Discurso durante a 47ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação pela aprovação no Senado de projeto de lei de autoria do orador que define regras para as habitações destinadas aos empregados domésticos.

Considerações sobre o processo de “impeachment” da Presidente Dilma Rousseff; e lamento pela polarização no atual cenário político-social brasileiro e pela falta de debates construtivos acerca do futuro do país.

Comentários sobre o livro “Reaja”, de autoria do orador.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Satisfação pela aprovação no Senado de projeto de lei de autoria do orador que define regras para as habitações destinadas aos empregados domésticos.
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações sobre o processo de “impeachment” da Presidente Dilma Rousseff; e lamento pela polarização no atual cenário político-social brasileiro e pela falta de debates construtivos acerca do futuro do país.
CULTURA:
  • Comentários sobre o livro “Reaja”, de autoria do orador.
Aparteantes
Lindbergh Farias, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 09/04/2016 - Página 22
Assuntos
Outros > TRABALHO
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > CULTURA
Indexação
  • ELOGIO, APROVAÇÃO, DECISÃO TERMINATIVA, COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS (CAS), SENADO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, OBJETO, REGULAMENTAÇÃO, HABITAÇÃO, DESTINAÇÃO, EMPREGADO DOMESTICO.
  • ANALISE, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, EXISTENCIA, CONFLITO, POLITICA NACIONAL, AUSENCIA, PRODUTIVIDADE, DEBATE, OBJETIVO, MELHORIA, SITUAÇÃO, BRASIL.
  • COMENTARIO, LIVRO, AUTORIA, ORADOR.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras.

    Em primeiro lugar, sobre esses livros, Senador, eu pensava que já tinha lhe dado há mais tempo o livro Reaja!, porque eu creio que o senhor é uma das pessoas que deveria receber esse livro. É uma apologia a reagir, não à reação, que tem uma conotação negativa, mas a reagir, a enfrentar, e é feito para os jovens, para as pessoas que têm hoje a idade que o senhor tinha quando eu o conheci, eu reitor e o senhor líder estudantil.

    O outro é porque o Senador Lindbergh sempre fala aqui que precisamos, cada vez que votamos, lembrar o que a história vai dizer do nosso voto. E esse livro Dez Dias de Maio em 1888, que já tem uns tantos anos, eu escrevi analisando as atas dos dez dias que o debate da Lei Áurea durou. A Princesa Isabel mandou para cá no dia 4; no dia 13, ela já conseguiu sancionar. Nesse período - muito bonito o debate que houve entre os diversos Senadores -, ficou registrado aí o nome dos escravocratas que aqui defenderam a posição da continuação da escravidão com argumentos. Por exemplo: "Não é hora ainda de acabar a escravidão. Aqui não temos condições de ter a economia funcionando sem a escravidão".

    Eu comparo esse debate deles com o de hoje, quando dizem: "Não dá ainda para ter os filhos dos pobres em escola tão boa quanto os filhos dos ricos". Que é o que as pessoas dizem: "Sou favorável, mas não dá ainda". Claro que dá para começar a fazer isso. Então, esses dois livros, eu já deveria ter lhe enviado há mais tempo.

    Mas, Sr. Presidente, Sr. Senador...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Cristovam Buarque, só, antes disso, um debate muito importante que a gente fez neste Senado foi sobre a questão das empregadas domésticas, de colocar os direitos das empregadas domésticas como os de todos os trabalhadores. E havia uma argumentação de que não era a hora ainda. Isso só para falar de V. Exª. V. Exª sabe do carinho, da admiração que eu tenho. Eu tenho muito orgulho, como Presidente da UNE - V. Exª era o reitor da UnB -, de ter participado de um fórum que V. Exª fez, chamado Fórum do Pensamento Inquieto, que trouxe várias pessoas para falar sobre vários temas. Eu tenho muito orgulho em dizer, porque acho que V. Exª é uma referência para mim e para muita gente, para muitos brasileiros, que V. Exª continua um inquieto.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Obrigado.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - No bom sentido. Atrás de saídas, discutindo o Brasil, isso anima muito. V. Exª é uma figura pública ímpar na nossa República, faço questão de registrar isso, porque V. Exª sabe que é verdadeiro.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Muito obrigado.

