Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Defesa da autonomia do Banco Central. Censura ao Governo do PT devido às críticas à instituição e ao seu Presidente. Comentários acerca da independência do Banco Central, destacando mitos que giram em torno da questão. Apoio ao Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Administração Pública Indireta, Economia e Desenvolvimento, Governo Federal:
  • Defesa da autonomia do Banco Central. Censura ao Governo do PT devido às críticas à instituição e ao seu Presidente. Comentários acerca da independência do Banco Central, destacando mitos que giram em torno da questão. Apoio ao Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 24/03/2023 - Página 29
Assuntos
Administração Pública > Organização Administrativa > Administração Pública Indireta
Economia e Desenvolvimento
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Indexação
  • DEFESA, AUTONOMIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), CRITICA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECLAMAÇÃO, TAXA, JUROS, AUTARQUIA FEDERAL, APOIO, ROBERTO CAMPOS NETO, PRESIDENTE, COMENTARIO, CONSELHO MONETARIO NACIONAL (CMN).

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras e Srs. Senadores, o meu discurso não tem nada a ver com o discurso do meu amigo Senador Paim.

    Já havia escolhido esse tema, a autonomia do Banco Central, porque amanheci feliz, muito alegre por ver as críticas que o PT faz em relação à autonomia do Banco Central. Eu sou daqueles que, quanto mais o PT critica, mais alegre fica por ter a certeza de que esta lei veio para ficar.

    O meu amigo Senador Paim citou o Mantega, criticando isso, e eu gostaria – e nada a ver com o discurso – de citar também quem é a favor. Cito dois ex-Presidentes do Banco Central.

    O primeiro deles, Henrique Meirelles, abro aspas:

[...] é um dos mais importantes avanços institucionais dos últimos anos. Alinha o Brasil às economias mais relevantes do mundo e contribui para gerar estabilidade, maior confiança na nossa economia e atrair investimentos.

A autonomia agora expressa em lei garante que o Brasil continuará a ter um Banco Central técnico, focado em sua missão constitucional e livre de qualquer influência externa. [Fecho aspas. Henrique Meirelles, ex-Presidente do Banco Central.]

    Abro aspas:

A independência do Banco Central não é fazer o que dá na telha, é ter autonomia para perseguir metas dadas pelo Governo. Este é um modelo vitorioso pelo mundo, sem prejuízos.

O desenho de um BC independente vem como resposta à necessidade de conduzir políticas econômicas com visão de longo prazo. O Banco Central tem espaço para suavizar as flutuações do PIB e desemprego, mantendo olho firme no objetivo de longo prazo. [Fecho aspas. Armínio Fraga, ex-Presidente do Banco Central nas entrevistas que dá.]

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senado Plínio Valério, me permite só um esclarecimento.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – Deixe-me só citar o outro? Só mais um: Maílson da Nóbrega.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – O.k.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – Só mais um.

Boas regras são essenciais para a prosperidade e para a redução das desigualdades e da pobreza. A independência dos bancos centrais tornou-se imprescindível nos últimos [...] anos e consagrada há pelo menos três décadas. O PT e Lula ainda não perceberam essa realidade. [Maílson da Nóbrega, ex-Ministro da Economia do Brasil.]

    Portanto, eu ouço com prazer e lhe digo, Paim, que eu não estou respondendo ao seu discurso, eu já tinha escolhido o tema.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Não, eu entendi. Eu só falo... Querido amigo Senador Plínio Valério, V. Exa. sabe o carinho e o respeito que eu tenho por V. Exa. Em nenhum momento na tribuna – eu quero deixar claro –, eu questionei a autonomia e a independência do Banco Central.

    Eu apenas disse – resgatando uma frase de ontem do ex-Ministro Mantega – que nos Estados Unidos – dei um exemplo e V. Exa., claro, tem todo o direito de dar outro exemplo –, quando muda o governo, pode-se, se assim entender – e ainda falava a ele, porque eu não falei aí –, no primeiro ano, indicar um outro Presidente do banco. Mas, em nenhum momento, eu questionei os seus argumentos, inclusive muitos sólidos, em relação à autonomia do Banco Central.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – E eu repito, Senador Paim, que isso aqui não é rebatendo o seu discurso, de forma alguma.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu sei. Eu entendi. Eu só fiz um esclarecimento, respeitando, claro, a defesa de V. Exa.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – E o seu aparte sempre será acolhido com muito prazer, porque engrandece sempre todo e qualquer discurso, não só o meu.

