27/08/2025 - 20ª - Comissão de Esporte

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Texto com revisão

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A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF. Fala da Presidência.) - Havendo número regimental, declaro aberta a 20ª Reunião, Extraordinária, da Comissão de Esporte da 3ª Sessão Legislativa Ordinária da 57ª Legislatura, que se realiza nesta data, 27 de agosto de 2025.
Senhoras e senhores, é com imensa honra e profunda emoção que damos início a esta 20ª Reunião, Extraordinária, da Comissão de Esporte, cuja primeira parte é dedicada a homenagear uma mulher que faz história no esporte brasileiro e que deixou um legado de inspiração e superação para todo o nosso país, a ex-atleta Aída dos Santos Menezes.
Nascida em 1937 no Rio de Janeiro, Aída venceu todas as barreiras sociais, econômicas e raciais que lhe foram impostas. Mulher negra, vinda de uma comunidade carente, enfrentou desigualdades estruturais, mas jamais se curvou diante das dificuldades. No atletismo, destacou-se no salto em altura e conquistou, nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964, um feito extraordinário, o quarto lugar, melhor resultado de uma atleta brasileira por mais de três décadas, vejam bem, mais de 30 anos, em todas as modalidades olímpicas femininas. É importante lembrar que a Aída foi a única mulher da delegação brasileira naquela edição dos jogos. Competiu sem técnico, sem uniforme adequado, sem o devido apoio institucional e, ainda assim, ela fez história. Sua trajetória nos mostra a força da resiliência, do talento e da coragem.
Já nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, em 1967, e Cali, em 1971 - eu estava nascendo ainda -, seguiu representando o Brasil com brilhantismo. Mais tarde, dedicou-se à formação acadêmica, graduando-se em Geografia, Pedagogia e Educação Física. E se tornou professora universitária, contribuindo para a formação de gerações de atletas e de educadores.
Sua vida é marcada pelo pioneirismo e pela superação de barreiras de gênero e raça. Não por acaso, recebeu reconhecimentos de destaque, como o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, do Comitê Olímpico Brasileiro, e o Diploma Mundial Mulher e Esporte, do Comitê Olímpico Internacional.
É, portanto, mais do que justo que esta Comissão promova esta homenagem e aprove, na data de hoje, o voto de louvor à Aída dos Santos Menezes, constante da pauta, como forma de reconhecer sua inestimável contribuição para a valorização da mulher, especialmente da mulher negra, no cenário esportivo nacional. Desde já, peço aos nobres colegas o apoio e a aprovação desse requerimento.
Por fim, como de costume, aproveito também para registrar algumas conquistas recentes do nosso esporte nacional, que demonstram como o legado de pioneiras como Aída continua inspirando as novas gerações.
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No vôlei feminino... Eu e Valeskinha estamos aqui torcedoras; a gente sai do esporte, mas ele não sai da gente, né, Valeskinha? O Brasil encerrou a primeira fase do Campeonato Mundial com uma campanha impecável, vencendo todos os seus jogos e garantindo a liderança do grupo. Sofreu um pouco ali contra a França, né? Mas, graças a Deus, soube impor seu jogo no momento certo.
A seleção de canoagem paraolímpica brilhou no Mundial de Milão, trazendo para casa cinco medalhas e reforçando a força do paradesporto brasileiro.
No Pan Júnior, jovens atletas brasileiros dominaram as provas, conquistando resultados históricos e mostrando que o futuro do esporte nacional está em boas mãos.
E no basquete brasileiro, o Brasil venceu os Estados Unidos e consagrou-se campeão do Globl Jam, reafirmando nossa tradição e talento também nas quadras.
Senhoras e senhores, o esporte brasileiro tem sido historicamente uma ferramenta de transformação social. A trajetória de Aída dos Santos Menezes é a prova disso. Hoje, ao celebrarmos sua vida e sua obra, reafirmamos nosso compromisso de seguir lutando por igualdade, reconhecimento e mais oportunidades para as mulheres e homens que sonham em representar o nosso país. Que esta homenagem sirva de inspiração para todos nós, lembrando que o esporte é, acima de tudo, uma forma de resistência, inclusão e cidadania!
Muito obrigada. (Palmas.)
Bom, a presente reunião está dividida em duas partes. A primeira é a audiência pública interativa e a segunda é deliberativa.
A primeira parte, que é esta audiência pública, destina-se à realização de audiência com o objetivo de homenagear a ex-atleta Aída dos Santos Menezes, em reconhecimento à sua notável trajetória no esporte brasileiro e à sua inestimável contribuição para a valorização da mulher, especialmente da mulher negra, no cenário esportivo nacional.
Bom, primeiramente, gente, eu gostaria de pedir uma salva de palmas mais uma vez para nossa homenageada (Palmas.), D. Aída, que é mãe de outra craque do vôlei aqui, que é a Valeskinha - por favor, outra salva de palmas (Palmas.) -, seguindo a tradição da família Menezes. É claro, com todo o respeito ao Wlamir e à Lucimara, mas, assim, é um orgulho ter as duas aqui, né? Duas mulheres fortes. Tive a oportunidade de jogar com a Valeskinha, sei da força dela e certamente eu não preciso perguntar qual foi a maior inspiração dela no esporte. É um prazer, D. Aída, ter a senhora aqui conosco.
Mas antes - eu vou deixar sua fala para depois, segure aí -, eu vou passar a palavra para as manifestações dos nossos expositores, dos nossos convidados aqui, para falar um pouco da sua trajetória, já agradecendo a participação de vocês.
Eu vou passar a palavra primeiro para o Wlamir Motta Campos, que é o Presidente da Confederação Brasileira de Atletismo.
Seja muito bem-vindo, Wlamir!
O SR. WLAMIR MOTTA CAMPOS (Para expor.) - Obrigado. Obrigado, Senadora Leila.
Olá, seja bem-vinda, nossa Secretária Iziane!