    Aliás, eu aproveito para dizer que antes de ontem eu tive a satisfação, quarta-feira, de ter aprovado, na Comissão de Assuntos Sociais, terminativo, já vai para a Câmara, um projeto meu que vai dar muita crítica, Senador Lindbergh, que define regras para as habitações onde ficam empregados domésticos, empregadas domésticas.

    Hoje são verdadeiras senzalas, os prédios de apartamento têm as partes da família e senzalas para a parte dos empregados domésticos. Temos que regulamentar isso, eu vou tentar, muita gente vai criticar muito, vai dizer que esse é o mercado que deve regular.

    Bem, Senadores, nós temos tido aqui debates interessantes e eu queria retomar um ponto. Talvez nunca no Brasil e em poucos países as pessoas falaram - eu usei o verbo falar - tanto sobre um assunto político quanto atualmente, talvez nunca. Mas, a meu ver, falam sem debater, falam sem politizar o assunto do momento que é: interrompe-se ou não o mandato da Presidente Dilma antes da sua conclusão, em 1º de janeiro de 2019.

    Esse é um debate que poderia ser feito de uma maneira riquíssima, pelo extraordinário fato que é, num regime presidencialista, interromper-se o mandato de presidente.

    Mas não estamos debatendo. Estamos falando, estamos torcendo a favor ou contra. As pessoas não conseguem articular um debate sobre as consequências disso, tanto do ponto de vista constitucional, quanto do ponto de vista republicano, que deveriam estar juntos, mas não ficam juntos em alguns momentos.

    Pois bem, quando a gente vê o debate, é tão polarizado sectariamente que hoje, Senador Telmário, você não tem mais que convencer as pessoas que estão do outro lado; você tem que convertê-las. É como se fosse uma fé, como se fosse uma religião. Política não se faz com fé, faz-se com convicção, que é diferente. A fé, para você perdê-la, tem que ser convertida para uma outra. A convicção você tem que ser convencido de que está errado para ter outra. Nós não estamos conseguindo fazer esse debate com a lucidez necessária de conseguir convencimento de quem está de um lado passar para outro.

    E aí, nessa tentativa de fazer o convencimento, eu queria fazer algumas considerações. Primeiro, que a Constituição define em que circunstâncias e quais os procedimentos para interromper o mandato de um presidente. E fazer diferente do que a Constituição diz é golpe. Fazer dentro do que a Constituição diz não é golpe. É natural, é previsto, é constitucional. Agora, para isso, é preciso ver bem os artigos, onde, primeiro, permite-se o impeachment; segundo, diz-se como e por que se faz.

    Grande parte hoje dos que defendem o impeachment estão defendendo por descontentamento com a realidade. E, se olharmos ao redor, de fato, esse não está sendo um bom governo para o Brasil.

    E uma prova disso, Senador Telmário, Senador Lindbergh, é que tenho acompanhado muito as falas, os discursos dos últimos movimentos contra o que se chama de golpe, e não vejo - e lamento - defesas do Governo Dilma. Eu vejo acusações de que é golpe interromper o governo, mas ninguém diz: "Vai ser ruim para o Brasil interromper porque vai parar o crescimento, porque vão parar as boas coisas que estão sendo feitas". Não há essa discussão.

    E, do outro lado, eu não vejo ninguém defender o impeachment dizendo que o Governo Temer vai ser bom. Não vejo. As pessoas defendem dizendo que o que está aí não dá para aguentar mais, e não que o que virá depois vai ser bom. Mas o que virá depois já está determinado pela Constituição. Foi eleito.

    Aliás, também a gente vê as pessoas que são contra o impeachment argumentar que fazer o impeachment é colocar no lugar o Presidente Temer, mas sem lembrar que foi a Presidente Dilma, foi o Partido dos Trabalhadores que escolheu o Temer para Vice-Presidente. Então, não reclamem disso, não critiquem isso.

    Pois bem, o que nós vemos é um debate em que as pessoas não defendem o Governo, porque, ao olhar ao redor, as coisas não estão bem. A República não vai bem. Não vai bem pelo esgotamento de um modelo. Esgotou o modelo que vem de 1992, com o Presidente Itamar, com o apoio de diversas forças, que Lula continuou, que Dilma continuou, e que tem quatro esteios, quatro pilares: a estabilidade monetária, a democracia política, o crescimento econômico e a transferência de renda para a população pobre, com cotas e com bolsas. Isso tem 25 anos, quase. Isso entrou em crise. Precisamos de um modelo novo para a civilização brasileira. Não é só para a economia. Precisamos de uma política nova. Essa que está aí não está funcionando.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - O Senador me permite um aparte?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Só um minuto.

