26/11/2014 - 39ª - Comissão de Educação e Cultura, Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informática

Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Declaro aberta a 19ª Reunião Extraordinária da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, em conjunto com a 27ª Reunião Extraordinária da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática da 4ª Sessão Legislativa Ordinária da 54ª Legislatura.
A presente reunião, convocada na forma de audiência pública conjunta, atende ao Requerimento nº 34/2014-CE, de minha autoria e do Exmº Senador Paulo Paim, assim como ao Requerimento nº 24/2014-CCT, de autoria dos Exmºs Srs. Senadores Sérgio Petecão e Zeze Perrella, para a realização da audiência pública destinada a debater “A importância da realização da WorldSkills no Brasil e a contribuição do Sistema S para a educação profissional”.
Dando início à audiência pública, solicito ao nosso Secretário da Comissão, Júlio Linhares, que acompanhe os senhores convidados para tomarem assento à mesa.
Convido os Srs. Simon Bartley, Presidente da WorldSkills, David Hoey, Diretor-Executivo da WorldSkills, Rafael Lucchesi, Diretor-Geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Luciano Toledo, Assessor de Inovação da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (MEC), a Srª Fátima Aparecida Antônio, Diretora da Divisão do Ensino Fundamental e Médio da Secretaria Municipal de Educação do Estado de São Paulo, e o Sr. Rafael Wenderson, medalhista de ouro da WorldSkills.
Sejam todos muito bem-vindos!
Em 17 de novembro de 2013, em audiência pública, contamos com presença do Presidente da CNI, o amigo Dr. Robson Andrade. Naquela oportunidade, nós viemos fazer um relato do que foi a WorldSkills na Alemanha, em Leipzig, e nos comprometemos a fazer esta audiência pública porque, no ano que vem, a WorldSkills será realizada no Brasil.
O evento conhecido como WorldSkills, que é a Olimpíada do Conhecimento, é uma competição de habilidades desenvolvidas na educação técnico-profissional, realizada sob a responsabilidade da Organização Internacional para o Treinamento e Vocação, IVTO em inglês.
A WorldSkills tem periodicidade bienal e reúne jovens de países associados a entidades, às quais só podem se inscrever em uma edição, com uma idade máxima de 22 anos e altamente qualificados em alguma das 45 habilidades consideradas na competição.
A história do Brasil na competição resulta da iniciativa da inserção das entidades do Sistema S. Afinal, foi por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem na Indústria, Senai, que o Brasil associou-se à IVTO, em 1983. Desde então, o País vem participando da WorldSkills, obtendo resultados crescentemente favoráveis, sobretudo nas últimas edições. Mais recentemente, os estudantes do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Senac, começaram a participar do evento em face da relevância assumida pelo setor de serviços da WorldSkills.
O histórico e a evolução recente da educação técnico-profissional no Brasil trazem uma perspectiva alvissareira para a realização da WorldSkills no Brasil em 2015. Espera-se, por exemplo, que se fortaleça a visão da educação profissional e da disponibilidade de pessoal técnico bem treinado como estratégias para a atenção de investimentos externos na área da indústria e de serviços.
A Olimpíada do Conhecimento é uma das ferramentas mais fantásticas que eu já vi para estimular os cursos profissionalizantes e para desenvolver novos talentos. Ela tem uma regra bem rígida, pois o participante deve ter a idade máxima de até 22 anos e só pode participar uma única vez, oportunizando sempre, assim, a reciclagem de um número cada vez maior desses futuros profissionais.
Hoje, com muito prazer, nós temos aqui o Rafael, que foi medalhista de ouro este ano, em Belo Horizonte, na WorldSkills Américas de 2014.
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Iniciando nossos trabalhos, é com muito prazer que revejo Mr. Simon, que recebemos muito calorosamente em Leipzig,numa recepção muito bem organizada, a primeira a que tive oportunidade de assistir e que me impressionou bastante. Se as outras foram boas, essa de Leipzig vai nos dar muito trabalho para superar. Vai dar muito trabalho mesmo, Dr. Lucchesi. Acho que o Sistema está se dedicando, mas nós somos capazes, nós vamos surpreendê-los.
Passo, inicialmente, a palavra para o Simon, para que faça as suas considerações.
O SR. SIMON BARTLEY (Tradução simultânea.) - Sr. Presidente Senador, muito obrigado por seu convite para estar aqui falando nesta reunião hoje.
É uma grande honra voltar hoje ao Parlamento brasileiro para falar, pela manhã, na Câmara dos Deputados e, agora, nesta tarde, aqui, no Senado.
Sinto-me deleitado de ver tantos dos meus colegas à mesa para falar, e, por essa razão, vou tentar limitar o tempo das minhas palavras para que ninguém durma até o momento em que chegarmos à quarta apresentação.
Vai ser certo eu realmente fazer uma homenagem particular para o Rafael, medalhista para o Brasil, medalha de prata na WorldSkills Leipzig 2013, e medalha de ouro na WorldSkills América, em Bogotá, Colômbia, neste ano.
Como sempre digo, jovens como Rafael são não somente o futuro para o país dele, sua região, sua comunidade, mas o Rafael e os competidores, na competição WorldSkills, são o nosso futuro, são os indivíduos que vão fazer com que nosso mundo seja bom para viver nos próximos 50 anos.
Sr. Presidente, eu gostaria de falar um pouco sobre a WorldSkills, falar algumas palavras sobre por que a competição WorldSkills é importante e, finalmente, uma ou duas palavras sobre a WorldSkills em São Paulo, em 2015.
Na tela, você vai ver a missão e o posicionamento da WorldSkills. Eu não vou ler isso para vocês, mas o que eu vou pedir que vocês notem é o fato de que a palavra competição não aparece na nosso visão, na nossa missão e nosso posicionamento.
No entanto, competições é pelo que a WorldSkills é mais conhecida por fazer, e isso é porque, em 1950, Albert-Vidal, na Espanha, quando criou o movimento WorldSkills, pensou que a competição era a melhor forma para transmitir a mensagem, para jovens, pais, professores e legisladores, de que habilidades realmente são importantes em uma economia e em uma comunidade.
Mas o trabalho da WorldSkills é dividido em seis áreas particulares, e essas seis áreas cobrem tudo que nós procuramos fazer na WorldSkills. E, sim, competição está presente no topo, no centro, mas também trabalhamos o desenvolvimento de ideias sobre carreiras. Nós falamos sobre educação, treinamento e capacitação, trabalhamos capacitação e excelência nessa área.
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Uma competição como a de São Paulo, em agosto do ano que vem, dura três dias e meio. Para os próximos 373 dias, haverá cooperação para o desenvolvimento internacional entre países. Os bons países que se saírem bem na competição vão ajudar os países que são menores e mais pobres e que não se saírem tão bem. Então, sim, temos competições, mas também temos muito mais cooperação entre países e delegações.
