Notas Taquigráficas
| Horário | Texto com revisão |
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| R | O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Fala da Presidência.) - Paz e bem. Sob a proteção de Deus, nós iniciamos mais uma audiência pública da 2ª Sessão Legislativa Ordinária da 57ª Legislatura. Nós estamos fazendo, agora, a 13ª Reunião da Comissão de Esporte, que se realiza hoje, dia 3 de setembro. Está aberta. Tem um número regimental. Agradeço a presença de todos vocês da sempre atenciosa Secretaria desta Comissão e dos convidados que aqui estão - daqui a pouco, eu vou nominá-los. Registro que, em 1º de setembro, foi comemorado o Dia do Profissional de Educação Física, domingo agora. Esses profissionais desempenham um papel fundamental na promoção da saúde, do bem-estar, e contribuem para uma sociedade mais saudável e equilibrada. Por isso, parabenizo todos os profissionais de educação física por sua contribuição inestimável e pelo impacto positivo que têm na sociedade brasileira. A presente reunião destina-se à realização de audiência pública, com o objetivo... Eu peço a atenção das brasileiras e dos brasileiros que estão nos assistindo - nós estamos ao vivo para todo o país, não apenas na TV Senado, mas também pelas redes sociais do Senado Federal - para um fato que chocou a população brasileira, que é uma população que tem, no âmago da sua história, a defesa da liberdade de pensamento, de opinião. A gente está vivendo um momento no Brasil estranho. São tempos difíceis, de sombra, de trevas, e este assunto que nós vamos tratar hoje aqui é um assunto que comoveu as pessoas. O trabalho dignifica o homem. O Brasil é pró-vida - mesmo que não fosse -, e o brasileiro... Todas as pesquisas dos grandes veículos de comunicação mostram que cerca de 80% da população brasileira, em média, é a favor da vida desde a concepção, contra o aborto. Mas repito: mesmo que não fosse. Não se trata disso. Mas nós tivemos um fato, que foi o desligamento do preparador físico da seleção feminina de basquetebol, Diego Falcão, porque ele se manifestou, como cidadão que tem direito ao livre pensamento, à liberdade de expressão, à liberdade religiosa, ele se expressou em relação a um projeto que tramita no Congresso Nacional, colocando a sua opinião, um projeto sobre o aborto, e ele foi desligado da seleção brasileira. Isso mostra como está em frangalhos a nossa democracia, no Brasil. A que ponto chega audácia das pessoas que se dizem, que se arvoram em democráticas, que respeitam a opinião, que prezam pela pacificação... Olha os sinais dos tempos aí. E essa pessoa foi demitida por isso. |
| R | Então, o objetivo desta audiência pública é esclarecer os motivos do desligamento do preparador físico da Seleção Feminina de Basquetebol, Diego Falcão, em atenção ao Requerimento 11, de 2024, de autoria minha. Eu, neste momento, convido para tomar lugar à mesa, já que o Sr. Diego Falcão vai participar de forma remota, já está conectado conosco, desde cedo - quero agradecer ao Sr. Diego Maroja Falcão, ex-preparador físico da Seleção Brasileira de Basquetebol, que já está conectado -, o Sr. José Alves dos Santos Neto, ex-técnico da Seleção Brasileira de Basquetebol, que teve um ato de coragem, em solidariedade ao colega, e se desligou, pediu desligamento. Eu peço ao Sr. José Alves dos Santos Neto, se o senhor puder aqui ficar, já vir para a mesa, que o senhor também... Eu agradeço demais a sua presença, por você ter vindo aqui inclusive com a sua família. Quero aqui dar as boas-vindas para a Elisângela Aparecida Müller Alves dos Santos, que é a esposa, também ao Mateus Müller Alves dos Santos, que é filho, e ao Fabio Malatesta, que é irmão do Sr. José Alves dos Santos Neto, que foi chamado aqui, convidado para participar desta audiência pública. Eu informo também que foi convidado o Sr. Guy Rodrigues Peixoto Junior, que é o Presidente da Confederação Brasileira de Basketball, que não pôde comparecer a esta audiência. Inclusive, eu vou ler aqui o ofício da Confederação Brasileira de Basketball, assinado pelo próprio Sr. Guy Rodrigues Peixoto Junior, que ele envia para o nosso Presidente aqui da Comissão, o Senador Romário. Eu quero agradecer ao Senador Romário por ter colocado o nosso requerimento em votação, por ter sido aprovado por todos os colegas aqui, por unanimidade, para que a gente pudesse esclarecer esse fato que deixou intrigada a população brasileira, pelo tamanho desrespeito à liberdade de opinião, de expressão, à liberdade religiosa em nosso país. Então, ele fez a carta aqui: Exmo. Sr. Presidente, Senador Romário de Souza Faria, em nome da Confederação Brasileira de Basketball (CBB), entidade máxima de administração do Basketball no Brasil, devidamente filiada à Federação Internacional de Basketball (FIBA), apresentando os mais respeitosos cumprimentos, venho registrar meus agradecimentos e que fiquei extremamente honrado pelo convite à CBB para participar de audiência pública no Senado Federal. Parabenizo-o e aos demais Senadores integrantes da Comissão de Esporte pelos valorosos trabalhos, debates e iniciativas dessa Comissão. |
| R | Como já destacado, fiquei extremamente honrado com o convite e me esforcei ao máximo para conciliar minha agenda. Porém, em razão de compromissos institucionais anteriormente assumidos durante o mês de setembro de 2024, no exterior, não conseguirei participar da referida audiência pública. Contudo, tendo tomado ciência do teor do Requerimento nº 11, de 2024, gostaria de registrar alguns esclarecimentos necessários. De início, é muito importante frisar que, por força do seu estatuto, a CBB exerce suas competências para a direção do basquetebol nacional, empregando boas práticas de governança corporativa, sem qualquer tipo de discriminação em função de cor, raça, gênero, religião, política, procedência e/ou orientação sexual - art. 5º, alínea "que". Além disso, também por força do disposto no art. 7º de seu estatuto, abro aspas, 'A CBB atuará em defesa da dignidade humana, promoverá o bem de todos, sem preconceitos relativos à origem, identidade de gênero ou orientação sexual, cor, idade, crença e quaisquer outras formas de discriminação, sem influência política, religiosa ou econômica'. Sendo assim, é dever estatutário da CBB zelar pela neutralidade política e religiosa, pautando sempre sua atuação nos princípios da ética, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, transparência, economicidade e eficiência, bem como os demais princípios porventura existentes, definidores de gestão democrática e boa governança. Por sua vez, cabe aqui um outro importante e necessário esclarecimento sobre a relação entre a CBB e os profissionais integrantes das comissões técnicas das seleções brasileiras masculinas e femininas, adultas e de base. Diferentemente do que sugere o texto do Requerimento nº 11, de 2024, a CBB não mantém qualquer relação de natureza trabalhista com os membros de comissões técnicas. Todos os membros das comissões técnicas das seleções, tanto femininas quanto masculinas, são convocados e prestam serviços por período de convocação para competições, sem exclusividade e com prazo determinado, abrangendo apenas o período de treinamento e competição. Essas comissões são convocadas especificamente para cada evento e alterações podem ocorrer por diversos motivos, incluindo aspectos técnicos em função dos resultados alcançados. E mais: todos os profissionais ficam totalmente livres para manterem vínculos profissionais com seus clubes e outros empregadores e desenvolverem seus próprios projetos e negócios pessoais. |
| R | Confio e desejo que o ecossistema se una cada vez mais, que cada um tenha ciência da sua posição e trabalho, e respeito, principalmente, pela modalidade, lembrando a necessidade de hierarquia no basquete brasileiro. Esperamos que esta [...] Comissão do Esporte e todos os órgãos esportivos do país aproveitem mais essa chance olímpica que tivemos, e que possam, juntos, trabalhar pelo basquete e demais esportes brasileiros. Por fim, reiterando os meus agradecimentos, registro que a CBB está à disposição de V. Exa. para colaborar com os trabalhos desta [...] Comissão no debate de temas de relevância para o Basquetebol e para o esporte. Sendo o que cabia para o momento e renovando nossos protestos de mais elevada estima e consideração, permanecemos à disposição para prestar qualquer esclarecimento adicional que se faça necessário. Cordialmente, Guy Rodrigues Peixoto Júnior, Presidente [da Confederação Brasileira de Basketball]. Olha, eu li aqui esta carta inteira e confesso... Quero primeiro registrar aqui a presença do Senador Izalci Lucas, sempre muito presente em todas as Comissões aqui do Senado Federal. Quero também registrar a presença do Deputado Distrital Thiago Manzoni, Presidente da CCJ lá da Câmara Distrital, ele que tem sido muito atuante em causas, em valores da vida e da família. Eu acabei de ler aqui, Deputado, Senador e você, brasileira, brasileiro que está nos assistindo, a carta da Confederação Brasileira de Basketball. Não sei se convenceu alguém. A mim não convenceu. A mim não convenceu, pelo contrário. Se está fora do Brasil, poderia, em respeito, como diz que respeita a nossa Comissão de Esporte, que tem tudo a ver com o assunto, poderia entrar, como vai entrar daqui a pouco o Sr. Diego Falcão, de forma remota, para esclarecer isso. É lindo o estatuto da CBB aqui. Lindo. Gostei demais. Dá até para copiar e colocar em estatutos pelo Brasil afora, mas me parece que não foi cumprido o que está aqui. Eu não entendi sinceramente a justificativa. "Ah, mas não existe relação trabalhista", "existe respeito às posições de todas as ordens políticas, religiosa e tal", mas não foi isso que aconteceu. E nós vamos insistir. Já que ele se colocou à disposição para vir aqui em outro momento, independentemente do que possa ocorrer nesta sessão, nós vamos... eu vou insistir nisso, porque a verdade está muito na cara. A verdade está muito na cara e a população quer saber. As entranhas estão aí, a gente precisa saber a verdade. Se existiu uma injustiça nesse caso, ela precisa ser reparada, no mínimo. E o esporte é que perde com isso. A liberdade de expressão e liberdade de opinião é que são sacrificadas com esse tipo de postura de um país que deveria ser livre. Agora, você pode ter certeza - uma conclusão minha -, se fosse uma manifestação a favor do aborto, teria era tido aí um... |
| R | (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Uma promoção. É certo isso? Então nós vamos sequenciar aqui, e eu informo, antes de passar a palavra para os nossos convidados aqui, eu comunico que esta reunião será interativa, transmitida ao vivo e aberta à participação dos interessados por meio do Portal e-Cidadania, na internet, no endereço www.senado.leg.br/ecidadania, ou pelo telefone 0800 0612211. Repetindo, para você entrar, já tem vários comentários chegando aqui, tá? Eu vou ler todos os comentários aqui. Já tem, o brasileiro já participando desde cedo, para você ver como esse assunto incomoda. E se você quiser mandar sua pergunta, fazer seu comentário, você entra no www.senado.leg - tudo junto - .br/ecidadania, tudo junto, ou pelo telefone 0800 0612211. O relatório completo, com todas as manifestações, estará disponível no portal, assim como as apresentações que forem utilizadas pelos expositores. Na exposição inicial, cada convidado poderá fazer uso da palavra por até 15 minutos. E aí, claro que tem a tolerância aqui da Presidência. Ao fim das exposições, a palavra será concedida aos Parlamentares inscritos para fazerem suas perguntas ou comentários. Deputado Thiago Manzoni, o senhor também terá a palavra facultada se quiser utilizar, tá? O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Presidente Girão. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Claro, Senador Izalci, o senhor tem a palavra. O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF. Pela ordem.) - Eu vou pedir a V. Exa. para que eu possa falar rapidamente sobre esse assunto, porque eu vou presidir agora a reunião aqui na Comissão de Ciência e Tecnologia, mas eu não poderia deixar de passar aqui, primeiro para elogiar V. Exa. com relação a ontem, à sessão de ontem, em que V. Exa. deu realmente a palavra para todos os Deputados que aqui estavam, mesmo tendo sido alertado pelo Presidente, ou pela cúpula aí do Senado, sobre a questão regimental. Nós sempre fomos tratados muito bem na Câmara Federal. Todas as vezes que V. Exa., e eu também estive lá nas sessões solenes, nós tivemos oportunidade de falar, manifestar e, muitas vezes, a maioria delas, tendo inclusive o privilégio de falar antes mesmo dos Deputados. Então a gente é muito bem tratado e tem essa relação muito boa com a Câmara Federal. Então uma posição do Presidente do Senado como ontem seria realmente... E como nós ficamos indignados com essa posição. Então, parabéns a V. Exa., que, independentemente de qualquer coisa, abriu a palavra para que todos pudessem se manifestar. Nós estamos vivendo um momento muito difícil no Brasil, não é? V. Exa. tem sido um baluarte na defesa realmente da manifestação, da liberdade de expressão. O Supremo cometendo abusos claros contra a liberdade. E eu vi o Vice-Presidente da República dizendo que, no Brasil, tem que cumprir as leis. Temos, sim, todos nós, ninguém está acima da lei. Mas a Lei Maior é a Constituição. Então o Supremo, que deveria ser o guardião da Constituição, hoje é o que menos a cumpre. E tem vários pontos realmente em que o Supremo está extrapolando. Então nós precisamos reagir a isso. Da mesma forma que aconteceu agora com o nosso José Neto, realmente a gente tem que ficar indignado mesmo. |
| R | Não podemos aceitar esse posicionamento que foi feito em função de uma manifestação cidadã. Nós temos todo o direito de fazer a defesa daquilo em que a gente acredita. Então, parabéns pela iniciativa da audiência pública, a gente não pode deixar passar em branco isso. Chega já de ideologia nas escolas! A educação já vem sofrendo há anos com isso, e o esporte também não pode, neste momento, ter esse tipo de posicionamento. Minha solidariedade a você, a todos aqueles que pensam diferente daquilo que o Presidente da Comissão pensa, mas parabéns pela iniciativa. Eu vou presidir ali, mas, se der tempo, eu ainda volto aqui, porque eu convoquei a Ministra da Ciência e Tecnologia para falar um pouquinho sobre a questão de inteligência artificial, porque vão usar inclusive o fundo de uma luta nossa imensa de muitos anos, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, espero que eles não consumam esse recurso tão importante para a pesquisa no Brasil. Então parabéns a V. Exa. e desejo realmente muito sucesso nesta audiência. Cumprimento aqui o meu amigo Thiago Manzoni também, que participa realmente das grandes manifestações, posicionando-se muito bem na Câmara Legislativa, onde tem realmente o espaço para falar. Parabéns, Manzoni. Obrigado, Presidente. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito obrigado, Senador Izalci Lucas. Já deixo aqui de sobreaviso o Sr. Diego Falcão. Em instantes, passo-lhe a palavra. Ex-preparador físico da Seleção Brasileira de Basquetebol que está no exterior, não é isso? (Pausa.) Ele está na Austrália. Vixe, Maria! Uma hora dessa lá... Se aqui são quase dez horas da manhã, lá são dez horas da noite. Nós vamos passar já, já. Já, em instantes. Vamos lá. De acordo com o Requerimento nº 11, de 2024, de minha autoria, aprovado por esta Comissão de Esporte no último dia 10 de julho, realizamos hoje esta sessão de audiência pública com o objetivo de esclarecer os motivos do desligamento do preparador físico Diego Falcão da Seleção Brasileira Feminina de Basquete. Diego Falcão é um profissional competente, vencedor em sua profissão. É preparador físico especializado em fisiologia do exercício. Sempre atuando na modalidade esportiva do basquete, trabalhou no time do Joinville, no do Flamengo e no do Levanga, este último time é japonês. Trabalhou na Seleção Brasileira Feminina de Basquete em duas oportunidades. Com suas equipes, conquistou quatro títulos brasileiros: um pelo Flamengo; um pelo campeonato sul-americano; um campeonato mundial; além de duas medalhas de ouro em jogos pan-americanos, uma pela Seleção Brasileira de Basquete Masculino e outra pela Seleção Brasileira de Basquete Feminino. Eu citei os dados profissionais de Diego Falcão para que conheçamos melhor o personagem do qual vamos falar nesta audiência, mas quero lhes dizer que não tem a menor importância se o preparador físico é ou não é um profissional competente e vencedor, pois Diego Falcão não foi demitido por questões de performance técnica, mas por um post em seu próprio Instagram, em uma rede social. |
