Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com a atual conjuntura nacional.

Destaque para a notícia de que o governo alemão investirá 160 bilhões de euros em suas universidades e pesquisas, em contraponto aos cortes sofridos no orçamento da educação brasileira.

Considerações sobre a situação da Universidade Federal de Goiás diante de cortes orçamentários. Defesa da importância da transparência na Administração Pública.

Questionamentos ao Presidente do Senado acerca da afirmação de que a Casa aprovará a reforma da previdência.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Indignação com a atual conjuntura nacional.
EDUCAÇÃO:
  • Destaque para a notícia de que o governo alemão investirá 160 bilhões de euros em suas universidades e pesquisas, em contraponto aos cortes sofridos no orçamento da educação brasileira.
EDUCAÇÃO:
  • Considerações sobre a situação da Universidade Federal de Goiás diante de cortes orçamentários. Defesa da importância da transparência na Administração Pública.
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Questionamentos ao Presidente do Senado acerca da afirmação de que a Casa aprovará a reforma da previdência.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2019 - Página 17
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Indexação
  • COMENTARIO, CRITICA, SITUAÇÃO, ATUALIDADE, PAIS, BRASIL.
  • DESTAQUE, ANUNCIO, AUMENTO, INVESTIMENTO, PESQUISA, LOCAL, UNIVERSIDADE, GOVERNO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, ENFASE, COMPARAÇÃO, AUSENCIA, APLICAÇÃO DE RECURSOS, EDUCAÇÃO, BRASIL.
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, UNIVERSIDADE, ESTADO DE GOIAS (GO), ENFASE, CORTE, RECURSOS, DEFESA, IMPORTANCIA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, ORGÃO PUBLICO.
  • QUESTIONAMENTO, PRESIDENTE, SENADO, ASSUNTO, APROVAÇÃO, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências e meus únicos patrões, aqui seu empregado público Jorge Kajuru.

    Sr. Presidente, guerreiro gaúcho Luiz Carlos Heinze, a pátria amada já deve ter percebido que tenho um apreço especial pela literatura brasileira e também internacional. Gosto do cancioneiro, assim como gosto de poesia. Gosto literalmente de arrancar da literatura do cancioneiro, da poesia o que mais tem de essencial. Esse essencial pode nos ajudar a interpretar a realidade de vários ângulos. Hoje peço permissão para compartilhar com os senhores, as senhoras e o Brasil alguns comentários sobre a realidade brasileira que agora estamos vivendo, a partir de Stéphane Hessel. Falecido em 2013, aos 95 anos, Hessel, nascido em Berlim, mas de nacionalidade francesa, foi um dos autores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, além de participante da resistência do nazismo e ao nazismo na França. Sua obra mais conhecida mundial é o livreto Indignai-vos, lançado em 2010. Justificando o título que deu ao seu livro, Hessel disse: "A minha longa vida deu-me uma série de motivos para me indignar".

    Bem, naturalmente não vou aqui fazer uma análise filosófica da obra de Hessel, embora valesse a pena. Entretanto, quero trazer a força de sua frase para pensarmos juntos sobre a realidade que nos cerca mais de perto.

    Pensemos no Brasil a partir de Hessel. Será que nós brasileiros temos motivo para nos indignarmos? Pergunto.

    Evidentemente, em tempos ainda de lembrança do mensalão, nem tão distante assim do petrolão, que invadem, no plural, as nossas consciências a cada vez que ligamos a TV ou o rádio; ou passeamos pelas redes sociais e jornais, tomamos consciência dos níveis de corrupção que impregnam a realidade do nosso País; vivenciamos a nossa crise econômica sem precedentes, com 14 a 20 milhões de desempregados, com a economia praticamente estagnada, com uma classe média se esfacelando, com a perda da qualidade de vida da nossa população; vemos a crise se aproximando de cada lar; vemos a saúde inacessível para a maior parte da população; sabemos que nossos filhos não estão recebendo uma educação de qualidade e que a insegurança nos ronda a cada esquina.

    E mais: enquanto, Pátria amada, tudo isso está acontecendo, vemos algumas das nossas autoridades como que brincando pelas redes sociais, atacando umas às outras. Dos Estados Unidos, um chamado "guru" – meu evidentemente não é e jamais será; eu nem o leio, porque meu masoquismo não chega a tanto – ataca as autoridades aqui estabelecidas, dá as cartas no setor mais crucial da gestão pública, que é a educação.

    Obviamente, com essa relação macabra de lembranças, a resposta à pergunta que fiz é rigorosamente "sim". Temos todos nós razões de sobra para nos indignarmos.

    A primeira abordagem, Presidente Heinze, que quero fazer me enche não somente de indignação, mas também de vergonha, gaúcho Luis Carlos Heinze

    As mesmas mídias e redes sociais que anunciam um corte linear no orçamento da educação brasileira de forma indiscriminada trazem a seguinte manchete – prestem atenção, brasileiros e brasileiras: a Alemanha anuncia 160 bilhões de euros para universidades e pesquisa. O valor significa um aumento médio anual de dois bilhões de euros nos investimentos em ensino superior e nos centros de pesquisas durante o período de 2021 a 2030. A Ministra da Educação da Alemanha, Anja Karliczek, disse: "Estamos garantindo a prosperidade de nosso país".

    De envergonhado, passei a indignado de novo, quando a Ministra disse, a alemã, que estava encerrando meses de debates entre o governo federal e os estados para definir o plano de investimentos no ensino superior da próxima década. Lá passaram meses discutindo e planejando para tomar uma decisão. Aqui, um ministro que não é da área da educação e tampouco tem educação, acaba de sentar-se na cadeira de ministro da mais importante pasta do Governo e decide, sem ouvir os secretários estaduais de educação, os reitores, os secretários municipais de educação, o Conselho Nacional de Educação, a comunidade científica nacional, que seria feito, simplesmente palavra dele, um corte nos recursos, ao que parece, sem nenhum critério aparente. Digo sem critérios porque não houve tempo de o Sr. Ministro colher dados, analisá-los, discuti-los com quem deveria discutir em tão poucos dias.