Nós temos advocacia. Se nós só fazemos coisas secretas na competição, estamos fracassando. Nós precisamos sair em direção ao povo, ao negócio, à educação, para podermos dizer para eles de nossa história e de como obter sucesso. E, finalmente, nós fazemos pesquisa em capacitação e em habilidades vocacionais, em carreiras, para que, novamente, possamos advogar e promover isso para os jovens.
Há 72 países-membros da WorldSkills. Os que são membros estão em amarelo. Ela inclui todos os membros do G20, todas as grandes economias do mundo. Mas há muitos países em vermelho, que ainda não são membros da WorldSkills, muitos dos quais gostariam de dele fazer parte. A minha ambição - e talvez isso se dê não no meu mandato - é que todo esse mapa se torne amarelo, exceto o mar, pois eu gostaria que ele ficasse azul.
A segunda coisa que eu ia dizer era sobre o porquê de as competições funcionarem e serem importantes. Exatamente da mesma forma como ocorre nos Jogos Olímpicos, os competidores competem um contra o outro ou contra si mesmos para comprovar que são os melhores ou que estão entre os melhores, mas também competem para demonstrar habilidade atlética e a saúde do país que eles representam.
Da mesma forma, criamos os marcos da WorldSkills, em que jovens competidores como o Rafael competem para o seu próprio sucesso, mas também para demonstrar as habilidades do Brasil para treinar e desenvolver jovens em habilidades que podem atender aos desafios dos empregadores de hoje e ao mercado de hoje.
As competições funcionam da mesma forma que os Jogos Olímpicos, porque a competição impele a uma busca por melhoria na excelência do indivíduo e da sua comunidade. É por isso que a WorldSkills é mais bem conhecida como competição. Mas ela faz outras coisas. O desejo original de Albert-Vidal era encorajar a uma abertura entre jovens, sim, mas também para seus pais, seus professores, seus educadores e o governo, pois jovens que estão tomando decisões de carreira na idade de 14 anos ou 15 anos são muito guiados pelas opiniões de seus pais, de seus professores e de outros. Nós acreditamos, como também Albert-Vidal acreditou, que precisamos fazer competições abertas, em que as pessoas possam ver que a excelência em habilidades vocacionais leva a uma carreira, leva ao caminho para uma carreira que é válida e importante para seus filhos. A WorldSkills em São Paulo, não tenho a menor dúvida, vai demonstrar isso para muitos pais e professores aqui, no Brasil.
O que as competições proveem para os jovens? Acho que você vai ouvir isso do Rafael. Elas vão inspirar o jovem na competição representando seu país e também sua região, sua cidade, sua faculdade. Vão inspirá-los a aprender e a ser bem-sucedidos nas suas vidas e vai lhes dar muitas ferramentas para usar no futuro. Temos a evidência, através de pesquisas que realizamos, de que elas melhoram as oportunidades para eles se tornarem líderes nas suas disciplinas, nas suas profissões, nas comunidades. Isso é muito importante se nós vamos desenvolver nossos países em nosso mundo no futuro.
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Eu falei que minhas últimas palavras vão ser sobre a competição em São Paulo, no ano que vem.
O que São Paulo fez, o que vocês, aqui, no Parlamento, fizeram foi começar a jornada de advogar a excelência das habilidades vocacionais através da competição. E parte dessa advocacia foi demonstrada ontem, quando foi apresentado ao Parlamento um projeto de lei para o estabelecimento de um dia de habilidades nacional para educação no futuro.
Outro meio para passar a mensagem da WorldSkills de São Paulo 2015 vai ser, através dos Correios, a criação de um selo da WorldSkills para ser usado por todo mundo no Brasil que nunca ouviu falar da WorldSkills e que não vai poder vir para a competição.
A Worldskills International é muito particular sobre quem ela permite que seja a sede de sua competição bienal. Nunca tivemos nenhuma dúvida de que o Brasil, particularmente a cidade de São Paulo, poderia ser sede da competição. Nós sabíamos que o Brasil tinha habilidades.
O que nós realmente vimos desde a oportunidade de ser sede, em 2012, foi um esforço para se fazer um legado no Brasil que constrói um excelente trabalho pelo Senai e pelo Senac, que constroem em cima do trabalho do Parlamento aqui em Brasília e do trabalho da indústria brasileira.
Nós acreditamos que a competição em São Paulo vai encorajar ao desenvolvimento de habilidades dentro das escolas e faculdades e dentro da indústria brasileira, que vai permitir ao Brasil continuar seu impressionante crescimento na economia mundial.
Por essa razão, eu busco o apoio do Senado e, como fiz hoje, pela manhã, da Câmara dos Deputados, da imprensa e da indústria brasileira para refazer a frase "aquele que se ajuda é ajudado por outros."
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Muito obrigado, Mr. Simon, pelas palavras.
Convido, agora, para fazer uso da palavra o Sr. Rafael Lucchesi, Diretor-Geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O SR. RAFAEL LUCCHESI - Muito obrigado, Senador Cyro Miranda, um parceiro da Confederação Nacional da Indústria, uma pessoa que tem uma enorme contribuição na agenda de educação no Brasil, no Senado da República, e que deu a honra de estar presente conosco na WorldSkills, acompanhando a delegação brasileira na WorldSkills em Leipzig.
Nós queremos fazer aqui uma apresentação muito breve, mas que tem como questão-chave falar para a juventude brasileira que o País do futuro se associa a uma visão de educação profissional. Nós precisamos alterar a matriz educacional brasileira, que tem um pequeno contingente de jovens que fazem educação profissional. E ampliar esse número significativamente vai engordar as estatísticas, vai melhorar o nosso sistema econômico, vai melhorar o nosso sistema educacional, vai abrir oportunidades para a juventude ingressar melhor no mercado de trabalho, ter melhor performance para o mercado de trabalho, vai afirmar a cidadania, vai fazer com que as empresas brasileiras sejam mais competitivas nos mercados onde atuam, vai, enfim, assegurar que possamos construir um país com maior capacidade de desenvolvimento, com maior capacidade de gerar oportunidades para os brasileiros. E nós precisamos muito disso.
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Se nós enxergarmos essa lâmina, vamos pegar os indicadores do World Economic Forum de alguns países selecionados, exatamente dos que compõem os BRICS, e vamos ver que nós ocupamos uma posição intermediária entre esses países do BRICS. A China lidera, seguida da Rússia, na 53ª posição, e nós ocupamos a 57ª posição. Se nós olharmos o nosso sistema educacional, veremos que ocupamos a 132ª posição.
