Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Satisfação pelas felicitações recebidas devido à comemoração dos 17 anos da Missão Centenário. Breve histórico da carreira profissional de S. Exa. até a participação na Missão Centenário, em 29 de março de 2006. Regozijo por ser o primeiro brasileiro a participar de uma missão espacial viajando ao espaço. Incentivo aos jovens brasileiros a seguirem seus sonhos por meio dos estudos, do trabalho e da determinação.

Autor
Astronauta Marcos Pontes (PL - Partido Liberal/SP)
Nome completo: Marcos Cesar Pontes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Ciência, Tecnologia e Informática, Homenagem:
  • Satisfação pelas felicitações recebidas devido à comemoração dos 17 anos da Missão Centenário. Breve histórico da carreira profissional de S. Exa. até a participação na Missão Centenário, em 29 de março de 2006. Regozijo por ser o primeiro brasileiro a participar de uma missão espacial viajando ao espaço. Incentivo aos jovens brasileiros a seguirem seus sonhos por meio dos estudos, do trabalho e da determinação.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2023 - Página 27
Assuntos
Economia e Desenvolvimento > Ciência, Tecnologia e Informática
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • AGRADECIMENTO, HOMENAGEM, SENADOR, ASTRONAUTA, MISSÃO, ATIVIDADE ESPACIAL, HISTORIA, VIDA.

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senadores, Senadoras, brasileiros que estão nos acompanhando, ouvindo e assistindo através da TV Senado, hoje, eu subo à tribuna para agradecer. Agradeço, primeiro, as suas palavras, agradeço as palavras dos nossos amigos aqui e agradeço as milhares de mensagens que eu tenho recebido hoje, dia 29 de março de 2023, a respeito da comemoração dos 17 anos da Missão Centenário, no dia 29 de março de 2006. Eu gostaria de usar uma maneira um pouco diferente de agradecer. E deixe-me explicar o porquê.

    Nós somos constantemente bombardeados, Senador Plínio, com notícias ruins, com problemas para resolver, com dificuldades do país e com tantas coisas que muitas vezes desanimam as pessoas do nosso país. A pessoa, principalmente o jovem, olha e fala: "Que futuro eu vou ter? Como eu vou conseguir ter sucesso neste país?". Eu vim aqui, então, para falar um pouco dessa história de vida, que foi falada ali antes, e de alguns dos pontos importantes com o objetivo de, quem sabe, trazer um pouco de inspiração, de motivação para as pessoas que nos acompanham agora e para esses jovens que me ouvem, para dizer que é possível realizar seus sonhos, que é possível, apesar das dificuldades iniciais, apesar do que todo mundo fala, apesar das dificuldades que nós temos no país, realizar o sonho. E, juntos, a gente pode construir este país aqui para ser o melhor país do planeta Terra. Com certeza, a gente tem tudo aqui para ser isso aí.

    Eu começo lá em Bauru. Então, vamos lá para Bauru – deixe-me olhar o meu tempo aqui –, para a época em que eu comecei a trabalhar com 14 anos na Rede Ferroviária Federal como eletricista aprendiz. Eu tinha o sonho de voar e falava para os meus amigos que eu queria voar, que eu queria ser piloto. Eles olhavam pra mim e diziam assim: "Você? Ser piloto? Caia na real, rapaz! Isso é coisa pra filho de rico, você nunca vai conseguir, você vai ficar frustrado". Eu cheguei à minha casa naquele dia, chateado, minha mãe chegou do trabalho – D. Zuleika, com seus olhos azuis e brava pra chuchu – e perguntou: "O que foi?". Falei: "Nada". E ela: "Fala logo o que foi!". "Falei para os meus amigos que eu quero ser piloto e eles falaram que é impossível. Acho que eles têm razão; pense bem, como é que eu vou conseguir passar no vestibular da Academia da Força Aérea?" Ela falou: "Para! Para! Preste atenção! Eles têm a vida deles, eles fazem o que eles quiserem com a vida deles. Você tem a sua vida. E eu digo mais, você pode ser tudo o que você quiser na vida desde que você estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você". E ela estava correta, ela estava plenamente correta.

