30/10/2024 - 23ª - CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas

Horário
O texto a seguir, após ser revisado, fará parte da Ata da reunião.

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O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Fala da Presidência.) - Brasileiras e brasileiros, minhas únicas vossas excelências, Deus e saúde, alegrias e vitórias em suas vidas e nas de seus familiares e amigos, neste 2024, a todos e todas aqui presentes e aos que nos acompanham pelos veículos de comunicação do tripé do grupo Senado, a TV Senado, a Rádio Senado e a Agência Senado, e pelas emissoras da Rede Novabrasil FM, BandNews FM 90.7 e TV Meio.
Hoje é quarta-feira, 30 de outubro de 2024.
Havendo número regimental, declaro aberta a 23ª Reunião da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, criada pelo RQS 158/2024 para apurar fatos relacionados às denúncias e suspeitas de manipulação de resultados no futebol brasileiro, envolvendo jogadores, árbitros, auxiliares, dirigentes e empresas de apostas, ou seja, corruptores e corruptos.
A presente reunião foi convocada para os depoimentos dos Srs. Lucas Paquetá, nos termos dos Requerimentos 65 e 71/2024, e Bruno Tolentino, nos termos do Requerimento nº 114/2024. Contudo, conforme informado durante a reunião de ontem, esta Presidência acolheu petição apresentada pelos advogados do jogador Lucas Paquetá, do West Ham, da Inglaterra, e da Seleção Brasileira, no intuito de remarcar seu depoimento para o mês de dezembro, na primeira semana, e, desse modo, hoje se procederá somente à oitiva do Sr. Bruno Tolentino, tio do jogador.
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No âmbito do Habeas Corpus nº 247.915/DF, impetrado pelo Sr. Bruno Tolentino, o Ministro Kassio Nunes Marques concedeu-lhe, em parte - diferentemente de outro Ministro, André Mendonça -, a ordem a fim de que seja garantido ao paciente: a) o direito ao silêncio, ou seja, de não responder, querendo, a perguntas a ele dirigidas; b) o direito de não ser submetido ao compromisso de dizer a verdade ou de subscrever termos com esse conteúdo; c) o direito à assistência por advogado durante o ato; e d) o direito de não sofrer constrangimentos físicos ou morais decorrentes do exercício dos direitos anteriores.
Feito o devido esclarecimento, convido, de imediato, para a mesa o Sr. Bruno Tolentino - que tome assento - para que possamos iniciar, como sempre, com este ser humano raro, brasileiro mundialmente respeitado, histórico Relator de CPIs e homem público desta Casa, Senado Federal, que é Romário de Souza Faria, que iniciará as perguntas.
Já que ele tem o direito de ficar em silêncio, eu pergunto ao Sr. Tolentino - porque, regimentalmente, sempre tem aqui o espaço para a explanação inicial de até dez minutos - se o senhor quer fazer a explanação inicial de sua presença aqui ou já podemos iniciar as perguntas ao senhor.
O SR. BRUNO TOLENTINO (Para depor.) - Boa tarde a todos.
Respeito a Casa, respeito os senhores, mas, por ordem de meus advogados, eu permanecerei em silêncio.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - De imediato, o nosso Relator, Romário de Souza Faria, amigo e irmão, à sua disposição.
O SR. ROMÁRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RJ. Como Relator.) - Boa tarde, Presidente; boa tarde, Sras. e Srs. Senadores; boa tarde a todos que me acompanham.
Obrigado, Sr. Bruno Tolentino; obrigado ao seu advogado aqui, doutor...
Qual é o nome? (Pausa.)
Dr. Gustavo. Muito obrigado pela presença de vocês. E Dr. Vinicius. Sejam bem-vindos à nossa Casa!
Apesar de o Sr. Tolentino ter esse direito de permanecer em silêncio, eu não poderia abrir mão, aqui, da minha parte, que é fazer as perguntas, entendeu, Bruno?
Então, vamos lá.
O senhor conhece o empresário Bruno Lopez de Moura, que foi investigado na Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás? Tem alguma relação pessoal ou profissional com ele?
O SR. BRUNO TOLENTINO (Para depor.) - Por orientação dos meus advogados, permanecerei em silêncio.
