Discurso durante a 181ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a integridade no futebol brasileiro. Defesa da investigação do ABC de Natal por supostamente ter recebido retribuição financeira para derrotar o Vila Nova de Goiás, em partida ocorrida no último sábado. Exposição sobre a Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, que investiga supostas fraudes em jogos do Estado.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Atuação do Ministério Público, Desporto e Lazer:
  • Preocupação com a integridade no futebol brasileiro. Defesa da investigação do ABC de Natal por supostamente ter recebido retribuição financeira para derrotar o Vila Nova de Goiás, em partida ocorrida no último sábado. Exposição sobre a Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, que investiga supostas fraudes em jogos do Estado.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2023 - Página 12
Assuntos
Outros > Atuação do Estado > Atuação do Ministério Público
Política Social > Desporto e Lazer
Indexação
  • PREOCUPAÇÃO, INTEGRIDADE, FUTEBOL, BRASIL, DENUNCIA, Comissão de Educação e Cultura (CE), TIME, NATAL (RN), ESTADO DE GOIAS (GO), RETRIBUIÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, PUNIÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL, JUSTIÇA DESPORTIVA, FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL ASSOCIATION (FIFA), EXPOSIÇÃO, OPERAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, FRAUDE, ESPORTE.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – Grato, amigo e companheiro do histórico partido do PSB, de Miguel Arraes e Eduardo Campos – e tantas outras reservas morais – e voz absolutamente admirável de Roraima, Senador Chico Rodrigues.

    É um assunto para mim, em função da minha história, portanto, brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências, a pauta que me traz à tribuna, neste 29 de novembro de 2023, está relacionada ao futebol, esporte que conheço de perto, graças ao trabalho, por 45 anos, como jornalista, como apresentador, ator, enfim, eu fiz tudo na televisão brasileira, por mais de quatro décadas, em todas as emissoras de televisão trabalhei, redes nacionais, nas maiores rádios do Brasil. Portanto, eu me sinto à vontade, pois a temática é recorrente, quando se afunilam as competições e acontece o acirramento das disputas por conquista de título, pelo acesso a divisões superiores e para evitar rebaixamento para divisões inferiores: o estímulo financeiro adicional em busca de resultados, a famosa mala branca, desde 1978, na minha primeira Copa do Mundo, das nove, na Argentina. Eu estava por completar 18 anos de idade.

    Aí vem um clube que nada mais disputa e se agiganta de maneira inesperada, outro mostra, em campo, uma indolência que não é a costumeira; e os resultados surpreendentes se multiplicam.

    Evidentemente, na defesa da integridade do esporte, em situações desta ordem, não podemos nos omitir. Digo isso como Senador da República, com a obrigação de fiscalizar questões que envolvam a ordem nacional. Assim, não posso deixar de colocar aqui em Plenário, na condição de Vice-Presidente da Comissão de Esportes do Senado, que venho recebendo notícias, em caráter de denúncia, relacionadas a uma partida de futebol.

    O jogo foi realizado no sábado passado, 25 de novembro, dia da última rodada da Série B do Campeonato Brasileiro de 2023. Foi em Natal, capital do Rio Grande do Norte – fui muito bem recebido, por sinal, especialmente pelo Presidente do ABC de Natal, o querido Bira.

    O ABC, já rebaixado na última colocação para a Série C, a terceira divisão do futebol brasileiro, derrotou por 3 a 2 o Vila Nova, do meu Estado de Goiás, que precisava da vitória e só dependia dele para ascender pela primeira vez, em sua história, em 2024, à Série A, a elite do futebol brasileiro.

    A partida, disputada no Frasqueirão, teria sido objeto de tratativas extracampo. A denúncia nesse sentido chegou ao meu conhecimento logo após o final do jogo.

    Como homem ligado ao esporte e Parlamentar, tenho a responsabilidade e a obrigação de tornar isso público, para que as autoridades competentes, se assim entenderem, apurem a denúncia.

    O objetivo não é de acusar ninguém, mas julgo ser meu dever levar a informação para o maior número possível de pessoas, até para que, posteriormente, eu não venha a ser questionado por omissão diante de tão grave denúncia.

    Aliás, aqui cabe a informação de que, ontem, o Ministério Público de Goiás deflagrou a terceira fase da Operação Penalidade Máxima, que investiga supostas fraudes em jogos de futebol. Ou seja, malditas manipulações de resultados.

    Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão em oito municípios de Goiás e mais quatro estados. As investigações envolvem jogos das Séries A e B do ano passado e dos campeonatos goiano e paraibano de 2023.

    A Operação Penalidade Máxima teve início em fevereiro. Os promotores de Goiás identificaram indícios de manipulação em jogos, e as investigações já resultaram em três denúncias à Justiça, com 32 pessoas acusadas de integrar organização criminosa e corrupção no esporte que é a maior paixão do Brasil.

    No total, 13 jogadores foram punidos na Justiça Desportiva, sendo que três atletas brasileiros envolvidos em esquemas de apostas e manipulação de resultados foram banidos para sempre do futebol pela FIFA, a entidade máxima do esporte.

    Sabemos que escândalos no futebol existem e vêm à tona de tempos em tempos. Em 1982, a revista Placar, na qual trabalhei, desvendou esquema que manipulava resultados de jogos da loteria esportiva, com envolvimento de atletas, árbitros e dirigentes de futebol. Integridade do futebol, o esporte mais popular do Brasil, um dos elementos formadores de nossa identidade nacional.

