Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à jornalista Elaine Keller, da Jovem Pan, em virtude de críticas proferidas pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro.

Considerações sobre o anúncio da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) de ampliação para o mundo todo das punições aos jogadores de futebol brasileiros envolvidos em esquemas de manipulação de resultados de jogos. Destaque ao papel desempenhado pelo Ministério Público do Estado de Goiás nas investigações das manipulações.

Lamento pelas declarações do Presidente Lula em relação ao Tribunal Penal Internacional.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Imprensa:
  • Apoio à jornalista Elaine Keller, da Jovem Pan, em virtude de críticas proferidas pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro.
Desporto e Lazer:
  • Considerações sobre o anúncio da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) de ampliação para o mundo todo das punições aos jogadores de futebol brasileiros envolvidos em esquemas de manipulação de resultados de jogos. Destaque ao papel desempenhado pelo Ministério Público do Estado de Goiás nas investigações das manipulações.
Relações Internacionais:
  • Lamento pelas declarações do Presidente Lula em relação ao Tribunal Penal Internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2023 - Página 16
Assuntos
Outros > Imprensa
Política Social > Desporto e Lazer
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
Indexação
  • APOIO, MULHER, JORNALISTA, JOVEM PAN, CRITICA, EX-PRESIDENTE DA REPUBLICA, JAIR BOLSONARO.
  • COMENTARIO, FRAUDE, CORRUPÇÃO, APOSTA, ESPORTE, FUTEBOL, FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL ASSOCIATION (FIFA), CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF), PUNIÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL, ELOGIO, MINISTERIO PUBLICO ESTADUAL, ESTADO DE GOIAS (GO).
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, DECLARAÇÃO, TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI).

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – Alagoano, amigo que tanto respeito, que gosto de graça, Senador Rodrigo Cunha, da nossa amada Alagoas, lembrei-me agora mesmo contigo de Arapiraca, do jogo Flamengo e ASA, e a torcida gritando "Kajuru! Kajuru! Kajuru!" nos meus tempos de Rádio Globo.

    Primeiro eu queria me dirigir aqui, oferecendo total solidariedade, à excelente jornalista Elaine Keller, da Jovem Pan, independente – não é de direita, não é de esquerda, tem opinião própria –, e dizer a ela: Elaine, fique de cabeça erguida, no que tange à crítica de alguém que não aceita crítica, que é o caso do ex-Presidente da República Jair Bolsonaro, e siga a sua vida. É assim mesmo.

    Eu, às vezes, quando sou criticado por alguém – não é o caso do Bolsonaro, não sou inimigo dele –, fico tão tranquilo, Presidente, que o meu gabinete está repleto de quadros de atestado de idoneidade. É assim que é melhor reagir na vida.

    O contrário do amor não é o ódio; é a indiferença, é o desprezo. E o esquecimento é a única vingança e o único perdão.

    Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências, na condição de primeiro Senador a abordar o assunto desta tribuna, volto hoje ao tema: máfia das apostas eletrônicas esportivas.

    O escândalo, que começou no fim do ano passado, ganhou espaço ao longo de 2023 e agora é notícia de alcance internacional, por causa da decisão da entidade máxima do futebol mundial. A FIFA (Federação Internacional de Futebol) informou ontem, 11 de setembro, que ampliou para o mundo todo as punições dos jogadores brasileiros envolvidos em um esquema ilegal, nojento, de manipulação de resultados de jogos de futebol.

    Em princípio, as punições aplicadas pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), da CBF, eram restritas ao território nacional. Assim, um atleta punido aqui conseguiu fechar contrato com um time da Turquia. Todavia, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) levou o caso para a Federação Internacional. Fez bem. Depois de fazer a análise, a FIFA decidiu que as punições aplicadas no Brasil devem ser estendidas aos países vinculados esportivamente à entidade.

