Discurso durante a 234ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise da importância dos 130 anos da proclamação da República brasileira. Destaque para o livro Escravidão, do escritor Laurentino Gomes. Observações sobre a situação atual do País, com ênfase na discussão sobre o pacto federativo.

Autor
Confúcio Moura (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Confúcio Aires Moura
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CULTURA:
  • Análise da importância dos 130 anos da proclamação da República brasileira. Destaque para o livro Escravidão, do escritor Laurentino Gomes. Observações sobre a situação atual do País, com ênfase na discussão sobre o pacto federativo.
Aparteantes
Eduardo Girão, Styvenson Valentim.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2019 - Página 22
Assunto
Outros > CULTURA
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, COMEMORAÇÃO, PROCLAMAÇÃO, REPUBLICA, BRASIL, COMENTARIO, LIVRO, ESCRITOR, SITUAÇÃO, ATUALIDADE, DISCUSSÃO, PACTO FEDERATIVO.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente Eduardo Girão, demais Senadores presentes, visitantes nas galerias, telespectadores, eu tinha preparado este discurso para ser falado no dia 15 de novembro, Dia da Proclamação da República. Eu ia fazer uma análise desses 130 anos do Brasil republicano. Aí houve várias sessões do Congresso, houve várias protelações, foi passando e só hoje, tardiamente, eu vou falar como se fosse o dia 15 de novembro, o Dia da Proclamação da República.

    Nós completamos 130 anos, neste ano, agora, da proclamação da República brasileira, uma data redonda e que inspira muitas reflexões sobre a formação do Brasil contemporâneo, e estamos construindo de agora para a frente o bicentenário da República brasileira, que será daqui a cem anos logicamente. O fato alterou a forma do sistema de governo em nosso País: saímos de uma monarquia parlamentar para uma república presidencialista unitária, de tal forma que possamos também ser hoje federados.

    Aristides Lobo era um jornalista famoso na época, cronista daqueles dias, em descrição célebre sobre o acontecimento da República, que foi uma coisa inesperada, pois o povo não estava sabendo o que estava acontecendo, não havia publicidade... Então, Aristides Lobo falou o seguinte:

O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava aquele movimento.

Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada [militar]. [Ficavam olhando ali como se fossem assistir a uma parada militar].

Era um fenômeno digno de ver-se.

O entusiasmo veio depois [...] quebrando o enleio dos espíritos.

    Oliveira Vianna, no seu clássico O Ocaso do Império, veio reforçar a tese de que a Proclamação da República foi um golpe militar, um golpe militar, sustentava o autor. Era a opinião militar que derrubava o gabinete de Dom Pedro II, já que a opinião popular não tinha nenhuma força para se manifestar. Isso não significava, porém, que o Império desfrutasse de popularidade, porque não desfrutava de jeito nenhum, ainda mais naquele momento. E o Vianna reconhecia a insuficiência e a fraqueza do sentimento monárquico no País. Assim, sem rumor ou barulho de armas, sem brilho de espadas que se batiam por uma causa ou o clamor das multidões enfurecidas também, o Império ruiu.

    Mas parece certo que o encorajamento civil e a participação militar na política, como observou Sérgio Buarque de Holanda, contribuíram em larga escala para o golpe, sobretudo pela ação concertada pelos positivistas e agitadores políticos. Era aquele Brasil em andamento, o Brasil que vinha da monarquia, o Brasil concentrado no litoral e o restante do País distante. Era como se fosse, assim, o Brasil do fim do mundo. Naquela época, em 1800, antes da Proclamação da República, o País tinha 3,6 milhões de habitantes só. Era pouca gente, 3,6 milhões. Alcançou 7,2 milhões de habitantes em 1850 e 10 milhões de habitantes no ano de 1900.

    Nesses 66 anos anteriores à proclamação, a população brasileira se multiplicou por seis, quando se aboliu a escravatura. Entretanto, vastas regiões do País – Norte, Centro-Oeste, Nordeste – eram despovoadas, ou melhor, povoadas mais por indígenas e outros.

    O Brasil republicano sofreu um processo de branqueamento. Em 1872, 61% da população era negra e apenas 38% eram ditos brancos. Em 1950, inverteu-se. Não sei por quê? De repente, passou a ter só 37% de negros e 61% de brancos ou indivíduos da raça amarela, devido à imigração.

