Discurso durante a 53ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com as repercussões negativas da admissibilidade do processo de impeachment da Presidente da República e defesa da realização de novas eleições diretas.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Preocupação com as repercussões negativas da admissibilidade do processo de impeachment da Presidente da República e defesa da realização de novas eleições diretas.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2016 - Página 14
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • APREENSÃO, DECISÃO, AUTORIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, MOTIVO, ACEITAÇÃO, ADMISSIBILIDADE, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, EDUARDO CUNHA, DEPUTADO FEDERAL, ATUAÇÃO, PROCEDIMENTO, DEFESA, REALIZAÇÃO, ELEIÇÃO DIRETA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ATUALIDADE.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Jorge Viana, que preside esta sessão, eu fiquei, em Brasília, todo o fim de semana. Achei que era uma data, queiramos ou não, que marca o cenário nacional, e não seria, na minha avaliação, adequado que eu fosse para os Estados, porque havia convite para eu ir a três Estados.

    Confesso, Sr. Presidente, que assisti à fala do debate sobre o afastamento da Presidência de mais de 400 Deputados e fiquei preocupado. Não diria que fiquei assustado, porque não sou de me assustar com facilidade, mas vi centenas de Deputados irem à tribuna, na verdade, não sabendo o que estavam votando. Falavam de tudo menos do processo do chamado impeachment. Um falava da estrada, outro da ponte, outro falava da filha, outro falava do filho que ia nascer, outro falava de um acidente que houve, outro falava da Lava Jato, outro falava da Petrobras, outro falava de Zelotes, em que a maioria está envolvida. Confesso que ouvi aquilo tudo...

    Estou, há 30 anos, no Congresso, e conheço a maioria dos Deputados. Meu Deus, esse aí falando em combate à corrupção? Aonde chegamos? Sabe que me deu uma tristeza. E sabia que o mundo todo estava com olhar para o Brasil. Hoje somos chacota na imprensa internacional. É só pegar os principais veículos de comunicação do mundo. Há um que chega a dizer, e não sou eu que estou dizendo, que uma gangue vai assaltar o Brasil afastando uma Presidenta que, até o momento, não há nada que diga que ela roubou alguma coisa. É manchete de um dos jornais, se não me engano o New York Times. Jornalistas brasileiros reproduziram as matérias e comentaram ainda. Fiquei muito, muito, muito, muito, muito preocupado, Senador Jorge Viana.

    V. Exª está na Presidência. Se alguém lá debaixo chamá-lo de ladrão, chamá-lo de canalha, chamá-lo de covarde, chamá-lo de assaltante e disser que tinha que estar na cadeira, V. Exª vai ficar quietinho? Claro que não vai! Quem cala consente! 

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Quem cala consente!

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Ele ficava quietinho, dava uma risadinha e tudo bem. Esse nível do debate que me preocupou.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Faz parte, dizem eles.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Quem estava coordenando o debate do processo de impeachment era esse sujeito - e nem quero dizer o nome -, que será, se se consumasse, porque não vai se consumar, o que eles querem, amanhã ou depois, Vice-Presidente e, na escala sucessória, Presidente da República.

    Eu não quero isso para o meu País. Não estou nem entrando aqui no mérito do processo de impeachment. Peguem a história desses votantes, os Anais, peguem a ficha corrida daqueles que capitaneiam o golpe. Peguem, por favor, a ficha corrida dos que capitaneiam o golpe e vejam se o povo brasileiro merece isso. Não merece - não merece.

    Peguem, como fez bem aqui a Senadora Vanessa Grazziotin, qual é o projeto apresentado, até o momento, pelo Vice-Presidente da República? Qual é a proposta? Essa tal de "Ponte para o Inferno" deve ser isso. Eu tenho a obrigação de fazer com que a população saiba o que é essa "Ponte para o Inferno". Se está ruim agora para os aposentados, vocês verão se isso se consumar. Se está ruim para os servidores públicos - e eu vou dialogar com eles -, vocês verão como é que vai ficar daqui para a frente.

    Se está ruim, porque falam que, nesse período, 8 milhões perderam o emprego, não esqueçam que nós geramos 20 milhões de empregos, ou seja, 12 milhões a mais do que o governo anterior.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, os empregos perdidos foram 1,5 milhão só, 6 milhões já estavam desempregados e a economia parou de empregar. É verdade.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - E de um processo em que geramos 20 milhões de novos empregos.

    Sinceramente, aqui não é questão de ser a favor de Dilma ou contra Dilma. Eu não quero entrar nesse debate. Não é isso, Senador. Eu estou preocupado é com o meu País, para onde vamos.

    Olha, eu tenho uma esperança muito grande no Senado. O Senado é outra Casa. O debate será outro. Será que os Senadores querem entregar o País para aquela turma que o Ministro Barroso disse quando olhou o processo de afastamento ou não, e estava de mãos levantadas para o alto: "Quem vai assumir?" E alguém disse do outro lado da sala para ele: "Ministro Barroso, para que são essas mãos ao alto? Ele disse: "Esse time eu conheço bem?" Alguém disse: "É que alguém gritou mãos ao alto." Aí mãos ao alto, claro...