    Em seu site, a FIFA listou os 11 jogadores punidos no âmbito esportivo brasileiro, com penas que variam de 360 dias de suspensão até o banimento do futebol – que é a punição que eu prefiro. Três jogadores foram eliminados do futebol em todo o mundo: Gabriel Tota, Matheus Gomes e Ygor Catatau. Estão suspensos por prazos que variam de 360 a 720 oito jogadores: Moraes Rodrigues, Paulo Miranda, Mateusinho, André Queixo, Paulo Sérgio, Fernando Neto, Kevin Lomónaco e Eduardo Bauermann.

    Como Senador por Goiás, não posso deixar de destacar, em toda essa história, o papel do Ministério Público do Estado de Goiás. Foi lá que surgiu a primeira denúncia sobre a máfia das apostas eletrônicas esportivas, feita pelo presidente do Vila Nova Futebol Clube e relacionada a uma partida da Série B do Campeonato Brasileiro. O Ministério Público goiano entrou em campo, com a Operação Penalidade Máxima, e desvendou a história. Descobriu apostadores que aliciaram atletas para cometer pênaltis ou receber cartões durante os jogos e os financiadores dos jogadores que se permitiram envolver em irregularidades nas apostas dos sites conhecidos como bets, ou seja, não é só jogador; o escândalo que se materializa no campo do futebol é arquitetado fora dos estádios.

    Que as investigações realizadas também pela Polícia Federal levem à punição de todos os envolvidos, sobretudo na esfera penal, ou seja, cadeia neles!

    Por último, quero lembrar a nova dimensão do escândalo. Recentemente dois brasileiros que atuam fora do país passaram a ser investigados – pasmem! –: Luiz Henrique, do Betis, da Espanha; e Lucas Paquetá, do West Ham, da Inglaterra, que também jogou na Copa do Mundo como titular, na última, no Qatar.

    De acordo com o relatório da empresa Sportradar, contas associadas a pessoas próximas de Paquetá teriam apostado que ele e Luiz Henrique seriam punidos com cartões amarelos em jogos de suas equipes, no dia 12 de março, o que acabou acontecendo. As apostas ocorreram em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, através do site Betway, que patrocina o time inglês onde joga Lucas Paquetá.

    As federações inglesa e espanhola abriram investigações contra os dois brasileiros. Agora é aguardar se resultarão ou não em punição. Se positivo, as confederações poderão pedir ampliação territorial da pena, e a FIFA, estendê-la em nível mundial.

    Sinceramente, torço para não ter de constatar que o Brasil – país com mais jogadores de futebol espalhados pelo mundo – venha a se tornar conhecido também como exportador de ilegalidades no campo das apostas esportivas. Seria lamentável!

    Presidente Rodrigo, o senhor sabe que eu odeio campainha e, em quatro anos de meio, nunca passei do meu tempo, ao contrário do Eduardo Girão, Styvenson, que ontem falou duas horas – superou o Magno Malta, que chegou a 36 minutos. Eu não faço isso, de forma alguma. Eu respeito os colegas. E olhem que o Girão é meu irmão. Cada um tem o seu tempo aqui.

    Eu ainda tenho tempo ou não, Presidente?

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Cunha. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL. Fora do microfone.) – Dois minutos.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Dois?

    Vou fazer aqui algo que vai surpreender muita gente, mas eu sou assim e não vou mudar.

    Na gestão anterior, por várias vezes, declarei em Plenário, aqui na tribuna, que o ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro precisava acionar o cérebro antes de abrir a boca – falava muita bobagem. Sem querer comparar os personagens, mas também sem abrir mão de minha independência, mesmo sendo Vice-Líder, escolhido por Lula, e Líder, escolhido pelo Vice-Presidente Alckmin, neste Governo, eu tenho aqui que lamentar as declarações feitas pelo Presidente Lula, ontem, sobre o Tribunal Penal Internacional, a propósito de eventual visita ao Brasil do Presidente russo Vladimir Putin, para participar da reunião...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... do G20, ano que vem.

    Vou ser rápido porque, pela primeira vez, em quatro anos e meio, ouvi essa terrível campainha.

