Discurso durante a 25ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo ataque terrorista ocorrido em Mesquita na Nova Zelândia. Destaque à importância de se combater o discurso de ódio, intolerância e fake news pelas redes sociais. Considerações acerca de campanha lançada por S. Exª em busca de paz nas redes sociais.

Homenagem aos imigrantes italianos, em especial aos que vivem no Rio Grande do Sul.

Comentários sobre a postura pacífica da CNBB em benefício de todos os cidadãos e destaque à Campanha da Fraternidade 2019, lançada na última semana, com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas”.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Pesar pelo ataque terrorista ocorrido em Mesquita na Nova Zelândia. Destaque à importância de se combater o discurso de ódio, intolerância e fake news pelas redes sociais. Considerações acerca de campanha lançada por S. Exª em busca de paz nas redes sociais.
HOMENAGEM:
  • Homenagem aos imigrantes italianos, em especial aos que vivem no Rio Grande do Sul.
CIDADANIA:
  • Comentários sobre a postura pacífica da CNBB em benefício de todos os cidadãos e destaque à Campanha da Fraternidade 2019, lançada na última semana, com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas”.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2019 - Página 26
Assuntos
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Outros > HOMENAGEM
Outros > CIDADANIA
Indexação
  • CRITICA, ATO, TERRORISMO, PAIS ESTRANGEIRO, NOVA ZELANDIA, REGISTRO, IMPORTANCIA, REPUDIO, DISCURSO, DISCRIMINAÇÃO, ENFASE, INTERNET.
  • HOMENAGEM, IMIGRANTE, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, ENFASE, DESTINO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • REGISTRO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, COMENTARIO, ATUAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB).

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Izalci, embora eu tivesse dois compromissos, um às 10h30 e outro às 11h com V. Exa., como diversos Senadores tinham que viajar, eu acabei cedendo o tempo e falo agora com muita tristeza.

    A minha fala, infelizmente, vai na linha do que nós falamos durante toda a semana. É com essa tristeza, porque eu vi ontem à noite, nesta madrugada, o que aconteceu na Nova Zelândia. Um bandido, um marginal, um covarde entra numa mesquita, filma tudo e assassina covardemente 49 pessoas. É sobre isso, Sr. Presidente, que eu vou falar.

    Ataques contra duas mesquitas na Nova Zelândia deixaram 49 mortos e 48 feridos, nesta sexta-feira, nesta madrugada. Quatro pessoas envolvidas foram detidas. No momento, as mesquitas estavam lotadas com mais de 300 pessoas: homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência. O mundo mais uma vez presencia um dia sangrento, lágrimas até de sangue. Infelizmente, é isso que nós estamos vendo no cenário internacional. O Brasil foi o exemplo; depois outros países também e agora a Nova Zelândia.

     O massacre, como eu disse, foi transmitido ao vivo pelas redes sociais. Um dos assassinos tinha uma câmera instalada no capacete e fazia questão de que o mundo visse, porque ele publicou – perseguiram esse, não encontraram, estão atrás dele –, para que o mundo visse que ele estava matando pessoas.

    Como aqui foi dito, isso é um incentivo para que outros façam a mesma coisa em outros países.

    E aí todos nós, independente da posição política de cada um, temos que nos sentarmos, conversarmos para ver como é que a gente diminui essa política de ódio.

    A Primeira-Ministra, e eu vi a fala dela na televisão esta madrugada, da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, definiu o ataque como um ato de violência sem precedentes na história. E que "esse é um", entre aspas, é dela, diz ela: "um dos dias mais sombrios, mais tristes da história" daquele país. Abre aspas, outra fala dela, diz a Primeira-Ministra: "Como isso pode ter acontecido? Não fomos atacados por sermos um porto seguro para aqueles que odeiam", o ódio que permeia este Planeta. "Não fomos escolhidos para esse ato de violência por tolerarmos o racismo, por sermos um paraíso para o extremismo." Não. Diz ela: "Fomos escolhidos porque não somos nada disso, porque representamos a diversidade, a bondade, a compaixão", a solidariedade, a fraternidade, "um lar para aqueles que compartilham nossos valores, um refúgio para os que necessitam" – fecha aspas.

