Discurso durante a 41ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, em razão dos 49 anos de sua fundação.

Autor
Chico Rodrigues (UNIÃO - União Brasil/RR)
Nome completo: Francisco de Assis Rodrigues
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Administração Pública Indireta, Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }, Homenagem:
  • Sessão Especial destinada a homenagear a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, em razão dos 49 anos de sua fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2022 - Página 15
Assuntos
Administração Pública > Organização Administrativa > Administração Pública Indireta
Economia e Desenvolvimento > Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA (EMBRAPA), PESQUISA AGROPECUARIA, AREA, CIENCIAS AGRARIAS, CIENCIAS AGRICOLAS, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO AGRARIO, DESENVOLVIMENTO AGRICOLA, DESENVOLVIMENTO AGROPECUARIO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, BRASIL.
  • COMENTARIO, AUSENCIA, POSSIBILIDADE, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA (EMBRAPA), PATRIMONIO PUBLICO, ATUAÇÃO, EXPANSÃO, FRONTEIRA, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, ALIMENTOS, MUNDO, IMPORTANCIA, MELHORIA, VEGETAIS, INICIATIVA, ORADOR, REDE ADMINISTRATIVA, PESQUISA, UNIDADE, ESTADO DE RORAIMA (RR), PRODUÇÃO AGRICOLA, TRIGO.
  • ELOGIO, GESTÃO, ALYSSON PAULINELLI, INDICAÇÃO, PREMIO NOBEL, ELISEU ALVES, REUNIÃO, FRENTE PARLAMENTAR, PRESIDENCIA, RODRIGO PACHECO, SENADOR.

    O SR. CHICO RODRIGUES (Bloco Parlamentar União Cristã/UNIÃO - RR. Para discursar.) – Sr. Presidente do Senado da República e do Congresso Nacional, Presidente Rodrigo Pacheco, que é a nossa referência; meu caro colega e amigo, Senador Elmano Férrer, que propôs e preside esta sessão; meu caro Senador Izalci, que se ausentou neste momento; Senador Paulo Rocha; Senador Lasier Martins; Senador Luis Carlos Heinze; ex-Senador Rodrigo Rollemberg, que se encontrava presente nesta sessão; meu caro Presidente Celso Moretti, da Embrapa, que tem desempenhado um relevante trabalho à frente dessa briosa instituição; Ministro Paulo César Alvim, do Ministério da Ciência e Tecnologia; Presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas; amigo Nilson Leitão, expressão da agropecuária nacional; autoridades presentes; amigos e amigas da Embrapa.

    Eu iniciaria falando aqui de um tema que, às vezes, assusta e inquieta os servidores da Embrapa: uma tal história de alguns que tentam desidratar a Embrapa falando em privatização. Esqueçam! Deviam ter como referência uma frase bem popular que diz: "Em time que está ganhando não se mexe", investe-se nele cada vez mais. Esqueçam privatização da Embrapa! A Embrapa é um patrimônio nacional. Esse é o meu sentimento inicial.

    Em meados de 2021, li sobre experimentos que a Embrapa fazia com a produção do trigo tropical no Cerrado brasileiro. Mais uma vez, a Embrapa surpreendia o Brasil com suas pesquisas sobre expansão da nossa fronteira agrícola e uso de terras antes impensadas para produzir alimento para o nosso consumo e para o do mundo.

    Imediatamente procurei a Embrapa Cerrados, na figura do Dr. Sebastião Pedro, e o seu quadro de eficientes técnicos para levarmos o trigo para Roraima. No nosso estado, a Embrapa é coordenada pelo Superintendente Pesquisador Dr. Edvan, que, juntamente com sua equipe, tem desenvolvido um belo trabalho à frente dessa instituição. Algo antes impensável começava a tomar corpo com os experimentos que estamos fazendo no estado mais setentrional do Brasil, o meu Estado de Roraima.

    O Brasil produz atualmente algo em torno de 7 milhões de toneladas de trigo, mas consome o dobro disso. Por isso, somos um dos maiores importadores de trigo do mundo e dependentes dos produtores mundiais para nos alimentar. A China, por exemplo, produz vinte vezes mais trigo do que nós; a Rússia, dez vezes mais; e a Ucrânia, quatro vezes mais, o que deverá ser reduzido drasticamente em função dessa crise no Leste Europeu. Ocupamos um distante 16º lugar na produção mundial do trigo.

    Graças à Embrapa, essa realidade está mudando: novas variedades de trigo foram desenvolvidas e adaptadas para o cultivo de áreas em que até há bem pouco tal plantio não era sequer cogitado. Hoje em dia, além das variedades tradicionais para as regiões mais frias, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, já desenvolvemos a biotecnologia necessária para o plantio de trigo nas áreas mais quentes e secas do nosso Cerrado.