| R | Aqui tratamos da suposta perseguição a um cidadão brasileiro em razão de sua opinião. Digo suposta porque o objetivo desta sessão é justamente esclarecer o que se passou com Diego Falcão. Vamos apurar, queremos entender o caso, pena que nós não temos aqui o Presidente da Confederação Brasileira de Basketball para deixar a coisa mais... para jogarmos luz nessa situação, mas nós vamos insistir, como eu falei há pouco. Porém, de início, eu digo que parece tratar-se de perseguição mesmo por opinião. No caso específico, perseguição por opinião de caráter moral e religioso. Os indícios do caso, salvo melhor juízo, apontam para esse entendimento. A perseguição teria ocorrido por meio da demissão do profissional. Demissão realizada pela Confederação Brasileira de Basketball (CBB), que é uma entidade filiada ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), o qual, por sua vez, é uma pessoa jurídica de direito privado que recebe dinheiro público, distribuindo parte dos recursos entre as entidades a ele afiliadas. Ora, senhores, o fato de receber dinheiro público faz toda a diferença. Ao receber repasses de dinheiro público, cerca de 2% dos lucros da loteria federal e daqueles obtidos com outros jogos de azar administrados pela União, o COB passa a sujeitar-se legalmente à fiscalização do Tribunal de Contas da União e deve seguir alguns princípios fundamentais de direito público, especialmente os listados no art. 37 da nossa Constituição, entre eles os princípios da publicidade e da impessoalidade. A CBB, que recebe transferência de dinheiro de origem pública por intermédio do COB, tem que observar as mesmas restrições legais. Portanto, a demissão de um profissional pela CBB em razão de um delito de opinião, abro aspas, "delito que não existe em nosso ordenamento jurídico", não somente é imoral, mas também é ilegal. Faço, mais uma vez, a ressalva, se foi isso que realmente se deu, vamos apurar. Em solidariedade ao preparador físico demitido, o técnico da seleção brasileira feminina de basquete, José Neto, pediu também demissão. José Neto era técnico da seleção desde 2019 e trabalha há 17 anos com Diego Falcão. José Neto foi bicampeão dos Jogos Pan-Americanos e campeão do Sul-Americano. Declarou o ex-técnico da seleção José Neto o seguinte, abro aspas: "[...] a intolerância religiosa está vencendo o profissionalismo. E eu acho que nem no esporte nem no Brasil pode ser assim", fecho aspas. Como sabemos, o preparador físico Diego Falcão foi demitido após publicar comentários em suas redes sociais contra a legalização do aborto. Ocorre, senhores, que dezenas, repito, dezenas de milhões de brasileiros são contra a legalização do aborto. Em pesquisa recente, verificou-se que mais, cerca de 80% dos brasileiros são contra, e não só por serem cristãos. Deveriam ser todos, por isso, cancelados e demitidos de seus empregos? |
| R | Um detalhe: nós somos a maior nação católica do mundo! A maior nação espírita do mundo! A segunda maior evangélica - já quase atingindo o topo - do mundo! O Brasil, olha que país fantástico, não é? Todo mundo se relaciona bem, e nós temos um negócio desse acontecendo aqui. Eu mesmo, também, sou contra a legalização do aborto. Penso, assim, por uma profunda convicção de que matar uma criança indefesa, no ventre de sua própria mãe, é uma violência sem igual, não só para o bebê, mas com sequelas emocionais, psicológicas, mentais e até físicas para a mulher. São duas vidas que estão em jogo. A ciência já mostra isso, universidades do mundo já apontam, e é por isso que incomoda muito esse assunto. Eu peço até para a Alexia, que está aqui, se puder trazer aquele bebezinho para mim, porque o que é importante a gente entender? O brasileiro já despertou para esse assunto. Não é uma coisa meramente religiosa, não. As ciências e as estatísticas sociais já demonstram que tem um coração batendo com 18 dias da concepção. É um carocinho de feijão, de arroz e já tem um coração batendo. A British Psychiatry, que é uma das maiores revistas de ciência do mundo, coloca o seguinte: a mulher que pratica o aborto, em relação à mulher que não pratica o aborto, tem uma propensão maior a desenvolver problemas de depressão, síndrome do pânico, ansiedade, envolvimento com álcool e drogas, e suicídio, que é a grande pandemia deste momento. Então, nós temos que falar desse assunto! Nós temos que tirar, de debaixo do tapete, esse assunto e falar para, de alguma forma, colaborar, para poupar o sofrimento das mulheres e salvar a vida de crianças. Aí a gente tem uma caçada implacável a quem se posiciona sobre esse assunto em pleno século XXI. Então, eu pergunto a vocês que estão nos assistindo, brasileiras e brasileiros que estão aqui conosco: defender a vida, desde a concepção, ou manter qualquer outra opinião não abraçada pela agenda dita progressista virou crime, hoje, no Brasil, com punição de demissão sumária? É isso? Imagina se fosse o inverso, 80% pró-aborto... Não existe, não é? O mundo todo está voltando atrás disso aí, porque a ciência está avançando, e as nações estão ficando cada vez mais pró-vidas, mas é loucura isso. Dizem os jornais que duas atletas do basquete foram decisivas para a demissão do preparador físico, Damiris e Clarissa. Inconformadas com a opinião publicada por Diego Falcão, pressionaram a CBB pela demissão imediata do preparador físico. |
| R | Se isso é verdade, eu quero dizer que é surpreendente que duas atletas mandem numa confederação com tanta história, a ponto de forçar uma demissão fundada em intolerância religiosa e em delito de opinião. Quero dizer também que eu respeito - não concordo, mas respeito - a opinião das duas jogadoras de basquete, que certamente são a favor da legalização do aborto. Se, porventura, essas duas atletas tivessem sido dispensadas da seleção de basquete porque, sendo elas a favor da legalização do aborto, encontrassem pela frente algum dirigente poderoso, pró-vida, que fosse contra o aborto e que não tolerasse opiniões divergentes, olhem, eu com certeza estaria aqui hoje, nesta mesma Comissão, querendo saber se Damiris e Clarissa foram perseguidas por delito de opinião. Isso vale para a política também. O que está acontecendo - fazendo um parêntese aqui - com o pessoal que é conservador e de direita no Brasil, é uma sanha de perseguição, mas é violentíssima. Está aí, o mundo todo sabendo, com a liberação dos arquivos do X, Twitter Files, com tudo que a gente está vendo. É sempre o pessoal da direita e conservador, você pode ver, sempre. Mas você pode ter certeza - e a gente sabe que isso vai acontecer numa ditadura, a metralhadora está voltada para cá; daqui a pouco, vem para cá - que eu estaria na linha de frente; você pode ter certeza. Eu sou conservador, sou de direita, mas se tivessem petistas aqui, se tivessem gente de outros partidos de esquerda sendo perseguidos, eu estaria na defesa, porque é uma questão de princípio, de coerência. Eu concluo este discurso de abertura, senhoras e senhores, citando o inciso IV em sua totalidade, o inciso VI e o inciso VIII em sua parte inicial, todos eles inscritos no art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil: "IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença [...]; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política [...]". Ora, mais claro do que isso... É claro como o sol isso aqui. Por vezes, não gostamos da opinião do outro e não concordamos com ela, mas, como pessoas civilizadas e verdadeiramente democráticas que somos, devemos conviver com as diferenças de opinião. A contraposição à opinião que nos desagrada deve dar-se no âmbito do debate público e não por meio de censura, de perseguição, de arbítrio, de demissão. Eu passo imediatamente a palavra agora ao Sr. Diego Maroja Falcão, Ex-Preparador Físico da Seleção Brasileira de Basquetebol, que, da Austrália, vem participar da sessão respeitando o Senado Federal, atendendo a um convite do Senado Federal, para que a gente possa discutir sobre um assunto que comoveu e ainda comove a sociedade brasileira. |
| R | Dr. Diego, Sr. Diego, muito obrigado pela sua presença. O senhor tem a palavra por 15 minutos, com a tolerância desta Presidência. O SR. DIEGO MAROJA FALCÃO (Para expor. Por videoconferência.) - Bom dia, Senador Eduardo Girão. Bom dia a todos presentes. Bom dia a todos os Deputados que fizeram com que isso pudesse acontecer. Bem, eu vou tentar ser breve, mas, antes de utilizar o meu direito constitucional da liberdade de expressão, e antes de falar da intolerância religiosa, e antes de falar da censura, eu quero falar um pouco para todos vocês - eu sei que muitas pessoas não me conhecem - para entenderem o caso de como um esporte, até que ponto chegou, e para entenderem também como nós chegamos à Confederação Brasileira de Basquete, para ter um discernimento, para ter uma coerência, nas ações que eu vou citar aqui. Bem, primeiramente, eu sou preparador físico, como já foi citado. Eu sou católico apostólico romano, sou casado, tenho uma família muito bem estruturada. Sou pai de dois filhos, da minha filha Maria Eduardo e do meu enteado Pedro Augusto. Eu sou paraibano, nascido e criado em João Pessoa. Eu sou educador físico. O basquete me deu tudo o que eu tenho na vida. Então, o que eu sou na vida eu devo diretamente ao que o basquete me deu. E é por isso que eu venho falar de como nós podemos direcionar e como isso tem um impacto social tão grande. Eu, por influência do meu pai, quando joguei, fui atleta de um nível amador, mas eu tinha um sonho de disputar a Olimpíada. E, quando eu vi, em 1992, aquele arqueiro na Olimpíada de Barcelona, acendendo aquela pira olímpica, aquilo ali foi um despertar do meu sonho. Eu disse: eu quero ser medalhista de ouro olímpico e quero disputar a Olimpíada. Então, eu tentei ser atleta, mas por motivos técnicos não tive condições. Resolvi estudar para trabalhar e agregar às pessoas. Então, esse meu sonho vem desde João Pessoa. Eu me formei em Educação Física. Quando eu me formei, automaticamente já fui para São Paulo para estudar a fisiologia do exercício. O basquete me deu todo o estudo. Eu estudei com bolsa durante a minha fase de estudante, por condições técnicas. Então, eu devo muito do que eu tive no estudo ao basquete. E, depois, eu fui estudar para tentar agregar os outros e também conquistar meu objetivo. Bem, eu estou falando isso para vocês entenderem qual é o nosso propósito. Quando eu falo o "nosso", é o meu e o de José Neto que está aí, que é meu irmão, meu amigo, meu parceiro, que trabalha comigo há 17 anos. Depois que eu fui para São Paulo, eu estudei fisiologia de exercício na Escola Paulista. Eu trabalhei em todas as categorias de base e cheguei à seleção masculina de basquete em 2008; ficando, de 2008 até 2016, nesse ciclo olímpico. Eu e José Neto trabalhamos nos últimos cinco ciclos olímpicos, de Pequim, Atenas, Rio, Paris (2008, 2012, 2016, 2020), e nesse agora. Nos cinco ciclos olímpicos nós trabalhamos. Bem, nós pegamos uma fase de construção do basquetebol masculino em que o basquetebol masculino estava morto. Nós fizemos parte da comissão junto com o Moncho Monsalve, que é o espanhol, e o técnico Rubén Magnano na reconstrução do basquete masculino. |
| R | Depois disso, nós passamos por inúmeros projetos, como o Joinville, o Flamengo, como na África - nós ficamos três anos -, fazendo uma reconstrução e mudando a cultura desportiva. Bem, mas por que eu estou falando isso? Eu estou falando isso porque quando o Neto, como head coach, foi convidado para fazer parte da seleção brasileira de basquete feminino - nós, até então, éramos do masculino -, quando ele foi convidado, chocou o meio do basquete. Então, foi inusitado. Por quê? Porque pelo mesmo período negro que o basquete masculino passava, o basquete feminino estava passando. Hoje, o basquete masculino vive outra realidade, inclusive foi homenageado na Casa, no Congresso, nos últimos dias, porque foi sétimo colocado na Olimpíada de Paris. E o basquete feminino vinha nesse cenário negro também, nesse cenário pesado, sem muita autoridade e, cada vez mais, despencando, quase - como nós falamos no esporte - em extinção. Bem, depois que nós saímos do masculino e Neto foi convidado - eu fui uma das pessoas que mais incentivei José a aceitar o convite do basquete feminino -, nós sabíamos que, financeiramente, não tinha vantagem nenhuma, até porque a gente já tinha 20 anos de esporte de alto nível, a gente já tinha uma carreira consolidada. O propósito de ir para a seleção brasileira feminina era um propósito... Claro, a gente sempre quer ganhar dinheiro, mas o propósito prioritário era: "vamos mudar esse basquete, para a gente ganhar nossa medalha olímpica". Eu, com o meu sonho da medalha olímpica, fiz: "vamos juntos, vamos trabalhar e fazer esse ciclo". Já que era o final do ciclo de Tóquio, a gente iniciou o final para o início de Tóquio, para realmente encarar o projeto 2024. Pois bem, quando nós iniciamos esse projeto de 2019, a seleção brasileira de basquete feminino estava na 15ª posição no cenário mundial. O Brasil fazia 28 anos que não ganhava um Pan-Americano. Nós não tínhamos nível técnico e nem impacto internacional nenhum. Na última olimpíada nós não havíamos ganhado nenhum jogo. Então, com esse impacto negativo, nós fomos contratados e fomos convidados para mudar esse cenário. Pois bem, e por que eu estou falando isso? Eu estou falando isso porque o cenário hoje, depois que nós assumimos a seleção brasileira de basquete feminino, com o cenário completamente alterado, nós saímos da 15ª posição para a 8ª posição. Nós ganhamos um AmeriCup, nós ganhamos um Sul-Americano e nós ganhamos dois Pan-Americanos seguidos. Bem, com isso aí, nós falamos dos títulos. O basquete feminino voltou a um cenário nacional para ganhar. Então, teoricamente, a nossa demissão, a minha demissão, no caso, não foi uma demissão por resultados desportivos. Então, a gente pensa: se não foi por resultado desportivo, foi por causa de quê? Pois bem, mesmo sabendo o quanto nós evoluímos, o quanto nós evoluímos no basquete no cenário internacional, também vale salientar que nós não conseguimos ir para a Olimpíada, mas nós não conseguimos ir para a Olimpíada porque houve uma mudança num regulamento. Inclusive a FIBA (Federação Internacional de Basquete) reconheceu que houve um erro quando alteraram o regulamento da Federação. Antigamente, quando nós disputávamos a Copa América, o Brasil nem ganhava, nós ganhamos. |
| R | Antigamente, quando nós disputávamos a Copa América, o Brasil nem ganhava, e nós ganhamos. A Fiba mudou o regulamento e nós ganhamos, mas, infelizmente, com a alteração do regulamento, nós caímos numa chave muito forte - disputando todos os jogos de forma duríssima -, inclusive com a equipe da Austrália, para a qual nós perdemos no último minuto, num jogo totalmente disputado, inclusive no Brasil, no Pará. Nós não ganhamos e a equipe da Austrália ganhou a medalha, em Paris, ou seja, nós mudamos o nível do basquete feminino. Então, claramente, se você colocar nos números, na métrica, nossa demissão não pode ser pelo nível do basquete, porque no nível do basquete nós evoluímos: nós evoluímos tecnicamente, nós evoluímos taticamente, no ranking nós evoluímos, na percepção do mundo do basquete nós evoluímos. Descartando todo o cenário e colocando todo o impacto do nosso trabalho, foram seis anos trabalhando, claro, como o senhor mesmo leu, utilizando apenas diárias, com o nosso propósito de fazer um ciclo olímpico e de ganhar uma medalha olímpica, que era o nosso propósito. Por isso, nós trabalhamos seis anos diariamente, mesmo sem um salário ou um contrato fixo, entendeu, e, mesmo assim, nós chegamos a um nível alto. Pois bem, depois, vindo para a minha vida, eu sou católico apostólico romano. Eu sempre, sempre, falei sobre a Pró-Vida e nunca vou me omitir. Se você pegar os meus posts no Instagram, estão sempre com o Pró-Vida, sempre, sempre falando da religião, sempre falando de Deus, sempre falando das coisas boas da vida e sempre falando do esporte íntegro. No dia 20 de junho, eu fiz uma publicação num post do padre Paulo Ricardo, que é um padre que admiro demais; depois, coloquei um post em Madre Teresa de Calcultá falando que a terra que aprovasse o aborto seria uma terra infeliz. E, depois, eu fiz um post sobre a mãe de Cristiano Ronaldo falando que desistiu do aborto e nasceu Cristiano Ronaldo. Pois bem, isso eu sempre fiz, inclusive nos seis anos da confederação, que eu participei. Eu postei sempre sobre isso e fiz questão de falar e de identificar todos os posts quando eu fiz o meu vídeo relatando isso. Bem, depois que eu fiz esse post - isso foi numa quinta-feira -, na sexta-feira começaram a chegar muitas mensagens no meu celular de pessoas que eu não conhecia falando de forma negativa e agressiva comigo. Nós sabíamos que no basquete feminismo existem alguns sites que não têm expressão nenhuma, mas dos quais o basquete feminino se alimenta... Esses sites têm ideologias. Entendeu? A gente sabia disso e nós sempre trabalhamos, isso nunca mudou nada na nossa vida, porque não tem impacto nenhum na nossa vida. A gente, como preparador físico, nós só avaliávamos tecnicamente, era uma avaliação desportiva, não tinha raça, gênero, opção sexual. Nada disso influenciava na nossa vida, então era exclusivamente a habilidade, o nível técnico. |
