08/10/2025 - 41ª - Comissão de Educação e Cultura

Horário

Texto com revisão

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A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO. Fala da Presidência.) - Havendo número regimental, declaro aberta a 41ª Reunião da Comissão de Educação e Cultura da 3ª Sessão Legislativa Ordinária da 57ª Legislatura, que se realiza nesta data, 8 de outubro de 2025.
A presente reunião tem o objetivo de realizar uma audiência pública para debater e celebrar o transcurso de 50 anos do ensino superior em cooperativismo no Brasil e sua importância nos currículos da educação brasileira, em atenção ao Requerimento nº 39, de minha autoria.
Convido para tomar assento à mesa o Sr. Remy Gorga Neto, Presidente da OCB do Distrito Federal, representando a Organização das Cooperativas Brasileiras; a Sra. Marta Von Ende - falei certo? -, Diretora do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria; a Sra. Eliene Gomes dos Anjos, Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; o Sr. Demetrius David da Silva, Reitor da Universidade Federal de Viçosa; o Sr. Vilmar Rodrigues Moreira, Professor e Pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Paraná; a Sra. Paola Richter Londero, Professora e Pesquisadora da Escola Superior do Cooperativismo; a Sra. Kristiane Mattar Accetti Holanda, Coordenadora-Geral de Engenharias e Tecnologias (Cgete), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). De forma remota, participa a Sra. Mariana Ramos Reis Gaete, Coordenadora de Planejamento Acadêmico, Pesquisa e Inovação do Ministério da Educação.
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Informo que a participação dos interessados - a gente já tem algumas perguntas aqui e comentários - está aberta pelo Portal e-Cidadania, no endereço senado.leg.br/ecidadania, ou pelo telefone 0800 0612211.
O relatório completo com todas as manifestações estará disponível na página do Senado, na Comissão de Educação.
Na exposição, cada convidado poderá fazer o uso da palavra por até oito minutos. Ao final das exposições, se houver algum Parlamentar que queira falar, será concedida a palavra.
Com a palavra, de forma remota - pois ela participa conosco remotamente -, a Sra. Mariana Ramos Reis Gaete, Coordenadora-Geral de Planejamento Acadêmico, Pesquisa e Inovação do Ministério da Educação.
A SRA. MARIANA RAMOS REIS GAETE (Para expor. Por videoconferência.) - Olá, boa tarde.
Vocês me escutam?
A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO) - Sim.
A SRA. MARIANA RAMOS REIS GAETE (Por videoconferência.) - Sra. Professora Dorinha Seabra, Sras. e Srs. Senadores, demais autoridades e representantes das universidades, instituições de ensino e do movimento cooperativista, boa tarde. É uma honra estar participando desta audiência.
Eu estou representando a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, e a gente está muito feliz de participar desta audiência em celebração aos 50 anos do ensino superior em cooperativismo no Brasil, um marco histórico que teve início em 1975 com a criação do curso de Cooperativismo na Universidade Federal de Viçosa. Essa iniciativa pioneira consolidou as bases acadêmicas e científicas de um campo essencial ao desenvolvimento social e econômico do país. Celebrar meio século de ensino superior em cooperativismo é reconhecer a visão estratégica e inovadora da UFV, que, há cinco décadas, compreendeu que o cooperativismo vai além da formação profissional, é um instrumento de transformação social.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e o Plano Nacional de Educação (PNE) orientam que a formação universitária deve articular ensino, pesquisa e extensão em favor do desenvolvimento humano e sustentável. Nesse contexto, o cooperativismo se afirma como tema transversal, promovendo valores como democracia, cidadania e trabalho coletivo. Essas diretrizes reforçam uma convicção essencial: a universidade é, antes de tudo, um espaço de transformação social, e o cooperativismo é uma de suas expressões mais potentes, porque ensina a aprender juntos, a decidir coletivamente e a crescer de forma compartilhada.
Ao longo desses 50 anos, o ensino do cooperativismo se expandiu, formando profissionais comprometidos com valores de solidariedade, democracia, equidade e sustentabilidade. Expandiu-se, mas tem que se expandir mais, tem mais espaço, tem mais potencialidade. Então, a gente pensa em uma formação transversal dos professores, para que eles possam passar isso aos seus alunos como um todo.
Esses valores se tornam ainda mais relevantes neste ano, que é o Ano Internacional das Cooperativas, proclamado pela ONU, sob o tema: "Cooperativas constroem um mundo melhor". Essa iniciativa global nos convida a refletir sobre o cooperativismo como um modelo alternativo e complementar às economias tradicionais, capaz de gerar emprego, renda e inclusão, sem renunciar à responsabilidade social e ambiental.
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Nesse cenário, a educação superior tem papel estratégico: inserir o cooperativismo de forma transversal nos currículos significa preparar nossos estudantes não apenas para o mercado de trabalho, mas também para a vida em comunidade, para o empreendedorismo coletivo e para a cidadania cooperativa. O cooperativismo contribui para formar estudantes preparados não apenas para o mercado de trabalho, mas também para a vida em comunidade, para o empreendedorismo coletivo.
Nesse sentido, o Ministério da Educação, por meio da Sesu, entende que integrar os princípios e valores cooperativistas aos processos formativos fortalece competências como empatia, corresponsabilidade e senso de pertencimento.
As universidades são espaços privilegiados para difundir a cultura cooperativista, integrando ensino, pesquisa e extensão em prol do desenvolvimento local e regional.
Ao celebrarmos este cinquentenário, reafirmamos o compromisso do MEC em apoiar iniciativas que aproximem educação e cooperativismo, incentivando práticas pedagógicas inovadoras e políticas públicas voltadas à formação cidadã, ao trabalho digno e à sustentabilidade.
Em nome da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, agradeço o convite e parabenizo o Senado e a Senadora Dorinha Seabra pela iniciativa.
Que este momento nos inspire a seguir integrando o cooperativismo como eixo estruturante da educação brasileira, contribuindo para um país mais solidário, inclusivo e sustentável.
Muito obrigada.
A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO) - Muito obrigada, Mariana, pela sua participação e, acima de tudo, pela sua fala, que reconhece a importância do sistema cooperativista e de todos os valores que o sistema traz para a educação básica e para o ensino superior. Sabemos que você tem uma outra agenda. Então, agradecemos. Fique conosco enquanto for possível, mas já ficam aqui nosso respeito e gratidão.
Passo a palavra para o Sr. Remy Gorga Neto, representante da OCB.
O SR. REMY GORGA NETO (Para expor.) - Boa tarde, Senadora Dorinha.
Na sua pessoa, quero saudar aqui todos os nossos companheiros da mesa e demais autoridades. Uma saudação especial também ao nosso Presidente da OCB Acre, que está aqui, Valdemiro; e aos nossos professores da Universidade Federal de Viçosa, onde tive a honra e o orgulho de concluir o curso de Tecnólogo em Cooperativismo - ainda era tecnólogo - há 40 anos.
Quero dizer da minha satisfação de estar participando deste momento importante, em que nós, de alguma forma, celebramos e valorizamos o curso de Cooperativismo, iniciado, pioneiramente, pela Universidade Federal de Viçosa - nosso Magnífico Reitor está aqui presente -, que depois se disseminou por outras universidades. E foram criados também institutos de cooperativismo, como a Escoop do Rio Grande do Sul, que está aqui representada, e a Escoop do Mato Grosso, voltados à questão da formação superior em cooperativismo. Tenho a honra de estar aqui representando o Sistema OCB, como Conselheiro hoje do Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), representando a Região Centro-Oeste.