    Essa que está aí se esgotou!

    A própria Senadora Vanessa, eu creio, ou o Senador Telmário, um deles já disse aqui que a corrupção faz parte do sistema. Ou seja, esgotou a maneira como a gente faz política.

    As transferências de renda não estão bastando para emancipar o povo. Ao contrário, em certas circunstâncias, têm essa maravilhosa função, que vem da generosidade, de reduzir a fome e até praticamente ter extinto a fome, graças à transferência de renda, que permite comprar a comida que o Brasil tem. Mas não está emancipando!

    As cotas já conseguem que alguns pobres, algumas pessoas de origem pobre e negras entrem na universidade, mas ainda não permitem que todos os brasileiros disputem, em condições de igualdade, quem vai entrar na universidade, como a gente consegue fazer no futebol, com quem vai entrar na Seleção Brasileira. A Seleção brasileira não escolhe os seus jogadores por cotas para negros...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Só um minuto, Senador.

    A maioria no futebol é negra. Não há cota para pobres, mas a maioria dos jogadores que chega na Seleção é de origem pobre. Por quê? Porque a bola é redonda para o pobre também, assim como para o rico. A bola sendo redonda, quem chega lá são os talentosos.

    Se a educação de base fosse igualmente boa, chegariam lá os melhores. Como a maioria é pobre e negra, chegariam os pobres e os negros. E aí, Senador Lindbergh, o senhor tem razão quando diz que às vezes há uma resistência da elite a algumas reformas. Mas a verdadeira reforma seria o filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão, o filho do pobre na mesma escola do filho do rico, o filho do negro na mesma escola do filho do branco. Essa é a revolução. E isso a gente não está fazendo. Esgotaram-se as forças e os potenciais das cotas e das bolsas, que têm de continuar exatamente porque não fizemos as mudanças.

    Nós tínhamos de fazer um impeachment do modelo que está aí. E aí vem a discussão entre a República e a Constituição. Neste momento, nós temos este conflito: a República precisa de um Governo novo, mas a Constituição determina que esse Governo novo só começa em 1º de janeiro de 2019. O debate de fazer casar a República e a Constituição não está sendo feito. Nós estamos num debate puramente jurídico, num debate puramente político, com p minúsculo, do imediato. Alguns querem continuar, alguns querem tomar o poder, e não nós todos, juntos, construirmos um Brasil melhor.

    Eu não vejo naqueles que querem o impeachment dizendo "esse é o caminho para um Brasil melhor", assim como não vejo aqueles que não querem o impeachment dizendo "a continuação do Governo Dilma é o caminho para um Brasil melhor". Estamos torcendo, e não querendo construir um novo momento. Estamos perdendo a chance de um debate mais profundo, provocado por esse gesto - é um gesto - de tentar o impeachment, um gesto de três advogados, que são os que começaram isso. Não estamos aproveitando esse gesto, porque não estamos fazendo o discurso com a profundidade que deveríamos. E, pior, estamos exigindo opções imediatas das pessoas por um time ou por outro.

    Aí vêm essas coisas malucas dos tempos de hoje, Senador Telmário. Até um dia desses, o Fla x Flu era entre o PSDB e o PT, e o PMDB era um auxiliar do PT. Agora, ficou entre o PT e o PMDB, e o PSDB virou um auxiliar do PMDB.

    Mudaram o time no meio do jogo. E a gente assiste a isso. Preste atenção à quantidade de hipocrisias que existe hoje nos discursos políticos.

    Senador Lindbergh, o PSDB tinha certas posições. Agora tem outras. E o PT tinha certas posições em 1992. Agora tem outras. Nós estamos mudando os discursos porque perdemos a profundidade, a capacidade de análise. Caímos na torcida, no imediatismo, no simplismo. E quem não entra nisso é considerado "murista", indeciso; e não reflexivo, analista, cuidadoso.