Senadora Leila, saúdo a senhora. Saúdo V. Exa. pela iniciativa, acho extremamente importantes gestos como este, porque... Eu sou suspeito para falar de Aída dos Santos, porque ela transcende tudo o que a gente fala sobre esporte. A D. Aída dos Santos, eu tenho o privilégio, o prazer de falar que, mais do que uma referência, uma inspiração, ela é uma amiga. A D. Aída dos Santos representa tudo que a gente espera do esporte, né? Como foi falado, uma mulher negra lá do Morro do Arroz, em Niterói, não tinha apoio em casa para ser atleta. Muito pelo contrário, os pais... O pai, inclusive, né? Ela apanhou algumas vezes por ser atleta. Ela tinha que esconder as medalhas quando ela conquistava, porque o pai falava sempre que esporte não enchia barriga e que ela tinha que deixar disso e tinha que trabalhar. Mal sabia o pai que ele era pai de uma mulher que inspira, transforma, é uma referência. Mal sabia ele que a D. Aída faria história não só no atletismo brasileiro, mas no atletismo mundial.
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Como foi bem colocado aqui, a D. Aída, em 1964, foi a única mulher brasileira a integrar a Seleção. No time do Brasil que disputou os Jogos Olímpicos de Tóquio, que é uma delegação com quase 70 pessoas, só ela como mulher. E ela chegou ao quarto lugar. Então, até aquele momento, foi a maior colocação de uma atleta mulher do Brasil na história. E isso perdurou, como a Senadora Leila bem colocou, por mais 30 anos, até que se atingisse isso. Então, a gente está falando de uma grandeza gigante.
Mas, mais do que isso, a D. Aída é uma mulher poderosa, empoderada, que, do alto dos seus 88 anos, continua inspirando, continua iluminando gerações. E eu falo isso com muito prazer, com muita alegria. A D. Aída, sempre presente. E graças ao bom Deus, a D. Aída tem sido muito homenageada. E ela merece todas essas homenagens. Como foi bem colocado, ela recebeu o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, que é a maior honraria do Comitê Olímpico do Brasil. Em 2021, ela entrou no Hall da Fama, então ela faz parte do Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil. Em 2023, ela recebeu o título honorário de emérita do Atletismo Brasileiro - foi uma proposta nossa também. No ano passado, ela foi homenageada, emprestando o seu nome para o complexo esportivo da Universidade Federal Fluminense, que hoje se chama Aída dos Santos. Então, isso é muito importante para que fique por gerações, para que todos entendam, para que todos reconheçam que essa mulher negra, poderosa, empoderada, usou o esporte como uma ferramenta não só de transformação, mas primeiro de inclusão social; não se conformou apenas com isso e foi buscar o seu crescimento através da universidade.
E, numa época extremamente difícil, muito mais difícil que hoje, ela se graduou em três faculdades, numa universidade federal, como a senhora bem falou: Geografia, Pedagogia e Educação Física. E, para poder seguir inspirando, ela foi Professora da Universidade Federal Fluminense por quase 30 anos, foi Professora da cadeira de Educação Física da Universidade Federal Fluminense. Mais uma vez, ela foi a primeira e a única mulher em 1964, uma das poucas mulheres negras a fazer parte do olimpismo até então. Ela foi, se eu não me engano, a segunda. A primeira foi a D. Melânia Luz; e, depois, a D. Aída. Mas ela foi conquistando esses espaços não só dentro de uma pista de atletismo, mas na sociedade, tornando-se exemplo, referência, inspiração.
E agora, em 2025, há pouco mais de um mês, nós tivemos o prazer de homenageá-la no Troféu Brasil Loterias Caixa, que é o maior evento do atletismo brasileiro. Esse evento foi uma homenagem à D. Aída, com a imagem dela estampada nas nossas medalhas. E os atletas têm muito orgulho, porque isso vai ficar para a história de cada atleta. Contamos com a presença da D. Aída, que, para variar, chorou. Não é, D. Aída? Não sei por quê. A D. Aída traz toda essa memória, essa história. Eu comento sempre que o que mais me inspira na D. Aída é a sequência da geração: a Valeskinha é um grande exemplo. Então, falei no início que os pais não permitiam que a D. Aída praticasse esporte, que a D. Aída tinha que esconder as medalhas para não apanhar. Ela não tinha o apoio, muito pelo contrário, ela tinha a repulsa, principalmente do pai, com relação ao esporte, mas ela não trouxe isso como trauma, muito pelo contrário, ela colocou nos filhos tudo que ela esperava, os valores do esporte ela passou para os filhos e está aqui. Ela tem esse privilégio - privilégio maior é o da Valeska - de ter uma filha campeã olímpica. São poucos os pais, no nosso país, que têm esse privilégio, e a D. Aída é mais um capítulo da história. Eu imagino a alegria dela ao acompanhar a trajetória da Valeska, e não só da Valeska. Hoje, a D. Aída tem uma neta, nos Estados Unidos, praticando atletismo, com 13 anos de idade; já vem se destacando também. Então, é isso, é uma geração. Esse DNA é poderoso, esse DNA é forte!
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Então, a D. Aída dos Santos, minha amiga Aída dos Santos, todas as honras, todas as homenagens do atletismo brasileiro. Repito, a senhora é exemplo, inspiração e referência para nós, e tenho certeza de que seguirá sendo guia para todos os que buscam o esporte, não apenas a medalha, mas o esporte como uma ferramenta poderosíssima que abre portas, hoje muito mais. Eu falava da D. Aída, que hoje tem seus 88 anos; 50 anos atrás, você fazer uma faculdade era difícil, uma faculdade pública praticamente impossível, mas, para tirar onda, ela fez três. Então, é importante, quando a gente vê hoje o atleta falar: "Eu não consigo estudar, eu tenho dificuldade". A vida do atleta é curta, é importante ter essa consciência. A Valeskinha hoje, como atleta, ainda mais também como gestora... O pós é importante, e a D. Aída nos ensinou isso 50 anos atrás. Então, é uma mulher muito à frente do seu tempo. Feliz do país que tem Aída dos Santos com uma cidadã.
Muito obrigado, D. Aída. Siga brilhando e inspirando! (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Grata, Wlamir.
Eu vou passar, agora, a palavra para a Sra. Iziane Castro Marques, que é Secretária Nacional de Excelência Esportiva do Ministério do Esporte.
A SRA. IZIANE CASTRO MARQUES (Para expor.) - Bom dia a todos!
Senadora Leila, é um prazer estar aqui. Fiz questão de estar aqui presente nesta audiência pública à D. Aída dos Santos, porque realmente é um privilégio a gente poder ainda conviver com uma mulher pioneira que abriu portas para tantas outras, como nós mesmas que estamos aqui sentadas - né? -, a Valeska, que também é sua filha, a própria Leila. A gente sabe a dificuldade que é ser uma mulher atleta neste país e imagine a dificuldade que a senhora teve tantos anos atrás. Então, obrigada por abrir portas para que fosse possível que nós também pudéssemos passar e trilhar os mesmos caminhos que a senhora trilhou de uma forma mais fácil.