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E esse conjunto de instituições que formam o Sistema OCB e as suas unidades estaduais têm muito que valorizar o curso de Cooperativismo e os profissionais egressos dos cursos de cooperativismo de todas as instituições que trabalham na formação desses profissionais, com a importância hoje do profissional específico de cooperativismo para atuar não só nas cooperativas, mas no Sistema OCB e outras instituições, instituições governamentais, trazendo essa especificidade do conhecimento do cooperativismo, dos seus valores e princípios, do seu modo de gestão e de governança. Então, esse profissional tem que ser valorizado. Hoje, o Sistema OCB e o cooperativismo brasileiro como um todo estão em um estágio avançado de profissionalização da sua governança e da gestão muito também em decorrência do que se estuda, do que se produz em termos de produção acadêmica, de pesquisa, e da atuação dos profissionais que, de alguma forma, passaram pelas cadeiras, pelos bancos dos cursos de cooperativismo.
É uma alegria estar aqui. Quero parabenizar a Senadora por esta iniciativa.
Nós temos a convicção de que o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) tem na sua essência e no seu objetivo principal capacitar, desenvolver as pessoas, desenvolver as estruturas das cooperativas, o desenvolvimento pessoal e organizacional das cooperativas. E profissionais que atuam hoje em várias unidades estaduais, inclusive aqui no Distrito Federal, onde eu tenho a honra de presidir a OCB-DF... Nós temos profissionais oriundos do curso de Cooperativismo da Universidade Federal de Viçosa, nossa Gerente-Geral é formada lá, temos analistas... Então, esses profissionais são muito importantes para o desenvolvimento do cooperativismo brasileiro como um todo.
O Sistema OCB está sempre de mãos dadas, apoiando as iniciativas, com as universidades. Estamos concluindo hoje o EBPC (Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo), com o apoio do Sistema OCB. Isso faz com que a gente tenha um terreno cada vez mais amplo para a atuação desses profissionais na pesquisa e no desenvolvimento de materiais e de conteúdo para o cooperativismo. Temos que pensar muito nas políticas que possam apoiar os cursos nas universidades federais e nas universidades estaduais também nos níveis de mestrado e doutorado para que tenhamos um cooperativismo cada vez mais estruturado, com base acadêmica, base científica, para que possamos desenvolver a governança, a gestão, a cultura cooperativista... Hoje, se discute muito a questão de termos essa cultura. Infelizmente, nós temos uma cultura e uma educação muito mais voltadas para competição do que para cooperação. Então, temos que desmistificar um pouco isso. Poder trabalhar a questão da cooperação como base do cooperativismo é muito importante. Nesse trabalho, nessa base, as universidades e os cursos de cooperativismo têm uma importância muito grande com relação a isso.
Deixo aqui a minha saudação, parabenizando todos os egressos, os estudantes, os professores, aqueles que conduzem esse trabalho no cooperativismo na parte da qualificação, na educação. Deixo aqui a minha saudação, parabenizando-os pelos 50 anos.
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Neste ano, eu faço 40 anos de formado no curso de Cooperativismo de Viçosa e tive a honra de ser homenageado lá, representando os egressos do curso. Muito me orgulha ter sido escolhido para representar tantos profissionais, quase mil profissionais, nesses dez anos de curso. É uma honra para mim e um orgulho representar todos esses profissionais que fazem um trabalho fantástico no cooperativismo brasileiro.
Parabéns a todos.
E longa vida aos nossos cursos de cooperativismo. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO) - Passo a palavra para a Sra. Marta von Ende, Diretora do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria.
A SRA. MARTA VON ENDE (Para expor.) - Obrigada, Professora e Senadora Dorinha, pelo espaço importante aqui para tratarmos dessa pauta tão cara para nós que atuamos com a educação na área do cooperativismo.
Saúdo também os demais componentes aqui da mesa, que farão uso da palavra. Uma saudação também muito especial à comitiva que veio da Universidade Federal de Santa Maria, composta pela Profa. Marindia, coordenadora do nosso curso de graduação em Gestão de Cooperativas, por egressos do nosso curso de Técnico em Cooperativismo e de graduação de Gestão De Cooperativas e também por professores que atuam no curso.
A Universidade Federal de Santa Maria é uma universidade no interior do Rio Grande do Sul, uma das primeiras universidades fora de uma capital, que completa em dezembro deste ano 65 anos, e tem também, em sua trajetória, em sua caminhada, uma importante incursão dentro da área do cooperativismo. Então, eu vou dividir a minha fala em praticamente duas perspectivas. Vou falar um pouco dessa trajetória da UFSM na questão da formação da educação, trabalhando o tripé ensino, pesquisa e extensão, na área do cooperativismo; e, mais ao final, vou lançar alguns desafios que nós percebemos ao longo dessa nossa caminhada.
A UFSM teve um curso de Tecnólogo Em Cooperativismo pioneiro na década de 1970, que foi reconhecido em 31 de julho de 1979 e formou a sua primeira turma em 23 de dezembro de 1977; ele foi descontinuado em 1999, quando tivemos o último estudante ali diplomado. Depois de dez anos, a Universidade Federal de Santa Maria retoma a sua oferta de oportunidades na área do cooperativismo na ocasião do Reuni, que foi um programa de expansão das universidades federais, com o curso de Gestão de Cooperativas, no ano de 2009, um curso de graduação. A universidade retoma, então, a sua oportunidade de formação na educação superior com esse curso e, ao longo da sua caminhada, também passa a atuar com a educação básica com o curso de Agente de Desenvolvimento Cooperativista, que é um curso em parceria com a Secretaria de Estado do Rio Grande do Sul, na modalidade EJA/EPT. É um curso, então, que se iniciou em 2021 a partir desse acordo de cooperação com a Secretaria do estado, um curso de formação inicial e continuada com uma carga horária de 200 horas.
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Também a universidade tem um curso técnico em cooperativismo que iniciou em 2014, junto com o e-Tec, que é a rede de educação à distância, com financiamento externo. Depois ele foi descontinuado e retomou em 2021, como um curso, então, regular, sem financiamento externo. E, na sua primeira edição, esse curso teve mais de 2 mil inscritos, com candidatos em todos os estados brasileiros, inclusive no Distrito Federal; então, uma absurda demanda de busca de formação por essa área do cooperativismo. Para nós, foi muito significativo, temos esse curso ofertado até hoje e, em todas as edições subsequentes, também uma elevada demanda.
O que mais a universidade faz em termos do cooperativismo? Então, nós temos a curricularização desse tema em todos os nossos cursos técnicos do Colégio Politécnico, que é a unidade de ensino que hoje atua fortemente com a área do cooperativismo. Nós temos 19 cursos técnicos em sete áreas, sete eixos tecnológicos diferentes, e foi colocada a disciplina Seminários de Formação, que atua o tema do cooperativismo e outros temas transversais, que são exigidos pela Resolução 1, que é a das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Profissional e Tecnológica. Também temos uma cooperativa-escola, que foi fundada em 1987, a Cooperativa-Escola dos Estudantes, que é o laboratório do curso de Gestão de Cooperativas para as práticas e também para trabalhar essa educação do cooperativista, que perpassa em todos os cursos.
Temos a primeira revista científica com publicações predominantemente na área do cooperativismo, que é a Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, cuja Editora-Chefe também está presente aqui, a Profa. Marcia Bento. É uma revista desde 2014. Temos um Simpósio Nacional de Gestão de Cooperativas (Singescoop), que já tem 12 edições realizadas, que é uma iniciativa dos próprios estudantes do curso de Gestão de Cooperativas, que fazem esse evento como também uma ação de extensão. Inclusive, a gente faz anualmente e com uma parceria também com o EBPC, que é o evento de que nós estamos participando nesta semana aqui em Brasília, a gente faz de forma alternada: num ano, tem o EBPC; no que vem, vai ter o Singescoop.
