Fala da Presidência durante a 106ª Sessão Especial, no Senado Federal

Abertura de sessão especial destinada à celebração dos 50 anos do 1º. Seminário de Problemas Urbanos de Brasília.

Autor
Leila Barros (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Leila Gomes de Barros Rêgo
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento Urbano:
  • Abertura de sessão especial destinada à celebração dos 50 anos do 1º. Seminário de Problemas Urbanos de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2024 - Página 8
Assuntos
Economia e Desenvolvimento > Desenvolvimento Regional
Política Social > Desenvolvimento Urbano
Matérias referenciadas
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, CELEBRAÇÃO, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO, SEMINARIO, DESENVOLVIMENTO URBANO, CAPITAL FEDERAL, BRASILIA (DF), LUCIO COSTA, PRESERVAÇÃO, PATRIMONIO CULTURAL, PATRIMONIO HISTORICO, PATRIMONIO ARTISTICO, SUSTENTABILIDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, Comissão de Meio Ambiente (CMA), ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO).

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Independência/PDT - DF. Fala da Presidência.) – Declaro aberta a sessão.

    Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

    A presente sessão especial foi convocada em atendimento ao Requerimento nº 176, de minha autoria, destinada a celebrar os 50 anos do 1º Seminário de Estudos dos Problemas Urbanos de Brasília, promovido em agosto de 1974 no âmbito do Senado Federal.

    Compõem a mesa desta sessão especial os seguintes convidados: o Sr. Dênio Augusto de Oliveira Moura, Promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e titular da 1ª Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – seja muito bem-vindo! –; (Palmas.)

    o Sr. Leandro Grass, Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); (Palmas.)

    a Sra. Renata Seabra, Vice-Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) – bem-vinda! –; (Palmas.)

    o Sr. Luiz Eduardo Sarmento, Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Seção Distrito Federal; (Palmas.)

    o Sr. Prof. Benny Schvarsberg, Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília – perdão, Prof. Benny!; o senhor já veio aqui outras vezes –; (Palmas.)

    o Sr. Wilde Cardoso Gontijo Júnior, Coordenador da Diretoria Colegiada da Associação Andar a Pé – O Movimento da Gente. (Palmas.)

    Agora, convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional, que será interpretado pela cantora Célia Porto e pelo pianista, o nosso querido Rênio Quintas.

(Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.)

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Independência/PDT - DF. Para discursar - Presidente.) – Bravo, bravo!

    Quero agradecer demais à nossa cantora Célia Porto e ao pianista Rênio Quintas – gratidão.

    Ah! Depois do hino é difícil... Aliás, nós todos estamos embalados pela Olimpíada – não sei se todos estão tendo a oportunidade –, mas é meio que, digamos, Leandro, relembrar memórias afetivas muito fortes toda vez que eu escuto o hino. E, num momento tão bacana do nosso esporte nacional, hoje, nós tivemos a medalha da Rebeca – outra medalha, medalha de ouro –, uma superginasta, uma superatleta, um exemplo de vida, com uma mãe doméstica que teve oito filhos e criou esses oito filhos sozinha e graças ao esporte. Esta é a nossa luta aqui nesta Casa: o entendimento do que é o esporte. Não é só formar uma nação olímpica, é formar uma nação com bons e preparados cidadãos para lidarem com frustrações, para lidarem com as diferenças, porque esses são os principais alicerces do esporte.

    Quero agradecer demais a presença de todos vocês nesta tarde com todos nós, aqui, no Senado Federal.

    Eu saúdo todas as Senadoras, os Senadores, os ilustres convidados, todas e todos aqui presentes e os que nos assistem pelas plataformas de comunicação do Senado Federal.

    Ao celebrarmos os 50 anos do 1º Seminário de Estudos dos Problemas Urbanos de Brasília, realizado em 1974, é hora de refletir com embasamento e responsabilidade sobre os desafios que a nossa cidade precisa enfrentar para seguir sua vocação de metrópole e capital de todos os brasileiros.

    Há exatos 50 anos, em 5 de agosto de 1974, sentava-se nesta mesma mesa nada mais, nada menos que o arquiteto e urbanista Lúcio Costa – entendam o tamanho da nossa responsabilidade! –; ele, que escreveu o Plano Piloto de Brasília, não participou da inauguração da cidade e veio visitá-la apenas 14 anos depois, para participar do 1º Seminário, neste Plenário.

    Naquele ano, Brasília, ainda adolescente, reuniu especialistas e autoridades para discutir e analisar os problemas urbanos que já se faziam presentes.

