Discurso durante a 40ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com as mudanças climáticas no Brasil e no mundo e menção ao Relatório da Agência de Meteorologia da Organização das Nações Unidas (ONU), mostrando que as mudanças climáticas estão cada vez mais extremas.

Críticas ao uso indiscriminado de agrotóxicos e seu impacto no meio ambiente.

Alerta para a situação crítica de diversas barragens no País.

Preocupação com movimentos migratórios, a segurança alimentar e com a vida de populações afetadas pelas alterações negativas no clima.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Preocupação com as mudanças climáticas no Brasil e no mundo e menção ao Relatório da Agência de Meteorologia da Organização das Nações Unidas (ONU), mostrando que as mudanças climáticas estão cada vez mais extremas.
MEIO AMBIENTE:
  • Críticas ao uso indiscriminado de agrotóxicos e seu impacto no meio ambiente.
MEIO AMBIENTE:
  • Alerta para a situação crítica de diversas barragens no País.
MEIO AMBIENTE:
  • Preocupação com movimentos migratórios, a segurança alimentar e com a vida de populações afetadas pelas alterações negativas no clima.
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2019 - Página 7
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • PREOCUPAÇÃO, MUDANÇA CLIMATICA, BRASIL, MUNDO, REGISTRO, RELATORIO, METEOROLOGIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), COMENTARIO, CICLONE, PAIS ESTRANGEIRO, CONTINENTE, AFRICA, CRITICA, FALTA, COMPROMETIMENTO, GOVERNO, SOCIEDADE CIVIL, BUSCA, SOLUÇÃO.
  • CRITICA, UTILIZAÇÃO, AGROTOXICO, EFEITO, MEIO AMBIENTE, COMENTARIO, MORTE, ENVENENAMENTO, SUBSTANCIA.
  • REGISTRO, SITUAÇÃO, BARRAGEM, ENFASE, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), MACHADINHO D'OESTE (RO), ESTADO DE RONDONIA (RO), PREJUIZO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, SERVIÇO PUBLICO.
  • PREOCUPAÇÃO, MIGRAÇÃO, SEGURANÇA, NATUREZA ALIMENTAR, VIDA, POPULAÇÃO, DESNUTRIÇÃO, EFEITO, CLIMA, COMENTARIO, DADOS, ORGANISMO INTERNACIONAL, DESLOCAMENTO, DESASTRE, METEOROLOGIA.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Lasier Martins, Presidente da sessão do Senado, Senador Kajuru, eu tenho falado quase todos os dias sobre previdência. Vou continuar falando, mas hoje, Sr. Presidente, vou falar sobre as mudanças climáticas no Brasil e no mundo, o que me preocupa muito, muito. E, como as redes sociais também nos ajudam naturalmente a pautar nossa atividade aqui na Casa, foi com contribuições que recebi, muitas contribuições, que elaborei este pronunciamento.

    Senhoras e senhores, Gaia é a mãe terra, é o elemento que gerou toda essa imensa força que faz do vazio a luz. Ela criou o céu, os ares, os rios, os mares, as florestas, as folhas, a chuva, os frutos, as montanhas, os desertos, o frio, o quente, a vida em nosso Planeta.

    Gaia, a mãe terra, também criou as dores da natureza: a árvore que chora quando é estendida ao chão, as lágrimas que escorrem das águas quando não matam mais a sede, o sangue das ruínas vivas do verde.

    Há décadas, Gaia dá sinais para a humanidade: parem com a insensatez, com o descaso, com a infâmia, com o desprezo, com a ignorância, com a ganância e com o ódio a toda a natureza. Respeitem a vida, a sagrada energia que o universo e o cosmos nos concederam.

    O mundo, Sr. Presidente, discorre em dilemas, em impasses: o que fazer quando a natureza se revolta contra os erros da humanidade? Quando não há equilíbrio entre o verbo e a magia da evolução, do progresso social?

    Relatório da Agência de Meteorologia da ONU alerta que mudanças do clima, que hoje estão cada vez mais extremas, estão atingindo todo o planeta Terra. Em 2018, 62 milhões de pessoas foram afetadas pelo ataque à natureza, ao ecossistema. Todos os dias há um novo exemplo de devastação ligada ao clima.

    Os pobres e os vulneráveis são os primeiros a serem atingidos, a sofrerem com tempestades, ciclones, tufões, secas, terremotos, maremotos, incêndios florestais. Nenhum país está imune. A alimentação e a economia também são atingidas. Os sinais físicos e os impactos socioeconômicos deixados pela mudança climática são cada vez maiores devido às concentrações de gases do efeito estufa sem precedentes, que provocam o aumento das temperaturas mundiais em níveis muito perigosos.