    Aqui desta tribuna vislumbro as universidades brasileiras e a educação brasileira como um todo, mas me atenho – permita-me, Presidente – aos números da Universidade Federal de Goiás, o meu Estado, que é uma das 20 maiores do País.

     Em nota, a Universidade Federal de Goiás informa que os 30% de corte no seu orçamento significam R$32 milhões e impactam...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – ... o funcionamento da instituição, comprometendo a continuidade de ações de ensino, pesquisa e extensão.

    A Universidade Federal de Goiás, que teve os seus recursos cortados, formou, em 1981, a médica, pesquisadora e cientista Celina Turchi, que, em 2017, foi considerada, pela Revista Times, uma das cem cientistas mais influentes do mundo, pelo estudo que relacionou o zika vírus com a microcefalia e os índices de mortalidade infantil.

    Concluindo, a Universidade Federal de Goiás, repito, que tem seu orçamento ceifado em R$32 milhões, oferece 75 cursos de mestrado e 44 de doutorado; o Hospital das Clínicas da Universidade realiza, anualmente, mais de 650 mil exames, atendendo a população de Goiânia e as cidades do interior do Estado de Goiás e, até, de outros Estados do Brasil; o Hospital procede, ainda, a 120 mil consultas e 19 mil internações pelo SUS; a UFG realiza, anualmente, mais de 2 mil ações de extensão, beneficiando mais de 500 mil pessoas; o alunado da universidade é de 30 mil alunos em 156 cursos de graduação. Últimas palavras.

    Destaco, também, alguns números da educação nacional: o Brasil tem 95.772 docentes, sendo que 72% possuem doutorado, 20,8% possuem mestrado e 4,25% têm ao menos uma especialização.

    Agora, saibam, senhora, senhor e Pátria amada, que, de cada real investido na educação no Brasil, R$0,18 ficam nas universidades. Isso é 18% para o ensino superior e 82% para a educação básica. E 70,2% dos graduados nas universidades federais vêm de famílias com renda per capita de 1,5 salário mínimo.

    Com tudo o que disse, não estou concluindo que o Estado não deva planejar melhor o uso dos recursos públicos. Pelo contrário, a gestão pública tem o dever de empregar bem e planejadamente os recursos públicos, principalmente na educação. Mas, numa sociedade que se quer democrática, como a nossa, o Poder Público tem o dever de, numa situação como essa, em que se anuncia um corte orçamentário, vir a público e detalhar, centavo por centavo, por que está agindo desta maneira. A transparência deve ser o apanágio da Administração Pública.

    O nosso escritor alemão Hessel disse também que acreditava na política, mostrando-se "convencido de que é preciso acreditar para não nos deixarmos desencorajar".

    Fechando, eu, Jorge Kajuru, seu funcionário público, acredito na força do conjunto da sociedade. Cabe-nos a todos, na nossa indignação, zelar para que a nossa sociedade, nos seus fundamentos básicos, seja reconstruída e se mantenha uma sociedade da qual cada brasileiro se orgulhe. É para isso que fomos eleitos.

    Agradecidíssimo, Pátria amada, Brasil. E fazer o bem faz bem, ou faz bem fazer bem. Se não puder amar o próximo, que, pelo menos, não o prejudique.

    Presidente, na CPI de Brumadinho apenas dois Senadores estão presentes. Eu tenho que voltar.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – São duas oitivas importantíssimas, mas retornarei aqui ao Plenário.

    Mas, rapidamente, o Capitão Styvenson está aqui, pela minha visão, e parece-me...

    Quem mais está aqui?

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – O Humberto está ali, doutor, médico.

    Eu quero lembrar Garrincha. Vocês dois são jovens, duas crianças... Copa do Mundo. Vicente Feola. Lembram-se do treinador? Lembra, gaúcho?

    Numa preleção antes de começar o jogo, o Vicente Feola começou a falar com cada craque. Época de Garrincha, Copa do Mundo. Aí ele foi falando: "Lateral direito, faça isso; zagueiro, isso; volante, isso". Quando ele chegou no Garrincha (era o jogo do Brasil contra a Rússia), ele chegou no Garrincha e disse: "Garrincha, você vá à linha de fundo, faça isso, cruze, drible, tente, faça um lançamento, tenha certeza, alguém vai esperar a bola". Aí o Garrincha respondeu, Presidente: "Professor [para o Feola, Vicente Feola], por favor, o senhor combinou...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – "O senhor combinou isso com os russos?" O Garrincha brigou: "Porque o senhor está dando uma preleção aqui, mas o senhor combinou isso com os russos? Eles vão aceitar a gente fazer isso aqui tudo e ganhar o jogo?".

    Então o que isso significa? Para perguntar respeitosamente ao Presidente deste Senado, que está em Nova York, Davi Alcolumbre. Ele declarou lá hoje, sabe o quê? V.Exas. aqui da galeria, que chegam agora, ele declarou que este Parlamento vai aprovar essa reforma da previdência. A pergunta que eu deixo no ar: comigo ele não combinou. Combinou contigo, Styvenson? Combinou contigo, Humberto? Combinou contigo, Senador gaúcho Heinze? Combinou com os senhores? Ele combinou com quem? Então é igual àquela do Garrincha quando perguntou para o Feola: "Combinou com os russos?". Nós aqui somos russos? Triste.

    Agradecidíssimo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2019 - Página 17