Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o desequilíbrio econômico enfrentado pelo setor agropecuário, principalmente com relação à pecuária leiteira no Estado do Rio Grande do Sul (RS).

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
  • Considerações sobre o desequilíbrio econômico enfrentado pelo setor agropecuário, principalmente com relação à pecuária leiteira no Estado do Rio Grande do Sul (RS).
Publicação
Publicação no DSF de 28/02/2018 - Página 44
Assunto
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, AGRICULTURA, PECUARIA, LOCAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), REGISTRO, RECEBIMENTO, CARTA, AUTORIA, PRODUTOR RURAL, ASSUNTO, PRODUÇÃO, LEITE, MOTIVO, REDUÇÃO, PREÇO, IMPORTAÇÃO, RESULTADO, AUMENTO, DOENÇA, DESEMPREGO, ARRECADAÇÃO, TRIBUTOS, DEFESA, NEGOCIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, MUNICIPIOS, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO FEDERAL, OBJETIVO, COMBATE, CRISE.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Presidente Cidinho.

    Eu queria, em primeiro lugar, Presidente, cumprimentar aqui o Deputado Pepe Vargas, que é o Presidente do nosso Partido no Rio Grande do Sul, do PT, e que veio aqui me fazer uma visita, para dialogarmos um pouco sobre a conjuntura. Depois desses dez minutos, terei essa oportunidade.

    Sr. Presidente, fiz questão de usar a palavra, porque tenho recebido inúmeras reclamações. V. Exª é da área, conhece bem a questão da agricultura, da pecuária, enfim, de todo esse setor da produção na área rural.

    Vou ler um documento, Sr. Presidente, que recebi do meu Rio Grande, relacionado à questão do leite.

    Sr. Presidente, Deputados, Deputadas, Senadores e Senadoras, os produtores de leite do Rio Grande do Sul pedem socorro. O setor atravessa uma séria crise. Os baixos preços e as importações têm mobilizado o setor.

    Segundo a Emater, mais de 25 mil produtores, Pepe, abandonaram a atividade leiteira no nosso querido Estado, o Rio Grande do Sul, agora em 2017 – 25 mil produtores. Fechou agora a informação de 2017. No ano passado, aqui mesmo desta tribuna, comentei sobre esse tema.

    Entidades do Município de Tiradentes do Sul reuniram-se para discutir os atuais dados referentes à produção de leite e às perdas diante da crise.

    Os dados de 2016 mostram uma produção anual de 23 milhões de litros no Município. Levando-se em consideração a queda no preço do leite pago aos produtores, calcula­se uma perda no valor de R$0,40 por litro produzido, tendo essa queda ocorrido a partir do segundo semestre de 2017.

    Fazendo-se um cálculo de seis meses de produção, o prejuízo vai para 11,5 milhões de litros. Pelo valor de queda do preço de R$0,40 por litro, se tem uma perda de R$4,6 milhões.

    Veja bem: fazendo um cálculo de seis meses de produção – 11,5 milhões de litros –, teremos, então, um prejuízo de R$4,6 milhões em recursos que deixaram de entrar no Município.

    As consequências, Sr. Presidente, são muito sérias para o produtor e para a população em geral: descapitalização do produtor, comprometendo a manutenção da atividade; aumento dos custos de combustível, energia elétrica, insumos e sementes; redução de investimentos em alimentação, genética, instalações, máquinas, equipamentos e redução de mão de obra; e queda na produção, por impossibilidade de mais investimentos.

    Em muitos casos, Senador Cidinho, o agricultor está buscando renda fora da propriedade para manter a atividade e até mesmo o mínimo de estrutura. Resultado: acaba, no fim, acontecendo o abandono da atividade, inadimplência, descrédito, descontentamento, desânimo, gerando quadros de depressão e outras doenças relacionadas e, em casos mais graves, suicídios; prejuízo e falta de perspectivas, abandono da propriedade, o que, é claro, atinge o comércio com queda nas vendas, inadimplência, descapitalização do comércio, fechamento de lojas e demissões, que levam à atual dimensão do desemprego no Brasil, como comentei ontem.

    Conforme o IBGE informou, em matéria publicada em todo o País, já estamos hoje com 26 milhões de pessoas procurando emprego e com 4 milhões que desistiram, não estão nem procurando mais emprego.

    A produção de leite no Município é a principal atividade de distribuição de renda. A diminuição do número de produtores, entre 2015 e 2017, chegou a 25%. É claro que a queda na arrecadação é incontestável. Infelizmente. Ocorreu elevação de gastos com saúde e com assistência social, em função da queda na renda dos produtores e da elevação de doenças.

