Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Em fase de revisão e indexação
Autor
Confúcio Moura (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Confúcio Aires Moura
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Para discursar.) – Perfeito.

    Sr. Presidente, senhoras e senhores presentes, Senadores e Senadoras, primeiro, algumas comunicações importantes.

    A primeira é a visita que eu recebi no gabinete agora no mês passado da Profa. Suelem. Essa professora é cega, veio lá de Rondônia e passou por Brasília – ela não consegue entrar em avião e, então, veio de carro – para ir para São Paulo para um grande encontro nacional de políticas dos portadores de deficiência visual. Ela é professora e foi a meu gabinete trazendo um pedido. Ela trabalha na Apae da cidade de Espigão d'Oeste e não tem nada lá para ensinar os cegos da região. Ela não tem nada em braile, não tem máquinas, não tem nem os códigos instalados para dar aulas convenientes.

    Eu fiquei muito agradecido pela visita da Prof. Suelem e do seu esposo, Inácio. Eles são nascidos ali na área rural e estudaram. Ela é graduada e, hoje, é professora. Eu assumi o compromisso com ela de atender os seus pedidos, para que ela possa dar aulas lá para a região toda e também orientar outros cegos e outras entidades do Estado de Rondônia. Foi uma visita que eu achei de grande importância e que estou registrando aqui.

    O segundo assunto é uma homenagem ao grande técnico em contabilidade lá do Estado de Rondônia chamado Almir Brasil de Souza. O Brasil era um camarada extremamente inteligente, e eu, quando assumi o Governo de Rondônia, fui visitar o serviço de contabilidade dele lá. Rapaz, ele trabalhava com umas máquinas... Eu tentei comprar algumas peças, mas não achava mais. Era máquina de escrever ainda, com uns computadores tão desatualizados. Eu não sei que milagre ele fazia, com pouquinha gente, numa sala suja. Parece que a contabilidade ficava no canto mais feio da Controladoria do estado, num lugar até de certa forma insalubre. E esse cidadão, o Almir Brasil, conseguia fazer milagre e prestar contas dos serviços da administração do estado por muitos anos. Por muitos anos, ele as apresentava ao Tribunal de Contas e, até hoje, é saudado pela sua competência técnica.

    Infelizmente, agora no dia 11 deste mês, ele faleceu e deixou uma quantidade imensa de descendentes que ele foi formando ao longo do tempo. E hoje nós temos uma contabilidade, no Estado de Rondônia, muito bem preparada, com técnicos concursados, tecnologia, computadores, máquinas, enfim, todas as informações muito facilitadas. Até para fazer a defesa do Governador, dos secretários, hoje é só ir lá buscar as informações, e a contabilidade tem condição de prestar essas informações, mas isso tudo graças ao grande mestre Almir Brasil de Souza.

    Eu registro aqui que, quando eu fui Governador – e ele já era aposentado –, a gente fez uma festa lá no teatro de Porto Velho homenageando aquelas figuras técnicas primorosas do Estado de Rondônia, e ele estava incluído nas nossas homenagens. Então, aqui, minhas palavras são para levar esse voto de pesar aos seus familiares e o reconhecimento pelos valorosos trabalhos prestados por este brilhante contador público da administração pública Almir Brasil de Souza.

    Sr. Presidente, o foco do meu discurso em si hoje é uma análise da situação das eleições do mundo. Analisando os resultados eleitorais da Europa e em outros países, a gente está observando um crescimento progressivo da direita e da extrema-direita. Nós estamos presenciando tudo isso e ficamos olhando o movimento cíclico da política, porque já teve várias fases em que a extrema-direita e a direita puderam ocupar cargos no mundo