    O professor em economia sustentável, Paulo Ekins, lembra o ciclone que ocorreu em Moçambique, Zimbábue, Malaui – aqui no Brasil também – com quase 800 mortos. A ONU calcula mais de 1,5 milhão de atingidos. Há muitos casos de cólera. Os ciclones, segundo Paulo Ekins, serão comuns se os governos e as comunidades internacionais não diminuírem em pelo 45% as emissões de gases poluentes até 2030, logo ali. Abro aspas: "Infelizmente, a humanidade parece estar em sono profundo. Parece que não vai acordar tão cedo. É óbvio que o ciclone na África foi mais extremo devido às mudanças climáticas".

    Em 2018, foram 35 milhões de pessoas afetadas por enchentes em todo o mundo, 821 milhões de pessoas desnutridas devido à seca, 2 milhões deslocados devido a desastres naturais e 1,6 mil mortos por onda de calor e queimadas. Nós não podemos ignorar esses alertas da Mãe Terra, Gaia. Temos que ter consciência, disposição e engajamento para virar esse jogo. O Brasil, no caso, deveria, no meu entendimento, estar na linha de frente de uma grande concertação, buscando acordos em defesa da natureza.

    Senhoras e senhores, o relatório da ONU destaca ainda a elevação recorde do nível do mar, assim como das temperaturas terrestres e oceânicas, que ficaram altas nos últimos quatro anos. Essa tendência do aquecimento começou no início do século e vai continuar se nada for feito.

    "A climatologia alcançou um grau de robustez sem precedentes e proporcionou provas confiáveis do aumento da temperatura mundial e de circunstâncias relacionadas, como o aumento acelerado do nível do mar, a redução dos gelos marítimos, o retrocesso das geleiras e fenômenos extremos, tais como as ondas de calor" – palavras do Secretário Geral da ONU.

    Observem bem, esses indicadores da mudança climática estão se tornando vez mais extremados. Os níveis de dióxido de carbono, que eram 357ppm, em 1994, quando o relatório foi publicado pela primeira vez, seguem aumentando, tendo alcançado 405ppm, em 2014. É mais um alerta. As concentrações de gases causadoras do efeito estufa estão aumentando muito, muito, a cada ano.

    E o que nós estamos fazendo? O que os governos estão realizando? O que os senhores do poder mundial pensam e o que o mercado pensa? O tão famoso mercado, as bolsas, o dólar... Não estão fazendo nada, só estão preocupados com o lucro do mercado. É como se o lucro do mercado virasse emprego. Só estou dando um exemplo, porque venho falar um outro dia ainda.

    Sr. Presidente, é óbvio, é claro, é nítido, que esse deslocamento do clima tem impactos na saúde e no bem-estar das pessoas, nas migrações, na segurança alimentar, no meio ambiente, no ecossistema oceânico e terrestre. As temperaturas diárias de inverno, na Europa, bateram recordes de calor, enquanto se observou um frio incomum na América do Norte e ondas de um calor abrasador na Austrália, por exemplo. A superfície de gelo do Ártico e da Antártida voltou a ficar muito abaixo da média. Na índia, foram registradas as piores inundações em quase um século.

    O próprio Brasil tem tido desencontros: tempestades matam no Rio de Janeiro, em São Paulo; e, no Rio Grande do Sul, ondas de calor chegam a 42,44 graus. Um outro dado assustador: 500 milhões... Fui conferir com a minha assessoria: "Mas são 500 milhões?". Disseram-me: "Sim, Senador." Meio bilhão, quinhentos milhões de abelhas – e abelhas são símbolo de vida – morreram nos últimos quatro meses. No mundo, no Planeta, num continente? Não, somente aqui no Brasil. Devido a quê? Aos agrotóxicos. Elas são fundamentais para o Planeta e para o equilíbrio do ecossistema, já que na busca do pólen, sua refeição, esses insetos polinizam plantações de frutas, legumes e grãos. Essa polinização é indispensável, pois através dela cerca de 80% das plantas se reproduzem.

    Intoxicação por agrotóxicos pode levar à cegueira e até à morte. De 2007 a 2017, quase 40 mil casos de intoxicação aguda por agrotóxicos foram notificados no Brasil – quase 2 mil pessoas morreram.

    Quando uma barragem explode, como as de Mariana e Brumadinho, antes, houve o dedo... De quem? Dos homens. Imaginem o corpo humano sendo injetado com substâncias tóxicas. Chegará ao um ponto em que vai explodir. A natureza e a Terra também são assim. É a vida que estão explodindo.

