Notas Taquigráficas
Horário | Texto com revisão |
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R | O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR. Fala da Presidência.) - Havendo número regimental, declaro aberta a 73ª Reunião da Comissão de Educação e Cultura da 2ª Sessão Legislativa Ordinária da 57ª Legislatura, que se realiza nesta data, 3 de dezembro de 2024. A presente reunião destina-se à realização de audiência pública com o objetivo de apresentar o, entre aspas, "Orquestrando", exitoso projeto de desenvolvimento musical, por ocasião do Dia do Músico, que foi comemorado no 22 de novembro, em atenção ao Requerimento 79/2024, da Comissão de Educação. Fazem parte desta mesa as seguintes pessoas, a quem eu, inclusive, saúdo com muita alegria, com muito prazer... É uma honra extraordinária para o Senado Federal e, particularmente, para esta Comissão de Educação e Cultura recebê-los e recebê-la - a nossa Diretora-Geral também. Em primeiro lugar, o Sr. João Carlos Martins, Maestro, Regente da a Bachiana Filarmônica Sesi-SP. (Palmas.) À minha esquerda, o Sr. Cláudio Cohen, Maestro e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro e que já está presente na TV Senado em inúmeras ocasiões. (Palmas.) Com muita alegria, a Sra. Ilana Trombka, Diretora-Geral do Senado Federal. (Palmas.) E o Sr. Davson de Souza, Diretor da Escola de Música de Brasília. (Palmas.) Antes de iniciarmos a exposição, comunico que esta reunião será interativa, transmitida ao vivo e aberta à participação dos interessados por meio do Portal e-Cidadania, na internet, no endereço senado.leg.br/ecidadania, ou pelo telefone 0800 0612211. |
R | Gostaríamos de abrir a presente reunião com a exibição do vídeo institucional da Escola de Música de Brasília. (Procede-se à exibição de vídeo.) |
R | O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Além da satisfação e alegria de termos a presença de Cláudio Cohen e de Davson de Souza, e parabenizando pelo vídeo maravilhoso da escola, é uma honra termos aqui conosco o Maestro João Carlos Martins, exemplo para todos e todas por seu talento, sua caminhada e seu projeto social. Oxalá todos os músicos e artistas no Brasil com o talento do Maestro - e há tantos outros com bastante talento - tivessem a mesma preocupação social! Lembro que o Maestro esteve presente por ocasião da celebração do Bicentenário do Senado Federal, tendo dirigido o espetáculo "Senado 200 Anos: uma jornada histórica rumo ao futuro", no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, realizado no dia 25 de março deste ano, que contou com um público de cerca de 3 mil pessoas, tendo sido acompanhado pelos canais de transmissão, ao vivo, por outras 9 mil pessoas. Eu quero dizer especialmente que o João Carlos Martins, para todos nós, para o Brasil e para o mundo, é um exemplo de talento, de criatividade, de luta, de alegria, de amor à vida e tem também uma preocupação, como já dito, social imensa, como vai abordar daqui a pouco no projeto "Orquestrando", para que, como o vídeo colocou, sejamos pessoas melhores, mais sensíveis, do diálogo, do entendimento, pela música, entre outros instrumentos importantes. Então, João Carlos Martins, uma pessoa amada pelo Brasil e pelo mundo - pessoa amada! Essa é a expressão mais correta para dizer que, quando alguém fala em João Carlos Martins, somente coisas boas, positivas vêm ao nosso pensamento. Então, seja muito bem-vindo, Maestro! |