    Sendo a atividade leiteira uma atividade que mantém grande parte dos produtores nas suas propriedades e que gera mais empregos diretos e indiretos, o impacto causado pela atual crise e pela queda no preço de leite é incalculável, pois tem o impacto negativo diretamente para o produtor e para o Município, não somente na renda, mas, infelizmente, por toda a vida existente.

     Além disso, o produtor vem sofrendo com calotes de empresas, com falta de pagamento. Não só o produtor, mas, inclusive, há denúncia em relação à própria previdência. Essa realidade levará ao inchamento dos cinturões de pobreza nos grandes centros, aumentando ainda mais o problema de entorpecentes, violência e criminalidade, além daquilo que nós já estamos constatando aqui, nos debates que fizemos na Comissão de Direitos Humanos e também neste plenário.

     Lembro que o preço dos combustíveis, nos últimos seis meses, no Rio Grande do Sul, aumentou 17,62%.

    Se pegarmos os últimos oito meses, em âmbito nacional, os combustíveis tiveram 130 aumentos. Cento e trinta vezes tivemos aumento no combustível.

    A energia elétrica, nesse momento e nesse mesmo período, aumentou 29%.

    Sr. Presidente, os produtores de leite de Tiradentes do Sul estão propondo a todos Municípios decretaram, urgentemente, estado de calamidade. Construir uma agenda com as diversas entidades dos Municípios e regionais para uma pauta de negociação com governos estadual e Federal, organização do setor e intervenção do Governo no mercado, importações, compras institucionais, instaurar um sistema de subsídio da produção e anistia das dívidas, investimentos e custeio junto aos agentes financeiros, vencidas e vincendas.

    Por fim, o exemplo que dei aqui do Município de Tiradentes acontece nos mais variados outros Municípios da bacia leiteira, não só no Rio Grande do Sul, mas, sim, em todo o Brasil.

    Para questão de registro, cito aqui alguns nomes que entraram em contato com o meu gabinete e pediram que eu fizesse esse pronunciamento em nome dos produtores do Rio Grande: Cleonice Back, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Tiradentes do Sul; João Carlos Pavani, Gerente da Cotricampo, unidade Novo Planalto, Tiradentes do Sul; José Augusto Bobato, Secretário de Agricultura do Município.

    Toda essa área, Deputado Pepe, você conhece muito bem e me apontava outros caminhos aí, inclusive quando eu falei que iria falar desse tema.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Para terminar, Sr. Presidente.

    Elói Luft, engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal de Agricultura; Alexandre Moreira da Costa, médico veterinário da Secretaria Municipal de Agricultura; Carina Maria Bianchini, extensionista da Emater, Tiradentes do Sul; Leandro de Rosso Vettorello, extensionista também da Emater, Tiradentes do Sul; e Egon Konig, Cresol, unidade Tiradentes do Sul.

    Sr. Presidente, durante o evento da Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), ocorrido no último final de semana, em Torres, a crise do leite esteve na pauta. Foi me representar lá o companheiro Rubinho, que é lá de Canoas, e ele também me pediu que fizesse esse pronunciamento.

    O prefeito de Forquetinha, Paulo José, revelou que a perda no Município devido à crise do leite, em seu Município, ...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... já chegou a R$6 milhões no ano de 2017, quase metade do orçamento.

    Última frase só, Sr. Presidente, última parte: é importante, mais do que nunca, que todas as forças políticas do Estado, independentemente de partido, se juntem para defender este importante setor da economia gaúcha.

    Obrigado, Presidente, agradeço a tolerância de V. Exª sempre com este Senador.

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Cidinho Santos. Bloco Moderador/PR - MT) – Obrigado, Senador Paim, parabéns pelo seu pronunciamento. É um tema pertinente essa questão do leite e que gera preocupação no Brasil todo. Na semana passada, um grande laticínio, no interior de São Paulo, anunciou o fechamento de suas atividades, um laticínio tradicional.

    E muito se deve à questão da entrada em excesso de leite por parte do Uruguai no Brasil por um acordo do Mercosul, e o Governo procura mecanismos de diminuir um pouco essa entrada, porque o nosso custo de produção é muito maior que o custo de produção dos produtores do Uruguai. Quando se compra uma ordenhadeira mecânica aqui, você tem 60% de impostos. E lá praticamente não tem imposto. Então, estamos numa situação complicada. Essa situação do leite e também essa situação do arroz do Rio Grande do Sul estão inviabilizando os produtores rurais. É preciso que tenhamos uma política de governo para incentivar esses produtores. Parabéns pelo seu pronunciamento!

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Fora do microfone.) – Senador Cidinho, só vou pedir que a Taquigrafia incorpore no meu pronunciamento o seu complemento, sempre com a lucidez de quem atua na área.

    Obrigado.

    Senadora Lúcia Vânia, desculpe-me aqui o exagero.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/02/2018 - Página 44