Discurso durante a 173ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da participação de S. Exª. na 12ª edição do Congresso em Foco, com cumprimentos a todos os jornalistas do Brasil.

Celebração do Dia do Gaúcho, festejado em 20 de setembro.

Considerações pelo Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado no dia 21 de setembro.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Registro da participação de S. Exª. na 12ª edição do Congresso em Foco, com cumprimentos a todos os jornalistas do Brasil.
HOMENAGEM:
  • Celebração do Dia do Gaúcho, festejado em 20 de setembro.
HOMENAGEM:
  • Considerações pelo Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado no dia 21 de setembro.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2019 - Página 8
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, EVENTO, PREMIO, JORNAL.
  • HOMENAGEM, CELEBRAÇÃO, DIA, NATURALIDADE, ESTADO, RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • REGISTRO, DIA NACIONAL, LUTA, PESSOA DEFICIENTE.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Izalci Lucas, é uma satisfação mais uma vez usar a tribuna do Senado num momento tão importante para a nossa gente, tão sofrida e com tantas preocupações em matéria de desemprego. Ainda ontem eu recebi uma delegação preocupada com a saúde, com a questão da infraestrutura. Mas, ao mesmo tempo, participei, ontem, à noite, da 12ª edição do Congresso em Foco.

    Eu sempre vejo no Congresso em Foco um farol da própria democracia. Dizia eu ontem lá para os organizadores que, independentemente de quem sejam os premiados, quando o Congresso em Foco realiza um evento como o de ontem à noite, é um evento em defesa da democracia, em defesa da nossa Constituição. E assim se posicionaram os principais organizadores do evento.

    Assim, Sr. Presidente, faço questão de registrar que ontem, à noite, aconteceu, aqui em Brasília, a entrega do Prêmio Congresso em Foco 2019. Em sua 12ª edição, o prêmio tem como finalidade homenagear, na verdade, a democracia, o Parlamento, e claro que todo ano algumas figuras são lembradas. Ele estimula a sociedade a acompanhar seus representantes de forma ativa, assim como a participar plenamente da vida política. Há um poema que diz que aqueles que condenam a política estão, na verdade, condenando a sua própria vida e também a de toda a humanidade. A política se confunde com a palavra democracia, se confunde com a palavra justiça, se confunde com a palavra liberdade. Por isso, eu disse, ontem, à noite: com a democracia, tudo; sem a democracia, nada. Como já disse um grande líder, ninguém inventou no mundo e nem vai conseguir inventar um sistema melhor que a democracia.

    A iniciativa reconhece o trabalho dos Deputados Federais e dos Senadores que se destacam no exercício do mandato. Claro que não pode homenagear todos. Valoriza os bons exemplos e, ao mesmo tempo, vai sinalizando ao povo brasileiro a melhor qualidade da discussão e participação na vida política do Brasil.

    Sr. Presidente, eu participei de todas as edições; premiado ou não, eu estava lá, porque acho que é um espaço importante da democracia. Claro que eu recebi prêmios ao longo desse período em quase todas as edições, mas ontem, para mim, foi o momento que mostra que nós estamos no caminho certo. Eu tive a honra de receber três prêmios. O mais importante, pela primeira vez na história, que recebi foi o primeiro lugar na votação dos jornalistas que escolheram um Senador que, na visão deles, neste momento da história, mais defende o povo brasileiro no campo social, onde eu atuo. Sei que outros Senadores também atuam, mas um tem que ser escolhido nesse momento.

    Eu agradeço a todos os jornalistas do Brasil que, de forma tranquila, segundo os jurados que participaram, indicaram o nosso nome para receber o prêmio, dos jornalistas, como o Senador que mais se destacou neste período na defesa dos mais pobres, dos vulneráveis no campo social e, ao mesmo tempo, segundo eles, sabendo fazer a ligação com o empreendedor e com o trabalhador.

    Recebi pelo júri popular – aí é um outro júri – o prêmio de segundo Senador. A Senadora Simone Tebet, que fez lá um belo pronunciamento, foi quem recebeu o primeiro prêmio.

