Notas Taquigráficas
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| R | A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO. Fala da Presidência.) - Boa tarde a todos! Sejam todos muito bem-vindos! Declaro aberta a 2ª Reunião, Extraordinária, da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da 4ª Sessão Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura. A presente audiência pública tem como objetivo receber como convidado o Exmo. Sr. Embaixador da Rússia para obter informações sobre a crise internacional entre Rússia e Ucrânia e suas consequências, em atendimento ao Requerimento nº 6, de 2022, da CRE, de minha autoria, aprovado no dia 24 de março último. Todos nós sabemos da gravidade do que está acontecendo em todo o mundo e a Comissão de Relações Exteriores do Senado, por tradição do Senado Federal, sempre foi uma instituição, sempre foi um congresso pacifista, que sempre tentou, por tradição, colaborar para a pacificação dos ânimos em todas as circunstâncias, desde sua existência. E nós não poderíamos, independentemente das opiniões pessoais, do que cada um acha no país, deixar de fazer e iniciar esse debate convidando o Embaixador da Rússia, o Embaixador da Ucrânia e o próprio Chanceler brasileiro para a gente compreender com maior clareza, ouvindo os dois lados, democraticamente, e, claro, nos colocarmos sempre à disposição do que pudermos fazer para minimizar essa situação, para findar com essa situação terrível em que se encontram milhares de pessoas hoje na Europa. São hoje, Sr. Embaixador, 4 milhões de refugiados, 10 milhões de deslocados internos, o que corresponde a um quarto da população. O governo da Ucrânia estima que 7 mil civis já morreram em razão do conflito. As baixas militares situam-se em 1,2 mil militares. As autoridades russas também estimam que 1,5 mil soldados seus morreram. |
| R | Os Estados Unidos estimam que as mortes russas estão em torno de 10 mil pessoas. A China mantém posição de distância do conflito, uma certa distância do conflito, evitando tomadas mais claras de posição. Existe hoje nova onda de sanções em estudo. Fala-se em boicotes em várias áreas, várias sanções já foram implementadas contra a Rússia, e tudo isso nós vamos ouvir do embaixador, que sempre esteve aqui conosco em todas as nossas suas audiências, sempre que convidado, sempre que chamado, sempre disposto ao debate. Por isso, nós daremos, então, a palavra ao embaixador russo, que fala português fluente, pois já tem uma experiência antiga no Brasil e na língua portuguesa. Então, nós lhe daremos a palavra para que ele possa dar informações sobre a crise internacional entre Rússia e Ucrânia e suas consequências, em atendimento ao Requerimento nº 6, de 2022. Compõe comigo a mesa, claro, o Exmo. Sr. Alexey Labetskiy, Embaixador da Federação Russa. Amanhã, nós teremos o Encarregado de Negócios da Ucrânia, pois nós não temos Embaixador da Ucrânia no Brasil; então, normalmente, o seu representante sempre é o representante de negócios. Ele virá manhã, e o chanceler também participará dando a sua contribuição. Obrigada pela presença do Senador Marcos do Val, sempre presente em nossa Comissão. A reunião será interativa, transmitida ao vivo e aberta à participação dos interessados por meio do Portal e-Cidadania, na internet em senado.leg.br/ecidadania, ou pelo telefone da Ouvidoria: 0800 0612211. Registro a presença do Sr. Evgeny Erin, 1º Secretário da Embaixada da Rússia. Muito obrigada por sua presença. Esclareço a todos as diretrizes que seguiremos: inicialmente, será dada a palavra ao Exmo. Sr. Embaixador da Rússia pelo tempo que julgar necessário para sua exposição inicial; em seguida, abriremos a fase de interpelações pelas Sras. Senadoras e pelos Srs. Senadores inscritos pelo prazo de até cinco minutos, em blocos; o embaixador terá, em seguida, igual prazo de cinco minutos, podendo ser concedida réplica e tréplica, com limite de até três minutos para ambas. Como todos sabem, o Senado Federal é, por sua própria natureza, um espaço democrático e plural onde convivem diferentes vozes e opiniões. Na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, cultivamos e respeitamos essas diferenças, que são partes integrantes de nosso convívio democrático. Nesse contexto, a Comissão houve por bem convidar o Embaixador da Rússia no Brasil, nesta tarde, e o Encarregado de Negócios da Ucrânia, amanhã, e assim vamos contar com as visões de cada lado sobre o conflito em curso. Nossa intenção é a de contribuir para uma compreensão mais ampla por parte desta Comissão e da sociedade brasileira, através do e-Cidadania na internet, das questões em jogo, levando em conta as perspectivas e preocupações de cada uma das partes envolvidas. |
| R | Teremos também a satisfação de receber ainda, na sessão de amanhã, o Ministro das Relações Exteriores, o Embaixador Carlos França, que nos honrará com a sua presença e nos atualizará sobre questões relacionadas à retirada de cidadãos brasileiros da região, à assistência humanitária e aos impactos econômicos da crise sobre o Brasil. Como maneira de modular os debates que ora se iniciam, é importante ter em mente que a não suspensão imediata das hostilidades pode, a cada dia, aumentar o número de mortes de populações civis e indefesas, tem aprofundado uma grande crise humanitária decorrente do maior fluxo de refugiados em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial e constitui ameaça inaceitável à paz e à segurança global. Igualmente desestabilizantes e de grandes proporções são as consequências econômicas que o conflito impõe ao mundo inteiro: a produção e a distribuição de combustíveis encontram-se pressionadas, cadeias produtivas têm sido severamente afetadas, há riscos para a segurança alimentar do planeta, os setores financeiros de serviços enfrentam um conjunto desfavorável de condições de operação e funcionamento. O Governo brasileiro tem manifestado também graves preocupações. Cumpre lembrar que, nas Nações Unidas e, mais particularmente no Conselho de Segurança, o Brasil tem marcado posição em defesa do cessar fogo imediato e de negociações que conduzam a uma paz duradoura e sustentável. A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional endossa, de maneira enfática, essas posições com relação à paz, à busca da paz, e cumpre, com rigor, sua missão de trazer mais esclarecimentos às brasileiras e aos brasileiros, para que possam, com lucidez e equilíbrio, participar, debater sobre os mais importantes acontecimentos do mundo. Desejo um bom debate a todos. Concedo, portanto, a palavra ao Exmo. Sr. embaixador Alexey Kazimirovitch Labetskiy, Embaixador da Federação Russa no Brasil, pelo tempo que julgar necessário. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY (Para expor.) - Muito boa tarde, muito boa tarde. Antes de tudo, eu gostaria de agradecer à Sra. Senadora Kátia Abreu, Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, por este convite para ter a possibilidade hoje de expor a nossa posição, a nossa visão e as nossas preocupações sobre a situação que foi criada em torno da Ucrânia. Para iniciar, eu também gostaria de dizer que eu nunca preparo os discursos escritos e prefiro a comunicação direta com o público, neste caso, com os Senadores e pessoal presente nesta sala e, depois da exposição das razões centrais que levaram a Federação da Rússia a empreender a operação especial no território da Ucrânia, eu estou aberto para responder a todas as questões sobre esse conflito, sobre essa situação e sobre a situação que foi criada com atuações precedentes ao próprio conflito de que nós estamos participando hoje. |
| R | E para iniciar, eu gostaria de definir alguns pontos centrais que dão a compreender a necessidade da operação especial na Ucrânia. Ponto número um, a própria Ucrânia. Nós sabemos, e na nossa a visão, a crise ucraniana não se iniciou hoje, não se iniciou ontem, nem anteontem. Vamos lembrar os acontecimentos de 2014, quando, em fevereiro, durante o golpe de estado, o governo legitimamente eleito foi derrubado pelas forças nacionalistas direitistas e nazifascistas, que foram apoiadas pela maioria dos países do Ocidente e que foram financiadas por Washington, que reconheceu que só no período de independência da Ucrânia, investiu US$5 bilhões para criar essas forças, que se mostraram as forças de agressão, de nacionalismo e de fascismo. O golpe de estado de fevereiro de 2014 levou à realidade muito diferente o país multiétnico, o país onde, durante os séculos e séculos, conviveram várias nações, vários povos. Tomou o rumo de aniquilação das entidades étnicas diferentes dos assim chamados ucranianos. Os russodescendentes, que são quase a metade da população ucraniana, a língua russa, a cultura russa, a identidade russa, que faz, para mim, parte integral da identidade ucraniana, assim como da identidade russa, foram quase proclamadas fora da lei. Nós nunca pudemos compreender por quê. Nós nunca pudemos compreender, porque foi uma tentativa de criar a identidade ucraniana negando a história comum, negando as interligações íntimas que sempre existiram entre a gente que habita e habitava a Rússia, a Ucrânia e outras regiões do império e da União Soviética. A negação do russo levou várias regiões da Ucrânia, em 2014, a negar a legitimidade do poder central de Kiev, o que levou aos confrontos abertos entre a população de Donetsk e Lugansk, do sul da Ucrânia, e de Odessa, contra o golpe de estado, o que levou aos confrontos sangrentos no vasto território de Donbass e que levou os dois territórios dessa zona a proclamar, nem sonhar com a aceitação, mas proclamar a sua independência. Os confrontos militares foram parados, graças aos Acordos de Minsk I e Minsk II, quando as partes ucranianas de Kiev e de Donetsk e Lugansk assumiram o compromisso de regularização pacífica e não aceitação dos meios militares de solução de contradições, mas isso nunca foi cumprido. |
