Discurso durante a 133ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear o General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas.

Autor
Marcio Bittar (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Marcio Miguel Bittar
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a homenagear o General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2019 - Página 61
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, HOMENAGEM, GENERAL DE EXERCITO.

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC. Para discursar.) – Boa tarde a todos!

    É uma satisfação imensa, General, estar aqui hoje para incorporar-me à iniciativa do meu querido amigo e colega da Região Amazônica também. Chico Rodrigues, parabéns pela iniciativa! Em nome do nosso Vice-Presidente, Mourão, em nome do meu amigo, Presidente do Senado da República, em nome das mulheres do Brasil, Raquel Dodge, quero cumprimentá-lo.

    Nasci no interior do Estado de São Paulo, General. Meu pai era produtor rural, um pequeno produtor rural da Região de Franca. Com o sonho de muitos brasileiros, de muitos seres humanos do planeta, foi subindo o Brasil, buscando lugares mais longes, mais distantes, mais inóspitos, mas que pudessem dar à sua família, à sua prole – ele e minha tiveram seis filhos –, na ideia dele, um pedaço de terra um pedaço de terra a mais para os seus filhos. Meu pai faleceu cedo.

    Na sua imagem, lembro-me muito do meu pai. Nas palavras do Presidente da República e de V. Sa., lembro-me muito do meu pai. Ele morreu cedo, mas viveu o suficiente para ainda pegar o começo daquilo que fizeram com a Amazônia. Lembro-me da indignação do meu pai, lembro-me da dor que ele sentia ao ver a Amazônia sendo governada de fora para dentro, e quem trabalha, quem produz, quem foi convidado para ocupar a Amazônia, sendo tratado como se bandido fosse. Não viu o auge a que nós assistimos hoje – ele não viu isso. Eu, que o amava muito, queria muito que estivesse aqui, mas sei que ele iria sofrer muito por ver ao que o Brasil assistiu, como eu sofro.

    Quando eu vejo o seu exemplo de dignidade, de perseverança pelo Brasil, sua coragem, General, de tuitar o que V. Sa. tuitou um dia desses, isso me honra! Pensei que, talvez, fosse morrer e que não assistiria a isso. Pensei que iria morrer e que não veria o meu Presidente dizer a um jornalista alemão que não tem 0,3% da vegetação nativa naquele país, que acabou agora de derrubar uma igreja, que tinha um bosquezinho, porque lá embaixo havia gás, que inaugurou recentemente uma Itaipu e meia em termelétrica e ter a arrogância na maneira de se pronunciar com o Presidente do Brasil, questionando-o sobre a Amazônia, sem ter moral nenhuma, sem ter como fazer nenhuma dessas afirmações.

    E eu vejo o seu Twitter – e vou tomar a liberdade de reler: "Nenhum país do mundo tem autoridade para ensinar o Brasil como devemos tratar o nosso meio ambiente". É verdade, eles não sabem o que são sequer as PPs... Não sabem o que é a preservação permanente, quanto mais a reserva legal. Basta ver os filmes, os rios que cortam a Europa. Aqui há previsão de até 500m de um lado e de outro, o que, inclusive, gerou um problema gravíssimo, não resolvido até hoje, em cidades da Amazônia, por exemplo, que podem ser inviabilizadas.

    "A Noruega ainda caça baleias, explora petróleo [eu diria que 51% do seu PIB, do PIB norueguês, é de petróleo e gás] dentro do Círculo Polar Ártico e detém 30% das ações da mineradora Hydro [...]". E desculpem-me complementar, mas essa mineradora conseguiu, nos Governos passados, no Brasil, 7,5 bilhões de isenção. A Noruega quer comprar o Brasil e a Amazônia brasileira por 1,1 bilhão, com uma multinacional que causou danos ambientais ao Pará, tendo isenção no Brasil de 7,5 bilhões, vivendo de petróleo e gás.

    Volto ao seu texto:

... da mineradora Hydro Alunorte que promoveu o derramamento criminoso de metais pesados em Barcarena, no Pará, sem que se saiba ter-lhe sido aplicada nenhuma sanção. A Alemanha tem uma matriz energética mais poluidora do que a nossa. E aos Estados Unidos, que agem motivados pelo lobby do seu agronegócio, que se sentem ameaçados pelo do Brasil, perguntamos: onde estão os seus índios?

O Brasil, por seu lado, está à frente do cumprimento das metas da reunião de Paris. Bem fazem os responsáveis por nossos órgãos ambientalistas e indigenistas por não se submeterem a tais pressões. Saberemos desenvolver o Brasil ao mesmo tempo em que preservaremos o meio ambiente e protegeremos os nossos índios.