    Eu não vou descer aos detalhes, divulgados à exaustão pela imprensa, mas tenho de dizer que as abordagens – de início um equívoco, depois tentativa de correção – foram, no mínimo desconcertantes.

    Não vou dar conselho a quem tem uma história tão rica quanto Lula e o meu carinho e o meu apreço há 35 anos. Mas, como torço pelo sucesso de seu Governo, Presidente Lula – permita-me chamá-lo de amigo –, uma sugestão ao senhor: pense um pouco mais e ouça a sua assessoria antes de falar sobre temas que podem provocar ruídos políticos. O país, nesta fase de reconstrução...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... Presidente Lula, precisa de um pouco mais de silêncio.

    E eu aprendi uma frase, Presidente Rodrigo Viana... Rodrigo Cunha. Não sei porque veio Viana à minha cabeça?! Ah, é porque eu te contei do Mário Viana, em Arapiraca, no jogo lá na sua terra alagoana. Eu gosto de falar frases para ti e para o Styvenson. O Styvenson, inclusive, escreve as minhas frases, os meus poemas e os usa indevidamente para os seus xavecos, lá em Natal – perfeito?

    Agora, uma frase: o silêncio não comete erros. Boa frase ou não? Perfeito? Então, ela serve para o atual Presidente como serviu, por muito tempo, para o ex-Presidente. Antes de acionar a boca, ligue o cérebro. Alguns nem o têm, infelizmente.

    Agradecidíssimo. Foi a primeira vez em que eu passei do tempo e ouvi campainha.

    Girão, duas horas, pelo amor de Deus! O Styvenson Valentim está chateado contigo. Não venha ao Plenário porque ele vai brigar contigo.

    Agradecidíssimo.

    Ótima semana, Deus e saúde a todos e todas na TV Senado, na Rádio Senado, na Agência Senado, a toda a mesa aqui, em nome da Fernanda, em nome de todos que estão aqui.

    Muitíssimo obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Cunha. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL) – Senador Kajuru, se me permite também fazer um comentário sobre a fala de V. Exa., sou testemunha de que, desde o início do mandato, V. Exa. se preocupa com aquilo que é uma marca, uma paixão sua, mas é uma paixão deste país, que é o futebol. Não vi, em momento nenhum, o Kajuru radicalizar; pelo contrário, o que eu vi foi buscando uma regulamentação, uma transparência, saber, de fato, se pode ou não pode ter determinadas posturas quem fica à frente das casas de apostas, mas, mais do que isso, protegendo o futebol de escândalos. Isso porque se coloca em risco um dos nossos maiores patrimônios, que é o futebol, e a credibilidade.

    Então, hoje, a gente vive um momento em que o maior patrocinador da televisão brasileira são as bets, e não é apenas no futebol, mas desde a vaquejada, ao vôlei, a qualquer tipo de disputa, já tem uma casa de apostas ao lado, para o que, no Brasil, não existe uma regulamentação. É permitido, mas não se diz como deve funcionar. E, aí, atrai jovens, atrai quem tem fragilidade, vulnerabilidade e pode ser um alvo fácil para cair no vício, e acaba criando agora, por não ter uma regulamentação, uma espécie de nuvem de fumaça sobre coisas erradas.

    Então, a nossa missão aqui é esclarecer, é buscar com que a MP que foi proposta e sobre a qual houve um acordo para que caia, e não deveria ter sido assim... Então, V. Exa. atuou firmemente para que a gente conseguisse evoluir nessa MP, e, agora, passou-se a ter um projeto de lei, projeto de lei que foi aprovado ou está em votação, na verdade, na Câmara dos Deputados. Mas aqui também tem que ter debates. Então, não vamos permitir chegar um assunto que diz respeito ao nosso maior patrimônio e ser aqui levado nas coxas, ou porque já foi conversado na Câmara dos Deputados. Então, o objetivo não é esse.