    Aqui o Senador Moka, que é uma figura maravilhosa, que se senta atrás de mim, um dia desses falou: "Em cima de muro só pedaço de vidro". Eu aí disse a ele, Senador Telmário: "Mas, quando de um lado só tem cobra e do outro lado só tem cobra, é melhor a gente calçar os sapatos e andar em cima do vidro, tomando cuidado para não cair em nenhum dos dois lados". Você caminha até dizer: "Aqui, chegou um lugar seco, limpo, sem cobra, sem cachorro bravo". Aí você opta. Opta. Opta! É um verbo que implica você escolher, e não cair. Uma coisa é você, em cima do muro, escolher para onde ir. Outra é você, em cima do muro, cair, puxado. Ou pular por medo de não querer continuar no equilíbrio. O equilíbrio exige coragem.

    Hoje a gente está pulando do muro com medo. Com medo das pressões, com medo das críticas. E não por opção de dizer "este é o lado". Estou me referindo a alguns, não a todos.

    Eu vou continuar refletindo, sim, sobre qual é a melhor maneira para a República, qual é a maneira de cumprir a Constituição. E, quando chegar o momento, aí eu não vou ficar em cima do muro, não. Aí eu vou dar o meu voto, com toda firmeza, clareza e certo, Senador Lindbergh, pelo menos neste momento, de que, daqui a cem anos, quando forem analisar os debates, como eu fiz ao analisar a Lei Áurea, vão me dar razão ou não. Esse aí é o risco que a gente sempre corre.

    Senador Telmário, o senhor pediu a palavra.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Senador, eu sempre gosto quando V. Exª vai a essa tribuna porque V. Exª sempre traz uma reflexão. Entre aqueles livros que V. Exª entregou, fazendo um belíssimo gesto, ao Senador Lindbergh - até peço ao Senador Lindbergh que leia a sua introdução -, há esse livro da coragem, que é uma mensagem fantástica que deveria ser lida em nível de Brasil nesta oportunidade. Eu ia fazer isso, mas o Senador Lindbergh, com ciúmes, já levou o livro daqui. Então, vou pedir a ele que leia depois.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Só um detalhe, Senador Telmário. O senhor pediu para ele ler a abertura, mas quero que esse é um livro que tem uma característica: você pode abrir em qualquer lugar e começar a ler...

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Ele tem uma mensagem.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Você não precisa ler em ordem. Você lê como quiser.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Mas V. Exª colocou aqui dois pontos...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Mas eu gostaria de dizer qual a dedicatória que fiz para ele: "Uma pessoa que entende o significado do verbo reagir".

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Então, V. Exª fala aqui: "O que eu vejo hoje é que quem está a favor do impeachment são as pessoas descontentes". É verdade. Há uns descontentes com a política econômica, social e com o Brasil, como é o caso de V. Exª. Mas há outros descontentes porque queriam mais cargos, queriam abocanhar mais. São os leões dos cargos públicos. E vejo hoje o Presidente interino do PMDB, segundo os jornais, dizendo: "Olha, a Presidenta vai cair. Se você quer manter o seu cargo ou aumentar mais, vem com a gente". Pelo menos está dito isso nos jornais. Imagine a metodologia.

    V. Exª fala: "Olha, ninguém vê quem fica pós-Dilma, se ela sair". Verdade, porque ninguém quer colocar que o Temer vai ser o Presidente, ele que está citado na Lava Jato, e a Dilma não está. Ninguém quer citar que o Cunha vai ser Vice-Presidente, com 22 processos. Ninguém quer citar que, entre alguns prováveis ministros que aparecem, um tem oito, outro tem dezoito processos. Ninguém quer citar isso.

    As pessoas querem focar que, com a saída da Dilma, a corrupção vai acabar. Mas não é essa a verdade. Eles não mostram quem vai substituir. Então, V. Exª tem muita propriedade ao citar esse fato.

    V. Exª também diz o seguinte: "A maioria que é a favor do impeachment é contra a corrupção". Se eles souberem quem vai substituir... Pelo amor de Deus! Fale como o Ministro do Supremo: "É esse aí? É essa a nossa alternativa?"

    E V. Exª tem uma comparação de que eu gosto muito: que a vida na educação, a vida social e econômica devia ser como uma bola. Eu gosto desse seu exemplo. Acho fantástico e até levo Brasil afora...

