Notas Taquigráficas
| Horário | Texto com revisão |
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| R | O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Fala da Presidência.) - Havendo número regimental, declaro aberta a 66ª Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito, criada pelos Requerimentos n°s 1.371 e 1.372, de 2021, para apurar as ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento da pandemia da covid-19, bem como outras ações ou omissões cometidas por administradores públicos federais, estaduais ou municipais no trato com a coisa pública durante a vigência da calamidade originada pela pandemia do coronavírus. A presente reunião destina-se à realização de audiência pública para ouvir o depoimento de vítimas direta e indiretamente atingidas pela covid-19, em atendimento ao requerimento do Senador Randolfe Rodrigues. A reunião será interativa, transmitida ao vivo e aberta à participação dos interessados por meio do Portal e-Cidadania, na internet, em senado.leg.br/ecidadania, ou pelo telefone da ouvidoria. Estão presentes, e eu quero convidá-los: Mayra Pires Lima, enfermeira em Manaus que perdeu a irmã por conta da crise da falta de oxigênio em Manaus - deixou quatro filhos -; Giovanna Gomes Mendes da Silva, órfã da covid, jovem de 19 anos que perdeu a mãe e terá a guarda da irmã, de 10, sendo a nova chefe da família. (Pausa.) Sra. Mayra... É você? Venha cá, Mayra. (Pausa.) Giovanna Gomes Mendes da Silva. (Pausa.) Katia Shirlene Castilho do Santos. (Pausa.) |
| R | Arquivaldo Leão Leite. (Pausa.) Troque com o Sr. Arquivaldo, por favor. Coloque-o lá na ponta, por favor, porque ele tem dificuldade de locomoção. Sente-se ali, Sr. Arquivaldo, por favor. Rosane Maria dos Santos Brandão. (Pausa.) Cadê a Sra. Rosane? É você? (Pausa.) Sente-se aí por favor. Márcio Antonio Silva. O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Márcio Antonio, ali. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Márcio Antonio do Nascimento Silva. Cadê o Márcio? O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Aqui o Márcio. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Bom dia. Antonio Carlos Alves de Sá Costa, fundador da ONG Rio de Paz. O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - O Antonio Carlos está aqui. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Cadê o Antonio Carlos? O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Está aqui. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Para interpelar.) - Sente-se aí, amigo, por favor. Eu vou aqui... A Mayra é da minha cidade, é enfermeira em Manaus. Ela perdeu a irmã por conta da crise de falta de oxigênio de Manaus, que deixou quatro filhos. A Giovanna Gomes Mendes da Silva, órfã da covid, jovem de dezenove anos, perdeu a mãe e terá a guarda da irmã de dez anos, sendo a nova chefe da família. Você é de onde, Giovanna? (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Você é de São Luís do Maranhão. Katia Shirlene Castilho dos Santos, órfã da covid, perdeu pai e mãe. Acompanhou a mãe em sua internação na Prevent Senior, em São Paulo, e o tratamento recebido pelo kit covid. Katia Shirlene, você é de São Paulo? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS (Para expor.) - Eu estou representando São Paulo, mas sou de João Pessoa. Meus pais moravam em São Paulo. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Para interpelar.) - Tá. Arquivaldo Leão Leite, vítima da covid, em tratamento, com graves sequelas. O senhor é de onde, Sr. Arquivaldo? O SR. ARQUIVALDO BITES LEÃO LEITE (Para expor.) - Trindade, Goiás. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Para interpelar.) - O senhor é de Goiás. Rosane Maria dos Santos Brandão, viúva da covid, perdeu o marido, professor da Universidade Federal de Pelotas. A SRA. ROSANE MARIA DOS SANTOS BRANDÃO (Para expor.) - Sou eu. O meu marido era servidor da Universidade Federal de Pelotas. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - E a senhora é gaúcha? A SRA. ROSANE MARIA DOS SANTOS BRANDÃO - Sou. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Dê um abraço no povo de Cacequi. A SRA. ROSANE MARIA DOS SANTOS BRANDÃO - Está certo. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Márcio Antonio do Nascimento Silva, vítima indireta da covid, perdeu o filho. Ele é uma pessoa que é conhecida no Brasil. O Márcio, apesar da maldade de alguns, sem respeitar o sofrimento do próximo... Pessoas que abrem a boca para falar em Deus e família não tiveram a consideração de ver o Márcio homenageando o filho dele morto pela covid. Márcio, seja bem-vindo aqui juntamente com todos! Vocês representam hoje aqui para nós, para mim, para o Presidente desta CPI, para o Vice-Presidente, para o Relator, para o Senador Humberto... Para todos os Senadores e Senadoras da CPI, vocês estão aqui representando aquilo que todos nós perdemos: amigos, familiares, perdemos pessoas conhecidas, perdemos boa parte da esperança de muitos brasileiros que infelizmente se levaram nessa covid. E recebo o Antonio Carlos Alves de Sá Costa, fundador da ONG Rio de Paz, que é muito conhecida por todos nós, pelos brasileiros. Prazer tê-lo aqui. |
| R | O que nós definimos aqui é que nós vamos abrir para cada um fazer o depoimento e deixar muito à vontade. Seriam dez minutos, mas quem quiser se estender pode - se quiser falar menos, fale menos -, não depende da gente. Vocês fiquem muito à vontade. Vocês estão aqui como... É o que disse o Humberto, o Renan e Randolfe: esta audiência hoje é a causa por que nós estamos fazendo a CPI, é por pessoas como vocês, que tiveram a infelicidade de perder alguém - e nós todos perdemos, de uma forma ou de outra, e perdemos muito. É por isto que esta CPI existe: por pessoas como vocês. O meu Estado sofreu muito com isso. Só nós sabemos o que a gente passou por lá. Mayra, você quer ser a primeira a falar? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Bom dia. O senhor que sabe. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Eu vou deixar vocês à vontade. Veja bem, não é fácil chegar aqui. Então, eu quero pegar... Primeiro, eu vou fazer o seguinte: o Antonio Carlos é o fundador da ONG Rio. Vou abrir para ele primeiro. Ele é uma pessoa já experiente. Eu só queria que o senhor colocasse a máscara. Aqui não é permitido ficar sem máscara. O SR. ANTONIO CARLOS ALVES DE SÁ COSTA - Eu estava bebendo água. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Está bem. Obrigado. Eu vou passar para a pessoa... Depois, vocês vão ficando mais à vontade, vou passar a palavra para todos. Pode ser assim, Randolfe? (Pausa.) Pode ser assim, Renan? O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Fora do microfone.) - Pode. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Então, querido Antonio Carlos, com a palavra. Fique à vontade, por favor. O SR. ANTONIO CARLOS ALVES DE SÁ COSTA (Para expor.) - Gostaria de expressar a nossa gratidão pelo convite que nos foi feito, pela oportunidade dada à sociedade civil de expressar a sua indignação e dor. Há um segmento da sociedade civil que não está de braços cruzados, inerte, assistindo passivamente a essa tragédia. Nós temos subido e descido morro, levando cesta básica para os despossuídos. Em razão das sandices do Governo Federal, tivemos que ir às ruas a fim de pedir para aquele que ocupa o mais alto posto da República que trate a população com respeito, com dignidade. Os dois últimos anos foram os mais difíceis da história da nossa geração, sem a mínima dúvida. Testemunhamos fatos humilhantes para a nossa democracia e devastadores para o coração de quem tem apreço pela nossa gente. Vimos o espectro da fome voltar a rondar os lares dos despossuídos. Vimos o nosso povo disputar resto de carne de açougue para ter do que se alimentar. Vimos milhões de desempregados sem perspectiva de voltar ao mercado de trabalho, passando, assim, a depender da misericórdia incerta da sociedade e do Poder Público para sobreviver. Vimos a classe trabalhadora impedir a nossa economia de entrar em colapso completo, mas não sem entrar em ônibus, vans e trens superlotados, expondo-se, assim, ao risco de contágio e morte. |
| R | Vimos o colapso da saúde mental de milhões de famílias, fruto das dívidas acumuladas, da perda do padrão financeiro, da instabilidade política, do terror face ao risco de contaminação e falecimento de ente querido. Vimos milhares de lares enterrarem os seus mortos. Houve avôs e avós, pais e mães, tios e tias, filhos e filhas, irmãos e irmãs que presenciaram os que mais amavam perecerem por desinformação e falta de vacina, oxigênio e atendimento médico. Perdoe-me fazer um desabafo ridículo para nossa democracia - ridículo! Incompetência, descaso e irresponsabilidade fizeram com que o Brasil se tornasse o segundo país do mundo em números absolutos de mortos pela pandemia e o sétimo em números absolutos de mortos. Há um lado luminoso nessa catástrofe. Nossa imprensa e movimentos sociais não deram trégua à classe governante, cobrando vacina, pão, ar e respeito. Milhares de brasileiros subiram morro, expondo-se ao risco de contaminação, para levar cesta básica ao necessitado. Nossos caixas de supermercado e atendentes de farmácia impediram a interrupção do suprimento de comida e medicamento. O que falar dos nossos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde? Como não pensarmos que adoeceram e morreram por anelar e cumprir sua vocação com coragem e excelência. Agora, uma pergunta: o que esperar daquele que ocupa o mais alto posto da República num cenário assustador e angustiante como esse, no qual tantos doaram suas vidas para que o pior não acontecesse? O que vimos foi a antítese de tudo o que se esperava de um Presidente da República. Jamais o vimos derramar lágrima de compaixão ou expressar profundo pesar pelo povo brasileiro. Não soubemos de favela que ele tenha visitado ou hospital para o qual tenha se dirigido, a fim de comunicar ânimo aos nossos profissionais de saúde. Nenhuma palavra de direção ou encorajamento às milhões de famílias aturdidas com a crise múltipla que se estabeleceu no nosso País. Para a nossa perplexidade e revolta, o vimos apoiar manifestações públicas antidemocráticas que fomentaram aglomeração, xingar jornalista, chamar o povo de maricas, fazer deboche com os que agonizavam pela falta de ar, andar de jet ski, jogar futebol, comer pastel em boteco, insuflar golpe militar, prescrever remédio sem eficácia comprovada, combater o uso de máscara, menosprezar o distanciamento social, trivializar o poder letal do vírus. Me perdoe mais uma vez o desabafo. Ridículo! Ridículo! Ninguém aceitaria isso em nenhuma nação livre e desenvolvida. Em suma, em dias de fome, doença, morte, luto, em vez de cuidar do povo que o elegeu, se dedicou tão somente a defender seu mandato e garantir sua reeleição. O que declaro resulta de ódio pelo Presidente? Não! Somente faço questão de ressaltar sua impressionante falta de empatia, a fim de que nunca mais sejamos governados da mesma maneira por quem quer que seja. Muito obrigado. |
| R | O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - A gente entende sua indignação, até porque todos nós temos essa indignação. Eu só quero aqui... Vou passar para o Vice-Presidente, depois passo para o Relator. Senador Humberto, se quiser se posicionar em relação ao que falou... Vai ser assim o nosso... Não vão ser perguntas e respostas, só se tiver alguma coisa pontual; é mais o depoimento de vocês, a gente quer saber da história de cada um, porque cada uma das mais de 600 mil vítimas tem uma história, uma história diferente, infelizmente com um final sempre muito triste, não há final feliz nessa história. Não é uma novela em que as coisas acontecem no enredo e, lá no final, os casais ficam felizes, as pessoas sobrevivem. Aqui não, aqui é a realidade, aqui é a vida, é o que nos foi posto. Infelizmente, muito disso poderia ter sido evitado se realmente nós tivéssemos tido... E, quando digo "nós", é porque nós somos do Brasil, nós somos brasileiros, nós defendemos uma única bandeira, nós não dividimos o País de forma nenhuma. O que nos permitiria hoje estar aqui... Qualquer vítima é vítima, seja uma, dez, cem mil, seiscentas mil, um milhão. São vítimas. O que nós estamos querendo aqui, com esse relatório de vocês que viveram o dia a dia, como eu vivi com meu irmão o dia a dia, é que, se porventura houver novamente um caso deste que nós estamos vivendo no Brasil, o governante de plantão, seja quem for, possa agir de forma diferente. E V. Exa. colocou coisa de que até eu havia me esquecido. Falei aqui para o Renan: "Renan, até pastel o cabra comia sem máscara para mostrar que é um super-homem". Não tem super-homem, era o cara que incentivava... E, aí, dizer que não vê crime aí... Eu não sei mais o que é crime! Incentivar... Até comer pastel na feira com caldo de cana! Legal, e o povo morrendo... O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Sr. Presidente, se V. Exa. me permite... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Pois não. O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP. Pela ordem.) - Eu acho que nós poderíamos dar sequência aos testemunhos. Acho que iniciamos muito bem com a forte intervenção do Antônio Carlos, que representa uma das ONGs que está auxiliando na organização dessa atividade. Acho que podemos dar sequência, ouvir cada um dos testemunhos e, em seguida, nós faríamos algum questionamento, alguma inquirição ou intervenção a partir das falas. Acho que poderíamos ouvir os demais testemunhos dos representantes aqui presentes. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Eu fui informado de que vocês mesmos decidiram quem vai falar na sequência. Isso é verdade? Leandro, você conversou com todos? (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Bom, está aqui... Eu vou perguntar pra vocês se está bom. A Mayra... O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Comece do Norte para o Sul! O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Não, o Norte sempre em primeiro lugar. (Risos.) O Norte sempre em primeiro lugar, principalmente o Amazonas sempre em primeiro lugar, mas, como ela não é uma pessoa... Com certeza ela atende e conversa, mas vir aqui pra falar, não tem a facilidade que ele teve, nem todos têm. É normal isso. Mas, Mayra, por você ser do Amazonas, você fala a hora em que você quiser aqui, tá, Mayra? (Risos.) Aos outros eu imponho. Você quer falar agora ou quer falar depois? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Posso falar agora. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Então tá, Mayra, a palavra está contigo. |
| R | A SRA. MAYRA PIRES LIMA (Para expor.) - Bom dia a todos. Eu gostaria de, inicialmente, agradecer o convite. Eu tive que me reorganizar inteiramente para estar aqui. Como o Senador falou, a minha irmã deixou quatro crianças, entre elas um casal de gêmeos, que fizeram, no dia 8 de outubro, um ano. Eu sou enfermeira, servidora do Estado do Amazonas, sou formada pela Universidade Federal, tenho 38 anos e trabalho hoje numa maternidade estadual. Como eu falei numa reunião com as vítimas, eu não sou acostumada com a morte. Aliás, nenhum de nós... Apesar de as pessoas acharem que os profissionais de saúde são frios, a gente não é. A gente muitas vezes se controla para que a gente consiga ter realmente uma boa conduta diante de situações difíceis. Mas eu queria resumidamente se é que isso é possível... Na pandemia, todos sabem a história do Amazonas. O meu Estado é um Estado imenso, como o Senador conhece. As dificuldades que a gente tem no atendimento dos nossos pacientes... Eu trabalhei, por dez anos, com saúde indígena e muitas vezes eu tinha que tirar do próprio bolso para atender os meus pacientes. Infelizmente, a pandemia começou no ano de 2020 e, durante todo o ano de 2020, os profissionais de saúde tiveram que arcar com seus EPIs. Hoje eu agradeço aos meus amigos de faculdade, amigos enfermeiros, colegas que não são da área da saúde, porque muitos dos EPIs que eu usei eles compraram para mim e compraram para outros colegas também, porque nós não tínhamos nem esta máscara. Eu comprei muitas máscaras, comprei, doei, muitas vezes atendi pacientes grávidas, agonizando, sem máscara, porque a gente não consegue ver uma gestante... Eu trabalho, eu sou enfermeira obstetra. Então, a gente ver uma gestante agonizando, sem respirar, e os seus bebês em sofrimento fetal, em sofrimento respiratório, é algo que a gente não consegue aguentar. No Amazonas, nós tivemos... Não desmerecendo os outros Estados, mas foi uma situação bastante difícil. Quando eu me formei, há quinze anos, na Universidade Federal do Amazonas, eu tinha um grande sonho de ajudar as grandes calamidades, conhecer outros países que precisam de ajuda e talvez atender pacientes em situações de guerra. Hoje eu falo que eu vivi uma guerra, porque atendi pacientes muitas vezes sem proteção nenhuma, assim como os meus colegas da maternidade. Nós tivemos muitos óbitos, infelizmente perdemos ótimos médicos obstetras, perdemos colegas para depressão, para suicídio; e isso falo de todas as categorias. Na enfermagem, nós tivemos 82 óbitos - isso registrado, fora os que ficaram sequelados, que ficaram com depressão, que realmente tiveram a saúde mental debilitada. Até hoje, eu faço terapia. Eu peguei covid duas vezes, cuidei da minha irmã internada em um dos hospitais de Manaus. Eu estava no 14º dia de tratamento e mal conseguia respirar, mas eu tive que levá-la para o hospital porque ela também não conseguia respirar. Então, nós tivemos várias situações no Amazonas que poderiam ter sido resolvidas com um pouco de bom senso e um pouco de humanidade por parte dos gestores, principalmente porque vários conselhos de saúde, não somente da enfermagem, não somente da medicina, tentaram orientar os gestores quanto à necessidade de alguns EPIs, quanto à necessidade de profissionais capacitados. |
| R | Hoje eu vejo que a minha irmã não sobreviveu não somente por culpa de uma pessoa, mas por causa de uma rede de culpabilidade que precisa realmente ser identificada, precisa ser resolvida essa situação. Ano passado, nós tivemos muitos casos de óbitos de colegas, tivemos grávidas... Uma situação: onde eu trabalho, nós tivemos seis óbitos de gestantes em uma semana. E a gente sabe que, quando a gestante falece, muitas vezes os bebês vão junto, porque muitas vezes a gente não consegue resolver a situação. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Para interpelar.) - Mayra, você trabalha em que maternidade? A SRA. MAYRA PIRES LIMA (Para expor.) - Na Maternidade Balbina Mestrinho. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Na Balbina Mestrinho. Você já trabalhou na Dona Lindu? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Não, porque, quando eu fui lotada depois do concurso, eu escolhi... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Inclusive, lá morreram parturientes porque foi dada cloroquina para aspirarem, está certo? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - É, eu ouvi falar. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Isso aí deve estar constando no relatório do Senador Renan. Essas pessoas não vão ficar impunes. Balbina Mestrinho é a maternidade mais antiga do Estado do Amazonas. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Tem esse nome porque era a genitora do já falecido Senador e Governador Gilberto Mestrinho. Fica lá na Praça 14. Eu tive oportunidade, como Governador, de ampliar aquela maternidade. Eu sei da sua importância, Mayra, nesse processo todo, até porque você disse uma coisa que me enche de orgulho: ela foi uma enfermeira que trabalhou com os indígenas e ela sabe muito bem o que é trabalhar com os indígenas na nossa Região Amazônica. É em seu nome, Mayra, e em nome de todos nós que estamos aqui hoje, Dia do Médico... A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Nós queremos fazer essa homenagem a esses milhares e milhares de profissionais da área de saúde. Muitos perderam a vida - você está fazendo o relato - por falta de proteção, por falta de uma estrutura mínima para poder trabalhar, por uma doença que, quando começa, ninguém conhece. Então, nossas homenagens a esses heróis, a esses brasileiros - verdadeiramente brasileiros - que se expuseram, como você, que se expôs, contraiu o vírus duas vezes, perdeu uma irmã e hoje tem uma responsabilidade muito grande, que é cuidar de seus sobrinhos. Tenha certeza de que esse depoimento que você faz aqui... Eu a interrompi só para perguntar onde você trabalhava e dar esse relato de que, no meu Estado, até para aspirar, deram cloroquina a parturientes, o que infelizmente não curava ninguém, levava a óbito. Continue, Mayra. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Como o Senador falou, eu trabalho na Maternidade Balbina Mestrinho, que é a mais antiga. É uma maternidade de alto risco, que trabalha com gestantes que têm risco maior de óbito. Quanto à situação que o senhor relatou, da cloroquina, eu não posso falar porque não trabalho lá, mas ouvi realmente um relato - não tenho como dizer que aconteceu -, eu vi na mídia. O que eu queria falar com relação ao ano de 2020 é sobre a situação dos meus colegas. Infelizmente, a categoria de enfermagem... Hoje vocês sabem que é a maior categoria do nosso País. Nós temos hoje, no Brasil, uma quantidade de enfermeiros e técnicos de enfermagem que muitas vezes a população não conhece. Nós temos hoje, registrados no Conselho Federal de Enfermagem, 2,5 milhões de profissionais. Desses 2,5 milhões, nós temos 2 milhões de técnicos e auxiliares de enfermagem. E a gente via nas redes sociais: "Os nossos heróis da pandemia!" A gente fez uma campanha: nós não queremos parabéns, nós queremos valorização. Infelizmente nós não tivemos a oportunidade de ver essa valorização na prática, não tivemos a resposta dos nossos representantes com o PL 2.564, que infelizmente não foi aprovado. Isso nos deixou bastante decepcionados, porque a gente não precisa de tapinha nas costas, a gente precisa de valorização, a gente precisa evitar que os nossos colegas morram. Muitas vezes a gente vai atender os pacientes e nós tiramos do nosso próprio bolso pra cuidar deles, pra evitar que eles morram, como eu fiz muitas vezes. Eu me expus muitas vezes atendendo gestantes porque eu não aguentava vê-las agonizando e imaginar os seus bebês desesperados dentro das suas barrigas. Então, isso nos revolta imensamente, porque falar que nós somos heróis é muito fácil, agora, mostrar através de atos, é muito difícil. |