    Roraima é um Estado singular. A maior parte do seu território fica no Hemisfério Norte, acima da Linha do Equador. Temos quase 2 mil quilômetros de fronteiras internacionais com a Guiana e com a Venezuela e contamos com centenas de milhares de hectares de Savanas – o Cerrado roraimense –, a que chamamos de Lavrado.

    Fruto de uma iniciativa minha, desde o final do ano passado, a unidade da Embrapa em Roraima, em conjunto com a Embrapa Cerrado, sediada em Brasília, e a Embrapa Trigo, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, estruturou uma rede de pesquisa para encontrar uma melhor solução para o cultivo de trigo em nosso estado. Essa experiência tem meu apoio e incentivo, acompanho-a de perto e aloquei recursos em emendas parlamentares do Orçamento para atender à Embrapa no desenvolvimento dessa pesquisa.

    Graças às pesquisas que estamos fazendo em Roraima, vamos transformar o Lavrado de Roraima, com seus quase dois milhões de hectares, em um grande produtor de trigo, para levar o pão para a população do Norte e para a população do Brasil. "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.", dizia Fernando Pessoa. Deus quer, o homem sonha e a Embrapa torna realidade.

    Peço aos senhores para pensar no significado desta ação da Embrapa, neste momento em que a fome aumenta em todo o mundo, em função dos graves eventos negativos por que estamos passando. A Embrapa dá esse passo fundamental para alimentar a nossa população.

    É difícil mencionar a importância da Embrapa para Roraima. Na década de 1980, quando sua primeira unidade foi inaugurada por lá, sob o comando de pioneiros como os Drs. Erci de Morais, Oscar Nogueira e Daniel Gianluppi, mal produzíamos carne de boi e farinha de mandioca – todo o resto era importado. Hoje, graças ao empenho dos pesquisadores e técnicos agrícolas da empresa, já temos: soja, milho, feijão e arroz adaptados à região. A nossa agricultura familiar é cada vez mais forte na produção de: cacau, açaí, castanha-do-brasil, banana, cupuaçu, graviola, maracujá, café, urucum, guaraná, pimenta-do-reino, citrus, leite, mandioca, cana-de-açúcar e tucumã, entre outros produtos, fruto das pesquisas realizadas por essa importante instituição brasileira.

    Hoje, devido ao trabalho dedicado da Embrapa, aos investimentos feitos em ciência, à atuação em rede das instituições, ao empreendedorismo do agricultor brasileiro e à adoção de boas práticas no campo, temos uma variedade de opções de consumo com grande redução dos custos com alimentos e nas exportações.

    O Brasil é hoje referência em ciência, tecnologia e inovação para a agricultura e um dos maiores produtores de alimento do mundo, capaz de exportar para cerca de cento e setenta países. Posso afirmar com tranquilidade que somos hoje o celeiro do mundo e ainda muito se espera dos campos brasileiros.

    Como fruto do trabalho da Embrapa, conseguimos dobrar a produção de café nos últimos 20 anos; aumentar em mais de 500% a produção de grãos, com o aumento de apenas duas vezes na área plantada; aumentar em 7 vezes a produção de leite, em 60 vezes a produção de carne de frango, em 100% o rebanho bovino, com diminuição relativa da área de pastagem, em 140% a produtividade do setor florestal, em 240% a produção de trigo e milho e em 315% a produção de arroz.

    Os brasileiros e brasileiras mais jovens, que nasceram no Brasil – um país que ano após ano é destaque mundial na produção de alimentos; que alimenta praticamente um quinto da população mundial; cujas boas notícias costumam vir do campo, do vigor da atividade agropecuária; cuja economia depende, cada vez mais, de sucessivos superávits comerciais decorrentes da tal "âncora verde" fincada pelo homem do campo –, esses jovens, não conheceram a escassez de alimentos dos anos 60, os conflitos decorrentes e a importância do trabalho da Embrapa para a superação dessa escassez e a paz no campo. Muitas vezes, vejo jovens discursando contra a expansão agrícola, com quepstões ambientais, ecológicas, enfim, contra a produção de fertilizantes e o uso de agrotóxicos. Eles hoje estão neste mundo porque seus pais puderam se alimentar em decorrência dos avanços que fizemos nos últimos 50 anos. Esses jovens, muitas vezes, desconhecem o Brasil em que cresceram seus pais e seus avós.

    Isso é apenas, minha gente, para uma reflexão.