    E recebi o terceiro lugar na votação popular pela internet, onde participaram milhões de internautas. Os internautas escolheram o primeiro lugar, mostrando que lá não é um espaço ideológico. Major Olimpio foi quem recebeu o prêmio número um; Alvaro Dias, o número dois; e eu recebi o número três.

    Mas cumprimento aí a democracia, cumprimento todos aqueles que foram premiados ou não foram – mas muitos estavam lá e outros acompanharam, Deputados e Senadores – pela postura que tiveram naquele evento, um evento democrático. Claro, alguns discursos mais acirrados, outros mais tranquilos.

    Senador Izalci, pode ter certeza de que na minha fala... Eu acho que num evento desse porte, Senador, tem que falar pouco. Ali não é um debate para demarcar posição, as posições estão demarcadas já pelo voto que receberam os que estavam lá. Fiz um discurso curto, mas enfatizei a democracia, a liberdade e naturalmente as preocupações, que V. Exa. acompanha aqui todos os dias, porque nos encontramos aqui, com a reforma da previdência. Usei a seguinte expressão somente: estou muito preocupado, mas estou muito esperançoso de que o Senado possa melhorar o texto que veio da Câmara, atendendo aos setores que mais precisam. Foi isso que falei e naturalmente essa foi uma frase que unificou o Plenário porque eu entendo que todos nós, como V. Exa. falou ainda ontem, queremos aprimorar o texto e vamos torcer para que isso aconteça.

    Então, eu dou aqui os meus cumprimentos a todos os jornalistas do Brasil. Muitas vezes, eu sei que nem sempre eles podem falar o que gostariam e, muitas vezes, eu também não falo aquilo que a gente gostaria, até em respeito aos espaços da democracia, fazendo o bom debate, mas respeitando até as divergências no campo das ideias naturalmente.

    Por isso, eu cumprimento aqui todos os jornalistas do Brasil, independentemente da posição que cada um assume em relação a cada tema, até porque, se não fosse assim, não seria uma democracia, não é, Senador Izalci? Se nós dois estivéssemos aqui só batendo a mesma tecla, o mesmo tambor, a população iria dizer: "Bom, lá todo mundo fala a mesma coisa". Nós divergimos nos argumentos, mas sabemos que queremos o melhor para toda a nossa gente, para todo o povo brasileiro.

    Resumi lá dizendo que sou um homem de causas, e elas estão acima de qualquer coisa, acima até de partido, de ideologia, desse ou daquele grupo. As causas é que norteiam as nossas vidas, que norteiam a minha vida, que me dão direção para onde caminhar. E é claro que a gente quer o melhor para todo o povo brasileiro – repito: para todo o povo brasileiro – sem exceção.

    O importante é ter consciência de sempre fazer o melhor, fazer o bem sem olhar a quem, buscar o caminho certo, alcançar os sonhos e as mentes das pessoas. Sigamos em frente com a consciência tranquila de que é preciso cada vez mais esperançar, buscar a felicidade, buscar melhores dias para toda a nossa gente.

    Sr. Presidente, como depois ainda sabemos que vamos ter, no mínimo, mais três sessões de debates, aqui no Plenário, sobre a previdência, claro que eu voltarei a falar nas sessões de debates. Na terça-feira, teremos, pela manhã, o debate da previdência lá na CCJ – vai ser votado lá. Em seguida, à tarde, vai ser apreciado em Plenário o primeiro turno, e naturalmente falarei também no Plenário, como na segunda falarei na tribuna sobre a previdência.

    Por isso, Sr. Presidente, neste momento, tomo aqui a liberdade de falar um pouco do meu Rio Grande. Hoje é 20 de setembro, é a data máxima do Rio Grande do Sul, feriado estadual, é o Dia dos Gaúchos e das Gaúchas. A origem é o distante ano de 1835, início da Revolução Farroupilha. Como dizem, é uma terra gaúcha de muitas revoluções, mas essa foi a mais longa guerra acontecida em solo brasileiro: dez anos. Os ideais dos farrapos continuam vivos na memória do povo gaúcho, que eu tento aqui representar: liberdade, igualdade e humanidade.