| R | Então, que a gente possa, através dessa minha indignação que realmente representa a voz de 2,5 milhões de colegas... Que realmente os nossos representantes voltem a pensar no PL, porque trabalhar mais de 30 horas, 40 horas por semana, é desumano, e muitas vezes nós somos acusados de tratar mal quem atendemos. Nós não tratamos mal, é que muitas vezes a gente não dorme, a gente sai de um emprego e vai pra outro emprego. Então, enquanto vocês estão... Enquanto a maioria da população está dormindo, nós estamos salvando vidas, assim como os nossos colegas médicos e todas as outras categorias. E também eu queria falar um pouco sobre a história da minha irmã. Eu comecei a apresentar sintomas dia 30 de dezembro de 2020. Na verdade, eu sempre fiz, por orientação médica, vitaminas pra que a minha imunidade se restabelecesse. Então, eu tive apenas dor muscular, dor nas costas, não tive... Minha saturação sempre ficou acima de 95%, minha respiração sempre ficou no nível normal. Somente tinha dores nas costas, mas não eram dores nas costas simples, era como se vários animais estivessem pisando nas minhas costas, e isso é bem difícil. Logo em seguida, quando eu adquiri o covid, todas as pessoas da minha casa pegaram covid, inclusive os gêmeos, que tinham dois meses de idade. A minha irmã, no dia 12 de janeiro, começou a apresentar os sintomas. Ela tinha dores nas costas, um pouco de tosse. Dia 15 de janeiro ela não aguentou, ela pediu socorro. Ela estava no isolamento. Eu criei um quarto de isolamento na minha casa, porque saía um e entrava outro, saía um e entrava outro. Enquanto toda a minha família em Manaus estava contaminada, a minha mãe e a minha irmã mais velha, no interior, também estavam bem graves - graças a Deus ela não teve agravamento. Eu tive que levar a minha irmã pra onde eu trabalhava porque não tinha lugar pra ela respirar, não tinha lugar onde tivesse oxigênio. Ela ficou a noite inteira no oxigênio, melhorou a saturação, mas, quando eu tirei o oxigênio, ela foi pra 88% de saturação. Eu tive que levá-la para o hospital, e todas as portas se fecharam. A única que tinha... O único hospital que atendeu a minha irmã foi um hospital pronto-socorro de referência da Zona Leste de Manaus. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Que dia foi isso? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Foi dia 16 de janeiro. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Vejam bem, dia 16 de janeiro. É importante esse depoimento pra que a gente fique lincando. Em relação ao PL que você falou, eu declarei publicamente - gravei um vídeo que veio aqui, e vários de nós - meu voto a favor. Inclusive, no relatório final, o Senador Randolfe está falando sobre a necessidade de votar esse PL e também fazer o plano dos médicos, porque não são só vocês. No relatório do Senador Renan, eu acho que está constando isso - a senhora depois vai ver. Dia 7 de janeiro, e ela está falando do dia 16. Nós estamos falando de dez dias praticamente depois. No dia 7 de janeiro o Governo Federal foi informado de que iria faltar oxigênio na cidade de Manaus. Então, nós estamos falando do dia 16. Você se lembra de que o Ministro veio aqui e disse "não, só faltou em um ou dois dias" - lembra disso? Então, ela está dando depoimento sobre a irmã dela - ela, como enfermeira, trabalhando numa unidade de saúde. |
| R | Então, não é verdade o que foi dito no depoimento do Ministro Pazuello aqui, quando... No dia 16, nove dias depois de comunicado, de conversado... O Secretário, na época, falou aqui na CPI para o Renan Calheiros que o Governo foi comunicado. Ela está falando em nove dias depois. Nove dias depois, se tivesse havido boa vontade dos dirigentes maiores - e aí eu estou falando de todos os dirigentes - para alugar um avião para ir pegar ali do lado, na Venezuela, oxigênio, a sua irmã não teria sofrido, como outros amazonenses não teriam. Nós não precisaríamos sair. Era mais perto a gente pegar oxigênio na Venezuela do que lá no Rio Grande do Sul. De Manaus a Caracas são duas horas de voo, uma hora e pouco ali na fronteira. Era só o Ministério das Relações Exteriores, Senador Renan, ter permitido que aviões da FAB... Se ele tivesse feito uma ligação para o Ministro da Venezuela, permitindo que voos fretados pudessem buscar oxigênio, nós teríamos evitado a morte de muitos amazonenses que morreram sem ar - sem ar! Então, o seu depoimento corrobora aquilo que a gente sabia. Você está fazendo um depoimento de quem estava ali, de quem estava ali dentro. Então, nove dias depois, ainda não tinha oxigênio na cidade de Manaus. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Eu queria só falar do que eu... Assim, o senhor falou sobre a questão do oxigênio, não é? A minha irmã não morreu especificamente por causa do oxigênio. Na situação clínica em que ela estava, se ela continuasse na enfermaria clínica, com o oxigênio a 100% como ela estava... Porque eu a monitorava, eu monitorava os sinais vitais dela, verificava a glicemia, a saturação, todos os dados, e o oxigênio já não dava mais resultado. Ela precisava... Em cinco dias de sintomas, na fase inflamatória da doença, ela precisava de UTI, e, infelizmente, a UTI demorou dez dias enquanto ela estava no hospital. O oxigênio, infelizmente... Felizmente, nós tivemos, como vocês viram na mídia, doações de artistas. Eu vi, através da mídia local, a chegada de oxigênio através das Forças Armadas, mas não era o suficiente, porque a cidade inteira estava doente. A cidade de Manaus virou um deserto. As únicas pessoas que andavam em Manaus eram os profissionais de saúde, a polícia e os serviços essenciais. É que, se a população toda adoece, você pode mandar uma grande quantidade de oxigênio que você não vai resolver. Se a paciente está com uma lesão já muito grave, o oxigênio não vai resolver. A minha irmã ficou cinco dias com oxigênio a 100% no reservatório, mas ela não passava de 85% de saturação. Então, o oxigênio, naquela situação dela, não ia resolver. Infelizmente, demoraram os leitos de UTI, porque ela foi para uma UTI... Ela se internou no hospital no dia 16 e foi para a UTI no dia 22 de janeiro. Durante essa semana inteira, ela chegou à saturação de 55%, porque o oxigênio acabou e nós tivemos que comprar, a família se juntou e compramos o oxigênio. Todo o oxigênio mandado pelo Governo Federal e por todas as pessoas que foram benfeitoras não foi suficiente, porque era uma grande quantidade, mas, infelizmente, o número de doentes era bem maior do que a quantidade enviada. |
| R | O que é que aconteceu? A minha irmã faleceu no dia 10 de fevereiro com 100% do pulmão comprometido, e a minha irmã entrou no hospital saturando 95% em ar ambiente. Todos os dias, nós víamos dez pessoas morrerem na nossa frente, agonizando. Elas entravam e morriam por causa de várias situações. Eu não culpo os médicos, não culpo os meus colegas, porque eles não tinham com o que trabalhar. Muitas vezes, eu assumi a assistência de saúde da minha irmã porque nós tínhamos cinco técnicos de enfermagem para cuidar de 80 pacientes graves, e, enquanto eles estavam cuidando de um, outro tinha parada cardíaca do lado. Então, eu falei com a enfermeira, com a gerente de enfermagem e com a diretora do hospital que eu assumiria a assistência da minha irmã. Eu a monitorei. Durante três dias, eu avisei aos médicos que ela estava agravando, e, muitas vezes, eles não tinham o que fazer, porque não tinha leito. Mas ela agravou. A diurese dela diminuiu, ela edemaciou. Eu dava banho nela no leito, eu fazia todos os cuidados com ela. A crise não é somente especificamente do oxigênio, mas de todo um conjunto de situações que fizeram com que ela agravasse, porque ela tomava todos os cuidados. Ela não saía de casa. A única pessoa que saía de casa era eu, e eu me protegia. Só que, infelizmente, no mês de janeiro, por incrível que pareça, acho que 99% das pessoas se contaminaram, não sei por quê, talvez porque acabaram o isolamento antes do tempo, não é? Não sei qual foi a situação, o que aconteceu, e o gestor do Estado fez isso. Mas, enfim, a situação da minha irmã se agravou por causa disso. Ela agravou, foram feitos todos os tratamentos, toda a equipe médica fez o tratamento, e ela faleceu no dia 10 de fevereiro, às 12h50. Dois dias antes, os filhos dela, os gêmeos, fizeram quatro meses de idade. E ela faleceu, deixando os dois órfãos, assim como tantas outras crianças em Manaus ficaram órfãs, desamparadas. Graças a Deus, eu ganho razoavelmente bem, ainda que não ganhe bem como deveria, mas e as pessoas que não têm renda? E as crianças que muitas vezes não têm o que comer? Graças a Deus, nós temos ONGs que ajudam essas crianças em Manaus, no Amazonas. Só em Manaus nós temos mais de 80 órfãos do covid; só da minha família, são quatro, são quatro crianças. E o que estão fazendo? O que estão fazendo para olhar essas crianças? Como vai ser o futuro delas sem os pais, se elas não têm muitas vezes perspectiva? Os meus sobrinhos têm a nós. E as crianças que não têm família? O que se está pensando em fazer de política pública para resolver isso e dar um futuro para essas crianças? Lá teve caso, na ONG que ajudo, em que a menina perdeu o pai, a mãe, a avó, todo mundo. Ela ficou sozinha com outras crianças menores. Será que a gente conhece essa história? Será que a gente realmente se preocupa com isso? Sinceramente, eu estou aqui mais preocupada com o futuro das crianças do que realmente por qualquer outro motivo. Hoje, sim, apesar de toda a minha situação financeira, que não é muito boa, mas que também não é tão ruim... Muitas vezes os bebês receberam doações. É difícil! Antes de eu adotar os bebês, eu tinha um filho e, agora, cuido de quatro crianças. Então, imaginem a mudança na minha vida total, não é? Hoje eu estou de licença por adoção, mas eu volto a trabalhar. E como é que vou cuidar deles se muitas vezes não tem esse amparo por parte do Governo? |
| R | Eu queria finalizar falando um pouco sobre essa interrogação, na verdade questionar todos vocês, Senadores, vocês, em quem nós votamos, todos vocês, que são nossos representantes, sobre o que se está fazendo por essas crianças, por essas famílias, porque é muito triste vê-los, muitas vezes, sem o que comer. Todas as coisas dos bebês que eu adotei, tudo que eu não uso mais com eles eu doo para outras crianças, para que a gente possa tentar ajudar minimamente, mas isso é 1% do que poderia ser feito por eles. Com relação a tudo isso, fica aqui o meu desabafo, porque a minha irmã não volta, não volta mesmo. Até hoje eu não consegui nem viver o meu luto, porque, dois meses depois, eu perdi outro irmão. Então, assim, a minha mãe, que tinha cinco filhos, hoje tem três. Então, ela não conseguiu viver... A minha mãe vive em processo de depressão; eu faço terapia há dois anos, porque a minha irmã era uma pessoa especial na nossa família e ela tinha realmente uma alegria que não tem como substituir. Eu espero que o meu relato, que é pouco diante de tudo o que se viveu no Brasil inteiro, possa realmente tocar o coração das pessoas que podem fazer alguma coisa. O que eu posso fazer é relatar a história dela, relatar realmente a situação que eu vivo como profissional de saúde. Estou sequelada, tenho problemas de respiração porque peguei covid, tive 30% do meu pulmão comprometido, trabalhei, cuidei da minha irmã com falta de ar, doente; mesmo assim eu tive que cuidar dela, porque não tinha condições de outra pessoa cuidar. Se todas as pessoas da minha casa estavam doentes, quem ia cuidar dela? Minha irmã foi para o hospital se arrastando, e, muitas vezes, as pessoas não sabem disso porque não conhecem a realidade do outro. Desde já eu agradeço. Desculpem a emoção, mas é porque é bem difícil falar dela. O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Sr. Presidente... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Tem um caso aqui, grave, que ela relatou e que não está no nosso relatório - eu estava conversando com o Senador Renan. Falo da minha surpresa, porque eu não tinha conhecimento - a senhora é que está me trazendo esse conhecimento -, de terem internado uma paciente com covid em uma maternidade. (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Não, só um minutinho. Porque eu entendi que a senhora levou ela para a maternidade, e lá ela foi tratada pela senhora. A senhora dava banho nela... A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Não, ela foi tratada por mim no hospital onde ela estava internada, no hospital... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Ah, eu entendi que a senhora... Ela não foi pra maternidade? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Não. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Não, porque, na maternidade, tinha aquela questão da preocupação com as parturientes. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Não, foi no Platão Araújo. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Ah, tá bom. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Foi lá onde ela... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - É só porque, senão, nós também teríamos mais um adendo aqui... A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Não. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - ... porque isso seria uma coisa que não pode acontecer, não podia acontecer. Tinha especificamente uma das unidades... A SRA. MAYRA PIRES LIMA - De referência. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - ... de referência, que era o Dona Lindu, e tinha o Hospital Delphina Aziz, que era um hospital de referência. E, quando ela fala isso, que não tinha leito no mês de janeiro - e ela coloca, lógico, com toda a cautela necessária, apesar da indignação e do sofrimento dela -, fala uma coisa verdadeira: se criou inclusive, lá em Manaus principalmente, e no interior, em alguns Municípios, uma relação de pessoas para poder... Tinha que ter inscrição para ir para a UTI. Por isso é que demorou muito no caso dela. Foi um absurdo o que aconteceu! |
| R | E esse relato que ela fala de falta de EPI para profissionais de saúde é gravíssimo. Quer dizer, essas pessoas normalmente teriam que se contaminar, como ela se contaminou. Então, eu entendi e falei até para o Senador: mas, se foi internada numa maternidade, é um crime maior ainda que foi cometido. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Não. Os bebês nasceram na Balbina, mas, quando ela contraiu covid, ela estava com quatro meses pós-parto. Ela foi internada no dia 16 de janeiro... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Já no outro hospital, não na maternidade. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Isso. É porque ela já tinha tido bebê. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - E as duas crianças tiveram covid também, os gêmeos? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Também, as duas. Só que... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Estão bem, graças a Deus. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Só que os bebês têm sintomas leves, não é? Eles tiveram coriza, tiveram febre baixa, aí eu consultei com o pediatra, fiz exames, e está tudo bem. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Felizmente estão bem. Graças a Deus. A SRA. MAYRA PIRES LIMA - É. Então, assim... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - E a senhora... A senhora é forte. Nós estamos fazendo um projeto aqui para amparar essas crianças órfãs. Terá isso aqui. Eu acho que ninguém, nenhum Senador, nenhum Deputado vai se negar a votar isso. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL) - Exatamente. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - E com isso a gente espera não resolver o problema, mas amenizar o sofrimento. Já tem o sofrimento da perda e ainda tem... Por mais que a senhora tenha um salário, uma coisa é cuidar de uma criança, a outra é ter que cuidar de cinco agora. É uma responsabilidade que a senhora não esperava acontecer do dia para a noite. E eu quero aqui lhe dizer que, por mais que não pareça, nós nos focamos para fazer justiça. Não é para se vingar de ninguém, porque a vingança não trará ninguém de volta, mas a justiça permitirá que não se faça novamente essa maldade que foi feita com muitas pessoas. Da mesma forma que a senhora perdeu dois irmãos, eu perdi um irmão meu em janeiro deste ano. E o que aconteceu em Manaus foi o seguinte: dia 26 de dezembro de 2020 - e ela sabe disso, porque ela mora lá -, o Governador decretou lockdown. Daí começou. Muitos dos que você está indiciando, na internet e tal, que era um absurdo; manifestação, foram para a porta do Governador... E o Governador recua. O Eduardo Bolsonaro: "É, tem que ir para cima! Tem que acontecer...". E está lá em Dubai agora. Dudu Bolsonaro. Duduzinho Bolsonaro está em Dubai tirando foto com o dinheiro do povo brasileiro lá, não é? E acha que é melhor, mais honesto do que os outros brasileiros. Acha que é mais patriota. Está lá tirando foto. Eu vi uma foto dele aqui, ele de xeique, não é? É o verdadeiro xeique Dudu Bolsonaro. Esse xeique Dudu Bolsonaro escreveu lá, botou lá... O xeique Dudu Bolsonaro disse: "Não, lá no Amazonas, o povo fez o Governador recuar". O Governador recuou, mas aconteceu esse relato que ela está dando aqui, em janeiro de 2021. O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Presidente... Sr. Presidente, Sr. Relator... O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Como Relator.) - Mayra, a sua irmã deixou quatro órfãos? O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Fora do microfone.) - Sim, quatro crianças. Os gêmeos... A SRA. MAYRA PIRES LIMA (Para expor.) - A minha irmã deixou (Fora do microfone.) quatro filhos: uma de quinze anos, uma de nove e dois de um ano. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL) - O seu irmão também deixou filhos? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Não. Assim... Não, acho que não. É porque, assim, eu não tinha muito contato com ele, não é? Mas ele não deixou, não. Ele faleceu... O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL) - O Senador Omar Aziz falou há pouco que é pensamento desta Comissão Parlamentar de Inquérito responsabilizar os agentes públicos e agentes privados, mas responsabilizar também o Estado, claro. E nós pretendemos criar uma pensão para os órfãos, até completarem 21 anos de idade, de um salário mínimo, para aqueles cujas rendas recomendam o pagamento dessa pensão. E estamos também pensando em incluir a covid na relação daquelas doenças que ensejarão a aposentadoria, quando a perícia médica atestar, por invalidez. |
| R | Eu queria aproveitar a oportunidade da presença de vocês pra que a gente pudesse também discutir um pouco essas questões. O que é que a senhora acha dessas propostas que a Comissão Parlamentar de Inquérito está pensando em levar adiante? A SRA. MAYRA PIRES LIMA - Seriam essenciais, Senador, porque claro que um salário mínimo não vai resolver muita coisa, mas já ajuda bastante, porque o gasto com crianças é bem alto, imagine com gêmeos. Mas, assim, é algo que realmente vai ajudar principalmente as famílias mais carentes dos Estados que são realmente mais pobres. Em Manaus, nós temos muitas famílias na ONG que ajuda os bebês. São cadastradas mais de 70 crianças. A grande maioria dessas crianças tem um nível socioeconômico muito baixo, famílias venezuelanas que não têm... Muitas vezes, os pais não têm renda; são autônomos, mas não têm a renda. Com certeza, essa renda que está sendo propiciada, que será propiciada pra eles vai ajudar bastante, principalmente na questão da saúde deles. A gente não tem... Hoje a maioria da população não tem condições de ter um atendimento médico. Muitas crianças que tiveram suas mães falecidas por covid... Algumas ficaram sequeladas, foram situações graves, ficaram sem oxigênio por algum tempo, e oxigênio em bebês causa realmente lesões muitas vezes irreversíveis. Então, muitas crianças podem ter sequelas e precisam desse amparo, dessa ajuda, dessa ajuda do SUS, o acompanhamento, talvez programas sociais ou programas de saúde do Governo que possam atendê-las especificamente. E isso vai com certeza ajudar, porque, se você for, por exemplo, a Manaus, nós temos poucos neuropediatras. Algumas crianças que têm realmente deficiência de oxigênio durante o parto podem ter lesões cerebrais. Então, nós temos poucos profissionais pra atender. Então, às vezes ficam mais de dois anos na fila do Sisreg, e aí a criança muitas vezes fica sequelada, fica debilitada, porque não tem esse amparo do SUS por deficiência. No nosso Estado, no Amazonas, a deficiência de algumas especialidades médica é muito grande; não é como a Região Sudeste ou outras regiões. Então, assim, além da questão da pensão, eu proponho também essa elaboração de planos realmente de atendimento dentro do SUS pra essas crianças, porque a gente vê... Assim, os meus sobrinhos, a gente consegue fazer um atendimento com eles, mas as pessoas que não têm, não sabem como encaminhar essas crianças? Muitas vezes, os médicos lá fazem realmente tudo que podem, mas são médicos que atendem 20 a 30 crianças num período de tempo em que deveria atender 10. Então, a gente precisa realmente pensar no futuro delas não somente na questão social, mas também na questão de saúde delas. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Sr. Relator, Mayra concluiu? O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL) - Obrigado, viu, Mayra. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Sr. Relator, à luz do que Mayra inclusive sugeriu aqui, eu queria sugerir ao senhor, nessa fase de preparação do relatório e de discussão - cheguei inclusive a oficiar nesse sentido -, que, ao relatório final, nós poderíamos, Sr. Relator, primeiro, requisitar à Presidência do Senado a apreciação pelo Plenário do Projeto de Lei 2.564, de 2020, que estabelece o piso salarial dos profissionais de enfermagem, projeto esse de autoria do meu colega Senador Fabiano Contarato. |
