Discurso durante a 55ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a catástrofe ocasionada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Manifestação a favor da destinação de parte dos recursos do Fundo Eleitoral e das emendas parlamentares em favor das vítimas no Estado.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Calamidade Pública e Emergência Social, Governo Estadual:
  • Comentários sobre a catástrofe ocasionada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Manifestação a favor da destinação de parte dos recursos do Fundo Eleitoral e das emendas parlamentares em favor das vítimas no Estado.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2024 - Página 8
Assuntos
Política Social > Proteção Social > Calamidade Pública e Emergência Social
Outros > Atuação do Estado > Governo Estadual
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CALAMIDADE PUBLICA, CHUVA, INUNDAÇÃO, ENFASE, CANOAS (RS), SANTA MARIA (RS), LAJEADO (RS), COMENTARIO, DIVISÃO, POVO, MIDIA SOCIAL, REGISTRO, ARRECADAÇÃO, PIX, AUXILIO, VITIMA, PROPOSTA, PARTIDO POLITICO, DESTINAÇÃO, Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), DOAÇÃO, SUGESTÃO, RECURSOS FINANCEIROS, EMENDA INDIVIDUAL.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – Bem, amigo e voz respeitadíssima da amada Paraíba e de nossa Campina Grande, como origem, Senador Veneziano Vital do Rêgo, como Presidente de todas as sessões, sempre o mais pontual, agradeço e registro aqui que ainda sem a visão – que sonho voltar a ter, na segunda-feira próxima terei o resultado conclusivo dela –, eu não poderia ficar fora, neste dia 6 de maio de 2024, do Plenário, da tribuna.

    Presidente Veneziano Vital do Rêgo, eu queria ver essa tribuna neste momento... este Plenário lotado, porque o que eu vou falar aqui poucas vezes a pátria amada ouviu de um Parlamentar, e o faço em nome de minha mãe, em nome de Deus e de meu coração, como um simples ser humano que sou.

    Como neste Senado Federal, dos 81 Senadores, apenas um eu não aceito nem cumprimentar e nem ver a cara dele, portanto, eu tenho 80 amigos e amigas aqui, que vão à minha Casa, eu vou à casa deles, com os quais a nossa relação é a melhor possível, mesmo quando temos divergência. Portanto, eu sei que aqui a maioria vai entender de que forma vou chegar nesta ferida.

    Eu me dirijo às brasileiras e aos brasileiros, minhas únicas vossas excelências, iniciando – permitam-me – esse pronunciamento para ficar nos Anais desta Casa. Não sei quem pôde ver – o Senador Confúcio aqui está; a amiga linda e querida, Senadora Teresa Leitão, está. O Senador Paim gentilmente trocou comigo, até porque o tema é o Estado que ele tanto ama, o Rio Grande do Sul.

    Na última sexta-feira, na Globo News, a apresentadora Daniela Lima fez um desabafo. Ela disparou preciosamente o seguinte: que nesses momentos ela tem vontade de ir embora do Brasil – de ir embora do Brasil. Por quê? Porque ela não suporta ver as reações nas redes sociais. E "até num momento trágico, catastrófico, como este do Rio Grande do Sul, ainda tem gente que chega ao máximo da indecência de culpar figura a ou figura b por uma tragédia." Que "Se você quiser discutir, então vamos voltar a anos anteriores, em que governos sequer discutiam as situações climáticas de nosso Brasil."

    Então, gente, não é hora de polarização. É hora de humanidade, humanismo, solidariedade, de mostrarmos que a nossa classe política é formada por seres humanos, por gente que, se não puder amar o próximo, prejudicá-lo não vai. Isso eu aprendi com a D. Zezé, merendeira de grupo escolar, como filho único dela, em Cajuru, no interior de São Paulo.

    E o que eu venho trazer aqui e já apresentei nesse final de semana em veículos de comunicação – o primeiro deles foi a Jovem Pan, de Goiás – e agora para o Brasil inteiro, é simples demais:

    1 - cada um de nós... Como bem colocou e até forneceu de que forma vocês – brasileiras, brasileiros – podem nos ajudar via Pix... Cada um de nós está fazendo a sua parte. Eu comecei no sábado à noite, em desespero, quando ouvi, pelo celular, a voz de uma linda gaúcha, porém, mais linda como ser humano. Ela, aos prantos, dizendo que em Canoas não havia feijão para as crianças. No domingo, ela disse que não havia fralda, não havia colchão. Especialmente em Canoas, Santa Maria e Lajeado.

