Discurso durante a 141ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência e a entregar a Comenda Dorina de Gouvêa Nowill aos agraciados, em sua 2ª edição.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Sessão especial destinada a comemorar o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência e a entregar a Comenda Dorina de Gouvêa Nowill aos agraciados, em sua 2ª edição.
Publicação
Publicação no DSF de 22/09/2016 - Página 16
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, LUTA, PESSOA DEFICIENTE, BRASIL, ENTREGA, COMENDA, PREMIO, CONTRIBUIÇÃO, DEFESA, PESSOAS, DEFICIENCIA, ENFASE, PRATICA ESPORTIVA, ESPORTE PROFISSIONAL, PARAOLIMPIADA, HOMENAGEM, VIDA PUBLICA, ALOYSIO CAMPOS DA PAZ JUNIOR, MEDICO, FUNDADOR, REDE NACIONAL DE HOSPITAIS DA MEDICINA DO APARELHO LOCOMOTOR, AUXILIO, SAUDE, REABILITAÇÃO, ELOGIO, PROFESSOR, CRIADOR, FUNDAÇÃO, EDUCAÇÃO, DEFICIENTE FISICO, VISÃO, ACESSO, LITERATURA.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Bom dia a cada uma e a cada um.

    Quero cumprimentar o Senador Hélio José, que preside esta sessão, o Senador Roberto Rocha, o Sr. Tenente-Brigadeiro do Ar Raul Botelho, a Srª Flávia Poppe e, muito especialmente, quero cumprimentar cada um desses agraciados, como o meu querido amigo Aloysio, aqui representado, a minha amiga Lucinha, o Fernando Gomide, nosso colega aqui da Casa, o Flávio Arns, grande amigo, foi nosso colega, e a Helena Werneck; mas, antes, e mais de que estes, quero cumprimentar e me lembrar da Dorina.

    Quando a gente vai ficando mais velho, parece que a gente vai escolhendo as imagens do passado que quer guardar. E uma dessas imagens é uma caminhada minha com a Dorina, no instituto que ela criou e dirigiu. Não posso me esquecer daquela caminhada, e ela me contando como foi que se fez cega, digamos; o que aconteceu com ela, que não nasceu daquela maneira, que a sensação era de que ia descendo uma coisa pela vista dela, como se fosse cobrindo o mundo, e como ela teve coragem de agarrar a sua deficiência, transformar em uma motivação e mudar a vida de tanta gente.

    Esta é uma das imagens que eu guardo com muita felicidade: ter tido a chance de conhecer uma pessoa que fez aquilo.

    Eu me lembrei dela durante as Paralimpíadas, quando eu vi outras pessoas que foram capazes também, se não de criar institutos, de formular alternativas para os outros, mas de dar o exemplo. Como aquele nadador, ontem, no Jornal Nacional, com a tranquilidade com que falava, sem poder usar as mãos, porque não tinha, mas dizendo como conseguiu ser um grande nadador, como ele conseguiu ser um grande atleta.

    Essas Paralimpíadas trouxeram, como a Dorina, talvez a única grande revolução ética do século XX para cá e no XXI, porque as revoluções científicas são características dos séculos XX e XXI, mas as éticas aconteceram antes. Até as estéticas, poucas foram realmente do século XX. Nossa vida do século XX foi a vida da revolução científica, tecnológica.

    A ética vem dos gregos; algumas vêm do século XIX. Da segunda metade do século XX até o século XXI, nós tivemos a evolução, obviamente, no gênero. Nós tivemos as mulheres podendo desempenhar um papel que não desempenhavam antes, mas não houve muita coisa. A democracia já existia, a ideia de liberdade e até mesmo de igualdade. Agora, o tratamento respeitoso aos portadores de deficiência é uma característica das últimas décadas. Eu diria, até mesmo, que é do final do século XX para o século XXI. Foi aí que a gente começou a tratar com profundo respeito aqueles que nascem com uma ou outra diferença de nós, ainda mais aqueles que conseguem transformar essa diferença em uma motivação para avançar.

    As Paralimpíadas trouxeram isso. Nós, sobretudo as crianças, vendo grandes atletas com alguma deficiência, podemos ver, primeiro, que podemos superar as nossas deficiências, que todos temos, e, segundo, que existem heróis que não têm aquilo que é chamado de perfeição.

    Houve um momento em que eu assistia às paralimpíadas em que eu imaginei o Super-Homem só com uma perna ou usando prótese e, mesmo assim, com o poder de herói super-homem que ele teve na criação dos escritores.