| R | Além disso, tem um projeto - e aí aqui faço homenagem a todos os médicos deste País - recentemente protocolado que institui diretrizes básicas para organização da carreira dos profissionais médicos. Como foi dito aqui pela Mayra, foram os dois que mais sofreram com a pandemia: profissionais de enfermagem - técnicos e enfermeiros - e os médicos, que sacrificaram a vida, salvando outras vidas, em muitos casos. Então, esse é um segundo projeto que também sugiro e encaminho a V. Exa. à apreciação. E há um terceiro projeto que institui a Política Nacional de Fortalecimento do Sistema Único de Saúde. Eu acredito que esse é um dos legados dessa pandemia. O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - Sr. Presidente, pela ordem. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Senador Humberto. O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Pela ordem.) - Eu queria só sugerir que nós pudéssemos ouvir... O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Dar sequência... O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - ... todas as pessoas... O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - V. Exa. tem razão. O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - ... e, no final, os Senadores se manifestariam. Eu acho que esse é o momento e o local da fala dessas pessoas. Elas estão todas querendo falar para o Brasil sobre o que viveram e o que esperam... O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - O encaminhamento de V. Exa. é acatado por esta Presidência. O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - Obrigado, Excelência. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Nós daremos sequência agora para ouvirmos todos os parentes de vítimas e vítimas - como é o caso do Arquivaldo aqui - da pandemia e, na sequência, nós abriremos para os Senadores. Me parece só que, antes, tem uma questão de ordem do Senador Fabiano Contarato. Perfeito? Então, Senador Fabiano, no sistema remoto, V. Exa. com a palavra para uma questão de ordem. O SR. FABIANO CONTARATO (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - ES. Pela ordem. Por videoconferência.) - . Sr. Presidente, eu serei breve porque eu também concordo com o Senador Humberto Costa. Apenas quero reforçar aqui a aprovação do PL 2.564. Nesta semana, eu pessoalmente conversei com o Presidente do Senado, falando para ele da importância de aprovarmos esse projeto. É uma demanda da categoria. Esses profissionais estão pagando com a própria vida. Os pais estão deixando os filhos sem qualquer tipo de assistência, pagando aí para protegerem a nossa vida. Se nós fizermos uma reforma tributária justa e solidária, nós vamos ter a União arrecadando 63,5 bilhões por ano, 85,2 bilhões aos Estados e, 56,3 bilhões... Esses profissionais não querem só ser chamados de heróis, eles querem efetivamente que seja aprovado. E eu também tenho um projeto de lei, que é o 2.372, Senador Renan, que determina um prazo máximo de três dias para a distribuição das vacinas, porque, pelo site, já há oito dias o Governo não distribui as vacinas e está acumulando 25,5 milhões de doses, ou seja, nós poderíamos estar salvando mais vidas. Então, é para a aprovação desse PL 2.564 e inserção no relatório do PL, de minha autoria, 2.372. Muito obrigado, Sr. Presidente. Não quero tomar o tempo e aqui rendo minhas homenagens, deixando um recado a todos os enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiros: nós estamos na luta intransigente na defesa da aprovação, o mais rápido possível, do PL 2.564. Eu tive a garantia do Presidente Rodrigo Pacheco de que esse projeto será pautado no espaço de tempo o mais rápido possível. Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL) - Presidente, eu queria só aproveitar a oportunidade... O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Senador Fabiano. Senador, por gentileza. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL) - ... para dizer que, da parte do Relator, tanto a sugestão de V. Exa. quanto a sugestão do Senador Fabiano Contarato já estão devidamente incluídas na proposta de relatório, de parecer. Essa proposta será submetida a uma conversa, em primeiro lugar, com o G7, que, como todos sabem, é um grupo heterogêneo - nós não pensamos igualmente sobre as mesmas coisas -, é evidente que há diferenças. Nós tivemos que administrar, nos últimos dias, o vazamento de uma das minutas do relatório. |
| R | Por um lado, isso é muito ruim - vazamento é sempre muito ruim. Por outro lado, eu acho que isso ensejará o debate, a antecipação do debate sobre cada tema conflitante da Comissão, para que as pessoas definitivamente saibam, a partir dos argumentos de cada um, o que é evidentemente que cada um defende: a inclusão, a retirada. Democracia se faz dessa forma. E, no processo parlamentar, até mesmo na investigação parlamentar, tudo caminha mais facilmente pela maioria. Não há como substituir a maioria. Eu queria mais uma vez afirmar que esse é o meu compromisso e esse também é o meu propósito. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Relator Renan. No sentido que foi colocado aqui pelo Senador Fabiano Contarato, existe... Sobre eventual quantidade de doses de vacinas que estão retidas, tem um requerimento de autoria deste Senador que pede que, em 24 horas, o Ministério da Saúde informe sobre 25 milhões de doses de vacinas que estão retidas e ainda não foram distribuídas. Se os colegas Senadores me permitem, eu queria submeter esse requerimento à apreciação dos Srs. Senadores. As Sras. Senadoras e os Srs. Senadores que concordam permaneçam como estão. (Pausa.) Então, aprovado o requerimento para que, em 24 horas, o Ministério da Saúde informe sobre a quantidade de doses de vacinas que se encontram represadas. Dando sequência e já devolvendo a Presidência para o seu titular, e aqui acatando o encaminhamento do Senador Humberto, para nós deixarmos fluir e ouvir os representantes das vítimas, a próxima é a Giovanna Gomes Mendes da Silva. Giovanna é órfã da covid, Giovanna tem dezenove anos, perdeu a mãe e terá a guarda da irmã de dez anos, sendo ela a nova chefe de família. Giovanna, a palavra está contigo. A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA (Para expor.) - Bom dia. Muito obrigada pela oportunidade de estarmos aqui falando um pouquinho da nossa história. A minha mãe era transplantada e, até o dia em que ela conseguiu o rim, a gente tinha passado por uma tempestade. A gente passou muito tempo com esse sofrimento, não só ela, porque ela estando doente, toda família sofria, eu, meu pai, minha irmã e ela. Então, quando a gente pensava que teria uma vida normal, porque fazer hemodiálise, ter uma vida com alguém que faz hemodiálise não é normal, não é natural, veio essa outra tempestade que a gente não esperava, que é o covid. A minha mãe, por ser transplantada, tinha chance de ter o agravamento da doença, assim como teve. Ela ficou dois dias em oxigênio e depois foi intubada. Inclusive, quando ela estava com oxigênio, eu não sei se o nome é esse, máscara concentradora, mas é uma máscara que eles usam acho que na enfermaria, que se chama, que ela tem um saco aqui assim, não é como uma outra, só o cateter, no caso. E essa máscara... Ela passou uma noite com essa máscara furada, esse saco que ficava embaixo. Então, acho que isso, com certeza, deve ter agravado o quadro de saúde dela, tanto que esse detalhe quem percebeu fui eu que estava lá, estava acompanhando o meu pai, e ela estava no mesmo hospital que o meu pai. Então, de vez em quando, eu ia olhá-la, de vez em quando, eu ia olhá-lo, e notei que ela estava com essa máscara furada. Trocaram, mas de qualquer forma o quadro dela acabou se agravando. Então, ela passou oito dias intubada, até que veio a óbito. |
| R | O meu pai, no período em que ela estava internada, também esteve internado e se recuperou da covid. Ele tinha uma doença preexistente de que ia começar o tratamento, que era o câncer. Então, quando ele saiu do tratamento da covid, de que ele tinha se recuperado, ele um dia depois foi internado de novo, porque o câncer dele tinha se generalizado por todo o corpo. Não tinha mais como continuar o tratamento, nem começar; o que antes dava não dava mais, bem rapidamente. Então, dois dias depois do falecimento da minha mãe, meu pai foi internado. E a gente não teve nem tempo de sofrer pela minha mãe, não é? Porque eu... Por exemplo, minha mãe tinha falecido há dois dias, e já tive que estar com meu pai no hospital, não tive nem oportunidade de chorar nem nada do tipo, porque eu não podia ficar chorando na frente do meu pai, não é? Eu tinha que passar que estava tudo bem, tinha que mostrar força, não é? Então, ele passou acho que foram 13 dias internado e veio a óbito também. Foi uma diferença de 14 dias do meu pai e da minha mãe. Quando meus pais faleceram, a gente não perdeu só os pais, a gente perdeu uma vida, não é? Uma vida de alegria... Eu costumo dizer que a gente vive uma vida de alegria com momentos de tristeza, uma vida normal, sempre tem alguma coisa assim, mas hoje a gente vive uma vida triste, com uma ou outra coisa que deixa a gente alegre. Então, eu penso dessa forma. A minha mãe era minha mãe, mãe da Juliana, minha irmã de 11 anos, mas ela era mãe de muitas outras crianças, não é? Porque minha mãe era articuladora de uma rede que é a Rede Amiga da Criança e do adolescente, essa rede que tem várias organizações não governamentais que cuidam do direito das crianças, lutam pelos direitos. Então, ela, por muito tempo, foi uma pessoa que lutou por esses direitos, mudou muitas histórias. Então, acho que foi uma perda que extrapolou o convívio familiar, não foi só dentro da minha casa, na minha família. Por ser uma pessoa importante socialmente, foi uma perda que extrapolou realmente; menos uma mente nesse sentido. Eu, meus pais e a minha irmã, nós éramos muito unidos, muito mesmo. Quem conhece sabe que, onde nós estávamos, a gente estava junto. Então, quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava. E eu, tipo, vi que eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. Eu me apoiei nela e ela se apoiou em mim. Então, desculpa... (Pausa.) A partir daí, eu pensei que eu não poderia mais ficar sem ela, assim como, pra ela, ela não poderia ficar sem mim. Então, a gente... Eu decidi que eu precisava mesmo ficar com a guarda dela, porque eu queria ter garantia de que eu passaria, de que ela estaria comigo o tempo todo, e ela também queria estar comigo o tempo todo. Então, foi bem natural mesmo pra mim. Eu assumi esse desafio por amor mesmo. E é isso. Hoje a gente tem mais de 600 mil vítimas, não é? Mais de 120 mil órfãos. Então, o Governo tem responsabilidade por essas vidas. Assim que tudo aconteceu, eu senti dois impactos. Eu e minha irmã, a gente teve um impacto emocional a princípio e, depois, impacto financeiro - impacto emocional porque, diante do contexto, diante do que aconteceu, a gente não estava bem psicologicamente, assim como a gente não está até hoje. |
| R | Então, a gente tem esse impacto e o impacto financeiro, porque a gente tinha os dois esteios da nossa vida, os dois pilares, as pessoas que cuidavam da gente, que sustentavam e faziam tudo, a gente não tinha essa responsabilidade. A gente passou a não ter e também a não ter quem nos ajudasse com isso. A gente teve pessoas próximas, familiares e amigos da minha mãe, que, com o pouco que tinham, começaram a ajudar a gente. E a gente está aqui agora, né?, vivendo, continuamos vivendo, mas a gente sentiu muito essa falta. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Peço desculpas ao Senador Humberto, mas a gente tem algumas curiosidades, Giovanna. A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Certo. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Para interpelar.) - Você tem 19 anos? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA (Para expor.) - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Você é solteira? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Morava com seus pais? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - E você estudava só? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Estudava, só estudava. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Não trabalhava? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Não. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Você perdeu seu pai e sua mãe num espaço de 14 dias? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - E ficou só você e sua irmã de dez anos? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Eu estou pedindo desculpas, Senador Humberto, porque, assim como você, Giovanna, nós temos muitos brasileiros e brasileiras dessa forma... O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) - Presidente, eu queria... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - ... e isso nos deixa muito constrangidos. Ninguém vai conseguir trazer seu pai nem a sua mãe de volta. Mas nós temos umas obrigações. A obrigação é não permitir que você fique ao léu. Eu não sei como é que você está vivendo hoje, deve ter tio, tias, parentes... A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Avós... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - ... que estão ajudando você, mas a tua responsabilidade, com 19 anos, de dar educação e criar uma irmã de dez... Você ainda nem amadureceu pra ser mãe e já se torna uma mãe porque a vida lhe impôs isso. A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - É uma coisa que realmente nos deixa bastante comovidos, e indignados com tudo que aconteceu. Por isso que eu peço desculpas ao Senador, até pra ela dizer para o Brasil que está vendo agora que você é uma jovem de 19 anos que vivia só pra estudar, porque seu pai e sua mãe garantiam o seu sustento e da sua irmã, e hoje isso mudou no estalar de dedos. A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - É verdade. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - A tua vida mudou, como as vidas de muitos brasileiros mudaram por causa dessa questão. A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) - Deixe-me só fazer uma pergunta ao Relator, Sr. Presidente. Ele me pediu que eu apresentasse algumas contribuições ao relatório - ouvindo aqui mais uma história dolorosa como essa -, ele pediu que apresentássemos algumas propostas. Eu apresentei uma sobre órfãos da covid. Eu pergunto ao Senador Renan Calheiros... Pergunto ao Senador Renan Calheiros... O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Fora do microfone.) - Estou ouvindo. O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) - Sim, mas, quando a gente ouve, a gente olha, Senador... O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL) - Não, não, não. São sensos diferentes, por favor. O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) - Desculpe-me, está bom, está bom. Eu costumo olhar com quem eu falo. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Fora do microfone.) - Eu estava olhando... O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) - Ah, está bom, está bom. Eu queria saber se foram acolhidas as propostas que V. Exa. me solicitou sobre órfãos da covid. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Como Relator.) - Na proposta que estou fazendo ao G7 e à Comissão Parlamentar de Inquérito, as propostas de V. Exa. foram acolhidas na inteireza delas. A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA (Para expor.) - Continuando. Então, hoje a gente tem esses mais de 600 mil mortos pela covid, essas mais de 120 mil crianças e adolescentes órfãos por conta da covid. Inclusive, essa ajuda de custo que o senhor mencionou é de extrema importância, mesmo porque eu e minha irmã, a gente sentiu isso diretamente, assim como está sentindo até agora. Inclusive, eu tenho uma dúvida sobre isso, porque a minha mãe faleceu de covid e meu pai faleceu com uma sequela da covid. Ele tinha um câncer que ainda poderia ter um tratamento; ele pegou a covid; e o câncer dele se generalizou a ponto de não ter mais tratamento; e depois ele faleceu de câncer. Então, isso daí vai contemplar a gente, por exemplo, eu e minha irmã? A pergunta era essa. |
| R | (Intervenção fora do microfone.) A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Vai contemplar? O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Oi? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Se vai contemplar... (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Não, não; eu estava dizendo bem assim: o pai dela morreu em consequência da covid. A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Isso que eu estou dizendo pra eles, está entendendo? A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Ah, tá. Então, contempla, não é? Porque era uma dúvida que eu tinha. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Quando você fez o depoimento, eu falei para o Randolfe: "Randolfe, o pai dela faleceu em consequência da covid". A SRA. GIOVANNA GOMES MENDES DA SILVA - Sim. E, além disso, também o apoio psicológico. Hoje eu e minha irmã temos psicólogo e psicopedagogo porque alguém se propôs a fazer gratuitamente, um amigo, mas a gente não teria se não fosse isso. Então, também é importante essa ajuda psicológica. E é isso. Como até a Constituição diz que crianças e adolescentes são prioridades absolutas no que diz respeito a políticas públicas, então, essas políticas que vocês já citaram são o mínimo mesmo e são importantes. É isso. Obrigada. O SR. RANDOLFE RODRIGUES (PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Nós que agradecemos, Giovanna. Nós que agradecemos. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Fora do microfone.) - Katia, você. A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Bom dia a todos. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - A Katia é da Região Sudeste, São Paulo, perdeu pai e mãe por covid. Acompanhou a mãe em sua internação da Prevent Senior. E o tratamento recebido: kit covid. Eu só estou falando isso pra quem está ouvindo saber quem é você. A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS (Para expor.) - Sim. Eu moro em João Pessoa atualmente, mas os meus pais eram de São Paulo e eu sou de São Paulo capital também. Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer e parabenizar a todos vocês pelo trabalho que vocês estão fazendo na CPI; e agradecer também a oportunidade - primeiramente, a Deus, e a todos vocês - de estarmos aqui contando um pouco da nossa história. Eu tenho certeza que essa história não é só minha, não é só de cada um que está aqui, mas nós estamos representando esses mais de 600 mil mortos. E eu queria dizer o quanto significa pra mim estar aqui hoje. Eu não... Depois que aconteceu esse problema com os meus pais, eu não perdia um dia de CPI. Eu resolvi acompanhar tudo, eu queria saber o que estava acontecendo. Eu não conseguia... Eu fiquei muito impactada com a situação e fiz do meu luto uma luta: eu prometi pra mim mesma que eu não ia me calar, que eu ia seguir até o fim. E, pra minha surpresa, hoje eu estou aqui representando essas vítimas. Quando eu perdi os meus pais, eu me via como se eu estivesse num buraco. Eu me sentia só, vazia. Num lugar vazio, eu gritava, e era como se ninguém estivesse me ouvindo. E, depois que vocês criaram essa CPI, isso me aliviou bastante, porque a gente conseguiu descobrir quantas coisas aconteceram no nosso País. A gente sabe que, através desta CPI, a gente conseguiu ver quantas coisas poderiam ser evitadas, quantas mortes poderiam ser evitadas, quantas tragédias poderiam ter sido evitadas. |