    Agora, voltando um pouquinho na história até os anos 20 e por aí afora, a gente lembra que a extrema-direita e a extrema-esquerda, nenhuma delas é boa. Nem a extrema-esquerda é boa, nem a extrema-direita é boa. Exemplo: a Venezuela, por acaso, é dirigida por um ditador de extrema-esquerda. Ele é bom para o povo? Não é. Agora, vai ter a eleição lá no dia 28 de julho que vem, e os candidatos de oposição estão sendo perseguidos e seguidos continuadamente. A imprensa mostrou no Brasil que até o candidato de oposição e os seus apoiadores, ao comerem um pastel ou uma empanada em um restaurante, daí a pouco o Governo vai lá e fecha o restaurante – fecha o restaurante. Não admite nem a campanha da oposição. Então, a extrema-esquerda é péssima, é ruim para todo mundo. A extrema-direita, na história, registrou também os maiores horrores. E ainda existem, hoje, os países dirigidos por extrema-direita, que são países ditatoriais.

    E tem um entremeio aí muito interessante que é a Primeira-Ministra da Itália, a Giorgia Meloni. Eu não sei se ela é de direita ou de extrema-direita, mas certo é que ela é uma moça extremamente inteligente. Por exemplo, aborto, que aqui tem sido um palco de comentários – a extrema-direita, logicamente, é contra o aborto –; lá existe, na Itália, a lei do aborto. A gente pensava que, ao assumir, ela ia revogar tudo. Não revogou, não; não revogou nada. Ela consegue realmente administrar com negociações extremamente interessantes e inteligentes. É uma Primeira-Ministra que eu não sei classificar direito em que ela se encaixa, mas ela tem administrado de uma maneira surpreendente. Muito risonha e muito alegre, nesse encontro em que o Presidente Lula esteve lá nesse G7, ela esteve presente e abraçou todo mundo, se comunicou com todo mundo, muito solícita, muito alegre, muito festiva, muito bonita. Ela está, por enquanto, se comportando bem. (Risos.)

    Isso eu acho muito importante.

    Nós ficamos observando os movimentos na Europa, por exemplo, da extrema-direita. Vamos lá para os anos 20 e 30, entre o fascismo de Mussolini, o nazismo da Alemanha... A gente olha a quantidade de filmes que tem sobre a Segunda Guerra Mundial, em que você verifica todos os horrores da Segunda Guerra Mundial, observando como a extrema-direita consegue penetrar na cabeça das pessoas, uma doutrina cega, perigosa. E aí vai observando tudo isso... Vamos olhar para Portugal, por exemplo, em que a ditadura de Salazar foi terrível; a ditadura de Franco, na Espanha, foi também horrorosa. Então, são políticos que assumiram o poder sob a forma de ditadura e que perseguiam demais todo mundo, matavam todo mundo, prendiam todo mundo. É uma coisa horrorosa.

    Aqui no Brasil também temos um movimento de direita forte, está crescendo, crescente, mas a gente deve, daqui a pouco, dar uma voltadinha para o centro. Para dar uma esfriada na polarização brasileira, é necessário que retorne ao Brasil, talvez na próxima eleição ou na outra subsequente, que assuma o poder no Brasil uma pessoa que não seja extremista com um estilo Juscelino, Izalci, um estilo Juscelino Kubitschek, um estilo Temer, um estilo Itamar Franco...

(Soa a campainha.)

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) – ... que foram Presidentes que conseguiam conversar com todo mundo – eles conseguiam conversar com todo mundo!

    Eu era menino aqui em Brasília na época – embora eu represente o Estado de Rondônia, eu cresci aqui em Brasília, aqui na Vila Planalto, meu pai era candango aqui – de Juscelino. Eu era moleque aqui na Vila Planalto e me lembro bem de como, Izalci, os candangos – o pessoal aqui da Candangolândia, o pessoal de Ceilândia, que era da Vila IAPI, aqui no centro –, essa velharada e seus descendentes amavam o Juscelino. Quando o Juscelino morreu, foi uma loucura. Essa velharada veio da Bahia... Meu pai, que estava lá em Goiânia, veio para cá, já velho, aposentado, porque queria levar o caixão de Juscelino na mão para o cemitério. Eles queriam pegar ali... Como eles foram em cima do carro do corpo de bombeiros, eles ficaram muito chateados – os velhos – porque queriam levar o Juscelino na mão! É para você ver o tanto que ele era amado aqui em Brasília.