R | Para saudá-lo, em nome do Senado Federal, nada melhor do que começarmos com uma música. Convido o Daniel Cardoso Ribeiro dos Santos, 12 anos, estudante da Escola de Música de Brasília, para fazer uma apresentação. Quero destacar que a mãe do Daniel está aqui presente, a Hendrienny, assim como a esposa do Maestro João Carlos Martins, a Carmen, que está acompanhando aqui esta audiência pública. Então, Daniel Cardoso Ribeiro dos Santos, com o Brasil. O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS (Para expor. Fora do microfone.) - Boa tarde, gente! (Manifestação da plateia.) O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS (Fora do microfone.) - Olá! Tudo bem? Meu nome é Daniel Cardoso. Como é que vocês estão? Tudo bem? (Manifestação da plateia.) O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Eu vou tocar algumas músicas para todo mundo. E João Carlos Martins... O SR. JOÃO CARLOS MARTINS (Fora do microfone.) - Oi, tudo bom? O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Tudo! Como é que você está? O SR. JOÃO CARLOS MARTINS (Fora do microfone.) - Bem. O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - E você? O SR. JOÃO CARLOS MARTINS (Fora do microfone.) - Muito bem. O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Eu gosto tanto de você. Eu quero tocar um dia com você, tá? O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Maravilha, está convidado. O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS (Fora do microfone.) - Vou tocar Uma, Duas Angolinhas, de Heitor Villa-Lobos. (Procede-se à execução musical.) (Palmas.) O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Agora eu vou tocar Arabesque, de Burgmüller. (Procede-se à execução musical.) (Palmas.) |
R | O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Silêncio! Agora eu vou tocar... Maestro Cláudio... O SR. CLÁUDIO COHEN (Fora do microfone.) - Oi. O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Eu toquei com você uma música do Mário. O SR. CLÁUDIO COHEN (Fora do microfone.) - Foi legal. O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Muito obrigado. Vou tocar para vocês. (Procede-se à execução musical.) (Palmas.) O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - E, para finalizar, o Hino Nacional Brasileiro. (Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.) O SR. DANIEL CARDOSO RIBEIRO DOS SANTOS - Obrigado, pessoal. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Parabéns, Daniel Cardoso Ribeiro dos Santos, pela apresentação, pelas músicas e pelo Hino Nacional, também tão bonito, executado de maneira tão brilhante! Pode, inclusive, participar das sessões especiais do Senado Federal com muito brilho. Parabéns, Hendrienny e Daniel! |
R | Em seguida, eu convido Rafael de Oliveira Faria Lucena, de 12 anos, também aluno - não é, Davson? - da Escola de Música de Brasília, para fazer sua apresentação, acompanhado pelo violonista e Prof. João Marinho de Mesquita Jr. Então, com vocês, Rafael de Oliveira Faria Lucena. Seja muito bem-vindo também, parabéns! (Procede-se à execução musical.) (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Agradecemos a você, Rafael de Oliveira Faria Lucena. Parabéns! Doze anos, também aluno da Escola de Música de Brasília. Parabéns! Obrigado pela participação também. Antes de iniciarmos a exposição do nosso convidado de honra, o Maestro João Carlos Martins, passo a palavra à Sra. Ilana Trombka, Diretora-Geral do Senado. |
R | A SRA. ILANA TOMBKA (Para expor.) - Boa tarde a todos e a todas. Eu confesso que eu perdi o caminho para casa agora. Eu estou completamente absorta pela música. Eu quero cumprimentar o Maestro João Carlos Martins, o Maestro Cláudio Cohen, o Dr. Davson da Silva, Diretor da Escola de Música. Maestro, o Senador Flávio Arns disse que o senhor é uma pessoa amada e o senhor é uma pessoa amável. E eu acho que amada e amável combinam com amor. E, neste momento, a única coisa que eu consigo falar e de que eu consigo me lembrar é sobre uma grande história de amores que a música me trouxe. O meu pai é médico, intensivista e sempre tocou violão. E ele passava muitas noites nas UTIs dos hospitais e, quando ele dormia em casa, eu e a minha irmã, nós fazíamos questão de ter pesadelos para acordar de noite, para ele se sentar conosco na cama e tocar violão até que nós dormíssemos. Muitos e muitos anos depois, aqui no Senado, eu, já servidora pública, no