Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Insatisfação pela visita do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao Brasil. Críticas ao regime político venezuelano.

Autor
Mecias de Jesus (REPUBLICANOS - REPUBLICANOS/RR)
Nome completo: Antônio Mecias Pereira de Jesus
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Relações Internacionais:
  • Insatisfação pela visita do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao Brasil. Críticas ao regime político venezuelano.
Aparteantes
Plínio Valério, Rogerio Marinho.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2023 - Página 35
Assunto
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
Indexação
  • CRITICA, PRESENÇA, BRASIL, NICOLAS MADURO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA.
  • COMENTARIO, DECADENCIA, SITUAÇÃO ECONOMICA, SITUAÇÃO POLITICA, SITUAÇÃO SOCIAL, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, NATUREZA POLITICA.

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/REPUBLICANOS - RR. Para discursar.) – Obrigado, meu estimado amigo Presidente Jorge Kajuru. É uma satisfação.

    Quero cumprimentar, também, todos os demais Senadores e Senadoras, cumprimentar todos os telespectadores da TV Senado.

    Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, eu quero deixar registrado nos Anais desta Casa o meu repúdio com a presença do ditador venezuelano Nicolás Maduro no nosso país, bem como a forma como foi recebido, com honras militares, pelo Presidente da República.

    A maioria do povo brasileiro certamente não concorda com tal distinção, em especial a população do Estado de Roraima, unidade federativa que mais sofre com a destruição progressiva que ocorre com a Venezuela.

    Roraima, Sr. Presidente, estimados Senadores e Senadoras, abriga, nos dias de hoje, quantidade incalculável de refugiados venezuelanos, que se aglomeram em suas ruas, congestionando os serviços de atendimento à saúde...

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – São 270 mil. Não é isso?

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – Hoje, em Roraima, são mais de 150 mil venezuelanos, mais de 1 milhão já passaram por nossas fronteiras.

    Congestionando os serviços de atendimento à saúde e promovendo o desmonte generalizado em todo o ordenamento social do Estado.

    Diariamente ingressam no nosso país, pela fronteira venezuelana, centenas de pessoas que fogem da fome, da violência, buscando comida, abrigo e proteção onde quer que seja possível. É um desastre total!

    Como é que os nossos militares, integrantes das forças gloriosas, nossas Forças Armadas, do Exército Brasileiro, foram submetidos a tal vexame? Bater continência para o comandante de um regime que, há quase um quarto de século, infelicita a vida de seu povo e consuma um dos maiores genocídios em nosso continente?

    Calcula-se que já saíram da Venezuela mais de 7 milhões de pessoas, desde que ali se instalou o bolivarianismo. Desse total, Sr. Presidente, caros Senadores e Senadoras, cerca de 1 milhão de refugiados entraram no Brasil pela fronteira com Roraima. Boa parte desse total vive no nosso estado. A quinta maior nação anfitriã de venezuelanos na América Latina é o Brasil.

    A Venezuela, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo, Senador Marcos do Val, encontra-se na falência. Quando Hugo Chávez assumiu o poder, em fevereiro de 1999, a Venezuela produzia mais de 3 milhões de barris de petróleo diariamente. Essa produção veio caindo paulatinamente, e o país, cuja maior riqueza é o petróleo, começou a sofrer sérios problemas em sua economia, com a aplicação de políticas desastrosas, que expulsaram os conglomerados econômicos e arruinaram qualquer perspectiva de desenvolvimento. Não foram ações ocorridas ao acaso, mas totalmente organizadas e programadas para que fossem executadas.

    Deu-se início ao processo de fechamento de meios de comunicação, Senador Astronauta. Com a morte de Hugo Chávez, em 2013, o regime passou a ser comandado pelo atual ditador, Nicolás Maduro, que deu sequência ao desmonte da Venezuela, seguindo, passo a passo, a política destrutiva que leva à desordem e ao caos.

    Caro Senador Plínio Valério, seu estado, o Amazonas, sofre junto conosco, porque é o segundo estado brasileiro a receber os refugiados venezuelanos.

    Em 2017, matéria distribuída pela France-Presse apontava que, no final daquele ano, haviam sido fechados 69 veículos de mídia e denunciava agressões sofridas por jornalistas. A lista incluía 46 emissoras de rádio, 3 emissoras de televisão e 20 jornais, tudo detalhado pelo Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa na Venezuela, em balanço efetuado anualmente.

    Todo esse processo teve início a partir do governo de Hugo Chávez, sendo sequenciado pelo ditador Maduro ao substituí-lo.

    O Sr. Rogerio Marinho (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN) – Senador Mecias, V. Exa. me permite um aparte?