     Jacinda também faz um apelo, como nós temos feito aqui toda semana, eu acho que nós todos aqui temos feito, Jacinda fez um apelo para que as pessoas que tiverem acesso não compartilhem mais, em suas redes, imagens de ódio, de atentados, de violência. "Olhem para os seus filhos." O Facebook anunciou que removeu as cenas postadas em uma plataforma e também no Instagram.

    Sr. Presidente, eu já havia falado aqui, na quarta-feira, da importância que nós temos que dar para combater o discurso do ódio, da violência, do racismo, da discriminação, o ódio contra aqueles que pensam diferente. Onde nós estamos? É proibido pensar diferente? Aí vêm as redes sociais e detonam aqueles que pensam diferente. Meu Deus do céu! Na democracia é legítimo pensar diferente. Inclusive nós aqui, com certeza, nos temas mais diversos, não votaremos sempre juntos. Nem por isso vamos virar inimigos. Respeitando o direito do outro, porque o direito do outro termina quando eu entendo que o meu choca com o dele, e cada um tem direito de dar a sua opinião.

    Sr. Presidente, eu queria muito que as redes sociais que estão me ouvindo neste momento, você que está na sua casa e deve ter filhos, deve ter esposa, deve ter família: quem trabalha com fake news, quem promove o ódio, não importa aqui a questão ideológica, está contribuindo para isso acontecer. Não vou dizer que é só agora não, ninguém está dizendo isso, capitão, ninguém está dizendo isso! Isso vem inclusive de outros países. Por que não lembrar o que aconteceu na Primavera Árabe? Por que não lembrar o que aconteceu e vem acontecendo na humanidade e que termina nisso?

    Eu lancei, pelas minhas redes sociais, uma campanha chamada Paz. Somente paz – Senador Irajá, que chegou agora – nas redes sociais. Levem essa ideia adiante. Só paz! É isso! E confesso, porque não pensei, em pedir uma bandeira branca, pois não tenho em meu gabinete, e disseram que não tinham, mas havia um pequeno paninho branco que me mandaram e eu mostro aqui. Permitam-me que eu diga sobre esse pano branco, se eu puder... Na minha campanha eu usei, as minhas bandeiras eram muito brancas – bandeiras brancas. Trago de novo aqui a bandeira branca.

    Senhores, o mundo precisa de tolerância, as pessoas precisam compreender que aceitar as diferenças é virtude de quem aceita, não é defeito. Agora eu vou discordar de alguém porque é negro ou porque é branco, porque é migrante ou imigrante? Ou é do Sul, ou é do Norte, ou é do Centro-Oeste? Ou está chegando em nosso País? Aí é espancamento, é violência.

    Enfim, a intolerância é irmã do radicalismo, fonte de discórdia e de desamor. Eu repito o que eu disse ontem aqui: quem planta o ódio está chamando para si a morte, que é a energia negativa. O ódio é uma energia negativa, o universo conspira e você está chamando para si a morte. Quem semeia o bem, quem fala do amor, da solidariedade, da fraternidade, receberá a energia da vida, a energia do universo. Não tem como, quem lê a história da humanidade vai ver.

    Quando alguns falam de inferno, sabe o que eu digo? O inferno e o céu são aqui. Se você for do mal, se você pregar o ódio para que coisas como essa aconteçam, volta para você aqui – volta para você aqui! Mas se você é do bem, Senadores e Senadoras, com certeza o bem virá abraçar vocês.

    A solidariedade, no latim, significa união, estar unidos por um ideal. É isso que nós precisamos, que o Brasil precisa, que o mundo precisa, é um ideal de paz e de amor. Nós temos que encontrar essa dimensão e andar por esse caminho, esse plano de unidade, a paz consigo mesmo, essa energia é que vai nos conectar com o próprio universo. Isso é que vai nos conectar com o próprio universo. Se nós conseguirmos nos reconhecer, fazermos essa comunicação com o nosso eu, viver uma unidade de consciência, nós vamos entrar no espaço da vida e aí, sim, da alma eterna.