Temos o Projeto +Coop, que é um projeto de extensão, que tem uma capilaridade muito grande também e que, desde 2016, já formou mais de 2,5 mil pessoas, entre coordenadores de núcleos, associados, colaboradores de cooperativas. E temos também um grupo de pesquisa, que é o Grupo de Estudos em Cooperativismo e Contabilidade. Então, apesar de a nossa instituição não ter a pós-graduação na área do cooperativismo, ela trabalha com educação básica e superior, exceto a pós-graduação, mas os docentes, muitos dos professores atuam em grupos de pesquisa, em programas de pós-graduação com pesquisas voltadas ao cooperativismo.
Então, para fechar a minha fala: o que nós percebemos como alguns desafios? A questão da importância de a gente fortalecer a curricularização da extensão, e para isso a gente precisa - o que é uma questão obrigatória - também ter recursos - então, tem sido um grande desafio para as universidades promover essa curricularização da extensão sem uma suplementação orçamentária para viabilizar e dar campo para qualificar a formação dos nossos estudantes -; também mais iniciativas com recursos de fomento específicos para as pesquisas no cooperativismo; políticas públicas para dar acesso a demandas que temos nessa formação, que é evidente pelos nossos processos seletivos, que são muito concorridos - então, a gente poder fortalecer essa oportunidade de formação na área do cooperativismo -; fomento para estruturação e qualificação de cursos regulares também - por exemplo, nós temos o nosso curso à distância, só que a gente precisaria ter uma estrutura melhor para preparar os materiais didáticos, enfim, porque a gente não conta com financiamento externo, teria que ter linhas específicas de fomento para isso -; e, por fim, também fortalecer as parcerias interinstitucionais para desenvolver iniciativas e acessar programas governamentais - tem sido para nós um grande desafio, por exemplo, fazer articulações com a secretaria de estado para acessar programas, como o mais recente, que seria o Propag.
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Então, seria essa a minha fala.
Muito obrigada pelo espaço, pela oportunidade. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO) - Eu quero agradecer também a presença do Professor Samuel Soares, Vereador da Câmara Municipal de Ubá, Minas Gerais; do Sr. Marcus Peixoto, Presidente da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober); do Sr. Manoel Valdemiro da Rocha, Presidente do Sistema OCB do Acre. E eu gostaria, sei que não está presente, de cumprimentar o Sr. Ricardo Khouri, que é o Presidente da OCB do Tocantins.
Fui Secretária de Educação no Tocantins por quase dez anos e conheci o sistema cooperativista a partir de uma iniciativa do Governo do estado, à época, que queria transformar todas as escolas públicas em escolas cooperativistas, escolas cooperativas. E comecei a estudar e verificar, fui a várias escolas que existiam na área da educação. Comecei por aprender que não adiantava um Governador querer criar escolas cooperativas, porque não vem de cima para baixo - o modelo cooperativo nasce ao contrário: nasce da sociedade, na forma de organização -, mas isso não me impediu, à época, de aprender muitas coisas e levar para o princípio que o Governador da época queria. Ele queria dar autonomia para cada escola - autonomia financeira, administrativa -, fortalecer a gestão de cada uma das escolas, envolvendo os pais, e nós chegamos a um passo importante de até pequenas obras: o valor naquela época de R$450 mil ia direto para a escola.
Conheci muitos modelos das escolas cooperativistas, e não posso deixar de mencionar a Maria José, que é pré-histórica do cooperativismo do meu estado. Quando eu digo pré-histórica, é com carinho, porque é uma pessoa que nos ajudou muito no trabalho da secretaria, no trabalho de empoderamento de mulheres e, ao mesmo tempo, no fortalecimento. E o nome dela se mistura com todo o movimento cooperativista no Estado do Tocantins.
O SR. REMY GORGA NETO - Permita-me, Senadora. Maria José é egressa também do curso de Cooperativismo lá de Viçosa. Eu costumo falar, nos nossos encontros, que ela foi minha caloura lá; não sei se ela gosta muito não, mas ela foi minha caloura no curso de Cooperativismo. (Risos.)
A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO) - Está melhor do que eu, que falei pré-histórica, não é? (Risos.)
O SR. REMY GORGA NETO - Já me senti pré-histórico também.
A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO) - Mas é um carinho. Eu também estava, na verdade, lidando com o tema, então também sou pré-histórica na educação.
Mas acho que o Brasil precisa avançar mais na compreensão. É lógico que, pela própria natureza, o modelo cooperativista não é alguma coisa como um conjunto ou que se faça através de um decreto, mas é um modelo de gestão e de formação extremamente importante.
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Ao mesmo tempo, falo da questão da curricularização. No meu estado, a extensão na Universidade Federal do Tocantins está curricularizada, e eu coloquei recursos para a escola de extensão, lá no meu estado, e apoio, e vejo que cresce muito a formação a partir da ação da extensão dentro desse perfil da curricularização.
Eu passo a palavra agora para a Sra. Eliene Gomes dos Anjos, Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
A SRA. ELIENE GOMES DOS ANJOS (Para expor.) - Boa tarde a todos e a todas.
Saúdo a Senadora Professora Dorinha, agradeço por sua oportunidade, mas saúdo também os nossos estudantes de Gestão de Cooperativas lá do Recôncavo da Bahia - porque eu sei que tem inúmeros acompanhando esta audiência - e todas e todos os presentes.
A UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) é a primeira universidade federal no interior do Estado da Bahia, um estado com 15 milhões de habitantes que, até o ano de 2005, só tinha uma universidade federal, Senadora. Então, a UFRB surge nesse processo de interiorização do ensino superior e surge a partir da demanda da sociedade civil. O curso de Gestão de Cooperativas não foi criado de dentro da universidade para a sociedade, foi a sociedade que participou de audiências públicas e, nessas audiências públicas, quando reivindicavam uma universidade federal no interior e no Recôncavo, reivindicou um curso de Gestão de Cooperativas que pudesse qualificar a gestão de associações, de cooperativas e de empreendimentos no campo da economia solidária. Então, o curso de Gestão de Cooperativas só tem sentido porque ele alinha o ensino, a pesquisa, a extensão e as ações afirmativas.
A UFRB é uma universidade em que mais de 80% do seu quadro de estudantes são autodeclarados negros. Então, a política afirmativa também está dentro desse curso de Gestão de Cooperativas, quando nós construímos um PPC em que a prioridade é construir espaços práticos para a formação desses estudantes, para que, a partir do ensino, da extensão e da pesquisa, a gente possa qualificar associações, cooperativas e empreendimentos de economia solidária, que têm na gestão um dos seus maiores gargalos.
E esses estudantes são tão proativos que gravaram um videozinho - que eu acho que o pessoal vai apresentar - para que eu apresentasse para vocês. É um pequeno vídeo de dois minutos. (Pausa.)
Eu não estou com... (Pausa.)
Foram esses estudantes de Gestão de Cooperativas...
(Procede-se à exibição de vídeo.)
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A SRA. ELIENE GOMES DOS ANJOS - Esse vídeo expressa o que é o curso de Gestão de Cooperativas. Dentro da universidade, nas imagens, nós estamos mostrando uma atividade que fizemos na semana passada, que era para fortalecer a gestão associativa. Tinha estudantes, tinha cooperativas, tinha associações da agricultura familiar.
O curso tem no seu DNA a extensão. Então, para reforçar, a curricularização da extensão não começa agora no curso de Gestão de Cooperativas; ela começa em 2008, quando nós criamos o curso. Só que é um grande desafio você fazer curricularização da extensão com os orçamentos tão limitados das universidades federais. Então, buscar apoio financeiro para que a gente continue contribuindo com as organizações coletivas, principalmente da economia solidária e da agricultura familiar, é um dos grandes desafios.
Outro elemento que fortalece o ensino da gestão do cooperativismo são as incubadoras. Nós temos uma Incubadora de Empreendimentos Solidários, que nossos estudantes também utilizam como um espaço de laboratório de formação prática.
