Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à criação de CPI para investigar os institutos de pesquisa eleitoral.

Autor
Vanderlan Cardoso (PSD - Partido Social Democrático/GO)
Nome completo: Vanderlan Vieira Cardoso
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Eleições e Partidos Políticos:
  • Apoio à criação de CPI para investigar os institutos de pesquisa eleitoral.
Aparteantes
Jorge Kajuru.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2022 - Página 32
Assunto
Outros > Eleições e Partidos Políticos
Indexação
  • DEFESA, INSTAURAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, INSTITUTO, PESQUISA ELEITORAL.

    O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - GO. Para discursar.) – Obrigado, Sr. Presidente,

    Senadoras e Senadores, Sr. Presidente, no último dia 2 de outubro o brasileiro, mais uma vez, foi às urnas para exercer o seu direito de cidadão e escolher os seus representantes para a Presidência da República, para o Senado, para a Câmara dos Deputados e para as Assembleias Legislativas. Foi como deve ser, um momento de festa da democracia.

    Porém, Sr. Presidente, é preciso falar do grande marco dessas eleições, que não foi a vitória de um ou de outro e, sim, um fato que vem ocorrendo, com frequência, a cada ano eleitoral, e que, em 2022, se tornou muito mais evidente.

    Estou falando, Sr. Presidente, dos erros de diversos institutos de pesquisa, tanto de pequeno como de grande porte e renome, na divulgação de suas pesquisas eleitorais. Os resultados errados foram tantos que arrisco citar aqui o professor Joseph Campbell que, ao ser entrevistado pela BBC News Brasil, falou que não é exagero dizer que o mercado das pesquisas eleitorais está passando por uma crise. Vimos nessas eleições grandes institutos como o Ipec, antigo Ibope, e o Datafolha, entre outros, apresentando pesquisas muito fora da realidade.

    Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, todos aqui sabem que eu gosto de números e gosto, especialmente, porque eles nos dão uma visão clara e real dos fatos.

    Na disputa presidencial a pesquisa do Ipec, por exemplo, colocou um dos candidatos à Presidente como eleito já no primeiro turno, com 51% dos votos, e apenas 37% para o concorrente. Uma diferença, Sr. Presidente, de 14 pontos percentuais, e, se considerada a margem de erro de dois pontos, poderíamos chegar em uma diferença de até 18 pontos entre os dois candidatos.

    Já o Datafolha colocou esse mesmo candidato com 50% das intenções de voto e o concorrente, novamente, bem distante, com apenas 36%. Isso significa que os institutos de pesquisa erraram a orientação de voto de mais de 16 milhões de eleitores, ou uma diferença de 14 pontos percentuais. Outro instituto, o Ipespe apontou que o candidato que liderava a pesquisa teria 49% dos votos dos brasileiros; e o concorrente, apenas 35%. Novamente, 14 pontos entre os dois.

    Todas essas pesquisas, embora tendo mudado o número de votos dos candidatos, dentro da margem de erro, cravaram a mesma diferença entre eles, ou seja, 14 pontos de diferença entre um e outro. Porém, finalizada a votação no domingo, todos nós comprovamos que a diferença entre os dois candidatos ao cargo de Presidente da República foi de apenas 5 pontos percentuais.

    Saindo da esfera federal, Senador, podemos citar aqui alguns casos no âmbito estadual também.

    No meu Estado de Goiás, por exemplo, a pesquisa Ipec para o Senado Federal foi divulgada um dia antes das eleições, mostrando o então candidato, hoje Senador eleito da República, Wilder Morais em quarto lugar, com apenas 12%, Senador Kajuru, dos votos válidos, sendo que o primeiro colocado nas pesquisas atingiria o patamar de 31%, quase 200% de diferença de um para o outro! Um dia depois – milagre, milagre! –, um dia depois, quando saiu o resultado, contrariando as pesquisas, com um erro de mais de 200%, Wilder Morais foi o campeão desta eleição. Em momento algum, os institutos falavam em reviravolta. Na última pesquisa Ipec para a corrida ao Senado, o nosso candidato Wilder Morais iria amargar a quarta colocação com 12% das intenções de voto – como aconteceu, Senador Kajuru, na eleição de 2018, com V. Exa. –, sendo que o primeiro colocado nas pesquisas atingiria o patamar de 31% das intenções de voto, um erro que poderia ser fatal para o Senador eleito Wilder Morais naquele momento, pois muitos eleitores deixam de votar em algum candidato, porque não querem supostamente perder o voto.

