Fala da Presidência durante a 98ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem póstuma pelos 14 anos da morte de Leonel Brizola.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem póstuma pelos 14 anos da morte de Leonel Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2018 - Página 50
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO, MORTE, POLITICO, LEONEL BRIZOLA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu ia fazer uma fala rápida, na tribuna, em nome da Liderança do PT, lembrando os 14 anos da morte de Leonel Brizola, mas, como os dois Senadores estavam com muita pressa, eu faço aqui da Presidência.

    Senhoras e senhores, hoje lembramos 14 anos da morte de Leonel Brizola. Vida longa aos ideais de Leonel Brizola!

    Há 14 anos, falecia Leonel de Moura Brizola. Eu sei que falar de Brizola mexe com as emoções de grande parte do povo brasileiro. Ele foi o maior líder político da minha geração. Eu poderia aqui falar de sua biografia, mas optei por momentos da vida que marcaram esta geração.

    Quando eu tinha 10 anos, eu ouvi pela primeira vez Brizola. Ele falava na Rede da Legalidade, pelos microfones da Rádio Guaíba, lá de Porto Alegre, e pedia para que o povo brasileiro resistisse pela manutenção constitucional e que dessem posse a João Goulart na Presidência da República. Esse fato com certeza marcou a geração de muitos, muitos, muitos, muitos brasileiros. Naqueles dias frios de 1961, muitas e muitas vezes, parei com tudo que eu estava fazendo para ouvir Brizola, acompanhado do Sr. Ignácio, meu pai, e de minha mãe, Itália.

    Quis o destino que eu me encontrasse no Palácio Guanabara, no Rio de janeiro, em 1984, com o então Governador Brizola. Estávamos numa comissão de alto nível e tínhamos, depois de falar com o Governador, que ir para Minas Gerais. Os mais experientes falaram: "Sejam rápidos na conversa, porque vocês não podem perder o avião para Minas." Dito e feito. Brizola, com sua liderança, mas com a sua fala mansa, que encantava, foi conversando, conversando, e a conversa regada a chimarrão terminou na madrugada no apartamento dele na Praia de Copacabana. Só fomos para Minas no outro dia, para discutir a possibilidade de qual Estado, Rio de Janeiro ou Minas, daria maior acolhida para um grande congresso de trabalhadores. É claro que foi o Rio de Janeiro, com a liderança de Leonel Brizola, que esteve no evento.

    Assim era Leonel Brizola. Um homem apaixonado pelas suas ideias, pelas causas. Aprendi com ele que na vida pública não há razão de você se apresentar, se você não defender causas e só defender coisas. Por isso, com orgulho, eu digo: defendo causas, grandes causas que marcam a trajetória de todo homem público e que são de interesse de toda a nossa gente.

    Confesso que até hoje ainda não entendo como é que Leonel Brizola não chegou à Presidência da República.

    Queria também dizer que tive o prazer e o orgulho de estar com ele na campanha das Diretas. Tivemos longas conversas, diálogos profundos. Lembro eu aqui um comício na capital gaúcha, Porto Alegre. Escutávamos apenas a sua voz de longe, e o silêncio a rodear aquela multidão. Lá no Sul, nós dizíamos que, quando Leonel Brizola falava, até o silêncio se curvava para escutá-lo.

    Houve um outro momento que eu não esqueço. Eu, como sindicalista ainda, tinha que falar num evento depois de Brizola e perguntei ao Governador: "Mas como é que eu vou falar agora, Governador? O senhor encantou essa multidão." Disse ele: "Vá lá, moreno, fale com o coração". E assim eu fiz, assim eu fiz.

    Em outro momento, como Vice-Presidente desta Casa, em 2003, Leonel Brizola esteve em meu gabinete, com a humildade e a grandeza dos grandes líderes. Digo a todos vocês que o recebi, junto com o ex-Governador Collares, e ali proseamos por um longo período. Acho que foi aí que eu tive a impressão de que Brizola ficou para a eternidade.

    Um dia desses, recordei Santo Agostinho:

Na eternidade nada passa, tudo é presente, o passado vem empurrado por um futuro, e o futuro vem atrás de um passado. Quem prenderá o coração do homem para que pare e veja como, estando imóvel, a eternidade governa os tempos futuros e passados, sem ser nem futuro nem passado

    Quando eu olho para a história da humanidade, lembro-me de homens que marcaram a nossa geração. Lembro-me de Gandhi, sim, é um farol para a nossa caminhada, é um lampião nos campos, é uma lamparina. Lembro-me de Nelson Mandela, com 27 anos de cárcere, que se tornou, depois, Presidente da África do Sul e, com certeza, um líder dos direitos humanos sem fronteira. Lembro-me de Martin Luther King, que, naquele discurso histórico em Washington – depois, foi assassinado –, falava de seu sonho, para que negros, brancos, índios, migrantes e imigrantes sentassem na mesma mesa e comessem do mesmo pão.

    Quando esse filme, em vários momentos do dia a dia aqui no Senado, vem à minha mente, eu confesso que vem também a figura de Leonel Brizola. Leonel Brizola está sempre presente.

    Para se ter a ideia do que representava Leonel Brizola não só para gaúchos e gaúchas, mas para todos aqueles que eram de centro e de esquerda, basta darmos uma recorrida nos principais jornais do mundo quando de sua morte. Eu estive lá no Palácio Piratini, em Porto Alegre, quando ele foi velado. O espanhol El País disse que "o velho leão da esquerda brasileira morreu nessa segunda-feira no Rio". Na Grã-Bretanha, o The Independent disse que Brizola foi "o defensor dos mais pobres entre os pobres" do Brasil. Para o diário londrino The Guardian, Brizola foi o "orador mais talentoso da vida pública brasileira" em sua época. Nos Estados Unidos, o The New York Times afirmou que o papel de Brizola na tentativa de "evitar um golpe militar no início dos anos 1960, fez ele se sobressair na política brasileira" e no continente. Na França, o jornal Le Monde disse que Brizola era "o herdeiro do populismo de Getúlio Vargas", reconhecendo nele um grande líder. O francês Libération disse que o Brasil está "de luto pela morte de seu líder de esquerda".

    Termino dizendo, nesta pequena homenagem aos 14 anos que perdemos Brizola, vida longa às causas, vida longa aos ideais de Leonel de Moura Brizola. Ele fica para a eternidade.

    Muito obrigado.

    Encerramos, assim, a sessão de hoje, aqui no plenário do Senado da República.

    Que Deus ilumine a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2018 - Página 50