Tenho menos de três minutos, né?
Eu quero reforçar alguns desafios que nós temos, não só aliando o ensino à extensão, mas aliando a ela também a pesquisa. Nós temos poucos dados estatísticos que comprovem, por exemplo, a participação da população negra, a participação dos povos e comunidades tradicionais no cooperativismo. Se nós tivermos esses dados, além de estarmos visibilizando o cooperativismo como um mecanismo de inclusão e superação das desigualdades, nós vamos poder ter mais pesquisas que visibilizem agrupamentos que são invisibilizados devido a esses processos de desigualdades que nós temos. Então, além do próprio ensino e de garantir recursos para curricularização, nós temos que conseguir realizar pesquisas, inclusive com o próprio Sistema OCB, no sentido de sensibilizar suas cooperativas para participarem dessas pesquisas, não porque nós queremos construir um conhecimento de cima para baixo, mas porque queremos construir um conhecimento que qualifique a formação dos nossos estudantes, de acordo com as demandas das cooperativas, mas também que comprove que o campo do cooperativismo é um campo de superação das desigualdades e um campo que pode construir mais igualdade, mais protagonismo, principalmente dos segmentos que foram mais alijados dos direitos historicamente no nosso país.
Então, o PPC hoje de Gestão de Cooperativas tem como grande desafio dar conta da gestão de cooperativas que estão muito na linha do mercado competitivo, ou seja, ele precisa ter uma qualificação para se manter competitivo nesse mercado, mas também trabalhamos e temos como eixo central qualificar os próprios agricultores familiares, as próprias mulheres artesãs que entram no curso de Gestão de Cooperativas na universidade para que elas retornem para dentro dos seus empreendimentos e possam também fazer a sua gestão. Então, nós não só formamos pessoas para...
(Soa a campainha.)
A SRA. ELIENE GOMES DOS ANJOS - ... serem empregadas a partir da CLT, mas formamos também pessoas que estão dentro dos empreendimentos de economia solidária, da agricultura familiar e, principalmente, do artesanato, que é um ramo muito forte no Recôncavo da Bahia, para que possam gerir seus empreendimentos e ter empreendimentos autogestionários e condições de melhorar suas condições socioeconômicas para corrigir as mazelas históricas que ainda mantêm diversos segmentos em situação de vulnerabilidade.
Muito obrigada por esta oportunidade. (Palmas.)
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A SRA. PRESIDENTE (Professora Dorinha Seabra. Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - TO) - Obrigada, Profa. Eliene.
E passo a palavra ao Sr. Demetrius David da Silva, Reitor da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
O SR. DEMETRIUS DAVID DA SILVA (Para expor.) - Boa tarde a todas e todos.
Gostaria de iniciar cumprimentando a Senadora Professora Dorinha Seabra e fazendo, Senadora, um duplo agradecimento. Primeiro, pelo requerimento que viabilizou esta audiência pública para discutir os 50 anos do ensino de cooperativismo no Brasil, com a possibilidade de inclusão nos currículos, ou seja, nos PPCs, nos cursos de graduação do nosso país, do ensino de cooperativismo.
E além disso, Senadora, como Reitor da Universidade Federal de Viçosa e também como Presidente da Comissão de Orçamento da Andifes, que é a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, eu não poderia deixar de fazer publicamente um agradecimento muito grande à senhora por toda a atuação em defesa do ensino superior público no nosso país.
A senhora sabe muito bem, ao longo dos últimos anos, nós temos vivenciado, em todas as universidades federais, uma situação orçamentária muito complexa. Para aqueles que não têm conhecimento dos dados, há dez anos, nós recebemos, no ano em curso, menos do que no ano anterior, corrigido pela inflação, a despeito de termos 35% a mais de matrículas em relação a dez anos atrás. E, para o próximo ano, no Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2026, nós temos novamente essa realidade, com a previsão de aumento de apenas 3,4%, frente a um IPCA que chega a praticamente 5%.
E a gente solicita novamente o apoio da Senadora, em prol da defesa das nossas instituições públicas de ensino superior, e já agradece de imediato. A senhora tem sido um porto seguro no Congresso Nacional, em prol da defesa da educação pública, gratuita, de qualidade e inclusiva em nosso país.
Em relação a esta audiência, eu não poderia deixar de destacar a satisfação, como Reitor, de estar aqui representando a universidade que foi a pioneira na criação do ensino de cooperativismo no Brasil, 50 anos atrás. E, para mim, é motivo de muita satisfação ter aqui diversos professores da universidade. Temos o Prof. Marcelo Braga, o Prof. Alan, o Prof. Alaír, a Profa. Nathalia, a Profa. Roseli, o Prof. Mateus, representando o corpo docente que atua no curso de cooperativismo.
Cumprimento também a todos os ex-alunos da nossa universidade, na pessoa da Profa. Valéria Bressan, que é professora da UFMG, e do Presidente da OCB Distrito Federal, Dr. Remy.
E também um cumprimento especial a todas as outras instituições que ofertam cursos de cooperativismo em todas as suas modalidades.
No âmbito da UFV, nós sempre tivemos uma visão muito estratégica em relação a cursos necessários para o desenvolvimento do nosso país, Senadora. Nós tivemos a sorte de ter nascido, na cidade de Viçosa, um Presidente da República Federativa do Brasil, Artur da Silva Bernardes. Quando ele lançou a pedra fundamental da nossa universidade, em fevereiro de 1922, ele era Presidente do Estado de Minas Gerais. Na época, não era Governador. E, quando ele a inaugurou, em 28 de agosto de 1926, ele já era Presidente do nosso país.
E ele fez o que de melhor poderia ter feito por sua terra natal, que foi criar a nossa universidade. Qualquer coisa que ele tivesse criado cem anos atrás, provavelmente, já teria se perdido ao longo do tempo, e a nossa universidade está apenas começando a sua trajetória.
E, nesses cem anos de criação da nossa universidade, que completaremos agora, no próximo 28 de agosto de 2026, nós temos alguns marcos históricos. Um deles, que muitos não sabem: a idealização da pós-graduação stricto sensu no Brasil foi na nossa universidade. A primeira dissertação de mestrado defendida no Brasil foi em fevereiro de 1961, na Universidade Federal de Viçosa. E, depois, nós tivemos a honra de ser os pioneiros na criação do curso de cooperativismo.
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É muito interessante que, quando nós pegamos os dados da UFV em relação ao curso de cooperativismo, nós já formamos praticamente mil profissionais, que atuam na área em diversos setores, em cargos de gestão, tanto em cooperativas quanto em outras entidades, quanto em ONGs, quanto em órgãos de governo.
Além disso, temos dados recentes, obtidos pelo nosso grupo que atua com cooperativismo, que mostram que mais de 85% dos nossos egressos saem empregados da universidade, com salários que variam ao redor de cinco a dez salários mínimos, e mais de 95% dos nossos egressos confirmam a importância do curso de cooperativismo para que eles pudessem alcançar êxito na sua trajetória profissional.
Além disso, já foi mencionado aqui também, o cooperativismo é uma área que agrega ensino, pesquisa, extensão e inovação tecnológica.
Para terem uma ideia, nos últimos dez anos, somente na UFV - e eu tenho certeza de que, nas outras instituições, isso ocorre também -, nós tivemos mais de 680 ações de extensão somente promovidas pelos estudantes e profissionais que atuam em cooperativismo, mais de 270 projetos de pesquisa.
Os nossos profissionais, em todos os eventos regionais e nacionais de cooperativismo, são premiados, tanto docentes quanto estudantes. Eles estão aqui num evento, e isso acabou de acontecer, essa premiação.