| R | A partir de 2015 até 2022, então durante sete anos, a parte ucraniana não cumpriu nada e negou a própria possibilidade de existência pacífica de 4 milhões de habitantes das regiões do sul de Donetsk e Lugansk. E mais: criaram uma situação quando esses 4 milhões de habitantes foram privados dos direitos elementares humanos, quando foi desmontado o sistema de apoio social, quando as ações militares se tornaram uma vida diária. Nós podemos dizer que só durante esse período, mais do que 12 mil pessoas perderam as suas vidas durante os confrontos e durante os ataques ucranianos contra Donetsk e Lugansk. Nós também devemos lembrar que, ainda em maio de 2014, os nacionalistas e neofascistas ucranianos aterrorizaram a cidade de Odessa e queimaram mais do que 50 pessoas. Nunca foi esclarecido o porquê, como e quem era o responsável por essas mortes terríveis. Em março de 2014, a península da Crimeia, cidade de Sebastopol, realizaram um referendum e votaram uma composição de Federação da Rússia que permitiu defender as vidas humanas e reintegrar os russos dissidentes, que são maioria absoluta nessa península, para composição de Federação da Rússia. O fato real que nós gostaríamos de passar e estamos prontos a aprovar é que durante os sete anos de não cumprimento dos Acordos de Minsk, os nacionalistas e fascistas ucranianos levaram à prática o genocídio da população de Donetsk e Lugansk. Nós temos uma geração inteira, nesses territórios, de crianças que têm agora oito anos. Imaginem: essas crianças podem distinguir o tiroteio das armas pesadas do tiroteio das armas automáticas. Isso significa que eles passaram a sua vida, de oito anos, diariamente, em condições de confronto militar. Nós verificamos e apoiamos a população desses territórios. Muitos imigraram para a Federação da Rússia. Nós já abrimos a possibilidade, para proteger essa população, de adquirir a cidadania russa para os russos e descendentes desses territórios. Se não me engano, mais do que meio milhão da gente vive nessa região adquiriu essa cidadania e se tornou cidadã da Federação da Rússia. Mas, nesse mesmo momento, o poder central de Kiev, ao invés de cumprir os Acordos de Minsk, preparava uma ofensiva militar que deveria acabar com a independência e a vida desses quatro ou mais milhões de habitantes das regiões de Donetsk e Lugansk. E, agora, depois do início da operação especial militar, nós temos as provas concretas sobre as intenções do Governo de Kiev de realizar a ofensiva militar ainda em março deste ano. |
| R | Então, a primeira razão da nossa operação especial é que a Ucrânia se tornou um estado anti-Rússia - o que nós não podemos permitir -, e o primeiro objetivo da nossa operação, como foi dito pelo Presidente Putin, no dia 24 de fevereiro, é desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia. Desnazificar é muito importante, porque o tumor nazista na Ucrânia é visível, sentido e comprovado. Os nacionalistas de direita ucraniana utilizam, abertamente, os símbolos da Alemanha Nazi, não só os símbolos, mas as práticas, e os assim chamados Heróis da Resistência Nacional da Ucrânia, Bandera e Shukhevych, que combateram junto com Hitler contra a União Soviética, foram proclamados os heróis nacionais, o que nós nunca podemos permitir. Nós negamos a própria possibilidade de aparecimento de um tumor nazista no centro da Europa. Nós negamos a própria possibilidade de desenvolvimento desse tumor maligno na nossa fronteira, porque, em cada família da federação da Rússia, assim como na Ucrânia também, eu penso, nós temos alguém que perdeu a sua vida durante a Segunda Guerra Mundial e Grande Guerra da Pátria na luta contra o nazifascismo. Os meus avós combateram nas duas e a memória desta guerra, que nos custou 26 milhões de vidas humanas, a memória de sangue que foi dado pela liberdade da Europa do nazifascismo leva-nos a crer e nos convence de que o tumor nazista na Ucrânia deve ser aniquilado para sempre. Outra razão que é muito importante para compreender a necessidade de garantir a segurança, a liberdade e a autodeterminação da Federação da Rússia é a situação na arena internacional nos últimos decênios. Todo mundo lembra que, ainda nos anos 90, depois, no final da União Soviética e início da Federação da Rússia e de todos os outros estados independentes criados neste território, foi, várias vezes, dito aos dirigentes russos que a Otan - a estrutura criada no início da Guerra Fria, em 1949 -, que a Otan nunca iria se alargar. |
| R | Isso foi dito, mas não escrito. E se, no início de 90, quando nós retiramos as forças da União Soviética, da Federação da Rússia da Alemanha, o número de membros da Otan era só 13, hoje, no início de 2022, nós temos 30 estados-membros, e a estrutura belicista e ofensiva da Otan se aproximou das nossas fronteiras. Então, essas promessas nunca foram cumpridas e essa é uma ameaça real e direta à segurança e à estabilidade do nosso país. Eu gostaria de aqui fazer uma pequena observação histórica sobre a história da Rússia, seja a imperial, seja a da União Soviética, e fazê-los lembrar que duas invasões europeias levaram a grande sofrimento, grande destruição e a grandíssimas guerras na Rússia. As primeiras foram as Guerras Napoleônicas, quando toda a Europa, na composição do grande exército napoleônico, entrou na Rússia, em 1812, e saiu derrotado. Outra missão europeia de guerra contra os povos da União Soviética e da Rússia foi a invasão fascista, que custou, como eu já disse, 26 milhões de vidas humanas para os povos da então União Soviética e que levou à destruição da metade do território europeu do país. E todos os gritos "Oi, nós estamos levando para a Rússia um tipo de civilização e conhecimento" nem sempre são aceitos no nosso país assim, porque nós nunca podemos esquecer essas duas invasões trágicas que nós conseguimos rechaçar e que nós conseguimos vencer. Nem sempre a Europa foi um tipo de centro da civilização. O aumento, o alargamento da Otan nós consideramos uma ameaça, mas esse alargamento é só um fator. Outro fator é que, durante os últimos decênios, Washington destruiu todos os acordos que limitaram a corrida armamentista e garantiam a estabilidade estratégica. Eu vou enumerar só três principais acordos: o Tratado de Céus Abertos, os mísseis de médio e pequeno alcance e o acordo de proteção antimíssil, que garantiu o equilíbrio, mas que os Estados Unidos deixaram durante os últimos anos, o que criou uma nova situação. O que significa, por exemplo, a saída dos Estados Unidos do acordo dos mísseis de pequeno e médio alcance? Isso significa que eles podem colocar esses mísseis na Europa, aumentando o tempo de alcance do ponto de lançamento até o território da Rússia, até Moscou. |
| R | E o convite várias vezes feito para a Ucrânia, que se declarou apta para entrar na Otan, e a possibilidade de aparecimento desses mísseis de ataque no território ucraniano são um perigo real porque o tempo de voo de um míssil de médio e pequeno alcance, colocado no território ucraniano, diminui de trinta minutos para cinco, sete minutos, que é impossível reagir a alguma coisa, o que significa o rompimento do sistema de proteção da Federação da Rússia. Todas as tentativas de fazer solução por meios de negociação diplomática empreendidas durante dez anos foram em vão. Os países membros da Otan e o dono dessa organização que, em nossa compreensão, é Washington, rejeitaram a própria possibilidade de conversa séria. A última tentativa foi feita em dezembro do ano passado, quando a Rússia apresentou três propostas concretas para a Otan, que indicaram: não alargamento; paridade estratégica que foi o restabelecimento de paridade militar estratégica, que foi criada em 1997; e a não aceitação dos novos países. Isso foi rejeitado, o que provou, mais uma vez, que a ideia básica de Washington e da Otan foi criar um círculo ardente em torno da Rússia. Foi uma tentativa de cercar o nosso país e os nossos povos pelas zonas de instabilidade. Prova disso são as tentativas de vários tipos de ações, assim chamadas revoluções, por exemplo, na Bielorrússia, no ano passado, ou no Cazaquistão, ainda neste ano, tentativas de fazer renascer os conflitos na Ásia Central ou no Cáucaso. Nós nunca vamos esquecer o apoio que foi prestado pelos países do Ocidente aos terroristas que levantaram a sua cabeça nas regiões do Cáucaso do Norte nos finais de 1990 e início dos anos 2000, o que levou a nossa luta contra esses terroristas. E, naquela altura ainda, ao invés de unir esforços combatendo os terroristas islâmicos, o Ocidente entrou na proclamação de um certo tipo de apoio aberto de vez, enquanto descoberto, a essas tentativas terroristas de fazer explodir o Cáucaso do norte russo. Tudo isso nos leva a repensar o nosso comportamento. E, no final do mês de fevereiro, quando apareceram indícios claros de que os ucranianos queriam acabar com a liberdade, a identidade e a vida dos seres humanos que falavam russo no Donbass, foi tomada a decisão de reconhecer a independência de duas repúblicas - a República de Lugansk e a República de Donetsk - para proteger a gente que vive lá. E foi realizada a operação especial, que agora segue em curso. |