| R | Eu vou contar um pouco... Faltou, na verdade, o trabalho do Governo, que deveria ser mais sério, de tratar com mais seriedade toda essa pandemia por que nós passamos e estamos passando ainda aqui no Brasil. Eu vou contar um pouco da minha história com os meus pais. Já fazia um ano que eu não via meus pais, por conta da pandemia. A gente sabe que foi uma coisa que fez com todo mundo isso, afastou todo mundo, porque não podíamos ter contato. E, aí, faltando uma semana para o meu pai poder ser vacinar, porque não tinha vacina ainda, ele acabou contraindo o vírus. No dia 18 de março de 2021, a gente teve que levá-lo para o hospital público, e ele foi internado. A última vez que eu vi meu pai foi quando a minha irmã, que estava acompanhando ele na internação, fez um vídeo para mim, e ele falou comigo ainda. A gente ainda estava achando que ele ia sair dali. E ficamos esperando por isso. Só que a minha mãe também contraiu o vírus. Infelizmente, ela também estava contaminada. Ela tinha o plano de saúde da Prevent Senior. Meu pai não tinha, mas ela tinha. Ela era associada já há 15 anos da Prevent Senior, e a gente tinha muita confiança nesse plano. Ela passou por alguns tratamentos de câncer, porque ela teve dois cânceres, mas ela conseguiu superar. Já fazia um ano que ela tinha tido alta. E aí a minha irmã - eu ainda não tinha chegado, eu só cheguei no dia 19 - fez a chamada de vídeo com a Prevent Senior, aquela telemedicina. Não fizeram nenhum exame com ela, e acabaram mandando o kit covid para ela. A gente recebeu esse kit covid, começamos a medicá-la, mesmo sabendo - porque a gente tinha algumas dúvidas sobre todos esses remédios - que não era eficaz, mas como você vai falar para uma idosa de 71 anos que confia no convênio que aquele remédio que o médico mandou para ela, para cuidar dela, na cabeça dela, esse remédio não estaria fazendo nada? Nós começamos a dar o remédio para ela. Nesses dias eu já estava em São Paulo, já estava em 19 de março. Uma coisa para que a gente tem que chamar bastante a atenção é que eu estou falando de 2021. Nós não estamos falando de março de 2020, porque em março de 2020 ainda tinha muita dúvida - março, abril - com relação a como a gente iria combater essa pandemia, mas nós estamos falando de 2021. Então, nesse kit vinha hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, colchicina, vitamina C com zinco, vitamina D e suplementos alimentares. Começamos a fazer o tratamento e o meu pai continuava internado no hospital. Só que no dia 21 a gente percebeu que a saturação dela estava oscilando muito, chegando até a 88. Ficamos bastante preocupadas. Comuniquei às minhas irmãs, e a gente a levou, no domingo, ao hospital, nesse dia 21, à Prevent Senior que ficava na unidade da Mooca. Estava bem lotado o hospital, nós chegamos a ficar ali por volta de três horas para ser atendidos. O médico só fez aquele... Examinou normalmente, tirou a saturação dela. Lá no hospital, como estava oscilando, apresentou uma saturação de 94. O médico, para nossa surpresa, não fez nenhuma tomografia, não fez nenhum exame mais profundo para saber como é que estava a situação dela. Inclusive, a minha irmã falou que gostaria que pedissem uma tomografia. Ele falou que o hospital da unidade da Mooca não estava separado só para atendimento covid, ele estava atendendo várias pessoas, e que a máquina de tomografia ali seria complicado usar, porque tinha outras pessoas lá dentro que não estavam com covid. Aquilo a gente já achou bastante estranho, mas aí ele falou: "Olhe, se vocês quiserem esperar, vocês podem esperar, mas vai demorar por volta de umas três horas até conseguir higienizar tudo lá e tal". E a minha mãe já estava há três horas na espera. Ele falou: "Olhe, resolvemos não fazer a tomografia". Na verdade, ele não quis fazer, a gente que questionou. E a gente foi embora para casa. Isso já era quase meia-noite. Quando eu cheguei a casa, a minha mãe... Oscilou de novo a saturação dela. Inclusive, o médico tinha falado que não poderia fazer nada, porque o protocolo do hospital era que, abaixo de 90 a saturação, eles teriam que fazer algum procedimento mais profundo. E aí a gente chegou a casa, oscilando de novo a saturação dela. Inclusive, eu liguei novamente para a telemedicina, para ver como que eu poderia agir naquele momento, mas a médica que atendeu, inclusive, não foi muito receptiva e acabou falando que teria que voltar para o hospital. Eu falei: "Não tem como a gente voltar, porque eu acabei de voltar do hospital agora". Minha mãe já estava muito cansada, a gente resolveu deixá-la descansando um pouco. |
| R | E tomamos a decisão de levar minha mãe logo cedo para o hospital novamente, na segunda-feira. E aí a gente a colocou no carro; depois, a gente a levou para o hospital. Estava muito baixa... Ela chegou a sair de casa com oxigênio já - de dentro de casa, a gente providenciou oxigênio, porque o meu pai tinha enfisema pulmonar, então, nós tínhamos esse oxigênio em casa. E nós a levamos até a unidade, de novo, da Prevent Senior na Mooca. Aí, sim, tiraram a saturação dela, estava baixa, fizeram os exames e viram que o pulmão dela estava 50% comprometido. Só que não tinha vaga no hospital. Nós ficamos aguardando, e a mãe conseguiu a transferência para a unidade de Pinheiros, o Sancta Maggiore, às 3h da manhã. Só que, nesse mesmo dia, segunda-feira, 22 de março, antes mesmo de a gente levar minha mãe para o hospital, a minha irmã recebeu uma ligação do hospital em que meu pai estava internado. Ela foi lá, e, infelizmente, a gente recebeu a notícia de que o meu pai havia falecido. Nós não conseguimos nem viver o luto direito, porque a minha mãe já estava no hospital. Eu fiquei com a minha mãe, eu não acompanhei o sepultamento do meu pai. Ele acabou... Eu fiquei com a minha mãe no hospital, e a minha irmã providenciou todos os procedimentos para o sepultamento. |
| R | E, assim, pra gente... Pra piorar mais ainda - não é? -, naquele dia em que o meu pai faleceu, chegou a quase 4 mil mortos: foi o pico da segunda onda da pandemia. E a minha irmã teve que ir na funerária, com o carro da funerária - infelizmente ela passou por todos esses problemas -, porque, quando ela chegou lá no necrotério, não estavam encontrando o corpo do meu pai; eram muitos corpos, naquele necrotério, dentro dum saco preto. E o rapaz que estava lá, que era o responsável, pediu a ajuda dela ainda, pra ela procurar o corpo do meu pai; e ela saiu procurando o nome dele, ficou procurando, e via que tinha sacos maiores e menores. Para quem não sabe, quem morre de covid é enterrado nu, dentro de um saco, sem direito a despedida nenhuma. Ela ainda teve que pegar esse corpo do meu pai, e o rapaz... Era tanto corpo, que ele falou: "Olha, eu preciso da sua ajuda". E ela teve que colocar o corpo do meu pai dentro do caixão. E a gente... Eles foram ainda até o cemitério. Chegando lá, o rapaz da funerária falou que, se não se importassem, ele teria que deixar o corpo do meu pai no chão, na terra, porque ele tinha muitos corpos ainda pra procurar e buscar. Só conseguimos fazer uma oração rápida de despedida do homem que ensinou a gente a ser as mulheres que somos hoje - não teve nem uma despedida digna. E eu tenho certeza de que isso não aconteceu só com o meu pai, isso aconteceu com muitos brasileiros - muitos brasileiros. Voltando à situação da minha mãe, a gente continuou, eu revezei com as minhas irmãs lá, cuidando da minha mãe. Ela passou sete dias na enfermaria do hospital, eles deixavam a gente acompanhar. O hospital estava muito cheio, a gente teve muitas dificuldades, a máscara dela escapava a toda hora, a do oxigênio; o oxigênio dela estava já nos 15 litros - o oxigênio dela -; a saturação dela não melhorava. E ela pedia pra mim: "Filha, eu quero... Eu estou com sede, eu quero água". E a enfermeira dizia que eu não podia nem tirar a máscara pra dar água pra ela, porque ela estava tomando a água espessa - que era espessada com um material que eles colocam pra deixar ela mais grossinha, pra não engasgar. E aí a enfermeira falou que a situação dela estava bem complicada, e eu peguei uma gaze e molhei a boca dela pra aliviar um pouco a sede dela. Por isso é que eu falo que, quando a gente vê um Presidente da República imitando uma pessoa com falta de ar, isso, pra nós, é muito doloroso. Se ele tivesse ideia do mal que ele faz pra Nação, além de todo o mal que ele já fez, ele não faria isso. A minha mãe piorou. Teve uma noite em que ela foi pronada, ela já estava saturando em 77; eu cheguei a falar com os médicos, falei pra ele que eu queria, eu achava que o estado dela estava muito complicado, que ela teria que ir... Se ela não precisava ir para a UTI. Ele falou: "Não, a hora que precisar, pode ficar tranquila que a gente leva". |
| R | Mas eu já comecei a desconfiar, pela situação, porque estava faltando leito na UTI. E aí demoraram mais dois dias, conseguiram levar a minha mãe para a UTI. Inclusive fizeram uso do medicamento flutamida para ela, mesmo sem o nosso consentimento - a gente não autorizou. E ali ela passou mais 26 dias na UTI. Ela passou por vários procedimentos e, infelizmente, no dia 26 de abril deste ano, ela nos deixou também. Nós perdemos o nosso pai, a nossa mãe, os amores da nossa vida e isso me fez... A dor é grande, mas a vontade de justiça é maior, por isso que eu estou aqui hoje. Eu estou aqui hoje para representar essas várias famílias que passaram pela dor que passamos e é por isso que eu fico tão emocionada de estar aqui. Aqui, este lugar, representa pra mim uma vitória, porque eu sei que a justiça vai acontecer, todos vocês vão conseguir fazer a justiça com cada um, porque não são só números, são pessoas, são vidas, são sonhos, são histórias que foram encerradas por negligências, por tantas negligências, e nós queremos justiça. O sangue dessas mais de 600 mil vítimas escorre nas mãos de cada um que subestimou esse vírus. A vacina é a única solução para vencermos. Aproveito e faço um apelo. Se você ainda não tomou a vacina, tome a vacina, por favor, aproveite essa oportunidade. Meus pais não tiveram essa oportunidade e poderiam estar aqui conosco. Ainda hoje, por favor, tomem a vacina. Eu peço desculpas pela emoção, mas é porque é muito difícil a gente ver tanta coisa que aconteceu neste País, mas eu tenho certeza de que a justiça será feita. Eu agradeço a oportunidade. Obrigada. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Katia. Acho que a gente vai precisar de... Vamos precisar de bastante... As vozes de vocês, eu acho, trazem para esta CPI a dimensão da nossa responsabilidade, em nome de quem e por quem nós estamos aqui. Compartilhamos todos nós a tua emoção, Katia - compartilhamos todos nós. Dando sequência, queremos ouvir agora uma vítima da pandemia, o Sr. Arquivaldo Bites Leão Leite, que está em tratamento pelas graves sequelas da pandemia. Sr. Arquivaldo, a palavra é com o senhor. O SR. ARQUIVALDO BITES LEÃO LEITE (Para expor.) - Olá, Sr. Presidente, Senador Randolfe; Sr. Relator, Senador Renan Calheiros; demais Senadores, companheiros da associação Vida e Justiça, de apoio e defesa das vítimas da covid. |
| R | Estou aqui representando a Região Centro-Oeste não com satisfação, mas com muita responsabilidade, porque essa associação... A partir do momento em que... A partir do momento em que nós passamos a participar dessa associação, a gente sentiu também outra força. Então, agradeço muito aos membros, aos dirigentes da associação Vida e Justiça por tudo que têm feito e ainda farão para as vítimas e parentes de pessoas vitimadas por essa covid. Sr. Presidente, me permita fazer um breve relato. Procurarei ser breve. Meu nome é Arquivaldo Bites. Sou de uma família numerosa. Nós somos 20 irmãos. Eu tenho 12 filhos, 12 tios também e centenas de primos. Desde o início dessa pandemia, toda a nossa família, nós nos reunimos pelo sistema de internet todos os domingos, às 15h, sempre procurando conscientizar uns aos outros da importância do isolamento social, do uso de máscara, isso já logo no início da pandemia. No decorrer de todo esse período, ainda no ano passado, nós fomos, em vários momentos, hostilizados por setores da sociedade que eram levados pela liderança presidencial, dizendo que, se a gente queria isolamento, então a gente fosse dar alimento para as famílias pobres. E, realmente, nós fizemos campanhas solidárias de alimentação, de arrecadação de alimentos para as pessoas. Procuramos sempre observar as normas de isolamento, de uso de máscara, mas, lamentavelmente, essa pandemia, aos poucos, foi chegando à nossa família. Ainda no mês de julho do ano passado, um primo nosso, primo primeiro, médico, que já era aposentado pelo antigo Inamps, que é o Ministério da Saúde hoje, trabalhava ainda. E nós falamos para ele: "Breno, pare de trabalhar". Ele disse: "Não. O Brasil nunca precisou de mim tanto como agora". E continuou trabalhando. Passados alguns dias, ele, que tinha 76 anos, foi infectado e veio a falecer. Logo em seguida, tivemos outro primo, primo primeiro, o Milton, que também foi infectado e veio a falecer. Com esses dois falecimentos, a nossa preocupação aumentou ainda mais. E aí passou um tempo sem a gente ter vítimas na família, mas sempre com vítimas que eram amigos. E, a cada amigo, a cada parente que a gente perde, é um sofrimento na nossa família. |
| R | Neste ano, perdemos um tio que trabalhava nas lides rurais. Foi à cidade fazer umas comprar lá e voltou. Três dias depois começou a passar mal; aí foi para o hospital. Em oito dias, estava falecido; nós não tivemos a oportunidade, assim como os outros também, de vê-lo, nem sequer de acompanhar o enterro. Depois, este ano, nós fizemos campanha por vacina, e essa vacina nunca vinha, até que, no dia 30 de... Até foi no dia 30... No dia 18 de março, o nosso irmão caçula veio a ser infectado e, no dia 30 de março, o nosso irmão caçula, de 20 irmãos, veio a falecer. O primeiro, trocando totalmente a ordem. Não que nós quiséssemos que os mais velhos falecessem, nós não queríamos que nenhum falecesse, mas ele veio a falecer. E, depois, mais seguidamente, dois sobrinhos vieram a falecer - são seis membros. Nesse período... E nós fizemos campanha pela internet - porque, nesse período, a gente não estava saindo de casa - para a vacina já e também pelo auxílio para as pessoas necessitadas - viemos sempre nessa luta. Quero fazer um registro: o início desta CPI, para nós, foi um momento muito importante, porque essa CPI passou a dar outra visão também para nos apoiar na luta lá, no interior de Goiás, para a questão da conscientização em relação à questão da prevenção, da vacina e tudo o mais. E isso fazendo, fizemos... Mas quero dizer para vocês que a morte do nosso irmão caçula foi um marco, um marco que nós inclusive passamos a deixar de lado para participar das atividades de rua. Inclusive, o meu irmão Arquidones Bites, Professor Arquidones Bites, e eu também, usávamos no nosso carro a faixa "Bolsonaro genocida! Fora Bolsonaro genocida!" E ele chegou a ser preso por perseguição da Polícia Militar, por essa posição de "Bolsonaro genocida". Hoje, a gente... Nós fomos vítimas da polícia, e hoje está confirmado, está em tudo... A imprensa, todo mundo determina, coloca que esse Presidente da República efetivamente provocou um genocídio premeditado ao atrasar as vacinas, ao fazer campanha contra o distanciamento e contra todos os procedimentos orientados pela medicina. Daí a importância que, inclusive, nós passamos a inserir nessa associação, como forma de organizar as pessoas que sofreram - vítimas. Quero dizer que no mês de julho faz exatamente - 18 de julho - três meses que eu fui acometido pelo coronavírus. Esses últimos 90 dias têm sido muito difíceis para mim. Nos primeiros dias, com a saturação chegando a 85, 86, a gente... Tinha dia em que a gente... À noite a gente pensava: "não vou amanhecer o dia". É essa a sensação que a gente sente, Senador Humberto, à noite, quando o tempo vai esfriando um pouco mais e a gente vai sentindo a falta de ar. |
| R | No 18º dia em que eu estava em tratamento, eu sofri um derrame facial, auditivo, ocular e que também prejudicou um pouco parte do meu corpo, e a partir desse dia eu não consigo mais andar sozinho. Eu não estou usando um andador por teimosia, mas eu sinto... Eu começo a andar e me desequilibro. Isso por quê? Porque é uma questão, me parece... Não sei, Dr. Humberto, se é labirintite, mas com o ataque ao ouvido perdi esta audição, não estou ouvindo do ouvido direito, e com isso a gente perde o equilíbrio. A força a gente mantém um pouco apesar do cansaço. E aí, neste momento... Meu tempo de dez minutos já se foi; me permita, Omar Aziz, mais um momentinho. Neste momento, eu gostaria de dizer aos membros, e fico feliz - eu sempre procuro acompanhar, mas a gente não consegue ouvir tudo -, mas para trazer alguns pedidos de esta CPI garantir a memória das vítimas e da forma como foi cuidada ou não cuidada a pandemia no Brasil nesse ano passado e neste ano. É fundamental que a gente garanta a memória do que nós estamos passando, de março do ano passado até os dias de hoje, e ainda vamos continuar passando, para que nunca mais, no Brasil, se repita o que está acontecendo agora. Precisa de... É fundamental os Srs. Senadores e o Congresso Nacional constituírem leis para efetivamente estabelecer normas preventivas sanitárias para que se garanta que nunca mais um Presidente da República vá à rua sem máscara e incentive, enquanto a comunidade científica determina outro procedimento. Então, eu tenho... Porque existe a legislação atual, que serve para todo cidadão, mas infelizmente o Presidente da República tem feito todas essas provocações, essas ilegalidades, esses crimes, e ainda não tem uma forma, ou melhor, se tem eu não conheço, e se tem não tem sido colocada em prática, para punir, para evitar que esse cidadão Presidente da República continue fazendo o que está fazendo. Eu não sei por quê, porque eu tenho comigo - eu não sou advogado, eu sou servidor público da área de Comunicação Social, sou jornalista -, eu sei que a lei é feita para todos cumprirem, mas, aqui no Brasil, o Presidente da República faz questão de não cumprir a lei, e infelizmente a própria legislação me parece que ainda não tem uma forma de evitar esse abuso de autoridade. Pra mim é o cúmulo do abuso de autoridade o que esse Presidente da República tem feito. Então, é garantir a memória, constituir leis que efetivamente empoderem qualquer fiscal da vigilância sanitária a barrar um cidadão comum, um Vereador, um Prefeito, um Governador, um Deputado, um Senador e até o Presidente da República, como também um Ministro do Supremo. Então, se acontecer isso, pra mim essa vinda minha aqui hoje valerá a pena. Já está valendo, por tudo que esta Comissão já tem feito, porque sinceramente, se não fosse esta Comissão, eu acho que nós ainda estaríamos chorando muito mais outras mortes. |
| R | Quero registrar: no dia 19, quando eu estive conversando com o médico conversando, ele falou assim: "Sr. Arquivaldo, o senhor tomou as vacinas?", porque eu contei pra ele da morte do meu irmão e que ele não tinha tomado as vacinas. Eu falei: "Eu tomei, doutor. Eu tomei a primeira dose tal dia e a segunda dose tem 15 dias". Ele falou: "E você sabe por que nós estamos aqui conversando dessa forma? Porque você tomou a vacina. Se você não tivesse tomado a vacina, possivelmente nós não estaríamos conversando nesse dia". Então, eu digo: eu estou aqui, Srs. Senadores, todos vocês, Sr. Presidente Omar Aziz, eu estou aqui hoje porque eu tive a oportunidade de tomar vacina a tempo. O meu irmão caçula não teve essa oportunidade, como 603 mil pessoas - dessas, quantas mortes também não poderiam ter sido evitadas? Bem, com essas palavras, eu gostaria de finalizar e simplesmente agradecer ou fundamentalmente agradecer a oportunidade de estar usando este momento para fazer este pedido, Sr. Senador Renan e todos os demais Senadores: que a gente lute para um Brasil diferente desse que nós estamos vivendo, um Brasil em que efetivamente a lei sirva para todos, um Brasil onde uma pessoa não venha a ser infectada num momento desse por irresponsabilidade. E um detalhe que eu esqueci, rapidamente: quando a gente fazia campanha, eram as pessoas fazendo chacota em cima da gente. Quantas vezes a gente foi ironizado, porque a gente lutava pelo uso da máscara e chamava pela vacina e tudo mais? Que isso nunca mais aconteça no nosso Brasil. Muito obrigado a todos vocês. |
| R | O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Obrigado ao senhor. Faz praticamente dois anos que o primeiro caso da covid apareceu no mundo, na China, acho que já dois anos atrás. E, por incrível que pareça - o senhor falou uma coisa aí -, até hoje nós não temos um protocolo do SUS para tratamento de covid porque o Ministro da Saúde e a Conitec ainda não votaram um trabalho, um estudo de protocolo para o Sistema Único de Saúde, para o Sistema Único de Saúde adquirir esses tipos de medicamentos para tratamento de Covid. Então, até hoje, infelizmente, não há absolutamente nenhum protocolo para tratamento de covid no Brasil. O que tem e que é propagado... Nós sabemos muito bem o que aconteceu com centenas de milhares de pessoas por estarem acreditando naquilo que o Governo Federal prega. Vou ouvir a Sra. Rosane Maria dos Santos Brandão. A SRA. ROSANE MARIA DOS SANTOS BRANDÃO (Para expor.) - Boa tarde! Eu sou Rosane Maria dos Santos Brandão, sou do Estado do Rio Grande do Sul, cidade de Pelotas. Meu esposo, João Alberto dos Santos Pedroso, conhecido como Bola, foi mais uma vítima da covid. Eu costumo dizer que ele foi assassinado. Os primeiros sintomas, o Bola teve no dia 11 de abril; foi hospitalizado no dia 16, e esse foi o último dia em que eu vi o meu companheiro de 21 anos de vida juntos. Ele morreu no dia 26 de abril. Bola era de Santiago, uma cidade do Rio Grande do Sul também, um sujeito simpático, sorridente e alegre, com muitos amigos, muito amado por todos. Era servidor, técnico-administrativo da Universidade Federal de Pelotas, e deixa saudades. Eu não vou precisar dizer para vocês aqui que ouviram todos os depoimentos que me antecederam o quanto muda a vida da gente, o quanto a gente sofre, enfim... Eu acho que você já conseguiram entender isso com os sobreviventes que estão aqui à volta. O Bola teve a vida abreviada por uma política genocida. Nós esperamos por uma vacina que chegou tardiamente e a conta-gotas para toda a população. Senhores, tem várias maneiras de o Estado matar o seu povo, e a falta de política pública é uma dessas. A vacina não chegou para o Bola e não chegou para milhares de vítimas. Saúde pública depende de decisões políticas e de ações políticas. Vocês escutaram aqui as vozes de mais de 600 mil mortos, e 490 mortes eram evitáveis, não fosse essa política de extermínio do povo brasileiro. Nós não estamos nos lamentando, não estamos indignados com o ciclo natural da vida. Nós sabemos que as pessoas nascem e nós sabemos que as pessoas morrem, mas nós estamos falando daqueles que deveriam estar entre nós neste momento não fossem as escolhas deste Governo. Se manifestam aqui, através de nós, esposas, esposos, todas as vozes; se manifestam as pessoas que perderam os seus amores, vítimas do negacionismo, da incompetência, da ignorância, da maldade das fake news, que levaram o nosso País ao caos. A Associação Vida e Justiça entregou a esta Casa um documento denunciando e apontando caminhos: denuncia a negligência e as fragilidades sociais e econômicas da maioria dessas vítimas e cobra urgência nessas demandas. A associação é a nossa voz. O Senador Renan... Acredito que foi o Senador Renan e também o Senador Omar Aziz que falaram um pouco em relação às políticas que o Senado pretende implantar. Eu peço que vocês deem uma atenção especial a uma das propostas em relação a isso, que é a proposta de constituição de uma comissão nacional com civis, mais ou menos nos moldes da Comissão da Verdade, que se instituiu anteriormente no Brasil em razão da ditadura civil e militar que assolou o nosso País em determinada época. |