Além disso também, um destaque muito grande em empreendedorismo e inovação: hoje, nós temos a honra de ser a universidade federal mais empreendedora do Brasil, resultados do último ranking estabelecido pela Brasil Júnior.
Somos, apesar de ser uma universidade do interior, a universidade com o maior número de empresas juniores federadas no Brasil Júnior de todo o país. E a empresa júnior que atua em cooperativismo tem um papel de destaque na nossa instituição.
Além de uma infraestrutura física robusta, nós temos uma infraestrutura de recursos humanos muito qualificada.
E eu gostaria de aproveitar a oportunidade, Senadora Dorinha, para destacar que a maior parte dos estudantes que nós temos na UFV de cooperativismo são estudantes com vulnerabilidade socioeconômica muito expressiva. Esta é uma marca da nossa instituição: a inclusão.
Conversando um pouquinho com a Profa. Valéria aqui, ela foi moradora de alojamento, eu também fui morador de alojamento, na época em que eu estudei na UFV.
A universidade é verdadeiramente inclusiva, mas temos vivenciado situações muito complexas, que têm dificultado a permanência dos nossos estudantes.
Principalmente no cooperativismo, não há como se trabalhar com ensino de qualidade sem vivências e experiências práticas, e, para tal, nós precisamos de aportes orçamentários específicos que podem ser preferencialmente via orçamento, mas via termos de execução descentralizada, via emendas parlamentares que possam garantir vivência e experiência prática para os nossos estudantes...
(Soa a campainha.)
O SR. DEMETRIUS DAVID DA SILVA - ... fruto da curricularização da extensão.
Para finalizar, eu não poderia deixar de destacar e aproveitar o momento para solicitar que o MEC avalie, com muito critério, a possibilidade de atuar também na curricularização do cooperativismo, porque é uma área que tem uma transversalidade muito grande, e é muito pertinente que nós tenhamos a inserção das ações de cooperativismo nos projetos pedagógicos dos nossos cursos, porque os profissionais que nós formamos hoje têm que ter esse espírito de trabalho em cooperação, e eu não tenho dúvida de que o curso que mais pode cooperar nessa ação é o curso de cooperativismo, representado aqui por todas as instituições que foram previamente indicadas pelo cerimonial.
Muito obrigado e boa tarde a todos. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Agradeço a participação.
A Professora Dorinha pediu para substituí-la, porque ela tem uma audiência agora no Supremo Tribunal Federal, e por isso estou justificando aqui ter assumido a Presidência. Não estive antes aqui também porque estava participando de outra audiência, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, mas é uma honra e uma alegria estar junto, nesta oportunidade, para estarmos celebrando esse evento.
De acordo com a orientação da Professora Dorinha, passo a palavra agora ao Sr. Vilmar Rodrigues Moreira, Professor e Pesquisador da PUC Paraná.
Há uma boa coincidência (Risos.)..., porque o meu pai, inclusive, foi reitor da PUC Paraná durante 12 anos, e eu fui aluno da PUC no curso de Letras, também professor da PUC, lá no milênio passado.
É uma alegria ter a PUC participando aqui também agora. Então, é uma coincidência bastante agradável também.
Com a palavra, então.
O SR. VILMAR RODRIGUES MOREIRA (Para expor.) - Obrigado, Sr. Senador, legítimo filho da PUC. (Risos.)
Então, Exmo. Sr. Senador, Srs. Senadores e Senadoras, demais membros da Comissão de Educação e Cultura, autoridades presentes, estimados colegas da academia e representantes do movimento cooperativista.
É uma grande honra participar desta audiência pública, cujo propósito é celebrar o transcurso de 50 anos do ensino superior em cooperativismo no Brasil. Recebam meus agradecimentos sinceros pelo convite e por dedicarem este espaço crucial a um tema de tamanha relevância para o desempenho, desenvolvimento social e econômico do nosso país.
Este é um momento de reflexão e de reafirmação de compromisso com o modelo de negócio que transcende a lógica puramente econômica.
Para justificar a inclusão e o fortalecimento do cooperativismo nos currículos da educação brasileira, basta olhar para o impacto inegável que o movimento gera em nosso país.
O cooperativismo não é uma atividade periférica; é um pilar estratégico da nossa economia.
Estamos falando de um movimento que hoje engloba mais de 25 milhões de cooperados e que é responsável por milhões de empregos diretos e indiretos, contribuindo com a dignidade e a renda de famílias em todos os estados da Federação.
No agronegócio, por exemplo, as cooperativas respondem por uma parcela expressiva do Produto Interno Bruto e são líderes em tecnologia, produtividade e exportação, garantindo a segurança alimentar do país e a competitividade internacional.
Além disso, o cooperativismo de crédito e de saúde desempenham um papel fundamental na inclusão financeira e na expansão do acesso à saúde em regiões remotas.
E também podemos citar outros ramos que estão em rápida expansão, como energia, transporte e, mais recentemente, o setor de seguros.
O impacto do cooperativismo se traduz em desenvolvimento regional, retenção de riqueza nas comunidades e um modelo de negócios com propósito social intrínseco. Prova disso foi a contribuição das cooperativas para a resiliência necessária em tempos de crise, como a que passamos recentemente durante a pandemia da covid-19.
Se o cooperativismo é tão vital para o Brasil, seu ensino deve ser visto como um diferencial estratégico, e não apenas como uma disciplina optativa.
A formação em cooperativismo, em todos os seus níveis, garante a longevidade e a profissionalização do movimento.
Ao incluir esse tema nos currículos, a educação brasileira cumpre um papel fundamental: formar gestores profissionais, líderes capazes de gerenciar a complexa dupla natureza das cooperativas, que equilibra o aspecto econômico, o resultado, com o social, que é o propósito; difundir valores éticos; promover a formação cidadã baseada nos princípios universais do cooperativismo, como a solidariedade, democracia, equidade e responsabilidade; incentivar o empreendedorismo coletivo; e mostrar às novas gerações que a união de esforços é um caminho poderoso para gerar valor, combater desigualdades e alcançar objetivos comuns.
O ensino do cooperativismo fortalece o movimento e, consequentemente, o nosso país, o Brasil.
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Por fim, ao celebrar os 50 anos de ensino, ressalto o papel inestimável da pesquisa acadêmica brasileira.
Represento aqui o programa de pós-graduação em Gestão de Cooperativas da Pontifícia Universidade Católica, no qual nós temos um mestrado profissional em Gestão em Cooperativas, e é um dos centros que, juntamente com diversas outras instituições do país, trabalha ativamente para produzir conhecimento robusto sobre o tema.
Nossas pesquisas buscam desenvolver modelos de governança, inovação, gestão de riscos mais adequados à realidade cooperativa, aprofundar a compreensão sobre o ambiente regulatório, sistemas de remuneração e a maturidade da gestão nas cooperativas, mensurar o desempenho social e econômico de forma integrada, refletindo a essência desse modelo.
O futuro do cooperativismo depende da capacidade da academia de fornecer as bases técnicas e científicas para sua evolução e sustentabilidade.
Reafirmamos o nosso compromisso em continuar essa jornada de ensino e pesquisa, contribuindo para que o Brasil tenha uma educação mais alinhada com as suas forças econômicas e sociais.
Que esta celebração sirva de impulso para fortalecermos o ensino do cooperativismo em todos os níveis do nosso sistema educacional.
Muito obrigado a todos pela atenção. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Agradeço, Prof. Vilmar Rodrigues Moreira. Importante depoimento e muito realista também.
E eu sempre defendo a ideia de que o Brasil deveria ser uma grande cooperativa, na verdade. Isso ajudaria muito no desenvolvimento do país.
Passo, em seguida, a palavra à Sra. Paola Richter - pronunciei certo?
A SRA. PAOLA RICHTER LONDERO (Fora do microfone.) - Richter.
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Richter.
