Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Registro de artigos da imprensa internacional acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Lasier Martins (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RS)
Nome completo: Lasier Costa Martins
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Registro de artigos da imprensa internacional acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2016 - Página 17
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, LE MONDE, EL PAIS, THE ECONOMIST, WASHINGTON POST, THE NEW YORK TIMES, ASSUNTO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Apoio Governo/PDT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Paulo Paim, Presidente dos trabalhos, meu coestaduano. Temos divergências de ideias, Senador Paim, mas tenho enorme respeito pela conduta de V. Exª, sempre muito correta.

    Srªs e Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, senhores ouvintes da Rádio Senado, nós precisamos saber o que estão dizendo lá fora. É muito importante saber o que estão escrevendo e o que estão lendo no exterior, principalmente nos grandes jornais, o que diz a imprensa internacional, na verdade, sem o parcialismo que tem sido trazido aqui para esta tribuna.

    O jornalismo, Sr. Presidente, faz parte da minha vida de forma longa e indissociável. Acredito na comunicação feita de forma séria, apurada e diretamente conectada com a realidade; a comunicação social como mediação social, mediação na sociedade. O bom jornalismo é realizado com independência e isenção.

    Assim, é com bons olhos que tenho visto o trabalho investigativo executado por diversos veículos na cobertura dos escândalos de corrupção expostos pela Operação Lava Jato.

    Já a imprensa internacional também tem realizado, com destaque, a cobertura dos desdobramentos das investigações desde o princípio. Entretanto, o interesse da mídia estrangeira tem crescido na medida em que o escândalo do petrolão tem tomado dimensões cada vez maiores. Esse desdobramento dos fatos na abertura do processo do impeachment, que deve afastar a Presidente da República preventivamente, ao que tudo indica, tem aumentado o número de repórteres estrangeiros que têm chegado ao Brasil nas últimas semanas. Crescem também as análises e as reportagens entre eles, inclusive, jornais tradicionais de grande influência e repercussão internacional.

    Por tudo isso, foi com curiosidade e divergência que acompanhei, há poucos dias, alguns pronunciamentos nesta Casa sobre o posicionamento da imprensa estrangeira sobre o processo constitucional de impeachment. Foi dito aqui, desta tribuna, por exemplo, que a ampla maioria da imprensa estrangeira tem taxado o procedimento do impeachment, previsto em nossa Carta, como golpe. Muito se disse a respeito disso por aqui. Então, é preciso investigar. É preciso conferir, realmente, o que estão dizendo lá fora.

    Nada mais falacioso do que a interpretação trazida aqui, há poucos dias. Nessas horas, é preciso separar o joio do trigo, ver com critério e esclarecer a retórica que distorce os fatos. Precisamos separar os conceitos de reportagem, matéria, opinião e editorial. Uma coisa não pode ser confundida com a outra, sob pena de passarmos uma visão equivocada dos enfoques jornalísticos.

    Recebemos no Brasil, nesses dias, como falei, há pouco, uma série de repórteres - atividade que exerci por longo tempo, inclusive em várias coberturas internacionais, entre as muitas, a Guerra do Golfo, além da cobertura do processo de impeachment de Collor. Agora, correspondentes de todos os continentes estão no Brasil fazendo detalhada cobertura do procedimento constitucional de impedimento da Presidente da República. O resultado dessa atividade tem sido reportagens extensas ou curtas, que relatam o que acontece. O dia a dia da política tem sido retratado ali em diversas línguas e enviado para os mais diversos países.

    Essas tantas apurações produzem, evidentemente, repercussões, que chegam à população de várias partes do Planeta. Ali são explorados os diversos lados do assunto. Colhem-se visões diferentes, que devem ser lidas e interpretadas no conjunto, não com seletividade dos enfoques jornalísticos - como aqui já aconteceu, inclusive, particularmente nesta tribuna -, porque aí as interpretações se tornam parciais.

    As reportagens diferem dos artigos de opinião, que são textos assinados e que reproduzem a visão de uma determinada pessoa sobre os fatos. Sabemos que ali estamos realizando uma leitura dos acontecimentos sob uma determinada ótica. Esses artigos podem ser escritos por colaboradores ou mesmo por jornalistas que trabalham no veículo. Alguns vivem aqui, no Brasil, como correspondentes estrangeiros, outros estão chegando em função do interesse jornalístico atual que desperta o Brasil.