| R | Depois disso, o Neto, como head coach, como a pessoa responsável, recebeu algumas ligações de pessoas da Confederação dizendo que tinham recebido da Diretora Roseli Gustavo que, com o que eu tinha postado, as meninas, as atletas tinham ficado indignadas. As atletas, por infelicidade, comeram uma isca pesada do site da ideologia e falaram muito mal da minha pessoa, sem comentar nada, sem citar nenhuma relação comigo. Elas falaram apenas do que aconteceu e começaram a criticar e a fomentar isso. Então, vindo de pessoas que me conhecem, que conhecem o meu dia a dia, conhecem a minha índole, conhecem o meu direcionamento, vindo dessas pessoas, os sites começaram a fomentar tudo aquilo que as atletas estavam repostando. Isso criou um engajamento negativo muito grande e muita gente veio me criticar no meu Instagram. Pois bem, na sexta-feira, o Neto já tinha conversado com algumas pessoas da confederação, uma delas sendo a Roseli Gustavo, também o Marcelo, o Vice-Presidente, e, muito possivelmente, o Guy Peixoto... Não; com o Guy Peixoto ele não conversou, mas com o Marcelo e a Roseli, para avaliar, para entender, e para dizer que eu seria demitido. Já que eu não tinha contrato, seria afastado da confederação, porque tinha feito esse post. Pois bem, nesse post, eu exerci a mesma liberdade de expressão mencionada pelo Senador Eduardo Girão, antes de começar a audiência; eu exerci o mesmo poder que as atletas também exerceram. Elas fizeram a opinião delas, e eu coloquei o meu contraponto, com a minha liberdade de expressão. Não fiz nada mais do que isso, entendeu? E falei apenas pró-vida. Pois bem, depois que eu comecei a falar isso, como a gente fala no esporte, a "rádio peão", ou seja, as pessoas que conhecem os bastidores falaram que eu seria demitido, e aquilo gerou um impacto muito grande no basquete: como é que você vai demitir Diego, com o trabalho que a gente vem fazendo, há seis anos, fomentando o basquete, desenvolvendo? Pois bem, no sábado pela manhã, eu recebi, de forma inesperada, quer dizer, eu esperei porque já tinha escutado a "rádio peão" falar que eu seria demitido, mas não recebi nenhum comentário oficial, nenhuma ligação, nada. Eu recebi pelo Globo.com, que foi o primeiro site de esporte que anunciou a minha demissão. Então, eu fui informado pela internet. Pois bem, depois que eu fui informado pela internet, criou-se aquela volúpia, porque, como o senhor mesmo falou, o Brasil é majoritariamente pró-vida, e depois disso, as pessoas que lutam pró-vida, que lutam a favor da vida, que lutam por um direcionamento do bem começaram a fomentar o meu nome e a ficarem indignados com tudo o que o senhor já mencionou antes de começar a audiência. Pois bem, depois que essa onda do bem engoliu a onda do mal, foi criado um impacto gigantesco. E, claro, nas minhas redes sociais, em que eu tinha 13 mil seguidores, no máximo, e no esporte, onde eu tenho um impacto muito grande, de forma interpessoal, um impacto no dia a dia com o atleta, depois que foi criado isso, eu comecei a ganhar muito engajamento, ganhar voz, e isso não mudou nada. Porque a mesma coisa que eu sempre falei, sobre pró-vida, sobre Deus, sobre fazer o bem, sobre a corrente do bem, tudo que eu falei começou a potencializar. Pois bem, depois que começou a potencializar isso, assustou a direção da confederação brasileira, e eles ficaram impactados. |
| R | Sendo assim, no sábado à noite, a Roseli Gustavo me ligou, para confirmar o meu afastamento, e eu perguntei por que estava sendo afastado, se era pelos posts que eu tinha feito. Ela falou que não, que era pela situação que eu criei. Eu falei: "Mas eu criei que situação? Eu trabalhei errado?"; "Não"; "Eu tive alguma parte, no direcionamento do basquete, eu tive alguma parte de agressão, em algum relacionamento com atletas?"; "Não". Eu disse: "Então, você está me demitindo, ou seja, me afastando, pelo post que eu fiz". Ela: "É. Estou o afastando porque não existe mais clima para você trabalhar com elas". Eu disse: "Bem, isso é muito delicado. Isso vai ser uma intolerância religiosa. Isso é censura. Isso é você estar tirando a liberdade de expressão, que é um direito constitucional que eu tenho, e, se você fizer isso, vai ficar ruim, porque nem a sociedade, nem o esporte, ninguém pode direcionar dessa forma". Pois bem, eu acho que já deu o meu tempo, aqui, agora. Os fatos foram esses. O impacto que foi direcionado no esporte, no basquete foi esse, e estou aqui para esclarecer qualquer dúvida que vocês tenham aí, mas o que aconteceu, de fato, propriamente dito, foi isso, Senador Eduardo Girão. Muito obrigado pela palavra. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muitíssimo obrigado, Sr. Diego Falcão, ex-preparador físico da Seleção Brasileira de Basquetebol. Enquanto o senhor estava falando aí... Ele está, Rodrigo, na Austrália, e fez questão de participar. Lá o horário é totalmente o inverso, lá já são dez da noite, quase. Aliás, já são dez da noite, e ele está participando conosco nesse assunto que comoveu a população brasileira. Se fosse o inverso, o mundo teria caído. Se tivessem demitido... E a gente estaria defendendo aqui! Mesmo se fossem pessoas pró-aborto, abortistas que tivessem sido punidas por sua opinião, nós estaríamos defendendo essas pessoas, porque nós defendemos a liberdade de expressão, mas, se fosse o inverso, já que nós temos 80% da população pró-vida, e tivesse acontecido uma punição dessa do outro lado... Ah, meu amigo, era o assunto da mídia o tempo todo, era para acabar, era perseguição... Nós acabamos de ouvir um cidadão brasileiro que tem uma competência comprovada dos resultados, desde que assumiu, com a sua equipe. Está outro membro, aqui, que é o José Alves dos Santos Neto, que, em solidariedade, se demitiu, pela perseguição do colega. Eu fui Presidente do Fortaleza Esporte Clube. Eu não sabia que o Sr. Diego era paraibano. Eu gosto muito da terra dele, João Pessoa. Você é de onde, José? O SR. JOSÉ ALVES DOS SANTOS NETO (Fora do microfone.) - Sou de Itapetininga. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Do interior de São Paulo, Itapetininga. Eu sou nordestino, igual ao Diego Falcão. Fui Presidente do Fortaleza Esporte Clube e entendo, perfeitamente, o que ele coloca. Sabe, eu digo que a bola não entra por acaso, não entra por acaso. Então, quando você estava fazendo o trabalho, com a verdade, com ética, estava dando tudo certo. Quando a gente vê esse tipo de situação acontecer, por uma ideologia, ser demitido, ser desligado por isso, a gente... O resultado não foi bom nas nossas Olimpíadas. Entendeu? Não é por acaso. |
| R | Uma coisa que eu digo para o Diego e para quem está nos assistindo: nós cristãos, dois mil e tantos anos atrás - há 2.024 anos -, éramos jogados aos leões, Deputado Thiago Manzoni, pelos nossos valores, pelo que a gente defendia, pelo nosso testemunho. A gente era jogado aos leões nas arenas, que, traçando um paralelo, são os campos, são as arenas esportivas hoje. Nós éramos jogados ali, e era aquela situação. Hoje, tem um processo civilizatório; hoje, nós somos cancelados, nós somos censurados, somos perseguidos, os leões são outros, não é? Mas a verdade vai prevalecer, a gente sabe disso. O importante é estar em paz com a consciência e buscar a justiça; que a justiça seja para todos. Então, minha solidariedade, Diego Falcão, a você. Aquilo marcou muito a mim e à minha família também, como aconteceu uma comoção e ainda acontece uma comoção por esse fato que mancha a história da Confederação Brasileira de Basketball, mancha a história do esporte brasileiro. Nós estamos na Comissão certa para debater isso, a Comissão de Esporte, uma Comissão que foi iniciada num Senado Federal com 200 anos. Nós estamos completando os 200 anos do Senado neste ano, 2024, olha a coincidência - que não existe, é "jesuscidência" -: esta Comissão começou este ano; ela foi instaurada este ano, por liderança do Senador Romário; a assessoria dele está aqui. O Senador Kajuru é o Vice-Presidente. O Presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, autorizou a abertura desta Comissão, porque lá na Câmara dos Deputados já tem uma Comissão do Esporte há muito tempo, e aqui não tinha, então foi... Eu faço parte desta Comissão, tem outros colegas, e é impressionante como isso traz toda a podridão que está por baixo do pano: ela vem, e vem no esporte, que foi feito sabem para quê? O esporte foi concebido para unir, para entreter, para o lazer, para uma vida saudável, para não ter diferenças, para que a gente seja tolerante... E acontece o inverso. Mas vamos continuar aqui, agradecendo, mais uma vez, ao Diego Falcão, pela sua participação direto da Austrália. Tem umas perguntas, se o senhor puder ficar mais um pouco... Eu sei que já vai entrar, mas tem umas perguntas que chegaram aqui da população, tem umas que eu também gostaria de fazer para o senhor, de algum outro Senador, se puder; Deputados também vão ter a palavra, e é uma audiência pública, quem quiser se manifestar aqui está à vontade também. O Rodrigo está se inscrevendo, o Rodrigo Marinho. Vou passar a palavra agora para o José Alves dos Santos Neto, ex-Técnico da Seleção Brasileira de Basquetebol, que teve um ato de coragem, de solidariedade ao colega: ele pede demissão do seu trabalho, também, pela injustiça flagrante que aconteceu com o colega. O senhor tem a palavra por 15 minutos, com a tolerância da Presidência. Muito obrigado pela sua presença aqui. |
| R | O SR. JOSÉ ALVES DOS SANTOS NETO (Para expor.) - Bom dia a todos. Quero, na pessoa de V. Exa., Senador Eduardo Girão - é um prazer estar nesta Casa -, agradecer a oportunidade de poder esclarecer esses fatos que recentemente aconteceram. Mas, acima de tudo, quero agradecer muito também por poder vir aqui e mostrar um pouco dos valores que a gente tem e que nos levaram a poder ter os resultados tão expressivos que nós tivemos. Eu vou falar um pouco, começando por falar um pouco sobre aquilo que eu sou, porque, na verdade, quando você tem uma busca, quando você faz uma busca na internet, as respostas, os resultados sempre vêm daquilo que eu fiz, e não exatamente daquilo que eu sou. E eu acho que é muito importante agora fundamentar, para que as coisas sejam bem esclarecidas, o porquê das tomadas de decisões que nós temos, porque, na verdade, nós tomamos decisões baseados naquilo que nós somos. Então, quero esclarecer, quero deixar bem claro aquilo que eu sou, que, muitas vezes, não aparece na internet, nas buscas, porque se nas buscas de internet se colocar o meu nome, "José Neto e Basquete", vai aparecer lá multicampeão, vai aparecer campeão disso e daquilo, mas poucos sabem aquilo que eu sou e de onde eu vim. E fazendo um pouco também uso das palavras de um médico que trabalhou comigo lá no Flamengo, o Dr. Cardone, ele dizia o seguinte... Quando nós ganhamos o título de campeão mundial lá com o Flamengo, o que era uma coisa impensável, a gente bateu o Maccabi Tel Aviv, que era o campeão da Euroliga, e a gente conseguiu esse título, um título inédito para o Flamengo - já tinha sido campeão mundial o Sírio, mas depois, muitos anos depois, nós conseguimos isso com o Flamengo -. E ele depois falou assim: "Olha, é muito difícil chegar aonde nós chegamos, mas é muito mais difícil e tem muito mais valor chegar aonde nós chegamos, saindo de onde nós saímos". Então, acho que é muito importante contextualizar de onde saímos, não é? E quero dizer um pouco quem eu sou. Eu sou, como eu já falei anteriormente - o senhor disse também -, de Itapetininga, no interior de São Paulo, uma cidade bem pequena no interior de São Paulo. Eu sou de Itapetininga. Fiquei lá até meus 17 anos. Eu tenho 53 anos. Ali é onde eu fui formado, na verdade, no meu caráter pelos meus pais. Minha mãe, uma professora, Therezinha Malatesta, e o meu pai, um funcionário público municipal. E, com essas dificuldades que a gente teve, eles fizeram o máximo para que essas dificuldades não nos dessem limitações. Então, isso é uma coisa que eu falo sempre em palestras que eu dou, colocando isso hoje numa realidade de que é muito importante a gente valorizar muito mais as possibilidades do que as limitações, porque as limitações são várias, mas, quando nós temos as possibilidades mais elevadas, as coisas podem acontecer e foi o que aconteceu. Nessas limitações, eu estudei no colégio católico das Irmãs Beneditinas, em Itapetininga, e eu pude estudar lá porque minha mãe foi professora lá. Então, eu tinha uma bolsa, e aí, então, já aprendi a honrar o trabalho e o serviço, o esforço do outro, porque minha mãe, por isso, nos deu essa possibilidade. E ali eu fui coroinha, eu fiquei muitos anos como coroinha, ajudava o padre numa missa diária que tinha nesse colégio. Então, ali já também se fundamentou muito a minha fé. Então, não é uma fé só de IBGE, como dizem, mas é uma fé praticante. E ali realmente foi fundamentada a minha família. E ali nessa cidade também conheci minha esposa - já estamos juntos há 38 anos e casados há 29 anos -, com quem tive a minha filha Luísa, que hoje tem 26 anos, e o meu filho, que está aqui presente, o Mateus, com 16 anos. Isso foi muito fundamentado na nossa fé, nos nossos princípios. |
| R | E eu saí dali para fazer faculdade com 17 anos. Eu entrei na USP; passei em Educação Física. Fui cursar Educação Física em São Paulo, na USP, e, é claro, ali, no dia a dia, tinha de me manter em São Paulo. Apesar de ser uma faculdade pública, a Universidade de São Paulo, mas a gente tinha que se manter lá. Então, eu tinha aulas no período da manhã e da tarde, e à noite eu ia trabalhar para poder me sustentar um pouco ali, já que era muito difícil a nossa condição. Então, tudo isso vai fundamentando valores. Eu estou falando essas questões não para enaltecer aquilo que eu sou, aquilo que eu fiz, mas para entender um pouco e esclarecer as tomadas de decisões que nós temos, que são fundamentadas em princípios e valores. E é impossível falar em princípios que adquirimos sem falar do nosso início. Então, eu tenho essa família, aqui falei dos meus pais, e tenho dois irmãos: um está presente aqui, o Fábio; e a minha irmã, a Alzimara, que é mais velha do que eu - o Fábio, dois anos mais novo, e minha irmã, quatro anos mais velha que eu -, que vive em Sorocaba. E a gente aprendeu a valorizar esses princípios. Depois que eu me formei, em 1992, quando me formei na USP, eu tive a possibilidade de trabalhar num clube, que foi o Clube Atlético Paulistano, que me deu a primeira oportunidade. E aí a gente vê como a gente valoriza os nossos princípios: eu fiquei nesse clube por 16 anos. Eu comecei lá como um ajudante, um assistente - eu estava recém-formado - do professor da Escolinha de Basquete do Paulistano. E, nesse período todo, eu passei por todas as categorias formativas, até que eu fui treinador da equipe adulta, e ali a gente conseguiu transformar - esta é uma palavra que eu gosto de usar muito, porque acho que contextualiza bem aquilo que me dá um norte para aquelas coisas que eu faço - a gente conseguiu transformar um clube, que era um clube social - todo mundo conhece o Clube Atlético Paulistano, em São Paulo, que era um clube meramente social e tinha algum trabalho com categorias de base -, para ser um time competitivo e, hoje, atingir níveis de ser campeão nacional e tudo mais. Ali a gente começou esse processo de uma transformação de um clube social para um clube competitivo. Depois dali, saí, e foi quando eu conheci o Diego Falcão, em 2007. Eu fui trabalhar na Ulbra, em São Bernardo do Campo. E também entrei no meio de um processo, em que a equipe estava em sétimo lugar, e era uma equipe montada para ser campeã. Eu entrei ali no meio do processo, e nós jogamos a final contra Franca. Perdemos a final contra Franca, mas nós chegamos à final do campeonato. Então, ali começou esse processo. Nesse mesmo ano, eu fui treinador da Seleção Brasileira Sub-19, e nós jogamos o Campeonato Mundial. E foi uma grande surpresa, porque o Brasil não participava desse Campeonato Mundial Sub-19 há oito anos, e nós... Eu cometi um grande erro, Senador, porque eu falei, antes de sair daqui, que a gente iria brigar por uma medalha, e todo mundo deu risada. Eu errei; eu devia ter falado que a gente ia ganhar medalha, porque nós brigamos pela medalha: terminamos em quarto lugar, sendo vencidos pela equipe da França. Essa equipe da França hoje tem vários jogadores que ainda jogam pela equipe da França, jogam na NBA. E a gente jogou, na mesma competição, contra os Estados Unidos, desse tal de Stephen Curry - não sei se vocês sabem quem é. (Risos.) A gente jogou contra essa equipe, e a gente pôde ser competitivo, ficando em quarto lugar, tendo na nossa equipe um jogador que foi o maior pontuador desse campeonato, mesmo com todos esses jogadores de nome, e o maior reboteiro, o que pegou mais rebote nesse campeonato. Então, tivemos ali muito êxito. E ali eu tive a certeza de que a carreira estava realmente começando. |