Então, queria também parabenizar a Senadora Leila, mais uma vez. Essas pautas precisam ser, totalmente, sempre construídas, lembrando principalmente as mulheres, mostrando que as mulheres podem estar onde elas quiserem, podem fazer esporte, podem ser grandes gestoras, podem ser grandes atletas. E homenagens são feitas em vidas, né? O Wlamir aqui citou tantas homenagens que D. Aída teve. E que bom, que bom que ela teve essas homenagens em vida, porque é sobre isso, né? A gente precisa saber da importância que nós temos, que nós tivemos e que nossos ídolos são em vida.
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Então, fico muito feliz de estar aqui também participando e também quero deixar aqui a minha homenagem à Sra. D. Aída.
Obrigada por tudo. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Grata, Iziane Marques.
Vou passar a palavra agora para a Sra. Conceição Aparecida Geremias, ex-atleta olímpica, que participará por videoconferência. Seja bem-vinda!
A SRA. CONCEIÇÃO APARECIDA GEREMIAS (Para expor. Por videoconferência.) - Oi, eu sou a Conceição Geremias. Quando eu iniciei a prática esportiva, tinha uma amiga nossa, amiga da Aída também, a Odete, que mostrava para gente os ídolos do atletismo. Então, no meu início, a Aída era o meu objetivo, conhecê-la e tudo. E aconteceu, porque a gente se conheceu numa competição e também aconteceu que ela fazia o heptatlo, corria barreira e, o primeiro recorde que eu bati pertencia a ela. E a gente sempre foi amiga; desde que eu iniciei, ela já estava presente. E a gente conviveu, participamos de muitas competições juntas. Ela sempre muito amiga, orientando a gente, sempre, protegendo. E a Aída é esse mito para mim, é um mito do atletismo. E a gente se encontrou em duas categorias diferentes, né? No atletismo, no adulto e no atletismo master, a gente chegou a competir juntas. E, bom, enfim, nós somos amigas até agora, a gente está sempre se encontrando. E, nossa, eu não tenho palavras. Sem dúvida, é a maior atleta, é a maior inspiração para a gente. Continuo sempre me inspirando nela. Bom é isso que eu tenho para falar.
Aída, parabéns! Eu continuo gostando muito de você, me espelhando muito nos seus conselhos. E parabéns! Isso é o que eu tenho para falar agora. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Obrigada, Sra. Conceição Geremias, que prazer também. Nossa, é uma turma boa, né, D. Aída? Muito legal.
Eu vou passar agora a palavra para a Sra. Lucimara Cardozo, que é Assessora da Ministra de Estado das Mulheres.
Seja bem-vinda, Lucimara!
A SRA. LUCIMARA CARDOZO (Para expor.) - Obrigada, Senadora. Um bom dia a todas as pessoas presentes aqui neste espaço. E que responsabilidade - não? - a gente estar aqui. Eu quero agradecer, Senadora Leila, o convite para o Ministério das Mulheres estar aqui presente e também parabenizá-la e toda a Comissão de Esporte por trazer para esta Casa essa pessoa, esse mito, né?
E ouvindo aqui as histórias e, quando eu cheguei também, ela estava de fofoquinha, contando um pouco. E ela comentou que - eu fico emocionada também - se emociona todas as vezes que se lembra do que ela passou, dessa trajetória.
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Eu quero também deixar aqui um abraço da Ministra Márcia Lopes, que não pôde estar presente, mas nós, enquanto Ministério das Mulheres, temos o dever também de trabalhar incansavelmente nesse trabalho de promover as políticas públicas, para que cada vez mais nós tenhamos mulheres no esporte.
E à senhora: essa homenagem hoje é justa, merecida e também muito necessária neste momento, em que a gente acompanha a ascensão das mulheres no espaço do esporte. E a gente enfrenta muitas barreiras. Vocês mesmos... A gente tem aqui três atletas e também, assim como a Sra. Aída passou, a gente sabe que muitas mulheres são inviabilizadas pela cor, sofremos assédios e abusos, também recebemos menos simplesmente por ser mulher e muitas vezes nem somos lembradas.
Então, Senadora, eu quero mais uma vez te parabenizar, mas hoje o muito obrigado é à nossa atleta aqui, a Aída, por você ter superado todos os obstáculos, ter superado os seus medos, pela sua força, pela sua coragem e pela sua determinação. Enfrentando todos os seus desafios, você segue sendo um exemplo para todas as mulheres, para todas as meninas que, de alguma forma, conhecem a sua história e se inspiram em você.
Então, hoje é um obrigado de todo o coração, e nós, no Ministério das Mulheres, estamos felizes por poder estar aqui neste momento, poder estar diante de você, diante desse mito, uma mulher empoderada e que continua sendo um exemplo para muitas e muitas mulheres do país.
Muito obrigada, D. Aída. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Obrigada, Lucimara.
Eu estava falando aqui com a Valeskinha. Antes de você falar o nome da Ministra, eu falei: "Márcia Lopes". Eu falei: "A minha cabeça está...", mas mande um abraço à Ministra, sempre muito solícita toda vez que nós temos alguns debates aqui. Ontem tivemos sobre feminicídio e tivemos a representação no Plenário também da Casa. Então, mande meu afetuoso abraço à Ministra. Muito importante vocês estarem aqui nessa celebração para a D. Aída.
Eu vou passar a palavra agora para Elisângela Maria Adriano, ex-atleta olímpica e Presidente do Comitê Feminino da Confederação Brasileira de Atletismo, que participará por videoconferência.
Seja muito bem-vinda, Elisângela!
A SRA. ELISÂNGELA MARIA ADRIANO (Para expor. Por videoconferência.) - Bom dia a todas. Bom dia a todos e todas.
Vocês estão me ouvindo?
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Sim, bom dia.
A SRA. ELISÂNGELA MARIA ADRIANO (Por videoconferência.) - Bom dia, gente.
Que homenagem linda, né? Que dia especial, que manhã maravilhosa de estar aqui falando sobre a Aída. Hoje a gente não está homenageando só uma mulher, a gente está homenageando uma lenda do atletismo, que inspira e inspirou todas as gerações do atletismo, principalmente pela sua dedicação, sua perseverança e seu talento.