    É essa a situação em que nos encontramos. Por isso, Senador Jorge Viana, por tantos anos, nesta Casa, eu estou há 30 anos aqui, no Congresso, e duvido que os Senadores queiram esse time para governar o nosso País. Não vou citar nomes, porque eu sou muito cuidadoso na história de nomes.

    Até digo aqui "Presidente da Câmara", mas não cito o nome; falo do Vice-Presidente, da "ponte para o inferno", mas não cito o nome. Eu poderia falar dos principais articuladores desse movimento de ataque à democracia, e vocês os conhecem. Peguem a ficha corrida, peguem-na! Desafio vocês a pegarem a ficha corrida, que vocês vão ver se alguma das fichas deles se compara à da Presidenta Dilma.

    Senador Jorge, tenho conversado com um grupo de Senadores não só do PT. Cheguei à conclusão sobre qual a saída para o nosso País. Quero aqui fazer um apelo a todos os Senadores. Nem estou preocupado se são a favor do impeachment ou contra o impeachment. Não sou daqueles que dizem que só quem está do meu lado é que são os bons e os justos. Há Senadores da melhor qualidade nesta Casa. Eu queria fazer um apelo. É o momento de uma concertação. É isso que o povo quer. Se parte da população foi às ruas - isto não dá para negar! - questionando a administração da Presidenta, outra parte foi às ruas defendendo-a. Mas sabe o que unifica todos? Nós não queremos Cunha e Michel. É só ver as pesquisas. Todos aqui se baseiam em pesquisas, porque faz parte, inclusive, do gabarito de quem está na política. Pergunte à população se quer Michel e Cunha como Vice. Não quer!

    Por que não temos um gesto de grandeza política, nós todos - eu me incluo - que estamos no Parlamento, e não discutimos, num diálogo maduro de homens experientes, porque o próprio tempo nos deu essa experiência, e defendemos as eleições diretas já? Por que não voltamos todos juntos à rua, sem esse discurso de ódio, sem o discurso da agressão de graça, sem dizer "vocês são os ruins, nós somos os bons; nós somos os bons, e vocês, os ruins"? Por que não unimos o povo brasileiro em cima da palavra "democracia" com as diretas já? Nem um, nem outro!

    Aí, Sr. Presidente, a população, na sua sabedoria... E vou me socorrer, de tanto que ouvi ontem, coisa que não faço em discurso, de uma frase que diz: "A voz do povo é a voz de Deus". Por que não nos socorremos do povo nesta situação tão difícil e vamos para as diretas já? Vamos deixar que, nas eleições municipais, o povo eleja prefeito, vice e vereadores, eleja o Presidente e o Vice, embalado na democracia, que é uma coisa linda, fantástica! Que a sabedoria popular diga: esse vai ser meu Presidente, esse vai ser meu Vice!

    É justo que a gente coloque quase à força na Presidência alguém que está, na verdade, de forma direta ou indireta, há 13 anos, acompanhando este Governo? Foram Vice do Lula e são Vice da Dilma. Querem ser candidatos a Presidente? Querem assumir o cargo de Presidente? Disputem-no! É tão bonito o processo eleitoral! Vamos para o voto! Vamos para o voto!

    Se perguntarem para mim "Paim, em nome da sua ideia de diretas para combater tudo, de impunidade à corrupção, para passar o Brasil a limpo, em um novo momento, tu abres mão do seu mandato?", responderei: abro mão do meu mandato! Mas eu queria tanto que nós tivéssemos um novo presidente e um vice respaldados pelo voto popular, quem sabe com 60 milhões ou 70 milhões de votos, que a população há de dar para o melhor candidato, seja quem for!

    Posso questionar muita coisa na Argentina, mas foi um povo mais sábio do que o nosso, pelo menos no Parlamento. Houve alternância de poder na Argentina, mas foi pelo voto direto. Ganhou alguém que não era meu candidato. Mas que bonito, isso é democracia!

    Por que no Brasil vamos permitir que aqueles que foram signatários de um processo, no mínimo, indecente... Por que digo que é indecente? "Explique o que é indecente!" Há um ano, em abril, o Governo errou, cometeu muitos erros. Vou citar este erro: colocou como grande articulador político o Vice-Presidente da República, colocou um dos Ministros para trabalhar com o Vice-Presidente e lhe deu a chave do cofre, emendas, cargos, posições estratégicas dentro do Governo. O que ouvi hoje num grande jornal? O erro do Governo foi o de dormir com o inimigo. Colocaram uma serpente na cama e quiseram dormir com a serpente. Essa é a manchete do jornal, não há como não dizer isso. E foi o que foi!