| R | Eu comecei na Seleção Brasileira em 2004, quando a gente conseguiu esse feito no Paulistano, de transformar o clube, que era um clube social. Era um clube já competitivo, e eu tive o convite para ser o 3º Assistente da Seleção Brasileira, em 2004. E eu fiquei na Seleção Brasileira Masculina - na masculina - de 2004 até 2016. Participei de duas Olimpíadas, cinco Campeonatos Mundiais. Isso é só para contextualizar um pouco da experiência que a gente teve, que eu tive. Ali aprendi a honrar os valores da pátria - então, realmente, a Seleção Brasileira... - e a defender, assim como vocês, o interesse do Brasil, os interesses reais do Brasil, para que o Brasil realmente seja forte em todos os sentidos. Eu jamais neguei um convite de Seleção Brasileira. Então, eu dirigi várias categorias. E, quando eu saí da Seleção Brasileira, em 2016, estava praticamente certo, por muitos êxitos que tive no Flamengo, de eu poder assumir a Seleção Brasileira Masculina, e não foi o que aconteceu. Na verdade, eu fui desligado da Seleção. Com a saída do treinador, que era o Rubén Magnano, saiu toda a Comissão Técnica. Eu trabalhei no Flamengo, por mais alguns anos, e depois fui para o Japão - quando terminou o meu vínculo com o Flamengo, trabalhei no Japão -; e, quando eu voltei do Japão, a Confederação me chamou e me fez a proposta para que eu pudesse dirigir a equipe feminina. Conto aqui algumas coisas que também acho que podem reforçar um pouco do valor que tinha o nosso trabalho na Seleção. Quando eu fui convidado, isso me espantou muito, porque eu nunca tinha trabalhado com mulheres, nunca tinha trabalhado com o basquete feminino; eu sempre trabalhei com o basquete masculino. Nunca, na minha carreira... Hoje eu tenho 32 anos de treinador, mas em 2019 eu nunca tinha trabalhado com o basquete feminino. E isso me espantou muito. Acho que foi uma sabedoria do pessoal da Confederação, do Vice-Presidente Marcelo, apoiado pelo Presidente Guy Peixoto, de que se pudesse trazer um profissional que, independentemente de ser masculino ou feminino, estava tendo êxito na modalidade, para que pudesse somar. A princípio eu estranhei muito, fiquei um pouco sem entender e fui fazer uma consulta, já que, para quem não sabe, fora o Brasil, apenas três países do mundo, do planeta, foram campeões mundiais: Estados Unidos; outro que já não existe mais, que é a União Soviética, que agora se dividiu em vários países; e a Austrália. Isso na história do basquete feminino. Então, o Brasil tem realmente uma história, e é forte, no basquete feminino. E eu fui procurar essas pessoas que, nessa época, transformaram o Brasil nessa potência que era o basquete feminino. Eu fui procurar e falei com várias personalidades: Hortência, Paula, Janete - que são nomes... - e vários treinadores, como Miguel Ângelo, que foi campeão com o Brasil em 1994, e depois também com o Barbosa, que ganhou medalhas olímpicas com o basquete feminino. Eu fui perguntar, falar com eles: "olha, eu estou recebendo o convite...". E eu sempre tive muito respeito de todos no meio do basquete. Eles ficaram surpresos. Disseram: "Você é um técnico que tem uma marca de vitória. Se você for para a Seleção Feminina - a Seleção Feminina já não ganha há muitos anos -, você vai perder essa marca de vitória e você vai ser um derrotado, porque hoje a Seleção Feminina está realmente no fundo do poço". E isso, vamos dizer, veio de noventa e poucos por cento das pessoas com quem eu falei, que são especialistas em basquete feminino, me surpreenderam. |
| R | E eu falei: "Bom, deixe-me...". Eu fui para a Espanha nesse momento, junto com o Diego, para que a gente pudesse fazer um estágio no Real Madrid e na seleção espanhola. E a gente estava ali vendo algumas possibilidades. E eu falei: "Olha, quero agradecer muito pelo convite, mas eu acho que eu tenho outros propósitos". Aí eles insistiram: "Não, quando você voltar, a gente conversa melhor, porque nós temos um Pan-Americano em 2019, em Lima, no Peru. Nós temos essa competição e a gente queria que você iniciasse esse processo". Aí eu falei: "Está bem, eu vou voltar e vou conversar". E o Diego foi uma das pessoas que me incentivou muito a pegar. Ele falou: "Vamos pegar, vamos fazer... a gente já transformou tantos lugares, não é?". Eu trabalhei com o Diego em vários lugares onde a gente não tinha tanto essa expectativa de que pudesse ser bom. E a gente conseguiu transformar esses lugares em bons lugares. Então, ele falou: "Vamos pegar, vamos tentar". Falei: "Está bem". É que nem aquela história, não é? Quando se mandou um funcionário de uma fábrica de sapato para a Índia... Mandaram dois, não é? Um voltou e falou: "Cara, se você abrir uma fábrica de sapato na Índia, você vai à falência, porque lá ninguém usa sapato". Aí, voltou outro e disse: "Lá é o lugar certo, porque lá ainda ninguém usa sapato". Então, é o ponto de vista que se vê. E nós vimos por este lado: ninguém usa sapato. E a gente conseguiu ter muitos êxitos ali, a gente conseguiu transformar. E em 2019 foi a nossa primeira conquista. Nós conquistamos a medalha de ouro num Pan-Americano depois de 28 anos. E essa conquista última, antes da nossa... Muitos lembram que foi em 1991, em Havana, Cuba, com Hortência, Paulo. O Fidel Castro foi entregar a medalha e ele dizia para a Hortência, "não", porque ele olhava o número das costas; para a Paula, "não", porque elas ganharam de Cuba na final, que era uma grande potência. E ali o Brasil ganhou essa medalha. E depois de 28 anos, nós conseguimos recuperar essa medalha. E agora, recentemente, pela primeira vez o Brasil se tornou bicampeão. Já tinha ganhado outros títulos, mas, seguidos, jamais tinha acontecido. Só lembro que foi em 1991. E depois nós ganhamos, depois de 28 anos. E agora, duas vezes seguidas, no Pan-Americano de Santiago, no Chile, o Brasil se tornou bicampeão. E no mesmo ano nós ganhamos a América, fomos campeões da América, da American Cup, batendo os Estados Unidos duas vezes na mesma competição. Foi de uma forma invicta, uma coisa inédita que aconteceu, de ganhar dos Estados Unidos duas vezes na mesma competição. Isso nunca tinha acontecido. E a gente conseguiu esse título, que foi tão importante para o Brasil. Por que eu estou falando isso? Eu não estou falando para que... "Ah, esse é o grande treinador". Até porque isso está muito aí na internet. Vocês podem ver isso. Eu só estou falando que, para eu ter esse primeiro título e tantos outros na minha carreira, também no masculino, com o Flamengo... Até hoje eu sou o maior vencedor dessa liga que tem hoje, que é o NBB, ganhando quatro títulos seguidos com o Flamengo. Até hoje eu sou o treinador que mais títulos tem nessa liga, no NBB. Eu estou contando isso porque esse primeiro título que eu ganhei foi depois de 20 anos- 20 anos de profissional. Não estou falando 20 dias, 20 semanas, 20 meses; estou falando 20 anos. E isso serve muito, Senador, para a que a gente não desista dos nossos propósitos, daquilo que a gente sonha, daquilo que a gente quer. Eu acho que os senhores são os nossos representantes para que os nossos sonhos se concretizem, se realizem, para que a gente possa ter um Brasil cada vez melhor. Então, quero deixar aqui... O meu tempo já está se esgotando, mas eu quero deixar, assim, não foi por uma questão de resultados - não foi por uma questão de resultados. |
| R | É duro eu abrir mão, porque, como eu disse, é um sonho de qualquer treinador que hoje trabalha com uma modalidade representar o seu país. Eu assim o fiz por 14 anos na seleção masculina e estava há cinco anos com a seleção feminina, tendo êxitos. Não é fácil você abrir mão disso, porque é abrir mão de um sonho. Mas eu sempre disse e digo para minha família, e digo também nas palestras que eu faço, que nunca devemos colocar as nossas pretensões acima das nossas prioridades. E as nossas prioridades são nossos princípios, nossos valores. Então, eu quero que meu filho, que hoje está aqui, saiba que mais do que ganhar uma medalha é você honrar aquilo que te levou a ganhar essas medalhas, aqueles princípios que te levaram a sustentar, hoje, um casamento como o que nós temos, de 29 anos, de 38 anos juntos. Então, são coisas que nos sustentam a sermos fiéis e sustentam a nossa fidelidade não só às pessoas, como eu tenho com o Diego, que trabalhou comigo por 17 anos, mas àquilo em que nós acreditamos, como nossos princípios, nossos valores, nossas crenças. Negocio qualquer coisa, e, quando me chamaram, eu não pedi para a confederação nenhum salário, eu não pedi para a confederação nenhum contrato, até porque não tínhamos contrato. A gente aceitou isso, porque nós sabíamos das dificuldades da confederação no momento, que a dificuldade é enorme, e eu tenho um carinho enorme pelo Presidente da confederação e uma gratidão a ele, que é o Guy Peixoto, que honrou, até há pouco tempo, esse compromisso de deixar que eu pudesse gerir o basquete feminino brasileiro, as seleções brasileiras femininas. Ele me deu essa capacidade, e, por uma pressão que fizeram, permitiu que tirassem o Diego sem a minha autorização, sem a minha concordância, por esses princípios. Não foi só porque é o Diego, porque o Diego não é meu amigo, mas é mais que meu amigo, é meu irmão, porque nós comungamos das mesmas crenças, dos mesmos princípios. Ele não está há 17 anos comigo só porque ele é um bom profissional, o que é, um excelente profissional, mas também porque, eu acredito, com esses princípios nós podemos ser cada vez melhores. Então, eu termino a minha fala dizendo aquilo que eu disse, que eu negocio qualquer coisa, negocio qualquer coisa. Se a jogadora chega um pouco depois ou um pouco antes, se eles podem me pagar um pouco menos ou um pouco mais, se o contrato é de tanto tempo, tudo isso é negociável. Meus princípios e valores são inegociáveis, e eu jamais iria seguir em uma função em que eu iria assinar uma tomada de decisão que não condiz com meus princípios, meus valores, minhas crenças. Então, eu termino dizendo: não tem prêmio, não tem castigo, tem consequências. O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. Eu sei que a verdade e as respostas virão. Obrigado, Senador. Obrigado por esta oportunidade. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muitíssimo obrigado, Sr. José Alves dos Santos Neto. É muito bom saber que existem pessoas como o senhor, como o Diego Falcão e como tantas outras pessoas que não se dobram. E aí tem uma frase de Paulo, que pergunta do que adianta ganhar o mundo, chegar a uma Olimpíada com resultado, trabalhando há tanto tempo, mas se perder na vida. Então, realmente, é de emocionar esse tipo de depoimento. |
| R | Tem algumas perguntas aqui, mas, antes, eu queria mostrar talvez o grande protagonista de tudo isso que foi criado. Já lhe passo a palavra, Deputado Thiago. O grande protagonista é principalmente o Diego, que teve a coragem de se posicionar... Eu peço até à Secretaria, se puder pegar o post dele, se puder pesquisar no Instagram. Ele falou que foi mais ou menos no dia 20 de junho, 20/06, se puder pegar esse post que foi a polêmica e tal, que aí começou a caçada implacável a ele, que resultou em sua demissão, eu queria mostrar para a população. Mas aqui está na minha mão um bebê, uma criança de 11 semanas de gestação, de 11 para 12 semanas. Está com o fígado todo formado, os rins, já tem até unha esse bebê. Esse é o período em que é feito o aborto - esse é o período em que é feito o aborto -, então, essa criança não tem nenhuma defesa, absolutamente nenhuma defesa. A defesa dela somos nós, somos nós! E uma audiência dessa pode até não reverter a injustiça a curto prazo como a gente gostaria, mas você pode ter certeza de que ela vai cumprir o seu papel no aspecto de que muita gente que está nos assistindo agora e que vai nos assistir, porque fica nas redes do YouTube aqui do Senado, pode conhecer alguém, uma prima, uma amiga, aquela coisa que a gente sabe que Deus faz os caminhos, que está passando por uma gravidez não planejada e que só por a gente ter essa oportunidade de discutir esse assunto pode poupar a vida dessa criança, desse bebê e também o sofrimento de mulheres. Por isso que, deixando muito claro, ninguém aqui, absolutamente, muito pelo contrário, nós não condenamos ninguém que fez aborto, quem somos nós, absolutamente. Aliás, muitas pessoas, muitas mulheres fazem sem saber da consequência, sem saber o que é, por isso que o pessoal fica... Thiago, eu fui entregar esse bebezinho para o Ministro dos Direitos Humanos, logo no começo do Governo agora, e ele se recusou. Eu dou esse bebezinho há 20 anos, eu entrego para autoridades, para cidadãos, porque eu acho que é educativo, porque você materializa o que é, mas o Ministro recusou, foi a primeira autoridade, eu já dei até para Ministro do Supremo isso aqui, nunca ninguém recusou. Para feministas, eu já dei, receberam, faz parte do debate. Esse é o símbolo mundial pró-vida, mundial, é o símbolo. Então, o que é importante a gente deixar claro é que nós estamos vivendo tempos muito estranhos, muito estranhos, porque a gente está sendo impedido de falar sobre... Eu acho que a Madre Teresa de Calcutá, não sei se foi esse o post dele, mas ela tem uma frase que diz o seguinte: "É impossível que haja paz na terra enquanto existir o aborto, porque o aborto é uma guerra contra as crianças. Se uma sociedade permite que uma mãe mate seu próprio filho no ventre, como é que vai evitar que as pessoas se matem umas às outras nas ruas?". Olhem a pandemia que a gente está tendo, no momento, de violência no Brasil! O princípio da violência, dizia Madre Teresa de Calcutá, é o aborto. |
| R | Isso aqui tem muitas causas que a gente abraça junto, Deputado: contra as drogas, o que tem a ver com o esporte, contra a liberação de maconha, contra a ideologia de gênero nas escolas, contra a erotização das nossas crianças, contra o jogo de azar, que está aí endividando já um terço da população brasileira e não para de crescer... A gente alertou contra tudo isso, esse negócio de casa bet, que não tem nada a ver com esporte, que está acabando com esporte, na verdade. Mas a causa das causas é a vida desde a concepção. É o direito, primeiro, de nascer. Eu quero deixar muito claro para mulheres que estão nos assistindo que fizeram aborto... É como disse Jesus através de Pedro: o amor cobre uma multidão de pecados. Quem somos nós...? Às vezes, você foi pressionada ali pelo namorado, pelo marido: "Vai ter que tirar, vai ter...". A gente entende. É uma questão de humanidade, é a compreensão da humanidade. A Elba Ramalho, que é paraibana, Diego, sua conterrânea, é muito minha amiga. Hoje, eu acredito que a grande baluarte da causa pró-vida é a Elba, porque ela... Ela deu entrevistas em grandes veículos dizendo sabem o quê? Ela disse: "Eu fiz um aborto em 1973, e aquilo me marcou tanto que, quando eu ia ao shopping no Rio de Janeiro [ela morou e mora ainda no Rio de Janeiro], à praça, quando via uma mãe com uma criança andando, caía no choro". Aí começava a beber - ela disse isso -, a se drogar, tentou suicídio, porque ela ficou com aquilo, aquela marca. Quando ela pediu perdão a Deus e se perdoou - e foi um processo muito interessante que ela conta -, ela começou a pegar os seus dias, as suas madrugadas e a ligar para mães que estavam pensando em abortar, dando todo o apoio, todo o suporte, colocando o testemunho. Essa mulher salvou centenas de vidas e poupou o sofrimento das mulheres! Elba Ramalho, conterrânea, não por acaso do Diego. Diego, graças à sua coragem, à sua resiliência, esse assunto veio à tona. E vidas serão salvas graças à sua atitude e à atitude também do José Alves Neto, Zé Neto. E eu não conhecia a história de vocês. Para mim está sendo muito importante isto aqui e, eu acho, para os brasileiros, porque isto aqui é uma sessão histórica que o Senado está fazendo, no primeiro ano da Comissão de Esporte. Eu passo imediatamente a palavra para o Deputado Thiago Manzoni, aqui do Distrito Federal, Presidente da CCJ. Muito obrigado pela sua honrosa presença nesta Casa. O SR. THIAGO MANZONI (Para expor.) - Bom dia, Senador. Bom dia ao Diego, que nos assiste pelo computador. Bom dia, Prof. Zé Neto. Em primeiro lugar, para mim, é uma honra estar aqui com V. Exa., Senador, nesta audiência pública com um tema tão relevante. |