    Em São Paulo, também teve erro. O Datafolha apontava a vitória para Fernando Haddad com 39%, e o Tarcísio, com apenas 31%. Quando saiu o resultado, milagrosamente, no dia seguinte a essa pesquisa, Tarcísio estava em primeiro lugar, com 42%, e o segundo, com 35%. Tarcísio teve, Sr. Presidente, 11 pontos a mais do que apontou a pesquisa, ou seja, 25% do total de votos recebidos – em números, são 2,5 milhões de votos. Também em São Paulo, as pesquisas apontaram que Marcos Pontes, nosso astronauta, iria perder a eleição para Márcio França. Quando abriram as urnas, Marcos Pontes...

(Soa a campainha.)

    O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - GO) – ... tinha sido eleito com quase 20% a mais do que o concorrente.

    No Rio de Janeiro, um dia antes das eleições, as pesquisas Datafolha mostravam segundo turno naquelas eleições. No dia seguinte, com o fim das apurações, o Governador foi reeleito com quase 60% dos votos válidos, uma diferença exorbitante.

    E esses equívocos, Sr. Presidente, não aconteceram apenas nessa eleição. Eu costumo dizer que tenho pós-graduação, doutorado, mestrado em pesquisa eleitoral, porque eu venho ao longo dessas últimas eleições sofrendo muito com essas pesquisas. Foram várias as eleições em que fui vítima desses erros. A última aconteceu quando fui candidato a Prefeito de Goiânia, agora, em 2020. Sofri o que muitos candidatos sofreram nesse primeiro turno – a incapacidade, a irresponsabilidade e a truculência dos institutos de pesquisa ao colocarem goela abaixo a vontade própria e não a do eleitor.

    Um dia antes da eleição, o Ibope apontava – isso em 2020 – que eu estava 18 pontos atrás. Isso foi um dia antes, à noite, no Jornal Nacional. Olhe o impacto que isso dá no eleitor, Senador Girão! Eu estava com 18 pontos atrás do meu concorrente. No outro dia, a diferença não chegou a 5%. Se não houvesse essa indução, como é que seria o resultado daquelas eleições? Goiânia, hoje, com certeza, sob a nossa administração, Senador Izalci, não estaria aquele caos em que hoje está a nossa capital goiana.

    É claro que não vamos generalizar. Conheço e acompanho o trabalho de institutos sérios, que acertam resultados e que não apresentam números tão fora da realidade. Assim, não busco aqui meios de coibir as pesquisas eleitorais – sempre lutei e lutarei pela liberdade de expressão – e, sim, dialogar com mais profundidade sobre a necessidade de se conhecerem as circunstâncias em que elas são produzidas.

    Essas eleições, Sr. Presidente, foram marcadas por esses erros graves, e os considero graves, porque todos sabemos que as pesquisas eleitorais costumam induzir os eleitores ao voto e influenciam diretamente no resultado das eleições.

    E é por essa exposição de motivos, Sr. Presidente, que assinei a CPI sobre os institutos de pesquisa. Sou a favor que se promova uma investigação séria e profunda sobre a atuação dessas empresas e para quem elas trabalham.

    Essas, Sr. Presidente, eram as minhas considerações.

    Obrigado pela oportunidade...

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO) – Um aparte, Senador Vanderlan?

    O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - GO) – Pois não, Senador Kajuru.

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO. Para apartear.) – Muito obrigado.

    Primeiro, nós dois, Vanderlan, sabemos e fomos vítimas de pesquisas eleitorais em Goiás.

    Aqui, ao nosso lado está o nosso amigo Girão. Se fosse pesquisa um dado científico inquestionável, insofismável, o Girão não estaria aqui hoje.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE. Fora do microfone.) – Houve 20% de diferença.

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO) – Houve 20% de diferença. Estaria aquele idiota do Eunício.

    Eu penso o seguinte: quando a gente erra, a gente volta atrás, você não pode ter compromisso com o erro. Você sabe disso, eu já errei com você várias vezes, já lhe pedi desculpas, porque você está tendo uma coragem rara. Normalmente, político não entra em assunto de pesquisa, porque ele fala: "Amanhã eu serei a vítima".

    Eu só queria que você pensasse e refletisse sobre um instituto: o Datafolha.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO) – Eu trabalhei na Folha de S.Paulo, fui colunista da Folha de S.Paulo, e a Folha é um grupo sério. Pesquisa Datafolha não se vende, ela pode errar!

    No que tange ao Bolsonaro, o Datafolha colocou o Lula com 50 pontos, o Lula teve 48, portanto, está na margem de erro – dois.