começo de 1998, conheci um colega que tocava violão e acho que o amor que eu sentia, quando meu pai passava as noites acordado tocando violão para mim e para minha irmã, de alguma forma veio à tona, e eu me casei com esse colega, com quem eu sou casada há 25 anos. E, muito tempo depois, eu fiz a relação de que aqueles acordes do violão, aquela música me levavam a um lugar tão bom e tão gostoso e de tanto acolhimento foi esse mesmo sentimento que eu senti quando eu descobri que o Vilmar tocava violão e que me fez tão próxima dele e hoje ele é meu marido. Confesso que é só isso que eu consigo dizer, porque eu estou nesse sentimento assim muito acolhedor, de muito amor que eu só posso agradecer ao senhor, ao Mestre Cláudio Cohen, ao Prof. Davson e ao Sr. Senador Flávio Arns, porque é um momento sublime esse que a gente viveu. Muito obrigada e bem-vindo! (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Muito bem. Muito bonita a referência à história da música, do pai, da família. A música realmente leva o sentimento para o resto da vida, lembranças boas fazendo das pessoas seres humanos muito melhores. Quero saudar aqui o Senador Marcos Pontes, seja muito bem-vindo! (Palmas.) É membro desta Comissão de Educação e Cultura. Senador Jaques Wagner, Líder do Governo e a esposa Maria de Fátima. Sejam muito bem-vindos também! É uma alegria. (Palmas.) Muito bem. Vamos prosseguir com a exibição de um vídeo biográfico sobre o nosso convidado, amado e amável, completando agora. E, em seguida, o Maestro fará sua exposição. (Procede-se à exibição de vídeo.) |
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R | O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Passamos agora a palavra ao nosso querido convidado, amado e amável patrimônio nacional, o Maestro João Carlos Martins, para sua exposição. Com a palavra. O SR. JOÃO CARLOS MARTINS (Para expor.) - Bem, em primeiro lugar, quero agradecer ao Senador Flávio Arns por este convite, que me honra profundamente; agradecer aqui a presença da minha querida Ilana; do nosso Diretor, do Cláudio Cohen; do meu querido Senador Jaques Wagner; e sua, Marcos Pontes, também... O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - A Senadora Teresa Leitão agora também. O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - ... quero agradecer a sua presença. E o que quero dizer é o seguinte: eu sempre, de uma forma jocosa, digo que hoje do que o Brasil e o planeta precisam? Precisam da palavra "harmonia". E eu digo que a música é a régua do mundo, porque, se um governo vai bem, todo mundo diz que funciona como uma orquestra. Se o Dream Team americano, nas Olimpíadas, jogou por música... Como todo mundo diz, o time jogou por música quando venceu todos os jogos com uma diferença grande, diziam que o time jogava por música. Quando um jogador de futebol é o líder do time, todo mundo o chama de maestro. Mas também pode haver as coisas contra a música, porque, se uma instituição não vai bem, ou um governo, o pessoal diz: "Há uma orquestração contra nós". (Risos.) Mas o importante: eu prefiro o lado da harmonia e o lado bom da música. Então, o que acontece é o seguinte: em 1931, o conservatório... Sempre eu digo que só existem duas formas de exposição, como o meu querido amigo Mário Covas dizia: a longa e a boa. Eu prefiro a boa. Então, em 1931, tivemos o início do canto orfeônico no colégio Caetano de Campos. Em 1934, o nosso compositor maior Villa-Lobos conseguiu que o canto orfeônico fosse oficializado no Brasil inteiro, e, de 1934 em diante, nós tivemos o canto orfeônico. Logo em seguida ao pós-guerra, a música teve uma evolução enorme. Quando vocês pensam em Tom Jobim, Camargo Guarnieri, Gilberto Gil, Chico Buarque, de todos esses músicos clássicos e populares a origem vem de Villa-Lobos. E Villa-Lobos conseguiu, em 1934, pela exposição que ele tinha, o canto orfeônico. Finalmente, em 1970, foi tirado do currículo escolar o canto orfeônico. E agora vocês podem perceber o que significa a interrupção de algo que serve ao país e à nação. Somente em 2008, a música voltou às escolas, com o Presidente Lula, voltou às escolas, mas nem sempre as intenções são melhores que os resultados. |
