Discurso durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a desinformação promovida pelas redes sociais e seus impactos políticos. Defesa das conquistas, especialmente econômicas e sociais, do atual Governo Lula. Críticas contra a atuação da extrema direita brasileira por, supostamente, distorcer a realidade com narrativas emocionais para desestabilizar instituições e deslegitimar avanços sociais.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Educação, Finanças Públicas, Governo Federal, Indústria, Comércio e Serviços, Proteção Social, Saúde Pública, Sistema Financeiro Nacional, Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública:
  • Preocupação com a desinformação promovida pelas redes sociais e seus impactos políticos. Defesa das conquistas, especialmente econômicas e sociais, do atual Governo Lula. Críticas contra a atuação da extrema direita brasileira por, supostamente, distorcer a realidade com narrativas emocionais para desestabilizar instituições e deslegitimar avanços sociais.
Publicação
Publicação no DSF de 17/06/2025 - Página 50
Assuntos
Política Social > Educação
Economia e Desenvolvimento > Finanças Públicas
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Economia e Desenvolvimento > Indústria, Comércio e Serviços
Política Social > Proteção Social
Política Social > Saúde > Saúde Pública
Economia e Desenvolvimento > Sistema Financeiro Nacional
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública
Indexação
  • PREOCUPAÇÃO, NOTICIA FALSA, DISCURSO DE ODIO, CONSERVADORISMO, MANIPULAÇÃO, DISCURSO, EMPRESA, MIDIA SOCIAL.
  • REGISTRO, RESULTADO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, FOME, IGUALDADE, RENDA, CONTROLE, INFLAÇÃO, REDUÇÃO, PREÇO, ALIMENTOS, EXPORTAÇÃO, BALANÇA COMERCIAL, SAFRA, LUCRO, BANCOS, EMPRESA, COMENTARIO, AMPLIAÇÃO, PROGRAMA, PROGRAMA MAIS MEDICOS, FARMACIA POPULAR, Programa Pé de Meia, PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC), ENSINO, TEMPO INTEGRAL, CRIAÇÃO, INSTITUTO FEDERAL, INVESTIMENTO, TECNOLOGIA, MODERNIZAÇÃO, EMPRESA PUBLICA, CRITICA, NOTICIA FALSA, DEFICIT, POLITICA FISCAL.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - PE. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, público que nos acompanha pelos serviços de comunicação do Senado e nos segue pelas redes sociais, nós temos vivido tempos muito desafiadores. Uma quadra da história conhecida como a do pós-verdade, em que fatos objetivos têm menos influência sobre as pessoas do que as chamadas narrativas, versões carregadas de apelos emocionais ou crenças particulares, muitas vezes distorcidas e até mesmo falsas. Ou seja, a verdade factual parece menos importante do que a maneira como as informações são percebidas e sentidas pelas pessoas.

    É algo assombroso, como, por exemplo, o que nós vivemos lá na pandemia da covid-19, quando décadas de evidências científicas sobre a eficácia das vacinas foram jogadas no lixo por afirmações de que elas matavam, inoculavam o vírus da aids, implantavam chips chineses em quem tomava a CoronaVac e outras asneiras como as tantas difundidas por gente desqualificada, que ganha muito dinheiro em cima da ignorância alheia.

    O fato é que essa nova onda leva a um quadro de descolamento da realidade tão absurdo que as pessoas se alienam da verdade para se agarrar a crenças muitas vezes nocivas à própria vida. E digo assim porque quero analisar a situação atual do Brasil. Nosso Governo reassumiu o comando do país em 2023, depois de sete anos de um cenário de devastação em todos os níveis: o avanço da fome e da pobreza, o sucateamento do serviço público, do SUS, desmonte de programas sociais, alto desemprego, perda de renda das pessoas, preços dos alimentos e dos combustíveis nas alturas, queda violenta do PIB.