    E uma outra coisa, Girão, que nós poderíamos refletir aqui é o seguinte. A pesquisa Ipec, Vanderlan... E eu não tenho nenhum respeito por ela, ela é o antigo Ibope, quem manda nela é a filha do Montenegro, eu conheço o Ibope, eu conheço, inclusive, o seu preço. Eu não estou falando do Ipec, estou falando do Datafolha. Quando o Datafolha mostrou que o Presidente Bolsonaro estava atrás de Lula 14 pontos, não era mentira da pesquisa, não. Sabe por quê? Porque foi antes dos dois debates.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO) – O que subiu o Bolsonaro e fez com que ele terminasse com uma diferença só de cinco pontos foi o seu trabalho nos debates. Eu não sou Lula, não sou Bolsonaro, não sou nada, sou Jorge Kajuru. O que aconteceu foi literalmente o quê? O Bolsonaro deu um banho no Lula nos dois últimos debates. O Lula foi mal nos dois últimos debates, petistas reconhecem isso, petistas que são amigos meus. E foi aí que houve o crescimento dele. Então, aí a culpa não é da pesquisa.

    Agora, só para concluir, eu não estou defendendo pesquisa, concordo com 99% do que você falou. Eu só penso – e sei que você concorda – que nós aqui, Presidente Izalci, temos, urgentemente, que entrar nessa CPI sobre as pesquisas eleitorais e discutir o projeto que eu tenho aí no qual eu coloco que pesquisa eleitoral não pode ser divulgada 45 dias antes da eleição...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - GO) – ... porque ela aliena as pessoas.

    O que aconteceu com você, um dia antes do Jornal Nacional, é um estrago que não tem jeito. Então, isso aliena as pessoas mesmo, porque, infelizmente, tem brasileiro que vota como em corrida de cavalo: ele vota em quem está à frente nas pesquisas. Então, essa é a realidade.

    O Girão tem um projeto de 30 dias antes, o meu é de 45 dias antes. Então, é por aí.

    O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - GO) – E eu apoio os dois projetos, apoio os dois projetos.

    Só uma observação, Senador Kajuru, com relação ao Datafolha. Quando se coloca um candidato com 48 e o outro com 35, induz-se o eleitor a dizer: "Esse não tem condições, não tem chance". E, como eu disse aqui, Senador, eu fiz mestrado, doutorado em tudo quanto é tipo de instituto de pesquisa, porque, ao longo das minhas eleições... Foram duas eleições para Governador do estado, duas eleições para Prefeito de Goiânia e, agora, para o Senado. Então, sei o modus operandi...

(Soa a campainha.)

    O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - GO) – ... de alguns institutos de pesquisa. Então, quando se vê um número como esse...

    Nós tivemos, agora, duas pesquisas divulgadas. Eu não entro em questão aqui... Tenho o meu candidato, defendo e tenho respeito por todos os candidatos – todos –, todos eles. Trabalhei, quando fui Prefeito, com o Governo do PT, o Presidente era o Lula. Tenho o maior respeito. Vocês nunca viram aqui o Senador Vanderlan falar desse ou daquele de forma alguma. Se tiver algum problema, que resolva... Agora, dois institutos divulgaram pesquisa, e a discrepância de um para o outro é muito grande para uma eleição polarizada como está esta: uma dá empate técnico; a outra dá oito pontos à frente, dez pontos, se eu não me engano, de votos válidos.

    Esta questão tem que ser discutida: o que é que nós vamos fazer ou proibir, como é o projeto de V. Exa., 45 dias antes, para deixar o eleitor à vontade para decidir em quem que ele vai votar...

(Soa a campainha.)

    O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - GO) – ... para não ser induzido por instituto de pesquisa! É muito doído – e eu senti isso na pele, muitas vezes – você ter os números reais, saber que o número não é esse que estão divulgando, mas você não tem o poder que uma Rede Globo tem de colocar um dia antes – nem um dia antes, 12 horas antes – no Jornal Nacional a pesquisa que dá uma discrepância de 200% do resultado do outro dia! Então, isso é muito doído! Então, nós temos que tomar providência, sim, com relação aos institutos de pesquisa.

    Girão, eu sinto muito por o Ministro Alexandre de Moraes, do TSE, ter proibido a divulgação do Ministro fazendo o pronunciamento com relação à poliomielite e não tomou providência nenhuma com relação aos institutos de pesquisa!

    E aqui eu não estou falando desse ou daquele, minha função não é essa. Eu estou só dizendo das barbaridades dos institutos de pesquisa no nosso país...

(Soa a campainha.)

    O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - GO) – Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2022 - Página 32