    V. Exa. tem projetos também nesse sentido e está chegando um outro projeto, Kajuru, para falar daquilo que já foi tratado. Então, se tinha algum ponto no projeto de V. Exa., que a gente trabalhasse sobre ele, mas não escolher um outro e aqui chegar atropelando. Não vamos permitir isso! Vamos abrir as discussões, porque só assim vamos conseguir o melhor modelo para dar segurança não apenas ao consumidor, que é o cidadão, mas também às próprias bets que sobreviverem aqui.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu queria apenas pedir a sua permissão, Presidente, porque o seu complemento foi irretocável.

    O exímio Ministro Haddad conversou comigo e concordou com as colocações que fiz em relação à medida provisória para legalizar e tarifar as casas de apostas, que sonegam bilhões e que agora, parte delas, entrou no escândalo de manipulação de resultado de futebol, de jogador sofrer pênalti, cometer erros escandalosos, levar cartão vermelho – Styvenson ficou revoltado quando eu falei sobre isso na semana retrasada aqui. E esse meu projeto de lei, que foi o primeiro aqui que chegou, para mim, já deveria ter sido colocado em discussão, porque o próprio Ministro Haddad falou...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... "Kajuru, o seu projeto está mais completo do que a minha medida provisória, porque ele tem punições mais rigorosas para dar um basta. Você foi muito feliz, o futebol brasileiro é a maior paixão e está perdendo a credibilidade".

    Eu viajo o Brasil inteiro e o tanto de gente que fala: "Kajuru, futebol?! Eu tomei nojo de futebol". Você vê, um jogador que foi titular da Copa do Mundo envolvido num escândalo, o Paquetá – titular na Inglaterra. Meu Deus! Então, não é jogador de time pequeno, lá de Mossoró, por exemplo, no Rio Grande do Norte, da terra do Styvenson. Nem sei se lá tem time de futebol...

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Cunha. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL) – Kajuru, se me permite, só para dar um outro exemplo. Ele também falou sobre credibilidade. E, às vezes, até de tanto brincar acaba se tornando uma verdade para muitas pessoas, que se afastam do futebol. Domingo passado, o líder da Série B, o Vitória, foi enfrentar o CRB lá em Alagoas. O resultado do jogo: 6 a 0 para o CRB.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu vi.

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Cunha. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - AL) – Aí todo mundo no outro dia começa a questionar o que é que tinha por trás disso. Não era a bola rolando. Não pode ser assim. Então, as pessoas não podem nem imaginar isso; é acreditar que um jogo é decidido ali, dentro das quatro linhas. Então, um resultado que não é normal no futebol – mas que acontece – acaba virando motivo de piada e, na sequência dessas piadas, torna-se algo banal: as pessoas acharem que pode ter influência externa sobre um jogo de futebol. Então, é muito importante tratar desse assunto o quanto antes aqui nesta Casa.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Nesse exemplo seu aí é bom lembrar que na Inglaterra, acho que o Styvenson estava na Presidência nesse dia em que eu fiz o comentário aqui – desculpe, o Senador Humberto com certeza quer falar; eu vou ser rápido aqui –, mas lá o Tottenham sofreu uma goleada de 6 a 0 para um timeco. Os jogadores tiveram a vergonha na cara. Mandaram devolver a renda todinha para os torcedores e aceitaram as punições da federação inglesa, que dá exemplos ao mundo, e, aqui no Brasil, esse Campeonato Brasileiro para mim tinha que ser suspenso até que se investigasse tudo. E não! O campeonato continua, os escândalos continuam. A nossa Comissão de Esportes...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... presidida pelo Romário – e que tem em mim o Vice-Presidente dela –, amanhã começa com audiências públicas, e nós vamos transformar essa Comissão de Esportes numa CPI para que haja punição para valer, e não essa brincadeira em que até hoje só teve impunidade. Na máfia da loteria esportiva teve impunidade; na máfia do apito teve impunidade, e não é possível que nós vamos continuar tendo impunidade ao ver tudo isso.

    Muito obrigado.

    O assunto ficou longo, mas ele é importante, e nós aqui temos a independência – que é rara – no Congresso Nacional.

    Obrigado, Presidente Rodrigo Cunha.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2023 - Página 16