    O poder central no Império governava com mão de ferro. Os impostos eram muito altos, não havia retorno. A província de São Pedro, lá no nosso Rio Grande, sentia-se espoliada, lesada, surrupiada, assaltada.

    Enfim, os clarins tocaram. Ouviu-se o som dos cascos dos cavalos ao longe. A guerra tinha iniciado, primeiramente por questões econômicas; depois, por causas políticas, sociais e libertárias.

    A República do Piratini foi proclamada em 1836, um ano após o início da revolução, por Antônio de Sousa Neto. O Rio Grande do Sul se tornava ali um país independente. Passada uma década de muitas pelejas, entreveros, combates dos mais sangrentos, irmãos lutando contra irmãos, famílias dizimadas, tingindo de rubro os verdes campos no Sul, enfim, houve a pacificação. Nossos caminhos foram abertos para a unificação da Pátria brasileira. Mas a liberdade, infelizmente, que foi pactuada não foi estendida a todos. Aos negros, foi prometida.

    "Apesar de racional, [como diz uma canção] vivia o negro na encerra. E adagas furavam palas, ensanguentando [...] [a nossa] terra. Da solidão das senzalas, tiraram o negro pra guerra". E diz Jarbas, dizem na história os mentores dessa canção e o grande César Passarinho: "Peleia, peleia, negro, pela tua independência. Semeia, negro, semeia teus direitos na querência".

    Passados 184 anos, os homens de ontem bordam parede de museus, livros, páginas da internet de histórias. São nomes de ruas, avenidas, praças, a história cantada em prosa e verso. O Rio Grande do Sul inteiro reverencia o legado da liberdade, da igualdade e da humanidade, direitos para todos. A cidades têm seus desfiles cívicos, tradicionalistas. É o povo gaúcho pilchado, bota, bombacha, guaiaca, sombreiro, lenço vermelho no pescoço ou lenço branco; a mulher gaúcha, com vestido de prenda e a flor no cabelo. A mulher gaúcha, guerreira na estampa de Anita Garibaldi. Diz a canção: "Anita morena, de pele macia, amante da noite, soldado de dia, um filho no braço, no outro um fuzil".

    Há shows artísticos, fandango, dança, chula, cantoria, desafio de trovadores, violeiros, milongas, gaiteiros e seus vanerões e bugios. A cultura e a tradição gaúcha não são manifestadas somente em 20 de setembro, mas o ano todo. Quem conhece o Estado sabe. É um dos poucos Estados que conhece o seu hino na íntegra. A grande maioria do povo gaúcho conhece o hino do Estado na íntegra. Centros de Tradições (CTGs), existem em toda a Federação, de norte a sul, de leste a oeste, inclusive em muitos países também, por exemplo no Continente Europeu ou mesmo na América do Norte.

    Aqui em Brasília, temos o CTG Jayme Caetano Braun, já estive lá muitas vezes, e a Estância Gaúcha, onde também estive, realizam ali seus bailes, penhas campeiras com comida típica, apresentação de cantores e cantoras, poetas. Há grupos de gremistas, de colorados, há torcedores do Caxias, como eu, e do Juventude, do Xavante de Pelotas e do Pelotas.

    Todos os anos, a Loja Maçônica Bento Gonçalves nº 4060, filiada ao Grande Oriente do DF, nome em homenagem ao líder máximo da Revolução Farroupilha, realiza sua sessão magna pública lembrando a epopeia Farroupilha. Este ano será no dia 27 de setembro, daqui a uma semana. Será a décima sessão. Estamos convidados. Mesmo sendo uma loja fundada por gaúchos, ela possui membros que são mineiros, paulistas, cariocas, baianos, alagoanos, goianos, pernambucanos, amazonenses, enfim, de todos os Estados.