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – Concedo o aparte ao nobre Senador Rogerio Marinho.

    O Sr. Rogerio Marinho (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RN. Para apartear.) – Bom, primeiro eu quero saudar V. Exa., por trazer esse tema tão importante a esta Casa, um tema que, aparentemente, estava adormecido, qual seja, o de termos um vizinho, como a Venezuela, que já causou o êxodo de quase ou de mais de 7 milhões de venezuelanos, que saíram daquele país para não passarem fome, para não sofrerem perseguições, para não serem assassinados pelo seu governo e pelo crime de dissentirem, de discordarem do governo e do regime que lá se instalou.

    Mas o mais grave, Senador Mecias – e V. Exa. discorre a respeito –, além das reiteradas ameaças feitas a jornalistas, as agressões feitas aos adversários políticos, as perseguições, a forma como as forças de segurança foram utilizadas para perseguir o próprio povo venezuelano, é o fato de que, durante a última campanha eleitoral, a nossa coligação do PL foi impedida de demonstrar a afinidade clara que existia entre o então Presidente Maduro e o ex-Presidente Chávez, o ditador nicaraguense também, o Daniel Ortega, com o atual Presidente Lula. Na época, fomos acusados, inclusive, de estarmos falseando a verdade, na hora em que trazíamos essa informação à população brasileira. Eis que ontem, finalmente, me parece que ficou claro para o conjunto da sociedade brasileira que essa relação não só é firme, como está se estreitando.

    Um país que nos deu um prejuízo de bilhões de reais, que não honrou as dívidas com os empréstimos que contraiu com o governo brasileiro, com o Estado brasileiro, e que agora volta como se nada houvesse acontecido, com o beneplácito, com o apoio do atual Presidente da República, para voltar a pleitear recursos para aquele país inadimplente.

    É um escárnio. Eu diria que é um tapa na cara da população brasileira, do pagador de impostos, e um verdadeiro deboche que é feito pelo atual mandatário contra a nação brasileira.

    E os elogios que foram feitos ao Maduro são, no mínimo, fora de contexto, alegando que aquele país, que é uma ditadura de fato, possa ter sequer alguma similaridade com uma ideia de democracia. Apenas na cabeça do Presidente Lula.

    Agradeço a V. Exa. a oportunidade.

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – Agradeço, Senador Rogerio Marinho.

    Solicito, Sr. Presidente, que o aparte do Senador Rogerio Marinho seja incluído no meu pronunciamento.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Que seja, e eu lhe dou mais três minutos, em função do aparte do Senador Rogerio Marinho, passando dos dez minutos. Pode ser?

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – Agradeço, Sr. Presidente.

    No último dia 22 de março, peritos da ONU, Organização das Nações Unidas, Senador Rogerio Marinho, alertaram que o Governo venezuelano – abro aspas – "segue perseguindo opositores políticos e sufocando protestos de líderes sindicais" – fecho aspas. Afirmaram ainda que o regime continua a fechar emissoras de TV que criticam o regime de Nicolás Maduro, um levantamento efetuado por uma missão de apuração dos fatos que assumiu a responsabilidade de analisar o país.

    Hoje, na Venezuela, contabiliza-se a existência de mais de 240 presos políticos, números certamente desacreditados por causa...

(Soa a campainha.)

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – ... das suas fontes, num regime que assassina pessoas nas ruas e persegue os opositores sem tréguas.

    As redes sociais fervilham, Senadores e Senadoras, com vídeos brutais exibindo o fuzilamento de pessoas que simplesmente ousaram contestar a forma como são conduzidas as práticas políticas e administrativas do Governo de Nicolás Maduro.

    No Twitter, na data de hoje, o jornalista Leandro Narloch – olha só, Presidente Kajuru – publicou a informação de que a juíza venezuelana María Lourdes Afiuni foi presa, torturada e estuprada, tendo sofrido aborto espontâneo por ter soltado alguns presos políticos. A juíza teve ainda o útero retirado na enfermaria do presídio onde se encontra.

    Como é que o Presidente Lula coloca os nossos militares perfilados, batendo continência para um ditador como Nicolás Maduro, que amordaça um país inteiro, mergulhando a sua população num mar de inenarráveis horrores, e que é recebido no Brasil com imerecidas honras militares?! Como ele pode fazer isso?!

    Fala-se agora, na visita do ditador Maduro, que é possível a retomada de fornecimento de energia ao Estado de Roraima por parte da Venezuela, a partir da Usina Hidrelétrica de Guri, mas que energia, se o próprio país vizinho, a Venezuela – e conheço bem a Venezuela –, vem sofrendo graves crises, com longos cortes diários no seu próprio abastecimento interno? Como vai poder ajudar o Brasil? Que Governo é este que está acreditando em um país que está falido, em um ditador que visita o Brasil e que merece honras?!