| R | Eu presido a Comissão de Constituição e Justiça da nossa Câmara Legislativa aqui do DF, mas presido também, Professor, a Frente Parlamentar em Defesa da Vida desde a Concepção. Este é um valor inegociável: a vida. Nós precisamos proteger a vida. E fico muito satisfeito de estar aqui hoje com pautas tão relevantes, debatendo um assunto tão importante e de tanto interesse para a população brasileira. Como o Senador bem expôs aqui, 80% da nossa população são pró-vida, defensores da vida, têm a vida como um direito inalienável. Nós não podemos abrir mão disso. E esta audiência pública vem em boa hora, Senador Girão. V. Exa., com muito cuidado, no seu texto de abertura, no seu discurso de abertura, chamou de suposta demissão por perseguição. E o Prof. Diego Falcão acaba com a expressão "suposta" quando ele disse que, ao telefone, conversando com a Diretora Roseli - se não me engano em relação ao nome dela -, ela categoricamente disse que ele estava sendo demitido pela postagem que havia feito em defesa da vida. Então, o que aconteceu foi isso. Ele fez uma postagem marcando uma posição filosófica dele, posição que é protegida pela nossa Constituição Federal, como V. Exa. leu, no art. 5º, que define os direitos fundamentais dos brasileiros. Por conta dessa postagem, ele foi demitido da Seleção Brasileira de Basquete, em que exercia a função de preparador físico. E o Prof. Zé Neto, que muita alegria já me deu como flamenguista... Ouviu, Professor? O Flamengo ser campeão do mundo de basquete é um... Não é à toa que o senhor é amado do jeito que é lá no Rio e no Brasil todo. E o Prof. Zé Neto, num ato de lealdade não só a quem ele chamou de irmão, que é o Diego Falcão, mas aos princípios que ele carrega e à história que vocês contaram - a própria história de vocês, cada um com as suas individualidades, são histórias belíssimas -, em lealdade, sendo leal a esses princípios, saiu também da Seleção Brasileira de Basquete. Eu ontem tive a oportunidade de conversar, no meu gabinete, com o Prof. Zé Neto, e o que ele traz aqui, Senador, revela um pouco de por que haver tanta raiva, tanto ódio contra as pessoas que carregam dentro de si o conservadorismo. É porque é sobre o que nós queremos preservar e sobre quais fundamentos nós queremos construir, e a cultura woke, denominada falsamente de progressismo, quer a destruição desses valores. É bem verdade que eles são minoria, uma minoria bem pequena, mas, ao passo em que eles são minoria, eles são muito barulhentos também. E olhem o que eles foram capazes de fazer com dois profissionais supervitoriosos! Eles fizeram a Confederação Brasileira de Basquete ignorar resultados desportivos, que não vinham há décadas, por conta de uma postagem que confrontou essa cultura woke, que é a cultura da destruição, que é a cultura do regresso, que nos quer como animais selvagens, dominados pelo instinto, capazes de matar o ser mais indefeso de todos que é o bebê no ventre da mãe. |
| R | É uma loucura o que a gente está vivendo, mas, quando nós ouvimos aqui o Professor falando que "o que eu fiz é diferente de quem eu sou e quem eu sou é mais importante do que o que eu fiz", quando nós o ouvimos falando de trabalho, de êxito, de lealdade, de coerência, honrando a família, a esposa, com quem ele é casado há 38 anos, honrando o filho e ensinando para o filho publicamente que quem eu sou vale mais do que o que eu fiz, que não abra mão dos seus princípios, dos seus valores, ele está falando para um adolescente de 16 anos, está falando para milhões de adolescentes de 16 anos ao redor do Brasil. Isso tudo é um confronto direto a essa cultura woke, que, eu repito, é a cultura da destruição, é a cultura do retrocesso, é a cultura que quer destruir os valores fundantes da civilização ocidental. A civilização ocidental vem da filosofia grega, que é a busca pela verdade, palavra também mencionada pelo Prof. Zé Neto, e a verdade tem força por si só e ela sempre há de prevalecer contra a mentira. A cultura, a civilização ocidental vem também do direito romano, que é um direito basicamente católico, um direito canônico, que vem dos preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana. E o tripé é formado, por último, pela ética judaico-cristã, a ética do trabalho, a ética da valorização do mérito, a ética da valorização da prosperidade, a ética da valorização do homem, da mulher, a ética da valorização da família, da educação dos filhos, do respeito aos mais velhos, da proteção às mulheres. Isso tudo está sendo atacado de maneira recorrente, ao longo das últimas décadas, por essa cultura maldita. E, quando pessoas como vocês se levantam com coragem para verbalizar o que é correto e o que fundou a nossa civilização, a resistência deles vem, vem de maneira hostil, vem de maneira desleal, vem de maneira, muitas vezes, covarde. Porque alguém que dirige a Seleção Brasileira há cinco anos e abre mão de dirigir outra seleção, a Seleção Angolana, e faz isso sem ter um contrato de trabalho - durante cinco anos, ele não teve contrato de trabalho -, faz isso porque ama o país. E alguém que ama o país ser tratado dessa maneira é, no mínimo, injusto, no mínimo. Foi uma covardia o que fizeram com vocês, Professor. Mas ainda há homens de coragem, Senador. Eu parabenizo eles dois, mas parabenizo também V. Exa., porque V. Exa. tem sido uma voz no Senado da República, nesta Casa Alta do nosso Congresso Nacional, a verbalizar o sentimento e os valores de milhões de brasileiros. Hoje o senhor está aqui com a pauta da vida, com a pauta do esporte, que tira jovens do tráfico, que muda a vida das pessoas, que transforma o destino das pessoas, que evita suicídio, que evita violência. Está com a pauta da vida desde a concepção, que é a nossa pauta mais cara - V. Exa. mencionou a Madre Teresa de Calcutá. Ontem o senhor estava aqui, trazendo outra pauta muito importante para o Brasil, presidindo uma sessão e sofrendo pressão de todos os lados. E eu acompanhava V. Exa. pela televisão e pelas redes sociais, recebendo pressão de todos os lados, para que impedisse os Parlamentares, os Deputados Federais de verbalizar aquilo que é o sentimento e o anseio da maioria esmagadora da população brasileira. Então, eu encerro aqui agradecendo pela oportunidade de estar aqui, agradecendo pelo convite para que eu estivesse aqui e parabenizando V. Exa. pela coragem. O Brasil, neste momento, mais do que tudo, precisa de homens de coragem para ficar de pé diante do arbítrio, diante da tirania e diante dessas pressões que vêm de grupos minoritários, que fragmentaram a nossa sociedade, mas que continuam sendo minoritários. Parabéns pela coragem! |
| R | Parabéns pela coragem! Como cidadão brasileiro e como Parlamentar também, eu, em nome de milhões de cidadãos aqui do Distrito Federal e do Brasil, digo a V. Exa. e a todos aqueles que têm a coragem de V. Exa. muito obrigado pelo trabalho que está sendo realizado aqui. Obrigado por defender essas pautas, obrigado por levantar as nossas bandeiras. Eu tenho certeza de que a luta vai ser árdua, mas, ao final de tudo, nós teremos prevalecido, porque a verdade sempre prevalece. Obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito obrigado, Deputado Thiago Manzoni. O senhor é uma inspiração para nós. Nós nos conhecemos na primeira manifestação, depois de um período em que o Brasil ficou atônito com aquela armadilha do dia 8 de janeiro. Com a mão pesada de perseguição, com preso político e tudo, o senhor teve a coragem de fazer um evento, e eu estive presente com o senhor, outros Parlamentares também, aqui, na Esplanada dos Ministérios, recomeçando as manifestações. E não tem jeito, vai ter que ser através das ruas. Eu não sei se Brasília vai ter no dia 7 de setembro. Só São Paulo, na Paulista, mas lá em Fortaleza nós vamos fazer. Soube que em Goiânia vai ter, em Recife vai ter, porque nós vamos protocolar um pedido de impeachment do Ministro do Supremo no dia 9 de setembro, segunda-feira. O senhor está convidado para estar conosco aqui na Presidência do Senado, às 4h da tarde. Nós vamos entregar um superpedido de impeachment, robusto, com todas essas arbitrariedades que nós temos visto, após a manifestação de 7 de setembro. A da Paulista deve ser a maior de todas, com certeza, mas eu estou percebendo que furou a bolha. O negócio chegou a um nível tão absurdo que isso aqui são espasmos do que está acontecendo. Mas é assim, com as pessoas que nem gostam de política eu tenho conversado com elas nas ruas: "Rapaz, eu nem gosto de política, de direita, eu não sou de direita, de esquerda, mas, rapaz, como é que um homem está mandando em todo o país? E tiraram minha rede, o negócio com que eu ganhava meu dinheirinho aqui, fazendo minha divulgação!". São pequenas pessoas empreendedores. Inclusive, nós vamos falar aqui com o Secretário-Geral Rodrigo Saraiva Marinho, que vai ter a palavra agora. O Rodrigo o Secretário-Geral da Frente do Livre Mercado aqui no Congresso. Muito obrigado pela sua presença. O senhor tem sido também um defensor, assim como o Deputado Thiago Manzoni, da liberdade, da liberdade de expressão, da liberdade de pensamento. Muito obrigado por sua presença aqui. O senhor tem a palavra. Daqui a pouco... Eu estou preocupado é com o Diego, que está lá, vai dar 11 horas da noite, mas eu tenho umas perguntas para fazer, que estão chegando aos montes aqui, tanto para ele, como também para o José Neto. Está ainda conectado? O Diego está. Então daqui a pouquinho, Diego, a gente faz as perguntas, e o senhor responde com as considerações finais do senhor, para a gente se encaminhar para o encerramento. Meu querido Rodrigo Saraiva Marinho, o senhor tem a palavra. O SR. RODRIGO SARAIVA MARINHO (Para expor.) - Meu querido amigo Eduardo Girão, é um prazer, Senador, estar aqui, é um prazer sempre estar ao seu lado; é um privilégio estar com o meu amigo Thiago Manzoni, Deputado de Distrital aqui do Distrito Federal, um parceiro sempre na defesa da liberdade. É uma honra absoluta ouvir o treinador, um líder. É muito bonito ver um líder falando, porque ele entende que os seus liderados estão sob sua responsabilidade. É muito feliz. |
| R | Eu confesso: eu conhecia o senhor de nome. Eu sou torcedor do Fortaleza, assim como o Senador Eduardo Girão. A gente briga na NBB, a gente está um pouco abaixo agora. No futebol, nós estamos brigando de igual; no basquete, ainda um pouquinho antes, mas chegaremos lá. Mas é muito bonito ver um líder falando. Entende que a sua liderança envolve entender que o seu time precisa ser sempre defendido, composto e ao lado. É muito interessante ver a questão do Diego falando e defendendo a visão de mundo dele. Foi um conservador falando, agora vai ser um liberal falando. A vida, a liberdade e a propriedade são os direitos naturais do homem. Sem a vida, não consigo ter liberdade e propriedade. É muito fácil defender o aborto estando vivo, estando aqui. É ótimo defender o aborto nessa condição. A discussão desse tema é muito interessante, porque toda mulher que faz o aborto vai fazer um parto. A discussão é essa, ela vai fazer um parto. A criança vai nascer morta ou vai nascer viva. Quando o Conselho Federal de Medicina estabeleceu o prazo que todo país civilizado do mundo determina de 22 semanas para dizer que aquilo era aborto - é esse prazo -, este Congresso Nacional apresentou um projeto de lei dizendo o seguinte: mesmo você querendo interromper a sua gravidez, em caso de estupro, após 22 semanas, nós vamos beneficiá-la, nós vamos permitir que você retira o bebê de você de forma antecipada, que não é o ideal para essa criança, mas a gente vai deixar a criança viva. A discussão é essa, mas a discussão foi tão ideologizada, foi tão absurda, que chegou ao Supremo Tribunal Federal, e um juiz absolutamente irresponsável e que não conhece nada de medicina determinou que qualquer parto, mesmo após as 22 semanas, teria que ser matando aquele bebê, teria que ser matando aquela criança. O parto vai acontecer de uma forma ou de outra, mas uma criança com 22 semanas na barriga da mãe tem um potencial enorme de sobrevivência. Ou seja: "Não quero ter o bebê", o.k.! Quanta gente, quanta fila de adoção há neste país, a fila de adoção hoje é enorme neste país. Nós queremos, os brasileiros querem adotar crianças, não falta quem queira adotar essa criança. Para que matar? Porque o que a lei dizia era: estou beneficiando-a, vou protegê-la; mesmo após 22 semanas, nós vamos autorizar a interrupção da sua gravidez em caso de estupro. É isso que diz a lei, mas como é que ela foi traduzida por essa ideologia assassina? Como é que ela foi traduzida? Estamos impedindo o direito da mulher. Não. O direito é dela; é outra vida, é outra pessoa, é outra condição, é um pressuposto natural de que existe aquele direito - principalmente é outro sujeito de direito. A gente participa de um negócio chamado de Pacto de São José da Costa Rica, que estabelece claramente que nós temos o direito desde a sua concepção - direito do indivíduo desde a sua concepção. Inclusive o Supremo, há pouco tempo, deu decisão falando sobre a questão do depositário infiel, que aquilo ali deveria valer para o direito brasileiro, baseado no Pacto de São José da Costa Rica, o mesmo pacto que traz esse tema. Essa canetada do Ministro não é só essa, não é? Quando você fala que esse Ministro tenta mandar de maneira absurda e o Senado não age, apesar de o Senador Eduardo Girão fazer um trabalho muito forte de lembrar o fiscalizador, o tal dos pesos e contrapesos que nós temos no Estado de direito - é o Senado que faz o contrapeso ao Supremo Tribunal Federal e diz: "Ô, você passou de todos os limites, volte para sua [o que todos nós queremos] casinha"... Certo? "Volte a tocar aquilo que lhe cabe, volte a fazer aquilo que a Constituição lhe determina, subordine-se à regra constitucional. Você não está...". |
| R | Toda a lógica liberal, que foi a lógica das evoluções liberais, foi submeter o Estado ao comando da norma constitucional, que é exatamente o que nós não temos hoje. Nós temos um Ministro que descumpre a Constituição, descumpre a lei, descumpre os preceitos, descumpre até mesmo o entendimento do Conselho Federal de Medicina, que com certeza sabe mais medicina do que ele, descumpre o devido processo legal, descumpre o império da lei, descumpre uma série de absurdos que é o que traz a esse tema específico. A liberdade de expressão está prevista na nossa Constituição. Em nenhum momento, foi alegada incompetência do preparador físico Diego ou do técnico da seleção brasileira José Neto, que foi obrigado a se demitir. É claro, quando você é um treinador da seleção... Aqui foi um Presidente de um clube de futebol que, se Deus quiser, será futuro campeão brasileiro neste ano, sonho grande para o cearense, um sonho enorme acontecendo... Quando você contrata o Vojvoda, que é um grande treinador de futebol, você não contrata só o Vojvoda, você contrata a equipe técnica do Vojvoda. Então, se, de maneira absurda - absurda -, covarde, é demitido um funcionário meu sem eu estar na minha equipe, tem alguma coisa muito errada nisso. A liberdade de expressão está prevista no nosso texto constitucional, é um direito humano. A manifestação de pensamento cultural, a nossa visão sobre o mundo, isso é um direito humano, individual. Eu posso ter os meus valores pessoais, assim como eu tenho a liberdade religiosa, prevista desde a nossa Constituição de 1824. A Constituição do Império já previa a possibilidade de uma revolução, inclusive, em termos constitucionais, porque ela já previa que você poderia ter o seu direito à sua liberdade religiosa, ressalvado o aspecto público dos templos. Desde a Constituição de 1824, nós já tínhamos a previsão de liberdade religiosa, e a nossa Constituição atual - tivemos sete ou oito para alguns - já prevê, até hoje, desde então, essa liberdade religiosa. Então, quando o Diego faz uma manifestação pública de dizer: "Eu sou contra o aborto", ele nunca poderia ser punido pela sua questão técnica. "Ah, mas isso desagradou". A liberdade de expressão está exatamente nisso. A liberdade de expressão não foi feita para eu falar o que agrada a alguém. A liberdade de expressão foi feita, e o Senador Girão foi muito feliz... Ainda que aqui fosse o contrário, essa pessoa teria que estar sendo defendida aqui, porque a liberdade de expressão foi feita para alguém defender o contrário do que eu estou dizendo aqui. Essa é a ideia central da liberdade de expressão. Essa é a base da liberdade de expressão, porque usar a liberdade de expressão só para ouvir o que eu gosto... Que liberdade de expressão é essa? Eu tenho que ouvir algo que eu repudio. Essa é a base da liberdade de expressão, e é o que o senhor, na casa aqui do lado, não entendeu até o presente momento; é o que o senhor, no outro Poder aqui, não entendeu até o presente momento, que é a condição, que para mim é completamente absurda, da Confederação Brasileira de Basketball: aquela em que a gente viu o Oscar jogando, aquela em que a gente viu a Paula e a Hortência jogando, ele jogou no lixo. A possibilidade, primeiro, de uma maneira covarde, de demitir alguém mais fraco na cadeia - você era o grande líder... Em nenhum momento foi dito: "Eu vou demitir o Zé Neto, que é o chefe responsável direto do Diego". Claro, a repercussão política disso seria muito maior. Você é o treinador de um dos maiores clubes de basquete deste país, vencedor de pan-americano, vencedor de campeonato brasileiro, vencedor de campeonato mundial; ir direto a você não era tão simples. Eles forçaram a sua demissão, porque você agiu como um líder. |