    Nós passamos a ter heróis que não são perfeitos nessa maneira que a gente costuma chamar aqueles que nascem ou que não adquirem imperfeições, e isso é algo fundamental. É algo que nos orgulha estarmos vivendo este momento.

    Mas há outro grupo de pessoas que nós também temos que respeitar: os heróis que não superam suas deficiências, mas aqueles heróis que lutam para que os outros superem as suas deficiências. Entre esses, creio que o Senado escolheu muito bem cada um dos que estão aqui, como o Campos da Paz, por exemplo, e devo até dizer aqui que uma das lembranças que eu guardo, como a da Dorina, são as conversas com ele; o compromisso dele com a saúde, não com os médicos, não com os enfermeiros. Nós somos meios para resolver os problemas dos outros. O compromisso dele não era com a saúde estatal, mas com a saúde pública, que é muito mais do que estatal. O Aloysio merece, tanto quanto os outros, mas com uma forma ainda mais forte, eu diria, ter sido uma figura que foi capaz de dedicar a vida para ajudar os outros a superarem suas deficiências. E conseguiu. Mas é preciso dizer que ele não conseguiria se não tivesse ao lado pessoas que ele foi juntando, reunindo, formando nas diversas instalações da Rede SARAH, além, obviamente, da família, que o apoiou todo o tempo.

    E, ao redor dessas pessoas, claro, está a Lucinha, que foi - eu ia dizer o braço direito, mas aí já tem um preconceito com os canhotos, como uma das minhas filhas. Ele foi capaz de reunir e fazer dela uma figura que poderia continuar o seu trabalho. E isto é raro em muitos dos líderes: ter alguém que continue o seu trabalho. Não é comum. Muitas vezes, depois do líder, as coisas morrem. Ele conseguiu trazer a Lucinha para ser o centro de tudo isso. Com esse gesto, ele mostrou que é maior ainda do que o seu simples trabalho.

    O Fernando é um dos muitos funcionários que nós temos aqui e que poderia muito bem desempenhar o seu trabalho, ser assessor de Senador e pronto, mas agarrou um problema que viveu e o transformou numa motivação para ajudar os outros a superar os seus problemas.

    O Flávio é a mesma coisa, só que um é funcionário, e o outro foi Senador. É um político, e um político que escolheu como causa, além das outras, essa ideia de fazermos com que os que têm algum tipo de deficiência recebam o necessário para ter a igualdade de condições.

    Lembro de você, Flávio, e dos outros premiados. Num desses dias, eu vi em algum lugar uma foto de um menino que queria olhar o que estava do outro lado de um muro, e, como era baixinho e não conseguia alcançar, ele foi ajudado por outro jovem que só tinha uma perna, mas que tinha uma muleta; e emprestou a muleta para que o baixinho olhasse do outro lado do muro. Ou seja, o deficiente usou a muleta dele para que o baixinho pudesse ver do outro lado. É essa cooperação que vocês têm e que a Helena também teve quando agarrou essa ideia de "ser diferente é normal".

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Essa ideia de que a diferença é normal caracteriza aquilo que comecei falando sobre o século XXI. Ser normal não é algo impossível para quem é diferente. Isso é fundamental. O normal do ponto de vista do respeito é ser tratado diante de pessoas que não têm a normalidade física, por exemplo; ou intelectual também.

    Então, este é um dos momentos que nos deixam felizes: ver esta instituição, o Senado, usando o nosso tempo, os nossos recursos para prestigiar alguém tão importante quanto a Dorina, ela pessoalmente, porque quem ganha esse prêmio, mais do que vocês, é ela. A cada ano ela recebe esse prêmio ao ser lembrada.

(Interrupção do som.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu concluo, agradecendo a correção da minha deficiência temporal, que não deixa de ser uma deficiência não fechar dentro do tempo previsto, dizendo que fico feliz de estar aqui com vocês, podendo dizer, como a Helena Werneck, que a diferença pode ser vista com normalidade. Os que têm deficiências são normais do ponto de vista de seres humanos, e este é um desafio que nós temos: garantir que ninguém fique excluído; que ninguém seja anormal por falta de apoio para construir sua normalidade através das suas deficiências, como os atletas mostraram jogando futebol ouvindo onde estava a bola; correndo graças a uma prótese, que é um auxílio que a gente dá.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Agradeço muito a vocês que receberam este prêmio por tudo o que têm feito e agradeço ainda mais à Dorina, por tudo que ela fez por nós com o seu esforço, a sua inteligência e dedicação.

    Por isso, eu quero dizer que quem está recebendo este prêmio hoje, Senador Hélio, é o Senado por estar propiciando esta oportunidade.

    Assim, a cada um de vocês, muito obrigado! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/09/2016 - Página 16