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - ... porque realmente a bola, por ser redonda, proporciona... Até um dia desses, mas já começou a modificar, pois os filhos dos ricos começaram a ver que futebol dá muito dinheiro, e, portanto, há uma influência muito forte dos cartolas e do poder econômico na escolha de jogadores. Eles já não vêm da várzea, já não vêm ali da favela, do drible fácil, da malandragem, da gingada do brasileiro. E, se vier, o cara já vem com certa recomendação: "Você não pode gingar isso, você não pode um monte de coisas, você não pode fazer aquilo porque isso é feio, e não sei o quê e tal".

    Quer dizer, os caras vêm sempre de uma disciplina, que é aquele futebol beleza, bonito, brasileiro, de Tostão, de Garrincha, dessa turma. Eles se perderam um pouco aí, por conta hoje do domínio do futebol na mão dos cartolas.

    Outra coisa que V. Exª fala e que acho interessante é que, quando V. Exª cita aqui... Não. Em tese, havia outro assunto, mas aí foi levando... Mas quero, mais uma vez, parabenizar V. Exª.

    Ah, quando V. Exª cita a questão do muro... Ora, eu aprendi que, às vezes, quando você encontrar um espinho, não deixe ele furá-lo, mas faça dele uma escada para se aperfeiçoar, subir. Então, V. Exª, dentro dessa sabedoria que lhe é peculiar, olha de um lado e há um pit-bull, olha do outro lado e há uma cascavel: é melhor usar o espinho como uma escada de aperfeiçoamento.

    Parabéns a V. Exª.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Obrigado, Senador. Acho que, de um lado, há uma porção de cascavel e pit-bull e, do outro lado, há uma porção de pit-bull e cascavel.

    Veja bem, eu queria pegar essa imagem, que uso muito, da bola redonda para todos. Por isso, os campeões de futebol chegam lá pelo talento. Nós democratizamos as pernas e os pés, não democratizamos os cérebros, porque os cérebros se formam quando nascem, mas se formam mesmo na escola. E as escolas, no Brasil, algumas são redondinhas, bonitinhas, com professores competentes, dedicados; e outras são quadradas, com prédios ruins, professores mal remunerados, que, portanto, na seleção não são os melhores, que não se dedicam, porque, com esse salário, como dedicar-se...

    A gente tem de redondear as escolas. Essa seria a grande democratização do Brasil. Socialismo, para mim, hoje é escola igual para todos. Quanto ao resto, tolera-se a diferença, a desigualdade, conforme o talento, a persistência, a vocação.