    Muito bem, foi andando esse Brasil com um ritmo ainda bastante lento da Velha República, daquela República em que as lideranças não se preocupavam com muita coisa a não ser com o rito burocrático do poder local, no Rio de Janeiro.

    Em meio a tantas mudanças demográficas, seria de se esperar que a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República... A diferença foi de um ano. A Abolição da Escravatura foi em 1888 e a Proclamação da República foi em 1889, um ano de diferença apenas. A gente esperava que a República viesse, justamente, promover princípios federativos, princípios republicanos, preocupação com o cidadão. E isso não aconteceu.

    É muito fácil mudar uma lei, mas é muito difícil mudar a mentalidade. Mudar a lei é fácil, mas mudar a mentalidade é difícil. As imensas transformações operadas no campo social, em algumas semanas, não acarretaram iguais mudanças no espírito das pessoas. A República, de fato, instalou-se, no Brasil, porém a cidadania faltou a esse encontro. Erro de natureza social. A República abandonou à sua sorte parcela da população libertada pela Lei Áurea, em 13 de maio.

    O modo de se fazer política, em nosso País, permaneceu concentrado numa pequena elite de ilustrados, quase igual à Monarquia. Por isso, as imagens do nosso passado republicano sempre representaram aquela época áurea de poucos. Tudo muito bonito, tudo muito elegante, porém muito restrito. A população mais pobre ficou muito distante, os negros ficaram distantes. Os negros não sabiam o que fazer, perdidos. A República franqueou o acesso direto a ela, não obstante o fim do voto censitário, típico do sistema político imperial.

    O Império caiu no Brasil porque perdera a base social que o sustentava, ancorada, sobretudo, nas elites escravocratas. Comprar negros era um negócio da China. Comprar negros africanos, trazê-los em navios negreiros morrendo pelos caminhos do mar, era realmente um negócio maravilhoso, muito bem relatado agora nesse livro Escravidão, do Laurentino Gomes.

    É importante que o pessoal leia Laurentino Gomes porque ele retrata muito bem a escravidão brasileira, a situação dramática dos negros libertados pela Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Mas essas massas ficaram ao deus-dará, de qualquer jeito. O Império caiu porque perdera a base social. Várias instituições importantes, como a Igreja, as forças militares, já não conferiram apoio que delas esperava o sistema imperial; foram saindo devagarzinho do apoio a Dom Pedro II.

    No plano político, a propaganda republicana lastrava-se nas áreas urbanas e passava a contar com o apoio dos setores economicamente avançados. Era interessante essa transição de Monarquia para a República.

    Estou vendo uma meninada na galeria. Quando vocês lerem Os Sertões...

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Senador Confúcio, são os alunos do ensino fundamental da Escola Ceprom, de São Sebastião, aqui, de Brasília.

    Sejam bem-vindos!

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Bem-vindos, meninos de São Sebastião!

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Assistam a essa aula do nosso professor.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Muito bem. Eu estava falando aqui para vocês lerem, quando puderem, o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha. Na Revolução de Canudos, ele mostrava justamente o choque. Antônio Conselheiro era contrário à República, ele era a favor... Mesmo dotado de uma certa santidade nordestina, acompanhava as suas marchas pelo interior da Bahia e outros cantos mais e foi parar em Canudos, ele se revoltava contra a Nova República e rasgava os editais da República das prefeituras – não eram nem prefeituras, aquelas coisinhas que representavam as cidades do interior do Nordeste. Por isso, houve a Revolução de Canudos, para matar um monarquista rebelde, contra a natureza.

    O certo é que Os Sertões, de Euclides da Cunha, é objeto hoje de quatro ou cinco livros. Vargas Lhosa, aqui, do Peru, escreveu A Guerra do Fim do Mundo, um livro semelhante ao de Euclides da Cunha. Houve até um austríaco que escreveu um livro sobre Canudos. E houve muitos outros livros escritos também sobre essa questão do choque no momento entre Monarquia e a República.

    Eu estou falando aqui, alunos de São Sebastião, sobre os 130 anos de Proclamação da República brasileira.