Richter Londero, Professora e Pesquisadora da Escola Superior do Cooperativismo.
Com a palavra.
A SRA. PAOLA RICHTER LONDERO (Para expor.) - Sr. Senador Flávio, demais aqui presentes junto com a gente, é uma honra estar aqui hoje representando a Escola Superior do Cooperativismo nesta cerimônia.
Faço aqui também uma saudação especial ao Presidente Remy, que representa o Sistema OCB, que idealizou e possibilitou este momento junto com a instituição.
Também parabenizo a Universidade Federal de Viçosa, pelo pioneirismo e por abrir as portas também para as outras instituições.
A Escola Superior do Cooperativismo é uma faculdade vinculada diretamente ao Sistema OCB do Rio Grande do Sul, o Sistema Ocergs, em que nós temos como objetivo atuar diretamente com as cooperativas do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Atendemos a cooperados e colaboradores de cooperativa de forma direta e temos também uma função muito importante, que é fomentar que a educação cooperativista seja pauta nas demais instituições de ensino.
Atuamos hoje em diferentes modalidades e conquistamos, em 2025, o conceito máximo do MEC como instituição, e já tendo também o conceito máximo do MEC, 5, atribuído ao nosso curso de graduação voltado ao cooperativismo.
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No curso de graduação, o nosso foco é justamente esse movimento de inclusão e inserção no cooperativismo. Toda a estrutura curricular dele é montada nos quatro principais eixos de sustentação de uma cooperativa: o eixo identidade, o eixo de gestão, o eixo de governança e o eixo de desempenho. Hoje, todo aluno que tiver até 25 anos é convidado a fazer o curso de graduação completamente gratuito, sem nenhum pagamento. Por que isso? É o nosso incentivo para esse jovem entrar no movimento cooperativista, conhecer o que é o cooperativismo, porque nós sabemos que uma das grandes dificuldades é justamente esse conhecimento sobre o que é uma cooperativa, como funciona o nosso modelo organizacional e os resultados que a gente traz para a comunidade.
Na graduação, hoje, também oferecemos bolsa de 70% para os nossos colaboradores e cooperados de cooperativa acima de 25 anos.
Também atuamos na pós-graduação, com cursos in company, voltados diretamente à necessidade da cooperativa, para sermos mais assertivos nas entregas que fazemos e também para gerar um resultado no desenvolvimento da gestão e governança das cooperativas.
Na parte de extensão, que hoje é a principal atuação da faculdade, nós direcionamos os nossos esforços para atender de forma assertiva e com base nos diagnósticos do Sistema OCB. Contamos hoje com informações precisas sobre como funciona a gestão e governança das cooperativas, a sua identidade, como funciona a questão do ESG, também inovação e negócios. Com base nessas informações, entendemos as necessidades e também nos alinhamos com os desejos das cooperativas, para que a gente possa formular cursos diretamente, para conseguir o crescimento do movimento cooperativista, que é o que nós todos queremos aqui.
Nossa faculdade é voltada para esse alinhamento entre a academia e a prática, dando ênfase, principalmente, a docentes e instrutores que estão lá na ponta, que estão dentro das nossas cooperativas, porque sabemos que temos profissionais que são formados, também mestres e doutores, e que podemos estar juntos disseminando o conhecimento sobre o cooperativismo.
Na pesquisa, trabalhamos com o edital de fomento aos docentes e, com isso, cooptamos como resultado quatro artigos entre os 50 melhores do Encontro Brasileiro do Cooperativismo, o EBPC. Isso nos enche de orgulho, porque a gente tem que incentivar a pesquisa. E talvez esta seja a maior dificuldade aqui - representando todos os pesquisadores que estão com a gente hoje -, que é ter dados para que a gente consiga entregar e realmente contribuir com a prática das cooperativas. Precisamos dessa confiança das cooperativas em entregar suas informações e em que a gente vai ajudar no seu desenvolvimento.
No âmbito da inovação, contamos com uma área de inovação para o fomento direto e financiamento das práticas de inovação nas cooperativas. Através do Edital de Inovação, procuramos incentivar que as cooperativas apresentem projetos para viabilizar a cultura da inovação, também a questão de tecnologia e a melhoria dos processos internos de inovação das cooperativas, sempre pensando em ter o cooperativismo não para cinco, dez ou cinquenta anos, mas para sempre, porque a gente sabe a força do nosso movimento e como ele constrói comunidades maiores.
Ainda também, gente, temos a prática do Conexão com Startups, em que as cooperativas nos apresentam desafios, que nem sempre sabemos como solucionar, e nos conectamos junto às startups para buscar viabilizar entregas mais assertivas.
E também contamos com o Diagnóstico de Inovação. Esse Diagnóstico de Inovação nos permite trabalhar com a maturidade das nossas cooperativas e proporcionar o seu desenvolvimento.
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Aqui, eu saúdo principalmente o Sistema OCB, que tem incentivado e representado não só as cooperativas, mas todas essas instituições de ensino que estão aqui envolvidas, trabalhando para que a gente possa ter o desenvolvimento das nossas cooperativas e, principalmente, através das cooperativas, construir comunidades melhores, que é o nosso grande lema do Ano Internacional das Cooperativas, mas, mais do que isso, é um grande propósito para todos nós.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Parabéns. Muito bem colocado tudo, Professora... Posso chamá-la de professora?
A SRA. PAOLA RICHTER LONDERO (Fora do microfone.) - Claro. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Profa. Paola Richter Londero.
Muito bem. Passo, em seguida, a palavra para a Sra. Kristiane Mattar Accetti...
A SRA. KRISTIANE MATTAR ACCETTI HOLANDA (Fora do microfone.) - Accetti.
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - ... Holanda, Coordenadora-Geral de Engenharias e Tecnologias do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A SRA. KRISTIANE MATTAR ACCETTI HOLANDA (Para expor.) - Boa tarde a todos e todas. Quero saudar aqui o Senador Flávio Arns e, na pessoa dele, estendo a todos os demais membros da mesa, e o público aqui presente, que nos acompanha presencialmente e online.
É uma honra representar o nosso Presidente do CNPq, Ricardo Galvão, aqui nesta audiência pública, na qual celebramos 50 anos de ensino superior em cooperativismo no Brasil.
Vou falar alguns tópicos, vou dividir a minha fala, então, vou falar um pouquinho sobre o crescimento do cooperativismo no Brasil.
Nosso marco de referência é a criação do primeiro curso acadêmico em 1975, já foi falado aqui, na Universidade Federal de Viçosa e, desde então, a trajetória pedagógica acadêmica formou profissionais e pesquisadores essenciais para o desenvolvimento regional e a inclusão socioeconômica do país.
Essa diversificação também não se limitou à Universidade Federal de Viçosa. Atualmente, temos vários cursos de graduação e pós, além de disciplinas em outras áreas, como administração, economia, que consolidam a interface entre a teoria e a prática do cooperativismo.
Segundo um estudo da OCB do Espírito Santo, existem pelo menos 46 graduações e 17 pós-graduações em cooperativismo em todo o Brasil. Esse crescimento econômico se reflete diretamente no setor: o Anuário do Cooperativismo de 2025 reportou mais de 4 mil cooperativas ativas, aproximadamente 25 milhões de cooperados, o que representa 12,4% da população nacional. Os números demonstram o papel fundamental do cooperativismo na economia e na geração de trabalho no Brasil.
Com relação ao CNPq, que eu represento aqui, a gente tem uma parceria entre o CNPq e o Sescoop que vem desde 2017, pela qual a gente vem lançando editais de fomento à pesquisa na área de cooperativismo. Nossa primeira chamada foi em 2018, com um valor de R$2,8 milhões, em que nós apoiamos 41 projetos em linhas de pesquisa, quatro linhas diferentes, na área de cooperativismo, que abordaram impactos econômicos, sociais, competitividade, inovação, governança e cenário jurídico.