R | E, logo em seguida, as artes voltaram às escolas. E a música de carro-chefe passou a ser o primo pobre. Por quê? No curso de Artes, no fundamental do primeiro ao quarto ano, de cada cem professores, talvez 4% conheçam onde seja a nota dó. E a música passou a ser o primo pobre. Nessa época, eu procurei o Ministro da Educação, que era o Mercadante, e falei: "Mercadante, não temos música nas escolas. Eu tenho corrido o Brasil e não vejo música nas escolas". Ele falou: "João, acontece que, em 1934, havia cerca de 12 a 15 mil escolas; hoje são 120 mil escolas; e não existem professores de música". Eu voltei para casa, continuei a minha trajetória, mas, conforme diz aí no filme, eu não me conformava. Em 2018, eu comecei, com a Fundação Bachiana e com o Sesi São Paulo, um trabalho para tentar... Primeiro, eu comecei com uma ideia louca, dizendo: vamos transformar milhares de professores em um! É porque hoje nós temos a internet, e por que não transformar milhares em um? Eu falei: essa é a ideia, mas vamos desenvolver um projeto. E começamos a desenvolver um projeto, trouxemos, inclusive, um professor da Royal School, de Londres, e de Hong Kong, e aqui no Brasil o nosso time começou a trabalhar. E começamos a fazer experiências em escolas cobaias. Nessas escolas, começamos a ver o que acontecia na Europa: um estudante de música conseguia ter um aproveitamento melhor em matérias como Matemática, Geografia, Português, História. E eu falei: meu Deus do céu, além do nosso projeto, nós estamos conseguindo formar cidadãos e, ao mesmo tempo, estamos conseguindo fazer com que a música influencie não só o aluno, mas também a família. E o nosso curso começou o primeiro ano, cujas 40 primeiras aulas já estão prontas. No fim de semana, vão ser filmadas por uma grande produtora. Vocês vão ter um exemplo agora e vocês vão participar do primeiro vídeo, de 30 segundos, de uma marcha. No primeiro ano, a escola não compra nenhum instrumento, é simplesmente uma forma lúdica. Em 1934, a música era imposta às crianças, e agora as crianças, de uma forma lúdica, procuram as escolas. Este é um tipo de aula com uma marcha. (Procede-se à exibição de vídeo.) |
R | O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Bem, agora, eu vou fazer a primeira experiência com vocês, porque vocês podem ser professores - um dos professores desses milhares - que podem conhecer os fundamentos da música. E eu, com toda a humildade, e o Cláudio Cohen, que é o Maestro da Orquestra Sinfônica de Brasília, uma das melhores, vamos fazer uma experiência. O que as crianças conseguem na primeira fase? Primeiro, tudo é baseado num coração, o pulso de um coração. E, com essa mesma marcha, ele vai... Eu vou mostrar para vocês, e nós vamos acelerar aos poucos, juntos. Pode começar. (Procede-se à execução musical.) O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Agora, vem a terceira aula, e já fica um pouco mais difícil, porque aqui nós estamos mexendo já com a ansiedade de uma criança de seis anos. É a mesma marcha na terceira aula, que vai ficando aos poucos mais lenta, mais lenta, e as crianças querem, com ansiedade, bater palmas antes. Vamos a mesma coisa. (Procede-se à execução musical.) O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Aí vocês viram: a criança começa a entender o que significa o pulso na música, não estou falando do ritmo. Deus deu para o ser humano a voz para a melodia, as mãos e os pés para o ritmo, e os ouvidos para a audição. Aí, na quarta, quinta e sexta aula, eles fazem a mesma peça, mas caminhando, como uma marcha. Já na sétima peça, eles vão aprender o compasso binário e ternário. E vocês vão ver que é com