    Senador Lindbergh, o senhor pediu um aparte.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Cristovam, o pronunciamento de V. Exª aborda vários temas, mas eu queria começar falando sobre quotas. V. Exª tem razão, quando fala, em seu discurso, sobre a mesma escola para o trabalhador e para o filho do rico. Eu estudei Medicina. Entrei na Universidade Federal da Paraíba, em 1987, e era o seguinte: era só a classe média alta, os filhos dos médicos estabelecidos ali que faziam o curso de Medicina, que tinham condições de passar no vestibular. Eu me emocionei, há um ano, quando estive na UFRJ. Eu fui a uma palestra do curso de Medicina e vi ali quase metade de jovens negros estudando Medicina. Eu nunca fui atendido por um médico negro. Então, há uma transformação muito profunda acontecendo que pode modificar a cara da nossa sociedade. Eu me lembro aqui da luta para aprovar essa política de cotas. Havia uma resistência grande do Senador Demóstenes. V. Exª lembra.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Lembro.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Então, quero chamar a atenção para isso, porque, de fato, essa foi uma mudança muito importante, porque não é só uma mudança econômica. Há uma mudança para você abrir espaços para que construamos, de fato, uma democracia popular neste País. V. Exª fala de um novo governo, que tinha que surgir um novo governo. Eu defendo isso. Acho que, se derrotarmos o impeachment nessa próxima semana, tem que surgir um novo governo. Não apenas mudanças de partidos que vão fazer parte da base de apoio parlamentar, tem que haver um governo novo, com uma cara nova, com ministros novos e com um novo programa. Acho que esse tem que ser o desenho. É muito importante para nós a presença do Lula como Ministro da Casa Civil. Acho que o que estão fazendo com ele sobre esse aspecto é um absurdo...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - ... porque praticamente jogaram para depois do impeachment. Tentam criar uma insegurança: "Ah, o Lula não vai assumir o ministério." Na votação do impeachment, isso influencia, sim. Há gente que acha que se pode criar um novo momento no País. E volto a dizer, Senador Cristovam, sem base alguma. Só se alguém acha que o Supremo não é isento. Alguém tem dúvida da isenção do Supremo? Vale dizer, eu falei aqui antes, nós temos a Lei da Ficha Limpa para a Administração Pública. Você tem que ser condenado em segunda instância. O Lula não é condenado. O Lula não é nem processado. Ele só responde a um inquérito. Qual a base de se impedir que uma Presidente da República possa nomear um ministro nessas circunstâncias? É que o Judiciário está politizado. Jogar para depois do impeachment é brincadeira. Agora, eu espero, tenho conversado com ele e ele tem dito uma coisa: "A saída para a crise econômica...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Ele tem dito uma coisa: "A saída para a crise econômica são os pobres." E me lembro do que houve em 2008 e 2009, no meio daquela crise que era de natureza recessiva também. O que aconteceu em 2009? O Governo da época, inclusive o Presidente do Banco Central era o Meirelles, baixou cinco pontos na taxa de juros. Caiu de 13,75% para 8,75%. Só abriu o espaço fiscal. E o Governo fez o quê? Acelerou investimentos, mas aumentou, em 10%, os gastos sociais. Eu acho que o Lula, como Ministro da Casa Civil, junto com a Presidenta Dilma, vai por esse caminho, temos chance de recuperar a economia de forma mais rápida, até o final do ano, e começar a sair dessa situação dramática de recessão que estamos vivendo. Acho que pode haver uma reconexão com os mais pobres, com os trabalhadores. Hoje temos de admitir que pessoas que votaram quatro vezes no PT - duas vezes no Governo Lula e duas vezes na Presidenta Dilma - estão desencantadas, desiludidas. Eu acho que, nesse relançamento do Governo, com outra política econômica, pode ser possível a reconexão desses setores, a partir do ex-Presidente Lula como Ministro da Casa Civil. Estou apostando muito nisso. Eu acho que esse é o único caminho que pode trazer certa estabilidade política. Eu já falei aqui, em um aparte ao Senador Romero Jucá: enganam-se aqueles que acham que, se Michel Temer assumir a Presidência da República, nós vamos trazer estabilidade para este País. Viram a decisão do Ministro Marco Aurélio. Marco Aurélio já determinou que Eduardo Cunha instale a comissão do impeachment do Temer. E aqui há novamente a aliança do PSDB com o Eduardo Cunha. Vários partidos indicaram, mas o PSDB e o DEM, junto com Eduardo Cunha, não indicaram os membros para aquela comissão do Impeachment. Eu, sinceramente, acho que, em um eventual governo de Michel Temer, poderia haver um fenômeno unindo as duas passeatas, que hoje estão em confronto pelo País, pedindo fora Temer. Podemos ir para uma situação a la Argentina de 2001. Lá o caso foi mais grave, porque foram cinco presidentes em poucos dias. Mas eu não tenho dúvida nenhuma em dizer que, na eventual posse de Michel Temer na Presidência da República, essa crise política não cessará, a instabilidade aumentará. Então, eu acho que caminho que ainda temos hoje é tentar derrotar esse impeachment e lançar um novo governo, com novos ministros, com novas propostas, para tentar aglutinar. E eu acho fundamental aglutinar o andar de baixo, os mais pobres e os trabalhadores, levando-os a acreditar novamente no projeto, para superarmos essa crise e, em 2018, termos novas eleições. Agradeço a V. Exª pelo aparte, Senador Cristovam. Eu só queria dizer o seguinte: neste livro que V. Exª me deu, Reaja! é uma poesia. Eu quero ler, se V. Exª me permitir, por 30 segundos, uma poesia linda e me...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Para ler, trinta segundos? Para ler o livro, eu dou o tempo todo. (Risos.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Eu estou falando e me toca muito aqui. Olha só o começo:

Reaja contra a vida sempre bem comportada. Escolha algumas aventuras para realizar: montanhas a subir, uma revolução a fazer, amores a sentir. Coloque sua biografia na frente do seu curriculum, e o curriculum na frente do patrimônio.

Coloque as urnas na frente das armas; e os sonhos na frente das urnas.

Não se acostume. Sinta alergia à monotonia.

Reaja ao hábito que toma conta da gente ao viver em um mundo perverso; e contra a pior das maldades que é se acostumar com ele.