    Então, a gente precisa que retorne ao país uma pessoa conciliadora, lá para frente, depois que o Lula terminar o seu mandato – ou os seus mandatos –, para que, aí sim, a gente vá voltando ao centro, para o Brasil esfriar essa polarização doentia, essa radicalização. Ninguém hoje mais conversa.

    Quando terminaram as eleições passadas, eu fiquei cinco meses sem poder ir a Rondônia – cinco meses sem poder ir lá, nem entrar no avião. A Simone também não podia ir lá ao estado, a Campo Grande, a Mato Grosso do Sul. Ela não pôde ir, porque ela era vaiada no avião, ela era hostilizada no aeroporto. Eu e o Acir Gurgacz ficamos cinco meses sem ir a Rondônia, só porque nós apoiamos o Lula no segundo turno, pois lá a votação foi grande no Bolsonaro. A crença é tão grande que não permite... Até hoje, se eu faço um voto aqui contrário, no outro dia a minha caixa de e-mails e de zap enche na hora, criticando o meu voto. Até nesse voto do DPVAT, porque a direita recomendou o voto "sim" e eu votei "não" – votei favorável, não é? –, foi uma pauleira sem fim. Você veja como é que está a cabeça do povo... E eu já disputei dez eleições, eu não sou novato. Lá em Rondônia, o pessoal até me chama de dinossauro da política. Dez eleições! (Risos.)

    Aí você veja como é que é o extremismo. Foram eles que me puseram aqui, que me elegeram – me elegeram. Na época em que o Presidente Bolsonaro também disputou a eleição, eu disputei na oposição. Não é nenhuma novidade que eu seja assim, porque eles votaram em mim quando o Presidente passado também era candidato, e eu fui eleito! Agora, não aceitam nenhum voto. Eu falo sempre aqui para o pessoal do meu estado que vocês têm que me aceitar como eu sempre fui, eu sempre fui assim. Eu sempre tive as minhas posições muito claras, eu nunca enganei ninguém. Se eu enganasse, eu só teria sido eleito uma vez. No entanto, a gente está aqui há quantos anos, repetindo mandatos... E assim vai.

    Este meu discurso de hoje é justamente trazendo uma pacificação ao mundo. Não é que a extrema-direita, a direita seja péssima. Péssimas são as atitudes, os comportamentos, quando assumem poderes, de caminhar para um lado nefasto, perigoso, de prejudicar as pessoas, de perseguir.

    Aqui nós temos... Você pegou uma fase, eu peguei outra também, nós tivemos a fase da extrema-direita, que foram 21 anos de ditadura, de 1964 a 1985. A fase da extrema-direita, porque foram 21 anos de ditadura, de 1964 a 1985. Eu vivi isso! Eu era estudante secundarista e, depois, médico. Acompanhei o movimento da ditadura militar brasileira. Eu vi como é que a barra era pesada, com a imprensa censurada. Ninguém podia fazer um discurso aqui. Se eu tivesse feito um discurso como este aqui agora, eu já saía preso. Quantos Deputados faziam discurso de oposição e, quando saíam lá, já perdiam o mandato? Você se lembra disso? É uma situação de extremismo doentio.

    Então, aqui, a minha posição não é de criticar os colegas que são daqui ou de acolá. Não. Cada um segue a sua bandeira como quer, mas, realmente, o extremismo, a polarização doentia, as crenças políticas são altamente prejudiciais no curto prazo, no médio prazo e no longo prazo.

    Estas eram as minhas palavras.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/2024 - Página 36