    Muito bem, a exclusão continuou, gente. A pobreza continuou. O analfabetismo continuou cada vez mais. Ninguém se preocupou em alfabetizar negro. Passou esse tempo da República Velha e ficou quase do mesmo jeito que era no Império, a mesma coisa. E a população não sabia o que era República.

    A República significa um governo preocupado com o cidadão. República significa um governo preocupado com o povo, preocupado com as políticas sociais, preocupado com a educação, preocupado com a saúde, preocupado com o emprego e com a renda; esse é o papel da República. E o que significa República Federativa? Significa que nós temos Estados – 27 Estados hoje.

    Cada Estado é um ente da Federação. Mas, hoje, nós estamos vendo uma coisa estranha: Estados quebrados. Eu quero saber como é que a gente pode entender uma República Federativa com Estados quebrados. Como é que a União não monitora a vida interna, intestina dos Estados, das prefeituras, para saber a hora que eles estão passando dos limites e corrigir e dar uma catracada? Mas deixa ao deus-dará; deixa ao sabor das pressões das corporações. Isso vai indo e estoura.

    O Estado de Minas Gerais.... Como é que eu posso aceitar que um Estado como Minas Gerais, o berço da Inconfidência, da libertação brasileira, da Independência, em 1822, como é que eu posso aceitar Minas quebrada? Como eu posso? Aqui dentro o meu coração não aceita. Como é que eu posso aceitar o Rio de Janeiro, a cidade de Estácio de Sá, a sede do Império e da República Velha, como é que eu posso aceitar o Rio de Janeiro quebrado? Como, gente? E o querido Rio Grande do Sul, um Estado pujante, um Estado inteligente, como é que... Então, que Federação é esta que vê os seus Estados mais importantes, mais ricos, mais tradicionais, como num efeito dominó... Alguma coisa está errada.

    Nós temos que rever o pacto federativo. Temos que rever essa situação da Federação brasileira, esse faz de conta que existe no Brasil republicano de hoje. Esse faz de conta que estamos vivendo muito bem, porque estamos copiando esse modelo que deu certo nos Estados Unidos. Vamos copiar! Então, a República precisa ser revista, ajustada, e as leis devem ser, mais ou menos, como sistema de vasos comunicantes, em que os Estados se confederem simultaneamente.

    Agora, os Governadores estão se sentindo sem forças. O que os Governadores estão fazendo? Estão criando os consórcios. Os consórcios são aglomerados por regiões de Governadores, que brigam... Primeiro foi o do Centro-Oeste, do qual Rondônia e Tocantins fazem parte. Depois, veio o Consórcio da Amazônia, do qual o Maranhão, Tocantins e nós também fazemos parte. Depois, veio o Consórcio do Nordeste e, agora, veio o do Sul-Sudeste, um consórcio forte, rico.

    Os Governadores não estão mais confiando na República, na União. Os Governadores dos Estados, hoje, estão querendo resolver os seus problemas conjuntamente entre as nossas regiões. As estruturas dos consórcios são entes autárquicos legais. É uma inovação republicana a construção dos consórcios dos Governadores.

    Então, a educação já deveria estar melhor no Brasil. E há pouco tempo o Senador Izalci disse isso aqui, referindo-se à inovação, à pesquisa e à educação. E a gente fica assim observando: por que perdemos 130 anos? E não perdemos só 130, mas 500 anos, desde o Descobrimento do Brasil. E, se nós não cuidarmos... Cristovam me disse esses dias, Senador Izalci, que, se não cuidarmos, daqui a 100 anos estaremos do mesmo jeito.

    Olhe bem, povo brasileiro, se nós não cuidarmos agora, direitinho, fizermos o dever de casa, Izalci, como você acabou de falar ali, subir degraus, a cada dez anos subirmos dois, três degraus, na eficiência deste País, nós vamos chegar, daqui a 100 anos, até piores. Ou arrumamos essa casa logo, ou nós equilibramos a Federação, ou nós colocamos a pesquisa científica e a inovação, a educação como essência do republicanismo, da República verdadeira como conceito de República, ou nós estamos brincando. Nós estamos aqui fazendo discursos ocos, vazios, sem sentido, mas nós vamos continuar.