    Quatro barragens, neste momento, estão em alerta no Estado de Minas. No final de semana, duas barragens romperam no Distrito de Machadinho d'Oeste, em Rondônia. Os moradores dessas regiões estão em pânico, em desespero. Escolas não funcionam, serviços públicos estão prejudicados. Calculem o que está acontecendo com outras barragens, principalmente em Minas, onde os jornais, a TV e as rádios dizem: "Fiquem em estado de alerta. A qualquer momento a sirene vai tocar, porque uma outra barragem poderá estar se rompendo". Calculem o estado de pânico em que vivem essas pessoas.

    Falam que há algumas barragens nesse estado, e eles pensam: "Se quatro barragens romperem, a gente corre por aqui". Mas foram ver que, se mais barragens romperem, é bloqueada a saída deles. E eles estão fadados a quê? À morte?

    Enfim, isso tem muito da mão do homem. O desmatamento é algo assustador em nosso País. Em todo o Brasil, podemos dizer que perdemos 399 mil quilômetros quadrados de superfície arborizada nos últimos 34 anos, o que representa mais do que a perda da Rússia, do Canadá, do Paraguai e da Argentina juntos – juntos!

    Sr. Presidente, Senador Lasier, nós não nos damos conta da segurança alimentar, além das vidas, naturalmente. Os ganhos que tivemos nas últimas décadas contra a desnutrição estão a perigo. Estima-se que o número de pessoas subalimentadas tenha chegado a 821 milhões em 2017, devido, em parte, às graves secas associadas ao intenso episódio do El Niño de 2015 a 2016.

    Também chamo a atenção que, dos 11,7 milhões de deslocados internos registrados pela Organização Internacional para as Migrações em setembro de 2018, havia mais de 2 milhões de pessoas em situação de deslocamento por conta – do quê? – de desastres relacionados à fenômenos meteorológicos e climáticos. Esses fenômenos é que causam esses deslocamentos. Essas pessoas precisam de proteção.

    Segundo a Rede de Vigilância e Proteção dos Repatriados do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, entre janeiro e dezembro de 2018, foram registrados cerca de 880 mil novos deslocamentos internos. Desses, 32% foram atribuídos às inundações e 29% às secas. Vejam a contradição: 32% por inundações, 29% por secas. Somando os dois, com certeza, dá mais de 60%.

    Ainda conforme o relatório da ONU, estima-se que, entre 2000 e 2016, o número de pessoas expostas à onda de calor tenha aumentado para aproximadamente 125 milhões, dado que as ondas de calor eram, em média, 0,37 dias mais longas que no período de 1986 a 2008.

    Sr. Presidente, há muitas outras questões que precisam ser abordadas sobre a cena da situação do clima mundial e do crime cometido contra o meio ambiente. Temos que sempre reiterar essa questão. Como eu sempre digo, o Brasil não pode se furtar a fazer o bom debate sobre todo o ecossistema.

    Afinal, senhores e senhoras, o que é o Brasil? Somos natureza, somos o Pampa, somos o Cerrado, somos a Caatinga, a Mata Atlântica, a Amazônia, a Mata Araucária, o Pantanal, o litoral, com 7.367 quilômetros. Nossas terras são as mais agriculturáveis do mundo, são milhões de hectares.

    Aqui temos muita água – sim, muita água –, que tem que ser cuidada. Temos muita floresta. Como eu sempre digo, temos que olhar para as florestas, para as águas, para os rios, para os mananciais, para as fontes, para os oceanos, para os mares, mas temos que olhar também para a vida, seja dos animais, seja dos peixes, seja dos homens e das mulheres. Sejam índios, sejam negros, sejam brancos, sejam caboclos, essa tem que ser a nossa responsabilidade.

    Somos o que a gente chama o morro das comunidades, na maioria favelas, somos as vilas ribeirinhas, somos as cabanas do Timbó, o sol queimando no asfalto, somos uma aquarela. Somos, sim, 220 milhões de brasileiros. Temos que cuidar do todo, acarinhar toda a nossa gente, acariciar a natureza – esse é o nosso tesouro.

    Sr. Presidente, termino, dizendo que é com muito amor, com muito carinho a toda a natureza, a todos os seres vivos... Parece-me que a política do ódio avança sobre as águas, sobre as florestas, sobre os animais, sobre os homens e sobre as mulheres. Eu queria aqui fazer um apelo para a gente: mais do que nunca, vamos olhar a natureza com amor. E, repito, vamos olhar todo o ecossistema com o amor e com o carinho que ele merece. Estamos falando de vida, das nossas vidas, do presente e do futuro.

    Muito obrigado, Presidente.

    Fiquei nos 20 minutos, mas fiz na íntegra o meu pronunciamento.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2019 - Página 7