| R | Nós sabemos que não se substituem pessoas, e são milhares de órfãos. E esta CPI tem um papel fundamental. Então, Srs. e Sras. Senadores, vocês precisam de coragem. Não entrem para a história ombreando com os fascistas e com os canalhas, coloquem um ponto final nesse genocídio. As nossas esperanças estão na nossa Casa, nesta Casa. Honrem os nossos mortos, diferentemente do que fez o Presidente da República. Garantam memória, garantam verdade, garantam reparação. Entreguem o relatório final fiel às barbaridades e atrocidades que vocês ouviram aqui, o desprezo pela ciência, a negligência e o descaso. Cada um de nós, e vocês ouviram, tem uma história diferente pra contar. E nós queremos contar essa história, porque a gente não elabora o luto no silêncio do esquecimento, nós precisamos falar e nós precisamos ser escutados. Eu vejo aqui placas com o número de mortos nesta CPI. E vejo como nós vamos ter dificuldade de tratar desse assunto quando eu vejo também pessoas que comemoram os sobreviventes nesta CPI, como se a gente pudesse, no holocausto, ficar feliz com aqueles que não morreram e esquecer aqueles que foram mortos. Eu vou me despedir aqui me solidarizando com todas as vítimas, do País todo. Quero dizer, aos que ficaram, que vai restar um caminho difícil, penoso, doloroso. Mas eu escutei aqui meus colegas que me antecederam e que junto comigo lutam por vida e por justiça. Vocês têm minha reverência. Muito obrigada. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - A sua indignação é a indignação de todos nós, e tenha certeza de que o que nós estamos procurando, desde o primeiro momento, não é nos vingarmos, porque isso não vai resolver a vida das pessoas, mas fazer justiça, fazer justiça naquilo que acreditamos que sirva de exemplo pra futuras gerações, para que quem quer que esteja no poder de plantão saiba que uma vez, no Brasil, teve uma pandemia que levou a vida de milhares de brasileiros e que pessoas foram responsabilizadas por isso porque foram omissas, não cumpriram seu papel diante da pandemia e foram penalizadas. Isso pode servir de exemplo, e é isso que nós estamos procurando. Eu vou ouvir agora, por último, o Sr. Márcio Antonio do Nascimento Silva. Antes disso, Márcio, eu só queria dar aqui uma explicação para quem está nos vendo. Ontem saiu uma matéria, num jornal de grande circulação, que atribuía ao Presidente ter me ligado para tratar do que estava imputado de indiciamento do Presidente. Eu não tive o prazer de receber uma ligação do Presidente. Se tivesse me ligado, todos saberiam pela minha boca. |
| R | Uma pessoa de má intenção, má índole, informou a essa jornalista isso. Ela, depois, conversou comigo e me explicou, pediu desculpa por não ter me ouvido. Lógico que eu a desculpei - equívocos e erros todos nós cometemos -, mas reitero que eu não tive o prazer de receber um telefonema do Presidente pra tratar nem desse assunto e nem de outro assunto. Aliás, eu nunca falei com o Presidente pelo telefone. A única vez que eu encontrei o Presidente foi no início do mandato dele, quando eu, acompanhado da Bancada do Estado do Amazonas, estivemos no gabinete dele pra tratar sobre Zona Franca. Então, ele nunca me ligou pra pedir nada, e eu muito menos liguei pra pedir alguma coisa, nem a ele e nem a quem o cerca, nunca pedi absolutamente nada. Tentaram, dessa forma, fazer com que eu me indispusesse com os colegas Senadores, insinuando que eu estou fazendo um joguinho aqui. Eu não faço jogo, não faço jogo, eu faço as coisas pela frente - pela frente. Então, eu quero só esclarecer: o equívoco foi desfeito, e eu espero que não ocorra de novo. Se alguém um dia, em off, de má índole ou de má-fé, fizer uma informação pra qualquer jornalista que seja, é só me ouvir, porque, se falei, falei; se não falei, não falei. Como sempre, fui muito transparente e muito verdadeiro em todas as minhas ações. O que eu não faço é apontar o dedo pras pessoas. Já apontaram o dedo pra mim, já apontaram o dedo pro Renan, já apontaram o dedo pra muitas pessoas aqui. A gente sempre tem que ter cautela, e eu vou manter essa cautela. Não há aqui briga de egos. A CPI, ou ela dá certo pra todos ou não dá certo pra ninguém. O que está em jogo não é o meu ego nem o ego do Renan, não é o ego de nenhum Senador ou Senadora; o que está em jogo é justiça para as mais de 600 mil vítimas da covid e também para pessoas que sofrem com sequelas, como o Sr. Arquivaldo, que está aqui hoje, que não terá mais - infelizmente, Sr. Arquivaldo - a qualidade de vida que tinha antes - a sua vida ficou muito pior do que era, o senhor sabe disso, é uma infelicidade muito grande. Isso tudo foi decorrente da má gestão. Então, nós iremos, sim, pedir a punição, Senador Randolfe, de quem quer que seja... E isso, só pra esclarecer... Pra mim esse é um ponto passado, mas, como algumas pessoas me perguntaram "o Presidente ligou?", digo: não, o Presidente não me ligou, nenhum assessor do Presidente me ligou, nenhuma liderança política do Governo me ligou pra tratar nem sobre a CPI e muito menos de outro assunto. Então, é só pra esclarecer isso, pra que não fiquem dúvidas sobre o comportamento que tive aqui desde o primeiro dia da CPI e desde a primeira entrevista. Desde a primeira entrevista, eu sempre disse que não estou atrás de me vingar de ninguém. O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) - A CPI não está atrás de vingança. Está atrás de justiça. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - De justiça. E mais: talvez ninguém tenha sido tão agredido por pessoas conhecidas aí, que nós conhecemos - não vou citar nomes porque não vale a pena -, desde o primeiro dia da instalação, como eu, como Presidente; o Senador Randolfe, como Vice-Presidente; e o Senador Renan, como o Relator da CPI. Não dá pra mensurar se um foi mais ou menos, todos fomos bastante agredidos, mas nem por isso nós vamos levar isso para a CPI. Nós temos outras formas para que se faça justiça também quanto a essas mentiras assacadas, inverdades assacadas contra a gente, tentando nos desmerecer, usando a CPI, dizendo que era um circo. Bom, circo não é, porque no circo tem alegria, ao circo você vai pra se divertir e, aqui, o depoimento de vocês, de todos vocês... O comportamento do Márcio dignifica o trabalho desta CPI e mostra que não tem como a gente rir de nenhum depoimento de vocês. |
| R | Então, todos aqueles Senadores e pessoas na internet que vociferavam que isto era um circo, olhem aqui os palhaços! Só que esses palhaços estão chorando, esses palhaços estão comovidos, indignados com a perda que tiveram. Esses palhaços estão aqui hoje, num circo de horrores que não foi feito por nós, mas por pessoas que tem nome, sobrenome, por pessoas que serão indiciadas e pagarão pelos crimes que cometeram. Independentemente das divergências que possamos ter, o objetivo é um só: fazer justiça por vocês, por mim, pelo Randolfe, pelo Renan, pelo Humberto, por todos nós, justiça pra que não ocorra de novo. Então, aquele que escreveu, aquele que falou que isso era um circo, preste atenção à Mayra e veja se ela tem cara de palhaça; preste atenção à Giovanna e veja se essa moça tem cara de palhaça; preste atenção à Katia e veja se essa senhora tem cara de palhaça; veja o Arquivaldo, sobrevivente da covid. Aqueles que chamam a CPI de circo, vejam se o Arquivaldo tem cara de palhaço; vejam se a Rosane, que nos deu a honra de estar aqui vindo lá do Rio Grande do Sul, de perto da cidade que eu tanto amo, que é Cacequi, tem cara de palhaça. Vejam agora os negacionistas, aqueles que não enxergam a verdade, vejam... E eu passo a palavra com muita honra pra você, Márcio. Você representa todos nós na sua atitude como pai, como cidadão, como brasileiro que ama o País e veste verde e amarelo, mas veste verde e amarelo dentro do coração, não é da boca pra fora. Você nos representa, Márcio, você é a pessoa que está aqui representando todas essas 600 mil vidas porque você fez uma coisa de que todos nós temos que nos orgulhar. Ainda existem brasileiros de verdade, existe o Márcio, e o Márcio não tem cara de palhaço, ele não está num circo, ele está aqui pra pedir justiça pelo filho. A palavra está contigo, Márcio. |
| R | O SR. MÁRCIO ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA (Para expor.) - Boa tarde a todos. Obrigado, Srs. Senadores. Agradeço a V. Exas. Aquele dia foi um dia muito... Mudou tudo, eu acho. Eu hoje talvez entenda que mudou até para o País. O meu filho, sabe? O nome dele é Hugo Dutra do Nascimento Silva, um filho muito amado, muito companheiro, um jovem de 25 anos que trabalhava em três empregos. Ele era professor de dança de salão, ele era DJ também nessa área e trabalhava na área de informática. Então, muitas vezes, eu tive que esperá-lo acabar um baile e pegá-lo às 2 horas da manhã, esperar lá e deixar ele no trabalho dele às 4 horas. Até uma menina do trabalho dele um dia me falou: "Cara, quantas vezes eu cheguei e encontrei o Hugo dormindo lá, porque às 5 horas ele já tinha que estar e às vezes ele estava trabalhando até as 2 horas?" Então, o que eu quero falar é mais de amor, humanidade, sabe? Indignação, mas principalmente de amor, porque aquele meu ato, aquele dia na praia, de recolocar aquelas cruzes - estava sozinho - tinha muita indignação, mas eu quero deixar bem claro pra todos que não tinha nenhum sentimento de ódio nem de raiva. Pelo contrário: é um sentimento de muito amor, entendeu? Eu vou falar do ato primeiro. Naquele dia eu não participava do ato, eu estava saindo da covid, estava muito fraco, e o médico falou: "Márcio, vai na praia tomar um pouco de vitamina D pra você se recuperar um pouco". E eu até não tinha tanta força pra ir, minha esposa tinha que me levar, me ajudar. Aí resolvi ir com ela. Fomos. Quando eu vi o ato da ONG Rio de Paz - eu vi de longe -, eu vi umas cruzes e eu me lembrei: "Caramba, já completamos 100 mil vítimas!" Quando eu vi aquele ato, eu fiquei um pouco consternado, assim: "Caramba..." Lembrei a coisa do meu filho. E, quando eu cheguei perto, eu senti uma felicidade, falei: "Caramba, alguém está fazendo uma homenagem às vítimas!" Fiquei superfeliz, mas, quando eu cheguei perto, eu vi um grupo... E quero enfatizar bastante: tinha mais ou menos umas 60 pessoas, mas tinha um grupo de cinco ou seis pessoas hostilizando muito, hostilizando e falando um montão de besteira. E era uma coisa até irracional, porque ali era uma homenagem às vítimas, parecia que aquelas pessoas eram inimigas do que estavam acontecendo. E eu já tinha - eu quero relatar -, eu já tinha tido antes um problema muito grave - pra mim é grave, porque, toda vez que eu tenho esse sentimento de raiva ou ódio, pra mim é muito grave. Eu, a três dias de ter enterrado o meu filho... É um desabafo, tá? Não estou querendo acusar ninguém, mas, três dias depois de enterrar meu filho - foi um sábado ou um domingo; eu não guardo a data porque não quero guardar essa data -, eu ouvi aquela fatídica frase: "E daí?" Eu não sei, eu não posso... |
| R | Eu não procurei ler, não procurei falar nada, mas, com toda a repercussão, eu escutei lá no meu coração: "E daí que seu filho morreu?". Isso me gerou muita raiva, muito ódio. Isso me fez muito mal. Eu já tinha tido alguns embates, porque, com três dias do meu filho morto, teve um pronunciamento, e aquela confusão, e as pessoas gritando. Eu sou do Rio de Janeiro, eu moro em Copacabana, e uma pessoa estava com um megafone gritando: "E daí? E daí? E daí?", alto. Eu desci, porque eu me senti muito ofendido com aquilo. Quando eu cheguei lá, eu descobri quem era e pedi para a pessoa parar, e a pessoa não parou. Então, foram criando feridas, sentimentos que me fizeram muito mal durante um tempo. Isso foi uma semana antes de eu ir à praia. Eu fui, eu acho, num domingo. Ali eu tive um ato de desespero, perdi a razão, porque eu não aceitei aquilo, sabe? Fui contido pelas pessoas da rua. Mas eu estava com muitos sentimentos, era muita dor, era muita dor, era muita tristeza. Não dava, não dava! Eu falei para o cara: "Meu filho morreu, cara, e você vai ficar gritando 'e daí?'". Se o cara grita "mito", eu aceito isso, eu aceito a diversidade, eu aceito qualquer coisa, sabe? Eu não estou aqui para acusar. Mas gritar "e daí"? Entendeu? Então, realmente aquele dia eu me desesperei e eu refleti durante a semana. E, por acaso, foi Deus que fez eu andar na praia aquele dia. Quando eu vi aquele ato dele, eu não entendi. O cara começou a derrubar as cruzes. Eu ainda pensei... A minha esposa estava do meu lado, ela estava preocupada, porque a gente sabe da questão também da violência, da truculência dessas pessoas. Eu sou uma pessoa simples, eu não faço mal a ninguém. Quando eu vi aquela cena, eu fiquei pensando: "Não estou acreditando no que eu estou vendo, não estou acreditando. Isso aí é muito irracional, muita maluquice". O meu ato ali foi um ato de resistência, até por já estar acostumado a esses atos, porque eu sou quilombola, eu venho de origem quilombola. Então, eu já estou acostumado a sentir isso e passar, sabe? Mas só que eu pensei naquela hora: "Caramba, ele vai tirar". Eu olhei em volta e vi que ninguém se mexia, ninguém fazia nada. Aí eu olhei para o pessoal da ONG e eles não podiam fazer nada. Eu falei: "Sabe de uma coisa? Eu vou fazer uma coisa: ele vai tirar e eu vou colocar. Ele pode ficar o dia todo tirando, chutando, e eu vou colocar de volta". Mas, no momento em que eu raciocinei, não tinha realmente... Porque eu estava sentindo... Eu falei: "Será que esse cara não sente que está pisando na cova do meu filho, que está chutando?". É uma falta de respeito muito grande. Então, passou aquilo. Não esperava que desse essa repercussão toda, aconteceu. Mas não parou daí. O problema é que não parou daí. O meu filho faleceu no dia 20 de abril de 2020. Ainda não tinha 10 mil vítimas. Eu entendo que os médicos fizeram tudo, fizeram tudo pelo meu filho. Acho que eu estou falando um pouco fora. Os médicos fizeram tudo que podiam pelo meu filho. Naquele momento, o tipo de medicação não importava, porque eles não sabiam de nada. Nós mesmos não sabíamos. Então, naquele momento, eu agradeço tudo que aqueles médicos fizeram. Hoje eu não aceito que continuem com essa... Não vou falar "maluquice", porque isso não é maluquice. Falando "maluquice", a gente está colaborando com uma desculpa. É irracionalidade. Eu só posso pensar assim. |
| R | O meu filho, o Hugo, começou a passar mal numa sexta-feira. Ele teve um resfriado. Foi em março de 2020, final de março. Ele falou: "Pai, eu estou gripado". A pandemia estava bem no começo, não tínhamos nenhuma informação. Quando chegou no domingo, ele foi ao médico. Ele morava com a mãe dele, mas estava sempre com ele. Ele foi ao médico, e, quando chegou, eu falei: "Hugo, olhe só. Eu estou vendo aqui que a informação que nós temos é que, quando sentir falta de ar, a gente corre para o hospital". Ele falou: "Não, pai, até já fui medicado, mas eu estou piorando". Aí eu falei: "Então...". Aí eu fui lá vê-lo. Aí, como já tinha a coisa da covid, eu falei assim para a mãe dele... E a mãe dele, ao mesmo tempo, ficou também doente. Eu falei: "Olhe, é melhor vocês se isolarem, não ficarem perto de ninguém". Porque meu filho mora do lado com mais três crianças, tinha tido uma chicungunha em anos anteriores e estava bem fraco. E o meu filho ficou totalmente paralisado em 2019 por causa da chicungunha - graças a Deus, hoje já se recuperou. Então, eu falei isso. Só que ele piorou. Na quarta-feira, ele falou: "Pai, eu estou começando a sentir falta de ar". Corri para a casa dele, fomos para a UPA. E a falta de ar foi aumentando, porque o progresso da doença dele foi muito grande. Quando chegamos à UPA, teve um procedimento normal, fomos muito bem atendidos. Ele já estava com muita falta de ar e fez os exames. O que eu pensei? Como eu moro em Copacabana, pensei... E a gente estava muito tempo lá. Eu falei: "Hugo, enquanto esperamos os exames, vamos à minha casa que eu vou te dar uma sopa, vou te dar alguma coisa". E fizemos isso. Só que ele, consciente, falou: "Pai...". Chegamos a casa: "Pai, vou ficar aqui no carro". Eu falei: "Mas, Hugo, você precisa descansar". "Não, vou ficar no carro, porque eu não quero contaminar, eu posso estar com covid." A gente pensou... "Não quero contaminar ninguém." E ele já estava com muita falta de ar nesse momento. Eu subi para a minha casa, falei com a minha esposa. Ela falou: "Não, ele vai subir, a gente vai isolar a sala, e vamos botá-lo deitado". Fizemos uma cama para ele na sala, isolamos. Como a minha esposa também trabalha na área da saúde, ela já estava, nós estávamos com todos os protocolos em casa. Aí eu forrei, voltei lá e falei com ele. Só que o que aconteceu? Eu moro no primeiro andar, e ele resolveu subir de escada. Nesse momento em que ele subiu de escada, ele quase desmaiou lá em cima! Então, deitou... É por isso que é muito... As pessoas têm que ter noção do que falam, têm que ter noção do que falam! A última vez do meu filho vivo na minha casa, eu fiquei olhando para ele e olhando a respiração dele, olhando o oxímetro. Ele ficava descansando, fiz uma sopa, ele não queria comer, fiz... Esperando para levar de volta para a UPA. Aí eu ficava olhando a respiração dele, olhando, olhando e pedindo... "Não, vai melhorar, vai melhorar." Aí até que nós fomos para a UPA, nós fomos para a UPA. Voltamos, os exames já estavam quase prontos, mas o que aconteceu? Mais pessoas chegaram, os médicos eram... Então, levou mais duas ou três horas ali, com ele já com falta de ar... Ele: "Pai, eu tenho que ir para outro lugar". Eu já estava pensando de arrumar alguma maneira de levá-lo para outro lugar. Até que foi atendido, 1h30 da manhã, o Hugo foi para o oxigênio, mas, antes disso, o que você falou e que me comoveu muito é que... Lá na UPA, eu sentei aqui, ele sentou ali - tenho até uma foto, eu tirei uma foto com ele -, ele não aguentava mais andar, porque a falta de ar era tanta que tirou toda a força dele. Eu o botei na cadeira de rodas... Foi a última vez em que estive com meu filho assim, fazendo alguma coisa por ele, porque, depois, eu não tive chance de, como pai, estar ali do lado dele. Eu o levei na cadeira, ele com muita falta de ar, não aguentava mais andar... Aí ele chegou... E o que aconteceu? Demos sorte ainda que vagou uma cama com oxigênio, porque não tinha tanto... E eu ainda fiquei pensando: "Poxa, se agora ainda está no começo..." Eu ainda fiquei pensando: "Imagine depois, vai ser mais difícil". |
| R | Então, aquele momento em que eu o levei lá, com falta de ar, em que ele não aguentava mais andar, foi o último momento que eu tive com o meu filho. Eu não posso aceitar que alguém faça uma brincadeira com isso, eu não posso aceitar. Eu não posso aceitar que alguém - sabe? -, que as pessoas façam, que a pessoa faça aí, mas não posso, eu não posso entender como outros pais, outras pessoas acham que isso é normal. Meu Deus, isso não é normal, não! Isso não é normal, não! Não é normal, entendeu? Há muito sofrimento... Eu fico pensando nas pessoas de Manaus, assim... Porque depois o sofrimento continua pra gente, porque não é só meu filho, não estou falando do meu filho, não estou falando só dele, estou falando de tudo que a gente vivencia. Então, continuou, meu filho foi pra lá. Aí, ele mandou a última... Mandou uma mensagem pra mim: "Pai, estou melhor". No outro dia, ele mandou a mensagem: "Pai, me tira daqui. Eu estou muito mal, pai". Aí, eu falei pra minha esposa: "Não, eu tenho que ir lá tirar ele de lá, fazer alguma coisa". E ela falou: "Não, ele está na sala vermelha, você não vai conseguir". Eu, não, falei: "Vou". Aí fui, conversei com a assistente social, e fiz uma coisa que hoje eu sei que eu não deveria ter feito, mas um pai desesperado não mede consequências: eu fui até a sala vermelha, quando deram uma bobeira eu fui até a sala vermelha, abri a porta e fiquei fazendo sinal pra ele: "Hugo, Hugo, seu pai está aqui, cara! Fique bem, seu pai está aqui". Porque o meu filho anterior teve a chicungunha, ficou com mielite, e eu fiquei dois meses no hospital com ele, tratando, limpando, porque ele não mexia daqui pra baixo, entendeu? E eu... Mas, o Hugo, eu fiquei fazendo sinal pra ele: "Hugo, seu pai está aqui, seu pai está aqui". E ele fez um sinal assim, até que ele olhou e fez um sinal assim pra mim. Eu queria que ele soubesse que o pai dele estava ali do lado dele, acompanhando ele, entendeu? Eu estava perto... (Pausa.) Aí ele fez o sinal pra mim, e depois eu fiquei um pouco feliz porque ele falou: "Pai, eu não estou conseguindo respirar com a máscara, traz um canudo pra mim", e eu levei o canudo pra ele. Aí é que eu fui na rua, comprei, vi, levei o canudo, sabe? E aí levei as coisas, eu entreguei tudo lá e, quando eu estou chegando em casa, ele mandou uma mensagem, a última mensagem do meu filho pra mim: "Pai, eu acho que eu não vou conseguir". (Pausa.) Eu mandei, eu mandei três mensagens pra ele: "Filho, você vai conseguir, cara, você é forte!". Eu falei: "Pensa, faz assim...". Porque eu tive um período muito difícil com meu filho no hospital: ele teve uma mielite transversa e foi paralisando, paralisando e ficou praticamente sem mexer os braços, as pernas, e com muita dor. Teve um dia que eu botei... É o meu filho mais velho, eu já estou falando do caso dele... Teve um dia, com esse meu filho mais velho, que eu coloquei um terço no peito dele e falei: "Filho, pensa só nos seus três filhos, que a gente vai passar por esta noite". E eu ficava a noite toda ali, era difícil, mas eu estava ali - eu estava ali! -, eu estava conseguindo cuidar do meu filho, entendeu? Eu botava o oxigênio dele, voltava e botava o oxigênio dele, e consegui cuidar do meu filho, e meu filho saiu de lá, sabe? Meu filho saiu de lá, e o Hugo eu não consegui, sabe? Assim, é muito duro, é muito triste, não dá... O sentimento que eu fico não é só pela dor da morte: é por tudo que veio depois, por cada deboche, cada sorriso, cada ironia, sabe? Assim, no meu coração... Isso é um desabafo, mas para meu o coração foi muito difícil, eu não conseguia entender isso. Por isso - por isso! - é que esta CPI foi tão importante pra mim, porque alguém apareceu e falou assim: "Pô, não me deu, e daí?". Alguém apareceu e falou assim: "Vou fazer alguma coisa por você" - não importa se é partido, eu não quero saber. Isto aqui não é circo, não; nisto aqui a gente está falando de vida - a gente está falando de vida -, de pessoas que morreram, sabe? Não é circo. Quem fala que é circo é porque não se importa com as pessoas que morreram. Então, eles são os verdadeiros palhaços, não somos nós, entendeu? Quem fala que isto aqui é circo são os verdadeiros palhaços... Desculpe falar assim, mas não dá. |
