Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo Federal pelo fechamento de 513 agências dos Correios.

Comentário acerca do Projeto de Lei do Senado nº 561, de 2015, de autoria de S. Exª, que impõe como único encargo financeiro a atualização monetária calculada pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA:
  • Críticas ao Governo Federal pelo fechamento de 513 agências dos Correios.
ECONOMIA:
  • Comentário acerca do Projeto de Lei do Senado nº 561, de 2015, de autoria de S. Exª, que impõe como único encargo financeiro a atualização monetária calculada pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2018 - Página 42
Assuntos
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, FECHAMENTO, AGENCIA, CORREIO, APREENSÃO, ENFASE, POSSIBILIDADE, DEMISSÃO, TRABALHADOR, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA.
  • COMENTARIO, ASSUNTO, DIVIDA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), REGISTRO, PROJETO DE LEI DO SENADO (PLS), AUTORIA, ORADOR, OBJETIVO, REDUÇÃO, VALOR, DIVIDA PUBLICA, GOVERNO ESTADUAL.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador João Alberto Souza, que preside a sessão, ontem o Senador Eduardo Lopes, do Rio de Janeiro, do PRB, fez uma denúncia. Eu estava presidindo os trabalhos e fiquei perplexo, assustado e, eu diria, até não aceitando o que ele dizia. Mas, ao mesmo tempo, me comprometi com ele de ir atrás dos dados e já aprovei, hoje pela manhã, uma audiência pública – porque ele tinha toda a razão –, ainda este mês, na Comissão de Direitos Humanos.

    Qual é o tema, Sr. Presidente?

    Lamentavelmente, o Governo Federal decidiu fechar 513 agências dos Correios. Isso representa a demissão de 5 mil pessoas. Além disso, só vai ter precarização das condições de trabalho e um prejuízo enorme ao serviço postal público, que já foi referência mundial – o nosso – aqui no Brasil.

    Está nítido que a intenção é privatizar os Correios. Nota do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, de São Paulo, que chegou às minhas mãos, afirma que "estão destruindo os Correios, doando o setor postal de presente àquele setor empresarial", que está preocupado somente com o lucro, lucro e lucro.

    Essa privatização que vão aprofundando é criminosa. Estão entregando de graça o patrimônio da população brasileira, construído durante 350 anos de muito suor, muito trabalho, muita dedicação e muitas vidas.

    Estão tirando do povo brasileiro o direito à garantia da comunicação postal, o direito de todo cidadão ter uma agência dos Correios em sua cidade, em seu bairro, de ter um carteiro batendo na porta da casa, entregando as correspondências.

    Sabe-se que o fechamento de agências próprias acontece em um momento em que a rede de agências franqueadas tem registrado aumento crescente da nossa gente. Diz o sindicato: isso acontece porque o Governo tem transferido grandes contratos comerciais para a rede de franquias, favorecendo os seus donos. Abro aspas: "Os correios [dizem eles] estão em todo o território brasileiro, presentes nos 5 mil Municípios. Mesmo nos rincões mais distantes, você vai encontrar um trabalhador dos Correios de bicicleta, a pé, de moto. Enfim, de uma forma ou de outra a correspondência chega. É um setor essencial para o País."

    Por isso, Sr. Presidente, já marquei para a semana que vem uma audiência pública para discutir esse caos – nós que tivemos sempre uma ligação muito forte com os trabalhadores dos Correios. Foi no governo Lula que asseguramos o adicional de periculosidade para eles e também para os vigilantes.

    Entro, Sr. Presidente, aproveitando os meus sete minutos, em outro tema: volto a falar da dívida do Rio Grande do Sul com a União. Do total de R$104,2 bilhões, o Estado deve R$58 bilhões por uma dívida iniciada em 98. Na verdade, a dívida inicial, Sr. Presidente, era R$9,7 bilhões. O Estado já pagou R$28 bilhões e ainda deve quase R$60 bilhões.

    Eu me dirijo agora ao Senador Lindbergh, porque apresentei um projeto de lei no Senado, Projeto 561, de 2015, encaminhado por mim, que teve o apoio de toda a Bancada gaúcha. Um texto no qual recebi a contribuição do Constituinte Hermes Zaneti. É fundamental para o encaminhamento de uma solução a essa terrível dívida. Todos, Senadores e Deputados, estão apoiando. A ideia não é calote e nem de perdão, mas de justiça, impondo como único encargo financeiro a atualização monetária calculada pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor, e não o IGP-DI, como foi no passado, e ainda um adicional de mais 6%.