    General, ontem, aqui, eu fiz uma observação, semana passada, aqui no Plenário, talvez uma das sessões mais emotivas que eu presenciei. Nós votamos aqui um projeto para proteger os animais e, particularmente, já que nós tiramos um acordo aqui deste Plenário, todos aqueles animais de criação, do agronegócio, ficaram os animais de estimação, que, agora, podem até ter direito à herança – podem até ter direito à herança – porque deixaram de ser coisas.

    Mas o.k., não estou aqui para dizer que... Até porque na última votação votei a favor, com as mudanças que nós fizemos, doutora, mas eu dizia aqui, ainda hoje, que eu não percebo, General, esse mesmo entusiasmo da semana passada, esse mesmo calor para discutirmos aqui e aprovarmos leis preocupados que estávamos com o animal doméstico, com quem devemos nos preocupar, mas eu não vejo essa mesma preocupação com vinte e tantos milhões de brasileiros pobres da Amazônia. Eu não vejo campanha de artistas, de gente famosa para tentar resolver o problema do alcoolismo dos índios da Amazônia, entregues a sua própria sorte.

    Nós, que somos de lá, e o senhor, que conhece mais do que todos nós – não há Senador nenhum aqui que conhece mais a Amazônia do que o Exército Brasileiro –, V. Sa. é um exemplo disso. Quem é que não vê índio no Acre, em Roraima, no Amapá, em Manaus, no Amazonas, revirando lixo? Porque há insegurança alimentar na Amazônia. Muitos deles entregues ao narcotráfico, porque essa foi a realidade deixada.

    Eu vejo, nas universidades, General, um dos estudos dá conta de que quase 40% dos universitários são considerados analfabetos funcionais, e eu não vi ainda uma sessão do Congresso Nacional tão animada, tão entusiasmada para esses assuntos. Nós estamos perdendo mais de 120 mil vidas, nos homicídios, 65 mil pessoas mortas, assassinadas, e mais umas 50 mil no trânsito, e eu não vejo o Senado, o Congresso Nacional, a própria sociedade tão envolvida com um tema desse.

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – São vidas humanas.

    Eu venho dedicado a esse mandato e vou dedicar esses sete anos e meio, se Deus me der vida e saúde, General, a tentar mostrar, a tentar dizer para o Brasil que a Amazônia é brasileira, que, de fato, como o senhor escreveu aqui, nenhum país da Europa ocidental tem a prerrogativa de ensinar para nós aquilo que eles não fizeram.

    E quero terminar, General, dizendo que o que mais me liga ao Governo, Governo que eu apoiei, em que eu votei, que eu ajudei a fazer, do Acre, pequenininho – o Estado que deu a maior votação para esse brasileiro, que remou contra a maré, contra tudo, e venceu as eleições, para que ele fosse o mais votado no Estado, e foi –, é essa discussão sobre o fato de que o Brasil tem que ter vergonha.

    Quero terminar, dizendo: às vezes, General...

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – ... quando eu ouço alguns brasileiros – eu quero crer que são bem-intencionados, talvez, mal-informados –, dizendo que nós vamos sofrer retaliação da Europa ocidental se nós, na Amazônia, não fizermos o que eles querem. Aí é preciso lembrar que eles não interferem na Rússia, que é uma ditadura, sempre foi, que não tem relação nenhuma com direitos humanos, porque eles dependem do gás da Rússia, e a Rússia não permite que eles deem palpites lá, como nós permitimos que eles deem aqui.

    Eles não interferem no Oriente Médio, que trata mulheres, oficialmente, como seres de segunda, terceira categoria. Cadê a campanha deles pelos direitos humanos no Oriente Médio? Mas é de lá que eles tiram o petróleo, é de lá que eles comercializam... Como a China, que tem 1,3 bilhão de pessoas, e nenhum mercado mundial deixa de ter acordo comercial com a China.

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – Por isso, ninguém vai deixar de ter acordo comercial com o Brasil, como ficou provado agora que o Presidente Jair Bolsonaro assinou o acordo do Mercosul com a União Europeia, porque essa é uma relação comercial.

    Portanto, General, eu quero dizer que, ao vê-lo, a memória que ativa em mim, a comoção que eu tenho é de lembrar muito, no senhor, do meu falecido pai. Ele foi o exemplo da minha vida e essa inspiração, o comportamento de V. Sa. também, nos processos mais difíceis por que o Brasil passou nos últimos anos, em momentos decisivos, o seu posicionamento a favor da liberdade, contra qualquer tipo de roubalheira, a favor da lei, da justiça e da democracia, foram fundamentais para o Brasil entrar na rota da normalidade.

    Eu peço desculpa ao Presidente Davi, mas, de fato, a sua presença, a presença desse conjunto de pessoas que aqui estão me motiva a dizer isso. Quero terminar afirmando que o que mais me comove e me liga ao atual Governo é esse sentimento que eu havia pensado que tinha sido perdido no Brasil, de brasilidade, de ser brasileiro em primeiro lugar.

    Parabéns, General.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2019 - Página 61