| R | Gostaria de tocar também em dois pontos muito importantes para compreender a situação de hoje. Primeiro, no dia 28 de fevereiro, foram iniciadas as conversações entre as delegações da Rússia e da Ucrânia, e foram realizadas quatro rondas, a última em Istambul. Essas negociações continuam sendo diárias, por vídeo, e isso significa que a parte ucraniana começa, de certa maneira, a compreender a realidade, as nossas posições e os fatores que determinam a nossa prontidão de levar até o fim a operação, que deve cumprir os objetivos expostos e colocados pelo Presidente Putin no seu discurso de 24 de fevereiro. Eu gostaria de passar esse discurso para a Sra. Senadora; infelizmente eu tenho só em inglês e em russo, mas eu vou passar em inglês. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO. Fora do microfone.) - Obrigada. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY - Outra realidade que nós estamos observando agora na realização da operação especial é o que nós chamamos todos fake news. A parte ucraniana, com apoio dos seus correligionários na Otan, em Washington, tenta apresentar, de vez em quando, os acontecimentos de maneira distorcida, tenta criar a opinião pública hostil à Federação da Rússia, à operação, sem explicar nada. Eu vou dar só alguns exemplos que, eu penso, toda a gente presente na sala e toda a gente em geral conhece. Vamos lembrar os primeiros dias de operação, quando todas as companhias de televisão do mundo apresentaram um vídeo em que um carro de combate blindado passa em cima de um carro simples em Kiev, dizendo: "O carro de combate blindado russo pesa num cidadão civil, que felizmente não sofreu nada", mas o fato real, que depois foi confirmado pelos meios de comunicação, é que este carro de combate foi ucraniano; que nada havia de carros de combates russos em Kiev. Em outro vídeo, quando foi mostrado um edifício atingido por míssil em Kiev - isso foi também durante os primeiros cinco dias de operação militar -, foi dito: "Os russos estão atingindo os edifícios habitacionais". Passada uma semana, os próprios ucranianos confirmaram que isso foi um míssil antiaéreo ucraniano que perdeu a orientação. |
| R | E esses fatos são inúmeros. Lembra aquelas "reportagens" - entre aspas - de Mariupol, quando foi apresentada uma senhora prestes a dar à luz um bebezinho, que foi evacuada, dizem, de um hospital natalício, e só agora apareceram as falas verdadeiras dessa senhora, que disse que tudo foi artificialmente filmado pelos ucranianos, que tentaram apresentar isso como um "crime de guerra" - entre aspas. Essa tentativa de passar a mensagem errada dos acontecimentos é diária e, infelizmente, está apoiada pelo mainstream informativo das grandes companhias de informação, sejam clássicas, seja na internet. Mas eu penso que a verdade será descoberta, e essa verdade vai demonstrar a necessidade de realizar a operação e a necessidade, como eu já disse, de acabar com o tumor nazista. Mais um fator que eu gostaria de ressaltar, infelizmente, é que, na sua obsessão de criticar a Rússia e apresentar a Rússia como culpada em tudo, os europeus e os americanos abriram uma caça russofóbica mundial. Essa caça russofóbica mundial faz-nos lembrar as histórias que eu já mencionei, essas histórias que foram observadas e sobrevividas na Europa depois de 1933, depois da chegada de Hitler ao poder. Essas caças aos russos, à língua, à cultura, à identidade assumiram dimensões inaceitáveis e fantásticas. A última informação de ontem, quando The National Gallery of London decidiu renomear a pintura de Edgar "Bailarinas Russas" para "Bailarinas Ucranianas", faz-me chorar e faz-me lembrar que os livros dos clássicos mundiais foram queimados na Alemanha em 1933, 1934, e agora a mesma história está se repetindo, só que com os russos. Isso é inaceitável e está nos chamando a ver, repensar e não aceitar esse tipo da política racista. |
| R | Outro fator que nós devemos tomar em consideração é que, depois do início da operação militar especial, os países do Ocidente e os seus aliados empreenderam sanções, vamos dizer assim, muito abrangentes contra os russos, as propriedades russas, os ativos russos, contra a economia, contra o Banco Central, contra bancos - desligaram-nos do Swift -, e querem impedir quase tudo, esquecendo que as sanções desse gênero são uma moeda de duas faces: uma face são as sanções contra a Rússia, e a outra face, igual à primeira, é a influência dessas sanções na economia mundial e na economia e na política dos próprios sancionadores, o que nós estamos observando hoje. Eu vou dar só duas ideias que dominam a sociedade russa sobre as sanções. Um político nosso disse: "Se vale a pena defender a soberania, a identidade e a liberdade pagando uma taxa de sanções, estamos aptos". Esse slogan ganhou importância no meu país. E outra coisa: na maioria dos representantes da opinião pública dentro do meu país, as sanções são vistas como um certo tipo de pilhagem, como um certo tipo de tentativa do Ocidente de fechar as brechas no seu próprio desenvolvimento, dos seus próprios problemas financeiros. Eu li um artigo de um outro observador político-financeiro - me parece que não é russo, é da Europa - que disse: "Afinal, os russos chegaram à conclusão de que não vale a pena financiar um défice orçamentário norte-americano, recusando a moeda americana como moeda de pagamento de algumas commodities que estão produzindo". E mais um ponto importante para compreender a nossa atitude para com as sanções. Sim, as sanções são as sanções, mas eu gostaria de fazer lembrar os presentes todos que o desenvolvimento da União Soviética, desde 1917 até 1991, decorreu nas condições de sanções ainda mais rigorosas do que as sanções agora empreendidas. Toda a gente que tem certa idade e estudava as relações internacionais, as relações internacionais financeiras conhece o mal conhecido comitê que limitava a passagem ou a entrega das tecnologias, dos recursos financeiros à União Soviética no tempo da Guerra Fria. |
| R | Eu estou mais do que convencido de que as sanções vão dar um novo impulso para o desenvolvimento do nosso país, por razão muito simples. Nós estamos vivendo num mundo um pouco diferente, e nós estamos vivendo uma situação 100% diferente se compararmos a situação com os tempos da Guerra Fria, porque, no nosso país, agora a Federação da Rússia, nós temos o mercado aberto em iniciativa crescente e estamos aptos para dar soluções próprias aos problemas criados pelos alheios. Um exemplo disso é que, durante os últimos anos, depois das sanções que foram empreendidas pela Europa Ocidental e Estados Unidos, depois da volta da Crimeia na composição da Rússia, nós conseguimos fazer renascer o setor agroindustrial e, agora, somos autossuficientes em todos os produtos básicos produzidos nas condições climáticas da Federação da Rússia. Isso é muito importante. Eu estou convencido de que nós podemos e devemos dar a resposta adequada a essas políticas russofóbicas, para não dizer racistas, e de que nós vamos encontrar as soluções viáveis, que já começamos a empreender. Muito obrigado. Não sei se eu cumpri a tarefa, mas estou à disposição. Muito obrigado, Senadora Kátia. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Muito obrigada, Exmo. Sr. Embaixador Alexey. Vamos iniciar as nossas manifestações, os debates, começando pelos Senadores Marcos do Val, Nelsinho Trad, e retomamos ao Embaixador; depois, os Senadores Zequinha Marinho e Esperidião Amin. Por gentileza, Senador Marcos do Val. O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Para interpelar.) - Obrigado, Presidente. Nós temos uma situação muito delicada, é um assunto bastante delicado, uma linha muito tênue para qual posição nós temos que tomar. Agradeço, em nome do Senado e dos Senadores, a presença do senhor aqui, mas há algumas questões que eu precisava colocar, e eu peço até desculpa pela franqueza. Existe uma história da Rússia com algumas questões, desde Jogos Olímpicos e uso de anabolizantes, e foi retirada das Olimpíadas, e foram sempre se encobertando certas situações, como mortes de opositores, envenenamento... Há sempre uma história que circula pelo mundo. Isso passa para nós uma imagem de que não há uma verdade absoluta; pode ser metade fake, pode ser outra metade real. O que chega para a gente a gente tem que sempre questionar, não tem que pegar e achar que é uma verdade, mas é importante a gente colocar isso, para que possa haver até a oportunidade de se esclarecer. |
| R | Eu acho que, quando a guerra se inicia, é porque faltou diplomacia. E nada justifica o início de uma guerra. Nós estamos vendo vários países se aliando à Ucrânia, sendo solidários com a Ucrânia, e isso está fazendo com que fique cada vez mais transparente para todos que a Rússia tomou uma decisão errada. Nós, recentemente, tivemos aí cenas que chocaram o mundo inteiro, de ataque a maternidades, de mães grávidas perdendo seus filhos, de crianças mortas, e vem a narrativa de que isso foi montado, de que isso foi montado pelos americanos, de que isso foi montado pela Ucrânia. Eu não acredito que, em plena guerra, em plena situação onde a vida está sempre em risco, haverá gente que vai montar cenários para que sejam enviados para o mundo, tentando reverter a situação. Eu recebi aqui... Eu tenho um amigo que está lá. Ele é repórter. Ele nos está acompanhando lá da Ucrânia e acabou de me mandar aqui... Pergunta o porquê dessa carnificina que a Rússia cometeu com civis em Bucha. Ele me manda fotos. Não vou mostrar as fotos, porque as fotos são chocantes, mas mostram claramente que as pessoas foram executadas com as mãos amarradas. Mulheres foram estupradas. E os homens, além de estarem com as mãos amarradas, estão com os olhos vendados. Realmente, eu vejo algumas fotos de pessoas mortas nessa situação. Ele está agora na Ucrânia, mandando isso para mim. Ele também coloca a questão de se gerar dúvida sobre a cena, dizendo que a cena foi montada pelos americanos ou por qual país for... Não acredito nisso; absolutamente não acredito nisso. Ele até mandou aqui um link da reportagem que saiu ontem no The New York Times, mostrando cenas desse massacre, desses crimes de guerra. Mesmo se não cometesse nenhum crime de guerra, a guerra para mim já é algo que mostra incapacidade de diálogo e de diplomacia. Nada a justifica! Desculpa a sinceridade, mas eu acho que aqui vai se justificar o injustificável. Nada justifica qualquer morte, seja a de militares, seja a de civis, ainda mais a de civis. Era isso que eu queria colocar. Desculpa a sinceridade, a franqueza! A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Senador Marcos do Val. Esta Comissão é completamente democrática. Todos aqui podem exprimir as suas opiniões, de forma pacífica, cordial, mas sempre firme, cada um dos colegas Senadores que fazem parte desta Comissão, como titulares ou suplentes. Sempre fiquem à vontade nessa participação totalmente aberta. Passo a palavra para o Senador Nelsinho Trad. O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC. Pela ordem.) - Presidente, há uma questão de ordem: eu acho que o objeto deste convite não é para que nós sejamos juízes. E nós ouvimos do meu querido amigo Marcos do Val um julgamento, com o qual eu não concordo. E me permita aqui dizer que não concordo com a pretensão de nenhum de nós de ser juiz - juiz de outro país. Só isso. |