    Eu estudei, passei na Academia da Força Aérea, no vestibular, me tornei piloto, depois piloto de caça, depois engenheiro aeronáutico lá no ITA, piloto de testes de aviões, fui fazer mestrado, doutorado. Aí o Brasil entrou no programa da Estação Espacial Internacional, e a Nasa tem seleção a cada dois anos, seleção pública. Eu vi que teria, me inscrevi na seleção e acabei sendo selecionado pela Nasa. E, a partir dali, então, eu saí lá do doutorado em Monterey, na Califórnia, e fui para Houston, no Texas, para começar o curso de astronauta, dois anos.

    Eu esperava voar em 2001, não aconteceu. Em 2002, também não. Em 2003, eu perdi sete amigos na Columbia, e todos os voos ficaram parados, sem chance de voar. Em 2005, me ligaram e falaram que eu iria voar no ano seguinte. "Como? Não tem espaçonave!", falei. "Não, você vai voar com os russos." Eu fui um dos primeiros do lado americano a ir voar com os russos. Houve todas as dificuldades, aprender a língua, aprender tudo o que eu tinha que aprender em cinco meses para realizar a missão...

    E o fato é que, no dia 29 de março de 2006, eu estava sentado lá no topo desse foguete Soyuz, com 200 toneladas de combustível, esperando pra decolar, com uma bandeira do Brasil no braço e uma bandeira do Brasil embaixo do painel.

    E o pessoal pergunta pra mim: "Dá medo?". É lógico que dá medo, você não é doido, você sabe do risco que você corre! Você tem que sentir medo, medo é uma emoção natural do ser humano. O problema não é você ter medo – e como as pessoas sentem esse medo agora no Brasil! –, o problema é o que você vai fazer com esse medo, o que você vai fazer a respeito desse medo.

    Eu sou coach também, eu já trabalhei com muita gente que tem capacidade gigantesca de fazer muita coisa na vida, mas, por causa do medo, medo de errar, medo do que as pessoas vão falar, vão pensar, medo de falhar, as pessoas se encolhem, e a vida vai passando. Aí, quando ficam com o cabelo branco como eu, com 60 anos, olham pra trás e falam assim: "Vem cá, o que você fez?". "Nada, eu fiquei com medo, eu deixei o medo me vencer." Então, a palavra que eu tenho para os jovens, para as pessoas que estão nos assistindo agora, de qualquer idade, é: "Não deixe o medo vencê-lo, acredite no seu sonho, trabalhe!".

    Sabem qual é a diferença que existe entre as pessoas que vão na vida e realizam grandes coisas e aquelas pessoas que vivem sonhando, mas não conseguem fazer nada por causa do medo? A diferença é simples, é uma palavra chamada coragem, coragem pra você fazer o que você precisa fazer, na hora em que você precisa fazer, da forma que você precisa fazer. Muitas vezes, não é fácil, mas você precisa fazer aquilo de qualquer jeito. A gente tem que trazer para as futuras gerações a coragem para tomar decisões, pra fazer as coisas.

    E, a cada vez que eu tinha medo, eu passava a mão na bandeira do Brasil – eu tinha uma bandeira do Brasil no braço – e pensava: "Eu não estou indo sozinho, está todo mundo indo comigo, está todo mundo indo comigo". Aquilo me dava uma sensação muito boa. Sabem por quê? Porque essa bandeira, a nossa bandeira do Brasil, não é só uma bandeira bonita, com cores bonitas, com o desenho diferente das outras; ela representa toda nossa tradição, toda nossa cultura, toda nossa história, representa o sacrifício de muita gente para ter o país que a gente tem hoje.

    E, quando falo isso, a gente pensa: "Mas tem muitos problemas o nosso país". Sim, me aponte um país que não tenha problema. O nosso tem problemas e tem soluções, a gente pode fazer essas soluções juntas. A gente precisa juntar este país para trabalhar em conjunto, para conseguir vencer as dificuldades, utilizar tudo que a gente tem para ter sucesso, para que este país tenha sucesso.