Eu fico até emocionada, porque, devido a tantas dificuldades que ela passou, com a garra e talento que ela teve, ela abriu caminhos para outras meninas como eu, para que a gente pudesse acreditar que o esporte também era um lugar de todas nós. E eu só tenho a agradecer a Aída, porque ela tem sido todo o nosso exemplo para todos os nossos atletas, para os jovens, né? Todo esse esforço, essa perseverança, ela trouxe para que a gente pudesse ter uma história no atletismo feminino no Brasil, porque esse nome jamais vai ser esquecido, principalmente porque ela deixou não apenas recordes, resultados, mas ela deixou um legado de resistência, de fé e de muita inspiração. Aída, muito obrigado por tudo que você fez e por tudo que você faz pelo atletismo brasileiro.
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Agradeço, Leila, por esse reconhecimento, por esse merecimento, por essa dedicação e por todo o talento que ela ofereceu para a gente.
Um beijo, Aída. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Um beijo para você também, Elisângela. Que linda! E me fez chorar aqui, mas para eu chorar também, não precisa de muito, não. Um beijo para você, maravilhosa!
Olha só, vou passar agora a palavra para o Zequinha Barbosa, gente. Esse José Luiz Barbosa, quem conhece? Quem conhece José Luiz Barbosa? Eu conheço o Zequinha, ex-atleta olímpico, que participará por videoconferência.
Ô, Zequinha, um beijo para você!
O SR. JOSÉ LUÍS BARBOSA (Para expor. Por videoconferência.) - Em primeiro lugar, é uma honra estar aqui. Bom dia a todos, a todas. Bom dia, Senadora Leila. Parabéns pela sua iniciativa de fazer uma homenagem a uma grande mulher, uma grande atleta, que foi, assim... Foi assim, não; é a maior inspiração do atletismo nacional.
Eu via a Elisângela se emocionar, a gente se emociona muito, até porque ela é um exemplo de humildade, ela é um exemplo de determinação, ela é aquele exemplo que a gente sempre fala, que para chegar à porta do sucesso, precisa-se de quatro características importantes, fundamentais, que são a disciplina, a determinação, que é o querer muito, a perseverança, que é o querer sempre, e a coragem, acreditar naquilo que todos pensam que é impossível. E você vê todas essas características numa única pessoa, num único ser fantástico, que é Aída dos Santos.
É mais do que merecida essa homenagem. Eu acho que isso tem que ser feito com mais constância, porque aí está uma bancada de excelentes mulheres, que têm feito um trabalho maravilhoso pelo Brasil, pelo nosso esporte, iniciando pela Senadora. Estão aí a Secretária de esportes, Iziane, enfim, a Conceição, a Elisângela. Se a gente for citar aqui o tanto que as mulheres brasileiras que têm feito pelo esporte nacional, acho que a gente fica aqui até amanhã.
Então, queria dar os parabéns pela iniciativa, e que Deus continue abençoando você, Aída dos Santos! Que Deus continue te dando muito brilhantismo, que Deus te continue te dando bastante saúde para que você fique aqui, espalhando esse seu bem, essa sua alegria, esse seu exemplo para o atletismo nacional, para a nação brasileira e para o povo brasileiro!
Muito obrigado por fazer parte dessa homenagem. Sinto-me bastante honrado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Honrados estamos nós também, meu amigo. Um beijo para você aí! Sucesso! Saudades, viu? É muito legal ver esse teu rostinho aí. Já está coroa, como todos nós aqui, mas um beijão, viu, amigo?
Vou passar agora a palavra... Caiu a conexão da Élida de Aquino, que é a Coordenadora de Comunicação da Organização Criola.
Então, vou passar a palavra agora - claro, eu estava aguardando este momento - para a Valeska, né? Valeska dos Santos Menezes, que é representante dos atletas de alto rendimento da Comissão Mulher no Esporte do Comitê Olímpico do Brasil (COB), medalhista... Medalhista, não, né? Campeã olímpica - vivi também grandes emoções na quadra, ao lado dela -, e é filha do nosso mito, Aída dos Santos. Poxa, Valeskinha é contigo, se você conseguir. (Risos.)
A SRA. VALESKA DOS SANTOS MENEZES (Para expor.) - Desta vez, eu não vou chorar.
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Bom dia a todos!
Obrigada de novo, Senadora Leila, por mais uma vez estar aqui presente, para falar agora... da minha mãe é fácil, agora, da Aída dos Santos, é complicado. Até escrevi aqui, ó... Vamos lá - não vou chorar, Presidente.
Aída dos Santos: a altura de uma mãe, a grandeza de uma atleta.
(Intervenções fora do microfone.)
A SRA. VALESKA DOS SANTOS MENEZES - Em meio à comunidade de Niterói, nasceu Aída dos Santos, uma menina que não sabia que, um dia, saltaria mais do que o próprio destino. Cresceu entre limitações, preconceitos e numa sociedade que não acreditava que meninas como ela pudessem ir longe, muito menos ao topo do mundo, como ela foi, mas ela tinha algo que não cabia em nenhuma medida: a coragem. (Manifestação de emoção.) Sem técnico, sem uniforme, sem médico, sozinha, ela embarcou para Tóquio, em 1964, como a única mulher na delegação - conforme já foi citado aqui algumas vezes. Enquanto o mundo duvidava, ela voava. E ali, naquele salto, 1,74, ela mostrava para a história, com o quarto lugar, o melhor resultado do atletismo em três décadas, como foi citado pela nossa Senadora. Mais do que um salto, foi um grito, um gesto de resiliência, um ato de fé.
Além de atleta, ela também é mãe, professora e um exemplo de força. Sua trajetória nos ensina que determinação, trabalho e coragem podem vencer qualquer obstáculo - não foi à toa que eu cheguei a uma medalha. (Risos.)
Aída dos Santos é mais do que uma atleta: é um símbolo de resistência e inspiração. Que sua história nunca seja esquecida e que seu exemplo nos inspire e nos faça voar cada vez mais alto, todos os dias! (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Ai, ai, gente, chorei. (Risos.)
Difícil, né? É como eu falei: a gente não pode perder esses momentos, né? Ter essa capacidade de sentir emoção, de sentir amor, sentir gratidão, né? Assim, a fala da Elisângela... De todos vocês aqui para quem conviveu com a D. Aída... Nossa! (Manifestação de emoção.)
