Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com atos violentos envolvendo integrantes das Centrais Sindicais e a Polícia Militar, em manifestação ocorrida na Esplanada dos Ministérios.

Críticas ao governo do presidente Michel Temer, defendendo a rejeição das propostas de reforma trabalhista e previdenciária.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Indignação com atos violentos envolvendo integrantes das Centrais Sindicais e a Polícia Militar, em manifestação ocorrida na Esplanada dos Ministérios.
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao governo do presidente Michel Temer, defendendo a rejeição das propostas de reforma trabalhista e previdenciária.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2017 - Página 33
Assuntos
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, MANIFESTAÇÃO, GRUPO, CENTRAL SINDICAL, POLICIA MILITAR, DISTRITO FEDERAL (DF), LOCAL, ESPLANADA (BA), MINISTERIO, BRASILIA (DF), DEPREDAÇÃO, BOMBA, GAS LACRIMOGENIO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, REJEIÇÃO, PROPOSTA, REFORMA, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, PREVIDENCIA SOCIAL.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Presidente Gladson Cameli, agradeço muito pela gentileza de V. Exª, que, uma vez solicitado por nós, recebeu cinco Ministros que lhe entregam um documento num dia triste, de espancamento na frente da Casa que é o coração da democracia, porque aqueles milhares que estavam lá fora – uns falam de 50 mil, outros falam de 80 mil, outros falam de 70 mil, mas com certeza mais de 50 mil pessoas – pediam exatamente isso, o que os meus queridos Ministros e a Ministra apresentaram no documento, que essa reforma trabalhista como está não pode ser aprovada, até porque não foi discutida por ninguém.

    Quando ela chegou à Câmara, os senhores mais do que eu podem lembrar, tinha sete artigos. Agora tem algo em torno de 100 artigos e duzentas mudanças.

    Eu queria, com muito carinho, repetir, durante o meu tempo, a satisfação dos senhores que representam aqui o povo brasileiro.

    Parabéns, Ministro Maurício Godinho Delgado; parabéns, Ministro José Roberto Freire Pimenta; parabéns, Ministra Delaíde Alves Arantes; parabéns, Ministra Maria Helena Mallmann; parabéns, Ministro Hugo Scheuermann. E parabéns a todos os 17 Ministros que entregam esse documento.

    Com certeza, teremos a oportunidade de entregar em mãos ao Sr. Presidente desta Casa, que não se encontra no momento, e por isso não os recebeu. Senão, eu tinha certeza de que ele os receberia. Podemos divergir em alguns temas, mas ele é o Presidente da Casa e receberá o documento, como solicitado por V. Exª, que será remetido a todos os Senadores.

    Que Deus nos ilumine nesse bom combate e que a paz, que a harmonia venha ao solo brasileiro, esta Pátria de todos nós. É preciso que alguns entendem que Pátria somos todos, e não alguns que achavam que iam enfiar goela abaixo do povo brasileiro a reforma trabalhista e a reforma previdenciária, ou alguns que estão lá no Palácio, achando que podiam fazer e acontecer, e o povo não ia reagir. O povo reagiu.

    Esse documento equilibrado, técnico e responsável, até pela hierarquia, eu diria, do cargo de V. Exªs é mais um documento do povo brasileiro, como aqui recebemos o documento da OAB contra as reformas e pedindo "Diretas Já"; como recebemos documentos de todas as centrais, federações, confederações e outras entidades da sociedade civil, pedindo que Michel Temer renuncie, faça um gesto de grandeza ao povo brasileiro.

    O que nós vimos hoje nesta praça em frente ao Congresso? Espancamento, um senhor na minha frente com a barriga aberta devido à agressão que sofreu no confronto, mulheres e homens sangrando, Senador Capiberibe. V. Exª estava lá também. Nós, em cima daquele caminhão, queríamos somente fazer um pronunciamento de três minutos cada um, dando um abraço naquele povo. Diz o poeta que o mundo cabe num abraço. Eles só queriam isso. Só queriam abraçar e dizer por que viajaram, por que estavam ali. Não tinha violência, não tinha nada. "Por quê? Por quê?", eu perguntava. "Ordem do Presidente".

    Mas será que, entre a justiça, a verdade, a não violência, uma visão humanitária e uma agressão covarde, vindo de cima para baixo, tem que ser cumprida?

    Olha, eu tenho conversado muito, inclusive com os policiais civis que vêm aqui. Estive sempre do lado deles, porque entendo que eles têm razão mesmo. Queriam tirar desde a especial, o adicional de risco, quando eles dedicam grande parte das suas vidas às nossas vidas. Quando ocuparam a Câmara dos Deputados, eu estive lá do lado deles. Gravei, inclusive, dizendo que eles estavam peleando, de forma correta e justa, e os Deputados tinham de ouvi-los.

    Eu me refiro agora ao que aconteceu aqui na frente. O que esse povo todo queria? Só queria dizer: "Não mexam", "Tirem as garras, tirem as garras de cima da nossa previdência", "Devolvam o Ministério da Previdência", "Tirem as garras da Justiça do Trabalho".

    Vocês sabem que, se esses juízes estão aqui, é porque eles, na hora do julgamento, querem só a verdade. Se alguém não pagou, vai ter de pagar.

