Discurso durante a 47ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Insatisfação com a veiculação de propagandas na televisão sobre o trabalho e a importância das ONGs na sociedade, com críticas aos seus interesses e à sua atuação na Amazônia.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Comunicações, Meio Ambiente:
  • Insatisfação com a veiculação de propagandas na televisão sobre o trabalho e a importância das ONGs na sociedade, com críticas aos seus interesses e à sua atuação na Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/2024 - Página 20
Assuntos
Infraestrutura > Comunicações
Meio Ambiente
Indexação
  • CRITICA, PUBLICIDADE, PROPAGANDA, TELEVISÃO, REFERENCIA, TRABALHO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), IMPORTANCIA, SOCIEDADE, DUVIDA, INTERESSE, ATUAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Veneziano, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, lá vou eu, mais uma vez, cumprir com a minha missão, porque é importante que a gente esteja vigilante àquela causa que a gente defende e contra a hipocrisia que a gente tanto condena.

    Há alguns dias, está no ar, meu amigo Girão, uma campanha patrocinada pela Sociedade Viva, que é um conglomerado de organizações que representam ONGs, como a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong). Estão com um comercial. Imagine quanto custa um comercial no horário nobre de uma televisão em canal aberto! Os comerciais foram criados com a missão de esclarecer os brasileiros sobre o trabalho das ONGs e sua importância na sociedade. De fato, existem ONGs que são boas e merecem todo o mérito, o nosso elogio, e sempre nós separamos o joio do trigo – nós na CPI investigamos o joio. No entanto, também existem as más ONGs, que lucram com a miséria de indígenas, ribeirinhos e povos da floresta, como revelamos na CPI das ONGs. Um dos programas, intitulado Chuva de Verdades, mostra uma conversa entre uma mulher e um homem em um comércio onde discutem as mudanças climáticas. A personagem feminina afirma que isso representa "mais trabalho para as ONGs". O outro personagem questiona: "Mas o que as ONGs têm a ver com isso?". E ela explica: "Para começar, as ONGs trabalham para proteger a Amazônia". Permitam que eu possa rir! Permitam, pois só rindo desse tipo de coisa! E, nesse diálogo, os dois personagens dizem em sintonia, na mesma voz, no mesmo tom: "ONG faz acontecer!". O site da campanha compila todos os programas que são inseridos em comerciais de TV e convida os internautas a compartilharem o conteúdo em suas redes e grupos, inclusive para aquelas pessoas que estão mal-informadas, segundo eles, sobre as ONGs.

    Permitam-me, mais uma vez, você brasileiro e você brasileira que estão vendo, neste momento, a TV Senado; permitam-me, mais uma vez, falar sobre esse assunto. Vamos examinar os fatos, já que a realidade que vimos na CPI não é tão romantizada, e informar os que estão verdadeiramente mal-informados sobre a atuação de algumas ONGs. O que a campanha mostra não reflete o que os indígenas relataram a nós Senadores, nem o que observamos durante nossas diligências em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, na Reserva Chico Mendes, no Acre, e na região de Apyterewa, no Pará. Na Amazônia, há, de fato, muitas ONGs que fazem acontecer, mas para benefício próprio.

    Por exemplo, o Instituto Socioambiental (ISA), conhecido por indígenas da região do Alto Solimões como ISA "Índio Sendo Assaltado", fechou o ano de 2022 com um orçamento de quase R$70 milhões – prestados conta, o que está lá na internet, isso é o que eles podem mostrar –, segundo o seu Diretor Márcio Santilli, em depoimento à CPI, reconheceu. Desse valor, meu amigo Girão, 84% são provenientes de doações estrangeiras, e 16%, de doadores nacionais. Em seus 30 anos de existência, o ISA recebeu uma média de R$20 milhões por ano – é só multiplicar por 30. No entanto, não há clareza sobre como esses recursos são utilizados, sendo a maior parte destinada a pagamentos de pessoal, consultorias e despesas internas. Além disso, o seu Diretor Santilli possui uma empresa de consultoria que presta serviço exclusivamente para o ISA – é onde está o gargalo. O ISA também age em benefício próprio e de governos estrangeiros, conforme evidenciado em depoimento da CPI, inclusive há acusações de exploração de produtos indígenas como cogumelo ianomâmi e pimenta baniwa. Segundo relatório da Abin obtido pela CPI, o ISA adota posições conflitantes com os interesses do Governo brasileiro na região e realiza ações que configuram tentativas de interferência externa.

    Outra ONG que agiu em benefício próprio – agiu, age e agirá – é a Fundação Amazônia Sustentável, conhecida como FAS, que, em seus 15 anos de atuação, arrecadou mais de R$400 milhões junto a empresas e junto ao poder público. Coincidência ou não, a ONG em questão tem o lema "a FAS faz", mas nós da região conhecemos como "a FAS faz de conta".

    Senadores, as ONGs também fazem acontecer, é verdade, mas muitas vezes em benefício de seus próprios membros. O relatório demonstra, vou repetir, que mais de 80% dos recursos recebidos por essas organizações são gastos em atividades internas, como custos administrativos e pagamento de pessoal, viagem e consultoria. À ponta chegam 20%, e esses 20% que chegam à ponta são para treinar membros que vão levar adiante a narrativa da Noruega, do Canadá, da Alemanha e dos Estados Unidos.