| R | A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Senador Esperidião, o senhor é o quarto a usar a palavra. O senhor pode se manifestar... O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC) - Portanto, é uma questão de ordem com base... Eu estava em substituição a V. Exa., fui quem apresentou o seu requerimento para que a Comissão o aprovasse, e eu me lembro bem do que eu li: é para colher, não para julgar. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Senador, esta Comissão não pretende fazer e nem fará nenhuma censura ou nenhuma restrição ao que os colegas Senadores quiserem manifestar, absolutamente. Todos aqui estão livres para dizerem o que bem entenderem com o seu mandato, representando os seus estados. Cada um pode falar livremente o que pensa a respeito... O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC) - Inclusive, divergir. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - ... e de forma... Na sua vez, quando chegar a sua hora, fique à vontade para usar o seu horário. Mas Marcos do Val foi muito respeitoso, falou as suas impressões, o que ele pensa a respeito do conflito e respondeu de forma muito cautelosa, sem nenhum tipo de agressão, ao Embaixador. Então, eu acho que nós, sinceramente, estamos aqui para ouvir, mas quem foge do debate não quer ser convencido. E eu tenho certeza de que o Embaixador russo não vai fugir ao debate, às questões, à argumentação, por conta de que já o conheço de certa forma e sei que ele é um contundente defensor do seu país. E vamos aqui tentar ouvir todos os lados, mas também as divergências por parte dos colegas Senadores. Nelsinho Trad com a palavra. O SR. NELSINHO TRAD (Bloco Parlamentar PSD/Republicanos/PSD - MS. Para interpelar.) - Senadora Kátia Abreu, muito obrigado pela oportunidade. Eu vou fazer uma pergunta ao Embaixador da Federação Russa, Embaixador Alexey, que eu já ouvi de muita gente. E, mesmo tendo um conhecimento prévio a respeito dessa resposta, nada melhor do que o próprio Embaixador para poder responder e tirar essa dúvida ou esse desconhecimento da cabeça das pessoas. Qual o exato objetivo da invasão russa ao território ucraniano? Essa é a pergunta que eu quero fazer. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Senador Nelsinho Trad. Eu passo a palavra para o Embaixador Alexey para fazer os comentários das manifestações dos dois Senadores. Obrigada. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY (Para expor.) - Muito obrigado. Muito obrigado, Senador do Val; muito obrigado, Senador Nelsinho Trad. Eu vou dar alguns comentários que surgiram em dois discursos e uma pergunta direta. Os comentários sobre os Jogos Olímpicos, opositores etc. Eu não sou o grande esportista por razão de estar de óculos. Cada bola os quebra, eu não vejo nada e, por isso, eu não vou comentar os Jogos Olímpicos, mas eu considero pessoalmente que todas essas questões já foram resolvidas, inclusive pelo Comitê Olímpico, pelos juízes etc. |
| R | Sobre os opositores, eu estou convencido de que oposição é uma coisa que nasce dentro, não é criada de fora. Nós já, na nossa história do século passado, tivemos muitos que tentaram destruir. Agora nós necessitamos de gente que deve construir e restabelecer. Sobre as coisas últimas, sobre as fotos. Eu não tenho pessoalmente confiança nenhuma nas fotos que foram distribuídas ontem e hoje, porque o fato é que as tropas russas deixaram essa cidade no dia 30, no dia seguinte do final de uma ronda de conversações de Istambul. E mais: hoje, quando os ucranianos apresentaram essas informações, depois da imprensa de The New York Times - eu não tenho confiança em The New York Times -, no Conselho de segurança, o nosso representante lá, que é Vasily Nebenzia, disse abertamente que nós estamos prontos a apresentar as gravações que certificam que, no momento da saída dos russos dessa cidade de Bucha, não havia nada do que foi filmado. Essa não é a primeira tentativa de apresentar alguma coisa inventada pelos ultranacionalistas. Eu estou convencido de que isso será provado. Eu gostaria de pedir mais uma vez para se repensar a história recente, que eu não toquei, mas que deve ser repensada, e repensada bem, em qualquer que seja o ponto do nosso globo terrestre. Eu posso começar, por exemplo, pelo ano de 1983, os acontecimentos em Granada, aqui pertinho, no Caribe - quantas vidas humanas foram perdidas na invasão americana? -, e finalizar com os 20 anos da presença americana no Afeganistão; e incluir nessa lista Iugoslávia, Síria, Iraque, Líbia, etc. etc. etc. Só o cálculo, mais ou menos, assim - um zero a mais, um zero a menos -, é de seis milhões de vidas perdidas. E nenhuma operação dessas foi autorizada por ninguém. Só lá, no Rio de Potomac. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO. Fora do microfone.) - Seis milhões no Afeganistão? O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY - Não, de todas essas operações. O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES) - Desculpe interromper... O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY - Eu peço desculpa... O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES) - ... mas depois eu posso ter a réplica? O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY - Eu peço desculpa, mas eu gostaria de fazer a gente repensar que, na Europa, a joia de toda a civilização nossa, que é o Mar Mediterrâneo, se tornou um túmulo comum de centenas de milhares de imigrantes que começaram a cruzar o Mediterrâneo para atingir a Europa depois de acontecimentos trágicos de guerra civil na Líbia. Isso é como? |
| R | Eu gostaria de fazer lembrar, quando dizem da Europa, que, em 1988, Belgrado e toda a Sérvia foram bombardeadas, incluindo as escolas, jardins, estúdios de televisão. E eu gostaria de sublinhar que a última cimeira da Otan foi realizada no dia de início dos bombardeios de Belgrado pelos europeus e americanos. Isso faz-nos repensar um pouco a realidade. Ninguém gosta de tiros. Ninguém gosta de guerra. Ninguém gosta da perda das vidas humanas. A vida humana é o valor máximo que nós temos, todos nós, mas, quando nós estamos pensando sobre as realidades, nós estamos pensando na necessidade de defender essas vidas humanas, no meu país, que têm mais do que 150 nacionalidades; de defender essas vidas humanas contra os não humanos, que são os nazis. Eu penso que toda a gente conhece os emblemas, como eu já disse no início, dos batalhões territoriais das forças ucranianas, que fazem lembrar as forças do SS nazi. Isso nunca será aceito na Rússia. Muito obrigado. O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES) - Presidente, só para fazer uma... A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Por gentileza. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY (Fora do microfone.) - Há mais uma pergunta... A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Pois não. O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES) - É só para poder seguir o raciocínio, Presidente, se for possível. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Só para ele terminar a última fala. Por favor, Embaixador. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY - Eu gostaria de responder à pergunta do respeitável Senador... A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO. Fora do microfone.) - Nelsinho Trad. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY - ... Nelsinho Trad sobre o exato objetivo da operação. O exato objetivo da operação foi exposto pelo Presidente Vladimir Putin no dia 24 de fevereiro no seu discurso. Esses objetivos: desnazificar, desmilitarizar a Ucrânia e garantir os direitos dos descendentes russos e do nosso país; a soberania, a liberdade e defesa da Federação da Rússia. Eu passei esse discurso para a Senadora e vou passar para o senhor também. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Embaixador, perdoe-me. Eu gostaria que o senhor repetisse, apenas por conta do... O seu português é perfeito, mas, por favor - há o sotaque, e às vezes o senhor fala um pouquinho depressa... (Intervenção fora do microfone.) A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - ... pode repetir qual o objetivo, porque o senhor falou palavras muito... O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY - Ah, eu peço desculpas pelo sotaque, mas o sotaque foi adquirido na universidade, em Moscou, e depois em África e Lisboa. Efetivamente, é um sotaque mais lisboeta do que carioca. Eu tento me corrigir, mas, na minha idade, estudar já é um problema. |