O Brasil, participando da WorldSkills, tem conseguido uma performance muito melhor. Ele tem sido representado pelo Senai e pelo Senac. Nós pegamos, na sua maioria, jovens como o Rafael Wenderson, que vem lá de Mossoró, no Rio Grande do Norte, estudante de uma escola pública, jovem de 21 anos, e abrimos um leque de oportunidades que vai dar para o Rafael oportunidades que ele não teve em outras passagens, em outras janelas que se abriram na vida dele. Ele vai ter uma afirmação profissional muito maior, um leque de opções de ingresso no mercado de trabalho muito mais robusto, inclusive podendo prosseguir com seus estudos para, depois de uma formação profissionalizante no ensino médio, fazer um curso de engenharia, uma graduação tecnológica. Essa é uma agenda extremamente importante para o Brasil como país, mas para cada indivíduo, para cada jovem que o Rafael representa aqui na mesa, para ele poder ter a oportunidade de colocar o talento dele a serviço de construir o Brasil, de representar o Brasil nesses fóruns de competição.
Nós fizemos, na Confederação Nacional da Indústria, Senador e Mr. Simon, uma pesquisa com as 500 principais lideranças empresariais a partir da visão de um mapa estratégico onde estabelecemos uma relação de causa e efeito de todos os principais fatores que interferem na competitividade para estabelecer uma visão maior, que é a agenda de competitividade para o Brasil. A ideia é descobrir que caminhos nós precisamos percorrer para chegarmos mais rapidamente a ser um país que tem um ciclo de desenvolvimento mais intenso, mais durável e que possa dobrar a nossa renda média, que é o caminho da prosperidade, do bem estar, da equidade social.
E é claro que - não poderia ser diferente - a base fundamental na sociedade do conhecimento para gerar esse país está exatamente na educação, a educação como um valor universal, como um valor fundamental, a melhoria na qualidade da educação como principal motor de incorporação da cidadania, mas também para a agregação de valor aos indivíduos na construção da sociedade do conhecimento, e a educação profissional removendo todo preconceito que historicamente se construiu neste País em relação à agenda de educação profissional, tendo como claro que a afirmação da cidadania vai muito no ingresso desses indivíduos ao mercado de trabalho.
Cito aqui as palavras do Presidente Lula, um exemplo de mobilidade social com educação profissional, que foi o palestrante magno na WorldSkills, em Leipzig, no Fórum de Líderes. Ele coloca o quão importante foi a educação profissional na transformação da vida dele.
Então, essa é uma agenda extremamente importante, e hoje os empresários têm a clara percepção disso. Nessa pesquisa feita com as 500 lideranças empresariais brasileiras, a educação ficou em um honroso primeiro lugar, reconhecido pela liderança empresarial brasileira como principal fator de competitividade. Temos aqui também uma grata surpresa: a inovação ocupando a 4ª posição, acima de temas como relação do trabalho, ambiente macroeconômico e tamanho do Estado.
Temos muito o que fazer nessa agenda para melhorar a educação no Brasil. Se nós pegarmos uma pesquisa, essa pesquisa aí da McKinsey, veremos que a indústria continua com dificuldade para conseguir trabalhadores qualificados apesar da baixa atividade. Sessenta e cinco por cento das empresas consultadas colocam que nós temos problemas com a falta do trabalhador qualificado. Na verdade, essa pesquisa é nossa, da CNI, mas há outra pesquisa, da McKinsey, que vai na mesma direção. E 49% das empresas encontram dificuldade de qualificar os seus profissionais exatamente pela falta de qualificação em educação básica, pelas deficiências que nós temos na qualidade da educação e também na área de educação profissional.
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Então, nós temos problemas de baixa qualificação do trabalhador como principal entrave dos aumentos de ganhos de produtividade para o Brasil. E essa é uma agenda central. Toda a transformação da manufatura a que estamos assistindo no mundo, como ondas, no século XX, dos países industriais ocidentais e o recente ingresso dos países da Orla do Pacífico fizeram uma verdadeira revolução industrial no Sudeste Asiático vêm exatamente da incorporação de uma agenda de educação de massa para a sociedade brasileira. A sociedade brasileira criou esse consenso. E, quando se cria esse consenso, criamos os canais necessários para a afirmação. A decisão de alocar 10% do PIB para a educação, de alocar os royalties do petróleo na agenda da educação é uma afirmação que a sociedade faz do ponto de vista de uma compreensão madura de que, para a sociedade do conhecimento, é importante afirmar na alocação de recursos, mas também na capacitação docente, na melhor gestão dessa escola e que escola é importante para essa agenda de competitividade global.
E nós temos problemas. Em 1980, um trabalhador brasileiro tinha 30% da produtividade de um trabalhador norte-americano. Hoje, nós temos 20%. Ou seja, precisamos de cinco trabalhadores brasileiros para equivaler à produtividade de um trabalhador norte-americano; precisamos de quatro trabalhadores brasileiros para equivaler à produtividade de um trabalhador alemão; ou de três brasileiros para equivaler à produtividade de um trabalhador sul-coreano. E essa é uma enorme deficiência que nós temos na nossa produtividade do trabalho, que é um indicador síntese. Vários indicadores concorrem com esse, mas o indicador fundamental de longo prazo em produtividade do trabalho é um só: educação. É a capacidade que você tem de aprender e levar para o chão de fábrica esse conhecimento, seja educação básica, que é compreensão da língua e da matemática para raciocínios abstratos, seja o domínio também de educação profissional, e essa é a agenda em que nós precisamos avançar muito.
Hoje, há 13 milhões de analfabetos no Brasil. E a nossa população que atinge o ensino superior e médio é bem inferior à média dos países ricos, dos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Eles têm 75% do estoque populacional que atingiu o ensino médio. Se nós pegarmos o G20, que é um subgrupo dos países em desenvolvimento, temos 60%. E, no Brasil, ainda patinamos com 43%. No ensino superior, na OCDE, temos 32%; no G20, 26%; e nós ainda estamos com o número de 12%, um índice muito semelhante ao do nosso contingente populacional de 30 anos atrás. Então, em 30 anos, avançamos pouco do ponto de vista de formação superior na sociedade brasileira, e precisamos avançar nisso.
No Brasil, enfrentamos esse desafio para atender a demanda projetada de trabalhadores. Por uma pesquisa que fizemos no Senai, que é o Mapa do Trabalho Industrial, nós estávamos duplicando a nossa matriz de produção em educação profissional, saltando de 2 milhões para 4 milhões de vagas. É um dos maiores sistemas de educação profissional existente no mundo. Queríamos saber exatamente onde abriríamos novas escolas, que atividades deveríamos atacar, e fizemos o Mapa do Trabalho Industrial. E sabemos, hoje, que temos que treinar e capacitar 7,2 milhões de trabalhadores, sendo 6,1 milhões em requalificação, porque a indústria se moderniza, investe e incorpora novos padrões, e 1,1 milhão de pessoas que vão ter, pela primeira vez, a carteira assinada no emprego industrial e precisam ter as competências requeridas para trabalhar.