    Em muito pouco tempo, o Presidente Lula fez o inacreditável. Da devolução do país à normalidade democrática e manutenção da harmonia e independência entre os Poderes, ao enfrentamento a problemas crônicos, tudo foi conquistado com resultados extraordinários, rapidamente alcançados, que, em última análise, significam garantia de saúde e vida das pessoas que estavam em situação de risco.

    É preciso ter coragem para ver a realidade quando ela desafia essas narrativas estabelecidas. É preciso ter compromisso público para reconhecer que, apesar de um cenário internacional incerto, de taxas de juros historicamente elevadas, de pressões políticas e tentativas de sabotagem institucional, o país, sob a liderança do Presidente Lula, está entregando resultados concretos para o povo.

    Assumimos sob a narrativa de que o PT, pelas duras críticas à extorsiva taxa de juros, era parceiro da inflação. Viria um descontrole, um colapso iminente, mesmo depois de uma acumulada de 26,9%, com pico de 10,06% em 2021.

    Pois bem, colocamos em 4,73% a média anual da inflação nos dois primeiros anos, abaixo da média histórica das últimas três décadas, que é de 6,5%, e muito abaixo dos quatro anos do Governo anterior, cuja média anual foi de 6,17%. Tivemos eventos climáticos extremos, como a destruição do Rio Grande do Sul, crises externas fortíssimas, problemas sérios ligados à safra. E toda a narrativa era de que o preço dos alimentos iria estourar, de que haveria desabastecimento em algumas áreas, de que os alimentos, que têm peso significativo no orçamento dos mais pobres, inviabilizariam a vida das pessoas.

    Os dados mostram exatamente o contrário. Os alimentos subiram 8% no último ano, ao passo que a renda das famílias cresceu 19%, o que significa que o poder de compra, especialmente das camadas mais vulneráveis, cresceu com dignidade. Não houve desabastecimento ou explosão no preço do arroz, como foi dito. Pelo contrário, tanto o arroz quanto o feijão caíram nos últimos 12 meses na casa dos dois dígitos, segundo o IPCA. O arroz, 12,7%; o feijão caiu até 23,01%, no caso do feijão preto. As safras de um e de outro não só não serão reduzidas como aumentarão este ano em 15,9% e 28,4%, respectivamente.

    Aí o problema seria o desemprego. Já era muito alto com o Bolsonaro e, "com certeza [dizia o mercado e a elite abastada], o país paralisaria com Lula e o PT." Em dois anos, chegamos às mais baixas taxas de desemprego da história, com recorde não apenas em carteiras assinadas, mas no recuo de 38% na informalidade, o maior em dez anos, além do maior nível de médias e pequenas empresas abertas de todos os tempos, com o apoio a mais de 660 mil pequenos negócios, somente em 2024.

    Juntamente com uma série de políticas sérias que sustentam incríveis programas sociais, chegamos à menor desigualdade de renda da história no ano passado, salvando 15 milhões de pessoas da fome em que haviam sido lançadas pelo Governo anterior. "Ah, mas o PIB, esse não vai crescer". Pois bem, o Brasil voltou a ser a décima economia do mundo, uma liderança planetária à frente do G20, dos Brics, da COP30. E o Presidente Lula viajou hoje para o Canadá, a convite, para participar da reunião do G7, o grupo que reúne as sete maiores economias globais, isso graças ao espetacular salto das nossas riquezas, que crescem a um patamar superior a 3% anuais.

    Estamos fazendo isso a despeito da abusiva taxa básica de juros da economia, que estrangula nosso potencial e é absolutamente dissonante do cenário de inflação controlada que temos.

    O agronegócio tem safras recordes. A indústria cresce a 3,1% anuais, depois de um sombrio período de desindustrialização nacional a que fizemos face com mais de R$0,5 trilhão de investimento pelo Nova Indústria Brasil.