uma vareta, não é com instrumento ainda. Vamos ver o vídeo. (Procede-se à exibição de vídeo.) O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Aí, com uma vareta, com um copo, com folhas de papel sulfite, nós vamos atravessando o primeiro ano. E, agora, as crianças têm que ter a noção para esperar, para não agir com ansiedade. E o Cláudio vai mostrar para nós a famosa Brilha, Brilha, Estrelinha, que é Ah, Vous Dirai-Je, Maman, de Mozart, ele vai tocar. Quando chegar ao final, na pausa, é só aí que nós batemos a palma. Vai. (Procede-se à execução da música Brilha, Brilha, Estrelinha.) |
R | O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - E a criança começa a ter a noção do que significa o pulso, mas aí nós temos um problema. As crianças têm que saber que a música tem doze tons, mas só sete notas são conhecidas. A melhor forma - e isto é registrado na ONU - de uma criança aprender o "dó, ré, mi, fá, sol, lá, si" é através desta música Dó, Ré, Mi... Você consegue? (Procede-se à execução da música Dó, Ré, Mi.) O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Muito bem. Só que nós não podemos usar esta música, por causa dos direitos autorais. Então, nós fizemos, e agora nós temos o nosso "dó, ré, mi, fá, sol, lá, si" tupiniquim. E, com o que nós fizemos, agora, quando nós apresentarmos o projeto pedagógico para a Comissão de Educação e Cultura do Senado, para o Conselho Nacional de Educação e para o Governo em si, nós vamos mostrar como que a música pode transformar sociedades, pode trazer uma inclusão. E o que eu estou pedindo não é nada demais, é simplesmente uma palavra, no fundo. É porque a música está incluída no curso de Artes do primeiro ao quarto ano, só que hoje ela está incluída como opcional. Qual é que é o meu pedido? O meu pedido é o seguinte. Em 1934, o tempo de concentração de uma criança para música - quando eu pego a metodologia de 1934, até eu acho difícil! - era de 40 minutos. Hoje o tempo de concentração de uma criança com uma aula de música não passa de 15 minutos. Então, o que nós estamos pedindo é que a música seja obrigatória por 15 minutos no curso de Artes durante o ano inteiro. Qual é que é a nossa experiência? Com esses 15 minutos, o que nós notamos - numa escola, inclusive, no Tatuapé - é que, depois do final do primeiro ano, aquela criança implora para ter música no segundo ano. Então, de uma forma lúdica, ela entrou no campo da música, e não foi a música que foi imposta para ela. E, ao mesmo tempo, vamos descobrindo talentos. Aqueles talentos podem ir para escolas com tempo integral, para cursos, para uma pequena banda, uma pequena fanfarra, um pequeno coral ou uma pequena orquestra. E aí o Brasil começa uma transformação que era o grande sonho de Villa-Lobos. |
R | Voltando ao coração, eu vou mostrar para vocês uma coisa. Por que o coração na primeira aula? Porque aí nós fazemos a audição para o aluno, e o aluno tem a noção da batida do coração só na oitava aula - e é através do Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos. (Procede-se à execução da música Trenzinho Caipira.) (Manifestação da plateia.) O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Um. Dois. (Manifestação da plateia.) (Procede-se à execução da música Trenzinho Caipira.) O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - E a criança começa a ter a noção de por que o coração para introduzir música nas escolas. Eu sempre digo: durante a minha carreira, o que foi importante? Em cada concerto que eu dava, eu queria que o público saísse com uma lágrima nos olhos e um sorriso nos lábios. E vocês vão ver como vocês podem ter uma participação de imediato sem nós combinarmos nada - o Marcos já viu, ali já viu, eu fiz hoje um ensaiozinho aqui na própria Comissão, o Flávio me convidou para entrar dois minutos. O Cláudio vai tocar o primeiro compasso. Quando eu canto, eu sou desafinado, mas paciência, eu não tenho afinação para cantar. O