Bom, eu vou passar a palavra para a D. Aída - né, D. Aída? D. Aída, mais uma vez, reforçando: aqui não está a Senadora. Aqui também... Eu não gosto dessa coisa de "ex-atleta". A gente sai do esporte, mas ele não sai da gente, né? Então, aqui está uma atleta... A alma, a nossa alma ainda é de atleta. Por mais que tenhamos inúmeras funções, o pós-carreira, a gente traz muito da nossa a essência, de tudo que a gente aprende, seja nas pistas do atletismo, seja nas piscinas, nas quadras de vôlei, nos campos de basquete, de vôlei, de hand, enfim... A gente traz para nossa vida, para além de tudo aquilo que a gente viveu todos esses ensinamentos e as inspirações. E eu estou muito, assim...
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Quero agradecer, principalmente, à minha Comissão, porque no momento em que a gente teve o debate aqui, tratando de mulheres no esporte, veio a emoção da Valeskinha, contando - e Iziane também -, e, aí, a ideia da Comissão: poxa, vamos homenagear quem de fato merece, quem de fato inspirou, quem de fato abriu portas, porque, se eu com 54 anos tive dificuldades para ser uma atleta, porque meu pai também não queria, imagina a D. Aída, em 1930, em 1964, desculpa.
Então, assim, quero dizer para a senhora de coração - agora não é a Senadora -: obrigada, obrigada pela inspiração, pela força. A senhora viu muito a gente jogar, não é, Valeskinha? Gente, em todos os jogos finais estava a D. Aída, porque, para além da atleta olímpica, da inspiração, D. Aída foi mãe também de uma grande atleta. Certamente a inspiração... Foi como a Valeskinha falou. E também para a neta, já estou aqui curiosa, né? (Risos.)
A gente fica naquela expectativa, porque a gente sabe das dificuldades de ser um atleta no Brasil.
Então, a palavra está com a senhora.
Obrigada por ter vindo aqui e aceitado essa singela homenagem do Senado Federal.
A SRA. AÍDA DOS SANTOS MENEZES (Para expor.) - Em primeiro lugar, bom dia a todos.
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF. Fora do microfone.) - Bom dia.
A SRA. AÍDA DOS SANTOS MENEZES - Sempre que eu tenho que falar sobre Aída dos Santos, a atleta Aída dos Santos, eu fico emocionada, por quê? Porque foi muito sofrimento no Japão. Primeiro, eu não conhecia atletismo. Do atletismo eu só ouvia falar de José Telles da Conceição e de Adhemar Ferreira da Silva. Eu gostava mesmo era de voleibol, mas, naquela época, negra não jogava voleibol. Eu lembro que, eu jogando voleibol no ginásio lá em Niterói, no Caio Martins, gritaram da arquibancada: "Sai daí, crioula, seu lugar é na cozinha". Falaram assim para mim. Quando terminou a competição, eu peguei o alto-falante e falei: "Meu lugar é na cozinha, é na sala, é no quarto, mas é também numa pista de esporte. E muito obrigada, você não sabe, falando isso, como você me motivou".
Olimpíada, Pan-Americano, Sul-Americano, competia nisso tudo, mas não sabia que atletismo existia em tudo isso. Não sei se vocês sabem, em esporte individual, atletismo principalmente, no Campeonato Brasileiro, os três primeiros vão para o Sul-Americano. No Sul-Americano - entendeu? -, aí tem que ter índice para o Pan-Americano e para a Olimpíada. E, na época da Olimpíada, eu não estava cogitada para ir à Olimpíada. No atletismo no Brasil, estava cogitado 4x100 masculino e 200m feminino, que era da Érica, atleta do Flamengo. Várias vezes eu servi de coelho para a Érica - não sei se vocês sabem o que é coelho -, servi de coelho várias vezes.
Até hoje tem no atletismo o campeonato Troféu Brasil. Aí cada clube leva os seus atletas para o Troféu Brasil. Lá na competição, eles foram tentar o índice para a Olimpíada, e eu e outras fomos competir para dar ponto para os clubes. E eu saltei 1,65m e a Maria da Conceição Cipriano saltou 1,71m. Quando terminou a competição, falaram para nós: "Vocês duas foram as únicas que conquistaram o índice". Porque o índice é 1,65 e a Conceição ultrapassou. O que nós pensamos? Então, já que nós vamos, vamos treinar para melhorar. Mas isso não foi feito conosco, não. Tinha competição em Pernambuco, vão as duas tentar o índice. Tinha no Ceará, na Bahia, mais de seis. E todas as vezes eu saltei 1,65m. A Cipriano, nem 1,65m ela conseguia, não passou.
Quando chegou setembro - a Olimpíada foi em outubro, no Japão -, eu recebi um recado de que eu e a Cipriano tínhamos que fazer, era o último dia, dia 7 de setembro, nós tínhamos que tentar o índice novamente, lá no Estádio Célio de Barros. Aí nos convidaram para que fôssemos ao Maracanã de manhã, tomar café, almoçar. Às 15h era a eliminatória. Eu falei para minha mãe: "Eu tenho que fazer essa eliminatória".
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"Ah, mas antes você vai ter que varrer a casa, lavar a casa, lavar a roupa; depois você vai." Aí eu fiz tudo isso. Cheguei lá, o técnico, que era do Botafogo, estava lá, e eu falei: "Eu só vim aqui pra dar uma satisfação: eu não fui à Olimpíada, nunca fui, nem quero ir". "Você não se concentrou?" Falei: "Me concentrei. Carreguei água, lavei roupa, estou concentrada até demais. E eu não vou fazer mais índice". Aí, ele insistiu, insistiu... Aí eu saltei. Saltei 1,65m. Todas as vezes eu tentei 1,68m e nada; só 1,65m. E a Cipriano fez 1,71m, o máximo. Aí, lá no Célio de Barros, eu saltei 1,65m, e ela não. Aí disseram: "Só a Aída dos Santos que vai, mas não tem uniforme para ela, porque só tem homem na delegação, e todo mundo já ganhou uniforme, calçado. Não tem uniforme para ela". Eu falei: "Do Ibero-Americano, eu tenho uma saia, uma blusa, um paletó". "Ah, então vai com essa roupa mesmo!". Então foi com essa roupa que eu fui.
E, naquela época, não existia Confederação de Atletismo, Confederação de Voleibol. Todo mundo pertencia a quê? À CBD.
