Discurso durante a 108ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com comprometimento, apontado por diversos estudos, de uma parcela considerável do orçamento das famílias mais pobres do país com apostas esportivas online.

Autor
Soraya Thronicke (PODEMOS - Podemos/MS)
Nome completo: Soraya Vieira Thronicke
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Economia e Desenvolvimento, Proteção Social:
  • Preocupação com comprometimento, apontado por diversos estudos, de uma parcela considerável do orçamento das famílias mais pobres do país com apostas esportivas online.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2024 - Página 51
Assuntos
Economia e Desenvolvimento
Política Social > Proteção Social
Indexação
  • PREOCUPAÇÃO, INDICAÇÃO, ESTUDOS SOCIAIS, COMPROMETIMENTO, PARTE, IMPORTANCIA, ORÇAMENTO MONETARIO, FAMILIA, POBREZA, BRASIL, VINCULAÇÃO, APOSTA, INTERNET.

    A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - MS. Para discursar.) – Sr. Presidente, caros colegas, meu Líder Senador Rodrigo Cunha, Rogério Carvalho, todos os servidores desta casa, povo brasileiro, é um prazer estarmos de volta.

    O nosso recesso, para mim, pelo menos, não teve nada de recesso. Eu vi as redes sociais dos colegas, estávamos todos trabalhando pela nossa democracia. Teremos eleições municipais e eu quero agradecer a todos os municípios, a todas as pessoas que interagiram conosco, lá no Mato Grosso do Sul, pelo carinho, pela lealdade, pelo companheirismo. Saibam que nós do Podemos trabalhamos com o cumprimento das nossas promessas, dos nossos compromissos. Todos aqueles que colocaram os seus nomes à disposição, que tiveram a coragem, porque não é fácil, não é nada fácil estar aqui, ser político, virar vidraça, por um ideal, saibam vocês da admiração, do orgulho e da gratidão pela credibilidade. Nós iremos cuidar de cada um de vocês.

    Sr. Presidente, eu venho hoje à tribuna especificamente para tratar de algo que está nos preocupando sobremaneira: essa questão dos jogos de azar, Tigrinho, apostas online. Eu não estou falando das apostas esportivas, mas do aumento dos gastos da população nas apostas esportivas online, perdão, nas esportivas online, pode ter afetado o processo de recuperação do nosso país.

    Começamos a pesquisar a questão por uma demanda de varejistas, meses atrás, que nos chamaram a atenção para esse cenário da força das bets, inclusive em segmentos que antes não sentiam esse impacto, como a moda, por exemplo. Segundo consultores, as apostas representaram 1,38% do orçamento familiar, pasmem, das classes D e E, em 2023; e, em 2018, eram só 0,27%, ou seja, isso quintuplicou em cinco anos, com expansão forte após a pandemia. É algo que pesa mais para aqueles com renda mais baixa, porque eles não têm orçamento flexível. Se perdem dinheiro ou gastam mais nas bets, ficam em uma situação difícil para fechar as contas e cortam ou reveem gastos nas questões de que não se pode abrir mão, nas questões essenciais – comida, estudo, saúde.

    E, ainda por esse estudo, o montante... Esse é do O Globo, essas informações aqui, do jornal O Globo. Ainda pelo estudo, o montante separado para tentar a sorte nas bets representou 4,9% dos gastos com alimentação de uma família no ano passado. O estudo chama a atenção para o fato de que as apostas online já têm comprometido uma parcela considerável do orçamento das famílias mais pobres. Desses recursos, as plataformas de apostas online faturaram cerca de R$13 bilhões, e R$120 bilhões no ano de 2023. O valor já corresponde a cerca de 1% do PIB. Desses recursos, as plataformas de apostas online faturaram cerca de R$13 bilhões, ou seja, a cada R$100 apostados, R$13 já ficavam com as plataformas. Então, o faturamento delas saltou 71% na comparação entre 2023 e 2020.

    Quem são esses apostadores? O relatório da XP cita também uma pesquisa da consultoria Futuros Possíveis, que mostra que 36% das pessoas no Brasil já disseram ter feito alguma aposta online. Nesse grupo, 78% dizem que apostam com frequência. Entre os apostadores ouvidos – esta informação é de extrema importância –, 80% gastam até R$100. A maioria dessas pessoas são de baixa renda. E 58% gastam menos de R$50, ou seja, as classes mais vulneráveis estão apostando cada vez mais.

    No relatório, a XP também chama a atenção para o fato de que as apostas online já apareceram como um gasto discricionário relevante para as classes de baixa renda no nosso país. Também, do O Antagonista, eu gostaria de destacar que Osmar Neto, um jovem universitário de 22 anos, exemplifica essa nova tendência. Ele relata como, por vezes, opta por apostar em partidas esportivas ao invés de gastar seu dinheiro imediatamente em lazer ou necessidades básicas, como é a alimentação. Aí abrem-se aspas para o Osmar Neto: "Às vezes, penso em uma diversão mais certa, como uma pizza, mas acabo apostando em um jogo, esperando multiplicar o dinheiro".