    Além do mais, há que se levar em conta a dívida de mais de R$12 bilhões, de acordo com informações divulgadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O Brasil, nos governos petistas, construiu parte do metrô de Caracas, avolumando contabilidade dificílima de ser resgatada. Quando serão tomadas providências com relação a isso? Quando mais nada restar de pé e corrermos o risco de guerra civil?

    Senador Plínio Valério, o jornal El País, em 26 de março de 2020, noticiou que o Governo dos Estados Unidos apresentou acusação criminal contra Nicolás Maduro por tráfico internacional de drogas; ofereceu, inclusive, recompensa financeira de US$15 milhões por informações que possam levar à detenção e à prisão de Maduro e de outros membros da cúpula do regime. Receber esse criminoso em nosso país nos associa a uma figura procurada por narcotráfico internacional e nos causa motivo de chacota mundial!

    Presidente, permita-me, mas preciso ouvir o Senador Plínio Valério.

    O Sr. Plínio Valério (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para apartear.) – Meu amigo Senador Mecias, ouço o senhor falando aí, e as imagens passam na minha cabeça. Vim ontem de Manaus, e não tem como evitar, nas esquinas, para chegar ao aeroporto – eu já moro perto, há pelo menos três esquinas –, ver a pedirem esmolas venezuelanas com crianças, muitas vezes no colo, no sol, sendo que, quando é homem, colocam a criança nos ombros. E hoje, quando eu estava vindo para o Senado, eu vejo lá os Dragões da Independência – ou da República, sei lá –, como você fala, militares batendo continência para aquele que é o responsável pela miséria desta gente que está em Manaus pedindo esmola. São imagens que me vêm à cabeça desse absurdo.

    Aliás, no Brasil, absurdo está se tornando tão comum, que a gente está pensando que é regra.

    Parabéns pelo discurso.

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – Obrigado, Senador Plínio.

    Solicito, Sr. Presidente, a inclusão do aparte do Senador Plínio ao meu pronunciamento.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Com prazer...

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – E já me encaminho para finalizar.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Com prazer.

    Agora, peço a sua compreensão: mais um minuto.

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – Já me encaminho para finalizar. Creio que mais dois minutos, Presidente, com a sua benevolência.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Pode ser.

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - RR) – Quando os Estados Unidos, no Governo de Barack Obama, impuseram as primeiras sanções econômicas à Venezuela, o país já se encontrava mergulhado no caos. A iniciativa tardia deixou claro o desastre que já se observava no país vizinho com perseguições, assassinatos e desmandos diários.

    É interessante notar, Sr. Presidente, Senadores e Senadoras...

(Soa a campainha.)

    O SR. MECIAS DE JESUS (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/REPUBLICANOS - RR) – ... que todos esses regimes ditos socialistas, que dizem ter solução para todos os males que nos assolam, saídas econômicas e benefícios, estão sempre culpando os Estados Unidos por tudo de ruim que lhes acontece. Eles revelam, na realidade, que o sucesso econômico de seus regimes depende unicamente da participação direta dos Estados Unidos. Eles agridem a nação norte-americana, fazem ameaças, rompem com sua prática capitalista, mas não cortam o cordão umbilical da má desculpa. O que de bom acontece em seus países – e nada vemos acontecer de bom – é produto de suas boas ideias, de suas medidas acertadas, segundo eles. O que já existe de mau vem dos Estados Unidos, do capitalismo, do boicote econômico e do afastamento. Que socialismo capenga é esse que depende do capitalismo que tanto dizem combater?! A Venezuela hoje produz cerca de 800 mil barris diários de petróleo – produzia antes 3 milhões –, produto único da sua base econômica. As refinarias estão destroçadas. Quase tudo está paralisado, porque os técnicos e engenheiros fugiram da ditadura. De quem é a culpa?

    Nós precisamos ficar alertas para que não enveredemos pelo mesmo caminho. O Brasil precisa dar uma guinada em seu posicionamento, abandonando a ideia de entrar em aventura nefasta que vem destruindo os países da América Latina que a adotam.

    Finalizando, Presidente, ainda há tempo, Senadores e Senadoras, para recobrarmos o bom senso e deixarmos de nos curvar a sanguinários ditadores que nada têm a oferecer, além da discórdia e do horror.

    Muito obrigado, Presidente Kajuru, pela benevolência de V. Exa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2023 - Página 35