mesmo tempo, exigir da Presidente da República as condições de credibilidade junto à população, para poder, aí, sim, dar continuidade a um projeto de desenvolvimento do País. A pergunta que faço aos nobres Senadores: qual é o projeto que a Presidente da República ou o Governo do País tem para apresentar à sociedade brasileira, para resgatar o ânimo, para transmitir esperança a todo esse povo?

            É fundamental que pensemos, diante do quadro a que nós assistimos. Cada Senador aqui, ao sair para nossos Estados, convive exatamente com essa cobrança diária. As pessoas estão desencantadas, desiludidas, mas muitos estão desesperados, pois eles não enxergam alternativa. E nós não estamos falando aqui apenas como um Senador de oposição, nós estamos trazendo aquilo que é exatamente a radiografia do povo brasileiro em relação à Presidente da República.

            É isto, Sr. Presidente, que nós, nesta hora, temos que ter a responsabilidade de saber: será que falta a ela só apoio popular? Sem dúvida alguma, mas essa falta de apoio chegou também aqui ao Congresso Nacional. Eu gostaria que os nobres pares analisassem o placar de ontem na votação do reajuste do salário dos servidores do Poder Judiciário, em que houve aqui a fala do Líder do Governo, Senador Delcídio, e dos Líderes do PT. E o resultado da votação? Na reta final, até o PT liberou a Bancada. Isso significa o quê? Significa que o Líder do Governo falava para quem? Qual é a Base de sustentação deste Governo? Ele ontem foi desautorizado pelo próprio Partido da Presidente da República, e a votação foi por unanimidade. Isso caracteriza, então, além do apoio popular, o apoio político, porque a classe política já sentiu que não tem mais condições de tentar alavancar um Governo. Hoje, para qualquer ação que manifesta, para qualquer projeto que propõe, a reação da população é sempre refratária. Por quê? Porque está entremeada de corrupção, denúncias a todo minuto, a denúncia chegando dentro do Palácio do Planalto.

            Se o Lula ironizava, àquela época, dizendo que era uma marolinha, hoje o Palácio do Planalto produziu um verdadeiro tsunami na economia brasileira. Nós estamos aí hoje com mais de 9 milhões de desempregados, com um prognóstico de chegarmos ao final do ano com taxas que podem beirar a 12 milhões ou 13 milhões de desempregados no País. Nós estamos hoje, mesmo com essa recessão enorme, com uma inflação galopante, uma inflação que cada vez mais consome, corrói o salário do trabalhador, que, cada vez mais, mostra que investir é preocupante, porque nós não sabemos qual é o prognóstico daquele investimento no dia de amanhã.

            É por isso que, neste momento, é fundamental que possamos discutir o assunto sem ter aqui o receio de que isso possa ser um discurso ou uma retórica muito dura contra a Presidente da República. Não. A nossa responsabilidade nesta Casa não é de nos preocupar com a figura, pessoa física da Presidente, mas com a governabilidade e com a continuidade do desenvolvimento do nosso País.

            Eu pergunto: quem tem dados para mostrar que estamos no caminho certo? Essa pesquisa mostra que, a cada dia que passa, a Presidente entra numa escalada de queda jamais vista na política deste País, comparável, talvez, ao momento daquela fase final do governo Collor.

            Agora, O Ibope vem dizendo que, desde a redemocratização, é o maior índice de rejeição já levantado por esse tipo de pesquisa.

            Olha, Presidente, nós aprendemos, principalmente nós políticos, que numa pesquisa pré-eleitoral muitas vezes o que vale não é aquele patamar ou aquele índice de aprovação, mas, sim, o índice de rejeição, que é o fator determinante para que aquele candidato não possa disputar uma eleição majoritária. O que o povo está dizendo? Com essa rejeição, a Presidente da República não tem condições de governar o País.

            E pergunto: é justo que tentem impor uma situação em que a população se sentiu traída, vítima de um estelionato eleitoral? E agora, por acomodação de alguns, ou de benesses de máquinas, ou de ministérios atendendo alguns grupos políticos, ou partidos que compõem a Esplanada dos Ministérios, temos o direito de voltar as costas para a população brasileira? Fazer cara de paisagem, como se nada estivesse acontecendo?

            Presidente, este momento exige de nós a coragem para podermos exigir, em primeiro lugar, da Presidente da República, que tenha espírito público, que tenha um gesto realmente acima dos seus interesses pessoais; que, ao ver que não tem condições de comandar o País, tenha coragem de renunciar o posto que ocupa e de convocar novas eleições no País. É fundamental que isso ocorra. Do contrário, nós estaremos insistindo num processo e, amanhã, não teremos mais um quadro como esse. Nós teremos a Presidente da República com a rejeição de 100% da população brasileira. Nós teremos uma rejeição completa a todas as suas ações e também, Sr. Presidente, um quadro de ingovernabilidade, chegando e arriscando com perda do poder de compra, inflação desenfreada e desemprego atingindo patamares jamais imaginados. Nós podemos correr o risco de ver instalado um quadro de desobediência civil no País.

            Por isso, nós temos o compromisso com a democracia brasileira. Nós temos aqui a responsabilidade de manter aquilo que, sem dúvida alguma, todos nós juramos defender aqui ao assumirmos o nosso mandato de Senadores e de Senadoras.

            Eu invoco, Sr. Presidente, o gesto e também a responsabilidade de cada um dos Senadores e de cada uma das Senadores para que, diante desse quadro que aí está, esta Casa também comece a se pronunciar em relação às denúncias da pedalada no TCU, à denúncia do caixa dois nas campanhas eleitorais do PT, o que alimentou e oxigenou a campanha da Presidente da República com desvios não só da Petrobras, mas também de todos os outros órgãos públicos que foram usados pelo Governo como máquinas de partido.

            Encerro dizendo, Presidente, que o Brasil precisa voltar a acreditar na política e, principalmente, no governante que representa a figura da Presidência da República. A Presidência da República exige que a pessoa que ocupa esse cargo tenha uma liturgia própria, tenha uma condição capaz de dar o bom exemplo, de chamar toda a sociedade brasileira e dizer que o Brasil mudou de rumos, que o Brasil priorizará quem trabalha, quem produz e saberá ser justo com as pessoas que as pessoas que dependem da mão do Governo, para poder, cada vez mais, coibir as diferenças e as distorções sociais que existem em nosso País.

            Eu encerro dizendo a todos os nobres colegas que nós já sabemos muito bem - ninguém aqui precisa ensinar a ninguém, todos são conhecedores profundos da realidade - que não dá mais para nós adiarmos essa decisão. Nós não podemos, amanhã, nos comportar como um médico que não tem, talvez, a competência e a coragem de assumir um paciente num momento grave e prefere lavar as mãos e deixar que ele caminhe a óbito, para não assumir responsabilidade.

             Esta Casa tem a responsabilidade, sim, de manter a governabilidade, de reivindicar novas eleições para o País, e, sem dúvida alguma, trazer a condição de esperança de governabilidade e de crescimento para o nosso Brasil.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pelo tempo a mais que V. Exª me concedeu.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/07/2015 - Página 213