    Nós elaboramos uma cartilha explicando direitinho o que é a lei de autonomia do Banco Central, que foi gerada aqui no Senado, que é de todos nós. Eu fui apenas o iniciante, mas a lei foi gerada pelos Senadores. Então me permitam, no tempo que eu tenho, citar alguma coisa e tirar dúvidas, principalmente sobre mitos que giram em torno da autonomia do Banco Central.

    Os benefícios da lei.

    Estabilidade dos preços – todos nós queremos juros baixos. Quem não quer? Qual é o maluco que não quer juros baixos? Todos nós queremos, mas não pode ser com irresponsabilidade.

    Não tem ingerência política. E aí, sim, eu vejo a grande vantagem nisso. Não tem. Então vamos lá.

    Com a autonomia do Banco Central, ele estará entregue aos banqueiros. Mito. O BC tem corpo de funcionários próprio, com atuação de Estado.

    Fará disparar os juros. Mito. É justamente ao contrário. Com a autonomia, há menos pressão sobre os juros.

    Será intocável. Mito. A lei prevê casos em que o dirigente é retirado do BC, inclusive por mau desempenho.

    Irá ignorar o crescimento. Mito. A atividade econômica sempre faz parte do balanço de risco do BC.

    Acumulará responsabilidades demais. Mito também. Embora tratadas separadamente, concentrar as políticas monetária, cambial e de supervisão na mesma instituição só facilita o trabalho.

    Não contribuirá para o crescimento. Mito. A melhor contribuição que o BC pode dar para o crescimento é manter a inflação baixa e estável. E por aí afora.

    A gente fez isso para mostrar...

    Olha só a opinião em editorial do Estadão: "Além de controlar a inflação, [...] [Banco Central] precisa zelar pela estabilidade da economia e usar seu poder de comunicação para gerenciar as expectativas do mercado, seja qual for o governo".

    "BC ganha autonomia e acumula marcos históricos em 5 décadas de atuação."

    No primeiro balanço feito pelo Banco Central em 2021, já autônomo, ele apresentou lucro de R$800,9 bilhões, repassado, naturalmente, ao Tesouro Nacional.

    Então, como primeiro autor da lei de autonomia do Banco Central, cabe a mim, sempre que vir uma crítica contundente e sem noção... Porque não é o Presidente do Banco Central, Roberto Campos, que traça a política; quem traça a política é o Conselho Monetário Nacional. Portanto, o alvo está sendo errado. E, se o Presidente Lula quiser exonerar o Roberto Campos, que encontre motivos, mas envie para o Senado, porque é aqui nesta Casa, que é a última instância, que nós podemos julgar se procede ou não esse tipo de pedido, esse tipo de atitude.

    Senhores, eu quero falar também com os brasileiros e brasileiras. A gente fica nessa discussão de autonomia do Banco Central, se presta ou não presta, e Roberto Campos escalado para ser o bode expiatório. Vão dizer, daqui a uns dias, que Roberto Campos é culpado por o pobre não receber picanha; vão dizer que Roberto Campos é culpado por o Imposto de Renda não ter sido liberado para quem ganha até R$5 mil por mês. Vão dizer todas as desculpas e encontrar um culpado para aquelas promessas não cumpridas, que deveriam ser assumidas, porque em campanha se extrapola. É dizer "não pode ser cumprida", e não querer encontrar um bode expiatório. E esse bode expiatório que foi escalado é realmente Roberto Campos.

    A espinha dorsal, o teor da lei é exatamente este: não permitir ingerência política. O Presidente Lula vai poder nomear um novo Presidente do Banco Central só no primeiro dia útil do seu terceiro ano de mandato. Aí, vai poder escolher e mandar para que o Senado avalize. Antes disso, pode começar a escolher dois outros diretores, que vai ter agora, diretores de setores. Portanto, não é uma lei que deva ser revogada e deva ser combatida.

    O PT está querendo isso e escalou... Tem até protesto nas ruas – tem até protesto nas ruas! – em cima do Roberto Campos. Alvo errado. Alvo totalmente errado. O Senado, quando aprovou essa lei, fez história. É um grande avanço institucional. Foi um grande avanço para o Senado. Um assunto que era discutido aqui há 39 anos e que não ia para frente.

    Portanto, eu devo encerrar o meu discurso como comecei: feliz da vida, alegre, ao amanhecer e deparar tantas críticas do PT ao Banco Central. Isso só me dá alegria como autor da lei. E dúvidas eu não tinha, mas, se as tivesse, agora eu passaria a ter certeza de que nós fizemos a coisa certa.

    Imagina só o PT tomando conta do Banco Central, do BNDES e da Petrobras! Aí o verão passado que nós vimos seria repetido, porque eu sei, eu não esqueci o que o PT fez no verão passado.

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/03/2023 - Página 29