O SR. ROMÁRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RJ) - O senhor costuma fazer apostas esportivas regularmente? Quanto o senhor investe, mais ou menos, por mês, em apostas esportivas? Chegou a ganhar muito dinheiro com isso?
O SR. BRUNO TOLENTINO - Por orientação dos meus advogados, permanecerei em silêncio.
O SR. ROMÁRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RJ) - Presidente, eu teria aqui umas dez perguntas para fazer. Acho que... O que V. Exa... Faço ou...
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - A tua experiência é muito maior do que a minha, Romário, em todos os sentidos. Você, que é meu ídolo, você fique à vontade. Mas eu, inclusive, não cheguei a comentar contigo, porque você sempre é pontual; você já chegou aqui, e eu falei: “Vamos abrir?”, e você falou: “Pode abrir”.
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Quando eu cheguei para iniciar a sessão, mesmo contrariado, a minha assessora pediu que eu fosse lá, porque os advogados do Bruno queriam conversar comigo. Eu falei: “Se ele não vai falar, eu não tenho nada que conversar com ele”. Mas fui educadamente, me dirigi a ele, e ele disse que realmente não responderia nada. Nós tentamos falar para ele: “Algumas perguntas você poderá responder?”. Ele - ele mesmo, não foi nem o advogado - falou da mesa: “Não, eu não vou responder nada, porque tudo isso é mentira”. Foi o que ele me disse lá. Eu falei: “Então, você não vai responder nada? Então, eu não tenho nada a falar com você. Vamos aos nossos trabalhos e respeito o seu direito, porque você veio com habeas corpus”.
O SR. ROMÁRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RJ) - Bem, Sr. Bruno, o UOL publicou uma reportagem em que afirma que teve acesso a dois comprovantes de transferência bancária, no total de R$40 mil, que teriam sido enviados pelo senhor e por seu filho, Yan Tolentino, para um jogador que jogava na Espanha e hoje joga no Botafogo, e o senhor alega que isso se deveu a um empréstimo pessoal. A que se deveu esse empréstimo? Quando ele foi realizado? O senhor tem algum comprovante de recebimento desse dinheiro? Por que o senhor fez esse pedido de empréstimo ao jogador e não para o seu sobrinho?
O SR. BRUNO TOLENTINO - Por orientação do meu advogado, permanecerei em silêncio.
O SR. ROMÁRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RJ) - Sr. Bruno Tolentino, segundo reportagem do Portal GE, o processo de mais de 2 mil páginas da Federação Inglesa foi iniciado depois que a empresa de detecção de fraudes Sportradar alertou o Ibia, uma entidade de integridade em apostas. Segundo reportagem do The Sun, houve um ganho total de 100 mil libras, que equivalem a R$675 mil, nas apostas dos quatro jogos em que o seu sobrinho levou cartão amarelo; muitas dessas apostas foram feitas na Baixada Fluminense.
O senhor acha que todos esses fatos foram coincidência, ou o senhor concorda que houve algo estranho com essas apostas?
O SR. BRUNO TOLENTINO - Permanecerei em silêncio.
O SR. ROMÁRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RJ) - Muito obrigado pela sua presença, Sr. Bruno.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para interpelar.) - Sr. Bruno, eu gostaria que o senhor prestasse atenção na forma respeitosa como eu vou me dirigir ao senhor, pois eu nunca - e nem o Romário também -, eu nunca afirmei que é verdade o que se fala do jogador Paquetá, ao contrário do que eu fiz com o William Rogatto, em que afirmei que era tudo verdade. E ele veio por videoconferência e disse que realmente era um réu confesso - o advogado deve se lembrar do depoimento dele. Portanto, eu, antecipadamente, afirmei isso sobre ele e também sobre a Deolane. Ontem, eu afirmei que ela está envolvida até o pescoço. É diferente do caso Paquetá.
Agora, preste atenção, sinceramente, o senhor. O senhor é pai?
O SR. BRUNO TOLENTINO (Para depor. Fora do microfone.) - Eu sou tio.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - O senhor é tio, não é? Não, digo, o senhor tem filho, eu quero dizer?
O SR. BRUNO TOLENTINO - Tenho.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - O senhor tem filho?
O SR. BRUNO TOLENTINO - Dois.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - Ah, tem dois filhos. Então, o senhor, como pai, acha que é normal o senhor ficar em silêncio em todas as perguntas, mas, ao mesmo tempo, lá na sala, o senhor me disse que é tudo mentira o que se fala a respeito do seu sobrinho Paquetá?