| R | A minha admiração ao Diego pela firmeza e pela forma dele é enorme. A minha admiração por ver um exemplo, um líder, é tão grande quanto a dele, porque um líder faz o que o senhor fez, Sr. José Neto. Eu confesso que todo esse ponto, para alguém que é do esporte, do círculo olímpico, eu imagino que deve ser um sonho de realização de qualquer profissional do esporte. E o senhor cumpriu o círculo olímpico completo, viu ali 2019, estava ali o Japão acontecendo, e agora, quando o basquete feminino começava a, de fato, demonstrar a sua força, o senhor perdeu a oportunidade de viver um sonho, de estar em Paris e viver um sonho que qualquer atleta olímpico, qualquer profissional do esporte está vivendo, e abriu mão desse sonho para exercer algo que é fundamental na vida de qualquer pessoa, porque o exemplo arrasta. A palavra convence, mas o exemplo arrasta, e o seu exemplo vai arrastar muita gente. É uma honra e um orgulho estar sempre ao lado de pessoas como você, como o Senador Girão, como o meu amigo Thiago Manzoni, defendendo a vida. Não existe exceção. Não é vida mais ou menos. É a vida desde, óbvio... Porque não vai nascer uma pedra dali, vai nascer gente, vai nascer vida. A vida, a liberdade e a propriedade: sem esses três requisitos, nós não temos uma nação, não temos direitos individuais, não temos a possibilidade de ter uma rede social e não temos a possibilidade de ser o coroinha de uma igreja e virar treinador da Seleção Brasileira de Basquete. Parabéns pela sua força, parabéns pela sua coragem; parabéns ao Diego também. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito obrigado, Rodrigo Saraiva Marinho. O Roberto Lasserre pediu também para falar, ele é assessor nosso. Fique à vontade. É uma audiência pública, quem quiser também se manifestar, que esteja aqui conosco, estará aqui registrado para falar. Roberto, obrigado. O SR. ROBERTO LASSERRE (Para expor.) - Senador Girão, bom dia. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Bom dia. O SR. ROBERTO LASSERRE - Parabéns mais uma vez pela iniciativa de tratar de um tema tão importante, a questão do aborto. E aí a gente já vai também para a questão efetivamente de tentar silenciar quem é contra o aborto. Isso é extremamente complicado. Na minha concepção, como advogado, como cidadão, é uma violação que é inaceitável. José Neto... Permita-me chamá-lo de Zé Neto, porque na verdade quem é fã do basquete chama você de Zé Neto a vida inteira. E me permita chamar de você porque, assim como você, eu sou um amante do basquete. O basquete foi o meu esporte durante todo o meu período de colégio. Eu lembro que eu jogava em tabela de madeira. Eu lembro que eu fui a um jogo na Associação Atlética da Bahia em que o Sírio jogava, Marquinhos deu uma enterrada e quebrou, porque na verdade não tinha flexibilidade ainda do aro. Aí acabou o jogo, a gente foi para casa, mas foi uma experiência, eu estava debaixo da tabela, foi uma coisa muito rica para mim. E durante todo o meu colégio eu fui amante do basquete, assim como o meu filho, Roberto Sampaio Lasserre, é amante do basquete. Engraçado que a gente tem algumas coincidências. Eu sou católico, eu tenho 29 anos com minha esposa Christianne, minha filha Clara. Eu tenho 53 anos como você, nascemos em 1970 e, como eu falei, somos contra o aborto, sou fiel às pessoas que são fiéis a mim, então a gente tem várias coincidências. Eu não ia falar, mas depois que eu vi tanta coincidência, eu falei: eu preciso falar, preciso manifestar, porque, como o Senador Girão falou, não existe coincidência, existe "jesuscidência". Eu geralmente não venho em audiências públicas promovidas pelo Senador porque a gente tem muito o que fazer no gabinete, mas eu falei: não, hoje eu vou, porque trata de um tema importantíssimo e tem o Prof. Zé Neto como uma das pessoas que vai se manifestar. Eu não conhecia o Diego, satisfação e alegria em tê-lo como uma pessoa que também é uma pessoa católica e fervorosa. |
| R | Professor, certamente o marcou aquele jogo de agosto de 1987, quando, no Pan-Americano, a gente viu Oscar e Marcel acabarem com a seleção americana. Aquilo deve tê-lo movimentado. Eu tinha 16 anos, acredito que a sua idade também, 16 anos, até pela nossa idade. Então, são coisas que marcam efetivamente a gente. E se eu gostava da sua postura como técnico... E na verdade a única postura de que eu tinha conhecimento era como técnico, técnico do Flamengo. Eu sou Vitória, eu sou baiano, Vitória da Bahia, mas no basquete eu sempre torci pelo Flamengo, porque eu sou Flamengo no Rio de Janeiro também. Então, eu sempre gostei da sua postura na hora dos tempos, como se manifestava com os jogadores, como falava com os jogadores, com muita tranquilidade, sem aquela efusividade, sem aquela agressividade que eu acho desnecessária, porque ali só tem profissionais. Se eu gostava da sua postura como técnico, a sua postura como pai, a sua postura como católico, a sua postura como ser humano, quando disse que não se negociam princípios, isso aí me fez ser seu fã também como ser humano. Eu precisava dizer isso, é muito importante que as pessoas vejam que, mais do que a questão propriamente do aborto, Senador Girão, que é uma questão terrível hoje no Brasil, você querer calar quem é contra o aborto é você querer calar efetivamente quem pode se manifestar. E como advogado eu digo: você violar a Constituição, um dos direitos mais sagrados, que é o direito à liberdade de expressão, manifestação de pensamento, na verdade, é você querer calar as pessoas. Isso é uma coisa totalmente inaceitável. Mas, voltando efetivamente à figura de pai, eu vi você se manifestando em relação ao seu filho. Eu tenho um filho de 22 anos também, e o quanto é difícil a gente criar seres humanos hoje na nossa sociedade! A nossa sociedade está muito presa hoje às telas, muito presa às questões de internet. Muitas vezes, na internet, quando você não tem o controle da sua família, quem cria seus filhos é a própria internet e toda a podridão que existe lá. A internet tem muita coisa boa, passa muita coisa boa, mas, quando você não tem esse controle, efetivamente você perde essa possibilidade de ter a sua família para com você. Então, quando você se manifesta falando do amor, do carinho que você tem da sua família, eu me coloco muito na sua posição em relação a todas essas afinidades que nós temos e digo o seguinte: foi fundamental o que você fez. Foi fundamental, porque na verdade você abriu mão de princípios - quando digo princípios, dentro do esporte - para valorizar os seus princípios como ser humano. Se as pessoas hoje abrissem mão de valores financeiros e valorizassem os valores espirituais, a gente teria uma sociedade totalmente diferente. Então, eu quero parabenizá-lo, quero parabenizá-lo como pai, quero parabenizá-lo como profissional, quero parabenizá-lo como pessoa que tem amigos e é fiel aos amigos e quero parabenizá-lo principalmente como pessoa, por ser católico praticante e contrário ao aborto. Isso é fundamental em todos os sentidos. A população brasileira tem que entender que ser fiel a princípios é mais importante do que ser fiel a questões financeiras e questões de valorização econômica. Muito obrigado pela oportunidade, Senador Girão. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muitíssimo obrigado, Roberto Lasserre. Olha, o que foi colocado aqui, eu acho que, se a gente pensar, desde o Deputado Thiago Manzoni, que fez a colocação, a minoria é barulhenta - a minoria, mas a minoria mesmo, isso aí está claro, mas eles são ousados. A gente tem que reconhecer que eles são audaciosos. |
| R | Se a maioria que é tímida, a maioria que é conservadora, que tem suas posições pró-vida, fosse ousada também, não estava desse jeito! Mas eu acho que esse aprendizado... A minha avó dizia, no interior do Ceará: "Ou a gente aprende pelo amor ou pela dor". E a gente está vendo as pessoas sofrerem, porque se deixou essa maioria lá em cima pintar e bordar por uma questão de agenda woke, essa minoria, por uma agenda... É destrutivo mesmo, é para separar, e é o inverso do esporte, que é para juntar, que é para unir. Então, eu fui a Portugal uma época... Eu confesso que o meu esporte preferido é futebol. Eu desde pequeno queria ser jogador de futebol. Mas quem não parou para assistir aquela seleção daquela época do Marcel, do Oscar? Aquilo ali foi um negócio que foi uma lavagem de alma. Eu vou dizer uma coisa para vocês, eu tive a oportunidade, na minha vida, dos nomes que vocês falaram, de conhecer a Hortência, pessoalmente, num evento que eu fui em São Paulo, e ela falou algo que eu nunca esqueci, numa palestra dela, corporativa. Ela disse: "A oportunidade é como um cavalo que vem na sua frente, só que o rabo do cavalo, a cauda está na testa. Se passar e você não pegar, você não pega mais". Foi uma fala que me marcou; eu tinha ali vinte e poucos anos. E depois a Paula, a Paula... A gente tem um hotel, lá em Fortaleza, e nós recebemos os clubes de futebol, porque tem um campo de futebol, nas dimensões da FIFA, dentro do hotel. Então, nós recebemos o clube da série A, recebíamos da Série B e tal. E a gente foi inaugurar o campo... Olha só as coisas de Deus, não é? Armando Nogueira, o grande Armando Nogueira foi inaugurar o campo junto com a Paula. A gente fez um evento sobre responsabilidade social no esporte, foi a Paula, foi o Armando, depois teve o jogo Ceará e Fortaleza, os atletas... Foi lá no Porto da Aldeia. Os atletas do... Como é que chama? Máster! Os atletas do máster foram lá. Foi muito interessante, porque a gente levou o Roberto Dinamite, botou a camisa do Fortaleza; levamos o Careca, que jogou pelo Ceará. Foi interessante isso. E também o Donizete Pantera, do Botafogo, foi lá. Foi um negócio marcante. Foi transmitido ao vivo o jogo de lá, direto. E eu participei daquela organização e pude bater um papo. Agora, o trabalho ficou evidenciado aqui, o trabalho. E quem acompanha basquete sabe que a performance, o resultado esportivo veio... Não é uma questão de resultado esportivo, como me parece que foi dado a entender na carta que o Sr. Guy mandou para a gente aqui, para essa Comissão, da Confederação Brasileira de Basquetebol. Então, me parece um discurso vazio, e a gente vai precisar entender o que está acontecendo. Então, vamos partir para as perguntas. |
| R | Estava falando de Portugal. Eu vi, num muro pintado - e me marcou muito também -, na primeira vez que eu fui a Portugal, uma frase que dizia o seguinte: "o mal só triunfa quando os bons cruzam os braços"; ou silenciam. Então, nós estamos com dois brasileiros aqui, tanto o Falcão como o líder - muito bem-colocado pelo Rodrigo Marinho o exemplo de liderança, o líder servidor, que é o Zé Neto -, que não cruzaram os braços, não silenciaram. Então, para a gente é muito importante isso. O post está no ar? Só para a gente colocar aí enquanto... Eu vou passar a palavra agora para o Falcão, vamos colocar as perguntas. Só para a gente... Foi falado tanto desse post, e vamos colocar aí como é que começou isso tudo. Está aí o post. Foi o Padre Paulo Ricardo, que já esteve aqui no Senado também. Tenho uma grande admiração por ele. O Padre Paulo Ricardo é um grande defensor da vida desde a concepção. É muito corajoso. E ele coloca ali: Eu não sei como você foi concebido, se é em pecado, não sei se nasceu de um estupro ou de um casamento sacramentado, não me importa. Desde toda a eternidade, Deus sonha com você. A vida não é um fardo, meu irmão, é uma bênção. O post do grande Padre Paulo Ricardo. Aí foi repostado isso aqui, republicado pelo Diego Falcão. E depois a frase de Madre Teresa de Calcutá, que ele coloca: "Qualquer país que aceite o aborto não está ensinando o seu povo a amar, mas a usar qualquer violência para conseguir o que deseja". Madre Teresa de Calcutá, que recebeu o Prêmio Nobel. Nós estamos falando de uma mulher que recebeu o Prêmio Nobel. Eu não sei se você sabe do detalhe, mas, quando ela foi receber o Prêmio Nobel, estavam lá os presidentes, primeiros- ministros, estava lá aquela turma toda para receber e tal, e ela foi fazer o discurso dela. E o discurso dela foi em cima do aborto. Todo mundo... Era um presidente olhando para o outro, príncipe para lá olhando para o outro, e ela fez um discurso firme contra o aborto. Então, é a nossa grande referência. Então, as perguntas... Esse aqui é o post que o Zé Neto fez em solidariedade ao colega, da sua equipe, ao amigo irmão, em que ele mostrou aqui o seu valor. Eu vou pedir que esse post dele, para a gente não ter que ler, que se coloque na... Eu vou passar para você, da Secretaria, para colocar na página da Comissão, para deixar registrado também esse post aqui, que é uma foto dele com o Falcão, dos dois aqui, com esse troféu. É de onde? (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Campeão da América, do ano passado. Olha só! Então, vamos lá às perguntas aqui, da população. Mário, de São Paulo: "Deve-se respeitar a opinião das atletas no que se refere à quebra de confiança, mas não se pode julgar o profissional pelas suas opiniões". Vou ler todos aqui. Danielly, de Rondônia: "A demissão foi baseada exclusivamente nas crenças do treinador ou havia [...] questionamentos sobre sua eficácia técnica ou desempenho?". Danielly, de Rondônia, se manifestando aqui. |
| R | Stefani, de Santa Catarina: "Saúde mental é essencial no rendimento do atleta, você imaginou que seu posicionamento [não sei se ela está dirigindo para o Diego ou para o Zé Neto aqui, mas vocês se sintam à vontade, qualquer um dos dois que quiser responder] poderia afetar de alguma forma o time que preparava?". Gerciane, de Pernambuco: "Até onde a liberdade de expressão [...] [interferiria na atuação] profissional? [...] [Se interferisse, justifica a] demissão? [...] [Se não,] seria esse um crime?". Jackson, de Rondônia: "[No cenário esportivo brasileiro,] quais precedentes podem ser criados com a decisão de desligamento e o debate sobre o caso de Diego Falcão?". Pergunta muito interessante aqui, Jackson. Todas as perguntas são importantes, mas essa aqui é justamente sobre o precedente, a intimidação que foi feita aqui: "Ó, não vai pela nossa cartilha woke aqui? Nós é que mandamos aqui. É o politicamente correto. Você vai cair fora". Com isso, muita gente pode se calar - muita gente pode se calar. Então, é por isso que não pode ficar por isso mesmo. Nós temos que atuar, viu, Roberto? A gente tem que atuar na defesa do que a gente pode fazer aqui enquanto Senado, enquanto Parlamento, porque o que aconteceu foi um absurdo. Carlos, do Rio de Janeiro: "Qual o limite da liberdade de expressão?". É a pergunta do Carlos, do Rio de Janeiro. Willian, de Rondônia - o pessoal de Rondônia participando mesmo -: "Qual o papel das redes sociais nesse caso? Elas amplificaram o debate ou distorceram os fatos?". Cauã, da Bahia: "Esse desligamento não fere claramente a Lei nº 9.029/95, que proíbe quaisquer práticas discriminatória para permanência no emprego?". O Presidente falou: "Ah, mas não tem relação trabalhista, não tem...", mas existe uma relação no trabalho. Eu repito: se fosse o inverso, meu amigo, o mundo tinha caído, a militância não ia brincar. Gabrielle, do Amazonas: "Por que uma opinião do ex-treinador mudaria a competência do mesmo de capacitar as jogadoras? Isso não deveria ter influência alguma". O Brasil todo participando. Olha o Amazonas! João, do Acre: "A ação de demitir o profissional, fere os princípios da justiça e igualdade garantidos com relação a liberdade de opinião. Merece reversão". Mariana, do Distrito Federal: "Não se trata [...] [apenas] de liberdade de expressão [...] [mas] de defender publicamente uma postura num país onde [...] [mulheres] são estupradas diariamente". É a opinião dela. Inclusive, os posts aqui das duas jogadoras - eu vou pedir também para a mesa colocar os posts das duas jogadoras - falam nessa linha, como se - é a minha opinião aqui - uma coisa fosse estimular a outra. Defender a vida desde a concepção absolutamente não estimula estupro. Muito pelo contrário, nós defendemos a vida desde a concepção e que o estuprador seja punido de forma exemplar - de forma exemplar, é crime hediondo. |