    Então, Sr. Presidente, este meu discurso aqui eu preparei para falar no dia 15 de novembro, sobre esses temas, quando fizemos 130 anos de República Federativa do Brasil. Passaram alguns dias, mas eu o estou trazendo aqui, de novo, para todos vocês, para o público ouvinte, para todos os movimentos dos indígenas brasileiros, que são outra categoria, pois os índios brasileiros foram escravizados. Ainda bem que os jesuítas ajudaram a não aceitarmos a escravidão dos indígenas. Foi pouco tempo. Logo, logo, o próprio Rei de Portugal falou: "Não, não mexe com esses índios, não", mas mataram quase todos – mataram quase todos – de doenças. Foi realmente uma tragédia louca.

    Aí vieram os negros. Olhe, a população brasileira de negros foi maior do que a da América do Norte. A escravidão brasileira foi cruel. Ela foi realmente uma coisa horrorosa.

    Eu estou fazendo propaganda para o Laurentino...

    Eu nem conheço você – viu, Laurentino? –, que escreveu o livro Escravidão. E eu estou falando aqui no Senado sobre seu livro, tá?

    Então, é justamente pela beleza histórica, pelos dados que você mostra e tudo, que são o início de uma reação que nós deveríamos tomar a partir de pequenas atitudes, consecutivas, para que, de fato, possamos, lá na frente, melhorar o nosso País de como está hoje.

    Assim sendo, Sr. Presidente...

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE) – Senador Confúcio, se eu puder fazer um aparte.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Ah, pois não. Já estou concluindo. É oportuno.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE. Para apartear.) – Se eu puder, porque, com uma aula dessas, a gente fica até constrangido de falar, pelo seu conhecimento, pela sua sabedoria, pelo seu discernimento!

    Mas eu queria lhe dizer eu não li o livro do Laurentino. Todo mundo está falando nesse novo livro dele, todo mundo está falando.

    No último dia 20, dia 20 de novembro, nós tivemos o Dia da Consciência Negra – não é?...

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Foi.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE) – ... e eu achei providenciais algumas campanhas que aconteceram no Brasil. Inclusive uma que me marcou muito foi a do Fortaleza Esporte Clube, que fez, não apenas no dia, na semana inteira, uma campanha, resgatando ídolos da história do clube, que fez 100 anos no ano passado, ídolos negros, desde jogadores até funcionários que passaram pelo clube, e houve uma repercussão grande no País.

    Nós temos uma dívida, Senador Izalci, nós temos uma dívida mesmo com os negros. O Brasil foi um dos primeiros países a escravizar...

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Foi o último.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE) – ... e o último a libertar os escravos.

    Isso é muito marcante, é um carma – aí eu vou para o lado até espiritual –, é um carma que o Brasil tem.

    Então, tudo que a gente fizer é pouco com relação a esse assunto para a gente levar luz para esse tema e procurar fazer campanhas. Isso é muito importante. Políticas públicas... É muito importante que a gente pense nesse assunto.

    Uma coisa que eu queria dizer a V. Exa. sobre República, o senhor falando aí e tal, é que muita gente questiona os políticos, não é?

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para discursar.) – É.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE) – Muita gente questiona: "Poxa, aquela energia negativa... Político é tudo igual...", essa coisa toda.

    Nós compreendemos a população, nós sabemos que a máquina é pesada mesmo, que tem como enxugar, mas nós somos resultado da sociedade que nós temos. Quem nos colocou aqui? Quem nos colocou aqui foi o povo. Então, que o povo goste mais de política, aprenda mais na hora de estudar o seu candidato, a acompanhar o trabalho parlamentar dele antes de votar nele, perguntar o que ele pensa sobre os temas, porque, quando nós furamos uma fila, quando uma pessoa fura uma fila, Izalci, ela está dando a autorização, muitas vezes, para que Parlamentares façam coisas erradas, porque nós somos o reflexo da sociedade. Quando se estaciona em uma vaga que é de deficiente... É aquele jeitinho brasileiro – sabe? –, aquela coisa que pegou e que não... O Brasil é um país digno, honrado, e a gente tem que amar este País e valorizá-lo, porque vai dar certo. Nós temos que ter orgulho de falar do Brasil, e não ficar dizendo "não, no Brasil acontece isso, só no Brasil que acontece isso". Não, nós precisamos ter um sentimento de pertencimento a este País, um orgulho maior deste País e começar a votar melhor, porque aí é que está o segredo para que tenhamos um Parlamento, um Executivo que seja cada vez mais o espelho da nossa sociedade.

