Discurso durante a 206ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre audiências públicas ocorridas na CCT, em 28 e 29 de outubro, para debater os riscos da energia nuclear.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINAS E ENERGIA:
  • Comentários sobre audiências públicas ocorridas na CCT, em 28 e 29 de outubro, para debater os riscos da energia nuclear.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2015 - Página 166
Assunto
Outros > MINAS E ENERGIA
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, LOCAL, CONSELHO CIENTIFICO E TECNOLOGICO (CCT), SENADO, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, ENERGIA NUCLEAR, COMENTARIO, CARTA, DESTINATARIO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PEDIDO, INTERRUPÇÃO, CONSTRUÇÃO, USINA NUCLEAR, MOTIVO, CORRUPÇÃO, POSSIBILIDADE, ACIDENTE, DEFESA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, PESQUISA, ENERGIA EOLICA, ENERGIA SOLAR.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Vanessa, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, nos dias 28 e 29 de outubro, a Comissão de Ciência e Tecnologia organizou dois dias de debates aqui, no Senado, sobre energia nuclear, Senador Paim. Um grupo de pessoas de diversos países, cada uma delas veio aqui para dizer o que aconteceu nos seus países em função de falhas no sistema de energia nuclear.

    Uma das motivações desse seminário é o meu projeto de lei que determinaria - espero que seja aprovado um dia - uma moratória, um período de 30 anos, durante os quais as pesquisas continuariam - acho até que deveriam fazer mais pesquisas ainda sobre energia nuclear, porque pode ser a grande alternativa limpa no futuro -, mas não faríamos novas centrais, enquanto não houvesse absoluta segurança, do ponto de vista da engenharia civil, que mantém os reatores, e do ponto de vista da segurança no uso e na guarda do lixo atômico, que dura milhares de anos, ameaçando ao redor por centenas de quilômetros.

    Nesse encontro, tivemos a participação, inclusive, por televisão, do Primeiro-Ministro do Japão, Senador Jorge Viana, no momento de Fukushima, que fez um depoimento muito forte, lembrando que ele sempre foi favorável à energia nuclear, mas que tinha mudado de posição ao ver o que aconteceu no Japão, com Fukushima. Tivemos representantes que cuidam dos doentes que até hoje sobrevivem, com muitas doenças, por conta de Chernobyl. Tivemos especialistas de diversos lugares.

    E no final nós fizemos uma carta à Presidenta Dilma, que eu e o Chico Whitaker, que é tão conhecido, amigo de tantos de nós, assinamos juntos e mandamos à Presidenta. Nessa carta nós escrevemos:

[...] Senhora Presidenta Dilma,

[...] [acabamos] de participar, no Senado Federal, do Seminário Internacional [cujo título é] "Usinas Nucleares - Lições da Experiência Mundial" promovido pela Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, que tenho a honra de presidir.

Contamos nesse Seminário com as contribuições de renomados especialistas [...] [da Bielorrússia], do Japão, da França, da Alemanha e dos Estados Unidos, que nos trouxeram informações e reflexões sobre a realidade da opção nuclear para produzir eletricidade, sobre os riscos que a acompanham, da mineração do urânio até a destinação final de seus rejeitos, assim como sobre a elevação contínua de seus custos.

Ao final do Seminário, saí ainda mais convicto da necessidade urgente de se fazer uma revisão profunda da matriz energética brasileira e de serem tomadas algumas decisões inadiáveis.

Em primeiro lugar, interromper definitivamente a construção da usina nucelar Angra 3, cujo projeto obsoleto não cumpre os requisitos de segurança hoje exigidos [no mundo]. Angra 3 [além disso] está maculada pela corrupção e, muito mais grave, Angra 3 pode vir a causar, no Brasil, uma catástrofe das dimensões de Chernobyl e Fukushima.

Em segundo lugar, discutir mais amplamente no país a possibilidade de retirar da nossa matriz energética a opção nucelar, como já o fizeram a Alemanha, a Itália e a Áustria, pela ameaça que ela representa para a vida da população, para o meio ambiente e para as gerações futuras.

Em terceiro lugar, redirecionar nossos investimentos em energia nuclear para a pesquisa e o uso de fontes energéticas como a eólica e a solar, para as quais o nosso país oferece condições privilegiadas [e uma vocação natural].

[...] [Enviamos] desde já esta carta [...] em razão da urgência e gravidade dessas questões. Será complementada por outra, com as informações colhidas no Seminário, e convidarei os participantes e todas as pessoas que no Brasil se interessam pelo enfrentamento desse desafio a assinarem comigo.

    Essa carta, Sr. Presidente, foi enviada no final de outubro, e creio que com isso nós cumprimos a nossa obrigação. Nós precisamos alertar a população brasileira dos riscos que significam a opção nuclear em um país com as alternativas de energia que nós temos, alternativas já em vigor. Hoje, 3% saem das usinas nucleares. O Brasil pode perfeitamente funcionar bem com 3% a mais em outras centrais que não nucleares ou até reduzindo esse consumo, como já provamos ser capazes, quando houve o apagão durante o Governo Fernando Henrique Cardoso.

    Nós temos sido descuidados. E a prova foi o que aconteceu em Mariana. Estava avisado que ia acontecer. O que acontece nas nossas usinas nucleares está avisado que pode acontecer. Não sabemos quando, mas pode. E a dimensão do desastre, em uma usina que fica entre Rio e São Paulo, que não tem formas fáceis de escapar, se aquilo entrar em crise, como aconteceu em outras usinas do mundo, leva a que o Brasil tome uma decisão.

    Vamos buscar outras fontes alternativas de energia. Vamos cuidar para evitar riscos e tragédias, com a diferença de que, se um dia acontecer uma tragédia nuclear, essa tragédia de Mariana, com toda a sua dimensão, com toda a sua dimensão trágica, será nada diante do que acontece quando existe uma crise numa central nuclear.

    Nós fizemos o encontro, Senador Jorge Viana, mandamos a carta e vamos continuar trabalhando nesse sentido.

    Faço um apelo às Comissões do Senado para que aprovem o projeto de lei da criação, da determinação da moratória por 30 anos de novas usinas - nem tocamos nas atuais usinas, como a Alemanha decidiu, como o Japão decidiu, como a Itália decidiu. Não tocamos nas atuais. Mas que novas usinas esperem que a engenharia assegure que não há risco de acontecer aqui o que aconteceu em outras usinas e que não há risco na maneira de guardar os resíduos, o lixo nuclear, com todas as suas características nefastas para o meio ambiente e para a vida.

    Era isso, Sr. Presidente, que eu queria ler aqui, um mês quase depois, mas ainda em tempo de dizer que o Senado fez seu papel no debate. É preciso fazer agora o seu papel legislando. Não podemos deixar de lado a nossa responsabilidade com fatos como esse que aconteceu com Mariana e que será de proporções muito, muito, muito superiores e mais graves se acontecer um dia com uma central nuclear.

    É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2015 - Página 166