Em seguida, a gente teve uma outra chamada, em 2021, final de 2022, com um aporte já de R$4 milhões, do Sescoop também, em que nós financiamos 44 novos projetos.
Atualmente, nós estamos em conversa, entre os parceiros, para o lançamento de uma nova chamada no final deste ano, no máximo, no início do ano que vem.
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Por que investir em educação e pesquisa em cooperativismo? Investir no ensino e na pesquisa em cooperativismo é essencial, por razões pedagógicas, sociais, desenvolvimento. A inclusão do cooperativismo nos currículos promove valores de cooperação, solidariedade, responsabilidade social; e prepara cidadãos para uma economia mais justa e solidária.
Os cursos superiores e técnicos capacitam profissionais para aplicar práticas de governança, transparência e sustentabilidade nas cooperativas. Em regiões onde as cooperativas são fortes, a educação especializada fortalece os arranjos produtivos locais e melhora a qualidade dos serviços.
Projetos de extensão, teses, dissertações se concentram em inovação social, cadeias de valor e sustentabilidade. A pesquisa, por sua vez, cria um ecossistema de inovação, conectando universidade e cooperativa, e tudo isso alimenta o setor com dados concretos, que podem orientar políticas públicas e aprimorar práticas de gestão.
Quais são os nossos desafios? Avançar, porque, apesar dos avanços, ainda temos desafios, como, por exemplo, a desigualdade regional na oferta de cursos de Cooperativismo; falta de integração consistente de conteúdos em cursos como Administração, Economia, Ciências Sociais; necessidade de recursos também para suprir a pesquisa nessa área.
Para superá-los, propomos algumas ações estratégicas, como fortalecer programas de pós-graduação; linhas de pesquisas interdisciplinares; fomentar parcerias entre universidades e cooperativas para projetos de extensão, estágio, pesquisa aplicada; incentivar a pesquisa comparativa com outros países, até para identificar e adaptar modelos de sucesso; e garantir programas de formação continuada para dirigentes cooperativistas, aprimorando também a governança e o compliance.
O investimento público é fundamental. As duas chamadas que eu mencionei aqui, do CNPq com o Sescoop, foram financiadas com recursos financeiros do Sescoop, da OCB, transferidos para o CNPq, que operacionalizou a chamada, o pagamento dos bolsistas, etc., porque nós temos limitações orçamentárias no CNPq, e essas limitações infelizmente restringem o avanço científico, não só para o cooperativismo, mas também para os outros temas que nós financiamos. Então, a gente tem que aproveitar este espaço aqui no Senado para ressaltar a importância do investimento público em pesquisa, em especial, aqui, no caso, em cooperativismo.
O CNPq está à disposição para ser um parceiro ativo e ampliar a pesquisa nesse tema, que é fundamental para o país. Precisamos ampliar a formação de pesquisadores, fortalecer a pesquisa, integrar o setor cooperativo com outros setores e consolidar o potencial transformador do cooperativismo para o desenvolvimento sustentável, a inclusão, a democracia, a economia, etc. O CNPq está pronto para cooperar com todos os parceiros para construirmos essas pontes necessárias.
É sobre isso. Muito obrigada, e fico à disposição. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Muito bem. Agradeço, Kristiane Holanda, representando o CNPq, Coordenadora-Geral de Engenharias e Tecnologias, do Conselho do CNPq.
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Gostaria de ler as perguntas que chegaram, das pessoas que nos acompanham pelos meios de comunicação do Senado, porque o importante e interessante é que esta audiência pública está sendo transmitida para o Brasil, então, mais pessoas vão conhecer o tema que está sendo abordado aqui hoje e a importância desse tema. Ao mesmo tempo, ela vai ser repetida depois, em horários nobres também, o que faz com que haja mais repercussão, porque é uma causa mais do que justa.
Micaely, de Alagoas: "Como lidar com a dificuldade de transmitir valores cooperativos em um mundo cada vez mais competitivo e individualista?".
Thiago, de Santa Catarina: "Quais são os próximos passos para o ensino superior em cooperativismo no Brasil, e haverá inspiração em modelos de países desenvolvidos?".
Bianca, do Paraná: "Como o ensino de cooperativismo ajuda a universidade a unir ciência, empresas e sociedade no combate à fome e à desigualdade?".
Kennedy, do Distrito Federal: "Como orientar a formação para que identidade e pertencimento cooperativista virem práticas de proteção da saúde mental?".
Também comentários agora, não perguntas.
Luís, de São Paulo: "Celebrar 50 anos do ensino superior em cooperativismo é reconhecer uma educação que transforma pessoas e constrói uma sociedade mais justa".
Um outro comentário, de Mardônio, do Ceará: "Inclusão de surdos no ensino cooperativista garante acessibilidade, uso de Libras e respeito à cultura, promovendo colaboração e justiça".
Eu comentava, inclusive, agora há pouco, com a Profa. Paola, que a Apae de Londrina - também eu conheço - instituiu uma cooperativa dentro da Apae, com a participação dos alunos e alunas daquela instituição, e é uma iniciativa muito interessante. E eu perguntava para a Profa. Paola também se havia essa interface com a educação básica. Quer dizer: nós estamos celebrando no ensino superior, mas pensando nas gerações futuras, em como ter o conteúdo na educação básica, para mudar a cabeça das crianças e adolescentes, até na preparação para a inserção numa graduação, pós-graduação, no ensino superior.
A Profa. Paola, inclusive, mencionou que há muitas cooperativas escolares. Isso está bastante relacionado ao tema que foi objeto da pergunta: num mundo que é competitivo, desigual, difícil, como semear valores de cooperação, de solidariedade, de estarmos juntos, de enfrentarmos as necessidades em conjunto? Isso também é importante.
Então, em função disso, eu quero sugerir - não obrigatoriamente, mas a quem fez a exposição também - nós darmos um espaço agora, uns dois ou três minutos, para, se quiserem, fazerem algum comentário em função de tudo que foi falado, para encaminharmos esta audiência pública para sua conclusão. Então, fiquem abertos para... Não sei se...
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(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - A Paola vai começar, então. Está bom.
A SRA. PAOLA RICHTER LONDERO (Para expor.) - Eu explicava para o Senador Flávio que ficariam muito mais fáceis as nossas atividades se a gente tivesse, realmente, esse incentivo nas escolas, para que se conhecessem o cooperativismo e, principalmente, o método de cooperação. A gente entende que esse papel da escola é muito importante para a gente aumentar essa capacidade de disseminação do conhecimento. Por vezes, o que acontece é que a gente recebe um aluno que até já passou por um ensino formal, em cursos de Administração, Contabilidade, Economia, mas que não conhece o nosso modelo de negócio, não conhece o que é uma cooperativa. Então, a gente vê o quanto a gente ainda tem a trabalhar e a construir para que a gente consiga disseminar o nosso modelo cooperativista.
Por isso, é tão importante ter espaços de discussão como o que a gente está tendo aqui para fomentar que as cooperativas, as instituições de ensino e os demais parceiros do ecossistema cooperativista possam ter estratégias como esta de levar esse modelo organizacional, que a gente acredita que contribui muito para a sociedade.
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Mais alguém gostaria...?
Demetrius.
O SR. DEMETRIUS DAVID DA SILVA (Para expor.) - Rapidamente, complementando o que foi mencionado, Senador Flávio Arns, chamou-me a atenção uma das perguntas, a do Thiago, de Santa Catarina, sobre se nós vamos nos inspirar, ou seja, importar modelos praticados em países desenvolvidos. Na realidade, nós já temos provas científicas suficientes que mostram que isso não funciona; nós temos que criar um modelo específico para a nossa realidade.