| R | Aí, a última mensagem que ele mandou pra mim foi isto: "Pai, eu não vou conseguir". Eu mandei mensagem, e ele viu as minhas três mensagens. Aí na sexta-feira, dia 3, que era dia santo, a médica me chamou, e eu ainda fui todo contente, pensando: "Poxa, acho que ele melhorou e transferiram ele pra sala amarela". Ela falou: "Seu Márcio, desculpa, mas seu filho vai ter que ser intubado". Ela tinha falado: "Nós fizemos de tudo, o seu filho vai ter que ser intubado e vai ser transferido para o Hospital Ronaldo Gazolla" - que era referência. Quando ela falou isso, eu já não escutei mais nada, o meu mundo caiu, só consegui ligar pra minha esposa e falei: "Me ajuda porque eu não tenho mais condições de nada". Porque ali eu já fiquei muito preocupado. E ele foi para o Hospital Ronaldo Gazolla, ficou lá 15 dias e foi muito bem cuidado. Eu tenho que muito agradecer a toda equipe, a todas aquelas pessoas que estavam lá. Eu fiquei no hospital algumas vezes, eu vi a guerra que é no hospital, a luta que é. O dia em que o meu filho chegou, chegaram mais ou menos umas 30 ambulâncias. Então, eu fiquei de meio-dia, só fui ter alguma notícia, às 6h30, mas totalmente compreensível, totalmente compreensível, porque tinha muita gente precisando de ajuda e realmente não tinha... Não tinha muita notícia pra dar ou o que falar e tudo bem, são outros fatos que acontecem. Então, eu participei, dentro do hospital, da luta que os médicos têm, todas as pessoas têm com aquelas pessoas. Quando eu comecei a ouvir pessoas falarem que iriam invadir o hospital. Eu falei... Eu não acreditei. Eu falei: "Não, o que é isso? Eu não estou acreditando nisso". Resolvi conferir. Então, é outro fato que, assim... Eu estou falando as coisas que foram me incomodando e eu falei: "Se chegar lá ao Ronaldo Gazolla pode ser quem for. Eu, como pai, não vou deixar entrar, vai ter que me matar ou vai ter que passar por cima de mim". Porque eu via a luta daqueles médicos lá, chega um, chega outro, tem que tratar desse, tem que tratar daquele, não tem tanta gente, um fica doente... Eu vi essa luta. Eu vi essa luta diretamente lá dentro, várias vezes. Então, eu não aceitei e tudo foi se passando. Aconteceu aquele ato, aí eu pensei assim: "Poxa, eu tenho que contar a minha história, não vou deixar que as pessoas contem a minha história - contem a minha história". E falei porque eu não esperava dar essa repercussão toda e não esperava que fosse tão simbólico, esse ato fosse tão simbólico, mas as coisas continuaram, as coisas continuaram, sabe? E quando... Eu acho que um verdadeiro líder, sabe... Um verdadeiro líder quer o melhor das pessoas, do seu povo, não o pior, e eu fui sofrendo... Teve um certo momento que parecia que meu filho era o culpado de ter morrido, o meu filho virou o marginal porque morreu de covid. Eu virei, sabe, alguma coisa ruim. Naquele dia da praia, eles começaram a me agredir não pelas palavras, pelas palavras, porque me chamaram de comunista, de petista, de não sei o que, tal, tal e eu nem sabia o que... Sinceramente, eu nunca estudei o comunismo a fundo para saber que é comunismo, não é isso. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM. Fora do microfone.) - Nem eles sabem... O SR. MÁRCIO ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA - É, nem eles sabem, o problema é esse. Mas é o que acontece, mas a ação de ofender apenas por ofender. E, quando descobriram que era apenas um pai que estava triste por causa do seu filho, foi um constrangimento geral, porque quando eu saí já não tinha mais nenhum deles, entendeu? Mas tudo bem, isso aí... E foi passando, mas, depois, o que me fez, assim também, ficar muito feliz com a CPI foi essa questão de eu me sentir aliviado, como a minha companheira Katia aqui falou, me senti aliviado porque tinham instituições fazendo alguma coisa por a gente, porque não dá, não dá pra entender. Um pai que perdeu um filho, um cidadão comum, certas atitudes, não tem como entender e eu quero entender. Eu acompanho a CPI. Eu trabalho na parte da manhã, aí vou para casa almoçar, acompanho bastante e, depois, quando às vezes não trabalho na parte da tarde, eu acompanho. Eu acompanho bastante, vejo um trabalho interessante. |
| R | Eu concordo com a minha amiga Rosane, que falou... Não sei se foi ela que falou. Mas as vidas salvas... O que é isso? Sabe, eu acho que aqui, como o Senador falou, nós não estamos querendo vingança. Eu não quero nada disso! Eu, sinceramente, quero entender o que se passa na cabeça desses seres humanos irracionais. Eu quero entender isso, porque pessoas que me conheciam, amigos - eu pensava que eram amigos - que conheciam meu filho desde que ele nasceu estão com atitudes totalmente irracionais. Sabe? O que eu daria, meu Deus, na minha vida? O que eu daria na minha vida? Eu daria a minha vida para o meu filho ter chance de ter se vacinado. Não tinha perspectiva de vacina ainda. Sabe, não tinha ainda máscara. Aí é outra reclamação que eu faço, porque, até hoje, eu não recebi do Ministério da Saúde uma informação correta. Sabe? Eu tive que ter minhas informações através da imprensa, através de pessoas. Meu Deus, o que é isso? O Ministério da Saúde... Eu não sei... Sabe, não me deram informação. Eles tinham que me dizer: "Você tem que usar máscara, você tem que se vacinar". Não é esse o protocolo? Não é isso que a ciência manda? Por que eles não falam? Entendeu? Agora, outro caso também muito assim... É que dói muito, dói muito! Sabe, eu tenho que falar. Não dá para ver um Ministro da Saúde... Desculpe, Excelência! Mas não dá para vê-lo dando risinho de deboche. Não dá para ver deboche, porque nós perdemos! Eu perdi um filho, não só o filho. Minha irmã morreu no mesmo dia em que sua mãe... Minha irmã morreu no mesmo dia da mãe dela, no dia 26 de abril de 2021. Um ano depois do meu filho, ela não tinha se vacinado ainda, tendo vacina. E aí a gente descobre que as vacinas não chegaram... Olhe a importância da CPI! Não chegaram por causa disso. Mas, talvez, a maior importância que eu vejo da CPI são as vidas que foram salvas depois ela começou. Por isso eu não vejo isto aqui como um circo, como uma palhaçada, porque tiveram que fazer alguma coisa, tiveram que agir. Entendeu? Então, não só... Sabe, assim, é como eu disse para a Katia: eu quero sair daqui só para curtir meu luto. Meu Deus do céu, eu precisava deste desabafo! Eu quero sair daqui só para curtir meu luto. Não dá para entender... Eu quero entender... Eu quero que alguém me faça entender... Não é o fato de não usar máscara! Por que lutar contra a máscara, que salva vidas? Por quê? Eu quero entender! Eu quero entender o porquê. Por que lutar contra a máscara? Por que lutar contra a vacina? Sabe, eu daria tudo para que meu filho tivesse tido essa chance. Ele não era um número! Ele era uma pessoa, um menino maravilhoso, como outros, como outras! Eu não quero que ninguém se coloque no meu lugar, porque é muito triste, é muito duro! Eu não quero isso. Eu só quero que essas pessoas com esses atos irracionais pensem que este garoto aqui não tem culpa de nada, não! Nem eu, como pai dele, tenho culpa de nada, não! Eu daria tudo para que ele tivesse sido vacinado! Eu daria tudo para que a gente tivesse um protocolo! Eu daria tudo para ter orientação! Sabe? Eu daria tudo para ter orientação, e nós não tivemos. Nós não tivemos! Então, eu, como pai, como pessoa... Sabe, não é questão... Não é questão... Assim, eu quero entender o porquê, só o porquê. Sabe, quando a Katia falou... Quando eu fui... Quando eu tive a notícia, que o médico me deu muito consternado até, e eu tive que reconhecer meu filho... O último momento que eu tive com o meu filho, em que eu fui reconhecê-lo, ele estava dentro de um saco - ele estava dentro de um saco. Eu tive que orar bastante, pedir a Deus para conseguir ir lá e reconhecer o meu filho, porque, como pai, era a última coisa que eu tinha que fazer por ele. Eu não pude dar um abraço no meu filho, eu não pude dar o último beijo. Eu cheguei a levar uma roupa para vesti-lo. Não consegui fazer nenhum ato simbólico, nenhum dos atos simbólicos. Eu tive que ficar parado três horas na porta do cemitério, ou quatro, olhando um carro, sabendo que o meu filho estava ali dentro, para ser enterrado. |
| R | Então, a minha dor não é mi-mi-mi. Não é! Não é!. Dói para caramba mesmo - dói, dói. Então, não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal - não é normal! Não é! Sabe, não é normal! Essa dor não é mi-mi-mi, a de todas as pessoas - de todas -, não é minha só, não; é de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas, porque todas são queridas. Não importa que meu filho tenha 25 anos, isso não é relevante; não importa que a mãe dela tenha 80; são vidas, são pessoas que a gente ama, como todos aqui amam. Então, eu espero que, quando esse relatório chegar na mão das pessoas a quem tem que chegar, que eles escutem o que nós falamos, o que todas essas pessoas falaram, porque nós aqui não somos políticos, não somos nada; nós somos pessoas que vivenciaram e sofreram com isso. Então, eu teria vontade, mas, sabe, é meio difícil - é meio difícil... Eu acho que nós merecíamos um pedido de desculpa - nós merecíamos um pedido de desculpa - da maior autoridade do País, porque não é questão política, se é de um partido, se é de outro; nós estamos falando de vidas de pessoas. Em cada depoimento aqui, eu acho que, em cada depoimento, um sentiu o depoimento do outro e acrescentou o que o outro tinha para falar, entendeu? Então, a nossa dor não é mi-mi-mi, nós não somos palhaços. É real, sabe? A minha irmã poderia estar vacinada. Então, pelo trabalho que foi feito aqui, Sr. Senadores, eu tenho um grande agradecimento. Para mim, não importa de qual partido cada Senador é. Isso, para mim, não tem importância. O que tem importância, como o Senador Omar Aziz diz, é que o Hugo não volta mais, mas eu tenho o Thiago, eu tenho o Lucas, eu tenho quatro netinhos. Inclusive, eu fiquei quase mais de um ano sem poder chegar perto deles, entendeu? Então, eu estou aqui, claro, por eles e por outras pessoas que gostariam de ter chance de falar tudo isso, e não tiveram, sabe? Agora, eu quero deixar bem claro - bem claro -: o meu sentimento não é um sentimento de raiva nem de ódio, porque é esse sentimento que eu combato. As últimas palavras que o meu filho deixou para mim foram estas aqui: "amor e paz". Quando eu tive esse sentimento e eu vi as palavras que ele deixou para mim, eu falei: não, não é isso; não é isso que eu estou combatendo. A gente combate realmente o ódio com amor. Eu não quero - sinceramente, eu não - quero um país que dê arma para os meus filhos, para os meus netos. Não quero, não quero, não quero! Eu quero um país que dê livros, que dê educação, sabe? Eu quero que os senhores, que nos representam - nos representam, né... Aqui é nossa Casa. A gente tem que entender que aqui é nossa Casa, que a gente tem que confiar no trabalho de vocês, que a gente tem que fiscalizar, sabe? A gente tem que cobrar, mas também tem que elogiar, sabe? Colocaram às vezes por muito tempo na minha cabeça que política não servia para nada. Mentira; serve para tudo. A nossa vida é uma política, porque aqui está a causa, mas a consequência chega lá nas seis horas, sete horas que meu filho levou para ter um respirador. A causa está aqui. Então, eu tenho um grande agradecimento por todo esse trabalho. Talvez eu tenha esquecido algumas coisas, mas eu acho que o relato principal é o da dor que nós sentimos em relação a isso, sabe? Eu aceito... Eu aceito com muito bom grado qualquer erro humano, mas eu não aceito que se seja desumano para errar. |
| R | Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Valeu, caboclo. Tem algumas pessoas que querem falar: remotamente, a Senadora Simone... Quem é o primeiro aqui inscrito para falar? O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - Eu peço a palavra também. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Senador Humberto. Depois, eu vou passar para a Senadora Simone; aí, Senador Randolfe, Senador Rogério, e o Senador Renan conclui, o.k.? Senador Humberto; depois, Senadora Simone. O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - Eu quero... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Eu vou pedir para a gente estipular um prazo de dez minutos, por favor, está bom? O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - Não, no máximo. O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - Hã? O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - No máximo. Eu quero ser... O SR. PRESIDENTE (Omar Aziz. PSD - AM) - No máximo dez minutos. É porque eu acho que o depoimento dessas pessoas é muito forte; pouco ou quase nada nós podemos dizer neste momento. O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Para interpelar.) - Eu quero só dizer que eu acho que hoje foi o dia mais importante desta CPI. E eu e outros aqui lutamos muito para que isso acontecesse, porque todo dia a gente via essa placa que Randolfe e que Renan colocavam aqui mostrando quantas pessoas tinham perdido a vida aqui no nosso País. E a gente, por mais que se esforce para transformar cada número desses numa pessoa, eu acho que hoje e naquele dia também em que tivemos a Prevent Senior aqui, aliás, a advogada da Prevent Senior, e, depois, quando nós tivemos o médico da Prevent Senior e aquele paciente que contou a sua saga de vida, mas principalmente hoje, esses números tiveram face, rosto, história. E aí a gente consegue efetivamente empatizar com as pessoas, com tudo isso que aconteceu. Eu, graças a Deus, não tive nenhuma pessoa da minha família que morreu. Tive alguns amigos, mas não tive nenhuma pessoa da minha vida que morreu, da minha família. E ouvindo vocês aqui, ouvindo Giovanna, ouvindo Mayra, ouvindo todos é que a gente sente o tamanho dessa dor, o que fica para depois. É um momento também importante para a gente homenagear os profissionais de saúde, o que todos eles aqui fizeram questão de ressaltar, especialmente hoje, que é o Dia do Médico. Apesar de existirem alguns médicos que assumiram uma posição negacionista, a grande maioria estava na frente de batalha, e muitos morreram. O Brasil foi um dos países onde mais morreram profissionais de saúde. Essas pessoas cumpriram um papel muito importante. E ouvir da boca de vocês esse testemunho reforça para nós essa importância. |
| R | A outra coisa muito importante aqui e de que a gente tem a noção: quando a gente vai no meio da rua, alguns criticam, mas a maior parte das pessoas reconhecem a CPI como de uma importância histórica, e talvez nenhum de nós que estamos aqui participando tenha dimensão. O papel histórico que esta CPI, que cada um de nós desempenhou e está desempenhando neste momento é algo de que a gente só consegue ter dimensão quando ouve essas histórias. Uma CPI que canalizou toda a atenção da população brasileira, todas as insatisfações. E eu quero só dizer: nesta CPI, neste instrumento de investigação que atuou até agora, os Senadores que estão aqui não têm, Senador Randolfe, não têm, Senador Renan, não têm, Senador Rogério, nenhum dos que estão aqui, Senador Aziz, não têm o direito de, por qualquer razão que seja, deixar de dar ao Brasil uma resposta, uma resposta clara, unificada. Nós não podemos nos transformar numa fogueira de vaidades neste final de um trabalho tão bonito, tão importante e que vai ficar pra história deste País. Precisamos ter a clareza da importância da expectativa que o povo brasileiro tem em relação a esta CPI. Nada pode justificar que nós não busquemos, o tempo inteiro, construir algo que seja justo, que seja contundente e que seja fruto de um trabalho coletivo. Não quero falar mais nada - não quero! Quero só fazer uma pergunta à Dra. Rosane. Mas, se cada um de nós tiver essa dimensão, se cada um de nós colocar o sentimento da população brasileira acima de qualquer coisa, não será qualquer coisa menor que vai impedir de essa resposta acontecer. Todos sabem do que eu estou falando aqui. Todos já cometeram erros, todos já cometeram acertos. Quem errou tem que reconhecer o erro, tem que se desculpar, se for necessário, pelo erro e quem considera que houve erro tem que ter a grandeza também de esquecer os problemas e construir o caminho daqui para frente. O dia 26 de outubro de 2021 será um dia histórico para o Brasil - será um dia histórico para o Brasil -, em que nós vamos apresentar um relatório que dê uma resposta ao Márcio, que dê uma resposta à Katia. Que eles possam dizer: "Eu não vou ter mais minha mãe de volta, meu filho de volta, mas eu tenho justiça; eu tenho justiça, eu lutei por justiça, eu honrei o meu pai e a minha mãe, o meu irmão", quem quer que seja. |
| R | A pergunta que eu lhe faço, Dra. Rosane, porque vi a sua firmeza, a sua força, é: como a senhora, diante desse sofrimento tão grande, tem conseguido não chorar, não trazer essa... Como é possível fazer esse depoimento aqui com tanta força, sem chorar? Enfim... Agradeço a todos. A SRA. ROSANE MARIA DOS SANTOS BRANDÃO - Posso responder agora? O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Pode sim. Faço meu o apelo... Rogo igualmente, como o apelo feito aqui pelo Senador Humberto, ao peso da emoção que nós todos estamos sentindo, impactados pelos depoimentos de todas e de todos vocês... Dona Rosane, pode responder ao Senador Humberto. A SRA. ROSANE MARIA DOS SANTOS BRANDÃO (Para expor.) - Senador Humberto, todas as pessoas que perderam suas vítimas estão sofrendo e, de uma maneira ou de outra, elas se expressam. Pouco tempo atrás, eu vi uma entrevista com uma ex-Presidenta deste País, e era uma entrevista antiga, mas a repórter perguntou à Presidenta - à época, ela era Presidenta, e tinha sido torturada na ditadura militar - se ela chorava na tortura. E a Presidenta disse que ela não chorava na tortura, que na tortura não se devia chorar e que era assim que ela conseguia lidar com isso. Eu achei... Não é uma coisa que a gente possa fazer, mas eu me achei bastante parecida em relação a isso. Quando tu estás sendo torturado, é óbvio que tu sofres e que dá vontade de chorar, mas algumas pessoas conseguem lidar de uma maneira diferente. Isso não significa que é mais ou menos sofrimento, mas são as diferentes maneiras de as pessoas lidarem com isso. Eu, de certa maneira, tenho orgulho de ser assim, até porque quem falou isso é uma mulher forte, que já esteve aqui algumas vezes conversando com vocês. Então, é a maneira que eu consigo ser. Não sei se eu consegui lhe responder. Muito obrigada. (Pausa.) O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Claro, por favor. O Márcio pede permissão a todos... Antes de passar a palavra ao Senador Rogério Carvalho, a Rio de Paz fez um belo ato na frente do Congresso Nacional no amanhecer do dia de hoje, trazendo da praia de Copacabana os 600 lenços que lá foram colocados. Tanto o Antonio Carlos quanto o Márcio pediram para fazer a entrega, formalmente, a esta Comissão Parlamentar de Inquérito, desses lenços. Márcio, pode se aproximar. O SR. MÁRCIO ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA (Para expor.) - E deixar bem enfatizado que esses lenços brancos representam o nosso amor pelas pessoas que se foram e por todos os familiares. Foi um ato muito bonito, muito comovente. E para saberem que nós não estamos aqui, como todos disseram, através de ódio; estamos para combater o ódio, mas com amor, sabe? Eu não tenho nenhum tipo de raiva, de coisa... Não! Eu só quero, realmente, só quero entender o porquê disso tudo. Com licença. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Por favor. (Pausa.) Humberto, Rogério, venham para cá. |