Ao se acostumar com mau cheiro, sujeira, barulho, eles começam a fazer parte da gente.

Não se acostume à falta de ar em um mundo sem sonhos. Nem ao vício de desejar apenas o possível.

A grande vantagem de ser jovem é poder sonhar o impossível e ter tempo para construí-lo.

Quando o jovem prende seus sonhos aos limites do possível, fica velho.

Não se acostume com a velhice antes do tempo. E, quando ela chegar, não pare de desejar o impossível, mesmo sabendo que não terá tempo para construí-lo, nem vê-lo. Um dia [o grande] Paulo Freire me disse: “Não corte as asas dos seus sonhos na tentativa de fazê-los possíveis. O mundo está cheio de pessoas com tesouras cortando asas de sonhos”.

    Puxa! Parabéns. Isso é uma belíssima poesia. Eu vou ler o livro todo hoje.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - De quem é o livro?

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - O livro é do Senador Cristovam.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Está nas bancas.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu fico contente que chame de poesia. É um livro. É um manifesto.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Mas é de autoria de V. Exª também?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - É. Já tem mais de dez anos este livro e eu trouxe para ele. Vou trazer um para a senhora, claro, com o maior prazer.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Muito obrigada. Eu estou aqui calada. Não quero me propor a ganhar um, mas quero cumprimentá-lo pela sensibilidade.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Sinceramente...

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Você vê como é ser muito amigo. Há um ditado, Senador Cristovam, que as pessoas que estão muito próximas de você, que tanto gostam de você, você acaba esquecendo.

    Por exemplo, você vai sair - e quem mais gosta de você que sua mãe? - e acaba convidando um amigo ou outro para ir e não proporciona a ela esse lazer, essa oportunidade de estarem juntos. Eu divulgo o livro, faço tudo e quem ganha é a Vanessa! Não estou pedindo o livro, não. (Risos.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - O senhor vai ter também. Mas eu vou dar com uma condição: você tem que levar para o seu filho, e você para sua filha. Eu escrevi isso para os jovens, mas eu fico contente. Sinceramente deve ser sua voz, porque eu achei bonito. Deve ser a voz.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu só achei que... Não sei se me escapou, mas falta dizer que, quando as asas não são cortadas desde a juventude, a pessoa não envelhece nunca. E é assim que eu me sinto, já mais madura, mas uma jovem do ponto de vista das ideias, Senador. Obrigada por essa grande e belíssima contribuição que V. Exª dá à humanidade, Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Olhe, essa frase aí das asas eu me lembro bem. O Paulo Freire era membro do conselho diretor, nomeado pelo Ministro Marco Maciel. O conselho era nomeado pelo ministro. E eu apresentei o que era para mim um projeto de universidade, que eu terminei fazendo: a universidade tridimensional, com núcleos, departamentos. E eu disse: isso aí é o que eu acho que dá para fazer, mas o que eu gostaria mesmo... E aí eu disse: o que eu sonharia para um projeto revolucionário de universidade? E o Paulo Freire disse: "Cristovam, deixe para nós a tarefa de cortar os seus sonhos. Diga como é que você acha. O mundo está cheio de gente com tesouras para cortar os sonhos da gente." Eu me lembrei disso muito tempo depois.

    Eu ia fazer uns comentários, Senador, mas eu fico até inibido de fazer os comentários à sua fala, mas eu vou fazer de qualquer maneira.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Fora do microfone.) - Faz parte do debate.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Ou, então, a gente faz de outra vez, porque foi tão simpática a sua leitura, e eu fiquei tão tocado que...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não se incomode, não, de discordar dos pontos aqui, Senador, porque faz parte do nosso debate.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Primeiro sobre cotas. Eu fui dos primeiros a defender cotas, eu considero quota uma necessidade para arrumar um problema. Eu posso dizer que essa ideia do Bolsa Família começou comigo, em um livrinho chamado A Revolução das Prioridades, depois no governo paralelo do Lula, de que eu fiz parte e levei a ideia, depois como Governador, mas cotas e bolsas são positivas, necessárias - é incrível que tenham demorado tanto -, mas não são revolucionárias ainda. A revolução não é haver alguns negros e pobres na universidade, é todos disputarem igualmente a universidade, porque a educação de base é igualmente boa. Então, é positivo, mas falta ainda um salto.