    A tradição gaúcha une o nosso espírito de brasilidade. Ficamos mais orgulhosos por termos nascido naquela terra que abraça todos e que me mantém há praticamente, eu diria, porque assim eu espero que Deus permita, há 40 anos aqui no Congresso Nacional. Quatro mandatos de Deputado Federal e três mandatos de Senador.

    Temos que conhecer a nossa história, cuidar bem e acariciá-la, cultuar nossas tradições e valores.

    E aqui eu posso dizer: amo o meu Rio Grande, o nosso folclore. Valorizo a nossa gente, o nosso País. Acredito que é possível fazer deste chão verde-amarelo uma grande Nação.

    Sr. Presidente, eu quero deixar registrado nos Anais, publicado no jornal Zero Hora, por exemplo: "Cavalo lavado, cabelo cortado, bota engraxada: os preparativos para o 20 de setembro no acampamento. A concentração para [hoje, teremos lá, que é feriado no Estado] o Desfile Farroupilha de Porto Alegre [...] [que começou já lá ao lado do Estádio Beira-Rio]".

    Teremos o grande acampamento, o Acampamento Farroupilha, no Parque da Harmonia. Eu deixo aqui toda a matéria.

    Mas quero destacar também, Sr. Presidente, uma matéria da Folha de S.Paulo que vai no mesmo sentido: os trajes hoje no Rio Grande incluem crianças negras em atividade do principal feriado do Rio Grande.

Uniformes dos Lanceiros Negros, soldados escravizados que foram traídos, é usado para reafirmar a identidade da Semana Farroupilha.

A cena se repete anualmente nos dias que antecedem o 20 de setembro, principal feriado gaúcho. Por todo o Rio Grande do Sul, crianças são autorizadas a trocar seus uniformes escolares por roupas típicas de prenda (vestido feminino) e peão (camisa e bombacha). Os trajes são usados enquanto aprendem sobre a Revolução Farroupilha (1835 a 1845), guerra civil entre os republicanos que declararam independência, e o Governo imperial brasileiro.

Porém, pouco se fala da participação negra na chamada...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) –

Guerra dos Farrapos. Centenas de africanos escravizados foram incorporados à divisão dos lanceiros negros.

    E apresentei aqui um projeto, no Congresso, para a instituição do Troféu Lanceiros Negros para identificar e, muito mais do que identificar, homenagear aqueles que lutam contra todo tipo de preconceito, seja contra negro, contra branco, contra índio, contra imigrante. Mas, enfim, Sr. Presidente:

Eles [os lanceiros negros] lutaram em diversas batalhas, mas antes de serem libertados foram traídos em uma emboscada conhecida como o Massacre de Porongos, na madrugada do dia 14 de novembro de 1844. Centenas foram assassinados. Os que escaparam foram levados à corte, no Rio de Janeiro, para servirem como escravos.

Por isso, o grupo cultural Afro-Sul Odomode produziu trajes iguais aos dos Lanceiros para que as crianças também se reconheçam na história [...] [do Sul].

    E, aqui, há a história, por exemplo, do menino Caio, de três anos, que veste a roupa de lanceiro feita pela mãe e pelo avô, lá em Porto Alegre, para a Semana Farroupilha (Afro-Sul Odomode/Divulgação).

    A ideia, enfim, chega às escolas e às universidades no sentido de que a verdadeira participação dos lanceiros negros nessas batalhas seja contada, sendo assim fiel à própria história.

    Permita-me ainda, Sr. Presidente, nesses últimos cinco minutos – e pode ver que deixei para falar sobre previdência na segunda-feira –, falar sobre o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.

    Dia 21 de setembro, amanhã, celebramos o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, fruto de um projeto de nossa autoria. Esse dia nacional nasceu de um projeto de nossa autoria, que queríamos muito dar a simbologia do início da primavera e, ao mesmo tempo, lembrar da luta das pessoas com deficiência.

    Enfim, fruto de um projeto nosso, nascia aí um desejo antigo do movimento das pessoas com deficiência. A data tem uma simbologia, como disse, afinal, no dia 21 de setembro tem início a primavera, o que lembra o renascimento das flores, o fortalecimento das esperanças, até porque as flores nascem em todos os jardins, sejam elas brancas, amarelas, vermelhas, escuras, ou seja, independentemente da cor ou do nome, elas nascem todas para iluminar as nossas vidas.