Então, precisamos avançar nisso. O Pronatec não é uma quimera. O Pronatec é um programa do Governo Federal, o Senai é um parceiro, mas não é uma quimera. Ele concorre com uma agenda importante de sustentabilidade do desenvolvimento de uma agenda de competitividade para o Brasil e mobiliza todos os atores. A grande engrenagem, inclusive com o apoio desta Casa, do Congresso Nacional, que eu enxergo no Pronatec como um grande programa formulado pelo governo passado e que já sinaliza para a ação futura, com um compromisso direto da Presidente da República, a Presidente Dilma Rousseff, é uma agenda de que isso se atrela a uma agenda de desenvolvimento econômico nacional de competitividade, ao tempo em que abre uma porta importante para a firmação de política para a juventude, para a equidade social. É, claramente, uma agenda de um programa social 2.0. É muito além do Bolsa Família; é ensinar a pescar, numa agenda de desenvolvimento sustentável para o Brasil.
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E nós precisamos avançar. Antes do Pronatec, 6% dos jovens no País faziam educação profissional junto com a educação regular, jovens de 15 a 19 anos. Como é nos outros países? A média da OCDE é acima de 40%. Na Áustria é 76%; na Finlândia é 69%; na Alemanha, 51%. Em nenhum desses países, a média de jovens que fazem educação superior é inferior à brasileira; ao contrário, é duas vezes e meia, três vezes a média brasileira. Não há uma oposição entre a educação profissional e a formação superior. Essa é uma visão preconceituosa com que nós temos que acabar no Brasil. Ao contrário, isso vai dar maior visão, inclusive, para os jovens de seguirem a sua carreira futura fazendo um curso de engenharia ou uma graduação tecnológica, que é o segundo problema que nós temos na nossa matriz educacional.
Se nós temos um pequeno contingente de jovens que fazem educação profissional junto com a educação regular, quando nós cotejamos isso com os demais países no mundo, nós temos um segundo problema: de cada 100 graduados no Brasil, apenas 5 são engenheiros. Na Coreia do Sul, são 25; no Japão, são mais de 20; na China, somando engenharia com ciências duras, são 36 de cada 100. Ou seja, esses países estão construindo muito mais uma plataforma futura de manufatura do que o Brasil. Nós precisamos ampliar, como o Governo tem feito, na agenda de educação profissional, como é o caso do Pronatec. Nós avançaremos, com isso, uma agenda de valorização da educação profissional, avançaremos inclusive na lógica de mercado de trabalho.
Um jovem que chega hoje ao mercado de trabalho apenas com o ensino regular tem poucas opções no mercado de trabalho. E, se nós pegarmos os indicadores de qualidade da educação brasileira, em que 90% dos jovens concluem o terceiro ano de ensino médio, 90% não aprenderam adequadamente matemática e 70% não aprendeu adequadamente língua portuguesa. O jovem vai para o mercado de trabalho sem nenhum ofício e com uma baixa compreensão de educação regular, ou seja, com enorme dificuldade de ingressar no mercado de trabalho.
Se nós pegarmos as 21 ocupações hoje mais demandadas pela indústria, esse jovem chega ao mercado de trabalho com um salário inicial de em torno de R$2 mil e, com dez anos de profissão, esse salário se aproxima a R$5,6 mil por mês. Ou seja, é um salário, em um percurso profissional, maior que grande parte das formações de ensino superior.
Nós temos que mudar, no Brasil, uma enorme engrenagem de exclusão social, porque, nos nove anos de ensino fundamental, nos três anos de ensino médio, na grade curricular, não há uma hora de educação profissional. Toda a grade curricular é pensada como se todos os jovens fossem para a universidade. Isto nunca aconteceu no Brasil. No Brasil, nunca houve tantos jovens que fossem para a universidade: 17%. Mais de 80% não vão para a universidade. Na minha geração, era 90%. Então, mais de 80% dos jovens não vão para a universidade, e o sistema educacional não dá nenhuma régua e compasso para esse jovem ingressar no mercado de trabalho de forma mais eficiente, para si, como projeto individual, e para o País, para construir maior produtividade e riqueza no País.
Essa é a realidade que nós temos que mudar, instrumentalizando melhor oportunidades para a juventude e criando, com isso, uma agenda nessa direção.
O que a CNI, a Confederação Nacional da Indústria, e o Senai têm feito?
Primeiro, nós somos grandes parceiros desse espetacular programa de cidadania, desenvolvimento e competitividade que é o Pronatec. O Senai é o maior parceiro na execução do Pronatec. Dizer isto dá uma enorme satisfação pela importância afirmativa desse programa. Nós estamos fechando este ano com 4 milhões de matrículas, cumprindo o compromisso que nós estabelecemos com o MEC. Saímos de 2 milhões de matrículas, em 2010, para 4 milhões de matrículas, em 2014. Estamos cumprindo isso. E dá mais satisfação ainda quando você vê que 80% das pessoas que nós formamos conseguem colocação no mercado de trabalho no seu primeiro ano.
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Hoje, boa parte das pessoas que fazem o Pronatec vem dos programas sociais, indicados pelo MDS, o que é extremamente importante. São pessoas que não tiveram o amparo, o apoio do Estado no sistema educacional, nas oportunidades sociais, e têm, agora, a educação profissional como forma de inserção social.
Então, o Senai atende hoje, no Brasil, pessoas em três Municípios. Nós temos 800 escolas, mas, pelo raio de influência de cada escola, atendemos em três Municípios, até porque temos mais de 400 unidades móveis, navios-escola, temos várias empresas brasileiras, como a Weg, a maior empresa de motores elétricos do mundo, que fica em Jaraguá do Sul, que tem uma escola do Senai desde a sua fundação, como a Volkswagen, desde a sua criação, que tem uma escola do Senai dentro da fábrica, o que é extremamente importante para essa puxada e para essa pegada tecnológica.
Já falei bastante do Pronatec aqui. Acho que isso é uma agenda de democratização do acesso à cidadania. Como o nosso representante do MEC vai falar depois, não vou falar por ele, mas quero aqui dizer da nossa parceria extremamente importante, da satisfação do setor empresarial e do Senai em sermos parceiros nesse importante programa para o Brasil. Acho que isso é importante na melhoria da qualidade dos nossos profissionais e é um incentivo ao emprego, ao crescimento econômico e ao empreendedorismo. Quinze por cento dos alunos do Senai empreendem, vão montar pequenos negócios, necessários às cadeias de valor mais complexas, que têm na estrutura de serviço algo importante. Então, isso é algo também que é importante para o País.