    Sabem aquele outro princípio que até prefiro, o do escorpião? O escorpião, no rio cheio, pediu ao elefante, que é grandão, para atravessar o rio. Disse o elefante: "Estou com receio de atravessar o rio". Aí o escorpião disse: "Mas por quê?" "Eu o conheço. Tu és bandido, é da tua índole. No meio do rio, tu vais me ferrar, e vamos morrer os dois. Eu é que o estou levando, mas vamos morrer os dois". E o escorpião disse: "Não, fique tranquilo, pode me dar a articulação política". Disse o escorpião, vejam bem: "Pode me dar a articulação política, vou botar aqui algumas formiguinhas junto, vou botar algumas folhas, e nós vamos atravessar o rio. Leva a gente, leva a gente!" E o elefante acabou concordando. Chegaram ao meio do rio, e o escorpião não resistiu e ferrou o elefante, e os dois estavam afundando e se afogando. Daí disse o elefante: "Por quê? Vamos morrer todos!" Sabe o que o traidor disse? Disse: "É da minha índole, não há como!" E morreram todos.

    Então, nesta hora, o povo brasileiro, que é sábio, que é um povo obreiro, trabalhador - tenho o maior orgulho de ser brasileiro -, tinha de dizer: meus amigos do Parlamento, com todo o respeito que eu possa ter por vocês, permitam que a gente eleja o Presidente, que a gente eleja o Vice, num debate bonito, no campo das ideias, e não no ataque à democracia! O Brasil seria apresentado ao mundo como se tivesse dado a volta por cima, por ter fortalecido a democracia.

    O nosso povo é nosso mestre, nosso povo é nossa referência. Nós estamos aqui pelas causas que defendemos em relação ao nosso povo. Por isso, meu querido Jorge Viana, seria tão bonito que nós todos aqui, de forma unitária, passássemos a defender as eleições diretas. E elas podiam ser feitas agora, em 3 de outubro, em vez de ficarmos aqui dizendo: "Não, mas aquele ou o outro praticaram corrupção, e isso e isso e aquilo". O povo iria dizer: "Agora, sim, vou fazer a grande mudança com que sonhei, fruto das ruas."

    Lembro-me aqui - vou para o encerramento, Presidente - de uma frase de Nelson Mandela, homem que entrou para a história como um dos maiores líderes da humanidade na linha dos direitos humanos. Ele disse, num estádio de futebol lotado de militantes de todos segmentos, todos democratas: "Não fiquem em casa, vão às mobilizações, participem, deem sua opinião, apresentem sua pauta, para que eu possa defendê-la junto ao meu governo."

    Neste momento, a pauta das ruas, a pauta que surge do povo brasileiro é só uma: democracia e diretas já!

    Sr. Presidente, não tenho dúvida disso. Falo de coração, falo de alma. Não é um discurso que faço querendo contagiar com a emoção este ou aquele segmento. É um discurso verdadeiro de quem acredita que a coisa mais bonita que se funde com a palavra "liberdade", com a palavra "justiça" e com as palavras "direitos humanos" é a democracia. Tudo com a democracia! Nada sem a democracia!

    Este é o apelo que faço às Srªs Senadoras e aos Srs. Senadores: reflitam sobre essa proposta. Os senhores concordam que essa turma assuma, a partir de 11 de maio, a direção do País? Duvido! Duvido! Por uma questão política e ideológica momentânea, podem até votar nesse sentido, mas os senhores podem apresentar uma proposta bem construída, bem negociada com todos os segmentos, permitindo que o senhor que está em sua casa neste momento decida, permitindo que você que está na rádio ou na TV decida ou que você que é servidor público, que é trabalhador rural, que é negro, branco ou índio decida. Você, que está assistindo o País, não gostaria de eleger o seu Presidente? Ou prefere aquela turma daquele espetáculo degradante de ontem? Cheguei até a porta, voltei e fiquei olhando e pensando: "Não vou misturar-me! Não dá! Não dá!"

    O momento não é de ofensa pessoal, mas é de postura política. O que o Senado precisa é de estadistas! O que o Senado precisa é de homens que estabeleçam o diálogo!

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN. Fora do microfone.) - Homens e mulheres!

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Homens e mulheres! Muito bem lembrado, minha Senadora!

    É disso que precisamos! Calculem se levarmos o debate aqui no nível em que ele se deu na Câmara! Oro com as minhas mãos. Pelo amor de Deus, que isso não aconteça! Quem dirigia os trabalhos era chamado, a todo momento, de canalha! Não quero isso nem para a Câmara - mas aconteceu - e muito menos para o Senado.

    Então, Sr. Presidente, quero ficar exatamente nos meus 20 minutos.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Agradeço.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - O apelo que faço é esse.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Nós já falamos do tempo.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Exato. Tenho só um minuto.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - V. Exª tem tempo.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - O apelo que faço é este: vamos deixar o nosso povo decidir.

    Lembram as eleições diretas? Eu era um gurizote, mas estava lá. Lembro-me de Brizola no palanque das diretas. Lembro-me de Miguel Arraes no palanque das diretas. Lembro-me de Mário Covas no palanque das diretas. Lembro-me de Olívio Dutra. Lembro-me de Luiz Inácio Lula da Silva. Lembro-me de Fernando Henrique no palanque das diretas. Eu quero todos eles que ainda estão aqui na terra no palanque das diretas e quero a bênção daqueles que estão lá em cima e que deram grande parte das suas vidas em defesa da democracia.

    Com a democracia, tudo; sem a democracia, nada!

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2016 - Página 14