    Eu queria só cumprimentá-lo...

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Muito obrigado.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE) – ... por esse pronunciamento e fazer esse paralelo.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Muito agradecido pela oportunidade. Senador Izalci, eu não vou encompridar mais o discurso porque há outros oradores, mas quero agradecer o aparte, a atenção dos colegas presentes, muito importante.

    Eu gostaria de interpretar, de refletir os 130 anos de República. A gente agora precisa continuar com a República. Precisamos continuar com ela. Não queremos que ela saia, não. Nós só temos é que aperfeiçoá-la.

    Está aí agora em votação – está chegando, já está por aqui – o novo pacto federativo, um novo desenho. É uma oportunidade maravilhosa de a gente estudar bem esse assunto, de abrir muitas audiências públicas inspiradoras e arrumar um novo ritual da Federação. Como a gente pode – eu estou vendo aqui o Senador Styvenson, do Rio Grande do Norte – deixar um Estado como o Rio Grande do Norte, tradicionalíssimo, do Nordeste, em dificuldade, como ele está passando? Todo mundo se vira lá. Lógico que alguém fez bobeira lá para trás, mas agora nós não podemos deixar, temos agora de acertar essa trava para que as coisas daqui a três, quatro ou cinco anos se encaminhem, não é, gente?

    Então, eu agradeço...

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN. Para apartear.) – Senador...

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Pois não.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – ... o senhor citou, além de mim, o meu Estado.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Eu o provoquei, não é, Styvenson?

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – Provocou-me. (Risos.)

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Você estava quietinho aí, né?

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN. Para apartear.) – Não, eu estou assistindo à aula. Já que o senhor estava falando de República e disse que a gente importa muitos modelos, não vou nem citar o francês, de revolução, que trouxe palavras como fraternidade, liberdade e igualdade, que vieram para os princípios constitucionais da nossa Constituição, e nunca são cumpridos. Se tem uma coisa que o nosso País não é, é igual. Não é igual para ninguém. Então, começa por aí: a gente já importa as coisas erradas. A gente acha bonito e traz para cá.

    Só pegando a linha do raciocínio da República, para mim é até desafiante falar isso para o senhor, porque, quando a gente olha para os norte-americanos, para os EUA, o senhor falando de República, revolução ou golpe militar, tudo o que já existiu, a constituição daquele Estado, a formação daquele Estado é bem distinta do nosso. Eles conseguiram palmo a palmo de terra ou com negociações, ou com guerras, ou com ocupações em que as pessoas de fato quiseram produzir naquele país, não quiseram explorar aquele país. Estrangeiros não foram saquear aquele país, como a gente foi aqui saqueado. Logo no início da nossa origem, quando a gente estuda, o primeiro que desceu aqui no nosso País já enrolou o índio. Já começou com enrolação. Então, a gente vive dessa cultura. A gente vive da cultura de colocar o outro para trás.

    Quando o Senador Girão falou que a gente precisa escolher melhor, aí a pessoa que está assistindo diz: "Como é que eu escolho, pelo amor de Deus, se a única forma que eu tenho é ouvir, é falar". Veja pelas ações, pelo que já fizeram, por quem já construiu alguma coisa, ou sendo político ou não sendo ainda político, mas que ele tenha feito alguma coisa pela sociedade. Acho que a fala mais... O Parlamento está meio caído, em descrédito, porque fala muito, fala demais e não faz nada. E a população enxerga isso. "Só sabe falar o político, falar, falar, falar, e agir que é bom, nada."

    O Senador Izalci ontem subiu ali e disse que tem ideias, tem projetos, tem algo inovador que ajudaria a República, a transparência, que é a inovação e a tecnologia, que estão paradas. Ninguém nem liga para isso, mas têm mais importância outras coisas.

