Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Inquirição do Sr. Luiz Gonzaga De Mello Belluzzo, professor da Unicamp e economista, sobre o cometimento de crime de responsabilidade pela Presidente Dilma Rousseff e as consequências da continuidade de sua gestão para economia nacional; questionamento acerca da política econômica do Presidente interino Michel Temer.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Inquirição do Sr. Luiz Gonzaga De Mello Belluzzo, professor da Unicamp e economista, sobre o cometimento de crime de responsabilidade pela Presidente Dilma Rousseff e as consequências da continuidade de sua gestão para economia nacional; questionamento acerca da política econômica do Presidente interino Michel Temer.
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/2016 - Página 47
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • INQUIRIÇÃO, INFORMANTE, LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO, ASSUNTO, CRIME DE RESPONSABILIDADE, AUTORIA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, OBTENÇÃO, EMPRESTIMO, ORIGEM, BANCO DO BRASIL, BENEFICIARIO, GOVERNO FEDERAL, DESTINAÇÃO, FINANCIAMENTO, PLANO, SAFRA, QUESTIONAMENTO, OPINIÃO, GESTÃO, ECONOMIA NACIONAL, MICHEL TEMER, PRESIDENTE, INTERINO, RESULTADO, CONTINUAÇÃO, ATUAÇÃO.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Presidente, meu caro Prof. Belluzzo, com quem, apesar de ser da mesma idade, aprendi algumas coisas de economia pelos seus livros, vou começar pela pergunta última da Senadora Kátia.

    Pelo visto, eu gostaria de saber, meu caro Belluzzo, sua opinião, se não está de acordo com essa política do Presidente interino Temer de gastar, gastar, gastar, como tem sido aprovado aqui, recentemente, tantos gastos, e pelo aumento do déficit que ele faz. Eu acho que vai na linha do anticíclico que o senhor defende e a que eu não sou favorável. Eu acho que ele não está indo por um bom caminho.

    Segundo, eu fiquei numa curiosidade porque também tentei, como o senhor, buscar líderes nacionais para impedir a marcha da insensatez, e, como o senhor, fracassei também. Por que nós fracassamos na tentativa de impedir a marcha da insensatez? No seu caso, o que não deu certo?

    Outra pergunta que eu queria fazer é: o senhor não temeria que a continuação da política econômica da Presidente Dilma poderia levar a uma mistura de Grécia com Venezuela? Grécia no sentido de irresponsabilidade fiscal e Venezuela no sentido de uma intervenção governamental atabalhoada.

    Outra pergunta que eu gostaria de lhe fazer é sobre a própria ideia das pedaladas, mas de outra maneira. O Governo pagou aos bancos porque reconheceu um débito. Se reconheceu um débito, não houve um crédito anterior? Como é que o Governo poderia pagar aos bancos, se não houvesse um débito do Governo em relação aos bancos? E como é que poderia haveria um débito, se não houve um crédito dos bancos ao Governo? E, se houve um crédito, não é um financiamento? Não é uma operação bancária isso que teria sido feito?

    E, finalmente, uma pergunta...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - O senhor falou...

    Terminou, Presidente?

    A SRª KÁTIA ABREU (PMDB - TO. Fora do microfone.) - Mais um minuto.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - O senhor falou, todos nós sabemos, da queda da arrecadação.

    A arrecadação só cai quando a gente diminui a carga fiscal - não houve no Brasil, ao contrário, aumentou -, quando há uma desobediência civil que não paga impostos - não houve no Brasil, felizmente. Então, foi porque caiu o PIB.

    O que o senhor acha? Quais as causas que no governo Dilma o Produto Interno Bruto caiu tanto, ao ponto de levar a arrecadação ao desastre que provocou toda essa situação quase falimentar no setor público brasileiro?

    São essas as perguntas.

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - Professor Belluzzo com a palavra.

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - Senador Cristovam, nós, de fato, já militamos nas mesmas hostes. Eu quero lhe responder pelo fim.

    De fato, o choque fiscal - na verdade, sou obrigado a repetir o que eu disse - do final de 2014 e começo de 2015, que não foi só o choque fiscal, foi um choque de tarifas, de juros e fiscal, queda violenta do investimento público, quer dizer, tudo isso era o consenso dos mercados financeiros, era preciso exagerar o que estava acontecendo, a situação da economia brasileira, e, no final de 2014, que era um desastre. Esse consenso se formou, digo, e, deploravelmente, e a política econômica do Levy e da Presidente Dilma levou a economia a essa recessão, com queda de receita e tudo.

    Eu não posso aceitar que ela... Ela fez despedaladas, como eu falei. Ela não fez pedaladas, não teve crime de responsabilidade, foi um erro de política econômica.

    Eu estou dizendo isso porque eu disse publicamente, não é porque eu disse, isso não tem importância nenhuma, mas eu disse, logo no começo, que iria dar o resultado que deu, falei que iria cair e errei, porque eu falei que iria cair 2,5 o PIB e caiu 3,8. Errei, porque a gente erra.

    Eu não estou nem um pouco de acordo com a sua - ainda que a respeite profundamente - ideia de que houve uma operação de crédito entre o Tesouro e o Banco do Brasil. Foi uma operação fiscal. Ou seja, uma subvenção que foi, na verdade, tirada de dentro do orçamento. De onde foi que saiu a subvenção? Ou ela fez um decreto para a subvenção? Não, estava lá previsto no orçamento. Não é isso? Está previsto no orçamento.

     Então, é uma operação fiscal, não houve operação de crédito.

(Soa a campainha.)

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - A operação de crédito se dá entre o banco e o tomador do crédito. O que houve foi um subsídio. Eu disse que isso é assim em todas as partes do mundo, sobretudo no que diz respeito à agricultura, se o senhor me permite.

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - Senador Cristovam, V. Exª tem a palavra para a réplica.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu apenas gostaria de insistir nas outras perguntas. Essa a gente vai ficar discutindo a vida inteira e não sabe. Eu não vejo como pagar se não houve um crédito antes. Mesmo a subvenção seria uma forma de contrair um empréstimo, ainda que escriturado de outra maneira.

    Mas eu voltaria a insistir: a política, então, do Governo Temer - eu não estou de acordo com esse excesso de gastos dele -, mas essa política, então, é anticíclica na linha do que o senhor defende que deveria ter sido feito pelo governo Dilma?

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - Professor.

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - São dois momentos diferentes. Eu disse que a definição do déficit do Governo Temer é um gesto de realismo.

    Uma coisa é como você...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - O que tem o Palmeiras? Diga. O Palmeiras tem um estádio maravilhoso, que eu fiz.

    Então, eu quero dizer o seguinte: são dois momentos diferentes. O que desencadeou a queda da receita foi a política econômica de 2015. Agora, estou dizendo que é um gesto de realismo, porque não dá mais para você aprofundar o corte de gastos, se me permite.

    Senador Magno Malta, fale do Palmeiras para mim.

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - Está bom.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/2016 - Página 47