| R | Então, vamos lá. Essas são as perguntas. Tem mais duas aqui que eu queria fazer, duas para o Diego Falcão e duas para o Zé Neto. Ao longo de sua carreira, Diego, o senhor sempre defendeu valores profundamente enraizados na sua formação pessoal e religiosa. Como a sua fé se relaciona com a sua identidade e com a sua atuação enquanto profissional? Outra para o Diego: já ocorreram situações em que outras pessoas manifestaram a opinião delas que era divergente da sua? Como você lidou com isso? E como essas pessoas lidaram com a sua opinião quando divergente da delas? Também vale para ti, Zé Neto. E as duas perguntas finais aqui para o Zé Neto. O senhor mencionou que sua decisão de se afastar da Seleção Brasileira de Basquete foi motivada por princípios e valores que orientaram sua vida pessoal e profissional. Na sua visão, qual é o papel dos valores no contexto de liderança de uma equipe? Como eles influenciam a construção de um ambiente de trabalho coeso e respeitoso? Outra pergunta, a última: a liderança no esporte frequentemente envolve a conciliação de diferenças e o respeito à pluralidade. Em sua experiência como treinador, como o senhor acredita que os valores devem ser integrados à gestão de uma equipe diversa, sem comprometer a harmonia e o desempenho coletivo? Inclusive, Zé Neto falou aqui: foram 20 anos para conseguir o... Vinte anos depois. E eu lembro muito, assim, essa questão de treinar o masculino e o feminino... Tem exemplos fantásticos também, como o do Bernardinho, o do Zé Roberto, também no vôlei. E no futebol a gente vê também: a Seleção Brasileira de Futebol, o René Simões... (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Exatamente, exatamente. Interessante isso ter acontecido no basquete. Passo a palavra... Vamos pegar o Diego? Vamos liberar o Diego? Passo a palavra para o Diego. Já é o que aí? São 12 horas mesmo de diferença? Aí já são 11h26 da noite? Um abraço, muito obrigado pela sua participação. O SR. DIEGO MAROJA FALCÃO (Para expor. Por videoconferência.) - Eu que agradeço, Senador. Obrigado por toda atenção. Aqui são 13 horas. Estou 13 horas acima do fuso do Brasil. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Meia-noite? Meia-noite e meia aí? O SR. DIEGO MAROJA FALCÃO (Por videoconferência.) - Meia-noite e meia aqui, exato. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Meu Deus! Desculpa, perdão aí por fazer você passar por isso. O SR. DIEGO MAROJA FALCÃO (Por videoconferência.) - Não, não tem problema. Faz parte. Isso aí é um direcionamento que o Papai do Céu quis e a gente tem que honrar. Sem problema nenhum, com muito orgulho. Sempre, sempre a favor da vida. (Risos.) Senador, eu fico muito feliz quando escuto essas perguntas. Realmente, com essas perguntas e todos os comentários que eu recebi em mensagens, em ligações, em posts, com todas as orações que eu recebi também, eu fico muito feliz, porque isso diz muito o que eu sou. Eu tenho certeza... E muito do que eu falo sobre a vida - e eu tenho isso comigo - eu sempre falo para direcionar as pessoas, porque, como José Neto falou aí, eu sei de onde eu saí. |
| R | Eu nasci de uma classe média pobre, nasci em uma cidade pobre, em um estado pobre, e sei que os direcionamentos que a vida entrega, e o que você faz com ela muda o fim, muda o processo, entendeu? Assim como muitas pessoas, muitos anjos na minha vida chegaram, e isso, José Neto é um deles, uma pessoa que teve comigo, está comigo há 17 anos, não é meu amigo, como ele mesmo falou, meu irmão, minha família, e assim, como ele, eu tenho várias pessoas com esse direcionamento; então, eu devo isso, claro, principalmente ao meu direcionamento religioso: Deus, Deus sempre em primeiro lugar. Tudo que eu faço na vida e até os erros que eu cometi, eu sei que foram errados pelo direcionamento bíblico, por seguir o Evangelho, por saber que, quando você faz algo bom ou ruim, a única coisa, o único lugar que você acha que é bom ou ruim é na Bíblia. Então esse direcionamento eu levo e sigo o Evangelho hoje porque entre erros e acertos eu já vi que o certo é certo. Não tem muro, só existe um lado, e é isso que eu tenho que passar. Quando eu falo de forma desportiva, isso nunca foi levado em consideração, como eu já havia mencionado na minha primeira parte, na minha primeira fala, nós tratávamos única e exclusivamente de forma desportiva, mas claro, como já foi citado que a parte da liderança, a parte do direcionamento, também o lado social está diretamente - e o senhor sabe, que já conviveu com atleta de alto nível - relacionado num alto nível desportivo, então é impossível você viver só de forma profissional. Aquilo que você é na vida, você é transparente e você vive diretamente no seu profissional, claro que essas pautas não eram levadas na parte técnica tática porque a gente só falava de basquete, mas a minha vida e, com muito orgulho eu falo disso, da minha família, da minha mulher, dos meus filhos, eu falo com muito orgulho isso, ela é pautada no direcionamento de Deus. Sigo o Evangelho e fico muito feliz, até mesmo quando as pessoas falam contra os meus princípios, porque eu vejo que realmente eu estou certo. Quando alguém fala que é normal você dizer que um feto, você tem que matar. Tem uma opção, como foi citado anteriormente aí, você tem a opção de ter o parto e nascer a criança viva ou morta e você prefere que ela nasça, que ela tenha que nascer morta, eu realmente fico constrangido, isso me constrange, entendeu? Então assim, eu fico muito feliz de o senhor abrir esse espaço para nós, para a gente dizer que no esporte existem muitas pessoas de Deus, muitas pessoas que brigam pelas pautas de Deus, e só tenho a agradecer. Tudo que eu postei, eu postei com convicção, posto, falo, e no meu dia a dia, eu sempre fiz isso, e não é agora que irão me calar. Minha voz apenas potencializou, e vou fazer cada vez mais, com mais frequência. |
| R | Mas eu queria, antes de tudo, agradecer por todo espaço, por toda essa abertura, por tudo; quero agradecer a todos que estão aí, e digo que seguimos, não podemos parar, não podemos parar, temos que seguir. Quero agradecer, muito obrigado, obrigado por tudo e pode me convocar que estarei sempre aqui presente. Agradeço à minha família que está aí: José Neto, Elis, Matheusinho, Fábio, agradeço a todo mundo que está aí. Obrigado pela presença, porque eles estão me representando aí. Estou longe, mas estou perto. Obrigado por tudo. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem, muito bem, Diego Falcão. Parabéns pelo seu testemunho. E por mais que vocês, tanto você quanto José Neto, passaram por isso, e estão passando ainda, porque muitas portas se fecham, é natural, mas outras se abrem. O importante é continuarmos combatendo o bom combate, de acordo com a nossa consciência, e a gente nunca está sozinho, nunca! A solidariedade foi gigantesca da população brasileira, e a gente sabe que Deus é que está no controle de tudo e que vai prover. Então, contem sempre também comigo aqui no que eu puder ajudar. Já passo imediatamente a palavra aqui para o José Neto, que veio com a sua família. Quero agradecer novamente, que é também a família do Diego - achei muito bonito o que ele falou aqui -, à Elisângela Aparecida Müller Alves dos Santos, que é esposa; ao Mateus Müller Alves dos Santos, filho - jogador de basquete também, não é isso? Olha aí, coisa boa -, e ao Fábio Malatesta, que é irmão. Que coisa boa, fico muito feliz. Quando eu - antes de passar a palavra, que você vai encerrar - fui Presidente do Fortaleza, em 2017 - viu, Rodrigo? Não sei se você sabe desse detalhe -, as pessoas me prepararam da seguinte forma, olha só: " Rapaz, não entre nisso não, isso é coisa suja, você vai se queimar com isso aí. Quem é dirigente tem que fazer errado para conseguir ganhar, tem que comprar juiz, tem que comprar o jogador", e isso me estimulou, quando as pessoas começaram a dizer, eu disse: "Rapaz, tem alguma coisa errada nisso aí!" Mesma coisa que disseram para entrar na política depois. Só é lugar de gente mal-intencionada e tal. Aí eu disse: "Eu sou desportista, assisto o jogo, desde pequeno, em arquibancada. Quando os jogadores fazem o gol... Vamos lá, jogador faz o gol, primeira coisa que ele faz antes de comemorar o gol, qual é? Dedicar para Deus, dedicar para Jesus. O goleiro faz uma defesa espetacular, qual é a primeira coisa que ele faz?" (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Na época do nosso Presidente aqui, ele se benzia, exatamente, o nosso Presidente Romário. A maioria dos jogadores são evangélicos, católicos. Primeira coisa que eu fiz, quando eu assumi o Fortaleza, foi uma reunião com eles, olhando nos olhos dos atletas. Apresentei-me, disse qual era o planejamento e queria ouvi-los. Ouvi. Foi fantástico. E diziam o seguinte, para me desestimular, ex-dirigentes, pessoas do meio: "Tudo o que você se comprometer com eles, com os atletas: de bonificação, de salário, de tudo, na hora do jogo mais importante, eles vão virar as costas e te chantagear por mais". Diziam isso para mim. E aquilo, pois, não batia com a questão dos valores morais do que eu via. Aí eu disse: "Eu duvido disso". E, rapaz, tudo o que a gente acertou com os jogadores, que os jogadores aceitaram, tudo eles cumpriram, não teve nada disso. Eu sou testemunha. E a bola entrou, e a bola entrou. Porque a gente foi fiel aos princípios e valores ali... |
| R | E, segundo, quem entende de futebol - eu entendo de gestão, mas de futebol eu sou um torcedor -, os especialistas, os comentaristas, dizia que aquele time que a gente tinha ali era o time menos qualificado dos oito anos que o Fortaleza passou na Série C, ou seja, boa parte da torcida já tinha jogado a toalha, que naquele ano não ia subir. E foi com aquele grupo de homens honrados, que Deus abençoou, pelos valores e princípios - eu me arrepio falando isso -, que deu certo aquele time, contra os prognósticos. Ali nós conseguimos subir, depois de oito anos, em seis meses da minha gestão no Fortaleza Esporte Clube. E outra coisa de que eu tenho que dar o testemunho aqui, e nós vamos encerrar, vamos ouvir o Zé Neto, tem uma coisa que aconteceu no clube de que eu quero dar o testemunho. Teve um jogador, um ídolo nosso da história do Fortaleza chamado Clodoaldo. Esse cara é bem pequenininho, baixinho, um gênio da bola, do futebol. O Clodoaldo - a gente sabe que o sucesso leva... que muitas vezes você não está preparado para aquilo - veio muito pobre de Ipu, uma pessoa muito humilde e tudo, passou muita dificuldade, e o esporte às vezes abre portas, a porta larga, não é? Tem a porta larga e a porta estreita. A gente tem sempre que escolher a porta estreita, mas tem a porta larga, está lá. Então, num momento de fraqueza, que é normal - e ele diz isso, eu estou falando porque é uma coisa que ele fala e todo mundo sabe -, ele, ídolo do Fortaleza... Sabe quem era a empresária dele? A Marlene Mattos, que era da Xuxa. Então ele estava todo dia no Globo Esporte. Você que é flamenguista pode ter certeza de que o Clodoaldo tinha até um rap, um "melô" e tal, jogava todo dia no... Rapaz, o cara fazia gol em todo jogo, era incrível, era um gênio. E ele, num momento de fraqueza, com o Ceará, que é o nosso adversário principal lá... E nós lançamos na nossa gestão uma parceria com o Ceará, porque nós podemos ser adversários, mas jamais inimigos, porque nós somos irmãos, filhos do mesmo Deus. Dentro do campo é um querendo ganhar do outro, mas com respeito. Nós começamos isso... Tinha umas cinco, seis mortes por Clássico-Rei, porque, se o cara estava com a camisa do time rival no terminal de ônibus, ao redor do estádio, se matava lá em Fortaleza. Eram cinco, seis mortes. Depois que a gente começou uma série de parceria com o Ceará, eu indo assistir ao jogo no camarote - claro que com a anuência do Presidente do Ceará -, foi fantástico, eu com a camisa do Fortaleza e o Presidente com a camisa do Ceará, os jogadores entrando alternados, de mão dadas, um do Ceará, um do Fortaleza... Isto ninguém nunca viu: o Presidente assistindo ao jogo ao lado do outro, com a camisa, com o maior respeito. O mascote do Fortaleza com a bandeira do Ceará, não com a bandeira em si do clube, mas com o símbolo, com o nome "paz", p-a-z, com as cores do Ceará, o mascote do Fortaleza, o Leão, o Juba, com isso. E o mascote do Ceará, o Vovô, com as cores do Fortaleza, azul, vermelho e branco, com o nome "paz". Todo mundo ficou assustado com aquilo, ninguém entendia aquilo. Mas a gente foi incutindo, porque o exemplo tem que vir de cima. As mortes acabaram. Na segurança pública está tudo destruído lá. Em um mês, Thiago, e eu digo isso com pena no coração, no mês de março agora, houve 320 assassinatos no Estado do Ceará. É coisa de guerra - de guerra -, totalmente fora de controle. Mas, no futebol, não, não tem morte mais, porque a intolerância no futebol... Está vendo? Então, é muito importante o Clodoaldo. O Clodoaldo, num momento de fraqueza, assinou com o clube adversário. Ainda tendo o contrato no Fortaleza, aliás, tendo o compromisso de assinar com o Fortaleza - o Diretor, o Presidente falou -, ele assina com o adversário e beija o escudo, aquela coisa e tal. E ele era o ídolo, o ídolo, o ídolo, as pessoas iam... E ali a torcida pegou uma mágoa muito grande, a torcida pegou uma... Ficou guardado o rancor durante dez anos na geladeira. |
| R | Eu estava na Presidência, um dia, tinha acabado de assumir, toca o telefone lá na portaria: "Olha, o Clodoaldo está aqui". Eu disse: "Que Clodoaldo?". "O nosso ídolo está aqui embaixo, Presidente." Eu disse: "Está de brincadeira. Eu vou descer aí para recebê-lo". Aí eu desço. Quando chego, ele se assusta quando me vê. Aí eu disse: "Por que você está assustado?". "Não, é porque a última vez que eu vim aqui me botaram para fora." E ele foi com um sargento, amigo dele, com medo de ter violência, porque a torcida não gostava dele, e em um horário que não tinha muita gente. Aí eu peguei e disse o seguinte: "Não, cara. Que é isso? Você é muito bem recebido aqui, vem cá". Aí eu notei... Ele falando do que aconteceu com ele, pois a gente perguntou, ele disse: "Eu me arrependo muito do que eu fiz, eu devo tudo a esse clube. Eu errei". Aí, na hora, eu tive a intuição e disse: "Clodoaldo, você pediria perdão à torcida do Fortaleza?". Aí ele, chorando, disse: "Eu vou pedir perdão, isso vai me tirar umas duas toneladas das costas". "Pois peça, porque, como Presidente, você já tem aqui o nosso consentimento, o perdão, mas eu tenho certeza de que a torcida vai também perdoar você." Coincidentemente - está aqui um torcedor fanático do Fortaleza -, nesse período dos dez anos que ele passou, para o Fortaleza dava tudo errado, dava tudo errado, um time da grandeza do Fortaleza, que hoje é o vice-líder do Campeonato Brasileiro de Futebol... (Intervenção fora do microfone.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - ... com um jogo a menos - olha quem está acompanhando o futebol, hein, Mateus? É desportista, isso é bacana -, que foi para a final da Sul-Americana no ano passado, o Fortaleza, depois que nós fizemos o perdão - nós fizemos um vídeo com ele pedindo perdão -, a torcida depois o perdoou e aconteceu uma coincidência incrível. Nós soltamos o vídeo do perdão... Faltou coragem minha para soltar. Esse vídeo ficou pronto por dois meses na minha mão, e eu querendo que o time ganhasse... |
| R | Eu estava balançando, a torcida sem paciência, há oito anos na Série C. Eu estava balançando, a torcida estava com paciência zero. Não adiantava eu chegar 7h da manhã e ir embora 11h da noite, dando tudo que eu tinha, longe da minha família, dinheiro, tudo, mas a torcida, se perdesse o jogo, ia bater em mim! E aconteceu um dia que só não bateram em mim porque eu sempre tive uma atuação muito de bastidor, não era de aparecer e não me reconheceram. Eu passei no meio da torcida, e eles foram bater nos meus jogadores no estádio. Invadiram lá o vestiário e essa coisa toda. Foi uma loucura! Os jogadores queriam ir embora. "Não, não fico mais aqui de jeito nenhum, essa torcida está louca!". E aí nós fomos casa a casa dos jogadores conversar com a família deles: "Calma, agora nós vamos fazer... o time é Fortaleza, vai ser uma fortaleza, não vai acontecer mais esse problema de segurança". Foi num jogo que a gente nem perdeu, a gente empatou! Para você ver que loucura que estava. A gente estava na tabela lá em cima e empatamos o jogo. Olha que nível de loucura! Voltando aqui, para fechar o perdão do Clodoaldo. Eu fiquei com esse vídeo e disse: "Meu Deus, deixa ganhar duas partidas - duas partidas -, e eu solto o vídeo, porque a torcida vai estar mais receptiva". E nada de ganhar duas partidas. Ganhava uma e empatava outra; ganhava uma e empatava; perdia uma. E o Fortaleza ali na... Chegou na véspera do mata-mata, do jogo mais importante ali para a gente ir para o mata-mata, eu acordei no dia 7 de setembro - vamos ter agora - com uma intuição muito forte, de manhã, 6h30 da manhã. Era um treino aberto que a gente ia ter no nosso estádio, o Alcides Santos. Eu acordei com uma voz dizendo o seguinte: "O bem não pode esperar". O bem não pode esperar. E eu esperando dois meses para soltar o vídeo, com medo de perder a torcida. Rapaz, ali eu peguei o telefone, liguei para o nosso diretor de marketing, o Marcel, e disse: "Marcel, solta o vídeo na hora do treino". A torcida toda no estado: "Solta o vídeo". "Mas, rapaz, pode acontecer ali, o pessoal está começando a apoiar para o jogo mais decisivo". "Meu amigo, o bem não pode esperar, solta o vídeo". Ele estava com a perspectiva, Elizabeth, que era o seguinte... Elisângela, perdão. Ele estava com a perspectiva de que 40% da torcida ia perdoar, 60% não. Estava preocupado, porque podia perder a atmosfera. Eu disse: "Solta o vídeo, vamos ter que soltar o vídeo". Estavam 4 mil pessoas lá no nosso estádio pequeno, lá no Pici, e a gente solta o vídeo. E a gente tinha seguranças na torcida à paisana, eu no camarote e perguntando: "E aí"? A torcida na batucada antes de soltar o vídeo, batucada, pá-pá-pá-pá-pá, apoiando o time no treino, antes do jogo, dia 7 de setembro. Aí, parou todo mundo de tocar a batucada. Ficou um silêncio ensurdecedor, os jogadores treinando, até os jogadores não entenderam: "Poxa, pararam de tocar". Olharam um para o outro assim: "O que foi que aconteceu?". Era o vídeo chegando na imprensa e no celular de todo mundo, e as pessoas... Eu pergunto: "O que foi?". "Presidente, está todo mundo chorando aqui perdoando o Clodoaldo. Todo mundo chorando, todo mundo perdoando, 100%." Aí, eu disse: "Rapaz, não acredito, que coisa linda!". A partir daquele momento, tudo deu certo no Fortaleza, a partir do perdão. |
