Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2019 - Página 27
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, OTAVIO FRIAS, DIRETOR, REDAÇÃO, PERIODICO.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Que dia especial!

    Kajuru agora quebrar protocolos. Então, já vou começar, aqui, dando um tchauzinho para os estudantes de Goianésia, que vieram me conhecer.

(Manifestação da galeria.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Pela Liderança.) – Não, não, não pode bater palma. Não pode bater palma. Pelo Regimento não pode.

    Vieram me conhecer. Bom, não é?

    Presidente Kátia Abreu, eu vou falar a verdade para V. Exa.: a imprensa brasileira tem que enaltecê-la por esta homenagem. Sabe por quê? Porque eu acho que há tanta homenagem inútil aqui neste Congresso Nacional... Tanta bobagem... Eu fui vereador lá em Goiânia e registrei em cartório que eu jamais faria homenagem a ninguém, comemoração de data, entrega de título de cidadão... Parlamentar tem que apresentar é projeto.

    Agora, uma homenagem dessas tem que ser reconhecida, porque – V. Exa., Maria Cristina Frias, tenha certeza – sua família atingiu algo difícil no mundo de hoje: atingiu a glória! Não é fácil atingir a glória, não – pouquíssimos: Gandhi... E alguns outros. A sua família atingiu a glória!

    Primeiro, sou um dos únicos deste Congresso Nacional que recebi salário da Folha de S.Paulo. E engraçado: sabe o que seu irmão fazia, o Otávio? Era decisão dele: a cada coluna que eu escrevia – fiquei dois anos lá. E vou contar por quê –, e eu mandava a coluna, tipo, 18h30, e, na minha conta bancária, o pagamento da coluna chegava antes. Eu nunca vi isto: receber antes. Essa é a Folha de S.Paulo. Eu recebia antes! Detalhe: eu fui o primeiro jornalista brasileiro, para quem não sabe, a ser demitido ao vivo – ao vivo! –, mas também fui o primeiro jornalista brasileiro a pedir demissão ao vivo também – por duas vezes. E, quando eu pedi demissão ao vivo, na Rede TV! – eu estava sem emprego –, quem me chamou para trabalhar, para substituir o Tostão, o genial Tostão, nas férias e para mandar dois artigos semanais no caderno de esportes? A Folha de S.Paulo, o único veículo. Corajoso, não?! Detalhe: foi o único veículo de comunicação, senhoras autoridades, senhores presentes aqui, o único que não censurou Kajuru. E eu escrevia cada barbaridade...

    Eu queria que V. Exa. anotasse aí, no seu papelzinho, quando chegar à Folha, a data de 17 de julho de 2002 – 17 de julho de 2002, antes das eleições presidenciais. Quem quiser entre no UOL e pegue lá no arquivo "Coluna Jorge Kajuru". E o título. Nossa, mas eu escrevi cada... Eu falava: "Gente, eles não vão deixar. Essa não vai". Foi tudo! Nenhuma palavra foi retirada! Recebi um telefonema do Mário Magalhães. Ele falou assim: "Kajuru, essa expressão aqui você quer retirar ou manter?" Eu falei: "O que que você acha?" Ele falou: "Não, você é que decide". "Mantém!". Manteve. Dia 17 de julho de 2002. Não há como esquecer.

    Mas a Folha de S.Paulo tem que ser reconhecida por quê? Primeiro: quando alguns atacam a Folha... E eu falo assim: "Folha, pega mais um quadro e coloca aí na sua galeria", porque, quando atacam a Folha, isso é, para mim, sinal de atestado de idoneidade. Eu sou assim: quando alguém me critica, eu falo: "Quem? Esse aí?!". Ou quando alguém me processa: "Esse aí?!". Isso é um atestado de idoneidade para mim.

    A Folha recebeu vários atestados de idoneidade – e os recebe até hoje – quando é atacada.

    Quando, por exemplo, dizem: "Ah, a Folha de S.Paulo é um jornal de oposição". Ora, o Millôr Fernandes tinha toda a razão: "Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados". A imprensa não foi feita para bajular ninguém, não! E a Folha de S.Paulo é um exemplo exatamente nesse sentido.