| R | O SR. MÁRCIO ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA (Fora do microfone.) - Um agradecimento muito grande a todos os Senadores, porque eu acho que vou sair daqui e vou poder curtir meu luto em paz. Até agora eu não curti. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Pode falar aqui perto. Pode falar. O SR. MÁRCIO ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA - Eu acho que eu saio daqui hoje apenas para curtir meu luto em paz, sem condenar ninguém, sem culpar ninguém, apenas... Eu quero só continuar meu luto, sofrer pelo meu filho, como eu vi no depoimento de outros, da Katia. E é isso, sabe? Então, eu quero um país para os meus netos. Eu estou aqui pelos meus netos também. Eu quero um país de paz, não quero... A gente não precisa ter ódio, diferenças, nada. (Pausa.) (Palmas.) Aqui está a Casa das diferenças por que as pessoas têm que lutar. Lá fora... Aqui eles impedem que a gente se mate lá fora por ideologias diferentes ou por coisas diferentes. Então, nós precisamos muito de vocês. Eu vejo, às vezes, dizerem: "Os Senadores brigam". Eu falo: eles têm que fazer isso aqui. Saiu daqui, acabou. Para que não aconteça lá fora, para que a gente não se mate lá fora. Por isso que é muito importante esta Casa. Nós temos que enfatizar. A população tem que saber que esta Casa é para ser cobrada, mas também para ser elogiada quando faz um bom serviço para a sociedade. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Márcio. (Pausa.) A Comissão Parlamentar de Inquérito recebe esses lenços que foram fixados na praia de Copacabana, e hoje vieram para Brasília, foram colocados na frente do Congresso Nacional e, agora, entregues à CPI, Márcio e Antonio Carlos, com uma responsabilidade enorme. Esses lenços simbolizam... Esses lenços, e este, em especial - esses lenços e este, em especial -, simbolizam a responsabilidade, Senador Humberto, Senador Rogério, Senador Renan, que nós temos para com as famílias brasileiras, que nós temos para com vocês, como o Humberto muito bem falou. Hoje, esse número daqui deixou de ser número; foi mostrada a cara, foi mostrada a empatia e o sentimento. Ouço, com muito prazer, o Senador Rogério Carvalho. Desculpe-me, Senador Rogério, é porque ele tem... Desculpa, eu cometi... A Senadora Simone está no remoto. A Rosana... Só um minutinho, Senadora Simone. A Rosane, por gentileza. A SRA. ROSANE MARIA DOS SANTOS BRANDÃO - Queria pedir a palavra um instantinho e entregar... O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Pois não. Pois não. Pois não. Por favor, venha até aqui. (Pausa.) Só um instantinho. Vamos receber aqui da Rosane... Também, em seguida, eu passarei à Senadora Simone... Ajudem aí o Ariovaldo, por favor. (Pausa.) |
| R | O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Agora sim. É com muita satisfação que eu ouço a Senadora Simone Tebet. A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS) - Obrigada, Sr. Presidente. Estão me ouvindo? O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Estamos, alto e claro, Senadora. Pode prosseguir. A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS. Para interpelar. Por videoconferência.) - Obrigada, Sr. Presidente. Primeiro, eu peço desculpa pela emoção. Aliás, eu acho que não tem quem esteja assistindo a esse momento da CPI que não esteja profundamente emocionado. Em nome de todos aqueles, das vítimas e dos parentes de vítimas da covid-19, a minha solidariedade, o meu carinho. Quero dizer a vocês que eu ouvi atentamente cada um dos depoimentos, Mayra, Katia, Arquivaldo, Rosane, Márcio, todos. Mas eu gostaria aqui de lembrar de dois momentos dessa reunião de hoje, Sr. Presidente: me impactou muito o que Rosane falou e, depois, Márcio. Rosane disse que não conseguia entender por que, enquanto nós tínhamos uma placa de mais de 600 mil vítimas perdidas pra covid-19, tinha alguns poucos que preferiam celebrar a vida daqueles que, de alguma forma, conseguiram se recuperar. E a fala do Márcio quando disse que a única coisa que queria, a princípio, foi isso que eu entendi, era um pedido desculpa do Presidente da República. Quando ambos falaram sobre isso, como é que... Principalmente Rosane em relação a essa placa, eu me lembrei... Não quero aqui comparar as tragédias, já quero afirmar isso, mas eu me lembrei que, depois da Segunda Guerra Mundial, quando a humanidade ainda estava sufocada pela fumaça dos bombardeios e tomou conhecimento da extensão dos crimes cometidos, bárbaros, pelo regime nazista, um poeta, um filósofo alemão, exilado, Theodor Adorno, perguntou como é que ainda poderíamos escrever poesia depois de Auschwitz. Eu repito: não quero comparar. Mas a pergunta que faço é exatamente essa, Sr. presidente: como é que podemos continuar escrevendo poesia? Não no sentido literal, mas no sentido do que o filósofo quis dizer, como é que podemos continuar vivendo as nossas vidas da forma como vivemos, fazer política da forma que fizemos até agora, depois de tudo, dessa tragédia sanitária, humanitária que vivemos. É importante, é muito importante lembrar que, se não fizermos nada, não poderemos viver a nossa vida como vivemos, continuar trabalhando, ou mesmo sorrir nos momentos de alegria. Embora não comparando os dois momentos, é preciso lembrar que a política não pode ser mais a mesma, porque os que mais sofreram, as principais vítimas foram aquelas dos mais necessitados, especialmente aqueles subalimentados que vivem em condições desumanas nas favelas, as pessoas que serviram de cobaias. Repito, nós presenciamos isso, Sr. Presidente: cobaias de experimentos pseudocientíficos que nada tinham de cientistas, simplesmente por uma mentalidade tacanha de mundo ou por um culto exagerado ao dinheiro, ou por um negacionismo que nós não conseguimos entender. Hoje nós só estamos vivos, Sr. Presidente - eu, você e cada um de nós -, porque nós não servimos de cobaias, porque pra nós não faltou oxigênio, porque nós temos, de alguma forma, um bom plano de saúde ou pudemos, de alguma forma, nos cuidar mais do que as pessoas que têm uma situação menos favorecida. |
| R | Então, Sr. Presidente, o que eu quero dizer com isso é que, sim, é o momento de chorar, é o momento de termos de luto, é o momento de honrar a memória dessas pessoas, mas esse é o momento mais do que apropriado - eu falo por mim e sei que falo por cada uma das Sras. e Srs. Senadores - pra assumirmos um solene compromisso com esses familiares, de que todas as culpas serão apuradas e todas as penas cabíveis serão aplicadas a quem tenha feito por merecê-las: do Presidente da República ao mais simples funcionário servidor. A quem quer que seja, profissional da saúde ou não - e aqui eu rendo todas as minhas homenagens a todos os profissionais da saúde, parabenizando os médicos por este momento -, aos negacionistas, àqueles que resolveram colocar o dinheiro à frente dos interesses mais humanos, aos governantes, especialmente ao Presidente da República, não poderá faltar a tipificação dos crimes cabíveis para que eles possam, na Justiça, depois de denunciados pelo Ministério Público, responder por tanta dor, por tanta lágrima. Nas minhas palavras finais, Sr. Presidente, aqui mais uma vez homenageando e agradecendo a todos, eu gostaria de dizer que aqui não cabe e não caberá jamais, pelo menos nesta CPI, por mim e pelos colegas do G7, um minuto de silêncio. A nossa homenagem a tantas vidas que se perderam nesse deserto de omissão é um grito e que esse grito se espalhe no ar. É um grito estridente para que se abram os tímpanos dos negacionistas, daqueles que negam a ciência para que nós possamos dar um pouco de humanidade, Márcio. O Presidente da República não lhe pedirá desculpa, infelizmente, porque ele não tem empatia, ele não teve a menor condição de conduzir o País no momento mais necessário, no momento mais trágico, porque ele não teve o sentimento. Aquilo que nós não temos no coração nós não temos condições de dar. Ele não pôde fazer por vocês; nós podemos, no mínimo, garantir a vocês e ao País a justiça. Obrigada, Sr. Presidente. Parabéns e desculpa pela emoção. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Eu que agradeço, Senadora Simone. A emoção é de todos nós que estamos acompanhando esta Comissão, de todos nós que estamos aqui. A Senadora Soraya se inscreveu, mas antes ouvirei o Senador Rogério Carvalho. Em seguida, a Senadora Soraya. Senador Rogério. O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE. Para interpelar.) - Sr. Presidente, primeiro eu quero me solidarizar com todas as famílias que aqui estiveram hoje, que representam 603 mil brasileiros e brasileiras que morreram. Quando eu comecei a minha vida como estudante, eu participava da Direção Nacional dos Estudantes de Medicina e a gente criou o Movimento em Defesa da Vida. E o que nós tínhamos em mente é que o discurso... Inclusive, a gente fez um evento em 1992, e a imagem desse evento era um ovo, um ovo suturado. Um ovo suturado, porque a gente já percebia, naquele tempo, que tinha muita gente que falava em defesa da vida, mas, na verdade, usava a vida contra... Usava o discurso de defesa da vida contra a vida. Então, o ovo suturado representava aqueles que sufocavam a vida e aqueles que queriam garantir que a vida pudesse ter seu tempo de maturação. Então, a ambiguidade que a gente viveu. |
| R | Nesse período de pandemia, Rosane e todos, eu sinto dizer pra todos vocês que o Governo não foi só negacionista, o Governo não agiu por inépcia ou foi inepto, foi incompetente ou foi negligente; ele agiu de forma intencional para ampliar o contágio. Ele agiu de forma intencional para que as pessoas se infectassem pra rapidamente produzir imunidade coletiva ou a imunidade de rebanho. Então, isso é muito mais grave, isso é muito mais cruel. Isso é tenebroso, isso é macabro, isso não tem palavras pra descrever. Eles expuseram 216 milhões de brasileiros ao risco de contrair uma doença que todos sabiam que era grave e letal. Imagine alguém que bebe e dirige bêbado. Ele até pode não ter intenção de matar, mas ele sabe que, ao dirigir bêbado, ele não tem controle sobre aquela arma que ele está conduzindo e ele pode matar. Mas, no caso do Brasil, o que aconteceu é que foi continuado: eles aglomeraram, o Presidente aglomerou; o Presidente disse que era uma gripezinha; o Presidente proibiu o uso de máscaras; o Presidente negou a vacina; o Presidente inventou o kit covid pra poder passar a falsa sensação de que as pessoas estavam protegidas, mesmo sabendo que esse kit covid não tinha eficácia. E isso eu não posso ver como algo de incompetência; foi uma condução deliberada. Portanto, ele cometeu um crime doloso e um crime contra a humanidade. Ele criou um comportamento de risco nas pessoas, ele estimulou... E, veja, esse comportamento de risco daqueles que acreditavam nele colocava em risco a vida dos que acreditavam e dos que não acreditavam. Ele colocou em risco a vida de milhões de brasileiros. Então, o que a gente... Eu nem sei, diante de tanto sofrimento, diante dessa situação toda, a gente só espera agora que esse relatório possa produzir os efeitos e que os efeitos sejam fazer um pouco de justiça, e que isso não volte a se repetir no Brasil. A gente já viu isso acontecer noutros tempos na humanidade. Que isso não volte a acontecer aqui, que a gente aprenda com isso, à custa de muita dor, de muito sofrimento. É muito grave o que aconteceu no Brasil. A CPI revelou tudo isso. A CPI consegue mostrar tudo isso, mas espero que a sociedade brasileira tenha também consciência do que aconteceu. Acho que vocês hoje aqui ajudam a dar materialidade e a mostrar para o Brasil o que de fato aconteceu. Em um momento como este, a gente não tem muito a dizer, a não ser se solidarizar, e sofrer junto, e lutar para que isso não volte a acontecer, e fazer com que este relatório possa, de fato, de fato, produzir os efeitos que toda a sociedade brasileira e que todas as vítimas e não vítimas que tenham algum sentimento de empatia, de amor, de solidariedade, de compreensão do valor maior e da maior riqueza que a gente tem, que é a vida, e que aqueles que defendem a vida possam se somar para que isso não volte a acontecer no nosso País. |
| R | Obrigado, Presidente. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Senador Rogério Carvalho. O sentimento seu é o de todos nós aqui. A Senadora Soraya... Também o nobre Relator pediu a palavra antes. Senador Renan. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Fora do microfone.) - Pode falar. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Posso prosseguir? O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Fora do microfone.) - Pode. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Perfeito. Então, Senadora Soraya Thronicke, por gentileza. A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PSL - MS. Para interpelar. Por videoconferência.) - Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs. Senadores, servidores, eu quero aqui começar agradecendo e parabenizando a presença da Mayra Pires Lima, da Giovanna Gomes Mendes da Silva, da Katia Shirlene Castilho dos Santos, da Rosane Maria dos Santos Brandão, do Sr. Arquivaldo Bites Leão Leite, do Sr. Antonio Carlos Alves de Sá, do Sr. Márcio Antonio do Nascimento Silva. Eu acho que foi aquela senhora do Rio Grande do Sul que disse que foi questionada acerca força de não conseguir chorar. Eu confesso às vezes que também fico tão indignada e tão entristecida que eu não consigo chorar, e não tenho conseguido chorar nos últimos tempos. Mas hoje eu chorei. Hoje eu chorei, e não foi pouco. Eu estou com a voz embargada aqui e principalmente imaginando a dor. Nós podemos, com o depoimento de cada um hoje, imaginar um milésimo da dor que essas pessoas sentem pela questão da saudade, por não poderem mais ter os seus entes queridos, daqueles que ficaram órfãos, daqueles que não têm mais o pai e a mãe ao lado, a Giovanna, que teve que assumir a irmã. São histórias comoventes, e não são nem o mínimo das histórias que nós temos no Brasil. |
| R | E hoje eu quero lembrar aqui e de longe mandar o meu abraço para o Marcos, que é meu assessor, que perdeu a Luciana - eu já falei isso tantas vezes -, perdeu a sua esposa, que teve bebê numa segunda-feira e faleceu na outra segunda-feira. Quando a Luciana foi internada, aí em Brasília, poucos dias depois, foi liberada a vacina para as grávidas e puérperas, e a Luciana não teve tempo de ser vacinada. Ontem, foi aniversário do Marcos, e ele passou o primeiro aniversário sem a esposa dele. E isso não é a gente fazer cena, isso aqui não é um momento da CPI, um momento apelativo, não. Isso é o momento de a gente trazer a face dos números que nós contabilizamos. Nós precisamos entender que são números e que, por mais que a pandemia tenha enfraquecido, ela ainda existe. A CPI vai acabar, mas a pandemia não acabou. Nós aqui estamos dando os parabéns para os médicos, e a enfermeira de Manaus disse que não quer só os parabéns, que não quer ser reconhecida como heroína ou como os heróis da saúde. "Nós queremos reconhecimento", ela disse. Daqui, da minha parte, tem todo o reconhecimento. Eu sou favorável ao piso salarial dos enfermeiros. E digo mais: quando agradecem a nomes aqui, essas pessoas não têm que nos agradecer pelo nosso trabalho, nós estamos cumprindo a nossa obrigação. E não foi fulano nem beltrano que comprou as vacinas. Não temos que personificar, nós não podemos dar personalidade à administração pública, esse é um dos princípios da administração pública, porque quem comprou a vacina foi o dinheiro do suor de cada brasileiro e não uma pessoa! Nós estamos todos aqui unidos em nome da vida, sem bandeira ideológica e sem bandeira partidária, porque a vida das pessoas... Esses dias, riram de mim, porque eu coloquei no Twitter a seguinte e singela frase, curta: "Vidas acima de tudo". E dei boa noite. E aí acharam que era uma frase clichê e deram risada da minha frase, como dão risada da morte das pessoas. E aí a gente tem que lembrar os outros de que a gente precisa desenhar e explicar o óbvio. E o que me dói é ver pessoas... Até entendo que alguém que não perdeu ninguém na sua família fazer esse tipo de comentário ou fazer gracinha, gracejo, chacota da vida alheia, mas o duro é ver pessoas que perderam, sim, parentes e que continuam na mesma seara, continuam fazendo o mesmo tipo de chacota, o mesmo tipo de... Eu chego a perder, inclusive, a palavra. Não quero ser grosseira, porque há também o mi-mi-mi daqueles que não respeitam a vida. Quando a gente fala qualquer palavra, eles vêm com toda força para se chatear quando a carapuça lhes serviu. Enfim, o que eu quero aqui é lembrar, voltar a repetir aqui: a CPI vai acabar, porém a pandemia não acabou. E nós estaremos aqui firmes, ao lado de vocês, abertos para receber qualquer relato que houver, porque não é só a Prevent Senior, não. |
| R | E aqui vai o meu abraço à grande maioria dos profissionais de saúde, aos médicos, na pessoa do Dr. Paulo Tonini, da Dra. Ludmila, do Dr. Fabrício. Eu quero parabenizar aqueles que respeitam a vida acima de tudo, aqueles que não fizeram os brasileiros de cobaia, aqueles que realmente se emocionaram no dia a dia, aqueles médicos que foram pra casa desesperados porque não tinham uma dipirona sequer. E nós, que passamos pelo covid com bons planos de saúde, não tínhamos condições... Quem passou bem mal sabe disso, sabe como é que é... Aí eu ficava imaginando como é que estavam as pessoas na fila do SUS. Eu estava me sentindo mal num hospital privado, muito bem tratada, em desespero, mas pensando naquelas pessoas. E aí nós precisamos rever: nós gastamos muito com a saúde, mas não entregamos a saúde que os brasileiros merecem. O SUS é muito bonito no papel, mas nós políticos frequentamos o SUS? Aí é que está a pergunta. Então, quero daqui - amanhã estarei aí em Brasília, mas daqui do Mato Grosso do Sul - me solidarizar com todas as famílias deste País e pedir pra que as pessoas se vacinem. Eu tenho uma irmã lá nos Estados Unidos que se nega a tomar a vacina, não deu a vacina pros filhos, e não há cristo que faça ela entender a necessidade disso; e nós sofremos aqui, sofremos com medo - hoje tivemos o Secretário de Estado americano, o Powell, que faleceu em consequência do covid. E eu peço encarecidamente ao Ministro Queiroga e ao Ministério da Saúde que nos tragam os números corretos. Quantas pessoas estão morrendo ainda por covid ou por consequências do covid, mas foram vacinadas com a primeira, com a segunda, com a terceira dose? Nós queremos saber e ter, nas nossas mãos, todos os dados necessários para que construamos as políticas públicas pra que esse tipo de coisa não ocorra mais. Queremos ter um Ministério da Saúde equipado e que nos traga dados fidedignos, nos quais nós possamos confiar, porque hoje, inclusive, nós temos que aguardar os dados do consórcio da imprensa. Dou todos os louros para o consórcio da imprensa, mas nós queremos saber dos dados oficiais. Queremos saber se as pessoas que estão falecendo de covid, que entram com covid num hospital e vão a óbito... Como é que estão os seus atestados de óbito? Não foi somente na Prevent Senior que isso aconteceu: isso aconteceu em todo o nosso País, e nós precisamos estar atentos a isso. Quero avisar agora, por fim, ao Relator desta CPI que amanhã irei entregar a S. Exa. o relatório parcial da documentação que a minha equipe apurou em relação às denúncias do meu Estado. Entregarei em suas mãos essa parte que me coube, de analisar a destinação dos recursos públicos para Estados e Municípios. Cada Senador deve fazer a sua parte, e a minha lição de casa foi feita. Muito obrigada, e saibam todos vocês que estaremos aqui sempre abertos para ouvi-los. Obrigada, Senador. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Senadora Soraya. Senador Renan, antes temos ainda a Senadora Zenaide, que também nos pediu a palavra. Em seguida, passo para V. Exa. Senadora Zenaide. A SRA. ZENAIDE MAIA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RN. Para interpelar. Por videoconferência.) - Boa tarde, Sr. Presidente, colega Relator. |
| R | É difícil, acho que o País hoje chorou, porque hoje nós estamos, a CPI, mostrando a prova viva do que a gente vem dizendo na CPI: que a maioria das mortes poderia ter sido evitada. Isso é impossível não doer em cada um dos seres humanos. Prestei atenção a cada um dos nossos convidados que estão aqui, que estão sofrendo na pele as consequências de uma política errada, de uma decisão política de um Presidente que resolveu optar pela morte e não pela vida do seu povo. Não adianta dizer outra coisa: optou por não seguir a ciência, não preparar as pessoas para enfrentar a pandemia antes do advento das vacinas e, ainda por cima, adiou a compra de vacinas mesmo sabendo que isso resultaria em mais de 600 mil óbitos de homens, mulheres, jovens e crianças deste País. O Sr. Antonio Carlos, da ONG Rio de Paz, disse sobre as atitude do Presidente frente à pandemia o que a gente vem mostrando aqui nesta CPI. Eu fiquei emocionada ao saber que vocês, mesmo sofrendo, encontraram na CPI a verdade, o porquê do que aconteceu, porque ninguém de vocês entendia por que um País que era a décima economia do mundo - agora já é a décima segunda - deixava morrer o seu povo mesmo sabendo o que deveria ter sido feito. Essa conduta política da Presidência da República era intencional, gente, não é porque ele não tinha conhecimento da gravidade; sabia que ia matar o seu povo com essa história de imunidade de rebanho e não comprando vacina. Isso ainda doeu mais, porque eu acredito que todos nós... Eu não perdi ninguém da minha família, mas amigas próximas, enfermeiras companheiras que trabalharam 30 anos comigo - a gente passava a noite tentando deixar um paciente vivo pra ele poder se despedir do seu ente querido, pacientes com neoplasia e em fase terminal, a gente fazia de tudo. Ver que o povo brasileiro foi usado como cobaia, que o povo brasileiro não teve direito, que calaram... Não foi como os representantes do Governo que vieram aí e optaram por se calar: a maioria foi calada para sempre por uma decisão política do Presidente da República - aí arranjou quem compactuasse com um ato criminoso desse, gente! A enfermeira Mayra Lima. Muito bem, Mayra, enfermagem. Eu sou médica e sei que a força de trabalho, mais de 70% de qualquer serviço de saúde, é da enfermagem. E digo o seguinte: o Senado Federal - eu sou até a Relatora desse projeto do Senador Contarato -, a exemplo de todos que você presenciou aqui, a gente está a favor desse pleito, desse PL 2.564. É hora de a gente defender aqueles que, mesmo arriscando a vida deles próprios e de suas famílias, resolveram optar por tentar salvar a vida do povo. E me dirijo ao povo da Amazônia, porque o Governo, não se contentando em deixar faltar oxigênio e o atendimento necessário a esse povo do Amazonas... A gente descobre que uma percentagem foi usada como cobaia. Inclusive, a Unesco terminou de denunciar que tem 200 óbitos no Amazonas porque foi usado um medicamento que é para câncer de próstata. Eles ficaram fazendo homens e mulheres do Estado do Amazonas e do Brasil todo... Não foi só lá essa questão. |