    E o andar de cima, apesar de reclamar, está tendo lucros excepcionais, para além até mesmo das próprias expectativas. Somente no primeiro trimestre deste ano, o lucro líquido das 387 companhias abertas não financeiras subiu 30,3%, chegando a R$57 bilhões, com suas receitas batendo quase R$1 trilhão. Os quatro maiores bancos do país amealharam sozinhos, nos três primeiros meses de 2025, quase R$30 bilhões de lucro líquido, numa média de crescimento acima dos 7%.

    "Ah, mas o problema é a bomba fiscal", "o problema são as empresas públicas", segundo dizem eles. Vamos ver então as empresas públicas, muitas das quais, como Dataprev e Serpro, sucateadas por Paulo Guedes e Bolsonaro e colocadas à venda na "bacia das almas", com dados sensíveis e estratégicos para o Brasil, como os de aposentados e pensionistas, armazenados no exterior e expostos a constantes vazamentos. Pois bem, de onde vem esse déficit de que tanto se fala? De algo muito simples: de investimentos. Essas empresas não investiam mais. Elas simplesmente recolhiam seus lucros e estavam sendo desmontadas para serem entregues de graça à iniciativa privada, como foi feito criminosamente com a Eletrobras.

    Nossas empresas estão bem, com todas as suas obrigações em dia. O Dataprev, por exemplo, que tem um déficit registrado de R$180 milhões, deu um lucro de R$580 milhões. O que hoje é revertido em tecnologia, antes era tudo recolhido ao Tesouro Nacional. O Serpro é outro. Déficit de R$211 milhões, mas teve lucro, em 2024, de R$685 milhões, o maior da sua história.

    Então, esta história de rombo fiscal, de déficit que ameaça as contas públicas, tudo isso é balela de financista, que semeia falsos dados para ganhar dinheiro em cima das mentiras que eles mesmos contam, sem qualquer lastro na realidade.

    É exatamente o que faz a extrema direita, com amparo das big techs. É o mesmo modelo: o de semear narrativas mentirosas, conspirações, o de hiperbolizar dados com contornos emocionais para criar uma atmosfera ficcional às pessoas e descolá-las da realidade em que vivem.

    Eu poderia aqui pontuar, de forma muito rápida, uma série de outros dados: o maior crescimento do salário mínimo dos últimos seis anos; mais de 340 mercados abertos para a exportação; a melhor balança comercial da história; um Mais Médicos que dobrou de tamanho; o lançamento do Tem Mais Especialistas; um recorde nas cirurgias eletivas; cinco vezes mais ambulâncias do Samu; a volta do Farmácia Popular e com remédios 100% gratuitos; 4 milhões de jovens recebendo o Pé de Meia para seguirem estudando; 1 milhão de novos estudantes em ensino integral; dez novos campi universitários e 102 novos institutos federais; mais de 20 mil obras do Novo PAC, o maior já visto pelo país. E tudo isso, como disse, aliado a uma inflação abaixo da média nacional dos últimos 30 anos; ao crescimento histórico da renda dos mais pobres, acima da inflação dos alimentos, ao mais baixo nível de desemprego da história; à queda de 85% do número de pessoas em situação de fome; à safra de alimentos recordes; e também ao lucro recorde de empresas e bancos.

    Então, onde está essa deterioração econômica e social de que muitos falam? Onde estão a paralisia, a piora da vida e do dia a dia das pessoas, tendo em conta que todos os indicadores socioeconômicos são sensivelmente melhores do que os anteriores? Certamente, estão em um campo em que as forças progressistas ainda não conseguiram dominar, porque nele não há paridade de armas. Nós, ao contrário da extrema direita, não trabalhamos com discurso de ódio, com mentiras, com fake news e com desinformação, algo que prolifera nas mídias sociais e constrói o cenário de terror, de infelicidade e de tristeza em que as pessoas, não só no Brasil, mas em todo o mundo, estão vivendo.

