Pronunciamento de Confúcio Moura em 11/11/2025
Discurso durante a 166ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
- Autor
- Confúcio Moura (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
- Nome completo: Confúcio Aires Moura
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Para discursar.) – Tudo bem.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, o Brasil clama por socorro. O que estamos vivendo é de cortar o coração. Nosso país atravessa uma fase duríssima, em que a força da natureza tem exposto, de forma trágica, a nossa vulnerabilidade diante das mudanças climáticas.
No Rio Grande do Sul, vivemos recentemente a pior enchente da história, com mais de 2,4 milhões de pessoas afetadas, 478 municípios atingidos e 184 vidas perdidas.
Agora, Sr. Presidente, o drama se repete no Estado do Paraná: três tornados, associados a um ciclone extratropical, varreram cidades inteiras, deixando pelo menos seis mortos, centenas de feridos e mais de mil pessoas desalojadas. No Município de Rio Bonito do Iguaçu, 90% das edificações foram danificadas – um cenário de destruição que impressiona e comove o país.
E, no mesmo território em que o Sul é castigado pelas chuvas, o Norte e o Centro-Oeste enfrentam a face oposta da tragédia: a seca mais severa dos últimos tempos. Agora, a seca do Nordeste se estende a outras localidades. Nos últimos dois anos, o Pantanal arde em fogo. O Amazonas padece sob a estiagem mais drástica de sua história e os grandes rios da região agonizam com seus leitos rasos, como se pedissem socorro.
O que antes era tema de relatórios técnicos e conferências internacionais, agora se tornou parte do cotidiano brasileiro, vivido, sentido e sofrido por milhões de famílias. As cenas que nos chegam de norte a sul são devastadoras: casas destruídas, árvores tombadas, arrancadas, energia interrompida, vidas ceifadas. O país inteiro assiste, atônito, à força da natureza revelando a fragilidade das nossas cidades e a urgência de uma ação concreta.
E, neste momento, quero expressar minha profunda solidariedade ao povo paranaense, que hoje enfrenta dor e perdas incalculáveis, mas estendo essa solidariedade também aos brasileiros de todas as regiões que, nos últimos anos, têm sido vítimas da fúria da natureza. Porque a dor é a mesma, a dor das famílias desabrigadas, das cidades devastadas, das vidas interrompidas e do sentimento de impotência que atravessa o coração do nosso povo. É a dor de um país que vê parte de si sendo levada pela força das águas, pelo vento e pela seca, e que começa a perceber que talvez não tenha feito tudo o que poderia para evitar tamanha destruição.
Mas é preciso ir além da solidariedade. É hora de transformar a comoção em reflexão, e a reflexão em ação concreta. Essas tragédias precisam ser compreendidas à luz da cúpula do clima de Belém, que marca as discussões preparatórias da COP 30. O mundo nos observa agora. O Brasil, que hoje lidera a cúpula do clima, em Belém, também é o país que sente na pele os efeitos daquilo que está sendo discutido nas mesas de negociação. Isso nos impõe uma responsabilidade ainda maior: a de sermos exemplo, não apenas no discurso, mas na ação, com políticas públicas consistentes e compromisso permanente com a sustentabilidade.
Sr. Presidente, há uma contradição dolorosa: o Brasil tropical, o Brasil da esperança, o Brasil abençoado por Deus e bonito por natureza – como dizia o poeta – agora sofre os mesmos impactos climáticos extremos que antes pareciam distantes, restritos a outras partes do planeta. A natureza pede socorro, e precisamos olhar para ela com mais responsabilidade, ciência e maturidade.
Como vamos reagir? Como vamos nos preparar? Que decisões o país vai tomar?
Enquanto buscamos essas respostas, outras realidades se desenrolam. Por exemplo, o início do Enem 2025. Neste ano, mais de 4,8 milhões de estudantes brasileiros participam do exame, dando o primeiro passo rumo ao futuro que sonham construir. Enquanto as sirenes de alerta soam no Sul, milhões de jovens estão de cabeça baixa, escrevendo a redação do Enem. É o contraste mais brutal: de um lado, a urgência da sobrevivência; do outro, a urgência do conhecimento. E o tema deste ano foi: desafios para o enfrentamento do etarismo na sociedade brasileira, do envelhecimento, um tema que convida à reflexão sobre o envelhecimento do nosso povo e sobre o respeito e a inclusão das pessoas idosas. E é simbólico que esse debate ocorra justamente agora, porque o Brasil está envelhecendo, e não está preparado para isso.
Vivemos o paradoxo de um país que envelhece sem formar novas gerações em número e qualidade suficientes para sustentar o futuro. Faltam médicos, engenheiros, professores, técnicos, cuidadores, pesquisadores. Falta gente preparada – e sobra potencial desperdiçado.
Enquanto o tempo avança, seguimos sem investir o bastante na formação de pessoas, na educação de base, na valorização da ciência e na capacitação técnica necessária para enfrentar os desafios do clima, da energia, da saúde e da vida em sociedade. É como se a vida nos lembrasse, mais uma vez, que a única engenharia capaz de reconstruir o país, de planejar nossas cidades e de salvar o futuro é a engenharia da educação, da ciência, da consciência ambiental.
Senhoras e senhores, no meio do caos climático, temos jovens tentando construir um futuro. E é simbólico – e, ao mesmo tempo, doloroso – ver o país enfrentando tragédias e, simultaneamente, educando a juventude.
Não existe saída fora da educação, da ciência e da consciência ambiental.
O que o Brasil vive hoje é um chamado. Um chamado à consciência, à união e à ação.
Que a dor que atinge nossos irmãos do Sul sirva para acordar o país – e para que a cúpula do clima, sediada aqui, sob o olhar atento e milenar da Amazônia, não seja apenas uma conferência, mas um marco de mudança...
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) – ... um ponto de virada na forma como o Brasil e o mundo encaram o futuro do planeta.
Que o Senado Federal seja, neste momento, a voz do desabrigado, a consciência do cientista e a bússola que aponta para um futuro em que a tragédia de hoje não seja a rotina de amanhã.
Há 32 anos, o Brasil sediava a Eco 92, no Rio de Janeiro, inaugurando a era do debate global sobre o desenvolvimento sustentável. Hoje, mais de três décadas depois, é inevitável perguntar: o que aprendemos? O que fizemos de diferente? O tempo passou, e o clima continua a nos cobrar respostas.
E, agora, o futuro exige não apenas discursos...
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) – ... e sim ações concretas: formar pessoas, cuidar de nossas vocações, investir em ciência, em energia limpa, em adaptação e, sobretudo, em educação.
É a nossa responsabilidade. É a nossa hora.
Que o futuro, quando chegar, nos encontre preparados, conscientes e comprometidos com o planeta e com o povo brasileiro.
Sr. Presidente, eu quero aqui registrar, no final do meu pronunciamento, a presença, no Plenário, do Prof. Olakson, que é um dos professores líderes do Instituto Federal de Educação do Estado de Rondônia, ligado às práticas esportivas, com um programa inteligente de inclusão social através do esporte.
Então, por meio dele, eu cumprimento todos os professores de Educação Física, todos os alunos e pais que realmente aceitaram...
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) – ... participar do Projeto IFROatleta Cidadão, no Estado de Rondônia.
Então, Sr. Presidente, muito obrigado.