    Presidente, eu queria deixar registrado nos Anais da Casa... Eu não pude estar aqui ontem com um grande Senador desta Casa, Senador Anastasia, do PSDB. O Senador Anastasia veio me convidar para participar com ele aqui de uma sessão de homenagem aos imigrantes italianos. Como eu não pude, foi uma correria aqui no cafezinho, eu queria registrar o meu pronunciamento aqui.

    Quero inclusive demonstrar, porque eu vejo aqui muito Senador de forma muito carinhosa que diz da tribuna: "O Paim defende quilombola, defende índio, defende os negros, defende o deficiente, defende os idosos". E normalmente não falam dos brancos. Quando estou lá embaixo, fico meio assim, meio constrangido. Eu defendo os negros, defendo os brancos, defendo os índios, como todos os senhores defendem, como defendem os produtores da área rural, os produtores que são empreendedores, que são empresários, como defendem os trabalhadores, é claro! Porque nós somos um todo. Quem será cada um de nós se nós não tivermos essa visão universal e maior, respeitando inclusive os partidos?

    Por isso eu quero fazer aqui a minha homenagem hoje, nessa linha do Senador Anastasia, aos imigrantes italianos, que são a maioria no meu Rio Grande. E olha que estou aqui desde a Constituinte. Com este mandato, eu vou para 40 anos. Sempre fiquei entre os mais votados, então, quero, neste momento, fazer este reconhecimento. Eu não estaria aqui se não fossem eles também, se não fossem os italianos, os alemães, os polacos, os africanos, enfim, todos os segmentos de todas as etnias, de todas as religiões e a própria divergência no campo ideológico.

    Agradeço muito à comunidade italiana por tudo o que eu aprendi com a cultura e as tradições deste povo ao longo da minha vida.

    Saudemos todos o Dia Nacional do Imigrante Italiano, celebrado anualmente no dia 21 de fevereiro.

    Meu carinho a todos os descendentes que hoje estão esparramados por todo o Brasil, em todos os Estados da Federação, construindo sonhos, levantando mãos aos céus, erguendo pontes de sabedoria e trabalho com a essência das raízes dessa comunidade italiana que veio do além-mar. O Brasil é o maior País com raízes italianas em todo o mundo: são 25 milhões. Repito: são 25 milhões de descendentes.

    O meu São Pedro, do Rio Grande do Sul, construiu sua geografia e pintou suas paisagens com a colonização italiana, pujante, cheia de fibra, que, em léguas de distância, se transformou em nova vida.

    Foi naquelas terras do Sul, no Pampa, encantada por liberdade, que Giuseppe Garibaldi e Anita fizeram história. Mas isso bem no comecinho. E depois de anos, aí sim vieram em grandes grupos colonos, imigrantes, homens, mulheres, crianças, jovens, e abriram caminhos, serras e montanhas, se estabeleceram nos vales dos rios Caí e das Antas; foram além e avançaram para os campos de cima da serra e ao sul, com as colônias alemãs, às quais eu rendo também as minhas homenagens.

    Lá no meu Rio Grande, porque nasci em Caxias, cidade italiana, principalmente, embora abrace todos os segmentos, os nonnos e nonnas, como se diz, desbravaram com facão e enxada as terras adquiridas.

    Sr. Presidente, os italianos introduziram novas variedades de uvas, começaram o que eu chamo de uma verdadeira revolução na produção do vinho gaúcho. A partir dos anos de 1900, começaram a ser formadas as cooperativas vinícolas. A produção cresceu, melhorou o nosso Estado, que passou a ser o principal produtor do País da bebida de Baco e Dionísio. O desenvolvimento veio a galope nessa região de italianos e alemães e, com o tempo, foi-se caldeando com as outras etnias. Repito: negros, brancos, polacos, que vieram de outros Estados também e que na região foram abraçados.

