Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a emigração de brasileiros qualificados para outros países.

Autor
Lasier Martins (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RS)
Nome completo: Lasier Costa Martins
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Preocupação com a emigração de brasileiros qualificados para outros países.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2016 - Página 7
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • APREENSÃO, EMIGRAÇÃO, ORIGEM, BRASIL, DESTINO, PAIS ESTRANGEIRO, PESSOA FISICA, CAPACIDADE TECNICA, CAPACIDADE PROFISSIONAL, MOTIVO, AUMENTO, DESEMPREGO, REDUÇÃO, QUALIDADE, EDUCAÇÃO.

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Apoio Governo/PDT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente dos trabalhos, Senador Jorge Viana, Senadores, Senadoras, telespectadores, ouvintes, eu quero falar sobre a perda de talentos que o Brasil vem sofrendo, uma grande emigração nacional de pessoas qualificadas. O Brasil é, sabidamente, um País formado por imigrantes, ora se tornando um país de muitos emigrantes. Os nossos imigrantes consideram-se hoje brasileiros, falam o português, em geral nem mais falam o idioma da pátria de onde vieram, tornaram-se 100% brasileiros, situação similar ao que aconteceu nos Estados Unidos da América. Agora, mais recentemente, o Brasil tem sido acometido de lastimável fenômeno, que é esse sobre o qual falo aqui, a evasão de talentos cerebrais, pessoas altamente qualificadas, desde executivos, médicos, engenheiros, cientistas, acadêmicos, que têm deixado o Brasil. Consequência do quê? Daquilo que todos os brasileiros já perceberam há muito tempo: consequência da falta de incentivos, má educação, falta de perspectivas e, ultimamente e principalmente, falta de emprego. Ainda hoje de manhã, o Embaixador do Canadá e outra autoridade que participava da nossa audiência pública dizia que hoje, de cada sete diretores de grandes empresas, apenas três estão ficando; os demais vêm sendo demitidos.

    Hoje, nessa Comissão de Relações Exteriores, e onde V. Exª esteve durante uma parte, Senador Jorge Viana, estivemos em uma audiência altamente proveitosa, uma audiência pública, com a finalidade de avaliar justamente as políticas na área de política externa, no que se refere à conquista de mercados, à assistência à proteção de brasileiros no exterior e à atração que determinados países vêm fazendo sobre nossa gente mais qualificada sob o ponto de vista profissional.

    Então, hoje de manhã, na Comissão de Relações Exteriores, que foi presidida, eventualmente, pelo Senador Valdir Raupp, ante o impedimento do Presidente da Comissão, Aloysio Nunes Ferreira, recebemos o Embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães, Subsecretário-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior, do Itamaraty; o Presidente da CEO Infinitas, Eduardo Matsushita; o Embaixador Riccardo Savone, do Canadá; e John Richardson, Embaixador da Austrália no Brasil. E, nas explanações que ouvimos, veio a confirmação daquilo que já vínhamos tomando conhecimento: Estados Unidos, Canadá e Austrália têm sido, ultimamente, o destino de incontáveis brasileiros, desistentes do Brasil.

    Canadá e Austrália são nações que têm tratado a imigração de uma forma diferente, implementando um sistema de pontos e alocação inteligente dos imigrantes em seu território. Ao contrário de países como Estados Unidos, o Canadá, em especial, privilegia a atração de doutores e mestres, além de facilitar a cidadania daqueles que cursam pós-graduação dentro de suas fronteiras. No Brasil, ocorre exatamente o inverso: nossos talentos cerebrais têm ido embora. No Canadá, vêm chegando aos milhares há muito tempo.

    Esse êxodo de brasileiros para o exterior ficou claro com o caso bem recente - abordamos este assunto na nossa Comissão de Ciência e Tecnologia - da pesquisadora Suzana Herculano-Houzel, que está deixando o Brasil para trabalhar nos Estados Unidos, no Estado do Tennessee. Ela é uma neurocientista conhecida por descobrir quantos neurônios o cérebro humano realmente tem e por um artigo 100% brasileiro que publicou na revista Science sobre a quantidade de dobras cerebrais nos mamíferos. Pois essa grande cientista, Suzana Herculano-Houzel, está de partida do Brasil. Cansou do descaso com que o Governo trata a ciência por aqui e manifestou duras críticas em uma matéria produzida pelo boletim da CCT sobre o sistema de pesquisadores no País. Denunciou a falhas de nossa academia, que privilegia a isonomia em vez da meritocracia.

    Sr. Presidente, Suzana é um exemplo latente e recente da fuga de talentos que assola o Brasil. Profissionais brilhantes vivem aqui sem perspectivas de oportunidades de trabalho, tudo agravado pela crise deixada pelos últimos governos.