    Cada vez que eu tinha medo, passava a mão na bandeira do Brasil e falava assim: 'Eu não estou indo sozinho, está todo mundo indo comigo". E aquilo foi muito importante naquele momento. A seis segundos da decolagem, os motores acendem. Quando eles acendem, aquele foguete vibra tanto que chega a trincar o esmalte dos dentes. Nove minutos depois, eu estava lá no espaço. Com o corte dos motores, tirei as luvas, que começaram a flutuar na minha frente, e aquele foi o momento em que eu estava realizando o meu sonho. Todo mundo tem um sonho. Eu tenho certeza de que cada um de vocês que está assistindo aí um dia vai realizar esse sonho, você nunca vai esquecer aquele momento. Aí eu soltei o cinto um pouquinho, fui olhar na janelinha do lado, vi aquele planeta azul maravilhoso.

    As pessoas perguntam: "Qual foi a primeira coisa que você sentiu quando chegou lá e olhou para a Terra, do espaço?". Sabem qual foi a primeira coisa que eu lembrei? Eu lembrei lá de trás, da D. Zuleika e dos meus amigos lá na oficina falando assim para mim: "Você nunca vai ser capaz de ser piloto, isso é coisa para filho de rico, você vai ficar frustrado". E aí, quando eu cheguei em casa, a D. Zuleika, com os olhos azuis dela, da cor da Terra, olhando para mim, falou assim: "Você pode ser tudo que você quiser na vida, desde que você estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você". E ela estava certa!

    E é isto que a gente tem que trazer aqui para esses milhares de jovens, milhões de jovens do nosso país: é possível realizar, é possível realizar tudo aquilo que você quer, depende de você, depende da atitude que você tenha.

    As pessoas olham e falam assim: "E muda quando você vai para o espaço e olha para a Terra?". Muda, você se sente insignificante. Interessante, não é? Eu fiz tudo isso para chegar aqui e provar para mim mesmo que eu sou insignificante? Sim, mas aí você começa a pensar no que é importante na vida, no final das contas. Importante na vida da gente são as pessoas. E é por isto que a gente está aqui: é para cuidar das pessoas. A gente não pode perder de vista isso... (Palmas.)

    Tantas coisas passam por aqui, tantas dificuldades passam por aqui, mas a gente tem que se lembrar daquela pessoa que está lá...

(Soa a campainha.)

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – ... no interior, como o meu pai, como a minha mãe, como a família de cada um, que tem essas dificuldades e que conta com a gente para resolver esses problemas.

    E aí, de novo com essa visão de espaço, você pode falar assim: "Você acredita em Deus?". É lógico que eu acredito em Deus e muito. "Mudou quando você foi para o espaço?" Não, aumentou. E, na verdade, aumentou da seguinte forma: eu não vejo aquele Deus que está lá em cima jogando raio em alguém que faça alguma coisa errada, não; eu vejo um que está dentro de cada um de nós, que é tudo que existiu, tudo que existe, tudo que vai existir ainda. E, quando você pensa isso, eu me lembro de uma coisa que o meu pai me falava. Ele falava assim: "Trate as outras pessoas da maneira como você quer ser tratado". E isso é importante, muito importante, porque, eu penso assim, nós somos insignificantes em relação à Terra, mas essa Terra em relação ao universo também é insignificante; agora, se essa Terra desaparecer, matematicamente, o universo com aquela Terra é diferente do universo sem aquela Terra. Se um de nós desaparecer...

(Soa a campainha.)

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – ... o universo com a pessoa é diferente do universo sem a pessoa. O que significa isso? Que a gente é parte da mesma coisa. Nós somos parte de tudo. E, se nós somos parte de tudo, se eu fizer mal para você, Senador Lucas, eu estou fazendo mal para uma parte de mim. Se eu fizer bem, eu estou fazendo bem para uma parte de mim. Então, trate as outras pessoas da maneira como você quer ser tratado. Plante coisas boas, faça coisas boas, fale coisas boas, ajude as pessoas, porque, no final, você tem isso aí tudo retornando para você, multiplicado. É uma mensagem que a gente precisa passar para as pessoas, que nós estamos aqui pensando nelas. E essa é a nossa obrigação.

    Depois, eu trabalhei como Ministro. E, agora, aqui no Senado, continua a ser a minha obrigação, a obrigação de cada um de nós, olhar por cada uma das pessoas do nosso país. E que elas tenham sucesso, conquistem seu espaço, acreditem que as dificuldades são passageiras, que é possível você vencer qualquer dificuldade para chegar lá...

(Soa a campainha.)

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – ... e realizar o seu sonho e o sonho das outras pessoas.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2023 - Página 27