    Quem são os apostadores brasileiros? A maioria é masculina, 58%, e pertence à classe C, 54%. Aí, vêm os jovens entre 18 e 34 anos, que representam 44% do total de apostadores; a Região Sudeste ostenta a maior concentração de jogadores, representando 50%. Esses dados demonstram não apenas o perfil dos apostadores, mas também ressaltam como a dinâmica do consumo está ligada a fatores sociodemográficos distintos.

    Conforme o estudo, 39% dos brasileiros entre 16 e 29 anos já apostaram alguma vez em suas vidas. Esses jogos de azar na internet, entre eles o que ficou popularmente conhecido como jogo do Tigrinho, estão pagando influenciadores mirins brasileiros para divulgarem as casas de apostas para crianças e adolescentes no Instagram. Os influenciadores mirins divulgam stories e outras publicações com demonstrações dos jogos, fazem sorteios de prêmios para adquirir bilhetes, alegam supostos ganhos obtidos com as apostas e incentivam de diversas formas seus seguidores a aderirem aos jogos. Procurada pela reportagem, a Meta informou que retirou dos perfis os posts que continham propaganda de jogos de azar.

    E, aqui, eu gostaria de destacar que uma assessora minha, que tem um filho adolescente e um pré-adolescente, ambos de escolas abastadas, diz que a vida dos pais ali virou um verdadeiro inferno. As crianças ficam pedindo Pix o tempo inteiro: "Pai, manda tanto de Pix". Às vezes, manda o Pix, o filho fala que vai comprar comida, e acaba apostando.

    Diferentemente dos cassinos, principalmente porque eu sou liberal na economia, e aqui... Mas a gente não pode ser irresponsável; não é uma anarquia isso, tem que ter travas. E a concepção para a abertura de cassinos físicos traz várias travas, como no caso de pessoas que moram ao redor, na cidade ou no estado, poderem frequentar uma, duas vezes por semana, não mais do que isso, até certa hora. Então, a gente sabe que jogos de azar já existem no Brasil. Não dá para a gente tampar o sol com a peneira e simplesmente não legislar e não regulamentar. É a mesma situação dos dispositivos eletrônicos de fumar ou vapear.

    O jogo do bicho... Eu conheço um senhor que trabalhou com o meu sogro, um senhor muito humilde, e, todos os dias, ele jogava no bicho. Ele nunca ganhava, e, quando ganhava, jogava ali R$1, ganhava R$20, R$30, mas no outro dia já perdia; absolutamente viciado. E, quando a gente não abre os olhos para isso, não consegue criar políticas públicas para isso. Então, há a importância de discutirmos o assunto. Nós vamos pegar pesado agora, nesse segundo semestre, nesse tema.

    Ah, fora que o Eduardo Gomes, que não está aqui no Plenário, dias atrás ele me ligou. Nós estávamos nos falando, e ele disse: "Soraya, uma menina cometeu suicídio. A moça arrancou uns R$30 mil da conta do marido, apostou tudo, perdeu e se matou". Eu tenho que falar isso porque as situações são graves demais para que a gente simplesmente feche os olhos ou simplesmente fale: "Liberaram ou não liberaram". O problema existe, e nós temos que dar um jeito nessa situação.

    Muito obrigada, Sr. Presidente, muito obrigada, meu grande Líder, muito obrigada a vocês, brasileiros e servidores.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - RN) – Nós é que agradecemos, Senadora Soraya Thronicke. Como a senhora disse, liberalidade, ser liberal, não quer dizer que seja promíscuo, que leve a pessoa para a degradação moral.

    A senhora mostrou aí uma estatística de pessoas de baixa renda jogando mais. Eu não li a estatística, mas eu creio que a esperança da pessoa de ganhar aquele dinheiro, a fé que a pessoa tem de que vai ser uma vencedora naquele jogo... A gente precisa alertar que a senhora não vai ganhar, o senhor não vai ganhar. Esse jogo foi feito justamente para a senhora perder, entendeu?

    A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - MS. Fora do microfone.) – Posso falar um pouquinho daqui?

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - RN) – Pode, claro.

    A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - MS) – Esqueci-me de falar, Presidente, que nós registramos um boletim de ocorrência aqui na Polícia Legislativa, porque fizeram um vídeo meu, pegaram uma fala minha e, no meio de uma propaganda desse tigrinho, dessas apostas aí, colocaram eu falando que eu tinha ganhado R$300 mil no tigrinho e que era para as pessoas jogarem. Está lá, na Polícia Legislativa. Procurem, porque deve ter com vocês também.

    Aí eu falo: é muito tosca...

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - RN. Fora do microfone.) – Cadê o dinheiro?

    A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar Independência/PODEMOS - MS) – Cadê o dinheiro? (Risos.)

    Mas, gente, é um absurdo isso! E os Senadores têm que ficar atentos, porque usam a nossa imagem – e eu vou lhe falar: eu já estou indo para cima, eu vou para cima. Essa turma que arrume um endereço, porque nem endereço a gente encontra desse povo aqui no Brasil, viu? É complicado.

    Agora, eu jamais vou ter meu nome atrelado a esse tipo de situação.

    Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2024 - Página 51