    E aí chegamos aos editoriais, que expressam a visão do veículo de comunicação sobre determinado tema e fato. Ali verificamos a ótica da publicação, que analisa o acontecimento e expõe sua opinião. É comum nos jornais norte-americanos, por exemplo, o endosso de um candidato a Presidente ou governador. O mesmo acontece na Europa. Essa é uma prática que aos poucos vem sendo adotada no Brasil. Na minha visão, é o correto, pois deixa claro ao leitor o posicionamento da empresa jornalística.

    Por tudo isso, repito, Sr. Presidente, precisamos saber o que os grandes jornais do mundo estão dizendo. Então, vamos às abordagens estrangeiras. Em uma análise preliminar do posicionamento das grandes publicações internacionais, percebemos que não existe alinhamento da empresa internacional à tese de golpe defendida pelo Planalto. Fica claro que a imprensa internacional, ao contrário, se posiciona de forma responsável reconhecendo o trâmite constitucional do procedimento do impeachment.

    Foi o que fez, por exemplo, o mais importante jornal francês, Le Monde, que publicou editorial dizendo "Brésil: ceci n'est pas un coup d'Etat" - "Brasil: isto não é um golpe de Estado". Ainda na França, em um outro grande jornal, matéria do Le Figaro analisou a situação: "Dilma Rousseff: une ex-guérillera devenue présidente autoritaire" - "Dilma: uma ex-guerrilheira que se tornou uma Presidente autoritária".

    Tampouco as publicações identificadas mais com a esquerda, como as do Grupo Prisa da Espanha, dona do jornal EI País, o mais importante jornal espanhol, acataram a tese de golpe. Em seu editorial, nada foi dito, no entanto, em matéria, assim como vários outros jornais, não reconheceu a tese de golpe. Diz o jornal El País, de Madri: "Si se trata de un golpe, el golpe Io hizo el mismo Lula, empujando a Ia presidente al precipicio al hacerse blindar con un cargo de ministro" - "Se é um golpe, o golpe fez Lula, empurrando a Presidente para o precipício, para ser blindado com um cargo de ministro".

    Na Inglaterra, não foi diferente. A The Economist foi direta: "When a 'coup' is not a coup" - "Quando um golpe não é um golpe". Não podia ser mais claro a revista The Economist. O The Telegraph criticou a nomeação de Lula para escapar da Justiça: "Dilma Rousseff makes former president Lula chief of staff to shield him from prosecution" - "Dilma faz Lula Ministro para criar um escudo de proteção dos procuradores". O The Guardian, também importante jornal inglês, fala em "o PT ter abraçado um sistema de financiamento partidário baseado em corrupção, o escândalo que estourou após as revelações, e uma relação disfuncional entre Executivo e Legislativo".

(Soa a campainha.)

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Nos Estados Unidos, o tom foi o mesmo. O The Washington Post foi contundente: "Dilma Rousseff insists that the impeachment movement against her is 'a coup against democracy'. It manifestly is not" - "Dilma Rousseff insiste que o impeachment levantado contra ela é 'um golpe contra a democracia'. Certamente não é". O The New York Times publicou artigos de opinião a favor e contra, mas, nos editoriais do famoso The New York Times, não se encontra qualquer menção a uma possível ruptura de ordem democrática em nossa República.

(Soa a campainha.)

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Estou concluindo, Sr. Presidente.

    Por certo, o Brasil está seguindo um caminho institucional. Respeitamos nossa Constituição, com um procedimento correndo com ampla defesa no Parlamento, mediante um rito indicado pela Suprema Corte. O mundo está atento ao que é legal no Brasil. A imprensa internacional não comprou as bravatas vazias de que um golpe está em curso no País. Como pode haver sequer clima de golpe, se a Presidente se ausentou do País há poucos dias para viajar a Nova York e voltou na mais completa normalidade? Não há tanques nas ruas. Há, isto, sim, desemprego. Há, isto, sim, crise. Há, isto, sim, crime fiscal. E a ampla maioria, livre, do Congresso Nacional interpreta os fatos como crime de responsabilidade.

    Para concluir, Sr. Presidente, diante dos meus 50 anos de jornalismo, eu deixo minha avaliação. Sejamos honestos e sinceros com nosso povo. Não há qualquer dúvida para a imprensa internacional de que o Brasil é um país maduro que segue as regras do jogo. Não podemos ser sectários e embarcar em uma aventura de leituras parciais que distorcem o que diz a imprensa internacional.

    Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

    Obrigado pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2016 - Página 17