    Então, voltando para o meu Estado agora, onde eu queria chegar, se o meu Estado chegou aonde chegou hoje e eu estou aqui, foi justamente porque a população enxergou. "A gente tem que dar um breque agora, parar para refazer tudo de novo." E, se ele está agora atualmente na situação em que está, é por uma briga partidária e ideológica que eu não entendo, em que as pessoas que estão no meio dessa briga sofrem com isso. "Porque você é de um partido, e eu vou sufocar você até você morrer politicamente." Essa guerra partidária que atrasa, possivelmente, Senador Confúcio – aí o senhor me explica melhor, porque o senhor é mais historiador do que todo mundo aqui neste Senado, mais conhecedor –, se essa briga partidária, se essas disputas internas que há aqui dentro, essa briga de vaidades por protagonismo não estão atrapalhando essa República.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE. Para apartear.) – Eu só queria complementar o Senador Styvenson, Senador Confúcio, já que fez uma pergunta ao senhor, e quero também fazer uma que me deixa preocupado.

    Nas nossas origens, quem descobriu o Brasil foram os portugueses, foram os nossos colonizadores. E por que a gente fala tão mal de português? Isso é um desrespeito. Concorda? Quando a gente faz piada com português, questionando a inteligência do português. Isso é uma coisa que está no inconsciente que a gente precisa tirar. A gente precisa valorizar a precedência. Eles vieram primeiro. Temos que resgatar dívidas com os negros, temos que resgatar dívidas com os índios. Isso tudo, no meu ponto de vista, falando transcendentalmente...

    Há uma coisa chamada constelação familiar, que eu não sei se vocês conhecem – eu tive a oportunidade de fazer –, que é uma cura quântica, pelo campo magnético, e eu já vi coisas incríveis acontecerem ali, de problemas familiares dissolvidos, através do perdão, do autoperdão, da consciência. O Brasil precisa disso. Precisa olhar para trás e honrar os portugueses, honrar os negros, honrar os índios.

    Andando pelo Brasil, Senador Izalci, eu estive, neste final de semana, em Porto Alegre e olhando ali, passando pelo centro, vendo o pessoal trabalhando, se dedicando, eu digo: "Cara, como o Governo atrapalha!". A burocracia, essa instabilidade criada, como o Senador Styvenson colocou aqui, por vaidade, para se servir, por interesses de poder, pelo poder... Tinha que acabar com a reeleição. Primeira coisa, eu acho que tinha que acabar com a reeleição no Executivo, tinha que acabar. Outra coisa, voto obrigatório tinha que acabar. Eu respeito quem pensa diferente, mas tinha que acabar. E aí a gente atrapalha muito, o Governo é muito pesado, é uma máquina pesada, atrapalha, e o mercado se regula, rapaz. As pessoas que vão trabalhar, que estão em casa nos ouvindo, nos assistindo, saem às 5h da manhã, ralando, e o Governo, de vez em quando, baixa um negócio e cria... Só faz travar muitas situações. A gente tem que partir para...

    Como o senhor falou aqui outra vez, que eu até repercuti, o senhor falou aqui, que deu uma repercussão enorme no Ceará, lá no meu Estado, da burocracia, de quando o senhor era Governador, para liberar uma obra da Caixa, uma situação, travava e não resolvia, e se perdia o dinheiro do investimento, entendeu? Temos que deixar mais leve.

    Perdão.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Mas, Senador Girão, vou só lhe dar a resposta, e encerrar mesmo.

    Essa crítica aos portugueses de falar que português é menos inteligente, português é isso, português é aquilo, que a culpa do nosso atraso vem de Portugal não é verdade. Não é verdade, porque Portugal naquela época era um dos países mais evoluídos na área científica na Europa. Inclusive, na navegação, a Escola de Sagres: D. Henrique, da linha sucessória da Monarquia portuguesa, ele abdicou do trono e foi para Sagres, que era uma ilha, e montou a escola de navegação. Daí ele percorreu toda a costa do Mediterrâneo, do Atlântico, chegou às Índias, chegou ao Brasil nas caravelas. Ninguém no mundo tinha caravela. A ciência começou lá. A Escola de Coimbra já mais avançada: no Império, os advogados, esses pernambucanos, os cearenses, que tinham família abastada, todos iam fazer Direito lá.

    Então, Portugal não foi para nós prejudicial, de maneira alguma, nós fomos descobertos por um país evoluído naquele momento histórico. Então, nós não soubemos foi dar continuidade àquilo tudo.

    Muito obrigado a todos. Muito obrigado pela tolerância do tempo. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2019 - Página 22