| R | Os objetivos, como eu já disse, da nossa operação especial na Ucrânia foram expostos pelo Sr. Presidente Putin no dia 24 de fevereiro, e os objetivos são claros: desnazificação; desmilitarização; a defesa dos direitos legítimos de dois estados, de Donetsk e de Lugansk, que nós reconhecemos no dia 22 de fevereiro; a defesa dos direitos dos russos descendentes; e as garantias de segurança da Federação da Rússia. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Embaixador. Passo a palavra para o Senador Marcos do Val para a réplica. O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - ES. Para interpelar.) - Agradeço ao Embaixador pela resposta. Eu vi que o senhor fez algumas colocações de algumas ações do Governo americano, de alguns atos de outros países que seguiram em cima de possíveis crimes de guerra, mas é importante ressaltar e deixar muito claro que o Brasil nunca esteve envolvido com esse tipo de ação. O Brasil é um país pacífico, historicamente pacífico. A diplomacia sempre prevaleceu. Nós vivemos momentos sensíveis, e hoje não se pode botar nada debaixo do tapete, porque hoje nós temos a tecnologia, que esclarece muita coisa e desfaz muitas narrativas que tentam ser colocadas. Eu também recebi aqui - e isso é de um repórter que está exatamente, vou repetir, um repórter amigo que está exatamente nesse momento, na Ucrânia -, e ele colocou, dentro do que eu já tinha dito antes, que imagens de satélite mostram os corpos nas ruas, perto dos soldados russos, o que tira qualquer dúvida sobre montagem de cena e tudo mais. E ele me mandou aqui os links, que depois eu quero até disponibilizar no grupo da CRE, para que todo mundo possa ter acesso a esse material que eu estou recebendo. Bom, eu acho que finalizo por aqui, porque, como eu disse para o senhor, com todo o respeito, para mim é justificar o injustificável. Nada que o senhor possa colocar aqui vai justificar uma vida que foi perdida lá. Peço desculpas pela sinceridade e encerro por aqui. Obrigado, Presidente. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Senador Marcos do Val. Concedo a palavra ao Embaixador para responder à réplica. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY (Para expor.) - Se me permite, muito obrigado, Sr. Senador. Eu gostaria de colocar dois pontos. O primeiro ponto: nós respeitamos a posição brasileira, a posição do Brasil, e nós respeitamos muito e admiramos a diplomacia da República Federativa do Brasil, cujas bases foram criadas pelo Barão de Rio Branco. E outro ponto: sobre as reportagens e imagens de satélite, eu não queria, mas tenho aqui umas gravações das outras cidades da parte ucraniana contra agentes de Donbass, contra os prisioneiros russos. Eu não quero projetar esses vídeos terríveis aqui, mas eu vou deixar para o senhor ver. Isto não é imagem satelital, divulgada quatro dias depois da saída dos russos; isto é a imagem feita pelos próprios ucranianos e pelos grupos de verificação. Elas são terríveis! Eu não vou projetar aqui, mas eu vou entregar ao senhor para depois ver. |
| R | Muito obrigado. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Embaixador. Seguimos agora com o Senador Zequinha Marinho e, depois, com o Senador Esperidião Amin. Por favor, Senador. O SR. ZEQUINHA MARINHO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - PA. Para interpelar.) - Obrigado, Presidente. Quero cumprimentar o Embaixador. Com relação à questão do conflito, os colegas já fizeram as perguntas básicas. Eu aqui, Embaixador, e mais outros Senadores representamos uma frente parlamentar chamada Frente Parlamentar da Agropecuária. A Rússia é um importante parceiro comercial do Brasil com relação ao fornecimento de insumos, de fertilizantes para a agricultura brasileira. É em cima disso que eu gostaria, em nome da frente parlamentar, de fazer alguns questionamentos e de ouvir o senhor sobre a situação de guerra entre Rússia e Ucrânia e o comércio exterior que envolve a Rússia e o Brasil. Eu queria pedir à assessoria: tenho duas páginas aqui; à medida que eu for terminando uma aqui, vá levando para ele; e com a última a gente conclui - para ficar fácil, para não ter que ficar escrevendo tanto. Embaixador, como noticiado na última quinta-feira, dia 31/03, pela agência Reuters, a Rússia planeja aumentar suas cotas de exportação de nitrogênio e fertilizantes complexos. Nesse sentido, eu pergunto ao senhor: 1) como o Brasil estaria contemplado dentro desse novo volume anunciado? 2) é possível que o Brasil conte com maior aporte russo desse importante insumo para a agricultura brasileira? O sistema Swift é responsável pela realização e cumprimento de contratos financeiros no mundo todo. Após o início do conflito, uma série de sanções ainda não muito claras foram impostas a bancos russos na utilização do sistema, o que tem criado incertezas nas transações comerciais com empresas sediadas na Rússia. Nesse sentido, faço também duas perguntas: 1) os contratos de compra e venda de fertilizantes, por exemplo, podem ser dificultados pela insegurança nas transações? 2) nesse sentido, já existe alguma dificuldade referente a transações ocasionadas pelas restrições impostas aos bancos russos? Nas últimas semanas, as informações veiculadas na mídia brasileira dão conta de que carregamentos de fertilizantes continuam a ser embarcados da Rússia para o Brasil. E aí eu faço aqui três perguntas: 1) os volumes de fertilizantes comercializados com o Brasil continuam acompanhando os níveis históricos? 2) existe algum empecilho, neste momento, às exportações de fertilizantes para o Brasil? 3) existe alguma contrapartida da economia do Brasil que poderia garantir os negócios desse insumo? E agora o bloco final. Em fevereiro deste ano, o Governo brasileiro anunciou a aquisição de unidade de fertilizantes nitrogenados da Petrobras em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, por parte de uma empresa russa, o grupo Acron. Nesse sentido, eu pergunto ao senhor também algumas situações aqui: |
| R | 1) como essas negociações... Como estão, digo melhor, as negociações para a retomada e a operacionalização dessa unidade? 2) com o início do conflito, há alguma dificuldade na continuidade do negócio? 3) existe uma previsão para o início das operações lá no projeto? 4) última: existe alguma dificuldade a ser superada com a concretização do negócio junto ao Governo brasileiro ou com a Petrobras? São essas, exatamente relacionadas a esse setor da nossa agricultura, que nos preocupam muito - não é? -, porque a dependência do Brasil desses insumos é muito grande. O senhor conhece, com certeza, a nossa agricultura, sabe que é pujante, que é forte e que a gente precisa muito mantê-la porque é uma fonte de geração de renda, emprego, desenvolvimento e assim por diante. E gostaria de ouvi-lo com relação a isso no momento oportuno. Muito obrigado, Presidente. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Senador Zequinha Marinho. Passo a palavra para o Senador Esperidião Amin. O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC. Para interpelar.) - Sra. Presidente, Srs. Senadores, eu quero reiterar a minha ponderação feita à primeira das falas do meu querido amigo Senador Marcos do Val, para confirmar a minha percepção de que não é nosso papel neste momento julgar procedimentos, e sim nos informar e formar, assim, o nosso juízo de valor a respeito desse drama. E quero aqui dizer que, pessoalmente, é muito doloroso - pessoalmente! - assistir a qualquer êxodo, êxodo de uma família que tinha casa e sai do seu lar, porque essa situação foi vivenciada pelos meus avós maternos. Eles fugiram do norte da Itália. Pellegrini Marini, meu avô, e sua mulher, Marina Busetti Marini, fugiram de Vicenza quando do ataque, na Primeira Guerra Mundial, das tropas austro-húngaras. Elas se fixaram no norte da Itália, na famosa Guerra das Trincheiras. Isso aconteceu em 1915, e os meus avós fugiram para a Suíça numa carroça. É só isso que eu sei. Meu avô, minha avó, a filha mais velha, que se chamava Irene, e, na barriga da mãe, a minha mãe. Chegaram a Aadorf, na Suíça, de bicicleta e lá viveram até o final de 1918-1919, quando voltaram para a Itália. Não dava para plantar porque estava tudo estourado, migraram para São Paulo, Paraná, e, afinal, a minha mãe conheceu o seu marido, meu pai, libanês, na rua Felipe Schmidt em Florianópolis. Então, ver uma família sair da sua casa é uma coisa que me toca profundamente, e tudo que se pudesse fazer para evitar eu acho que nós deveríamos fazer. |
| R | Então, eu vejo com tristeza que uma posição absolutamente defensável, como tem a Federação russa, a respeito da atitude tomada pela Otan, que é um entulho da Segunda Guerra Mundial, que confrontava com o Pacto de Varsóvia, que seria o seu equivalente... Este deixou de existir; a Otan não tinha mais razão de existir. E eu receio que esta operação especial, como chama o Presidente Putin - para nós é uma invasão, porque é no território do outro -, vá acabar fortalecendo a Otan. Então, eu tenho um juízo de valor, não é uma censura. Eu acho que, até o primeiro tiro, a Federação russa tinha muito argumento para despender - sem dar o primeiro tiro -, porque é evidente a mobilização, o avanço da Otan sobre os territórios da ex-União Soviética. Não só a Alemanha oriental, mas a Polônia, que era um satélite, a Hungria, a Moldávia, enfim, a Lituânia, a Estônia, a Letônia, que faziam parte desta zona de amortecimento, digamos assim, passaram para o outro lado. Realmente, quem já leu um pouquinho sobre a Guerra da Crimeia, 1854-1855, sabe que aquilo ali é um ponto de alta importância e vulnerabilidade, sem falar nos problemas de que foi acusado Stalin, sem falar sobre Geórgia, que era o país do Stalin, e sem falar da Ucrânia, que era o país de nascimento, a região de nascimento de Nikita Khrushchev, ambos grandes chefes da União Soviética. Então, esse imbróglio histórico realmente é muito difícil para nós ocidentais captarmos, agora, eu não tenho nenhuma dúvida, até o primeiro tiro - isso é o meu juízo, que eu tomo a liberdade de externar -, justificativa para que a ONU se agigantasse e passasse a exercer um papel de maior relevo e eficácia, desconstituindo esses blocos, que são blocos de guerra. A Otan é um bloco de guerra, para a guerra, parabellum. Então, eu lamento muito e queria lhe fazer uma pergunta só: na sua percepção de experiência diplomática, qual é o seu palpite sobre o cessar fogo, a data do cessar fogo? É isso. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Eu gostaria de abusar um pouco do Senador Esperidião Amin: que ele pudesse fazer uma breve explicação sobre a criação da Otan e do Pacto de Varsóvia, para que aqueles que nos assistem, do e-Cidadania, entendessem por que a Otan existiu, foi criada, e por que não deveria mais existir, na sua opinião, que também é a minha. Nós estamos com 350 pessoas na sala, assistindo a nossa audiência. |