| R | E tem um sinal tão forte, que o gol que o Fortaleza fez no jogo seguinte, que foi o gol que levou o Fortaleza para o mata-mata e nós subimos, lá em Juiz de Fora... Nós subimos em Juiz de Fora em 2017, dia 23 de setembro de 2017. O gol que o Fortaleza fez no jogo para subir foi do Ronny. A bola bateu na trave, ele deu uma pancada de fora da área, a bola bateu na trave, rodou toda a rede, bateu na outra trave e voltou para a mão do goleiro do time do Moto Club, do Maranhão. Para mim, isso é um sinal de que o Fortaleza deu 180 graus ali, virou a chave. E tudo deu certo, a partir dali tudo deu certo. É impressionante o poder do perdão, isso é um testemunho... Ah, quando eu chego em casa - desculpa eu estar me alongando - de noite, o time foi para a concentração, para o jogo e tal, eu cheguei em casa, alguém descobriu o meu celular, não sei quem, um torcedor, e mandou: "Por que o senhor promoveu esse perdão nesse dia?". Aí, eu disse: "Não estou entendendo, é porque é 7 de setembro? Não foi isso". "Não, porque, segundo a Igreja Católica [e eu não sou católico, eu sou espírita, mas olha só], é o dia de São Clodoaldo". Eu não tinha a menor noção disso. Dia de São Clodoaldo! E sabe quem foi São Clodoaldo? Depois você pesquisa a história dele. Era um príncipe na França, e mataram o pai dele. Fizeram uma emboscada, e os próprios conselheiros mataram o pai dele. Ele teve que fugir ou iam matá-lo. Ele fugiu na França. E o Fortaleza, o clube, foi inspirado na França. O Fortaleza teve a inspiração nas cores da bandeira da França, o primeiro Presidente estudou na França e tal, o Alcides Santos. E aí, olha só que coincidência: ele volta ao poder depois de muitos anos. O reinado era de paz no tempo do pai dele, mas virou uma confusão, uma briga. Depois de muitos anos, ele volta para instituir a paz, e sabe o que aconteceu? Ele teve a chance de mandar matar quem mandou matar o pai dele e ele perdoou. Nada é por acaso, as coisas da vida da gente. Eu passo a palavra, agradecendo a paciência da família e de todos vocês, porque isso aqui é muito marcante, tudo isso que está acontecendo, e não é por acaso. Então, José Alves dos Santos Neto, Zé Neto, tem essas perguntas. Você fica à vontade para responder e para fazer suas considerações finais. (Pausa.) O SR. JOSÉ ALVES DOS SANTOS NETO (Para expor.) - Agora sim. Bem, obrigado. Acho que isso tudo fortalece e deixa ainda mais exemplos concretos daquilo que a gente tanto fala. Também quero ir por essa linha de que, como meu pai dizia: "Falar até o papagaio fala, fazer é para poucos". E essas questões que vieram agora remetem muito a atitude: não é aquilo que nós conhecemos e aquilo que nós falamos, mas aquilo que nós fazemos mediante aquilo que nós temos como conhecimento. |
| R | Eu estou muito convicto de que - acho que em qualquer profissão, mas vou falar especificamente da minha - é muito importante ter conhecimento, é muito importante saber de basquete, ter experiência, é muito importante, mas muito mais importante é quando você tem a possibilidade de usar aquilo que você conhece para que você possa arrastar com o seu exemplo e com a sua liderança, e aí ela é fundamental. Então são coisas que são importantes e aquilo que é fundamental. Na minha carreira como treinador - e acho que para todos os treinadores, independentemente da modalidade -, o que é preciso fazer para que se tenha êxito sem sombra de dúvida nenhuma: dos meus 32 anos de experiência como treinador, eu digo que você precisa ser um bom gestor de pessoas, porque não é só o relacionamento com o atleta, não é só o relacionamento com o jogador, não é isso. É relacionamento com todos, desde a sua comissão técnica. E aí eu vou falar também sobre a liderança, que é o tema das questões aqui, que também são norteadas, claro, pelos valores, pois estamos falando dos valores e daquilo que a gente aplica para que a gente possa ser líder. O Diego teve que sair, como foi colocado pela diretora; depois, eu saí por uma decisão minha, eu abri mão, como eu falei, um momento muito duro, e ainda sofro com isso, porque não é fácil, hoje eu não tenho um trabalho, tudo isso. É duro você abrir mão disso, mas, como eu falei, são coisas inegociáveis. E logo depois que eu deixei também, toda a minha comissão técnica também abriu mão. Então, o meu assistente, os meus dois assistentes... O João Camargo, que dirigia a equipe do Sesi de Araraquara, pediu demissão também, para que ele não continuasse, porque ele não queria continuar porque, depois que eu saí, foram pedir para que ele continuasse. Porque não era desejo da confederação que eu saísse. Então aí também pode se esclarecer esta situação de que a confederação me tirou por um resultado: não, porque a confederação já tinha se comprometido comigo de que eu iria ficar mais esse ciclo, porque sabia do resultado que a gente teve, sabia da transformação que nós fizemos. Então, não foi desejo da confederação que eu saísse. E, depois disso, os meus assistentes, o outro que é um francês, que é o Virgil, que já estava há muitos anos aqui no Brasil, inclusive é casado com uma jogadora que foi jogadora da seleção, Adriana Santos, que também fez parte do corpo administrativo da seleção... E uma coisa é que essa decisão é muito complicada. Eu falo de decisão e liderança porque eu já tive um episódio anterior relacionado a esse tipo de situação, mesmo no feminino, porque naquela época do Mauricio, do vôlei, que fez aquele post também sobre o super-homem... E eu conhecia o Mauricio já de tempos, porque eu estive com ele nos Jogos Olímpicos em Londres e a gente estava no mesmo prédio, então a gente se falava, a gente tinha esse contato. E, quando ele postou e eu curti - não fiz um comentário, eu curti -, teve um site, uma página bem conhecida, que fez uma matéria dizendo que eu estava curtindo e era homofóbico. Se você pesquisar na internet vai ter isto: que eu era homofóbico. E nessa época a diretora era a Paula, e me lembrei agora, se falou na Paula, e eu estava em Angola porque nos últimos quatro anos eu dirigi em Angola. Eu fui treinador em Angola, que é o país da África mais vencedor do basquete, como o Deputado Thiago também falou. |
| R | Eu tive a oportunidade de ser treinador da seleção masculina de Angola, e abri mão de um contrato lá muito economicamente vantajoso, porque eu já tinha um compromisso moral, mesmo sem ter contrato aqui, como disse o Presidente na carta. Mesmo sem ter contrato aqui, eu abri mão porque eu tinha um compromisso moral com eles de que eu iria continuar e as competições iriam bater. Então, eu consegui classificar a equipe de Angola para o campeonato africano de seleções, e depois eu abri mão. E para eles isso foi complicado, porque, imaginem, o país mais vitorioso da África, eu sendo chamado para continuar como treinador da seleção, e eu abri mão. Então, foi complicado, mas foi por uma questão também moral e, mais uma vez, pela prática de que os valores são maiores do que os preços. Então, eu tive essa possibilidade de executar também mais uma vez essa questão. Então, a liderança é muito disso, e a gente sempre tratou... Sabíamos, quando nós entramos na seleção, que era um ambiente que tinha algumas questões que eram contrárias àquilo que a gente tem como conceito de vida. Pelas questões das meninas, como era o ambiente e tudo mais, nós sabíamos disso, mas nós tivemos êxitos porque nós passamos por cima disso, ou seja, os nossos propósitos estavam acima dessas questões. E a liderança mostrou isso, porque a gente fazia isso com exemplos: sempre as tratamos muito bem. E a Paula, nessa época, quando aconteceu tudo isso, me ligou e falou: "Cara, está tendo um problema grande aqui, porque estão te acusando aí por você ter curtido o post do Mauricio. Estão te acusando de ser homofóbico e tudo mais". Eu falei: "Paula, veja bem, como é que eu posso ser homofóbico se eu estou potencializando essas meninas?". Eu sei que a maioria delas tem relações... Olhem os posts que eu curti também dessas jogadoras, que estão entre elas, que têm relação entre elas. Eu não tenho nenhum problema com isso, porque eu respeito. E o Diego fala uma coisa que é interessante e eu vou repetir aqui - acho que ele se esqueceu de falar -: nós não precisamos concordar com tudo; nós só precisamos concordar que nós podemos discordar e respeitar essas opções. E foi dessa maneira que nós tratamos sempre as meninas. Então, nós potencializamos muitas dessas meninas, que foram jogar na Europa, nos Estados Unidos, depois dos resultados que nós tivemos, em que restauramos a seleção, e ela teve resultados. Então, a liderança vai daquilo que nós fazemos. Não daquilo que nós pensamos, mas daquilo que nós fazemos, das nossas atitudes, e as nossas atitudes com elas sempre foram as melhores. As nossas atitudes com elas sempre foram respeitando as diferenças, sempre respeitando as opiniões. E isso fez com que a gente também tomasse esta decisão - e eu principalmente - de não assinar embaixo, porque é assim: "Bom, nós aceitamos tudo até agora, as diferenças, e trabalhamos e convivemos com isso. Agora, eu não posso aceitar que exista essa imposição de que o Diego tem que estar fora". Eu falei que o Diego não é meu amigo, é meu irmão, mas, se fosse com qualquer outro membro da seleção que eu tivesse recém-conhecido ou que estivesse fazendo parte da minha comissão técnica, eu não iria permitir isso, porque são coisas que são pautadas nos meus valores. Quero terminar aqui agradecendo esta oportunidade de poder falar para vocês um pouco daquilo que eu sou e, claro, colocar o fato que levou a que a gente pudesse falar sobre esse tema. |
| R | E quero restaurar um pouco aqui uma fala do Cortella, porque eu gosto muito das coisas que ele fala, de muitas das coisas que ele fala. Ele fala: "Um dia nós vamos embora. Isso é inevitável. Esta é uma certeza que nós temos: um dia nós vamos embora. E só tem um jeito de nós sermos eternos: é quando nós ficamos nas pessoas, quando nós ficamos no lugar, quando nós deixamos algo bom". Então, nosso propósito sempre foi - e o meu principalmente - ir para um lugar e deixar esse lugar um pouco melhor, quando eu sair, do que quando eu cheguei. E acredito que, nessa minha trajetória na Seleção Brasileira Feminina, aconteceu isso. Podemos ver isso nos resultados, no ranking e em tudo mais, mas, acima de tudo, nas possibilidades que foram criadas, apesar das limitações. Então, quando eu vejo as coisas indo bem, foi a semente que a gente plantou. Talvez a gente não fique nessa sombra dessa árvore, mas ficou um pouco lá. A mesma coisa aconteceu no Paulistano; a mesma coisa aconteceu no Flamengo; a mesma coisa aconteceu no Japão, quando eu fui; agora, em Angola, onde eu fiquei por quatro anos e acabei me tornando o treinador mais vitorioso do país em quatro anos. Então, isso para mim vale demais. E dois princípios para mim que valem muito - muito, têm grande valor - são a justiça e a gratidão. Então, desde o convite que o senhor fez - quero agradecer também ao Romário, que é Presidente desta Comissão -, que vocês me fizeram para vir aqui, eu, em nenhum momento, pensei em não vir e estar aqui, porque, uma vez que o senhor coloca esse requerimento, e ele é aprovado pelo trabalho dos Parlamentares, seria uma ingratidão muito grande eu não estar aqui, o Diego não estar aí, porque a gratidão é uma coisa que realmente nos move. Então, agradeço muito e oro para que vocês tenham força e que Deus capacite cada vez mais vocês para brigarem pelo nosso país. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muitíssimo obrigado, Zé Neto. Quero também agradecer ao Diego Falcão, ao nosso querido Deputado Thiago Manzoni, ao Rodrigo Marinho, ao Roberto Lasserre e, também, mais uma vez, à família do Zé Neto e do Falcão, aqui presentes, Elisângela, Mateus, e também o Fabio - satisfação demais a presença de vocês aqui. Martin Luther King dizia: "Uma injustiça em algum lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar". Então, nesse sentimento de justiça, eu também coaduno com vocês. Eu acho que a justiça nos move, esse sentimento. E, daquela mesma forma que a gente vê muito no futebol - não é, Rodrigo? -, os humilhados serão exaltados. A gente percebeu muito, em alguns momentos, que o time achava que estava... É aquela coisa de que a soberba que precede a queda, não é? E eu acho também que a intolerância precede a queda, sabe? Eu acho que fica um aprendizado para todos nós. Contem conosco. Eu sou do Estado do Ceará, uma terra libertária. O primeiro lugar a libertar os escravos no Brasil foi o Ceará, quatro anos antes da Lei Áurea. É por isso que nós somos considerados a Terra da Luz. E nós estamos vivendo um período de escravidão, de escravidão das ideias - tem que ser aquela ideia daquela turma woke -, de escravidão da liberdade de expressão; a censura tomando conta, a Constituição sendo desrespeitada. Mas nós vamos passar por isso com muita fé. Tem muita gente orando, sabia? |
| R | Rapaz, é impressionante - o Thiago deve vivenciar isso, como os Parlamentares aqui -, as pessoas dizem: "Olha, estamos orando por vocês. Vai dar certo". Isso dá uma força tão grande! É por isso que a gente está de pé, combatendo o bom combate aqui, com todas as limitações e imperfeições que nós sabemos que temos. Mas foi uma sessão muito significativa, emblemática e simbólica para o Senado Federal, na hora certa. Até demorou: ela foi aprovada em junho, mais ou menos, ou julho, e nós estamos aqui, já passou agosto. Mas agradeço a todos os membros da Comissão, à Secretaria pelo trabalho, ao Senador Romário, ao Senador Kajuru e aos outros Senadores da Comissão, que aprovaram o requerimento. Estava aberto aqui, mas eu entendo que tem muitas Comissões acontecendo ao mesmo tempo. Mas o contraditório a gente iria ouvir, como eu li aqui as perguntas, como eu chamei o Presidente, o Guy, para vir, e ele mandou esta carta, que vai ficar também nos Anais aqui da Casa. Outros Parlamentares que podem discordar da minha posição poderiam estar aqui, mas não vieram. O fato é que a verdade vai prevalecer, e nós não vamos desistir - contem com a gente, nós não vamos desistir - de buscar reparação por essa grande injustiça com esses dois brasileiros e com outros, que acabaram pedindo para sair também, que estavam com o seu sonho... Foi bom você ter citado os dois, os outros dois da Comissão. Como é o nome deles? O SR. JOSÉ ALVES DOS SANTOS NETO - João Camargo e Virgil Lopez. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - João Camargo e Virgil Lopez. Esse é o da França? O SR. JOSÉ ALVES DOS SANTOS NETO - É, é o francês. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - O francês. Minha solidariedade também a eles, mas dias melhores virão. Parabéns pela postura ética e correta de todos. Então, vou encerrar a sessão. Antes de encerrarmos os nossos trabalhos, submeto à deliberação do Plenário a dispensa da leitura e a aprovação da Ata da 12ª Reunião, realizada em 10 de julho de 2024. As Sras. Senadoras e os Srs. Senadores que aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.) A ata está aprovada e será publicada no Diário do Senado Federal. Nada mais havendo a tratar, agradeço a presença de todos e declaro encerrada a presente reunião. Deus os abençoe. Muita paz. (Iniciada às 9 horas e 13 minutos, a reunião é encerrada às 12 horas e 07 minutos.) |