Cláudio vai tocar o primeiro compasso de uma música, e vocês todos vão cantar o segundo. (Procede-se à execução da música Eine kleine Nachtmusik.) (Manifestação da plateia.) O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Esta música foi escrita há mais de 200 anos. Essa é a força da música clássica. Certas músicas que nós estamos ouvindo hoje, daqui a 15 dias, a gente não lembra mais. Essa é a força da música clássica. A música clássica ocidental... Eu respeito todos, eu detesto a palavra "preconceito". A música clássica chega a influenciar todos os gêneros musicais, assim como o ritmo africano influenciou os ritmos em várias nações, inclusive no Brasil. De uma certa forma, a minha intenção é, de uma forma lúdica, fazer uma criança se interessar por música, e não impor para uma criança a palavra "música". E bastam 15 minutos por semana. As primeiras 40 aulas vão ser entregues a esta Comissão, porque, como são rostos de crianças e os pais, de repente, podem não estar de acordo, vão ser gravadas pelos músicos da Orquestra Jovem as 40 aulas. E eu tenho a imensa honra de esse trabalho ter sido iniciado no Sesi; de já ter tido o interesse da escola onde eu tive a honra de ser aluno, desde criança, o Liceu Pasteur - está aqui o nosso Claudio Kassab, irmão do... (Palmas.) E de o grupo Anglo já ter se interessado a conhecer o projeto inteiro. Agradeço a você, Juliana, também, pelo interesse. E várias cidades... Quando eu fiz a exposição em São Vicente, em Osasco, já queriam de imediato iniciar neste ano, mas o mais provável é que a gente consiga iniciar isso em 2026. Como eu digo sempre... Aliás, aproveito a oportunidade para dizer uma coisa aqui que eu posso dizer em Brasília, que é um pedido meu para o Distrito Federal e para quem puder ajudar: o Teatro Nacional Claudio Santoro, que está fechado há dez anos, tem uma das piores, se não a pior, acústica do Brasil. E de um concerto em que eu regi a orquestra do Claudio, que é uma das melhores orquestras da América Latina - eu sempre mando gravar meus concertos -, quando eu ouvi a gravação, eu não acreditei na acústica. Para vocês terem uma ideia, o Teatro alla Scala, de Milão, acabou de reformar a acústica dele. O Lincoln Center, de Nova York, acabou de reformar; duas vezes já fez a reforma da acústica, tal a importância da acústica num concerto. E eu, como vou me despedir dia 19 de maio do palco, já vou estar perto dos 85 anos... Aliás, acho que está aí o cartaz: "Music always wins", Carnegie Hall, dia 9 de maio... Aliás, é 9 de maio. E ali há quatro frases que até me deixam meio bestinha: "Indomável", The New York Times; "A musical hero", do The New Yorker; "Legendário", do The Guardian, de Londres; e "Jubilatoire", Le Figaro, de Paris. Isso daqui faz o velho maestro se sentir até meio bestinha, porque eu não mereço tudo isso, mas a minha dedicação sempre para a música foi essa. |
R | E, como falei, eu não gosto de exposições longas... E está sendo desenvolvido, já tive a conversa com o Cesar Callegari também, e o nosso Senador vai se encontrar com o Cesar amanhã. E ele se entusiasmou com a ideia; aliás, ele falou que o curso de Artes é uma das coisas mais complicadas do Conselho Nacional de Educação. Ele adorou a ideia, vamos ter um encontro na semana que vem para ele conhecer o projeto nos detalhes. Para encerrar, eu vou tocar somente duas peças: uma peça de Morricone, e a segunda é com o nosso Cláudio. O nome da primeira significa a palavra "amor", que vem de coração... (Pausa.) É de Morricone, chamada Playing Love. E, depois, encerramos com o Cláudio com a Ave Maria, para abençoar este momento, que eu acho histórico para tantos e por vocês. Eu estou emocionado de estar aqui na Comissão nesta altura. (Fora do microfone.) (Palmas.) (Pausa.) É profundamente emocionante para mim, aos 84 anos, estar neste Senado, de que eu tive a honra de fazer o concerto dos 200 anos, para falar de um sonho. Aos 85 anos, vou iniciar minha nova carreira de educador musical. Meu pai, com 37 anos, teve um câncer violento: tiraram três quartos do seu estômago e lhe deram seis meses de vida. E ele falou: "É porque vocês não me conhecem". E morreu aos 102 anos, de acidente. (Risos.) |
