Pela ordem durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crítica ao líder espiritual João de Deus por explorar a fé e a fragilidade de vítimas para a prática de crimes.

Autor
Ataídes Oliveira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: Ataídes de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Crítica ao líder espiritual João de Deus por explorar a fé e a fragilidade de vítimas para a prática de crimes.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2018 - Página 42
Assunto
Outros > RELIGIÃO
Indexação
  • CRITICA, JOÃO DE DEUS, LIDER, RELIGIÃO, LOCAL, ABADIANIA (GO), MOTIVO, CRIME, EXPLORAÇÃO, CRENÇA RELIGIOSA.

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Social Democrata/PSDB - TO. Pela ordem.) – Se V. Exa. demorar por mais alguns cinco minutinhos e quiser e puder me dar a oportunidade de ir à tribuna, por cinco minutos, eu...

    O SR. PRESIDENTE (Eunício Oliveira. Bloco Maioria/MDB - CE) – Tem V. Exa. a palavra, por cinco minutos. (Pausa.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Social Democrata/PSDB - TO. Para discursar.) – Obrigado, Sr. Presidente.

    Sras. e Srs. Senadores, muito já foi dito pela imprensa e pelas redes sociais, aqui mesmo desta tribuna, a respeito do escândalo envolvendo o João de Deus, um líder espiritual até então admirado e respeitado no mundo todo.

    Mais do que expressar o meu sentimento de revolta diante dos crimes praticados pelo médium de Abadiânia; mais do que a indignação pela exploração da fé, da esperança e da fragilidade de tantas vítimas, o que proponho é uma profunda reflexão sobre as revelações que têm vindo à tona, envolvendo tanta gente poderosa, nos últimos tempos.

    Um líder espiritual como João de Deus e líderes políticos e empresários importantes, como os que vêm sendo denunciados por corrupção, teriam, em princípio, toda a capacidade – e até a obrigação – de trabalhar pelo bem e pela prosperidade da sociedade. Mas, infelizmente, usaram os dons recebidos de Deus, usaram sua inteligência e capacidade de liderança de forma egoísta e espúria, em benefício próprio.

    João de Deus tem ou não o dom da mediunidade?

    A Palavra de Deus é rica em falar sobre os dons concedidos aos homens. O dom da fé, a ponto de remover montanhas; o dom das profecias; o dom da prosperidade; o dom das línguas; o dom de interpretar sinais; o dom de governar e liderar e o dom da cura. Todos esses dons são reais. Eles nos foram dados por Deus, já que fomos feitos à Sua imagem e semelhança. Eles deveriam ser usados para abençoarmos uns aos outros.

    Mas atenção: um dom, em si, nada é ou de nada vale. Ele só se torna a pura expressão da verdade divina quando o uso que fizermos dele é movido por amor. Sem amor, não adianta você ter esse dom. Foi o que Cristo veio mostrar ao mundo.

    Vale ler aqui um dos trechos mais significativos da Bíblia a esse respeito – abro aspas: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia, saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei" – fecho aspas. Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, Capítulo 13, Versículo 1.

    Quando os dons de Deus são usados em interesse próprio, espúrio, por cobiça, vaidade ou ganância, esses dons são a forma mais fácil e eficiente de enganar as pessoas. Não sendo mentira, não são, no entanto, a expressão da verdade.

    Volto aqui, Sr. Presidente, à Bíblia, para lembrar que o próprio Satanás era chamado de Lúcifer, ou seja, "anjo de luz", aquele que poderia – e deveria – dar testemunho da luz. Ele recebeu dons de Deus para isso e, quando caiu, não perdeu os seus dons, que são irrevogáveis.

    Os dons são irrevogáveis. Sem amor ao próximo, dons que deveriam ser usados para operar o bem podem, perfeitamente, ser usados para operar o mal.

    Pois Deus tem colocado luz sobre nossa Nação, para que tudo o que está corrompido, fora do propósito, venha à tona.

    As revelações sobre João de Deus estão dentro desse contexto. Assim também, todos os escândalos envolvendo governantes, políticos, empresários poderosos, gente com posição de influência, que deveria estar magnetizando seus dons para servir ao próximo.

    Senador Lasier, infelizmente, os dons de Deus têm sido utilizados fora de seu propósito; a riqueza está fora de seu propósito; o poder de governar e liderar está fora de seu propósito; a religiosidade, a cultura, a arte, a capacidade de influenciar e inspirar pessoas têm muita, mas muita coisa fora do seu propósito no Brasil.

    O sistema político está, de fato, apodrecido.

(Soa a campainha.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – Estou concluindo, Sr. Presidente.

    Ainda são muitas brechas para a corrupção.

    Temos um longo caminho para construir um País mais rico e menos desigual, é verdade, mas, sem amor genuíno, não há como romper a cadeia da usura, da perversão, da locupletação, do domínio e da injustiça.

    No caso de João de Deus, o ambiente de fé e esperança dos fiéis, e os dons que, por certo, ele recebeu de Deus, por certo devem ter operado alguns feitos extraordinários, mas o caráter oportunista e o mau uso desses dons tiraram desses feitos o caráter divino. A verdade veio, então, à luz.

    Só o conhecimento da verdade...

(Soa a campainha.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – ... pode libertar as pessoas. A nuvem negra que tem acobertado o Brasil, em tantos setores, finalmente está sendo dissipada.

    Meu desejo, neste final de ano, é que a verdade ilumine de vez nossa Nação e que o amor ao próximo renasça no coração de cada um de nós e alimente os dons divinos que nos foram dados pelo Pai, para que pudéssemos trabalhar por um mundo melhor.

    Era isso, Sr. Presidente.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2018 - Página 42