Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do pronunciamento do Sr. Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980.

Defesa da admissibilidade do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Considerações acerca do pronunciamento do Sr. Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980.
GOVERNO FEDERAL:
  • Defesa da admissibilidade do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2016 - Página 32
Assuntos
Outros > SENADO
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, AUTORIA, PREMIO NOBEL, PAZ, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA.
  • DEFESA, APROVAÇÃO, ADMISSIBILIDADE, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Sem revisão do orador.) - Senador Paim, primeiro, quero dizer que tenho absoluta convicção de que não foi sua intenção o que foi feito. Segundo, dizer que conheço o Sr. Esquivel, há muito tempo. Quando rodei o mundo defendendo a ideia da Bolsa Escola, ele foi um dos que me recebeu em seu escritório, em Buenos Aires.

    E, quando eu soube aqui, agora, que ele estava, eu o convidei para o almoço. Subi para isso, inclusive. Quando eu o vi sentar, eu já disse: vou esperar a hora do almoço para conversar com ele.

    Lamento muito que esse almoço não tenha acontecido antes de ele vir aqui, porque eu queria passar para ele... E acho uma pena que ele não tenha escutado outras pessoas para ouvir que não há golpe. Há algo lamentável que aconteça, que é o impeachment, interromper o mandato de um Presidente no meio; acho isso antipedagógico, o bom é que todos terminem, mas golpe não há.

    O impeachment é tão golpe quanto o "Brasil, pátria educadora". Criaram mais um slogan, e um slogan com fins publicitários para campanha. Não há dúvida disso para mim. Eu tenho a impressão de que torce o PT, o Presidente Lula, pelo impeachment da Dilma, para terem uma bandeira para carregar...

    (Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... em uma campanha presidencial.

    Seria bom eu ter tido uma conversa com ele. Acho lamentável que ele tenha falado, acho lamentável que a gente tenha sido comparado com o que aconteceu em Honduras e no Paraguai. Eu gostaria de explicar a diferença para ele, porque certamente não explicaram.

    E nós perdemos uma grande chance. Não é todo dia que se recebe aqui, Senadora Ana Amélia, uma figura da dimensão do Pérez Esquivel. É uma pena, porque ele é uma grande figura do mundo e do nosso continente. E eu lamento que, provavelmente, em Buenos Aires, a manchete vai ser: "Deram um golpe no Esquivel", porque foi com esta sensação que eu fiquei, de que ele sofreu um golpe, ao virar o porta-voz de uma mensagem falsa.

    Finalmente, quero dizer que, de tanto chamar de golpista quem vai votar, como Senador - e é um direito -, pelo impeachment ou quem ainda nem decidiu, como eu; de tanto chamarem a gente de golpista, estão aumentando o número dos que vão defender o impeachment, pelas acusações grosseiras que eu recebo todos os dias, pelas manipulações, como estão fazendo, da opinião pública, como tantas outras que fizeram: de que o Brasil é "pátria educadora"; de que o pré-sal resolveria o problema da educação - quantas vezes eu disse aqui que isso era delírio e manipulação? -; de que a classe média recebeu 30 milhões de pessoas; todas essas manipulações. Mais uma é dizer que o impeachment é golpe.

    Digo isso com a autoridade de quem vai votar "sim", pela admissibilidade - porque nem deveria existir essa regra de a Câmara mandar para cá, e a gente ter o direito de recusar -, mas não declarei ainda, porque não tenho plena consciência de convicção sobre o que é melhor para o Brasil: se é a interrupção desse Governo nefasto da Presidente Dilma no meio, com todas as consequências negativas para o processo democrático; ou se é melhor que continue, e ela assuma a responsabilidade dos seus erros no Governo, tentando consertar o que o outro vai ter que fazer.

    É com essa autoridade que eu digo: Senador Esquivel, pena que a gente não tenha almoçado antes - nem sei se vai haver almoço ainda -, porque eu teria explicado ao senhor que o senhor teria todo o direito de vir aqui defender o Governo da Presidente Dilma, mas, se ela sair, da maneira como está sendo feito todo o processo, com o meu voto, ou sem o meu voto, não será golpe, Senador Esquivel.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2016 - Página 32