Discurso durante a 48ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Alerta para o perigo das fake news. Comentário acerca de notícia falsa divulgada nas redes sociais sobre voto de S. Exª quanto à criação da CPI da Toga.

Homenagem à poetisa Cora Coralina, falecida em 10 de abril de 1985.

Comentários sobre a 6ª Reunião da CPI de Brumadinho.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA:
  • Alerta para o perigo das fake news. Comentário acerca de notícia falsa divulgada nas redes sociais sobre voto de S. Exª quanto à criação da CPI da Toga.
HOMENAGEM:
  • Homenagem à poetisa Cora Coralina, falecida em 10 de abril de 1985.
CALAMIDADE:
  • Comentários sobre a 6ª Reunião da CPI de Brumadinho.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2019 - Página 8
Assuntos
Outros > IMPRENSA
Outros > HOMENAGEM
Outros > CALAMIDADE
Indexação
  • CRITICA, NOTICIA FALSA, DIVULGAÇÃO, MIDIA SOCIAL, CONTEUDO, VOTO CONTRARIO, AUTOR, ORADOR, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), LAVA-TOGA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, CORA CORALINA, MULHER, POETA, ESCRITOR, NASCIMENTO, CIDADE, GOIAS (GO).
  • COMENTARIO, ASSUNTO, REUNIÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BRUMADINHO (MG).

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – O Senador Eduardo saiu?

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Gomes. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - TO. Fora do microfone.) – O outro Eduardo.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Mas o Presidente da sessão, Eduardo Gomes, nosso amigo querido do Tocantins, aqui está.

    Senador Paulo Rocha, V. Sa. estava ontem na reunião da CCJ sobre a decisão da CPI da Toga? Não?

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA. Fora do microfone.) – Não.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Mas V. Sa. tomou conhecimento do meu voto favorável à CPI? Tomou? (Pausa.)

    Presidente, tomou conhecimento? (Pausa.)

    Porque o seu companheiro e nosso amigo, claro, Senador Paulo Paim, fala muito aqui que esta Casa precisa tomar providências sobre fake news, porque isso é crime. Fake news para mim é coisa de crime, é igual a um mau jornalista que é injusto com um colega aqui, é injusto com a autoridade de um País...

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA. Fora do microfone.) – Fake news é a famosa mentira eletrônica.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Isso. Parabéns, Paulo Rocha! Fake news é a famosa mentira eletrônica, muito bem definida.

    Mas aí é o seguinte: existe a morte social, ou seja o mau jornalista pode provocar a morte social para quem tem esposa, para quem tem filhos, para quem tem família...

    Então, eu acho que este País precisa começar a pensar em condenações a esse tipo de gente, ou de gentalha. Estão espalhando fake news no Brasil, dando conta de que eu, o Jorge Kajuru, seu empregado público, Pátria amada, meus únicos patrões, que eu votei contra... (Risos.)

     ... a CPI da Toga. É brincadeira, não é? Eu fui o primeiro assinar as duas vezes. Eu ajudei o Alessandro a reunir e a colher assinaturas. Ele de um lado do Plenário e eu de outro. O Brasil inteiro sabe, as minhas redes sociais transmitiram ontem ao vivo toda a reunião do começo ao fim, com audiência recorde, aliás, com mais de 300 mil comentários, com simultaneamente 263 mil pessoas vendo, com mais de 30 milhões de visualizações, e aí fake news...

    Então eu gostaria de saber de onde é esse fake news e queria convidá-lo, canalha fake news: vai cuidar de sua esposa rapaz. Vai cuidar da sua família.

    Então tem toda razão, Senador Paulo Paim. Esta Casa precisa tomar providência para que haja crime contra essas mentiras eletrônicas, como bem definiu o Senador Paulo Rocha.

    Quero rir um pouquinho aqui, porque vem aí Semana Santa. Antes do assunto, até porque eu vou falar de alguém aqui para homenagear o Estado de Goiás, porque trata-se de uma referência do Estado, eu vou rir aqui um pouco com os senhores, permitam-me, e com o Brasil, brasileiros e brasileiras, V. Exas. Uma senhora lá no gabinete hoje cedo, bem cedinho, 7h15 da manhã, perguntou a um assessor meu, perguntou assim: "Murilo, a Sexta-feira da Paixão vai cair na sexta-feira?" (Risos.)

    Aí ele respondeu: "Não, não, não! A sexta-feira, no ano passado, eu me lembro que eu estava aqui. Caiu na sexta. Agora a Sexta-feira da Paixão este ano vai cair no sábado. E atenção, o Domingo de Páscoa deste ano vai cair na segunda-feira!" (Risos.)

     Só para gente rir, porque eu tenho orgulho de evocar neste momento a figura de Cora Coralina, como Senador eleito pelo Estado de Goiás, e como o único Parlamentar do Estado, aqui do Congresso Nacional, a fazer esta homenagem a ela, em função do dia de ontem, 10 de abril de 2019, e não houve o tempo, porque a prioridade ontem era a CPI da Toga e o assunto tomou conta do Plenário, além de votações importantíssimas aqui ontem.