    Hoje, no Brasil, existe escassez e empregos de alto nível, violência nos centros urbanos, falta de infraestrutura, custo de vida alto e baixo incentivo ao empreendedorismo. Tudo isso não concede perspectiva de uma vida próspera, garantida e feliz no longo prazo aos brasileiros que têm mais sonhos, mais ideais.

    Nosso problema não está somente nos brasileiros que decidiram partir, mas em nossa dificuldade de repatriá-los, ou mesmo em atrair talentos estrangeiros que viessem se estabelecer com seus negócios e desenvolver suas ideias no Brasil.

    Hoje somos informados, por exemplo, de que não existe sequer uma empresa brasileira presente em mais de 90 países. Isto é, dos mais de 200 países, em no mínimo 90 o Brasil não tem nada, nenhuma representação empresarial. Faltam multinacionais brasileiras no globo - e somos a quinta população e o quinto território mundial.

    Portanto, precisamos criar ambiente favorável ao empreendedorismo, retirando o peso do Estado em inúmeras áreas que se tornaram ineficientes por falta de valor da meritocracia, de competição. Por outro lado, em razão do excesso de burocracia.

    Países como Canadá e Austrália desburocratizaram seu sistema, incentivando a inovação e o risco como forma eficiente de seleção das melhores ideias. Esses países, pelo que vimos hoje na audiência pública, Canadá e Austrália, estimulam a ida de profissionais qualificados, privilegiam a ida de doutores, de mestres, de cientistas. E, por isso, lá estão aos milhares. Canadá e Austrália buscam atrair não somente pesquisadores, com acesso facilitado para adquirir cidadania, mas possuem também ambiente favorável aos negócios, atraindo investimentos e executivos. Por lá, ainda mais, as empresas, na Austrália e no Canadá, não precisam adquirir carros blindados para seus executivos, como ocorre na violência de São Paulo, por exemplo.

(Soa a campainha.)

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Em Toronto, a grande cidade canadense, ou em Melbourne, na Austrália, existe a perspectiva de vida próspera e feliz no longo prazo. Não é por outra razão que, conforme nos revelou hoje de manhã o Embaixador canadense Riccardo Savone, nada menos que 21% dos habitantes de Toronto não nasceram no Canadá. Vieram do exterior.

    Então, com o sistema de imigração baseado em pontos que buscam preencher as lacunas de seus países - tanto a Austrália quanto o Canadá, dois países muito avançados, onde estão milhares de brasileiros; na Austrália, principalmente, estudantes do Brasil -, eles possuem clara visão das necessidades de seu país, desde competências até locais que precisam ser desenvolvidos.

    Esse é o caminho que o Brasil, um país eminentemente...

(Interrupção do som.)

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - ...imigratório, precisaria trilhar, mas não o faz por falta de políticas de incentivo às pesquisas, de atração de talentos, ocorrendo o contrário: a perda sobre a qual estamos aqui comentando.

    Nós precisamos dar importantes passos, desburocratizar o País, valorizar empreendedores, facilitar a abertura de negócios, fazer cessar a insana carga tributária que assola os produtores de riqueza do Brasil. O Estado não produz riqueza, como se sabe, mas toma para si a parte do lucro de nossos empresários para sustentar essa grande burocracia. Então, já passou da hora de dizer que precisamos de mais empreendedores e menos burocracia.

    A inovação, a pesquisa e a tecnologia passam pela educação. Precisamos de maior integração entre empresas, universidades, academia e a participação do Estado. É de lá que sairão as novas ideias que gerarão empregos e desenvolverão o País para nos tornarmos a Nação que merecemos e da qual estamos tão distantes, principalmente neste momento de profunda crise.

    Educação não é doutrinação. Educação é pensamento crítico, é pesquisa, é liberdade de pensamento, é interação entre os bancos escolares, as universidades e o empreendedorismo. É tempo de o Brasil discutir que país deseja ser, e esse caminho passa necessariamente por avaliar um sistema educacional, hoje falido, que privilegia ideologia e isonomia em vez da meritocracia e a liberdade.

    Há muito que fazer para evitar a evasão de cérebros: repensar nosso modelo educacional, desburocratizar, enxugar a máquina mastodôntica desse Estado. Precisamos de um diálogo entre academia e setor privado, deixando ideologias atrasadas no passado; focar no futuro, assim como fizeram Canadá e Austrália, que, além de manterem seus talentos, hoje atraem e levam os nossos.

    Esse era o tema sobre o que pretendia falar, Sr. Presidente Jorge Viana, depois da proveitosa audiência pública da manhã de hoje, quando tanto aprendemos com as exposições feitas pelos Embaixadores do Canadá e da Austrália, que, pacientemente, estiveram conosco por quase três horas. Ficamos com uma ponta de inveja. Que bom se pudéssemos nos aproximar mais rapidamente do que eles fazem - atrair talentos - e não o que estamos fazendo; nós estamos afugentando os talentos. Uma dura lição que revisamos hoje pela manhã.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2016 - Página 7