    Sr. Presidente, eu amo a natureza. Como é bom estar na beira de um rio ou na beira do mar! Como é bom estar nas florestas! Como é bom caminhar nas montanhas!

    Estamos buscando, enfim, manter direitos conquistados, respeito às diferenças. Em um grande esforço de articulação de integrantes da Rede Brasileira de Inclusão (Rbin), junto ao Congresso, os Parlamentares ficaram sensibilizados e, assim, retiraram da PEC nº 6 o dispositivo que fixava na Constituição o critério de renda, o que, na verdade, iria atingir aqueles que dependem do BPC e que estão ganhando esse direito na Justiça. Felizmente a Câmara retirou.

    Outra mudança foi quanto à pensão por morte, cujo valor, espero que seja confirmado, não poderá ser inferior a um salário mínimo. Estou falando desses dois tópicos, porque eles, nesse dia – e homenageio 21 de setembro, que é amanhã –, trazem aqui dois benefícios. São mantidos os benefícios das pessoas com deficiência nesses dois casos. Sobre outros pontos que não foram atendidos, o debate continua. Esperamos que até a votação final em segundo turno possamos avançar.

    Sr. Presidente, se por um lado estamos vendo nossos direitos em xeque, porque o debate continua, novos projetos de leis...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... estão tramitando aqui no Congresso Nacional. Por exemplo, há uma PEC de nossa autoria, que já foi lida aqui e para a qual foram realizadas as cinco sessões de discussões, que insere na Carta Magna o direito à acessibilidade, à mobilidade entre os direitos individuais e coletivos previstos no art. 5º. Tenho certeza de que essa proposta será aprovada por unanimidade, porque, em todas as sessões de debate, não houve um, sequer, Senador que se posicionou contra, sinalizando que todos são favoráveis.

    Sr. Presidente, existem inúmeros projetos que eu poderia citar aqui, não só de minha autoria, mas de autoria de inúmeros Senadores, que vão na linha de defender os interesses das pessoas com deficiência. Como o meu tempo já terminou e V. Exa. ainda, gentilmente, me deu mais cinco minutos, eu vou para as considerações finais desse meu pronunciamento, fazendo essa homenagem às pessoas com deficiência no seu dia nacional, que é amanhã, 21 de setembro, Dia da Primavera.

    Sr. Presidente, nessa ótica aqui comentei o meu carinho e respeito às quase 50 milhões de pessoas que têm algum tipo de deficiência. Uma pessoa ideal, segundo alguns, seria aquela que não tivesse deficiência alguma, estando assim de acordo com os ideais da chamada normalidade funcional e produtiva. Eu, às vezes, digo que anormal é aquele que não entende a diferença, anormal é aquele que não consegue entender que nenhum de nós é exatamente igual ao outro com alguma deficiência, com nenhuma deficiência ou com mais deficiência. Todos nós, um dia, seremos deficientes, porque a velhice nos levará a estar entre as pessoas com deficiência.

    Quero aqui fortalecer a caminhada de todas as pessoas e familiares com pessoas com algum tipo de deficiência e lembro a todos que aquele que pensa que a ele nunca poderá ser dito que ele tem deficiência eu já olho para mim aqui: se eu não tiver com os óculos, eu naturalmente não poderei enxergar a distância, como estou fazendo aqui. É um tipo de deficiência.

    Sr. Presidente, eu avanço para dizer que é importante acessibilidade em toda cidade do nosso País. Na falta de acesso da nossa cidade nos ônibus, onde não entram cadeiras de rodas; nos órgãos públicos, que não possuem intérpretes de libras para o atendimento aos surdos; na falta de livros com formatos acessíveis. Lembro aqui a importância de manter a política de cotas nas empresas, lembro aqui a importância do braile.