    Você busca uma seleção – para mim, a maior seleção brasileira de jornalistas de todos os tempos que escreveram e que escrevem na Folha – e você vê lá: uma seleção de Alberto Dines, Claudio Abramo, Paulo Francis, Carlos Heitor Cony, Clóvis Rossi, Josias, Gaspari, Mônica, Eliane, Matinas Suzuki, Fernando Rodrigues, Juca Kfouri, Tostão, Mário Magalhães, Caio Túlio Costa, Marcelo Coelho, Boris Casoy, Gilberto Dimenstein, Ruy Castro, José Simão e este idiota aqui. Escrevi na Folha. O José Luiz Datena falou assim para mim: "Meu irmão, você não precisa fazer mais nada na imprensa". Eu disse: "Por quê?" E ele: "Porque o cara que escreve na Folha não precisa de mais nada, é o maior patrimônio, é o maior prêmio, é o maior diploma de um jornalista".

    E é bom lembrar: a Folha de S.Paulo foi o único veículo de comunicação deste País que deu espaço para perseguidos políticos que não podiam escrever em lugar nenhum, para intelectuais e jornalistas perseguidos – e um jornalista perseguido não é o algoz, é a vítima. E a Folha deu espaço, a vida inteira, para esse pessoal.

    O Grupo Folha, ao perder o seu diretor talentosíssimo – talento abismal o seu irmão tinha, abismal, abismal –, de imediato, definiu o quê? Definiu que o cargo pela primeira vez seria ocupado por uma mulher que aqui está, Maria Cristina Frias. E ela já se colocou, diante da circunstância, em vantagem sobre a concorrência. Eu cito aqui, inclusive, a própria Maria Cristina Frias – aspas: "Ser mulher ajuda nessa busca de equilíbrio de opiniões e fontes diversas nas nossas páginas, na elaboração de pautas que interessem a um público cada vez mais amplo. Assim como os principais jornais do mundo, a Folha se preocupa em entender como ampliar o eleitorado feminino" – fecho aspas. Foram suas palavras.

    E, para concluir, cito novamente V. Exa., Maria Cristina Frias, a homenageada de hoje, deste dia especial, com um trecho da sua entrevista concedida ao próprio jornal, no último domingo, dia 10 de março. Com propriedade, Maria Cristina Frias, aqui presente, definiu que o papel do jornal é o de – aspas – "iluminar os debates dos problemas coletivos com informações bem embasadas e apuradas, monitorar o que fazem os políticos, além de se comprometer em defender a democracia e fatores que levem ao desenvolvimento do País" – fecho aspas. Belíssima a sua entrevista, belíssima a sua declaração. Parabéns de forma sincera – e, se existe uma coisa que eu não faço na minha vida, é puxar saco, até porque não preciso, de ninguém.

    Concluo lembrando, aqui não sei se todos lembram, o melhor slogan – eu amo frase e amo slogan – de um veículo de comunicação que eu vi até hoje. Foi o seu irmão quem criou, Otavio, Otavinho. Eu, inclusive, no dia, fui lá dar um abraço nele, dar parabéns a ele. Lembram-se daquele slogan: Rabo preso só com o leitor? E eu o imitei quando eu tinha a minha rádio, que foi cassada, a Rádio K do Brasil, lá em Goiás, de que a Senadora Kátia se lembra. Eu falava: Rádio K do Brasil, Rabo preso só com o ouvinte, imitando a Folha. A Folha, o rabo preso dela é só com o leitor.

    Assim, eu concluo, desejo longa vida ao jornal Folha de S.Paulo e repito: a família Frias atingiu o que poucos conseguem, a glória.

    Agradecidíssimo. (Palmas.)

    A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - TO) – Muito obrigada, Senador Kajuru, Líder do PSB.

    Quero registrar também aqui a presença dos estudantes de Direito da Faculdade Uniplan, aqui do Distrito Federal. Sejam bem-vindos.

    Quero convidar o Senador Randolfe, Líder da Rede, para uso da palavra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2019 - Página 27