Aí eu fui com o uniforme de jogador de futebol, um agasalho emprestado do futebol que me deram no Japão. E aí eu fui ao Botafogo e pedi um uniforme para treinar. Eu tinha que treinar. E, quando eu chego ao aeroporto, o meu técnico falou: "Olha, Aída, você vai para a Olimpíada, mas a Olimpíada tem eliminatória, semifinal e final. Você vai ficar só na eliminatória; você não vai nem para a semifinal". Falei para ele: "Muito obrigada". Mas ele não sabe como ele me ajudou; eu gosto de desafio. Aí nós fomos. Não sei se é Pan-Americano ou Olimpíada... Nenhum país vai com todas as modalidades. Então eu fui com o pessoal do voleibol masculino para o Japão. Fomos para a França; eles tinham que fazer uns amistosos, os jogadores. Eu fiquei 15 dias com eles lá na França e depois seguimos para o Japão.
Chegamos lá ao Japão, eu, os jogadores, o técnico, para assinar a documentação. Quando eu olhei, eu estava sozinha; os jogadores de voleibol tinham ido embora, o técnico... O japonês querendo que eu assinasse, e eu não entendia nada. E "assina, assina" em volta de mim. Aí veio um japonês, pegou uma ficha, apontou para mim, apontou no papel e falou: "Lá-lá-lá-lá-lá". Aí eu falei: "É a data do meu nascimento!". (Risos.) Aí eu botei a data do meu nascimento.
Agora vamos para onde? Vai para o alojamento. As duas japonesas me levaram para o alojamento. Eu fui. De manhã, eu falei: "Como é que eu vou tomar café? Onde está a delegação do Brasil? Não tem ninguém". Lá tinha muita bicicleta. Eu peguei a bicicleta e fiquei rodando, rodando até que encontrei. Aí tomei meu café. E eu falei: "Eu quero treinar".
Dentro da Vila Olímpica, existia uma pista de atletismo, entendeu? E lá estavam as atletas. Iolanda Bala tinha três técnicos: um para ver a corrida, a impulsão e a queda - ela saltava rolo com reversão. E tinha outras coisas... Eu ficava sentada, chorando, esperando. Quando elas iam embora e iam guardar o material, eu ia atrás do japonês que guardava, batia no ombro dele e apontava o que eu queria. Aí ele me dava o material para treinar. Se eu estava fazendo certo ou errado, eu não sei. Eu treinava.
Na semana da competição, eu não tinha sapato para competir, porque, em sapato de saltador, o pé de impulsão tem dois pregos nos calcanhares. Aí um colega meu me viu chateada, um cubano, aí me levou à Puma. Chegando à Puma, eu tive direito: eles me deram uma bolsa, um sapato de prego, um tênis. Aí fui ver a lista do Brasil para dar baixa no meu nome, e meu nome não estava lá. Tive que devolver tudo. Aí eu chorei ainda mais, e ele me levou à Adidas e à Puma. Na outra a que eu fui, aconteceu a mesma coisa: meu nome não estava, não podiam me dar nada. Eu falei: "Como é que eu vou competir? Competir descalça?". E comecei a chorar. Aí o dirigente ficou com pena de mim e falou: "Vou te dar um sapato de sprinter. Sprinter é de corredor de 100m. Eu falei: "Ou eu pego esse sapato ou eu vou competir descalça". E peguei aquele sapato de corredor de 100m e fui. A três dias da competição, eu virei para os dirigentes e falei: "Gente, eu tenho um calendário, eu sei o dia do meu campeonato. Quem vai me levar?". Aí eles falaram: "Olha, vai aparecer um jipe aqui na porta para te levar ao estádio". Realmente, apareceu um jipe, que me levou ao estádio. Chegou ao estádio, me largou na porta e foi embora. Eu falei: "Gente, como eu faço? Eu entro? O que eu tenho que fazer?". Aí eu entrei. Sorte minha que tinha uma menina do Canadá que tinha competido comigo no Ibero-Americano. Estava ela com o técnico. Então, aonde eles iam, eu ia atrás. Quando eles olhavam, eu disfarçava, olhava para lá, para baixo, entendeu? Em determinado momento, eles entraram numa sala. Aí eu entrei. Eram umas 20 competidoras. Nessa sala, eu era a única que não tinha técnico. Tinha um painel no meio com números. O nome da menina era Dianne, a canadense, e o número dela era 15. Aí o técnico apertou, piscou, respondeu à chamada. O meu era 22, e eu ouvi o 22. Aí eu fui, e a mesma coisa, piscou. Falei: "Graças a Deus, respondi à chamada". Aí ficamos lá sentadas.
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Nisso, veio um dirigente do Japão e fez umas perguntas só para os técnicos. Todos eles falaram "não". Perguntou para mim, e falei "não". Até hoje eu não sei o que foi perguntado. (Risos.)
No salto em altura, chamam o local de leque. Fomos dez atletas para um leque e dez atletas para o outro. Para ir para a final, eu tinha que fazer 1,70m. Todo mundo para a final saltava 1,70m. Eu tentei seis, sete vezes: 1,68m e não consegui. Eu estava com tanta raiva que falei: "Nem que eu quebre o meu pescoço, eu vou conseguir 1,70m, porque eu estou representando o meu Brasil". O meu Brasil que estava aqui no Brasil, mas aqueles lá? Hã... Só me chamavam de turista, quando me viam na Vila Olímpica. Eu falei: "Eu vou te mostrar quem é turista. Eu vou mostrar a vocês". E aí eu saltando, né?
Aqui no Brasil, na época, não tinha colchão. A gente saltava e caía na areia, num buraco de areia, entendeu? E lá, não. Pista de tartã, colchão... Moral da história: eu fiz 1,70m e torci o pé. E aí eu falei: "O que eu faço?". Eu tinha que almoçar e tinha que ir para a Vila Olímpica para voltar para a final. Aí, eu fiquei mancando, rodei o estádio todinho para ver se via uma bandeira do Brasil. Mas a única do atletismo era eu, a única da delegação era eu. Rodei, rodei, com uma fome, uma vontade de comer... "Gente, o que eu faço?" Aí, em um restaurante lá dentro do estádio, eu lembro que apontei para o chuchu e o camarão. Eu estava com uns ienes, eles levaram os ienes que estavam na minha mão. Se fiquei devendo ou paguei de menos, eu não sei.