    Assim, Presidente, devolvendo à União o valor do empréstimo. Sem contar que, de 94 a 98, por conta de medidas da União, a dívida do Estado, com esse cálculo maluco, aumentou em 122% em valores reais.

    Com esse projeto que apresentei, do qual o Senador Lindbergh é o relator, que vai beneficiar diversos Estados, não só o Rio Grande do Sul, pretendemos uma readequação das condições no financiamento assumido perante o Tesouro Nacional em forma diversas, aquelas adotadas pelo Governo Federal.

    Na prática, isso representaria a repactuação verdadeira da dívida, beneficiando os Estados e os Municípios.

    O projeto também objetiva sanar as dificuldades do Estado com o pagamento dos servidores, haja vista o imenso ônus do pagamento da dívida. O meu Estado, por exemplo, não consegue nem pagar mais o salário dos servidores – há meses eles recebem R$500.

    Sr. Presidente, o projeto está tramitando na Comissão de Constituição e Justiça e interessa a todos os Estados da Federação.

    Lembro que no passado o ex-Senador Dornelles – que hoje é Vice-Governador do Rio de Janeiro – foi o Relator e apontou o caminho de um grande entendimento. Agora, nós vamos conversar com o Senador Lindbergh para ver em que conseguimos avançar.

    O Rio Grande do Sul, por exemplo, por esse projeto, já quitou a dívida em 1º de maio de 2013 e teria um crédito a receber da União, se esse projeto fosse aprovado, de cerca de R$10 bilhões, que já pagou a mais.

    Aliás, quem de fato arcou com ela foi o povo gaúcho, os trabalhadores e os empresários, enfim, toda nossa gente. Todos os governos, independentemente de partidos ou coligações, suaram sangue e conviveram com essa violência.

    Outro problema sério, Sr. Presidente, são as perdas de arrecadação que os Estados têm com a Lei Kandir. Essa lei regulamentou a aplicação do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). Feita pelo então Ministro do Planejamento, Antônio Kandir, transformou-se na Lei Complementar 87/96, que já foi alterada por várias outras leis complementares.

    Uma das normas da Lei Kandir é a isenção do pagamento de ICMS sobre as exportações de produtos primários e semielaborados ou serviços. Até 2003, a Lei Kandir garantiu aos Estados o repasse de valores a título de compensação pelas perdas decorrentes da isenção de ICMS, mas, a partir de 2004 – nós já estamos em 2018 –, a Lei Complementar 115 – uma das que alterou essa legislação –, embora mantendo o direito de repasse, deixou de fixar o valor.

    Com isso, Presidente, os governadores precisam negociar a cada ano com o Executivo o montante a ser repassado, mediante recursos alocados no Orçamento Geral da União.

    Hoje, o Rio Grande do Sul recebe da União cerca de 10% das isenções do ICMS em cima das vendas ao Exterior. Nos primeiros quatro anos da Lei Kandir, a compensação ficava – vejam a diferença – em torno de 50%. Desde 1996, os Estados deixaram de arrecadar R$495 bilhões devido à mudança na lei.

    O Rio Grande do Sul está entre os que amargam as maiores perdas. O Rio Grande do Sul, com a Lei Kandir, já teve uma perda de R$45,5 bilhões, ao lado de Minas Gerais (R$135 bilhões) e Rio de Janeiro (R$49,2 bilhões), isso segundo dados do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

    Por isso, Sr. Presidente, é urgente que sejam definidas novas regras.

    A situação dos Estados é desesperadora. Nós acompanhamos a situação do Rio de Janeiro...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Estamos vendo a situação do Rio Grande do Sul e de outros tantos Estados.

    A União na verdade foi uma agiota. Foi uma agiota, Sr. Presidente.

    Ela não pode tratar os entes federados como se a União fosse um grande banco, cobrando o IGP-DI, mais 6%, que levou a essa dívida maluca, absurda, que não vai ser paga nunca. Eles podem sugar o que quiserem, mas Estado nenhum vai pagar. Como é que vai pagar algo calculado ainda no tempo do IGP-DI e mais 6%?

    Por isso, eu faço um apelo aqui para que a gente avance para que se encontre uma saída negociada e que o Rio Grande do Sul, que já pagou essa dívida e que tem R$10 bi a receber, não seja mais uma vez sacrificado trazendo um prejuízo enorme ao povo gaúcho.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2018 - Página 42