    O Senado Federal, por determinação da Constituição Federal vigente à época, possuía a competência privativa de legislar para a capital da República. Incumbiu-se, então, a Comissão do Distrito Federal, desta Casa, da organização deste importante e memorável conclave.

    O seminário, estruturado em diversas sessões temáticas, foi um marco para o planejamento urbano e arquitetônico, com discussões voltadas para a execução do Plano Piloto de Lúcio Costa e a preservação dos princípios arquitetônicos de Oscar Niemeyer. Questões de infraestrutura e mobilidade urbana foram amplamente debatidas, com foco na eficiência do transporte público e na expansão dos serviços básicos. A oferta de moradias e o crescimento desordenado – já constatado à época nas regiões administrativas – também estiveram no centro das atenções, assim como a preservação dos recursos naturais, as áreas verdes e as condições socioeconômicas dos habitantes da nossa Brasília.

    Hoje, meio século depois, esses temas continuam extremamente relevantes. Brasília, reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1987, enfrenta o desafio de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação de seu valioso patrimônio arquitetônico e urbanístico.

    Manter a integridade do Plano Piloto enquanto se adapta às demandas modernas é uma tarefa complexa, mas essencial.

    O crescimento populacional acelerado pressiona a infraestrutura da cidade, exigindo reavaliações constantes do trânsito, habitação e oferta de serviços públicos para atender às novas demandas.

    A identidade e a intensa vida comunitária de Brasília, formadas por caldeirão de brasileiros de todas as regiões do país, se consolidaram em uma riqueza cultural única.

    Senhoras e senhores, essa diversidade se manifesta na música, na gastronomia, nas festividades e tradições populares, criando um ambiente de troca e enriquecimento mútuo, que é a essência da brasilidade da nossa cidade.

    Brasília é hoje uma síntese do Brasil e emana vivacidade e pujança!

    A sustentabilidade urbana é outro tema preocupante. A gestão dos recursos naturais, a preservação das áreas verdes e o combate à poluição são fundamentais para garantir a qualidade de vida dos habitantes e a manutenção do patrimônio ambiental da nossa cidade.

    O 1º Seminário de Estudos dos Problemas Urbanos de Brasília foi um marco cuja memória nos convida a refletir sobre o futuro. As questões debatidas há 50 anos continuam a exigir nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a preservação da identidade cultural e do patrimônio histórico de Brasília.

    Nessa seara, entendo imperiosa a necessidade de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a preservação da essência que os mestres Lúcio Costa e Oscar Niemeyer trouxeram para o planejamento urbanístico e arquitetônico do Plano Piloto de Brasília e áreas adjacentes.

    Valorizamos o segmento da construção civil como indutor do desenvolvimento, notadamente na geração de emprego e renda, mas há que frear os efeitos nocivos da especulação imobiliária, a desfigurar os traços constitutivos do patrimônio histórico e artístico da nossa cidade.

    E, neste momento histórico, o Governo local, as entidades de proteção da nossa cidade e os cidadãos que a amam discutem a implementação do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, o PPCUB. O próprio nome do plano fala de preservação, mas traz em seu bojo brechas que oferecem riscos a que essa mesma preservação não seja uma realidade.

    Eu, na condição de Presidente da Comissão de Meio Ambiente desta Casa, promovi duas audiências públicas sobre a matéria, ouvindo autoridades públicas, privadas e especialistas no assunto, e chegamos à conclusão de que, da forma como está, oferece sérios riscos de deformação do plano originalmente traçado... (Palmas.)

    ... decisivo para que a UNESCO viesse a reconhecer Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade, título que devemos preservar a todo custo.

    Nessas audiências, recebi duas cartinhas sobre o PPCUB de pessoas que adotaram Brasília como lar e a escolheram para aqui constituírem suas famílias. São eles: Cláudio Viegas, do Lago Norte, e Arthur Oliveira, a quem peço permissão para ler alguns trechos dessas cartas.

    Disse Cláudio:

Quando cheguei em Brasília, fantasia e realidade se misturavam e originaram sentimentos de apego à nova cidade – sintetizava o fruto de um trabalho incansável de um punhado de idealizadores. A esperança de alguns se transformara no grande monumento modernista que poderia ser ocupado sem medo. Era uma cidade que abrigava o novo.