| R | O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC) - Agradeço, Sra. Presidente. Sem entrar em detalhes, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, havia correntes na Europa defendendo o prosseguimento da guerra. Quem lê a biografia do Churchill sabe disso. "Vamos atacar a Rússia, a União Soviética", ou seja, a guerra ia continuar, como, de alguma forma, prosseguiu na Coreia, em 1949, 1950, 1952. Então, o clima não era de paz. Churchill foi quem usou a expressão "cortina de ferro": "Desceu sobre o leste da Europa uma cortina de ferro [sem entrar no mérito]. Portanto, temos que continuar a guerra, continuar preparados". Como? Com a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Para quê? Para estarmos vigilantes. Eu visitei Berlim, em 1979, e cruzei o Muro de Berlim, o Checkpoint Charlie. Berlim vivia... A senhora imagine uma cidade que tinha sofrido um boicote de transporte aéreo de alimentos em 1949. Então, esse clima belicoso fez com que se criassem as duas organizações, não simultaneamente: a Organização do Tratado do Atlântico Norte, liderada pelos Estados Unidos, mas com Inglaterra, França; e o Pacto de Varsóvia, entre União Soviética e países, sem querer ofender, considerados satélites. Ora, enquanto uma coisa existisse, se justificava a outra. Quando deixou de existir a União Soviética - o Embaixador fixou, como data, 1991; suponhamos que seja 1991; o muro caiu em 1989, 1990 - o seu antípoda virou o quê? Virou uma força bélica que chegou a se unir para atacar o Iraque, que não tem nada a ver com a história. Para quê? Para catar armas de destruição de massa - e armas de destruição em massa que não existiam. Então, há um equívoco. Isso é papel da ONU. A fragilidade da ONU fez agigantar-se esse poder unilateral. Eu lamento profundamente, como observador, que o primeiro tiro tenha sido dado. O restante são as consequências. Uma guerra é um negócio terrível, e o pior é o que acontece com os civis. Por isso é que eu tomei um pouquinho do tempo de todos aqui para revelar uma emoção que me acomete em função de quem foge. Vou concluir dizendo o seguinte - a ONU já está examinando isso -: nós não temos a mesma sensibilidade em relação aos africanos que migram, ao povo do Oriente Médio quando cai uma bomba - como já caiu uma bomba americana, na Síria, que destruiu um abrigo com dezenas de pessoas lá dentro -, aos drones que matam pessoas. Tudo isso faz parte do aparato que nós estamos usando. Agora nos emocionou muito mais ver europeus nessa tragédia. A nossa sensibilidade não é a mesma para assistir à desgraça no Afeganistão e à desgraça na Europa. |
| R | A nossa sensibilidade não é a mesma, infelizmente. Isso sociólogos e psiquiatras ligados à ONU estão simplesmente descobrindo. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Muito bem, Senador. Muito obrigada por suas explicações. Eu acho que ficou bem claro o objetivo da criação da Otan, que foi pacificar. Pós-pacificação, não havia mais o objetivo de existir. E ela foi continuando e se ampliando, foi continuando e se ampliando. Chegamos aonde chegamos, sem o fortalecimento principalmente da ONU. Sr. Embaixador, com a palavra, por favor, para responder aos dois Senadores. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY (Para expor.) - Muito obrigado. Eu tenho aqui uma série de perguntas ligadas à Frente Agropecuária. Essas perguntas são muito práticas, eu vou tentar dar uma resposta para todas elas. O Brasil é um dos maiores parceiros econômicos da Federação da Rússia; na América Latina, é o maior. O volume do comércio bilateral no ano passado foi mais de US$7,5 bilhões. Este comércio bilateral se baseia em dois grandes grupos de artigos: da parte da Rússia, os fertilizantes, todos os grupos de fertilizantes; da parte do Brasil, os produtos da agroindústria avançada e moderna que está criada na República Federativa do Brasil. Nós realizamos uma visita oficial do Senhor Presidente Jair Bolsonaro a Moscou e confirmamos o nosso interesse de alargar essa cooperação e de continuar a fornecer todos os insumos necessários para a produção agrícola brasileira. Estamos cumprindo agora esses entendimentos e os contratos que foram assinados e estamos já abertos, ou não só abertos, mas confirmamos a nossa vontade de continuar fornecendo os fertilizantes de todos os grupos para a República Federativa do Brasil. Efetivamente, na situação atual, quando foram empreendidas as sanções ilegítimas contra o nosso país, nós estamos abertos para trabalhar e criar novos procedimentos necessários para logística, que é muito importante, e novos procedimentos para o pagamento dos produtos para os fertilizantes e os produtos agrícolas brasileiros que são fornecidos para a Rússia. Eu gostaria de dizer que o nosso mercado está aberto para os produtos finais da agroindústria brasileira, por razão muito simples: no nosso país, nós nunca vamos produzir as coisas da agroindústria tropical e semitropical, por razões puramente climáticas, e nós estamos abertos para alargar a cooperação no fornecimento dos produtos de carne, de todos os três tipos de carne, e nós estamos já abertos, da nossa parte, a fornecer os fertilizantes de todos os tipos para o Brasil e a participar na criação dos novos sistemas de logística, distribuição, elaboração dos fertilizantes em função da qualidade dos solos e dos produtos que são produzidos nesses solos. |
| R | Foi uma questão prática sobre Três Lagoas e o andamento das conversações entre a empresa Acron e Petrobras. Eu sei que as conversações seguem. A empresa Acron é uma empresa privada russa e está muito interessada em finalizar este contrato, cuja negociação dura, se não me engano, seis anos. E nós temos, como disse o Sr. Senador, muita experiência em produção. Essa empresa, que, como já disse, é uma empresa privada, confirmou a sua vontade de investir e iniciar a produção em Três Lagoas. Isso é a coisa que eu gostaria de sublinhar, respondendo as suas perguntas. Eu gostaria de mais uma vez confirmar o nosso interesse de continuar trabalhando, alargando as parcerias estratégicas que unem os nossos países, povos e indústrias. Esse é o objetivo principal do meu trabalho. E, nas novas condições, isso pode nos permitir não só alargar essa cooperação, mas criar as bases necessárias para garantir a segurança alimentar de um e outro país e dos terceiros que estão interessados em nossos produtos. Durante a minha intervenção inicial, eu disse que as sanções que foram tomadas contra a Rússia depois da entrada da Crimeia na composição no nosso Estado levaram ao efeito inesperado de desenvolvimento das indústrias da Federação da Rússia. Eu penso que essas sanções ilegais vão nos levar a criar novas modalidades da cooperação. O principal fator que me convence que isso vai acontecer é o fatorial que o mundo unipolar, assim chamado globalizado, acabou de existir. Isso é visível, isso é uma realidade hoje. E nós devemos trabalhar nessa nova realidade, onde há muitos polos de produção e investimento de finanças e dos interesses que nós devemos juntar. Obrigado. Havia mais uma pergunta e explicação sobre a visão do papel da Otan na Europa. Eu estou quase 100% de acordo com a exposição do Sr. Senador sobre isso. A Otan foi criada como uma máquina ofensiva com o objetivo de combater a então União Soviética e o bloco socialista, mas as condições de hoje estão muito diferentes. Quando a gente está especulando sobre o renascimento da Guerra Fria, nós não devemos esquecer que a Guerra Fria foi uma guerra não entre a Otan, ou Washington, e a União Soviética. Não, a Guerra Fria foi reflexão da concorrência entre as relações do mercado, vamos dizer aberto, e a concorrência com os sistemas baseados no planejamento total. O sistema de planejamento total mostrou a sua incapacidade de concorrer, e isso foi o final da Guerra Fria, para mim. |
| R | Por isso, hoje nós não estamos vendo o renascimento da Guerra Fria, nós estamos assistindo à concorrência em condições completamente novas. Todos os esquemas empreendidos, por exemplo, no setor energético na Europa visam os interesses de grandes produtores de hidrocarbonetos americanos para entrar no mercado europeu de petróleo e gás, substituindo, por exemplo, os fornecimentos da Federação da Rússia. Todos os esforços de fortalecimento denotam que não tem só o componente geoestratégico, como eu já disse, criar um círculo explosivo em torno da Federação da Rússia; é uma tentativa de financiar o complexo técnico militar norte-americano vendendo armamentos para os Estados da Europa, porque chegou o tempo de modificar e modernizar os arsenais bélicos desses países. Tudo está a indicar que nós vamos agora viver, criar e realizar as nossas atividades num mundo mais diversificado e complexo. Obrigado. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Embaixador. Eu consulto o Senador Francisco Rodrigues... Eu vou fazer algumas perguntas do e-Cidadania, em seguida falará o Senador Francisco Rodrigues, e o senhor já responde todas juntas. O Leandro Cesar dos Santos, do Paraná, está nos acompanhando bastante inquieto, e com toda razão, e a sua pergunta está centrada numa pergunta que eu iria fazer. Então eu já a aproveito e me sinto contemplada em uma das minhas perguntas com a dele. Ele pergunta ao Embaixador: "O Governo russo já esperava por essas sanções tão potentes como a exclusão do SWIFT?" Vocês estavam preparados? Tinham feito essa previsão? "Cessem com as hostilidades, parem os ataques, mantenham a ocupação se for o caso, mas parem o bombardeio, civis não podem pagar por isso." "Não acho que devam impor a desmilitarização da Ucrânia, mas podem tentar um acordo para a neutralidade [essa é realmente a questão que eu iria colocar aqui] e forças armadas defensivas." |