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O SR. BRUNO TOLENTINO - Por orientação dos meus advogados, permanecerei em silêncio.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - Então, mas lá o senhor não ficou em silêncio. Lá o senhor falou para mim que tudo isso é mentira.
O SR. BRUNO TOLENTINO - Por orientação dos meus advogados, permanecerei em silêncio.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - Então, mas o senhor não pode nem dizer que tudo isso é mentira? Porque o senhor, não falando nada, não respondendo nada, o senhor deixa uma dúvida para toda a sociedade brasileira, se é mentira ou verdade. Porque lá para mim o senhor falou que é tudo mentira, e aqui o senhor prefere ficar em silêncio? O senhor acha que essa é a melhor forma de o senhor defender o seu sobrinho?
O SR. BRUNO TOLENTINO - Por orientação dos meus advogados, permanecerei em silêncio.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - Sinceramente, Relator Romário, eu deixo apenas no ar aqui, com todo o respeito aos presentes, à imprensa, que eu, com a experiência, com 50 anos de carreira que eu tenho, como jornalista esportivo - e o Romário com a experiência mundial que tem -, eu não consigo entender isso. Se você, lá dentro, fala que tudo é mentira, aí, ao chegar aqui, você não responde e fica em silêncio, então está no ar. O caso Paquetá está no ar, com um ponto de interrogação.
Vamos tratar dos assuntos deliberativos?
Sr. Bruno, o senhor está liberado, fique à vontade.
Muito obrigado.
O SR. BRUNO TOLENTINO - Obrigado. (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Kajuru. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) - Eu acabo de conversar com o histórico Relator Romário de Souza Faria. Com a experiência que ele tem, com a independência que ele tem e com a coragem que ele tem, que poucos teriam, ele acaba de me sugerir, e eu não vou tomar o crédito dele, é evidente, mas eu concordo 100% com ele: nós estamos entrando imediatamente, agora, com um requerimento pedindo o sigilo bancário, telefônico... A quebra de sigilo, desculpe. A quebra de sigilo bancário, telefônico, telemático, perfeito, desse senhor, tio do jogador Paquetá, o Bruno Tolentino. Portanto, que a imprensa tome conhecimento de que nós já vamos entrar imediatamente com esse requerimento.
Comunico também que vocês tomarão conhecimento, nos próximos dias, de uma ação nossa sobre essa questão de habeas corpus do Supremo Tribunal Federal. Haverá uma novidade que nunca aconteceu na história do Congresso Nacional. E, conversando com todos os companheiros e companheiras do Senado Federal, nós teremos a aprovação dessa novidade que vai acontecer, para que a gente definitivamente nunca mais tenha que, em uma CPI, ver o que aconteceu ontem, quando os dois convocados receberam habeas corpus para não comparecerem e, se comparecessem, ficarem em silêncio. E, no caso de hoje, diferentemente, com o Ministro Nunes Marques, este teve que comparecer, mas com o direito de ficar em silêncio.
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Espero que todos tenham entendido o que eu quis dizer. Eu quis dizer literalmente que eu não queria ter - se eu fosse o Paquetá - um tio desses, que lá dentro fala para mim que tudo é mentira, e que aqui fica em silêncio. Realmente eu não entendi, sinceramente.
Bom... Extrapauta.
Eu consulto o Plenário sobre a possibilidade de inclusão extrapauta do seguinte requerimento.
3ª PARTE
EXTRAPAUTA
ITEM 1
Requerimento Nº 151/2024
Requer que sejam convidados os senhores Ramon Abatti Abel, Braulio da Silva Machado, Flávio Rodrigues de Souza, bem como Diego Pombo Lopez, Pablo Ramon, Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral e José Claudio Rocha Filho.
Autoria: Senador Eduardo Girão
Em votação.
Aqueles que concordam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado o Requerimento 151/2024.
Apenas... Tinha uma outra informação. Me desculpe aqui pela memória - é a única sequela do covid, não é?
Tem uma informação importante também. O Senador Romário e eu tínhamos falado hoje cedo na Comissão de Esportes. (Pausa.)