    Vivemos hoje um tempo em que os fatos perderam o poder de convencimento frente à narrativa emocional. E é nessa brecha entre realidade e percepção que a extrema direita construiu seu império digital de ressentimento, medo e desinformação. Mesmo diante de dados inequívocos, o povo é refém de um fascismo que explora suas emoções primárias, como medo, raiva e repulsa, operando não com argumentos, mas com afetos que alimentam o mau humor e a desesperança.

    E aí está o promíscuo casamento da extrema direita com as big techs, cujo algoritmo das plataformas vai recompensar justamente isso: o que indigna, choca, divide e viraliza. É por isso que uma mentira emocionalmente poderosa tem mais impacto do que um dado estatístico verossímil.

    Enquanto tentamos informar, a extrema direita encena. Enquanto apresentamos programas, o bolsonarismo oferece inimigos imaginários.

    Milhões de brasileiros vivem hoje em universos paralelos de desinformação, alimentados por canais do WhatsApp, perfis automatizados, influenciadores pagos, e uma arquitetura de rede descentralizada, fanática e resiliente. Mesmo que a inflação baixe, esses brasileiros veem vídeos dizendo que tudo está mais caro, Mesmo que a fome diminua, leem que o comunismo vai destruir o agro. Mesmo que liberdades sejam garantidas, acreditam que estamos em uma ditadura judicial;

    Essa dissonância entre dados e crenças não é irracionalidade espontânea, é um projeto, um projeto de dominação simbólica que visa desestabilizar a confiança nas instituições, nos números e até no próprio juízo da realidade.

    As consequências subjetivas disso são visíveis: uma parcela da população vive em permanente estado de agitação emocional, com senso de ameaça constante, indignação difusa, nostalgia de um passado idealizado. Não é à toa que muitos estão tristes e irritados. Não é porque as coisas estão piores, é porque foram convencidos de que nada mais pode melhorar enquanto "os inimigos" – entre aspas – estiverem no poder. É uma tristeza fabricada, politicamente induzida, que gera desmobilização social e negação dos avanços.

    Essa narrativa de sofrimento eterno não é inocente. Ela serve a um propósito eleitoral: mobilizar a base radicalizada da extrema direita. Ela quer deslegitimar qualquer avanço social como farsa e produzir uma percepção de caos permanente que torne qualquer alternativa fora do autoritarismo impensável. É um jogo de versões, não de verdades...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - PE) – E, nesse jogo, quem controla os canais de emoção digital, ainda que com mentiras, tem poder real.

    O mau humor social que se impõe sobre os fatos é o efeito de uma guerra assimétrica de narrativas, na qual a extrema direita ainda joga com muito mais desenvoltura, volume e agressividade.

    Não basta mais informar: é preciso reconstruir laços emocionais com a população, disputar afetos, criar pertencimento. Mais do que mostrar que o país melhorou, é preciso fazer as pessoas sentirem que ele melhorou para elas, porque, num país onde a realidade é questionada em tempo real, governar bem já não é suficiente. É preciso comunicar com verdade, coragem e imaginação.

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - PE) – É este o nosso desafio – Sr. Presidente, concluindo –: mostrar que o Brasil está crescendo apesar dos entraves, apesar das apostas contrárias, apesar das resistências políticas e financeiras e apesar das mentiras da extrema direita sobre a nossa real situação; é mostrar o país real, o país que sai da invisibilidade, que sai da fome, que sai da desesperança, o país que tem nome – Brasil – e que tem um Governo que, com todas as suas dificuldades, tem compromisso com o povo. O resto é ruído e falácia de um segmento político que perigosamente está se colocando acima do Estado, uma união espúria entre nichos políticos e big techs para roubar as mentes e os corações das pessoas...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - PE) – ... e desconectá-las da realidade com o propósito de poder espoliá-las cada vez mais. Não podemos permitir que esse cenário tenebroso se perpetue.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância.

    Muito obrigado a todos e a todas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/06/2025 - Página 50