| R | "Sr. Embaixador, a Rússia iria fazer essa operação se a Ucrânia, no fim do ano passado, informasse que se declararia neutra?" Senador Francisco Rodrigues, para o seu questionamento... (Pausa.) O SR. CHICO RODRIGUES (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RR. Para interpelar.) - Só um momento, Presidente! (Pausa.) Primeiro, Sra. Presidente Kátia Abreu, nós costumamos aqui parabenizar V. Exa. pela condução sempre precisa, elegante e, acima de tudo, política desta Comissão. Deve-se a V. Exa. o alto nível de discussão que tem assumido durante a sua gestão. Quero cumprimentar o Embaixador e ao mesmo tempo... Ainda não tive a oportunidade de manter um contato consigo, mas é admirável a sua pronúncia do português. Enfim, isso é admirável. Na verdade, com facilidade... É um português, inclusive, lusitano. Percebe-se, inclusive, nas suas puxadas do português, que é lusitano, o que, na verdade, nos alegra porque facilita, inclusive, diretamente as respostas. V. Exa. não tem tradutor e, então, responde ao pé da letra as indagações que são feitas pelos Srs. Senadores. Nós sabemos, neste momento em que vive a humanidade, que, obviamente, os olhos do mundo estão voltados para a Rússia e para a Ucrânia, para o leste europeu. Já foi perguntado, como acabou de me informar um colega que falou sobre minerais, sobre a questão dos fertilizantes, que são fundamentais para a agricultura brasileira... A Rússia exporta mais de 23% dos fertilizantes de que nós necessitamos para a nossa pujante agricultura brasileira. Mas eu gostaria de deixar apenas uma pergunta: na opinião do senhor, a guerra pode continuar? A Otan pode atacar a Rússia? Ou a negociação prosperará, e a paz virá? Essa, na verdade, talvez, seja uma pergunta de todos aqueles que desejam a paz. Nós temos assistido, nos noticiários principalmente da televisão e da internet, a algumas situações de barbárie, que a Rússia nega, como vimos ontem à noite. Mas a única resposta que, talvez, seja dada ao mundo, Embaixador, seria exatamente o final dessa guerra, que praticamente não soma nada para a humanidade. São apenas interesses geopolíticos. A guerra, para mim, não é o melhor caminho. A Rússia, pela pujança, pela dimensão, pelo país gigantesco que tem, pelas riquezas imensuráveis, enfim pela presença e importância no concerto das grandes nações, talvez, pudesse, com um gesto do Presidente Putin, recuar dessa guerra e devolver a paz ao mundo. |
| R | Todos os analistas realmente se preocupam mais com as consequências, depois dessa guerra, do que, na verdade, com a própria guerra em si mesma. Então, era essa a observação e a pergunta que gostaria de fazer ao senhor. E, ao mesmo tempo, quero parabenizar, Senadora Kátia Abreu, a elegância do nosso Embaixador e dizer que a Comissão, eu especificamente, admirei bastante a sua postura. Muito obrigado. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Obrigada, Senador Francisco Rodrigues. Antes de passar a palavra para o nosso Embaixador Alexey, algumas informações aqui para aqueles que nos acompanham. O Brasil depende dos fertilizantes da Rússia em 23% - de tudo o que nós consumimos, 23% vêm da Rússia. Temos condições de estabelecer outros espaços para substituir essa importação? Eu creio que sim, mas tudo isso já foi afetado com a alteração dos preços. Nós estamos com a próxima safra totalmente comprometida com relação aos custos - além do preço dos fertilizantes, também dos combustíveis. Até que se restabeleçam novos contatos, novos comércios, novos países vendedores, isso tudo causa muito prejuízo ao Brasil. Eu só espero que daqui a adiante o Brasil tenha a consciência do risco gravíssimo que nós vivemos ao longo de décadas. Nós criamos, desenvolvemos a maior agricultura do planeta Terra, tropical, e não somos produtores dos nossos insumos, que são os fertilizantes e os agroquímicos. Isso é de uma gravidade, de uma insegurança tremenda. Mas o Brasil tem esses produtos? Claro que tem. O que nós não temos é planejamento. O que nós não temos é investimento. O que nós não temos é decisão política de produzir, no mínimo, 50% a 60% do que nós somos dependentes. A decisão política de desenvolver a agricultura foi nos anos 70. Quando nós crescemos e explodimos na produção agrícola, a segunda providência deveria ter sido esta: também sermos grandes produtores e exportadores de fertilizantes. E o Brasil pecou com isso. Eu creio que agora, diante desse sofrimento, não fomos pelo amor; agora, nós vamos pela dor, com a falta dos insumos por conta da guerra. Nós agora... Espero que a gente passar aqui algum produto no rosto e criar coragem para financiar investimentos totalmente privados para que nós possamos ser autossustentáveis. Outro número interessante é que a Rússia - a maioria dos Senadores conhece muito isso - é o país mais extenso do mundo, tem 17 milhões de quilômetros quadrados. Tem uma população de 147 milhões; o Brasil tem 213 milhões. Então, a Rússia tem menos habitantes do que o Brasil. Tem 200 etnias; predomina, claro, o idioma russo, mas nada impede a Rússia e os russos de praticarem outros idiomas. |
| R | Gostaria de registrar também, como disse o Embaixador, apenas para reforçar, que a Rússia já sofreu outros embargos muito pesados e piores, mais difíceis do que esses, e o que eu tenho conversado com os embaixadores do Brasil na Rússia, os que de lá saíram, o que lá está, é que a Rússia fez uma transformação gigantesca depois desses embargos. Essa Rússia de hoje não é aquela Rússia ainda precária, com dificuldades na questão sanitária, na sua burocracia, na pesquisa, nos insumos... Então, assim como a China, Singapura, Coreia, Vietnã, Rússia, são todos países que, na hora da dor dos embargos pesados que sofreram no passado, criaram uma nova performance de desenvolvimento. Então, isso precisa ficar registrado. Criaram, quase que simultaneamente com os americanos e os europeus, a Sputnik V, que é a vacina contra a covid. Isso apenas para exemplificar que o nível de tecnologia hoje da Rússia é um nível de tecnologia muito avançado, que não é de dez, quinze anos atrás, e essa vacina já é aprovada em 64 países. A parceria deles no Brasil é com a União Química - 100% é brasileira. Segundo a empresa brasileira, ela pode produzir até 8 milhões de doses por mês da vacina Sputnik. Sem falar da cooperação espacial, de todos os satélites moderníssimos, por meio dos quais a Rússia tem feito cooperação por toda parte do mundo. Eu quis fazer esses registros porque eu fico muito pesarosa de ver o que está acontecendo hoje no mundo, o fracasso total da diplomacia, que é uma derrota inexplicável. Inexplicável. Então, um país arrojado, um país que está se desenvolvendo, um país que está adotando tecnologia de ponta em todas as áreas, de repente virar a ovelha negra do mundo. E a Rússia não precisava disso. Como disse o Senador Esperidião, a Rússia estava no seu argumento até dar o primeiro tiro. Quando deu o primeiro tiro, perdeu todas as suas razões, porque como é que nós podemos imaginar que, no século em que nós estamos vivendo, nós vamos aceitar pacificamente uma guerra? Nós tínhamos que ter ido às últimas consequências da diplomacia, da negociação, da declaração de um Estado neutro. Nós tínhamos que ter feito isso. A Rússia tinha argumento. A Rússia tinha apelo para fazer esse debate. Quem sou eu, que não sou especialista na área? Tento compreender, tento entender, ler o máximo possível, para que nós possamos colaborar de alguma forma. Agora, não há santo nisso aqui. Não há santo. Essa guerra não é da Rússia com a Ucrânia. Essa guerra é da Rússia com os Estados Unidos. Essa é uma guerra muito maior, e nós não temos alcance sobre ela. E quem deve estar rindo e aplaudindo são os fabricantes de armas russos e americanos. Esses sim estão comemorando e loucos para que essa guerra continue. Será que nós vamos deixar que meia dúzia de cabeças do mal dominem milhares de cabeças do bem para paralisar essa guerra insana que nós estamos vivendo? |
| R | Então, Embaixador, eu dou as razões para o Senador Esperidião, porque nós não viemos aqui para julgar, nós viemos para ouvir, mas nós não podemos deixar de manifestar o nosso pesar, o nosso horror diante das imagens a que nós estamos assistindo todos os dias. Se são falsas ou verdadeiras, é o que os meus olhos estão vendo e o que o meu coração sente. Então, Embaixador, além da guerra sangrenta, com centenas, milhares de pessoas morrendo, a Rússia, infelizmente, ou felizmente, perdeu a guerra da comunicação. Essa é uma guerra gravíssima, com consequências ainda piores para médio e longo prazos. Então, eu espero, sinceramente, por tudo que a Europa, a Ucrânia, os americanos, a Rússia representam para o mundo, que possamos ter, com fé em Deus, o fim de tudo isso. E que a Ucrânia não continue lá sendo a bucha de canhão, certo? Um país extraordinário, de pessoas extraordinárias, com grande população russa lá dentro. E que esses argumentos utilizados na imprensa nacional pelo próprio Putin e repetidos pelo senhor, que é representante do país... Eu tenho o maior respeito por isso, mas, não adianta, o câncer do nazismo, o câncer do totalitarismo, isso não vai nos levar a nada, isso não é argumento para que se justifique essa invasão a que nós assistimos recentemente. O Brasil, ao contrário, muita gente criticou diante da guerra da Rússia e Ucrânia. E eu, com toda franqueza, sinceridade e isenção que procuro ter, aplaudi o Itamaraty. O Itamaraty fez seu dever de casa. Foi ao Conselho de Segurança da ONU e votou; foi à Assembleia Geral das Nações Unidas e votou, com todos os países, contra a guerra, pelo cessar fogo, fez o dever de casa. Agora, se alguém por aqui continua falando que é neutro ou não neutro, isso não me importa. O que me importa é a institucionalidade, e o Brasil, do ponto de vista institucional, cumpriu o seu papel e nós temos que reconhecer isso de toda sorte. O Brasil não é um CPF, o Brasil é uma instituição, é uma pátria, e é muito maior do que um CNPJ. Então, Sr. Embaixador, eu passo a palavra para as suas considerações. O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY (Para expor.) - Muito obrigado, Sra. Presidente, eu vou tentar responder. A primeira pergunta de um senhor do Paraná sobre o SWIFT, se foi previsto, se não foi previsto, se a Rússia foi preparada ou não preparada? Eu gostaria de fazer lembrar, mais uma vez, que, durante o ano de 2014, quando foram empreendidas as primeiras sanções contra a Rússia, nós começamos a pensar em criar um sistema de substituição, um sistema paralelo de SWIFT para garantir as transferências no sistema bancário russo. Esse sistema foi criado e, dentro do país, nós não temos os problemas alegados de transferências financeiras entre os bancos russos. |
