Discurso durante a Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas à reforma da previdência.

Comentário sobe o preço do leite pago ao produtor rural no Estado do Paraná.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Críticas à reforma da previdência.
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
  • Comentário sobe o preço do leite pago ao produtor rural no Estado do Paraná.
Publicação
Publicação no DSF de 09/02/2018 - Página 32
Assuntos
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Indexação
  • CRITICA, POSSIBILIDADE, GOVERNO FEDERAL, REALIZAÇÃO, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL.
  • DEFESA, PRODUTOR RURAL, ESTADO DO PARANA (PR), NECESSIDADE, MELHORIA, PREÇO, LITRO, LEITE, VALORIZAÇÃO, TRABALHO.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, quem nos acompanha pela Rádio Senado, pela TV Senado e pelas redes sociais, eu queria falar um pouquinho aqui, novamente, sobre a reforma da previdência. Acho que este é o tema mais importante que está sendo discutido aqui no Congresso Nacional. Não está no Senado da República, mas está na Câmara dos Deputados. E a sorte desse texto pode chegar aqui. Eu espero que não, que consigamos resistir.

    Ontem o Governo falou que alterou o texto, melhorando as condições do que foi apresentado, que retirou os trabalhadores rurais, que melhorou a vida dos policiais. Pois bem. Algumas alterações de fato foram feitas. Mas a base, aquilo que afeta a maioria das pessoas não foi feito no texto. E é isso que nos preocupa.

    Por exemplo, foi mantido o aumento da idade para aposentadoria: 65 anos, homens; e 62 anos, mulheres. Eu falo aqui de novo: as mulheres vão ter de trabalhar sete anos a mais; os homens, cinco anos a mais. Eu pergunto: o que este Governo tem contra as mulheres? As professoras, então, terão de trabalhar e contribuir dez anos a mais. É muita sacanagem isso. E eles não explicam por quê. Ah, dizem que as mulheres têm a mesma longevidade masculina, que hoje já trabalham. Esses senhores se esquecem de que as mulheres têm dupla, tripla jornada de trabalho. Trabalham fora de casa, trabalham dentro de casa. Esses senhores não sabem que a gravidez tem impacto na vida das mulheres. Esses senhores têm muitas coisas a aprender com o mundo feminino.

    É por isto que estamos tendo tanta violência contra a mulher, tanto preconceito, tanta misoginia na sociedade: o Governo oficializa uma proposta que vem efetivamente de encontro, ao contrário daquilo que nós conquistamos na Constituição de 1988. Mas pior do que isso: estabelecer uma idade mínima para todo o Brasil é não compreender as realidades regionais diferenciadas que nós temos e os trabalhos diferenciados que nós temos.

    Vejamos nós aqui, Senadores e Senadoras. Nós aguentamos trabalhar até 65 anos. Aliás, há Senadores aqui com mais idade, 70, 80. Mas vejam o ambiente em que trabalhamos. O nosso trabalho é vir aqui parlar, falar. Nós nos sentamos em boas cadeiras, andamos em bom carpete, temos boa vida, ganhamos bom salário. Trabalhamos muito, viajamos, conversamos com as pessoas, mas as nossas condições de trabalho nos dão condições de trabalhar por mais tempo.

    Agora vamos pegar alguém que trabalha na construção civil. Muitas vezes já começou cedo, como ajudante de pedreiro do pai, lá com uns 15 anos, puxando balde de cimento e de cal, assentando tijolo, trabalhando no sol, trabalhando na chuva, às vezes trabalhando sábado e domingo para entregar a construção. Vocês acham que uma pessoa dessa chega aos 65 anos com uma boa disposição física?

    Ou então uma pessoa do interior, do sertão nordestino, do interior do Paraná, que não precisa necessariamente ser agricultor ou trabalhador rural – porque aqui eles estão dizendo que vão manter –, mas essa pessoa, que trabalha em condições piores, é óbvio que não vai ter resistência de idade. Então, não dá para tratar igual o que é diferente. Assim como também o cálculo do Regime Geral de Previdência: não vai pegar os 80% dos melhores salários e 100% dos maiores. A questão, por exemplo, da pensão. Nós vamos ter que continuar optando – nós, não, o pessoal da previdência, principalmente do Regime Geral, vai ter que continuar optando por pegar a aposentadoria ou a pensão, e, se pegar a pensão, vai ter redução. Isso é uma maldade que se faz com o povo brasileiro. Vamos lembrar que a maioria das pessoas neste País ganha menos que R$4 mil – que é o auxílio-moradia dos juízes e Ministério Público –, e é essa gente que vai ser atingida. Então, eu não consigo entender essa lógica da reforma da previdência.

    Eu tenho que aqui fazer um alerta: o que vai ser votado na Câmara não é a favor do Brasil, não é a favor do povo brasileiro. Quer fazer uma reforma, faça em cima dos privilégios, dos nossos aqui, de Parlamentares, dos privilégios do Ministério Público, do Judiciário, da Receita Federal, da Polícia Federal, faça em cima disso.

    Eles, por exemplo, tiraram os policiais no caso do redutor da pensão: se o policial morrer em serviço, não vai haver redução da pensão. Eu acho justo, mas eu acho justo para todos os outros trabalhadores que morrem em serviço ou que morrem. Por que a viúva de um é diferente da viúva de outro? A criança de um é diferente da criança de outro? Somos todos seres humanos. É disso que nós estamos falando, como nós tratamos as questões fazendo discriminação.