    E aqui abro um parêntese: não basta que as empresas contratem uma pessoa com deficiência simplesmente para incluir a Lei de Cotas. Incluir é mais que isso. É fazer com que o empregado se sinta parte da empresa, que todas as condições lhe sejam oferecidas de forma que a pessoa com deficiência possa desempenhar, tenho certeza, as suas atividades com todo o seu potencial.

    Eu tenho dois deficientes visuais, totalmente deficientes visuais: um, no Rio Grande do Sul, e outro, aqui em Brasília. O do Rio Grande do Sul coordena o gabinete lá no meu Estado. Ele é um vencedor. Se vou indo para 40 anos de Parlamento e ele está comigo, ele é um vencedor e, naturalmente, toda a sua equipe. Lá é o Santos; aqui é o Luciano, que escreve a maioria dos meus pronunciamentos, como este. Foi o Luciano, junto com a equipe, que o fez. E ambos fizeram faculdade, já são formados, graças à sua garra, à sua insistência, à sua resistência de romper todas as barreiras que são colocadas, infelizmente, pela sociedade.

    Mas, Sr. Presidente, de acordo com o estudo realizado pela Santo Caos, empresa de consultoria de engajamento pela diversidade, em parceria com a Catho, menos de 10% das pessoas com deficiência empregadas ocupam postos de comandos. Eu dei dois exemplos aqui, mas são poucos que ocupam postos de comando, menos de 10%.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – O estudo mostra ainda que as pessoas com deficiência se sentem, muitas vezes, isoladas dentro da própria empresa. Faço um apelo, inclusive: não é só responsabilidade do empregador, mas também do colega de atividade, de trabalho, que deve acolher cada vez mais os seus parceiros de atividade.

    O Estatuto da Pessoa com Deficiência, de que tive a alegria de ter sido o autor, que foi aprovado, por unanimidade, pelas duas Casas, define e criminaliza toda a prática de preconceito, inclusive com as pessoas com deficiência. Em seu art. 4º, por exemplo, ele define discriminação como sendo toda forma de diferenciação que reduz e exclui. É toda ação ou omissão que dificulta o exercício dos direitos das pessoas com deficiência.

    Aqui deixo claro e destaco, neste dia, Sr. Presidente...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... os Relatores desse estatuto: Senador Romário, Mara Gabrilli, Flávio Arns, Celso Russomanno.

    Aliás, deixo claro que não somente a ação, mas também a omissão é considerada discriminação pelo projeto, que teve o aval dos Relatores que citei e, repito, foi aprovado, por unanimidade, nas duas Casas. Dessa forma, o descaso do Estado em promover a acessibilidade é discriminação com a pessoa que tem algum tipo de deficiência.

    O art. 88 pune a prática da discriminação com reclusão de um a três anos e multa.

    Sr. Presidente, indo para o final, agradeço a tolerância de V. Exa., porque sei que é a mesma tolerância que V. Exa. tem sempre com o Senador Girão, com o Senador Styvenson Valentim...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... aqui nas tardes de quinta e sexta-feira ou de manhã. E tem comigo também. Eu estou elogiando V. Exa., Presidente. O Senador Acir Gurgacz, que está aqui, sempre presente lá na Comissão, como também o Senador Girão e V. Exa.

    São duas folhinhas, com letras grandes. Então, é rápido. Não estou reclamando. Se eu reclamar aqui, estarei fazendo uma injustiça. Estou fazendo um gesto de gratidão, porque V. Exa. tanto me assegura o espaço que eu peço sempre no Plenário, como assegura para os outros Senadores, como também na Comissão.

    Às vezes, perguntam: por que o Paim faz tantas sessões? Faço tantas sessões porque o tema chama a atenção. Isso faz com que eu tenha sempre o apoio de todos os Senadores, e apoio sempre a iniciativa dos senhores. Mas eu estou perdendo tempo elogiando os senhores aqui. Aí, vocês dirão: "Não, não é perda de tempo; aí é justo".