    Em resumo, Senador Paim, querido e exemplo desta Casa, você, gaúcho, que não é muito chegado a futebol, até porque sei que você vai ao Beira Rio e ao Estádio Olímpico e pergunta quem é a bola, do mesmo modo que o Senador Chico Rodrigues também não sabe nada de futebol...

    Brincadeira à parte, não dá para entender como um time, exemplo o ABC de Natal, por 36 rodadas do Campeonato Brasileiro, não jogou nada, destruiu a história do ABC de Natal, rebaixou-o para a terceira divisão do futebol brasileiro e, nas duas últimas rodadas, este mesmo time, o ABC de Natal, venceu o Guarani em Campinas e o Vila Nova em sua casa, em Natal.

     Por quais motivos – eu pergunto? Por amor à camisa do ABC de Natal?

    Quer dizer que esse amor só existiu nos últimos dois jogos? Antes era ódio com a camisa do ABC?

    Oras, não sejamos hipócritas. Evidentemente, a mala branca apareceu, os jogadores ainda não receberam o dinheiro, podem até levar o cano porque eu fiz a denúncia, e dirigentes de times que pagaram aos jogadores do ABC para que derrotassem – como derrotaram o Vila Nova – estão agora desesperados.

    Tinha R$120 mil na conta bancária de cada um, e, agora, o clube que prometeu esse pagamento está com medo, em função da denúncia que fiz e da ameaça de CPI que também apresentei aqui no Senado Federal.

    É só essa pergunta. Nada contra...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... a instituição ABC de Natal, que eu tanto respeito.

    Eu disse ontem ao Senador Rogerio Marinho, que fez história no time do ABC por um trabalho dele – do Rogerio Marinho – que vai ficar para sempre no ABC de Natal: "Rogerio, querido, você quer que eu, com nove Copas do Mundo nas costas, com seis Olimpíadas, com 20 Libertadores da América, que viajei o mundo inteiro, vi futebol, vi, em 78, na Argentina...". O Paim se lembra – não sei se o Chico se lembra – de quando o Peru ao mundo inteiro ofereceu aquela humilhação. Você lembra, Chico? Logo a seleção peruana, que tinha um timaço.

    Então, se existia mala branca em 78, na Argentina, numa Copa do Mundo, não vai existir agora em 2023, numa Série B de Campeonato Brasileiro?

    Por favor, respeitem a minha inteligência. De vez em quando, o meu cérebro é muito atacado...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... mas, graças a Deus, como dizia o argentino Borges, na altura da sua cegueira, o meu cérebro é imortal.

    Então, Girão, você, que fez história como Presidente do Fortaleza, você acredita que não existe mais mala branca no futebol? Claro que você sabe que continua existindo, concorda? Então, é por isso.

    Nada contra a torcida do ABC, que merece o meu maior respeito.

    Mas finalizo. A pergunta é uma só: por que é que os jogadores do ABC de Natal jogaram mal para caramba 36 rodadas, destruíram a história do time, rebaixaram o time para a 3ª Divisão e, nos dois últimos jogos, jogaram bem, ganharam as partidas?

    Foi por amor à camisa do ABC? É claro que não, gente! Foi por dinheiro, literalmente, por mala branca.

    Aí eles disseram que jogaram bravamente na última rodada. E antes? Não jogaram bravamente? Foram heróis só na última rodada?

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Hipocrisia.

    E tomara, Girão – que faz parte e é membro titular da CPI de Esportes –, que a gente lá tome providências, convoque os dirigentes e os jogadores...

    E a gente vai dar um exemplo ao futebol brasileiro, Senador Eduardo Girão, como o senhor deu exemplos, no Ceará, até de união entre as torcidas do Ceará e Fortaleza, com relação à bebida alcoólica, com relação à paz no futebol.

    Nós podemos dar esse exemplo, Senador Chico Rodrigues – desculpe-me por só um minutinho que eu passei aqui, raramente eu passo do tempo.

    O Presidente Romário é um exemplo mundial.

    A nossa Comissão de Esportes pode já começar uma CPI, já promover uma CPI, para que isso acabe no futebol brasileiro. É uma vergonha essa questão da mala branca. Isso tem que ter um fim.

    E, por fim, eu não sei se o Girão leu no jornal O Globo, no Globo.com, no Globo Esporte e, hoje, na Folha de S.Paulo, uma denúncia gravíssima, gente.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – A CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, que para mim voltou a ser "Casa Bandida do Futebol", com um presidente baiano, adiantou, Girão, adiantou um pagamento de futuras receitas que só no ano que vem tinham que ser pagas, adiantou milhões, inclusive para o Vitória, da Bahia, R$4 milhões de futuras receitas, antes da última rodada.

    Exatamente para quem esse adiantamento? Para os quatro times que subiram. Apenas o Sport que não conseguiu. Os outros três conseguiram: Vitória, Juventude e o Atlético, do meu Estado de Goiás.

    A CBF tem que ser convocada para a nossa Comissão, como mostram os recibos, todos os recibos, que a Globo.com apresentou. Não tem mentira ali. Tem dia de pagamento do depósito aos times...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Por que é que os outros times foram prejudicados? Por que é que os outros times não receberam esse adiantamento? Por que só esses quatro receberam? Porque eles estavam subindo, a CBF apostou neles e adiantou um pagamento para eles? Ah, espera aí!

    Desculpe, Senador Chico Rodrigues, mas o futebol não merece esse tipo de nojo.

    Agradecidíssimo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2023 - Página 12