Nós executamos, desde o início do Pronatec, 47% das matrículas. São mais de 400 cursos oferecidos e mais de 3.800 unidades remotas em todo o País atendendo o Pronatec.
Com relação à nossa preparação para a WorldSkills, o time brasileiro, os melhores times, os nossos melhores atletas para a WorldSkills, há um processo de seleção que começa na escola. O instrutor do Rafael enxerga nele talento, competência, o atitudinal necessário - não conversei com ele, mas, certamente, foi isso que aconteceu -, conversa com ele e o estimula, faz um programa específico. Então, a seletiva ocorre na escola ou no Estado, dependendo da massa crítica do Estado. No Rio Grande do Sul provavelmente tenha sido estadual, ma, em Estados de maior complexidade industrial ele ocorre na escola, como em São Paulo, no Rio, em Minas. Então, ele faz uma seletiva na escola, no Estado, e, depois, vai participar da competição nacional. Ou seja, ele já é um vencedor por toda essa formação que tem, por toda essa distinção, por todas essas competência acumuladas. E aí nós selecionamos os nossos melhores, vamos treiná-los intensivamente até a WorldSkills - todos os países fazem isso -, e aí nós vamos buscar as competências.
A nossa meta é ambiciosa. Nós temos participado da WorldSkills e ocupamos, na última competição, a 5ª posição, mas a nossa meta para 2015, no Brasil, é sermos top one. E não há vida fácil. Não é porque a gente vai realizar que os outros países vão dar moleza. Todo mundo quer o pódio, todo mundo quer o lugar mais alto no pódio. Os chineses vêm fortes, os coreanos são tidos como imbatíveis, e nós estamos fazendo o nosso dever de casa com humildade, mas querendo chegar lá.
Nós fizemos a Olimpíada do Conhecimento, a maior competição já realizada nas Américas. Foi de 3 a 6 de setembro, em Belo Horizonte, na Expominas. Visitaram mais de 300 mil jovens. Por que o Senai faz esse esforço grande na Olimpíada do Conhecimento? É para criar oportunidade para pessoas como o Rafael, mas também é, sobretudo, para quem ainda não abriu a porta da educação profissional. Nós fazemos isso muito mais para usar o Rafael como testemunha, para centenas de jovens como ele, do quanto foi importante a educação profissional para transformar a vida dele. O Rafael dá seu depoimento para centenas de pessoas que são jovens como ele, mas não tiveram a oportunidade da educação profissional em suas vidas.
Então, é isso que a gente faz quando pensa em fazer a Olimpíada do Conhecimento: levar a juventude para lá, impactar a sociedade mais fortemente para que um número maior de jovens tenha o acesso ao que acontece na WorldSkills, para que eles possam, com isso, se animar e mudar a sua vida futura, a sua escolha futura, procurando, a partir do Pronatec, possibilidades de ingressar na carreira de educação profissional, transformando as suas vidas. Essa é a nossa ideia.
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Houve mais de 300 mil visitantes, com 6 mil pessoas credenciadas, 724 competidores, 636 pessoas da equipe técnica e 58 ocupações. Todos os departamentos regionais do Senai participaram, e um grande número de departamentos regionais do Senac participou. Houve uma grande novidade muito importante que está na nossa discussão de legado com o MEC: os Institutos Federais participaram. Esse é um caminho sem volta.
No Brasil, a WorldSkills reúne países. O Senai tem representado, nesses últimos vinte e tantos anos, o Brasil, mas nós queremos que essa seja uma agenda de Estado, uma agenda de sociedade, que envolva todos, que envolva os Institutos Federais, que envolva o Senai, que envolva o Senac. Essa é uma agenda do País, como a educação profissional e o Pronatec são uma agenda do País. Essa é uma agenda de Estado, de sociedade, de construção do Brasil do futuro.
São mais de 10 mil pessoas envolvidas na organização, com 6 mil empregados e 4,5 mil terceirizados, e o voluntariado. Inclusive, pegamos toda a tecnologia, todo o know-how com a WorldSkills e vamos estimular isso agora para 2015.
São sete dias para a competição, mas todo o período de montagem envolve quase um mês. Enfim, há um conjunto grande de números aqui, e eu não vou cansá-los com eles.
De dois em dois anos, realiza-se esse grande momento. A Worldskills é o grande momento da juventude aliada ao trabalho, do talento aliado ao trabalho. Ele mede essas competências entre jovens do mundo inteiro e sinaliza esta bandeira para a juventude: a importância da educação profissional no mundo naquele conjunto de funções que o nosso Simon tão bem apresentou aqui para nós.
Estivemos presentes em diversas dessas olimpíadas: nas últimas, em 2007, em Shizuoka, no Japão; em 2009, em Calgary, no Canadá; em 2011, em Londres, que foi o Simon que organizou; em Leipzig, agora, onde ocupamos a quinta colocação, com 41 competidores e 12 medalhas. Foi a nossa melhor performance. Nós começamos com um total de 15 pontos no Canadá e chegamos aqui, agora, em Leipzig, com 52 pontos.
Essa é a ideia do que houve lá. Como eu falei aqui, em Leipzig, o Lula foi o grande speaker do Fórum de Líderes. Vamos ter outros fóruns de líderes. Inclusive, Senador Cyro Miranda, a ideia é ter a presença de quase todos os Ministros de Educação de todos os países que compõem a WorldSkills, que é uma organização que vem se firmando cada vez mais na agenda do mundo. São 70 países. Estão todos sendo convidados. Vai haver um fórum específico para isso, para exatamente fortalecer a agenda de educação profissional no mundo. Aliás, essa é uma agenda que, se nós olharmos as white papers, ou seja, a agenda de políticas públicas nos países, se olharmos os países da OCDE, os países em desenvolvimento, o que a Índia está fazendo, o que a China está fazendo, o que os países da Orla Asiática estão fazendo, se olharmos mesmo os países desenvolvidos, o que eles têm rediscutido, o que os Estados Unidos rediscutem hoje a importância da retomada dos communities colleges, as escolas profissionalizantes, lá, veremos que é uma agenda mundial, global extremamente importante.
Em São Paulo, nós vamos discutir essa agenda. Nós temos toda uma agenda para articulação dessas olimpíadas, com forte envolvimento do Governo Federal, do Governo Estadual e da Prefeitura Municipal de São Paulo. Estão todos os três níveis de poder envolvidos na organização do nosso evento.
Os principais marcos de realização desse evento são esses, mas o fundamental é que nós vamos estar aqui estruturando a nossa Worldskills. Houve, em Londres, a WorldSkill e houve a assembleia em maio, quando foi aprovada, por aclamação, a nossa candidatura. Em 2014, houve a assembleia geral dentro da WorldSkills. Em fevereiro agora, nós vamos ter uma grande reunião de preparação e estruturação para a realização, em agosto, da WorldSkills aqui, no Brasil, em São Paulo.
