Discurso durante a 26ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a respeito da escassez e do uso consciente dos recursos hídricos disponíveis.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Comentários a respeito da escassez e do uso consciente dos recursos hídricos disponíveis.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2018 - Página 82
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • COMENTARIO, CRISE, AGUA, MUNDO, NECESSIDADE, RESPEITO, UTILIZAÇÃO, RECURSOS HIDRICOS.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Sem revisão do orador.) – Senador Cidinho, que ora preside a sessão, eu pretendo fazer um pronunciamento que eu ia fazer hoje, na verdade, na Subcomissão Temporária do Fórum Social Mundial, que é coordenada pelo Senador Jorge Viana. Como eu tive que ficar no plenário um bom tempo, presidindo, faço-o aqui neste momento.

    A água, Sr. Presidente, é o recurso natural mais presente nas nossas vidas. Ela faz parte do dia a dia de mais de 7 bilhões de pessoas que habitam o Planeta. Ela não apenas mata a nossa sede, mas faz parte dos alimentos e está nas roupas, nos carros, nos aparelhos eletrônicos – podem ter certeza de que muita água foi usada para a fabricação de tudo aquilo que nós usamos e desfrutamos.

    Esse recurso fundamental para a sobrevivência dos seres humanos vem enfrentando uma séria crise de abastecimento. No meu Rio Grande do Sul, por exemplo, há cerca de 50 cidades em estado de calamidade pública por falta de água – recebi aqui uma delegação de prefeitos da região de Bagé demonstrando toda sua preocupação. Estima-se que cerca de 40% da população global viva hoje sob a situação de estresse hídrico. Alguns estudiosos preveem que a água será a causa principal de conflitos entre nações.

    Se olharmos os números apresentados pela ONU (Organização das Nações Unidas), veremos que controlar o uso da água significa deter poder. Por que isso? Porque a escassez de água no mundo está ligada à desigualdade social ou é agravada por ela e pela falta de manejo e usos sustentáveis desse tão importante recurso natural.

    As diferenças registradas entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento chocam e evidenciam essa realidade. Nos países do continente africano, existem regiões onde a situação de falta d'água já atinge índices críticos de disponibilidade. Lá, a média de consumo de água por pessoa é de 19m3 ou de 10 litros a 15 litros por pessoa. Se olharmos para Nova York, no entanto, um cidadão chega a gastar 2 mil litros por dia.

    Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. E 1,8 bilhão de pessoas (43% da população mundial) não contam com serviços adequados de saneamento básico.

    Isso nos coloca diante de uma triste realidade retratada pela Unicef: em todo o mundo, aproximadamente 2 mil crianças com menos de 5 anos morrem diariamente devido a doenças diarreicas e cerca de 1,8 mil dessas mortes estão ligadas à água, ao saneamento e à higiene.

    O Conselho Mundial da Água classificou o Brasil em 50º lugar em um ranking de saúde hídrica que analisou 147 países. Os critérios foram quantidade de água doce por habitante; parcela da população com água limpa e esgoto tratado; desperdício de água doméstica, industrial e agrícola; poluição da água e preservação ambiental. Em primeiro lugar, está a Finlândia; e, em último, o Haiti.

    A água tornou-se um grande desafio para a humanidade. A escassez de água cruza fronteiras, afeta a economia mundial.

    São quatro as modalidades de consumo de água: agricultura, produção energética, atividade industrial e abastecimento humano.

    O crescimento constante da população mundial exige mais alimentos, mais energia, mais água. As Nações Unidas (ONU) preveem que, em 2030, a sociedade vai necessitar de 35% a mais de alimento, 40% a mais de água e 50% a mais de energia. Até 2050, a demanda por alimentos e por energia crescerá 70% e 60%, respectivamente.

    Ao mesmo tempo, a grande concentração de pessoas em cidades de todo o mundo ameaça mananciais, como lagos, rios e lençóis freáticos. Sr. Presidente, a maior parte das águas residuais é devolvida para o ambiente sem tratamento, gerando danos para as pessoas e os ecossistemas.

    Nós brasileiros, que sempre nos consideramos dotados de fontes inesgotáveis de água, vemos hoje algumas das nossas cidades sofrerem a falta de água, e aqui eu já lembrei algumas. O Brasil tem grandes reservas hídricas, mas, paralelamente, tem dificuldades significativas a vencer, como já foi citado: falta de tratamento da água utilizada, poluição dos mananciais, alteração no regime de chuvas e maior disponibilidade do recurso longe dos grandes aglomerados populacionais.

    Vejamos a situação da nossa Amazônia. A grande bacia fluvial do Amazonas possui um quinto da disponibilidade mundial de água doce e é recoberta pela maior floresta equatorial do mundo, correspondendo a um terço das reservas florestais do Planeta.

    Conforme o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Antônio Nobre, as árvores da Amazônia são bombas que lançam no ar mil litros de água por dia. Têm que ser preservadas. Bombas no lado positivo, porque injetam. Elas a retiram do solo, evaporam-na e a transferem para a atmosfera. A Floresta Amazônica inteira coloca 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera todo dia. O Rio Amazonas, o mais volumoso do mundo, joga, no Atlântico, 17 bilhões de toneladas de água doce no mesmo intervalo de tempo. Vocês percebem, então, a importância da Amazônia no seu complexo todo, não só para o Brasil, mas para o mundo.

    Eu acredito na educação como fonte para todas as mudanças. As escolas deveriam, desde os primeiros anos escolares, dar grande destaque à questão do meio ambiente. Repito: as escolas deveriam, desde os primeiros anos escolares, dar grande destaque à questão do meio ambiente. Sei que existem escolas que fazem isso. Existem exemplos de crianças que chamam a atenção dos pais quanto a não jogar o lixo nas ruas.

    Certa vez, li numa revista que jogar o lixo na lixeira, um ato bastante simples, é, na verdade, uma semente de dignidade. Todos nós deveríamos plantar mais sementes de dignidade em cada simples gesto, todos os dias.

    O respeito à natureza, como o respeito às diferenças, é uma questão cultural. Nós precisamos investir na educação, na transformação de conceitos, de atitudes, pois, se não fizermos isso, estaremos nos negando a fazer a parte que nos cabe para melhorar a nossa vida e a do coletivo. E aqui tomarei a liberdade de falar que isso tudo, com educação, com certeza, é a melhor forma de combatermos a violência, tanto na educação do jardim à universidade quanto também no ensino técnico.

    Terminando, Senador Cidinho, tudo ao nosso redor está conectado a nós mesmos. Água, ar, terra, alimentos, animais e seres humanos estão conectados à conservação da vida, tudo em equilíbrio, mas num equilíbrio frágil, o que torna a nossa responsabilidade ainda maior.

    Era isso, Senador Cidinho. Agradeço já a tolerância de V. Exª para que eu pudesse falar rapidamente sobre a importância da água para a agricultura e para a vida como um todo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2018 - Página 82