    Atualmente, a indústria, o setor de serviços e a agropecuária são fundamentais para o PIB gaúcho. E o que dizer do folclore, dos poetas, dos cantores, das festas, da Festa da Uva, na minha cidade, dos pratos típicos, do turismo inigualável, de toda a gente que, com sua hospitalidade, nos brinda sempre em coroamento de um novo tempo.

    Boa gente italiana, grazie, fratello, ítalo-brasileiros.

    Eu fiz o pronunciamento, Sr. Presidente, porque ontem fiquei devendo, porque não consegui vir. Mais uma vez, eu cumprimento a iniciativa do Senador Antonio Anastasia.

    Por fim, Sr. Presidente, aproveitando os últimos quatro minutos – quero ficar exatamente no meu tempo –, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil abriu oficialmente na semana passada, aqui em Brasília, a Campanha da Fraternidade, com o tema Fraternidade e Políticas Públicas e com o lema Serás libertado pelo direito e pela Justiça. O horizonte é chamar a atenção para os temas das políticas públicas, ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que estão na nossa querida Constituição cidadã de 1988. E eu estava lá, eu fui constituinte.

    A CNBB pretende valorizar e afirmar a nossa Constituição, estimular a participação das pessoas em políticas públicas, à luz da palavra de Deus e da doutrina social, para fortalecer a cidadania, o bem comum, a fraternidade, o amor ao próximo e a política de fazer o bem sem olhar a quem, ou seja, combater o ódio. O texto básico, Sr. Presidente, da campanha é o seguinte: o ciclo e as etapas de uma política pública e faz a distinção entre as políticas de governo e as políticas de Estado e fortalece principalmente a participação social.

    Abro aspas, palavra aqui do texto: "Políticas públicas são as ações discutidas, aprovadas [para que todo o povo possa viver] que todos os cidadãos possam viver com dignidade". São soluções específicas para necessidades e problemas da sociedade, principalmente na área da educação, da saúde, da seguridade social, da assistência, o direito à moradia, à terra, a plantar, a produzir.

    A CNBB olha para todos. Olha para os negros, olha para os brancos, olha para os índios. Olha, se quisermos detalhar melhor, para o quilombola. Olha para a diversidade da nossa gente e de todo o nosso povo. Sr. Presidente, para isso, para abraçar todo o nosso povo, devem ser utilizados princípios, critérios e procedimentos principalmente de amor ao próximo e respeito à Constituição.

    A CNBB pretende ajudar as pessoas de boa vontade a vivenciarem a política de fraternidade, de solidariedade e, repito, de amor ao próximo. Sr. Presidente, fraternidade é o laço que abraça e que une pelo respeito na dignidade, é a união sincera, é a boa relação entre todos os seres humanos.

    Creio que a liberdade, a democracia, a fraternidade e a humanidade, em conjunto, levam à tão sonhada cidadania, como defende a CNBB. Cidadania, no meu entender, é a esperança, é o esperançar, é o conhecimento, é compartilhar, é a cumplicidade, é a amizade, é o respeito às diferenças, é fraternidade, é cantar os direitos humanos, é garantir os direitos sociais e trabalhistas, é garantir uma previdência digna. Cidadania é luz, é vida.

    Termino neste minuto, Sr. Presidente.

    Todos os brasileiros e brasileiras, homens e mulheres, crianças, jovens, idosos, trabalhadores do campo e da cidade – não importa se é branco, se é índio, se é cigano – têm direito à cidadania e a uma vida digna. Vida digna é a condição mínima para a felicidade.

    Termino dizendo: com a democracia, tudo; com respeito à Constituição, tudo; sem a nossa Constituição e sem a democracia, nada! Vida longa à humanidade! Não à violência! Não ao ódio! Vida longa a esta palavra pequeninha chamada amor – ela, sim. é eterna!

    Um abraço.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2019 - Página 26