    Eu não poderia evocar outra representante das lutas e da fibra da mulher goiana que não Cora Coralina, chamada por alguns de Cora Coralina de Goiás. Cora Coralina é para mim uma das pessoas mais importantes do Estado. O Senador Eduardo Gomes, com certeza tem esse mesmo sentimento por ela em função de ser do Estado do Tocantins. Goiás, Tocantins, o mesmo coração.

    Cora Coralina é para mim, então, essa referência tão importante quanto Governadores, Parlamentares, homens influentes do nosso Estado de Goiás. Entretanto, era ela uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção identificada com a vida como ela é, por exemplo, uma estrada. Alguém disse que na estrada que é Cora Coralina, passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis, miseráveis de hoje. Na simplicidade dos seus versos, Cora Coralina abrange a realidade da vida.

    Nascida na cidade de Goiás em 20 de agosto de 1889, na casa que hoje é um museu, que ostenta seu nome Anna Lins dos Guimarães Peixoto. Falecida em 10 de abril de 1985, ontem completados 37 anos de sua ida para os braços de Deus.

    Cora publicou o seu primeiro livro, Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, em 1965, aos 75 anos de idade. Somente aí, então, foi reconhecida nacionalmente como a grande porta-voz da realidade interiorana já afetada pela modernidade. Num de seus poemas mais lindos, Cora Coralina expressa essa verdade em Assim eu vejo a vida:

A vida tem duas faces:

Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.

    Sem dúvida alguma, um dos pontos altos na curta e fecunda obra de Cora Coralina, também tem um poema para relembrarmos: Todas as vidas.

Vive dentro de mim

uma cabocla velha

de mau-olhado,

acocorada ao pé do borralho,

olhando pra o fogo.

Benze quebranto.

Bota feitiço...

Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro.

Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim

a lavadeira do Rio Vermelho,

Seu cheiro gostoso

d’água e sabão.

Rodilha de pano.

Trouxa de roupa,

pedra de anil.

Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim

a mulher cozinheira.

Pimenta e cebola.

Quitute bem feito.

Panela de barro.

Taipa de lenha.

Cozinha antiga

toda pretinha.

Bem cacheada de picumã.

Pedra pontuda.

Cumbuco de coco.

Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim

a mulher do povo.

Bem proletária.

Bem linguaruda,

desabusada,

sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada.

Vive dentro de mim

a mulher roceira.

Enxerto de terra,

meio casmurra.

Trabalhadeira.

Madrugadeira.

Analfabeta.

De pé no chão.

Bem parideira.

Bem criadeira.

Seus doze filhos,

seus vinte netos.

Vive dentro de mim

a mulher da vida.

Minha irmãzinha…

tão desprezada,

tão murmurada…

fingindo ser alegre

seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:

na minha vida –

a vida mera das obscuras!

     

    O poema acima fala por si só. Em Todas as Vidas, Cora celebra a própria vida, colocando-se junto aos humildes, a quem exalta. Fala tanto, que transcrevo aqui abaixo, para finalizar, uma carta especial de Carlos Drummond de Andrade recebida por ela, Cora Coralina, no dia 14 de julho de 1979, da cidade do Rio de Janeiro. Dizia a carta de Drummond:

Cora Coralina.

Não tendo o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, (...) seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe, bem no coração do Brasil, [que é o nosso Estado de Goiás, nosso Estado do Tocantins, Presidente Eduardo Gomes, existe no coração do Brasil] um ser chamado Cora Coralina.

Todo o carinho, toda a admiração do seu

Carlos Drummond de Andrade.

     Anna Lins dos Guimarães Peixoto é o símbolo de muitas anninhas por este Brasil afora, símbolo da humildade, símbolo da superação. Essa é minha simples homenagem a ela, e lamento que todos os demais Parlamentares do Estado de Goiás se esqueceram de ontem, 37 anos de sua ida para os braços de Deus.

    E relembrando Cora, eu só desejo à minha Pátria amada que este País seja mais justo, bem mais justo, bem mais amoroso, porque é só isso que quer o meu coração.

    Presidente, peço desculpas aos colegas – eu sempre fico para ouvir cada pronunciamento, pois aprendo com eles, e aqui chega um dos meus professores, o Senador gaúcho Lasier Martins – pois estou presidindo a 6ª Reunião da CPI de Brumadinho, que está pegando fogo literalmente. Hoje está lá, para a sua oitiva como convocado, o braço direito da assassina Vale, que, para mim, não vale nada, a milionária, bilionária, trilionária Vale. Lá está o Sr. Gerd, filho de alemães, respondendo a duras perguntas, confessando coisas terríveis sobre o crime ambiental de Brumadinho.

    Ele era o braço direito do ex-Presidente Fábio.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Ele é o segundo homem da empresa Vale.

    Infelizmente, porque quinta-feira os Senadores viajam e trabalham em seus Estados, lá só há dois Senadores presentes. Vejam: uma CPI com tantos membros e só dois estão presentes a uma oitiva tão importante como essa.

    Eu vou para lá e retornarei para esta sessão, pois tenho assunto, além desta homenagem, para falar de forma mais dura em relação a assuntos factuais, E, já que falei em fake news, um abraço à equipe do Governo Bolsonaro, que é especialista, aliás, em fake news.

    Agradecidíssimo. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2019 - Página 8