    Sobre o Lula, eu falei há pouco aqui, só para continuar, o problema da nomeação do Lula, que estão tentando impedir, é porque suspeita-se que houve tentativa de obstrução da Justiça, dando a ele a proteção da...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Mas aí a gente tinha de considerar, Senador Cristovam, o Supremo. O Supremo não é isento? Logo o Supremo? O Supremo tem muita autoridade hoje no País. Um julgamento do Supremo seria extremamente justo.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Mas isso tinha de ser feito logo. Com isso estou de acordo, sim.

    Agora, quanto aos desencantamentos, essa é uma análise... Aliás, já falamos tanto aqui da autocrítica do PT. Como a gente veria essa autocrítica? Por que o desencanto? Em parte, porque vendeu muitas ilusões, muitas. O pré-sal foi vendido de uma maneira muito maior do que era na verdade. Passaram a ideia de que a classe média seria de 39 milhões, mas aí vem a inflação e joga isso para baixo. O Pronatec é um bom projeto. Tudo isso é bom. Mas sem o ensino fundamental não dá. E as ilusões foram desaparecendo.

    Temo que essa política econômica, Senador - e a gente sempre discorda disso -, possa ser mais uma ilusão. Por exemplo, o uso das reservas do Banco Central para financiar consumo vai criar uma nova ilusão, vai trazer de volta a desconfiança, vai trazer de volta a inflação. E aquilo que foi bom volta atrás. Já defendi o uso de uma parte da reserva, eu já o defendi. Está num relatório que fiz aqui para a Senadora Angela Portela, que era Presidente, a busca de recursos para financiar a educação. Coloquei uma parte para financiar a educação. É diferente, porque aí fica o resultado permanente, o aumento da produtividade graças à educação, mas só para o consumo vai dar um encantamento momentâneo.

    Então, esse é o lado do desencantamento.

    Finalmente, o que acho muito interessante discutir é como unir as duas passeatas. Nas urnas! Nas urnas, uma vota aqui, outra vota ali, mas as duas se respeitam. Todo mundo se respeita no dia seguinte da eleição. Há uma lua de mel imediata entre a Nação e o eleito para Presidente, até que este cometa erros e traia, como nos casamentos também. Lua de mel não dura para sempre, exatamente em parte por isso. Então, a gente tem de unir as passeatas. E essa união, a meu ver, vai ser feita através das urnas em 2018 ou antes se houver possibilidade. Sou favorável a antecipar, desde que seja dentro da Constituição, dentro da lei. Mas eu gostaria de tentar essa possibilidade.

    Finalmente, vou dizer que este é um debate que a gente tem de aprofundar: o que é melhor para a República dentro da Constituição. Rasgar a Constituição pode até ser bom para a República num primeiro momento, mas, no longo prazo, pode ser ruim. Em geral, aliás, é ruim.

    Então, vamos debater, discutir.

    Para isso, sou favorável, sim, a que haja o processo, que já se abriu. Devemos isso ao ex-Deputado e jurista Hélio Bicudo. Abriu-se o processo. Agora, vamos debater, vamos aprofundar o debate com seriedade. Não devemos ficar em torcidas, mas, sim, em reflexões, em opções. Não devemos ficar com coisas de fé, mas, sim, com coisas de convicções, entre essas o respeito à Constituição e o interesse da República.

    Eu vou ficar aqui. Não vou ficar em cima do muro, não! Vou votar, sim. E não vou pela abstenção, não. Vou votar, sim. Mas vou levar até o último momento essa possibilidade de uma reflexão. O último momento não significa o dia da votação; significa, quando chegar aqui, começarmos o debate. Aí, sim, já tem de ter posição, depois de ver os autos, depois de ver a defesa, depois de ver as acusações, não apenas pelos jornais, mas no espírito do tribunal, no espírito do jurado, no espírito daqueles que querem fazer a política e a legalidade. O processo tem, sim, um viés jurídico, constitucional. Não é apenas isso de que é uma questão puramente política. Puramente política é eleição, não julgamento.

    É isso, Sr. Presidente.

    Agradeço muito a sua leitura daquele pequeno trecho desse velho livrinho que lhe dei de presente hoje. E peço desculpas, eu devia ter lhe dado isso no dia em que ele foi publicado.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/04/2016 - Página 22