    Eu sempre gosto muito da palavra gratidão. Senador Girão, eu achei que esta semana a Comissão de Direitos Humanos foi brilhante. E V. Exa. ajudou a dar quórum lá. Porque alguns às vezes não entendem que votamos matérias até polêmicas. No fim, virou, digamos, unanimidade, como foi a questão do Estatuto dos Povos Indígenas. Ninguém pediu vista. Se pedisse vista, poderia até a reunião cair e jogar para a outra semana.

    Enfim, terminando, Sr. Presidente, estamos em pleno Setembro Verde, criado para dar visibilidade à busca pela inclusão da pessoa com deficiência. É sob esse foco de esperança, de renascimento que devemos encher nossa alma de otimismo. É sob a energia da primavera que devemos conduzir nossas reflexões. Assim, afastando-nos do entendimento de deficiência como uma tragédia pessoal, pouco a pouco chegaremos à conclusão humana na questão da deficiência. Nós, como sociedade, precisamos ampliar nossa compreensão e perceber a deficiência como uma construção histórica de falta de acesso e de meios de participação e inclusão social.

    Nesse sentido, não são uma pessoa com deficiência e sua família as únicas responsáveis por uma vida digna, pois o Estado e a sociedade devem assumir seus papéis nesses processos de inclusão. A deficiência real está na atitude que exclui, no coração que não enxerga seu irmão, no olhar que reduz e desumaniza. A deficiência real é aquela que discrimina. Sim, a deficiência real é aquela que discrimina, mas se oculta por trás de uma admiração vazia e que igualmente separa.

    Última frase: deficiência real é aquela que incapacita pelo preconceito, pelo racismo, e não abre as portas ao desconhecido e surpreendente, assim, jeito diferente de ser. Deficiência real é aquela que incapacita pelo preconceito e não abre as portas ao desconhecido e surpreendente jeito diferente de ser.

    Sr. Presidente, peço que considere na íntegra os meus pronunciamentos, e já agradeço muito, porque este aqui foi o Luciano que escreveu, esse deficiente visual que trabalha comigo. Às vezes, eu digo "deficiente visual", e ele diz: "Senador", desculpe a expressão que eu vou usar aqui, "não precisa ficar com frescura, pode dizer que eu sou cego mesmo". Veja que é sinal de que ele não tem preconceito nenhum com a deficiência dele. Assim, ele é tratado no gabinete, tanto o que trabalha em Brasília como o do Sul, da mesma forma que todos os outros. Eles não querem que tenha peninha deles, não. Eles têm um espaço porque eles conquistaram aquele espaço. Senão, não estariam lá.

    Obrigado, Presidente. Agradeço muito aos senhores, e considerem na íntegra os meus pronunciamentos e as matérias de que falei aqui.

    Falei muito do Rio Grande do Sul hoje. O Senador Izalci resistiu à minha fala do bairrismo gaúcho, dos sulistas, mas amamos, na verdade, todo o Brasil. Seria qualquer tipo de discriminação se nós não amássemos os nossos irmãos brasileiros da mesma forma. Muitas vezes, quando eu fico longe de casa, meus filhos reclamam, e eu digo: "Vocês têm que entender que a obrigação de um Senador não é só cuidar de vocês; é cuidar dos filhos de toda a nossa gente, de todo o País". E eles entendem, não é, Júnior? Você está reclamando que eu não estou aí no dia em que você vai anunciar o nome do seu filho, o sexo do seu filho que está para nascer. Eu não estou aí, porque estou aqui pela causa, mas estarei aí logo, logo, ao lado de vocês.

    Um beijo a todos. Um beijo ao povo brasileiro. Um abraço a cada Senador.

DISCURSOS NA ÍNTEGRA ENCAMINHADOS PELO SR. SENADOR PAULO PAIM.

(Inseridos nos termos do art. 203 do Regimento Interno.)

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR PAULO PAIM.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

    Matéria referida:

     – Matéria do jornal Zero Hora, do dia 19/09, "Cavalo lavado, cabelo cortado, bota engraxada: os preparativos para o 20 de Setembro no Acampamento".


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2019 - Página 8