O cooperativismo pode nos ajudar muito nisso, porque o desafio que nós temos hoje, Senador, não é só na questão do cooperativismo, é na questão do ensino superior público em nosso país. Muitas vezes, nós não nos atentamos para o fato de que os alunos de hoje são totalmente diferentes dos alunos que nós fomos 10, 20, 30, 40 anos atrás e, se nós não mudarmos as práticas didático-pedagógicas, nós vamos perder esse desafio. Já tivemos 8 milhões de inscritos no Enem, tivemos, agora, no ano passado, 4,9 milhões, com 35% de abstenções, ou seja, pouco mais de 3 milhões. Então, hoje, nós temos que voltar a atrair os estudantes. Muitos estudantes, ao terminarem o ensino médio, já não sonham mais em pleitear uma vaga no sistema de ensino superior. O cooperativismo pode nos ajudar muito nisso. E as empresas já perceberam isso. Elas não querem contratar o melhor especialista, elas querem contratar um profissional que saiba trabalhar em cooperação.
Assim, para mim, em particular - eu sou de outra área, eu sou da engenharia, trabalho com recursos hídricos -, foi um aprendizado muito grande aqui hoje contar com a visão de tantos especialistas que atuam na área de cooperativismo. Isso só reforça a importância estratégica de as nossas instituições manterem cada vez mais intensas as atividades, tanto em nível de graduação como de pós-graduação, na área de cooperativismo.
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Agradeço também ao Prof. Demetrius - é uma honra tê-lo aqui -, Reitor da Universidade Federal de Viçosa.
Quero também colocar - até porque a pergunta foi feita sobre olhar em outros países - que eu acho que o sistema cooperativo do Brasil é referência para outros países e não os outros... É claro que a gente tem que aprender com o mundo inteiro, porque cada um tem o seu ponto forte, mas é importante que se diga para a sociedade que o sistema cooperativo brasileiro é referência. Eu conheço muito de perto no Paraná, e eu diria: é ótimo. É claro que sempre tem... Não adianta dizer que está tudo acabado, pronto, pois é um avanço permanente, mas é uma referência, não há dúvida.
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Passo em seguida a palavra ao Remy Gorga Neto, que é representante da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). É uma honra tê-lo aqui também; parabéns pelo trabalho.
O SR. REMY GORGA NETO (Para expor.) - Boa tarde, Senador.
Para a gente é que é importante, uma honra estar aqui também, representando o sistema OCB. Tivemos a oportunidade aqui de já falar um pouquinho, eu que sou egresso do curso de Cooperativismo da Universidade Federal de Viçosa e tenho um pouco a percepção da importância dos profissionais egressos dos cursos de cooperativismo para o desenvolvimento do cooperativismo brasileiro como um todo, da qualificação, do desenvolvimento, da profissionalização e da gestão das nossas cooperativas.
Todas as questões colocadas aqui são muito importantes e desafiadoras. Eu me apego aqui à questão apresentada pela Micaely, lá de Alagoas, com relação à questão de transmitir os valores e a cultura do cooperativismo. Isso realmente é um desafio grande, enorme. O cooperativismo brasileiro tem se desenvolvido e crescido muito, a gente já está aí chegando à casa dos 25 milhões de cooperados nas nossas cooperativas. E fazer com que os cooperados, essa massa de pessoas que faz parte do quadro social das nossas cooperativas, tenham a percepção do que é o cooperativismo, do que é a cooperativa, dos seus valores e seus princípios, da participação, efetivamente, realmente é um grande desafio. E eu acho que a academia tem uma função muito importante para que a gente possa discutir isso de uma forma que venha desde o ensino fundamental até os nossos cursos de mestrado e doutorado, para que a gente possa estar permeando o cooperativismo de uma forma que a sociedade, os nossos jovens tenham a percepção do que é o cooperativismo, do que é esse modelo societário que é diferente, que busca, numa sociedade mais justa, levar o desenvolvimento para todos.
Este ano é um ano importante, o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela ONU pela segunda vez...
(Soa a campainha.)
O SR. REMY GORGA NETO - ... e a gente tem um slogan: "As cooperativas constroem um mundo melhor".
A partir desse momento, a partir desse trabalho com os jovens nas escolas, a gente tem certeza de que a gente pode mudar um pouco essa visão na questão da competitividade, de ser voltada muito mais para a cooperação, de ser mais justa, mais equânime, trazendo uma sociedade mais desenvolvida. Então, acho que é uma grande missão e é um grande desafio para todos nós.
O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - PR) - Obrigado, Dr. Remy Gorga, representando a OCB.
Eu acho que as pessoas... Há mais alguém? Acho que as pessoas que se manifestaram querendo fazer algum comentário final foram ouvidas também.
Eu quero fazer um último comentário meu. Atualmente estou presidindo a Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação e presidi, dois anos atrás, 2023 e 2024, esta Comissão de Educação e Cultura. E quero dizer que lá nós temos ouvido Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Cemaden... Temos ouvido sobre educação digital. E, hoje, tivemos audiência sobre inteligência artificial. E eu tenho insistido com todos que vêm para colocarmos o ponto de vista sobre como levar esse conteúdo todo para a educação básica.
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Se a gente quiser mudar a cabeça e os valores, ter uma sociedade que coopere mais, que valorize o encontro, o diálogo, a busca conjunta de soluções, que é uma cooperativa também - "vamos discutir aqui juntos para ver o que fazer" -, nós temos que mudar a cabeça ou mudar não, mas sensibilizar - nem precisa mudar, porque é criança - a criança. Precisamos sensibilizar e conscientizar a criança, o adolescente na educação básica. Como, por exemplo, o conteúdo do Inpe, aspectos espaciais podem ser traduzidos numa linguagem simples; e, com a cooperativa, a mesma coisa. O mundo se modifica, porque a criança presta atenção. A gente viu isso no exemplo do cigarro: "Pai, pare de fumar, porque, lá na escola, falaram que dá câncer, faz mal para o pulmão, dá tosse", e não sei o que mais e tal. E o pai para de fumar realmente. A criança é a porta da transformação. Então, é esse apelo que a gente faz sempre, porque, no ensino superior, também está sendo ensinado, está se pesquisando, está havendo a extensão, o trabalho com a comunidade e tudo, mas é sensibilizar para que, inclusive, esse jovem, depois, procure o ensino superior. É um desafio. Como o Reitor colocou, o Prof. Demetrius, na realidade, há o desafio de termos alunos que tenham uma formação e que, depois, procurem o ensino superior também, se necessário.
Muito bem. Agradeço novamente a presença de todos e todas que estão aqui presentes. O plenário está bastante numeroso de participantes. Que bom. Sejam sempre bem-vindos, bem-vindas. Agradeço aos expositores e às expositoras a participação também, sempre bem-vindos, estamos à disposição; à Secretaria, que é impecável, da Comissão de Educação e Cultura na organização destes eventos; também à consultoria, que sempre está aqui presente; e aos meios de comunicação do Senado, que fazem com que este debate chegue ao Brasil todo, por diversas vezes, inclusive.
Todo o material, todas as falas ficarão disponíveis aqui na página da Comissão de Educação também, para quem quiser fazer comentários posteriormente, sugestões. Sempre à disposição.
Nesse sentido, a gente agradece a participação geral. Foi um prazer ter estado aqui. Lamento e me desculpo por não ter estado desde o início também, porque é uma área que eu prezo sobremaneira. Como eu disse, estava lá na outra Comissão discutindo créditos de carbono, que também é matéria importante.
Muito bem. Obrigado de novo.
Nada mais havendo a tratar, agradeço a presença, como eu já mencionei, e declaro encerrada a presente reunião.
Obrigado. (Palmas.)
(Iniciada às 14 horas e 40 minutos, a reunião é encerrada às 16 horas e 07 minutos.)