E aí a Miguelina Cobián, de Cuba, me viu mancando. "Que te pasa, chica?". Aí, eu falei: "Passa tudo, eu estou com o pé machucado, não posso voltar para a Vila Olímpica. Como é que eu vou voltar? Eu vou me perder por aí... Eu tenho que competir à tarde". Ela chamou o médico, e o médico fez uma botinha de esparadrapo para mim - o médico de Cuba. Aí, eu fui para a final.
Na final, eu saltei 1,74m, mas o pé já estava doendo. Começou do zero, e o pé estava doendo. Aí, passou 1,76m, 1,77m... Não lembro. E eu nem tinha mais nem vontade de soltar de tanta dor no pé, mas (Ininteligível.) eu gravei. Fui saltar e fiquei com 1,74m, mas não sabia nem em que lugar eu estava, se eu estava classificada, se eu não estava... Aí, saímos. Quando eu cheguei à Vila Olímpica, as pessoas falaram: "Você ficou em quarto lugar". Já pensou numa coisa dessas? Em quarto lugar? Tinha o Nelson, do hipismo, que estava para ganhar medalha; tinha o basquete do Brasil, o masculino, que era bicampeão mundial. E ninguém fez nada, entendeu? Aí, chegando à Vila Olímpica, torceu nada, não foi ninguém. Eu fiquei lá sozinha, lá no estádio. E eu falei: "Agora eu quero ir embora, não quero ficar mais aqui, não". "Não, você tem que ficar." Não! Eu fui embora.
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Como o futebol foi desclassificado, porque o futebol... Não estou falando de quem é de futebol, de quem gosta de futebol - eu sou botafoguense -, mas o futebol dizia assim: "Amanhã vocês têm que jogar contra a África do Sul". "Ah, aqueles neguinhos de perna fina?" Perdiam. Outro dia: "Vocês têm que jogar contra Portugal". Jogavam de tamanco, perdiam. Eles perdiam, e eu os via ganhando diárias em dólar. Eu falei: "Não estou entendendo nada". Entenderam qual é a diferença? Só dão valor, no Brasil, infelizmente, ao futebol, ao futebol. Tinham que dar valor a tudo.
Quer dizer, então, para mim, falou em Olimpíada de Tóquio, para mim... Eu gosto. Cheguei... E, quando cheguei ao Brasil, na porta do avião, ganhei corbelha de flores, e eu não estava entendendo nada. Aí, veio carro do corpo de bombeiros. Eu falei: "Eu não quero nada disso, não. Eu precisava antes de vocês; agora, não. Agora não preciso de nada".
Eu morava em Niterói, e o repórter queria entrar na barca. "Não vai, não. Se vocês entrarem na barca, eu vou jogar vocês dentro d'água. Ninguém me acompanhe, não". (Risos.)
Cheguei em casa, falei com o meu pai mais uma vez, né? "Essa classificação tem dinheiro?" "Não." "Esse esporte não enche barriga de ninguém." Cada vez que eu chegava em casa antes, quando eu competia por medalha, ele puxava a medalha e me batia, porque eu tinha que ganhar dinheiro para ajudar a família, sustentar a família, entenderam? Aí eu falei: "Se um dia eu me casar e tiver filho, ele vai praticar esporte".
Eu sempre gostei de voleibol. A Valeska começou a jogar voleibol comigo. Meus três filhos fizeram voleibol. Valeska pegou a carioca e a brasileira, mas os meus filhos, os outros dois, jogaram... E ganhou a carioca também. Tanto que a minha filha que está nos Estados Unidos ganhou bolsa de estudo. Arranjei dez bolsas de estudo para meninas do voleibol nos Estados Unidos e para a Valeska, na época, com 17 anos. Mandei toda a documentação. Aí, ela pegou a seleção de vôlei. Ela não foi e o técnico não foi. Entendeu?
Então, esporte no Brasil... Vocês estão de parabéns, Leila! Nesse trabalho que vocês estão fazendo, se precisarem de mim, eu estou aqui para ajudar vocês, porque eu falo sempre que, em material humano, não só no voleibol, nós do Brasil somos o melhor do mundo, gente. Eu fiz estágio na Alemanha e nos Estados Unidos. Nós somos o melhor do mundo, mas tem que ter alguém para trabalhar na base. O pessoal aqui só quer atletas prontos, atletas feitos.
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Quantos param ali na base, né?
A SRA. AÍDA DOS SANTOS MENEZES - Exatamente, param na base. Entendeu?
Eu fui... A colega que me levava para competir, no fim, ia em casa falar para o meu pai que eu ia vê-la competir. Mentira! Eu ia competir. Chegava em casa e escondia a medalha para o meu pai não ver.
E no Vasco... O Vasco dava uma ajuda de custo quando eu era atleta do Vasco. Meu papai pegava o dinheiro que dava. Aí eu não ia treinar. Mas, em dia de competição, o diretor e o técnico vinham me buscar em casa. Aí, eu ia competir. Chegava em casa com medalha e mamãe falava: "Ah, esse tal de atletismo é muito fácil. Você não treinou e ganhou medalha!". (Risos.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF. Fora do microfone.) - Imaginavam que era um fenômeno, não é?
A SRA. AÍDA DOS SANTOS MENEZES - Então, é isso aí. Eu treinei...
Eu sou técnica de natação, técnica de atletismo. Os meus filhos começaram com natação aos quatro anos. Depois, "Eu não quero isso". "Ah, meu filho, tenta outro." A Valeska fez natação, a Valeska fez basquete, a Valeska fez balé, a Valeska fez sapateado, fez tudo. E eu falei... Aí, com 13 anos, ela pegou as duas delegações. Eu a treinava em atletismo, entendeu? Eu a treinava em atletismo.
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Nós temos uma associação de veteranos no Rio, eu era Vice-Presidente. Eu tinha que ir para lá de manhã. Aí ela vinha do colégio, almoçava, meu marido levava quentinha para mim, eu almoçava, treinava a Valeska em atletismo e depois a levava para treinar voleibol.
A menina pegou as duas seleções com 13 anos e eu falei: "Você decide. O que você quer, Valesca?". "Ah, eu quero voleibol." Os técnicos de atletismo ficaram chateados, mas eu vou fazer o quê, né?
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - O Brasil agradece. (Risos.)
A SRA. AÍDA DOS SANTOS MENEZES - A minha história é essa.