    O ex-Ministro Aldo Rebelo denunciou também que as ONGs – e a gente constata isto – formam um estado paralelo na Amazônia. É um poder paralelo, comparável com o narcotráfico. Duas maneiras perniciosas, mas igualmente perigosas. Na Amazônia, quando a gente fala do poder paralelo, é porque nós sofremos muito sob a batuta dessa gente, e as ONGs não fogem a isso, são altamente perniciosas.

    Olhem só o que fez o Greenpeace, que agora está no Amapá de novo. Ele localizou um coral ou detectou um coral de mentira, propagou isso mundo afora, e não puderam explorar o petróleo. Agora, o Greenpeace está lá de novo fazendo isso. É ou não é um poder paralelo? Eles atuam para impedir a exploração de recursos como o potássio no meu Amazonas, que fica a mais de 10km de uma reserva indígena criada. E lá os corais ficam a mais de 500km, corais que não encontraram, da Foz do Rio Amazonas.

    Enquanto isso, o meu povo empobrece... E aí é que você vai entender. Eu peço que você me entenda, compreenda e me tolere, porque é isto: eles ganham dinheiro, enriquecem à custa da pobreza do meu povo. E eu, Senador da República, não posso estar toda semana deixando de falar desses hipócritas. No Amazonas, mais de 60% da população já vivem abaixo da linha da pobreza. Seis ONGs que nós investigamos arrecadaram R$3 bilhões. Espero que você entenda, porque, muitas vezes, eu falo, falarei, continuarei falando, pois a gente se revolta contra isso tudo.

    Olhem só. O que dizer da Sra. Rosângela, moradora da Resex Chico Mendes, que não pode criar uma vaca para alimentar seu filho? O que é que ela pensaria desses comerciais, quando ela vê dizendo que a ONG está fazendo e está ajudando? E Marcilene Frutuoso, moradora da região da Apyterewa, no Pará, que viu casas sendo derrubadas, famílias sendo expulsas, motos sendo confiscadas, casas incendiadas, quando vê uma campanha dessa na televisão? E o Raimundo Tenório, que é um indígena de São Gabriel da Cachoeira? Foi ele que disse para a gente que ISA é "Índio Sendo Assaltado".

    Eu vou passar algo para vocês verem o perigo que tem isso – poupo-me de falar aqui de alguns dados da CPI para mostrar alguma coisa sustentável. Tem um livro chamado Apocalypse Never, Senador Girão. O Michael Shellenberger, que esteve até aqui com o senhor – o Girão conversou com o escritor Michael Shellenberger –, escreveu o livro Apocalypse Never. Esse livro contém algumas provas. Olhem só – tudo é do livro: "No começo de 2020"... Eu peço um tempo, Presidente, só para eu concluir, em dois, três minutos.

No começo de 2020, os cientistas questionaram a ideia de que níveis crescentes de dióxido de carbono no oceano estavam fazendo com que as espécies de peixes dos recifes de corais se tornassem alheios aos seus predadores [ou seja, a presa não estava nem aí para o seu predador, nem sabia que era presa]. Os sete cientistas que publicaram seu estudo na revista [...] tinham, três anos antes, levantado questões a respeito da bióloga marinha que tinha feito essas afirmações [...] [numa revista importante]. Depois de uma investigação, a Universidade James Cook, na Austrália, concluiu que a bióloga tinha inventado os dados [tinha mentido].

    E ficou por isto: ela assustou e... Eles assustam, os cientistas assustam com suas mentiras, com suas narrativas.

    Por isso, Girão, é que naquele dia eu reagi chamando aqueles cientistas que disseram que, se asfaltar a BR-319, vai ter novas pandemias, novas... O escambau! E eu chamei cientista de bosta, o que os Anais vão tirar, mas eles são de bosta, porque não prestam nenhum serviço...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM) – ... à nação, muito pelo contrário.

    E olhem só a que ponto está chegando. E eu já encerro, Sr. Presidente. Em setembro de 2019, psicólogos britânicos alertaram para o impacto de discussões apocalípticas das mudanças climáticas nas crianças. Em 2020, uma grande pesquisa nacional verificou que uma em cada cinco crianças britânicas estava tendo pesadelos a respeito das mudanças climáticas, exatamente em função dessas mentiras, dessa pregação, da pregação desse apocalipse, ou seja, já há tratamento na Inglaterra para crianças que acham que não vão viver mais dez anos. Existem estudos que verificam que o alarmismo climático está contribuindo para o aumento da ansiedade e da depressão, especialmente entre crianças. Em 2017 foi que houve esse censo, essa consulta, para saber disso tudo.

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Independência/PSDB - AM) – Eu vou trocar em miúdos tudo o que eu disse aqui. Trata-se de uma campanha enganosa, o que é regra nas ONGs ambientalistas, que dizem pertencer ao "império do bem". Não acreditem nisso. Eles não têm nada de bem. Podem até ser do império que eles criaram, mas não é nada de bom, e nada de bom para todos nós.

    Você, com certeza, deve se perguntar por que eu falo tanto sobre isso. Já expliquei: eu não suporto, eu não tolero e não vou tolerar – e, por isso, Deus concedeu esta graça de ser Senador – ver a riqueza andando, crescendo em nome e fazendo uso da pobreza.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/2024 - Página 20