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Serão 1,2 mil jovens competidores de, aproximadamente, 60 países-membros, dos 70 que compõem a WorldSkills. Acho que isso é extremamente importante. Será a primeira vez que a WorldSkills estará na América Latina e a segunda vez que ela estará no Hemisfério Sul. Será a maior de todas as competições, pelo número de competidores, pela área necessária de competição, e nós esperamos que ela seja a mais bem organizada, com o maior impacto. Estamos nos empenhando nisso, com o staff da WorldSkills, para que possamos avançar nessa direção.
Foram 46 ocupações em Leipizig - aqui serão 50 -, serão 1.312 competidores de, aproximadamente, 60 países e mais de 200 mil visitantes estarão no Anhembi. Dois milhões de pessoas serão atingidas digitalmente. A ideia é a de que uma pessoa que esteja em Xapuri, no Acre, no interior de Alagoas, no Rio Grande do Norte ou no Rio Grande do Sul possa fazer um passeio virtual e ser tocada pela educação profissional. Isso é importante.
Esperamos esse número de voluntários. A ocupação será de todo o espaço do Anhembi, inclusive do Sambódromo. Temos uma equipe interna importante.
Então, queremos obter legados, além dos visitantes, para que possamos discutir - e isto está sendo liderado pelo MEC - toda uma agenda pública ligada à educação profissional. Um governo que lidera o Pronatec, certamente, tem compromisso com esse programa, que, certamente, vai mudar a lógica do sistema educacional.
No dia 11 de agosto será a abertura. Esperamos lá o Senador Cyro Miranda e uma delegação forte do Congresso brasileiro, comprometido com essa agenda de cidadania, de educação. Do dia 12 ao dia 15 de agosto será a competição e no dia dia 16 de agosto será o encerramento.
Sejam todos bem-vindos à WorldSkills, que será realizada em São Paulo, em agosto de 2015.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Obrigado, Lucchesi, por sua explanação, que é bem abrangente.
Isso é compreensível. Quanto à WorldSkills, eu fiz, uma vez, um comentário com vocês da CNI de que o que faltava era divulgação. Muito pouca gente no Brasil a conhece. Não sei como é o resultado fora do Brasil, mas aqui ele é muito pequeno. Acho que cabe a esta Casa ajudar nessa divulgação.
Quero agradecer a presença do nobre colega Antonio Carlos Valadares, que também é coparticipante desta audiência pública que estamos fazendo, através da sua Comissão, de Desenvolvimento Regional e Turismo, e que também subscreveu o seu compromisso de que hoje estar aqui. Juntos, estamos realizando esta audiência.
Pois não, Senador.
O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE) - Falo com a permissão de V. Exª, uma vez que agora tenho uma reunião com a Bancada de Sergipe, da qual sou coordenador. Tenho de cuidar das emendas ao Orçamento da União, mas, antes, fiz questão de passar aqui para cumprimentar todos os presentes, os participantes desta Mesa, e para enaltecer o trabalho que a WorldSkills tem feito no mundo inteiro.
No próximo ano, seremos brindados com uma reunião de caráter internacional na cidade de São Paulo e, certamente, estaremos presentes para prestigiar, mais uma vez, esse acontecimento, que vai, sem dúvida alguma, dar uma contribuição enorme não só para melhorarmos as relações entre o Brasil e as diversas nações que tenham o ensino profissional como uma alavanca para o seu desenvolvimento, como também para aprendermos mais com as nações da Europa, da Ásia e da América sobre o que fazem seus países para a melhoria da qualidade de vida e para a sustentabilidade do emprego.
Quero dar o meu testemunho: em Leipzig, quando lá estive presente, no ano antepassado, eu pude ver que, realmente, o que falou o Dr. Rafael, da CNI, é uma verdade. Para a Áustria, para os países da Europa que não são o centro mundial da economia, o ensino profissionalizante é importante, como ocorre na França, na Alemanha. países como os da Europa, que não são o centro mundial da economia, mas para eles o ensino profissionalizante é importante, como na França, na Alemanha. Vimos também países da Ásia e tantos outros países do mundo inteiro utilizando-se, para o desenvolvimento de suas nações, dessa ferramenta indispensável que é o ensino profissionalizante. E aqui, no Brasil, os esforços que têm sido dispendidos pelo Sistema S têm que ser reconhecidos.
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Logicamente, o Governo Federal, com o ensino técnico, que avançou nesses últimos anos, tem dado a sua contribuição, mas, ainda em relação ao histórico que tem sido feito ao longo dos anos, a CNI, o Sesc, o Senac e todas as instituições modelares que imprimem ao ensino técnico e à aprendizagem profissional uma importância, sem dúvida alguma, têm que ser enaltecidos por todos nós.
Quero dizer que o Brasil é uma Nação ainda em pleno desenvolvimento e que a utilização do ensino profissionalizante, da educação profissionalizante é mais do que necessária, imprescindível, haja vista que, agora, com o aproveitamento do pré-sal, daquilo que for industrializado no nosso País, nós poderemos ter, no Fundo do Pré-Sal, 75% direcionados para a educação. Isso significa, sem dúvida alguma, uma possibilidade não só de apoio a esse sistema, que já vem sendo implementado pelo Sistema S, como também aos próprios programas do Governo voltados para o ensino profissionalizante.
De modo que eu queria enaltecer V. Exª, Presidente Cyro Miranda, pela iniciativa de promover este debate e dar boas-vindas a todos aqueles que vieram de outros lugares, de outras instâncias para contribuir com sua presença, sua orientação e sua experiência para o desenvolvimento do sistema profissionalizante em nosso País.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Eu que agradeço, Senador Antonio Carlos Valadares, sempre atento e presente a tudo aquilo que se refere à educação.
Eu gostaria também de informar que esta audiência tem a cobertura da TV Senado, da Agência Senado, do Jornal do Senado, da Rádio Senado e ainda pela internet, em www.senado.gov.br/tv-canal2.
Com muito prazer, concedo a palavra ao Sr. David Hoey, Diretor-Executivo da WorldSkills, para o seu pronunciamento.
O SR. DAVID HOEY (Tradução simultânea.) - O objetivo de sediar essa competição é promover a importância das tecnologias e profissões para o resultado econômico do País.
No Brasil, como em muitos outros países do mundo, parece haver muita ênfase nos jovens para ir para a faculdade, em vez de reconhecer que as tecnologias e habilidades de capacitação são uma excelente opção de carreira. Também reconhecer na comunidade a importância do papel desses elementos é interessante porque o Brasil vai sediar as Olimpíadas em 2016.