Mas eu sempre aconselho as pessoas que querem fazer esporte que primeiro tem que estudar, gente. Estudar, estudar em primeiro lugar, que não tem outro jeito. Eu trabalhava, estudava e treinava. Chegava à 1h, acordava às 4, saía de casa às 5, né? Estou aqui. Esporte é muito bom, gente. Eu jogo vôlei até hoje como master.
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - Muito forte, né?
A SRA. AÍDA DOS SANTOS MENEZES - Fizemos agora um campeonato em junho, entendeu? Como eu caí... Eu estou de óculos, eu fiz transplante de córnea, estou com os pontos ainda na vista. Caí e machuquei as duas mãos e o ombro. Aí me chamaram para fazer juramento. Aí fomos em dez estados, um voleibol master, fazer juramento e perfilar os estudos... Eu falei: "Gente, eu não estou entusiasmada. Eu estou aqui...". "Ah, mas tem que ser você, você que tem que vir, você que tem que ir". E lá fui eu para o clube militar, fizemos um campeonato de master: 60, 65, 70, 75, 80, 85. Aí, no 85: "Aída, já que você não vai jogar, você vai ser técnica". Aí eu fui ser técnica. (Risos.) Aí vinham aquelas velharias - eu também sou velha - de 80 anos: "Ó, se eu não entrar agora, eu não venho mais, não". "Olha, a fulana de tal errou duas, três vezes, e você não trocou." Eu falei: "Gente, na nossa idade, a gente vem aqui para se divertir." "Não, eu estou me divertindo, mas eu quero jogar, eu quero entrar." Olha, não foi fácil, entendeu? (Risos.) (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - É sensacional. Que história, gente!
Olha, Aída, não dá para imaginar o quanto você foi guerreira, resiliente mesmo, o símbolo de resistência, pois, se parar para pensar, era uma atleta praticamente abandonada dentro de uma vila olímpica. Agora, assim, eu não tenho dúvidas do que você é pela iniciativa. Ah, é? Não tem? Vou observar... Quer dizer, em qualquer lugar essa mulher estaria brilhando, pela postura, pela proatividade, pela força. Meu Deus! Que Deus abençoe você, viu?
Gente, uma salva de palmas, por favor, mais uma vez. Que é isso! (Palmas.)
Olha, tem participação no eCidadania, mas depois a gente dá uma lida. A gente deu uma atrasadinha aqui na nossa homenagem.
Vamos fazer a entrega da placa agora neste momento. A gente quer aqui na Comissão fazer uma homenagem à Aída.
Então, por favor, gente, eu gostaria...
(Procede-se à entrega de placa de homenagem à Sra. Aída dos Santos Menezes, ex-atleta olímpica.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF) - A Comissão de Esporte do Senado Federal presta esta homenagem à ex-atleta olímpica Aída dos Santos Menezes, em reconhecimento à sua destacada trajetória no esporte nacional e fundamental na contribuição para a valorização da mulher, em especial a mulher negra, no cenário esportivo brasileiro e mundial. Seu legado segue como referência de excelência e superação, inspirando o desenvolvimento do esporte no Brasil, bem como as lutas pela igualdade racial e de gênero.
Brasília, 27 de agosto de 2025.
Esta Comissão de Esporte, neste momento, faz essa homenagem justa e merecida. (Palmas.)
Vamos tirar uma foto todo mundo. (Palmas.)
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Agora nós vamos para a segunda parte, que é a deliberativa, já agradecendo aqui. Vai ser muito rápida a nossa deliberativa, que é destinada à deliberação de requerimentos apresentados a esta Comissão.
Então, item 1.
2ª PARTE
ITEM 1
REQUERIMENTO DA COMISSÃO DE ESPORTE N° 35, DE 2025
- Não terminativo -
Requer, nos termos do art. 222 do Regimento Interno do Senado Federal, inserção em ata de voto de louvor à ex-atleta Aída dos Santos Menezes, em reconhecimento à sua notável trajetória no esporte brasileiro e à sua inestimável contribuição para a valorização da mulher, especialmente da mulher negra, no cenário esportivo nacional.
Autoria: Senadora Leila Barros (PDT/DF)
A autoria é desta Presidência.
A votação será simbólica.
Em votação o requerimento.
As Sras. Senadoras e os Srs. Senadores que concordam com o requerimento permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado o requerimento.
2ª PARTE
ITEM 2
REQUERIMENTO DA COMISSÃO DE ESPORTE N° 36, DE 2025
- Não terminativo -
Requer, nos termos do art. 58, § 2º, II, da Constituição Federal e do art. 93, II, do Regimento Interno do Senado Federal, a realização de audiência pública, com o objetivo de comemorar os 10 anos da sanção da Lei n.º 13.155/2015, conhecida como Lei Profut, marco importante para o fortalecimento da gestão fiscal e da responsabilidade financeira no futebol brasileiro.
Autoria: Senador Romário (PL/RJ)
A votação será simbólica.
Os Srs. Senadores e as Sras. Senadoras que concordam com o requerimento permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado o requerimento.
Bom, agora nós vamos para o encerramento da nossa sessão aqui.
Eu quero agradecer a participação, como sempre aqui, dos fiéis e leais companheiros da nossa Comissão; mais uma vez, agradecer a participação de Iziane, Wlamir, Valeskinha, Lucimara e, em especial, da nossa Aída dos Santos Menezes, por toda a sua contribuição. E que prazer, viu? Que prazer ver essa saúde, essa força, essa trajetória. A gente para e vê... Quando a gente olha tudo o que a gente viveu e o que a gente vive, a gente fala: "Não, a gente está no lugar certo, com a missão certa e vamos seguir firmes".
Nada mais havendo a tratar, eu agradeço a presença de todos e declaro encerrada a presente reunião, já agradecendo também a presença - perdão, gente, tem uma lista aqui - do Sr. David Baker, da Confederação Brasileira de Vela; do Sr. Gerêncio de Bem, que é do Ministério do Esporte; do Sr. José Carlos Pinheiro, do Comitê Olímpico do Brasil; do Sr. Ricardo Vidal, da Confederação Brasileira de Atletismo; e do Sr. Tharcísio Anchieta, Primeiro Tesoureiro do Confef.
É isso aí, pessoal. Boa quarta-feira para vocês. Até a próxima semana.
Obrigada.
(Iniciada às 10 horas e 34 minutos, a reunião é encerrada às 11 horas e 29 minutos.)