    Eu comecei espontaneamente, com os meus amigos, os goianos do bem, para que eles ajudassem um grupo, liderado por mim, mas sem ser eu o responsável, e todos teriam a publicidade de seus nomes... Izalci também chega. Izalci, eu não o estou enxergando, mas, só pelo andar dele, eu já sinto o cheiro do Izalci, que, aliás, é um cheiro bom.

    O duro é quando o cheiro é ruim, não é?

    Então, eu abri o Pix para ela. Os meus amigos, até agora, o meu gabinete todo, participando, tanto o de Goiânia como o de Brasília. Vamos chegando a quase R$20 mil hoje.

    Mas isso se chama enxugar gelo. Isso é muito pouco, até porque, infelizmente, nesta hora em que sabemos que o dinheiro compra o cão, o canil e o abanar do rabo, o dinheiro compra até um canalha que se usa da dor dos gaúchos e da gaúchas e pede Pix, e o dinheiro fica para o seu bolso, infelizmente. Então, precisamos tomar cuidado para onde enviamos cada Pix, aonde ele chega, como ele chega.

    No meu caso, a responsável manda, a todo instante, o que foi feito com cada centavo. De minha parte, enviei R$5 mil. Os meus amigos foram enviando de R$500 a R$5 mil também. E tem a prestação de contas, para não haver esse perigo, porque o próprio, excelente Governador gaúcho está preocupado.

    Mas eu vou direto ao assunto. O que nós da classe política podemos fazer que melhoraria, Presidente Veneziano Vital do Rêgo – senhoras e senhores, amigos e amigas, Senadores que estão em seus gabinetes, em seus estados, trabalhando, gaúchos que nem podem viajar, aeroportos fechados, reflitam –, a imagem desta Casa e a da outra, principalmente? Graças a Deus, esta aqui é melhor, com todo respeito à outra, porque, lá, tem muita gente que eu amo, felizmente. Eu nunca generalizo. Mas também tem muita gente que eu odeio, que eu quero ver a uma distância oceânica, inclusive o Presidente da outra Casa.

    Uma atitude: estou entregando ofício ao Presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, um ser humano raro, um homem sensato, de sensibilidade, com cuja compreensão sei que vou contar. O mesmo ofício, vou entregar ao Presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes – tenho certeza da sua sensibilidade –, e aos partidos políticos deste país.

    Qual é a minha primeira sugestão, como Parlamentar? Neste ano de eleição municipal, em outubro próximo, qual é o Fundo Eleitoral que caberá aos mais de 5 mil municípios do país, Vereadores e Prefeitos candidatos? Quatro bilhões e novecentos e sessenta milhões, ou seja, R$5 bilhões.

    Se os partidos políticos aceitassem abrir mão de uma parte, que fosse 20%, significaria R$1 bilhão, de imediato, ao Rio Grande do Sul. Por quê? Porque o dinheiro já está disponível no TSE, que, nos próximos dias, vai entregar aos partidos políticos para as campanhas de todos os mais de 5 mil municípios do Brasil.

    Eu, Kajuru, sem ser demagogo, porque nunca o fui, proporia 50% desse Fundo Eleitoral, o que significaria um valor expressivo de R$2,5 bilhões para o Rio Grande do Sul, para reconstruir cidades, para voltar a dar dignidade a um estado da importância do Rio Grande do Sul.

    O que vai mudar na vida de candidatos a Vereadores e Prefeitos se abrirem mão e se os partidos políticos perderem de 20% a 50% desse Fundo Eleitoral, repito, de R$5 bilhões? Nada, até porque – não todos, evidentemente – uma boa parte nem usa o fundo eleitoral que recebe.