    Ontem, no debate da Comissão, Senador Capiberibe, eu perguntei: "Se falam tanto de trabalho e um monte de ações, falam que são dois milhões, dez milhões de ações, vocês sabem me dizer qual é o volume que os empregadores devem para o trabalhador, porque não pagam?". Calaram. Ninguém disse nada. "É, a gente não sabe". Só falam em número de ações. Se ações são movidas é querendo a verdade, e o juiz julga pela verdade: deve, vai pagar; não deve, não vai pagar". Aí eu perguntei: "Vocês sabem quanto a elite deste País deve para a União e que quase a metade é dinheiro da Previdência?"

    Quase a metade. "Não, não sabemos". Então eu vou dizer para vocês. E todas são ações de protelamento. Aí pode, segundo os Procuradores da Fazenda. Eu presido a CPI da Previdência, que não queriam, mas saiu. E vai continuar a haver reunião amanhã de manhã. Sabe quanto? Dois trilhões de reais, dois trilhões! Então, a protelação deles vale. Quando o trabalhador não tem, deve-se protelar. Ele só quer que julgue. Entra com ação. Aí não pode, porque são muitas ações reivindicando direitos.

    Este País vai ter que mudar. Este País vai ter que ir para os trilhos, Senador Capiberibe, V. Exª, que, junto com mais 32 Senadores, Senadores que estão aqui presentes, há um ano e meio dizíamos: "Esta crise não vai parar. Vocês estão vendendo terreno na lua, tirando o povo brasileiro para idiota. Esta crise não vai parar com o impeachment da Presidenta", como não parou. Está aí o resultado. Estamos com 16 pedidos de impeachment. Estamos com o povo brasileiro gritando nas ruas "Fora Temer". É verdade isso. Eu não uso muito essa expressão, mas ouço dia e noite na rua. E as redes sociais chegam a encalhar as mensagens de tanto pedido para que o Presidente Temer renuncie.

    Repito: Presidente Temer, dê uma caminhada pelas ruas do nosso País, vá a um parque, vá a um estádio de futebol, vá a um ginásio de esportes, vá a um teatro, vá a um cinema e peça para anunciar a sua presença. Use como termômetro isso.

    Queria abraçar os artistas brasileiros pelos vídeos que estão gravando gratuitamente, pedindo que essas reformas não sejam aprovadas e pedindo a volta da democracia no nosso País.

    Eu sou de 50, Senador e Senadora. Com 14 anos, eu andava nas ruas porque era líder estudantil enfrentando a ditadura. Quem diria! E agora, com 67 anos, Senador Capiberibe, V. Exª foi exilado, ter que voltar para as ruas contra um governo que é uma ditadura, é uma ditadura do poder econômico massacrando o povo brasileiro. Ah, a história há de avançar e nós mudaremos o curso dessas propostas, como disse alguém no passado. E eu não repetia, mas agora estou repetindo desse governo de canalhas. Somente canalhas podem fazer o que vocês estão fazendo. Quadrilha mandando espancar o povo na rua covardemente. O que eu vi – eu estava lá – foi espancamento do povo, gente sangrando, chorando e pedindo o que fazer, Senador. Acho que só há uma saída. Foram correndo para dentro dos Ministérios, foram descendo, os que estavam em cima do caminhão. Outros voltaram para cá e outros heroicamente ficaram na praça com palavras de ordem.

    Senador Capiberibe, encerro dentro dos meus dez minutos, dizendo que nada melhor do que um dia depois do outro. Aqueles que criaram essa situação vão ter que responder, vão ter que responder perante a história, vão ter que responder por tudo o que fizeram de maldade, por tudo o que fizeram de forma truculenta e – eu diria – desonesta contra o povo brasileiro.

    Quanto à reforma trabalhista, para concluir, eu estava lá ontem. Ninguém me venha com o papo furado de que foi dada vista. Ninguém pediu vista.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu vou pedir o áudio. Eu vou pedir à TV Senado, que filmou do início ao fim. Simplesmente, quando se retomou, depois de uma guerra campal quase, naquela Comissão, o Presidente disse: "Está aberta a sessão". O Relator disse: "Está lido o meu Relatório". E o Presidente disse: "Está encerrada a sessão".

    Não foi pedida vista. Vamos debater o relatório na semana que vem e vamos pedir vista. E vamos discutir as 150 emendas. Ou vão me proibir, como Senador, que eu possa defender, numa Comissão, as emendas que apresentei?

    Não votarão, não. Não votarão! Não votarão!

    E não adianta esse ou aquele vir com propostas indecorosas, na linha de ameaças, porque a nós ninguém oferece bobagem nenhuma, porque vai engolir, se oferecer. Mas com ameaças...

(Interrupção do som.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Nós faremos, sim, o bom combate. (Fora do microfone.)

    Ficaremos aqui o tempo necessário. E essa reforma trabalhista? Eu quero mais é que ela fique para ser debatida no novo Governo.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu quero que uma reforma da previdência – porque ninguém é contra ajustes no campo do trabalho e no campo da previdência – seja debatida e votada num outro Governo, mas não neste que está aí.

    Presidenta, agradeço muito a V. Exª. Espero muito mesmo que as eleições diretas venham, para que a gente não tenha um Governo que mande bater no povo aqui na praça. Milhares e milhares – termino, dizendo – vendo o nosso povo sangrando, por ordem, segundo eles, do Presidente.

    Obrigado, Presidenta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2017 - Página 33