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E eu faço a todos uma pergunta muito simples: você pode nomear um único esporte ou qualquer coisa associada com os Jogos Olímpicos que pode ser entregue no Rio que não vá requerer pessoas capacitadas, sejam os esportes, as bolas, os campos, a comida que eles comem, o transporte para os atletas?
Nós tendemos a perder a perspectiva do que realmente impele uma economia, e são os jovens se envolvendo em tecnologias. Também somos o maior laboratório do mundo trazendo setenta países e territórios e te dá a habilidade de aprender um com o outro e trazer de volta os melhores desses sistemas e implementá-los em seu próprio sistema para te dar uma vantagem competitiva.
E para encorajar os jovens em idade escolar - ouvimos muito isto -, os jovens se motivam mais com falsidades, músicas e filmes do que reconhecendo que, se eles trabalharem duro, eles podem ter excelentes carreiras. Eu uso...
O Rafael é o mais jovem aqui na mesa. Você vai ouvir a história dele daqui a pouco, mas ele ganhou medalha de prata em Leipzig. E eu te faço uma pergunta muito simples: em um mundo que é baseado em competência, onde você produz estudantes que fazem o mínimo necessário, você gostaria de trabalhar num prédio que foi desenhado por um aluno que está fazendo o mínimo necessário ou por alguém que se comprometeu a ser o melhor do mundo? E se você é uma indústria brasileira e está vendendo a si mesma contra o resto do mundo, são trabalhadores assim que te dão uma qualidade de mão de obra que você pode vender ou você está entregando o mesmo produto que todo mundo no mundo? Essa é a diferença quando você usa competições e habilidades para aumentar o desempenho. Se você tem competidores assim, eles se tornam o futuro de que o seu país pode depender.
O Rafael mencionou os diferentes setores, e temos 50 diferentes competições de habilidades em todos os setores comerciais, industriais e sociais do mundo. Eu quero mencionar a experiência da visita, porque uma das coisas que você deve focar é em chamar os jovens, os pais, os educadores e os funcionários públicos para essa competição. A experiência é aprender e entender o que são as carreiras de amanhã.
A pior pessoa para dar conselho de carreira são os pais, porque suas percepções são baseadas na educação deles ou na sua experiência no mercado de trabalho. O evento em São Paulo vai ser o maior mostruário das habilidades do futuro. As empresas podem mostrar às indústrias do que elas vão precisar, e é disso que os jovens precisam para fazer uma decisão de carreira. Como um vilarejo de habilidades globais e um dos aspectos... Esse é um mercado onde as empresas, os sistemas educacionais e governos do mundo podem interagir um com o outro e compartilhar as melhores experiências e práticas. Isso se torna uma área aberta onde cada empresa, cada pessoa associada com política, governo, educação, pode interagir com colegas em volta do mundo.
Programas de conferências. O Ministério da Educação vai convidar Ministros da Educação do mundo todo. Nós temos parcerias com grandes organizações internacionais, como a OCDE, a Unesco-Unevoc e muitos outros organismos internacionais, que vão se juntar. Nós não queremos que seja apenas mais outro "papeado", mas queremos inspirar o mundo através do poder das habilidades e juntar as pessoas para criar soluções e melhores práticas do que as que estão acontecendo. Então, de novo, se torna uma excelente oportunidade de network para o Brasil.
Experimente uma habilidade. Esse é um conceito que queremos que as pessoas interajam e tentem dar uma olhada nas diferentes profissões e tecnologias disponíveis. O melhor jeito para interessar os jovens é dar uma experiência prática, de pintura, de decoração. Eles podem, por exemplo, pintando algo, entender do que se trata. Pessoas da indústria estarão lá para conversar, e eles poderão aprender mais sobre isso e conseguir conselhos de carreira sólidos e precisos para o futuro.
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Então, essa interatividade é importante. Não basta olhar os concorrentes fazerem o seu trabalho, mas é preciso criar um ambiente como o maior museu interativo de ciência, tecnologia, engenharia e matemática do mundo, coisas que podem atrair os jovens e de que o Brasil precisa para atingir as metas do futuro.
Um programa interessante é "Uma Escola, Um País", que introduzimos no Japão em 2007, que permite que membros do WorldSkills do mundo todo façam parceria com uma escola em São Paulo e que essa escola aprenda algo sobre outro país. Também vão aprender sobre diferentes coisas que vão aparecer em competições do WorldSkills. E quando as equipes vierem a São Paulo, elas visitarão essa escola e farão algumas trocas culturais com o Brasil. Essa é uma forma excelente de fazer com que os jovens aprendam mais sobre o mundo. Esse programa vai ser ser realizado aqui em São Paulo.
Tecnologia no seu smartphone. Estamos desenvolvendo a informação para que ela não seja apenas sobre o que acontece na competição nos quatro dias, mas para que pessoas de todas as idades possam baixar essas informações e aprender sobre as diferentes tecnologias, habilidades e profissões disponíveis.
Quantas indústrias vocês conhecem que vão enaltecer o Brasil nos próximos dez a vinte anos? As empresas que estão procurando essa mão de obra podem interagir, através desse aplicativo, e os jovens podem ter essa informação, que, depois da competição, ainda continuará lá. Então, o uso da tecnologia é parte essencial da nossa estratégia.
WorldSkills Connect. O que descobrimos é que vamos trazer três mil pessoas do mundo todo para a competição. Fora isso - usamos Leipzig e Londres como exemplo -, vamos receber entre 7 mil e 13 mil pessoas do mundo todo, que virão para a competição, o que será uma excelente oportunidade para você fazer network e se conectar a várias indústrias, seja política, operações, etc. Então, o aspecto do network na competição no Brasil estará no mostruário e você vai poder fazer network com pessoas do mundo todo e se conectar com elas.
A última peça é que eu acho que o WorldSkills São Paulo 2015 é só o começo. Não é um destino. Sim, é um evento que será realizado no ano que vem, para o qual o mundo virá para São Paulo e você vai poder demonstrar muitas coisas que fazem o Brasil grande, mas, ao mesmo tempo, usem isso como o começo do futuro em termos de ir além da competição e de criar um legado para os jovens brasileiros, para as empresas brasileiras.
Esses são alguns comentários meus, Sr. Presidente, a respeito da competição. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Muitíssimo obrigado, Sr. David.
Em seguida, passo a palavra ao Sr. Luciano Toledo, Assessor de Inovação da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC.
O SR. LUCIANO TOLEDO - Eu gostaria de cumprimentar o Senador Cyro Miranda, Presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, e o Srs. Simon Bartley e David Hoey, Presidente e Diretor Executivo da WorldSkills, a quem agradeço pelo apoio que têm dado à realização desse grande evento no Brasil, gostaria de cumprimentar o Dr. Rafael Lucchesi, incansável líder do Senai, que é o maior parceiro do Pronatec, representando aqui a CNI, Diretor de Educação Profissional e Tecnologia da CNI, e o nosso estudante competidor Rafael Wenderson, parabenizando-o pelo desempenho nas competições de que participou.