Sim, lembrei. Foi inclusive iniciativa sua, Romário, quando eu te contei do Ministério Público do Estado de Goiás, aqueles dois homens públicos fantásticos, honradíssimos, o Procurador, o Dário, e o outro, o Promotor, eu esqueci o nome dele... É o Cesconetto, não é? Cesconetto, Cesconetto - Promotor do meu Estado de Goiás.
Como já é de domínio público, os dois trazem uma denúncia gravíssima do envolvimento do jogador Luiz Henrique, do Botafogo do Rio. Então, nós vamos convidá-los, evidentemente, novamente - é isso, Romário, não é? -, para a nossa CPI, que, infelizmente, na semana que vem, não terá como trabalhar, porque nem sessão haverá nesta Casa.
Aliás, sinceramente, o que é que vai ter aqui? Que saco que vai ser aqui na semana que vem? Porque aqui a gente quase não trabalha: é recesso parlamentar, é eleição, é segundo turno, segunda ninguém vem, sexta ninguém vem. Então, o que é que vai ter? Me desculpem o desabafo. O que é que vai ter aqui na semana que vem, que nós não vamos poder...
CPI! Vejam tanto que o Romário, como o Relator, está sendo prejudicado. Eu já fiz as contas: foram quase 70 dias em que esta CPI ficou sem trabalhar, por causa de recesso eleitoral, por causa de segundo turno, por causa de primeiro turno - que eu mandei tudo para a Punta del Este, lá em Goiás. Eu estava aqui trabalhando, mas respeito cada um que quis trabalhar nos seus estados, mas eu não fui. O que é, Marcelo? (Pausa.)
Eventos com delegações do G20.
E o que tem a delegação do G20 com a gente aqui? Não consigo entender isso. Eles não têm outro lugar para ir, não? Brasília é tão grande. Por que eles não vão para o hotel?
Presidente Lula, eu sou seu Vice-Líder, mas eu sou bocudo mesmo. Presidente, por que o senhor não arruma um lugar para reunir com eles? Aí o senhor arruma exatamente aqui no Senado, aí não vai ter sessão, não vai ter nada, não vai ter Comissão, a nossa CPI não vai poder trabalhar.
não vai ter sessão, não vai ter nada, não vai ter Comissão, a nossa CPI não vai poder trabalhar. A gente teria duas reuniões na semana que vem, a gente só vai voltar agora no dia 12 de novembro. Olha a dificuldade de um homem público como o Romário, que tem a responsabilidade de fazer um relatório, que certamente será histórico, simplesmente porque teremos aqui, repito, essa porcaria de reunião, que poderia ser num hotel, em outro lugar, mas escolheram para ser aqui, para de novo os Senadores ficarem sem trabalhar. Essa é a realidade.
Hoje, realmente, a paciência minha, que era de Jó da Bíblia, foi para o espaço.
E, não havendo nada mais a tratar, declaro encerrada esta chatíssima reunião da CPI da Manipulação do Futebol e Apostas Esportivas. Mas desistir nós não vamos.
Todo mundo conhece Romário, todo mundo conhece razoavelmente Kajuru. Desistir nós não vamos, vamos até o fim. Eu tenho convicção de que o relatório de Romário ficará na história e nós vamos atrás de rigorosamente tudo.
E outra coisa, já que eu perdi a paciência mesmo - meu telefone está aqui -: a partir de agora, se, mais uma vez, gente importante ligar para mim para pedir para não convocar fulano, beltrano, eu vou gravar e vou entregar para a imprensa, porque, além do meu óculos que grava - aquele óculos meu grava, viu?; vocês fiquem atentos, aquele escuro meu grava -, o meu celular também grava tudo. Então, quero avisar: por favor, parem de ligar no meu telefone, 0 operadora 61996044040. Então, por gentileza - esse é o meu número -, parem de ligar, porque eu vou gravar mesmo, porque eu estou com o saco cheio, toda hora, de telefonema: "Ah, não convoca... Ah, faz isso, não faz isso". Aqui nós não vamos fazer isso, não, esquece. Vocês não estão lidando com Câmara dos Deputados, que terminou uma CPI com denúncia até de achaque, não, aqui não.
Muitíssimo obrigado. Deus e saúde... Deus e saúde mesmo, principalmente para mim, Deus, por gentileza.
(Iniciada às 14 horas e 44 minutos, a reunião é encerrada às 15 horas e 03 minutos.)