R | Eu fico profundamente emocionado de, até o apagar das luzes, continuar na música e, através da música, procurar transmitir emoção. Vou tocar uma peça de Morricone chamada Playing Love. (Pausa.) Só falta tocar. (Pausa.) Pronto. (Procede-se à execução da música Playing Love.) (Palmas.) |
R | O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - E, para encerrar, abençoando este momento histórico para este velho maestro... E tenho certeza de que é histórico para o meu colega Cláudio Cohen, esse fantástico maestro que está regendo aí pelo mundo inteiro, que, numa demonstração de humildade... Eu lhe telefonei e falei: "Cláudio, você pode me dar a cobertura para expor as músicas?". E ele falou: "João, estamos juntos para tudo no que diz respeito à música". Obrigado, Cláudio! (Palmas.) (Procede-se à execução da música Ave Maria.) (Palmas.) |
R | O SR. JOÃO CARLOS MARTINS - Eu quero dizer para vocês que eu sou um velho chorão e fico profundamente emocionado de, no Senado brasileiro, ter uma sessão, uma audiência para a música. E esta audiência para a música emociona não só este velho maestro, mas qualquer músico em nosso país. E eu espero que, ao longo de quatro anos, nós vamos fazer a maior revolução na história da música em nosso país, que era o grande sonho de Villa-Lobos - só que ele não tinha a inteligência artificial. (Risos.) (Palmas.) Obrigado. (Pausa.) O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Depois das falas do caro João Carlos Martins e da participação do Cláudio Cohen e também do Davson de Souza, eu quero agradecer, sobremaneira, a presença de vocês - e me permitam chamá-los assim, antes eu já tomei essa liberdade com o maestro também. E quero dizer que esta audiência pública foi inspiradora para todos nós, para os Senadores e Senadoras, para a Ilana, que, com toda competência e capacidade, organiza também tudo o que é necessário para que esses eventos aconteçam. Eu quero novamente dar um abraço muito especial para o Daniel Cardoso Ribeiro dos Santos, estudante da Escola de Música de Brasília, e também para o nosso amigo Rafael de Oliveira Faria Lucena, de 12 anos, também da Escola de Música de Brasília, pela participação. Então, foi algo extraordinário! Eu quero agradecer a todos que participaram e acompanharam este evento pelos meios de comunicação do Senado Federal. Eu quero dizer ao João Carlos Martins, assim como ao Cláudio e ao Davson, que o Senado Federal está totalmente à disposição para somar esforços com iniciativas tão importantes, tão boas, tão necessárias, tão inspiradoras para o Brasil. |
R | E esta Comissão de Educação e Cultura - da qual o Senador Marcos Pontes é membro também titular, e a Senadora Teresa Leitão também é membro titular desta Comissão -, nós estamos à disposição também para somarmos esforços junto com a Escola de Música de Brasília, também referência para o Brasil, e junto também com Cláudio Cohen, como maestro, com um talento extraordinário da sua parte, e principalmente com essa figura, usando a expressão já utilizada, amada e amável, respeitada pelo talento, pela competência, pela garra, pela dedicação e dando exemplo para o Brasil de que todas as barreiras podem ser ultrapassadas com a boa vontade, com o esforço, com o apoio, e é disto que todos nós precisamos. Que bom, João Carlos Martins, a Carmen, sua esposa, aqui presente, não é? A gente agradece muito a presença. E foi uma das audiências públicas, com certeza, mais inspiradoras desta legislatura. Parabéns! (Palmas.) Agradecendo de novo, declaro encerrada a presente audiência pública. Obrigado. (Iniciada às 14 horas e 25 minutos, a reunião é encerrada às 15 horas e 37 minutos.) |