    Em relação à aposentadoria rural, eu ainda quero ler com mais detalhe o texto, porque disseram que excluíram os trabalhadores, que vai continuar 15 anos de trabalho e vai continuar a aposentadoria para as mulheres aos 55, para os homens, aos 60, e não vai precisar da contribuição mensal. Aliás, não falam que não vai precisar da contribuição mensal, não citam nada. O meu medo é que venha depois uma lei – que não precisa da Constituição para isso – implantando a contribuição mensal para o trabalhador rural ou para o agricultor. Nós estamos falando de uma aposentadoria especial especialíssima conquistada na Constituição de 1988, e que foi muito importante para debelar a pobreza neste País, a miséria no interior do País. Então, temos tem que ficar atentos. Quero dizer para os trabalhadores rurais e agricultores que nós estamos atentos.

    E aproveito também para falar hoje sobre um assunto específico que afeta o meu Estado, mas eu acredito que afeta todos os Estados brasileiros, que é o preço do leite pago ao produtor rural – o preço do leite pago ao produtor rural. Lá no meu Estado, no Estado do Paraná, eu estive falando com produtores rurais da área do sudoeste do Paraná, e hoje o litro de leite está na casa de R$0,80. Nós já tivemos o litro de leite pago ao produtor por cerca de R$1,10. Então, hoje precisa vender cinco litros de leite para comprar um litro de gasolina. Que País é este? Cinco litros de leite para comprar um litro de gasolina!

    No caso do Paraná, a situação é agravada pelo descaso combinado das duas esferas do Governo, ou desgoverno; o estadual, na mão do Beto Richa, e o golpista nacional, na mão do Temer. Só se interessam em manter privilégios. Mas a gente quer saber qual a política que o Governo está fazendo para o preço do leite. O que os laticínios estão pagando para os produtores está muito abaixo. Como eu disse aqui, é coisa de R$0,85. É desanimador. Enquanto a gente paga no supermercado o litro de leite em média R$2, R$2,50, aqui em Brasília R$3 a caixinha, o produtor rural recebe menos da metade desse valor pelo trabalho que teve, desde o cuidado com o rebanho no pasto, até tirar o leite, guardar e entregar para a indústria.

    É sobre isto que a gente está conversando: que tipo de Brasil nós queremos – aquele que valoriza o trabalho, que valoriza o agricultor, o produtor, ou aquele que valoriza quem acumula dinheiro, quem ganha fácil? É o país dos banqueiros, onde o banco tem lucro de 25 bilhões e todo mundo fica olhando e achando normal. É indecente isso. E o produtor rural ganha isso: R$0,85 por litro de leite. No Governo do Temer o produtor precisa vender quase ou mais do que cinco litros de leite para comprar um litro de gasolina. Isso é muito desanimador.

    Sabe o que significa o leite para uma família que que vive, que mora e trabalha na roça? É o dinheiro do mês, gente. Ter a vaca leiteira na agricultura familiar garante o chamado cheque do leite, que paga a conta da energia elétrica, usada inclusive para resfriar e conservar mais produtos. É o leite que paga o rancho do mercado, que paga – e é até irônico disser isso – o combustível com que a família abastece o carro.

    E aí vem a propaganda do Governo e as notícias dos jornais dizerem que não subiu o preço da carne de boi, do porco, do frango e o preço do leite. É ótimo não subir o preço, mas quem está pagando a conta dessa economia no chão – e a baixa inflação reflete bem isso – é quem trabalha no campo e produz os alimentos. Só que, na realidade, não subiu para o produtor, porque no mercado já tinha subido e continuou alto. Baixou a inflação, mas os preços não baixaram de acordo com a inflação.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Aliás, acho que devia ser assim: reajustou o preço na inflação, quando baixar a inflação o preço tem que ser reajustado para baixo, até para que o produtor possa ter equilíbrio; senão, só cai no produtor, gente. Não é justo isso que se faz.

    Quero lembrar aqui o que o Presidente Lula fez. O Presidente Lula, para garantir a qualidade da vida das pessoas, aumentou o poder aquisitivo do salário mínimo, garantiu renda mínima às famílias mais pobres com o Bolsa Família e deu condições para as pessoas comprarem e se alimentarem melhor e, junto com isso, impulsionar a economia do País.

    Lula e o meu colega Requião, Senador, que foi Governador do Paraná, investiram muito em segurança alimentar, na agricultura familiar, no combate à fome nos Municípios. Investiram inclusive na questão da produção do leite. As pessoas se lembram do Programa Leite das Crianças que o Requião fez; do Luz para Todos, feito em conjunto com a Copel na época; do Fome Zero. Também lembram-se dos investimentos...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... que nós fizemos através do Pronaf, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, nas bacias leiteiras, na cadeia do leite. Isso tudo foi importante para melhorar a vida das pessoas no interior.

    Então, eu queria deixar registrada aqui a minha indignação com essa situação. Volto a repetir: nós já tivemos para o produtor rural a paga do litro de leite de R$1 a R$1,1. Hoje, está R$0,85. Nós estamos pagando no mercado pelo litro de leite mais do que R$2, às vezes até R$3, R$ 3,50. Ou seja, o preço baixou para o produtor, mas continua alto para o consumidor. A tão propalada queda da inflação do Sr. Meirelles não está tendo efeito algum na economia e na vida das pessoas.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/02/2018 - Página 32