    Meus amigos, falar do sucesso da Embrapa sem mencionar Alysson Paolinelli, assim como os Presidentes Irineu Cabral e Eliseu Alves, entre outros, que merecem o nosso respeito e a nossa lembrança...

    Esse brasileiro Alysson Paolinelli, com cuja amizade eu tenho o prazer de conviver por mais de 30 anos, foi Ministro da Agricultura de 1974 a 1979, no alvorecer da Embrapa. Falar na agricultura sem se referir a Alysson Paolinelli é como ir a Roma e não ver o papa. Paolinelli modernizou a Embrapa, incentivou a pesquisa, a ciência e a tecnologia na área agrícola. Posso afirmar, com tranquilidade, que a história de Alysson Paolinelli, que promoveu a grande Revolução Verde no Brasil, se confunde com o sucesso dessa instituição relevante do nosso país.

    Por esse motivo, requeri e presidi sessão especial aqui, neste Senado, que homenageou o Dr. Paolinelli, indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2021 por suas consideráveis lutas e contribuições para a promoção da Revolução Verde no Brasil, que resultaram no aumento da segurança alimentar de nosso país e do mundo e reduziram conflitos no campo.

    Como engenheiro agrônomo que sou e militante na área, produtor rural, minha história se confunde, guardadas as devidas proporções, com a história dessa instituição. O sucesso da empresa faz parte da nossa vida.

    Parabéns à nossa gloriosa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que completa 49 anos com tantas façanhas em seu invejável currículo! Mais do que parabéns, o meu muito obrigado por tudo o que fizeram e, com a graça de Deus, ainda farão por nós e pelo Brasil.

    O aniversário da Embrapa é um presente para todos nós brasileiros!

    Novos desafios, Presidente Moretti, nos esperam. Ainda precisamos realizar a inclusão produtiva e reduzir as desigualdades no campo, precisamos nos antecipar às mudanças climáticas já em curso, precisamos tornar nossa produção agropecuária cada vez mais verde e sustentável e não podemos descansar enquanto houver brasileiros com a panela vazia e sem comida na mesa. E lá já são mais de 15 milhões de brasileiros!

    Também não podemos descansar enquanto o Governo não alocar os recursos devidos para a Embrapa. A Embrapa precisa contratar pesquisadores, ampliando o seu quadro funcional, e também recursos para ampliar as suas pesquisas.

    Se formos capazes de olhar para o futuro, para os próximos 50 anos, com a mesma clarividência e a mesma coragem que tiveram os nossos compatriotas na década de 70, como fez Alysson Paolinelli e tantos outros, conseguiremos antever e estimular novas revoluções verdes – revoluções que serão absolutamente necessárias para alimentar o Brasil e o mundo e que só conseguiremos realizar preservando a excelência científica e a capacidade técnica da Embrapa.

    A propósito, ontem nós tivemos uma reunião da FPA, presidida pelo nosso Presidente Rodrigo Pacheco, que tratou de três temas extremamente relevantes e atuais, fundamentais para o desenvolvimento da economia brasileira partindo do campo, que é de conhecimento de todos vocês: o primeiro foi sobre o projeto de regularização fundiária; o segundo, de licenciamento ambiental; e o terceiro, o projeto dos pesticidas.

    O Presidente se comprometeu em acelerar a aprovação desses projetos aqui nesta Casa para que nós possamos expandir a nossa atividade. Não adianta nós termos pesquisas no nível da Embrapa e não podermos, na verdade, quebrar essas resistências nessas três áreas a que me referi e precisamos também de um plano estratégico de segurança alimentar, porque nós sabemos, na verdade, que é importante para a vida brasileira. Nós estamos vivendo, como já falei anteriormente, uma situação difícil, com mais de 15 milhões de brasileiros com problemas de déficit alimentar.

    Então, Sr. Presidente, meu caro Senador Elmano Férrer, que preside esta sessão, o nosso querido "velhinho trabalhador", eu gostaria de dizer a V. Exa. – que, na verdade, é uma das expressões da Embrapa e cuja história se confunde também com a da Embrapa – que foi muito importante, foi em bom momento a convocação desta sessão e até sugeriria que todos os anos essa sessão realmente fosse realizada para mostrar cada vez mais a importância da Embrapa e afastar o fantasma dessa privatização que alguns falam, talvez por outros interesses que não os do Brasil, nem dos brasileiros.

    Portanto, parabéns a todos vocês, principalmente aos servidores, aos técnicos, aos cientistas da Embrapa porque, na verdade, vocês, nesse século passado e neste próximo século, haverão de dar muito orgulho ainda ao nosso Brasil.

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2022 - Página 15