Infelizmente, em apenas 60 anos, a consolidação da cidade ocorreu sob o manto de um novo pensamento: o imediatismo. E, então, aproveitando-se desse imenso hiato entre o real e o irreal das telinhas, os espertos, os demagogos e os repatriados de seus longínquos rincões alteram a história contemporânea, iniciada apenas em 1960, para uma história supérflua e modelada conforme querem as forças econômicas capitalistas sem alma e sem pudor. (Palmas.)

O que o jovem de Brasília poderia hoje modelar – como nós o fizemos nos primeiros anos [em] que aqui moramos – deixam correr sem freios e sem um fio de história, aceitando políticos de ação variável, economistas ruminando imprevisões e projeções de pseudourbanistas de uma cidade sem dono.

Os gestores atuais esquecem que o emprego em nossos dias provém da indústria do turismo, que, desenhada nas escalas de empresas de entretenimento, induzem milhares de estrangeiros a visitarem monumentos mundo afora que são preservados, antigos, medievais ou modernos. E por que não Brasília, a cidade-monumento futurista?

Não nos surpreendemos, então, que esse Senado venha e tenha que servir de tutor para uma Câmara Legislativa insana e sem alma – que aprovou esse plano –, sem história, que caminha na direção de um abismo institucional.

Advogo aqui que está na hora de criar uma Comissão Especial de juristas, urbanistas e representantes do povo, para que cuidem melhor dessa bela cidade, tão admirada e falada pelo mundo afora, mantendo sua história recente e sem traumas.

    Arthur Oliveira disse, na última audiência pública:

Eu realmente não entendo como algumas pessoas têm a coragem de colocar o interesse privado à frente do público e coletivo, quando todos podem ser gravemente afetados por esse tipo de projeto. É lamentável que alguns não se importem com a ética, a honra e o legado a ser repassado às gerações futuras.

Devido ao valor internacional que Brasília possui, que é um valor intelectual, cultural e político, e como esse tipo de decisão pode afetar a reputação, o valor e a imagem da cidade perante o mundo, recomendo fortemente que representantes da Unesco/ONU estejam presentes nessa audiência.

Não estou enviando esta mensagem e oferecendo ajuda, esperando algum retorno. Estou fazendo-o por JK, Niemeyer, Lúcio Costa, Darcy Ribeiro, por meus conterrâneos, por meus filhos, netos e por todos que ainda que virão.

    Senhoras e senhores, finalizando, eu quero reiterar que os desafios são grandes, mas não são insuperáveis, desde que nos mantenhamos unidos, como filhos de uma mesma mãe, agindo com inovação, responsabilidade e perseverança, ferramentas essenciais para garantir que a nossa cidade continue sendo um exemplo de planejamento e um símbolo da diversidade e riqueza cultural do nosso país.

    Brasília, com a sua vocação de metrópole, permanece brilhando como a capital de todos os brasileiros, um verdadeiro orgulho para nós e em âmbito nacional.

    Que esta não seja apenas uma oportunidade de celebração de um evento importante; que seja também, e principalmente, um momento de avaliação dos caminhos que nossa cidade vem trilhando em seu desenvolvimento urbano, econômico, cultural e social.

    Assim, mais uma vez, esta Casa manifesta o amor à cidade que acolhe os Poderes da República e segue viva e pujante, com o seu horizonte infinito e o céu – que é o mais lindo do mundo – com seu azul inimaginável.

    Desejo um excelente segundo seminário a todos que estão aqui presentes para o seminário, a todos e a todas vocês, que amam e desejam preservar e melhorar as condições de vida da nossa gente.

    Muito obrigada! (Palmas.)

    Bom, antes de começarmos a ouvir os nossos convidados, eu solicito à Secretaria-Geral a exibição de um vídeo institucional.

(Procede-se à exibição de vídeo.) (Palmas.)

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Independência/PDT - DF) – Bom, antes de conceder a palavra ao primeiro orador nosso aqui, eu vou registrar a presença da Senadora Damares Alves.

    Seja muito bem-vinda, Senadora! (Palmas.)

    Também gostaria de registrar a presença dos alunos do curso de Direito da Universidade de Itaúna, Minas Gerais, nosso querido Estado de Minas Gerais.

    Sejam bem-vindos! (Palmas.)

    Neste momento, eu concedo a palavra ao Sr. Wilde Cardoso Gontijo Júnior, que é o Coordenador da Diretoria Colegiada da Associação Andar a Pé – O Movimento da Gente, por quatro minutos.

    Seja bem-vindo, Sr. Wilde!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2024 - Página 8