| R | Arquivaldo Bites, da associação Vida e Justiça, representa aqui o sobrevivente com sequelas. Ele chama atenção para a necessidade de a gente investir no SUS para cuidar desse povo que, além de perder seus entes queridos... Os que sobreviveram estão sequelados, sem falar na quantidade de crianças órfãs. Está aí quem está cuidando, como a enfermeira Mayra, dos seus sobrinhos. Outros perderam pai e mãe. E saber que a CPI mostrou... Isso é como se você estivesse esperando, se tivessem assassinado uma pessoa da sua família, que o culpado fosse julgado. É isso que o povo brasileiro que perdeu seus entes queridos... E a maioria, como a gente sabe, morreu de morte evitável, por uma decisão intencional política do Presidente da República de deixar a população morrer. É uma decisão política, gente, e por isso a importância de ter esse olhar diferenciado. Então, é por isso que o Senado Federal está aqui nesta luta com esta CPI. Acreditem vocês que estão aqui presentes, Mayra, Giovanna, Katia, Rosane, Arquivaldo, Antonio Carlos e Márcio: nós vamos ficar atentos e vamos, sim, acompanhar o julgamento. Que eles paguem pelo que fizeram! Ninguém pode deixar uma população à deriva em uma pandemia. Ninguém, ninguém está acima da lei! E esse Presidente não pense... Dizem que é por ignorância. Não o é, Presidente Randolfe! A morte dos 600 mil brasileiros, em sua grande maioria, foi intencional. E ainda se continua com isso mesmo! E o que mais doeu também - é impossível não se emocionar - é saber que, no meio, também tinha um interesse financeiro. A gente foi... A esta CPI o Brasil deve demais, porque ela está dando a vocês uma satisfação, mostrando que seus entes queridos poderiam estar vivos, mostrando que eles poderiam não ter tido a doença nem estar sequelados e mostrando que ainda tinha um sistema dentro do Ministério da Saúde para ganhar dinheiro com vacinas, comprando vacinas que não tinham nem a autorização da Anvisa e que não existiam nem existem até hoje! E não venham dizer que não tinham, não! Empenharam R$1,6 bilhão nessas vacinas. E a gente sabe que, no serviço público, quando se empenha, é porque já compraram, como se diz. Mas, para finalizar, quero dizer o seguinte: contem com esta Comissão, contem com o Senado! Eu me lembrei hoje de Oswaldo Cruz quando tentou erradicar, Relator Renan e Presidente Randolfe, a varíola. Quando todos estavam com aquelas dificuldades, ele dizia assim: "Não podemos esmorecer para não desmerecer". |
| R | Eu quero dizer a vocês que estão aqui, representando os mais de 600 mil óbitos deste País, que nós não vamos esmorecer. O Senado Federal, esta CPI não vai esmorecer, que é para não desmerecer o povo brasileiro. Nós não vamos esmorecer. E digo sempre, continuar: a gente ainda tem chance de salvar. Não acreditem no Presidente: se vacinem, gente. Eu quero pedir licença, Randolfe, já que o Governo não faz uma propaganda de como o povo se defender: vacinem-se. E eu sou a favor do passaporte; você tem o direito de não se vacinar, mas você não tem o direito de contaminar as outras pessoas. Usem a máscara, se defendam, porque a gente está com 50% de vacinados - menos ainda -, mas a gente sabe que, para ter uma imunidade, é preciso, no mínimo, de 70% a 75%. Então, povo brasileiro, se defendam, porque, se vocês dependerem do Presidente da República, nós vamos ter outros milhares de brasileiros e brasileiras que vão morrer de morte evitável. Quero parabenizar aqui os membros da CPI e dizer que é um grande serviço que está prestando à população brasileira. Meus sentimentos a todos aqueles que morreram da covid, sem oxigênio, sem kit de intubação, porque o Governo decidiu, intencionalmente, que eles deviam morrer mesmo. Isso, com certeza, o Senado Federal não vai deixar impune. Obrigada, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP. Para interpelar.) - Eu que agradeço, Senadora Zenaide. Vou passar para o Relator, mas só, rapidamente, uma pergunta à Katia, que eu achei, com o impacto e a emoção do seu depoimento, que acabou passando sem ser percebido. Você disse que o seu pai foi atendido, numa segunda fase, com profilatomida. Em qual hospital foi? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS (Para expor.) - Ele foi no Hospital Itaquera... No Hospital Planalto. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - No hospital... A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Planalto. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Em São Paulo? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - São Paulo. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Foi atendido na UTI com profilatomida? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Não, não, ele ficou na UTI, mas não foi... Eu acho que o senhor entendeu errado. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Tá. Perfeito. Teve alguém que foi atendido, algum parente seu que foi atendido com... Que chegou a... O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Como Relator. Fora do microfone.) - Participado do estudo? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS (Para expor.) - A minha mãe... O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Perfeito. A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - ... que, na verdade, passou pela Prevent Senior. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - E ela chegou a receber profilatomida? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Não. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Kit covid? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Foi flutamida - flutamida. Ela recebeu flutamida e o kit covid. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Perfeito. E isso na fase de internação? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Sim. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Na Prevent? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Na Prevent Senior foi a flutamida na fase de internação, e o kit covid eles enviaram pelo motoboy. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Perfeito. Era essa a informação. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Fora do microfone.) - Tão logo assinaram o contrato? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Sim. Quando a gente fez a telemedicina, a chamada, a consulta, eles já enviaram. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP. Para interpelar.) - Você podia só descrever para o Relator - que eu acho que isso é importante para o trabalho do Relator - como foi o procedimento? Você a internou, e aí ela recebia lá o kit covid? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS (Para expor.) - Não. Na verdade, quando nós ligamos para a Prevent Senior, para fazer a chamada, a telemedicina, eles já... Nós já estávamos com o exame, já comprovando que a minha mãe estava com covid, e aí eles mandaram pelo motoboy um kit covid. Tinha, em média, uns oito remédios, mais ou menos. |
| R | Essa receita era uma receita padrão, onde só um médico, que eu até vi aparecendo aqui nesta CPI, o Dr. Rafael... Mas ela não passou com esse médico; eles só mudavam o nome do paciente na receita e mandavam o kit. Esse kit era hidroxicloroquina, azitromicina, colchicina, tinha também ivermectina, todos que a gente sabe que são ineficazes - não é? - para o tratamento da covid. E aí... O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Alguém chegou a advertir (Fora do microfone.) você, em relação ao tratamento da sua mãe, que esse remédio, a flutamida... A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Sim. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - ... é altamente prejudicial, principalmente para mulheres? A SRA. KATIA SHIRLENE CASTILHO DOS SANTOS - Sim. O que é que acontece, Senador? Como eu havia dito, a minha mãe teve problemas, já tinha tido câncer no fígado. Ela teve metástase no fígado. E, quando a minha irmã foi internar a minha mãe, o médico mandou chamá-la lá no setor em que ficam os enfermeiros, falou no telefone - não sei qual foi o médico, eu não lembro -, e perguntou para ela... Falou que eles estavam fazendo um teste com os pacientes com um remédio que chamava flutamida. Até aí a gente nem conhecia esse remédio; depois é que a gente foi tomar conhecimento, não é? E ela perguntou quais seriam os efeitos colaterais desse remédio. E ele falou que a única contraindicação seria para pessoas que tinham problemas hepáticos. E aí a minha irmã relatou que a minha mãe, então, não poderia tomar - não autorizou - porque ela tinha tido... Ela tirou, na verdade, 35% do fígado na época dessa metástase. E aí o médico concordou, pelo telefone, mas, infelizmente, como nós estávamos acompanhando a minha mãe, nós observamos que eles estavam dando a flutamida. Aí nós questionamos, e depois provavelmente eles não deram mais, mas eles deram, chegaram a dar, sim, a flutamida para ela. Inclusive, ela não tomava comprimido, não podia tomar comprimido por conta da falta de ar. Todos os remédios dela tinham que ser macerados. E a gente sempre perguntava também porque ela tinha problema de alergia, a minha mãe. Foi dado flutamida sem o nosso consentimento, infelizmente. Eu só não posso afirmar quantas vezes foram dadas, mas que foi dado, foi. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Katia. Essas informações acho que serão muito importantes para o trabalho de conclusão do relatório que o Senador Renan Calheiros está fazendo. E a palavra está com o senhor, Senador Renan Calheiros. O SR. RENAN CALHEIROS (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AL. Como Relator.) - Sr. Presidente Senador Randolfe Rodrigues, em primeiro lugar, eu quero agradecer aos representantes de vítimas pelas presenças nesta reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito. Hoje não é dia de falar, alguns já disseram - o Humberto, o Rogério, o Omar, o Randolfe -, e eu concordo com eles. Hoje é dia, sobretudo, de ouvir os representantes dessas 603.324 vidas, pessoas que morreram, que perderam suas vidas. E esta Comissão Parlamentar de Inquérito constatou que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas. |
| R | Nesses depoimentos impactantes, um deles nos ensinou, quando nos falou que nosso luto não se elabora no silêncio - nosso luto não se elabora no silêncio - e que se faça um relatório que expresse o que aconteceu no Brasil e aqui na investigação desta Comissão Parlamentar de Inquérito. Eu queria dizer à Rosane Maria dos Santos Brandão que nós faremos exatamente como você nos recomenda e nos ensina. O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Obrigado, Sr. Relator. Eu queria, antes de nós concluirmos esta impactante para todos nós audiência de hoje... Acho que ficou visível, Katia, Márcio, Rosane, Giovanna, acho que ficou visível, Arquivaldo e Mayra, o tamanho do impacto que todos nós membros desta Comissão Parlamentar de Inquérito tivemos com os seus depoimentos. Como já foi dito aqui pelo Senador Humberto, o dia de hoje ficará marcado porque este número aqui - este número aqui -, que, desde o começo desta Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Renan, no dia 27 de abril deste ano - já temos mais de 160 dias de trabalho... Todo dia, desde o dia 27 de abril, nós vínhamos com dor ter que modificar a placa, ter que colocar, que aumentar este número. Mas a gente estava aumentando o número, a gente só fazia contagem do número, que lamentavelmente hoje nem por parte do Governo brasileiro é número confiável. Nós temos que agradecer ao Consórcio de Veículos de Imprensa por estar trazendo essa realidade para todos nós brasileiros, para todas as brasileiras. E hoje, ao fim desta Comissão Parlamentar de Inquérito, nós vimos os números se transformarem no que são: em dor, sofrimento. Nós vimos os números se transformarem em pessoas. Nós vimos aqui não só parentes que perderam o amor de sua vida; nós vimos aqui não somente a tua dor, Katia, que muito nos mobilizou; nós não sentimos aqui somente o Hugo presente conosco, Márcio; nós sentimos a força da Rosane, a coragem da Mayra, o depoimento dessa jovem que é obrigada a se tornar adulta antes do tempo por força das circunstâncias e que também muito nos impacta. Nós vimos vocês e também vimos aqui o depoimento do Sr. Arquivaldo. Vimos que não é somente aqueles que foram, não é somente a dor dos familiares; são também aqueles que estão sequelados, aqueles que estão sofrendo. |
| R | Hoje nós tivemos um retrato do tamanho da tragédia e tivemos também uma demonstração de por que esta CPI entrou na casa de todos os brasileiros, de por que, Senador Humberto, Senador Renan, ao longo desses mais de 120 dias, desses quase 150 dias, nós fomos tão acompanhados. Esta Comissão Parlamentar de Inquérito se tornou, Márcio - e eu agradeço muito pelo que você falou para nós no dia de hoje -, desde que foi instalada... Ela não trará o Hugo de volta, mas ela se tornou a última esperança para que vocês e outras 600 mil famílias tenham um pouco de consolo no coração. E o consolo no coração é feito, sobretudo, por atos concretos. Não se trata de vingança - já foi dito aqui -, mas se trata de terem justiça aqueles que padeceram, aqueles que sofreram. Não se trata somente de iniciativas que esta Casa tem que aprovar, como foi cobrado pela Mayra - temos que votar o projeto da carreira dos médicos, temos que votar o PL do piso salarial da enfermagem -; trata-se de fazer tudo o que for possível para que ninguém esqueça o tamanho dessa tragédia que ainda está em curso, menor, sob controle, mas que ainda está em curso, para que ninguém esqueça, para que nunca mais aconteça. Os vírus caminham com a humanidade desde antes de a humanidade existir. Nós e os que virão depois de nós conviveremos com o vírus depois, inclusive, de nossa existência. Com experiências trágicas, nós temos que sobretudo aprender; com maus exemplos, nós temos que sobretudo aprender para que eles não se repitam, para que eles não voltem a acontecer. Parece-me que o texto final do relatório do Senador Renan Calheiros tem uma frase de muito impacto, Senador Renan, que eu acho que representa o que todos nós estamos fazendo: não esqueceremos... Não esqueceremos por hoje, pelo amanhã, para sempre. E eu queria aqui também agradecer muito à ONG Rio de Paz pela simbologia que atraiu a atenção do Márcio, simbologia que resultou em um outro símbolo. Antonio, vocês iniciaram colocando cruzes em Copacabana - cruzes em Copacabana. O primeiro símbolo era a cruz. O símbolo hoje, para todo o Brasil, é o Márcio retomando as cruzes e colocando-as de volta - colocando as cruzes de volta -, que foram retiradas pela insensatez, pela intolerância e pelo ódio. Os símbolos têm um significado importante para a humanidade. O símbolo não traz ninguém de volta, mas o símbolo consola. É por isso que todo ano, em um determinado horário, no dia 6 de maio, no dia da rendição da Alemanha nazista, os judeus, em Israel, todos param naquele momento para fazer um minuto de silêncio. Trará os cem milhões de judeus vítimas da tragédia do holocausto de volta? Não trará. Mas é um símbolo, para que não esqueçam. É por isso que os símbolos estão presentes em todos os cantos desse planeta. É por isso que, nos dias 6 e 8 de agosto, dias em que foram lançadas as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, os japoneses também param e é tocado um sino, várias badaladas, para que não esqueçam. É por isso que os símbolos têm significado na nossa vida. |
| R | Esse símbolo tem um significado enorme nas nossas vidas. Esse símbolo não pertence ao Presidente da República ou a seus apoiadores, esse símbolo pertence a todos nós brasileiros! Esse símbolo pertence ao Márcio, pertence à Katia, à Rosane, à Giovanna, ao Arquivaldo, à Mayra e a todos que vocês estão aqui representando. Esse símbolo, junto com o lenço branco, é o retrato da dor de compatriotas nossos. Pergunta-se o que é compatriota. Eu já falei aqui. Compatriota tem relação, talvez, com uma outra... Compatriota é uma palavra, uma expressão latina. Pátria é aquela terra de nossos ancestrais, é assim que se define no latim. Pátria tem... Pátria é feita pelos compatriotas. Um compatriota só é compatriota de outro se o seu compatriota sente empatia por si. E empatia é uma palavra de origem grega que significa se sentir no sofrimento de todos. Eu fico muito feliz porque aqui, quando eu via as suas lágrimas, Márcio, quando eu via as lágrimas e a força do depoimento da Katia, quando eu via a força do depoimento da Giovanna, aqui, eu olhei para os meus companheiros e, como diz a poesia do Drummond, estavam taciturnos, estavam em lágrimas, estavam em prantos não somente os colegas aqui desta Comissão Parlamentar de Inquérito, mas também muitos dos servidores desta Casa. Isso é o que é ser compatriota, ter empatia para com o outro. É sentir na pele a dor do outro, é sentir que o Hugo, que foi perdido pelo Márcio, o filho do Márcio, poderia ser filho de cada um de nós. É se colocar no lugar. Porque o pai e a mãe da Katia poderiam ser os pais de cada um, o pai e a mãe de cada um de nós. É porque os pais da Giovanna poderiam ser até um de nós. É isso que é empatia. Senador Humberto, Senador Renan, tem algumas coisas que a vida e a história não nos dão o direito. Nós não temos o direito de não aprovar um relatório contundente e forte. A história deste País, a vida do Hugo, de todos os familiares que estão aqui presentes e das outras 600 mil vítimas clamam sobre nós essa responsabilidade. Não nos cabem, neste momento, divisões artificiais; não, em especial, a este campo majoritário, a este grupo que trouxe a CPI até aqui, que aprofundou investigações, que desvendou esquemas de corrupção, que desnudou o negacionismo, que apontou as responsabilidades sobre remédios que não tinham eficácia, que recuperou a necessidade da vacina. Quando esta CPI começou, nós tínhamos 200 mil brasileiros vacinados por dia; hoje, nós temos mais de 1,4 milhão. E não foi por conta do Senhor Presidente da República; foi por conta da pressão desta CPI. |
| R | A responsabilidade, Humberto e Renan, para conosco é histórica. Ela pesa sobre os nossos ombros. Não caberão divisões. A história - a história, a história -, ela é implacável. A história tem a porta de entrada da honra, tem a porta de entrada da vergonha. A nós cabe uma responsabilidade enorme: dizer que, em algum momento, quando todas as instituições falharam, houve uma instituição que atuou. E essa responsabilidade recai sobre mim, sobre Renan, sobre Humberto, sobre o Presidente Omar, sobre todos os membros desta Comissão Parlamentar de Inquérito, mas, sobretudo, sobre esse núcleo dirigente que trouxe as investigações até aqui e que apurou as responsabilidades. Eu posso dizer para todos vocês: o relatório desta CPI vai ser aprovado e será contundente. Ele tem que estar à altura da memória desses mais de 600 mil; ele tem que estar à altura dos sofrimentos, como o do Arquivaldo; ele tem que estar à altura dos brasileiros; ele tem que estar à altura de nosso País. Por falar em símbolos, e, aí, para concluir, o Relator Renan nos chama a atenção, por sugestão desta CPI e acatado pelo Presidente Rodrigo Pacheco, para o fato de que este Senado irá inaugurar, nas dependências do espelho d'água à frente do Congresso Nacional, onde hoje, Antonio Carlos, vocês colocaram os lenços, um memorial para que nós nunca esqueçamos. É um memorial que, na verdade, deveria ser de responsabilidade do próprio Poder Executivo, mas é um memorial que é o mínimo a ser feito para lembrar. Como eu disse, a vida cotidiana também é feita de símbolos. Eu queria pedir para a Secretaria da Mesa fazer a apresentação do memorial ao som de uma música que talvez retrate muito bem isso, uma música de Ivan Lins, que foi autorizada pelo autor ser apresentada aqui. Em seguida à apresentação do memorial, nós teremos uma outra homenagem que foi feita agora, às pressas, em especial, a vocês que estão aqui e que representam todas as vítimas da pandemia neste País. Vamos, primeiro, ao memorial. (Procede-se à exibição de vídeo.) |
| R | O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - E para, de fato, concluirmos, nós fizemos agora, em homenagem a vocês que aqui estão, em homenagem a todas as vítimas da pandemia no País, essa outra versão. Por favor. (Procede-se à exibição de vídeo.) O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - AP) - Dito isso, eu queria agradecer mesmo, do fundo do coração, ao Márcio, à Katia, à Rosane, à Giovanna, ao Arquivaldo, à Mayra. Perdoem por tudo! Que Deus possa consolar e acalentar o coração de vocês pra todo sempre! Havendo número regimental, coloco em votação as Atas da 64ª e da 65ª Reuniões. Dispenso suas leituras. (Pausa.) Aprovadas. Nada mais havendo a tratar, agradeço a presença de todos, convidando-os para a próxima reunião, a ser realizada na próxima terça, 19 de outubro, a partir das 10h, para ouvirmos o Sr. Elton da Silva Chaves. Declaro encerrada esta sessão. (Iniciada às 11 horas e 16 minutos, a reunião é encerrada às 14 horas e 58 minutos.) |