    Faz uma poupança, um caixa dois para a sua vida posterior, para a sua aposentadoria, ou estou mentindo aqui? Ou vamos ser hipócritas e dizer que todo o dinheiro do fundo é usado? E outra coisa: quando o dinheiro é devolvido? Porque, pela lei, você gasta, e o que sobrar você tem que devolver. Que dia foi devolvido algum centavo? O meu partido talvez seja uma das exceções, não o único: o histórico PSB, de Miguel Arraes e Eduardo Campos.

    Então, o que custaria para cada partido político fazer isso? Essa é a primeira parte. E explico: os R$5 bilhões deste ano de Fundo Eleitoral, Senadora Teresa Leitão – eu sei da sua dignidade –, representam um reajuste de quatro anos atrás, na última eleição municipal, sabe de quanto? De 175%, quando a inflação desses últimos quatro anos foi de 25%. Portanto, se eles abrissem mão agora de 50%, eles ainda teriam um reajuste de quatro anos atrás de mais de 70%. Mais bem explicado do que isso, lamento, é impossível.

    Segunda e última parte: os Parlamentares este ano, que já estão recebendo e vão continuar recebendo – nós Senadores e Deputados Federais –, estão com um direito absurdo, abissal, de R$46 bilhões em emendas. Se eles abrissem mão – todos nós – de 10%, nós enviaríamos imediatamente, para o Rio Grande do Sul, R$4,6 bilhões.

    Se quiserem outra alternativa: o Governo tem agora o valor de R$5,6 bilhões em emendas para recebermos. O Presidente Lula, tendo o apoio nosso, a concordância dos Deputados Federais e dos Senadores... A gente poderia abrir mão da metade, o que significaria quase R$3 bilhões. Com mais uma parte do fundo eleitoral, chegaríamos a quase R$7 bilhões. Seria um dinheiro realmente significativo para salvar o Rio Grande do Sul em todos os sentidos, e 70% de todo o território gaúcho, que vive um caos.

    Essas propostas – repito – melhorariam a imagem de toda a classe política e mostrariam que ela tem coração e que ela entende o que está acontecendo. E não se pode culpar ninguém, muito menos um Presidente da República, pelo que aconteceu. Ele está lá desde quinta-feira, voltou, deixou o seu Executivo lá. É evidente que vai tomar todas as providências; ele, acima de tudo, é ser humano. Você pode não gostar dele, mas nem Jair Bolsonaro, nem outro Presidente agiria de forma diferente. Qualquer um naquele cargo seria humano, porque é o mínimo da sua obrigação Parlamentar.

    E, para não ser longo, Presidente Veneziano Vital do Rêgo, creio que também é o mínimo que nós Parlamentares podemos fazer em nome dessa tragédia que acontece no Rio Grande do Sul.

    Os detalhes financeiros eu expliquei. Quem tiver dúvida pode perguntar, porque eu passei o final de semana todinho com a Consultoria Jurídica do Senado Federal apurando detalhe por detalhe, número financeiro por número financeiro, para que eu não falasse besteira aqui hoje. Portanto, em tudo o que eu falei aqui de valores, eu não errei rigorosamente nenhum centavo.

    Deus e saúde, especialmente ao Rio Grande do Sul, às gaúchas e gaúchos, a todo o Brasil, e aqui permitam-me, particularmente à Mesa Diretora deste Senado Federal, às funcionárias, aos funcionários, que não são meus colegas; são meus amigos. Se amanhã eu não estiver aqui mais – que é o que vai acontecer, aliás, porque o nojo cada dia cresce –, pode ter certeza: eu virei aqui mensalmente para dar um abraço em vocês.

    À solidariedade de cada um de vocês, de todos da Mesa, até do Presidente Rodrigo Pacheco; de todos da Casa, nos telefonemas, nas mensagens, no carinho pela minha recuperação visual, e, tenho certeza que de boa parte, ou da maior parte da população brasileira, que me conhece há 50 anos em carreira nacional na televisão, no rádio e nos jornais, eu só posso aqui dizer: agradecidíssimo, do fundo do coração.

    E aqueles que acham que eu vou perder a visão: cuidado! Porque vocês podem perder a de vocês. A minha eu não vou perder.

    Agradecidíssimo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2024 - Página 8