| R | Quanto aos bancos estrangeiros, efetivamente só alguns aderiram ainda a esse sistema, e nós estamos pensando em alargar a possibilidade de transferências financeiras com os países estrangeiros, utilizando as divisas nacionais e os sistemas nacionais. O Brasil tem os seus sistemas nacionais - por exemplo, o Pix - que podem ser utilizados para os pagamentos diretos. Foi previsto, eu não quero dizer que isto é bom, que isto é mau: muitos bancos russos foram desligados do SWIFT, mas o sistema financeiro continua ativo e trabalhando no sistema dos... Se não me engano, o sistema se chama sistema dos pagamentos internos, que foi criado a partir de 2014 e agora está funcionando. Outra questão é a neutralidade da Ucrânia. Até o início da operação especial, a Ucrânia sublinhou e até adotou, na sua nova Constituição, uma norma que prevê a futura integração do país à Otan. Para nós isso é inaceitável. Nós tentamos falar, tentar convencer Bruxelas, Washington e Turquia de que não vale a pena, mas ninguém nos ouviu, defendendo que cada nação tem a sua escolha. Mas para nós o princípio básico de seguridade europeia, que se baseia no princípio de que a seguridade de um país não pode ser garantida através da diminuição da seguridade dos outros países, foi violado durante os últimos dez anos. Pronto. Neutralidade, ou, vamos dizer, os aspectos de desmilitarização tão discutidos nas conversações que levam a delegação russa e a delegação ucraniana à possível paz. Foram feitas também as questões ligadas a como será o final. Eu não posso dizer, mas, como eu já disse no início, nós estamos realizando essa operação. Os objetivos estão claros, e nós estamos resolutos de conseguir estes objetivos, porque, de outra maneira, não podemos garantir os nossos interesses. E, se me permitem, havia muita discussão sobre como será que os russos, que os ucranianos... Foi lembrada a Guerra do Crimeia, do século XIX. Eu gostaria de sugerir às pessoas que estão interessadas em ver como são as relações entre os russos e os ucranianos a leitura de um dos primeiros escritores da literatura clássica russa, que foi ucraniano, Nikolai Vasilievich Gógol. Eu penso que a leitura de Gógol, que escreveu suas obras no início, na primeira metade do século XIX... |
| R | Ele escreveu em russo, passou grande parte da sua vida em Itália e Petersburgo. Eu penso que a leitura das suas obras hoje vai dar a compreensão do que é Ucrânia, do que é Rússia e como esse conflito pode ser resolvido. Obrigado. A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - Eu gostaria de passar a palavra para a Senadora Mara Gabrilli, que está no sistema remoto, para as suas considerações. Por favor, Senadora, com a palavra. Ainda continuamos com 350 pessoas pelo e-Cidadania nos acompanhando. Eu quero agradecer imensamente o prestígio da assistência. (Pausa.) Enquanto a Senadora não entra... (Pausa.) Está ligado o microfone, Senadora Mara. (Pausa.) Calcula-se que, no total, cerca de 230 brasileiros tenham deixado a zona conflagrada com apoio direto ou indireto do Governo brasileiro. Somam 55 os brasileiros que retornaram nos voos da FAB ou que foram repatriados com recursos públicos em voos comerciais. Conforme as informações disponíveis, 19 brasileiros estariam na Ucrânia, dos quais 11 declararam não ter intenção de deixar o país; 6 são jornalistas cobrindo o conflito; 2 cidadãos, que se identificaram como ex-combatentes voluntários, indicaram estar em Kiev e solicitaram ser repatriados, um reside no Reino Unido, o outro, em Santa Catarina. Essa é a situação hoje dos brasileiros na Rússia. E o Senado tem a obrigação de informar ao país, assim como a imprensa o faz. Senadora Mara Gabrilli, por favor, com a palavra. (Pausa.) Ela está com o sinal ruim. Senador Francisco Rodrigues, deseja mais alguma consideração? Ou podemos encaminhar? O SR. CHICO RODRIGUES (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RR. Para interpelar.) - Nobre Senadora Kátia Abreu, Sr. Embaixador, é apenas por curiosidade de toda a população brasileira - e por que não dizer da população mundial? Obviamente, V. Exa. não teria como afirmar qual é a expectativa em relação a um ponto final nesta guerra, mas, se o senhor pudesse fazer uma avaliação, com a sua experiência e o seu conhecimento em relação aos interesses russos nesse conflito, eu gostaria que V. Exa. pudesse deixar aqui um fio de esperança para todos nós, porque, na verdade, acredito que o que o mundo sonha hoje é acordar com um ponto final, com um entendimento em relação a esse conflito, que tem tanto assustado ao mundo. |
| R | A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - E eu ainda complemento, Sr. Embaixador, com relação ao caminho da diplomacia russa. Nós temos algum direcionamento? Existe algum planejamento em curso? Eu sei que essas estratégias não são publicadas assim com tanta naturalidade, mas a neutralidade da Ucrânia seria suficiente ou a Rússia deseja novos territórios? Nós sabemos que a pior consequência dessa guerra é o aumento do preço dos alimentos, e, com isso, a fome, o aumento do número de pessoas famintas no mundo, além de que os países deixam de crescer, e aumenta o desemprego e o desalento por toda a parte do mundo. Então, finalmente, isto: qual o alento ou uma luz que o senhor poderia deixar aqui para nós brasileiros nesta Comissão sobre os caminhos da diplomacia e sobre neutralidade da Ucrânia? O que o senhor poderia nos dizer sobre isso? O SR. ALEXEY KAZIMIROVITCH LABETSKIY (Para expor.) - Muito obrigado pelas perguntas. Efetivamente eu não o posso prevenir o que será amanhã. Isso é bem claro. Nem depois de manhã, nem dentro de um mês. Como eu já disse, os objetivos nossos estão claros, e, para nós, esses objetivos são razão de sobrevivência, porque, caso contrário, nós temos já forte hipótese de perder a identidade, o país e a língua. A Sra. Senadora disse com toda a verdade que a Rússia é um dos maiores países do mundo. Nós não necessitamos do território. O território não nos falta, mas nós necessitamos defender a nossa gente, essa gente que fala russo, que se identifica com a cultura e a história do nosso país e do nosso povo e que foi forçada a recusar a sua identidade. Eu posso confessar que eu pessoalmente não vejo muita diferença entre o russo e o ucraniano, por uma razão muito simples: que parte da minha família é das terras que estão agora no Ucrânia. Mas eles falam russo, pensam como eu, e isso é importante, porque nós temos muitos amigos, muitos parentes, muitas ligações. Eu estou 100% convencido de que nós partilhamos os mesmos princípios da vida, seja diária, seja emocional, seja cultural. Eu já disse que eu recomendo ler as obras de Nikolai Gógol, e a sua obra maior é Taras Bulba, que dá a compreender todas essas interligações. Efetivamente cada guerra tem o seu início e tem o seu fim. Cada guerra ou cada operação militar especial deve terminar um dia, mas, como eu já disse, o objetivo nós devemos cumprir, porque esse objetivo garante os interesses do povo e do país. Vejo assim. |
| R | A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - TO) - A Senadora Mara Gabrilli gostaria de tentar, mais uma vez, a sua participação. Então, vamos lá. (Pausa.) Então, agradeço, mais uma vez, a participação das Sras. Senadoras e dos Srs. Senadores, das autoridades aqui presentes, especialmente do Exmo. Sr. Embaixador da Federação Russa, Alexey, que veio dar o prestígio da sua presença na nossa Comissão, enfrentando todas as circunstâncias, defendendo o seu país legitimamente e também ouvindo o clamor dos Senadores do Brasil, pois nós temos uma relação muito profícua com a Rússia, em termos de importação e exportação. Para se ter uma ideia, o nosso fluxo de comércio está em torno de US$7,3 bilhões. Nós vendemos US$1,5 bilhão e compramos US$5,6 bilhões da Rússia, não é pouca coisa. É uma relação profícua de comércio e nós, por essa aproximação, também nos sentimos corresponsáveis por esse transtorno, por essa guerra horrível e gostaríamos, de alguma forma, poder contribuir, poder colaborar para a pacificação dessa situação, através da Chancelaria brasileira, através de Congresso para Congresso, para que nós possamos dialogar e aproveitar a diplomacia tão eficiente dos nossos países, formados para isso, para que nós possamos chegar a bom termo. Seja sempre muito bem-vindo aqui na nossa Comissão. Agradeço a todos pela presença e declaro encerrada a presente reunião. (Iniciada às 14 horas e 49 minutos, a reunião é encerrada às 16 horas e 55 minutos.) |