O recado que venho dar é, em primeiro lugar, um abraço e o suporte do Ministro Henrique Paim à realização da WorldSkills no Brasil. Ele colocou toda a estrutura do Ministério da Educação à disposição para que nós déssemos o apoio institucional necessário à realização desse grande evento, em reconhecimento à sua importância para a educação profissional, especialmente na gestão do Ministro Paim, e ainda como Secretário Executivo, como um dos principais responsáveis pelo maior programa de educação profissional da história do nosso País, que é o Pronatec, um programa que responde a um clamor da população por educação profissional e que traz uma grande inovação em sua concepção de estruturação, que é a articulação das demandas reais da sociedade com as principais redes ofertantes de educação profissional já existentes no País.
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E, seguramente, destaca-se aqui o apoio que o Senai tem dado à execução do Pronatec. E eu trago aqui, mais uma vez, o reconhecimento do nosso Ministério, principalmente do Secretário Aléssio Trindade, de Educação Profissional e Tecnológica, e o agradecimento do Governo ao Senai por isso.
O Pronatec é um programa que iniciou em 2011, no finalzinho de 2011 - ele praticamente começou a operar a partir de novembro, final de outubro, início de novembro de 2011 - e conseguiu, nesse período de quatro anos, igualar o número de matrículas na educação profissional ao número de estudantes da educação superior. Era uma defasagem muito forte. Eram 7,5 milhões de pessoas matriculadas na educação superior e pouco mais de 1,5 milhão, 2 milhões de pessoas matriculadas na educação profissional. E hoje nós ficamos muito felizes e orgulhosos de anunciar que nós qualificamos, matriculamos mais de 8 milhões de pessoas na educação profissional nesse período.
A parceria do Senai para a execução dessa ação é essencial. E aproveito para fazer uma ressalva pessoal: sou professor do instituto federal e tenho um reconhecimento profundo pelo desempenho do Senai na educação profissional. Eu falo isto porque a maior parte dos gestores da Secretaria de Educação Profissional do MEC é como eu, professores dos institutos federais, e tem o mesmo entendimento que eu tenho em relação à importância do Senai no contexto da educação profissional brasileira.
Então, eu trago aqui um pouco a estruturação do Pronatec para aqueles que não o conhecem. É um programa que reúne as principais iniciativas preexistentes de educação profissional no Brasil, que é a expansão da rede federal. Foram feitas, nesse período, 208 novas escolas técnicas vinculadas aos institutos federais de educação, ciência e tecnologia. Somando aí com o desempenho já existente no período do governo Lula, nós construímos, em torno de 10 anos, 422 novas escolas técnicas no Brasil.
Para vocês terem uma ideia, de 1909 até 2005 nós tínhamos 140 escolas. Ou seja, nós praticamente quadruplicamos o número de escolas técnicas federais neste País com o Programa de Expansão da Rede Federal, que é uma das iniciativas do Pronatec.
No Brasil Profissionalizado, o Governo Federal disponibilizou recursos para construção, reforma e ampliação das escolas das redes estaduais de educação profissional e tecnológica. Além disso, o Brasil Profissionalizado financiou a qualificação de professores de formação continuada, dos professores da educação profissional, das redes estaduais, que se fortaleceram também durante o Pronatec.
Com o acordo de gratuidade, nós tivemos um aumento da disponibilidade de matrículas gratuitas para a população na educação profissional. Isto é essencial num país que demanda tanto a formação profissional e em que a população mais carente tem a oportunidade de, enfim, ter acesso a uma escola do nível do Senai. Isto é extremamente importante. E, sem que haja prejuízo para a operação da instituição, nós conseguimos alcançar todas as metas do acordo de gratuidade para o Senai, o Senac, o Senat e o Senar.
A bolsa-formação é a grande inovação do Pronatec. É uma ação nova, uma ação que permite o casamento da demanda com a formação profissional em todas as áreas mais prementes de gestão do próprio Governo Federal. São 15 ministérios envolvidos, as secretarias estaduais de educação e algumas secretarias estaduais de ciência e tecnologia são demandantes do programa, e as melhores redes de educação profissional do País atendem à necessidade dessas instituições demandantes com a oferta de cursos - podem ter certeza - de qualidade, em sua maioria ofertados com instalações exemplares e que têm alcançado o objetivo de não só formar um número de trabalhadores qualificados, mas também formados com qualidade.
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E o programa de educação técnica a distância, que é o Redetec Brasil, aumentou muito o número de polos e o número de matrículas nesse período.
Então, o Pronatec, na verdade, é um programa que reúne todas essas iniciativas.
Nós temos aí o desempenho dos 8 milhões de matrículas ao longo desses quatro anos. Vejam que é um esforço muito grande e que, em boa medida, as matrículas respondem a cursos de formação inicial e continuada, mas nós também não podemos nos esquecer de destacar a importância da formação em cursos técnicos de nível médio. São cursos de duração um pouco mais longa e que dão uma qualificação um pouco mais aprofundada, apesar de o período ser maior para a formação do trabalhador, para atender à demanda do mercado.
O conjunto de metas e desempenho das matrículas do Pronatec está destacado no quadro. O que importa é que nós conseguimos alcançar a meta em todas as iniciativas e conseguimos estabelecer um novo padrão para a educação profissional no Brasil nesse período do primeiro mandato em que a Presidenta Dilma esteve à frente do País.
Em termos de rede ofertante, aqui fica muito clara a importância do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial: 47% do conjunto das matrículas do Pronatec, em todas as iniciativas, dizem respeito ao esforço do Senai.
Então, o Ministério da Educação, Rafael, tem grande gratidão ao Senai pela parceria, porque nós sabemos que essa qualificação é feita com muita qualidade.
Além disso, é importante destacar também o desempenho das outras redes. O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial teve um desempenho fabuloso, com 37% das matrículas. A rede federal vem logo em seguida, com 9%, o Senat vem com 3%, as redes estaduais, com 2%, e o Senar, com 2%. Isso constitui o conjunto de matrículas nos cursos de formação inicial e continuada, que são muito importantes para a indústria, para o desempenho da indústria, haja vista que eles dão uma resposta muito mais rápida, o que permite uma inserção profissional muito mais rápida para atender à demanda de um setor produtivo que é tão carente de mão de obra qualificada, como acontece no Brasil.
Em relação aos cursos técnicos, a rede federal, por seu desempenho tradicional, apresenta um número maior de matrículas: 31%. Em seguida, temos o Senac e o Senai, depois as escolas estaduais, que também têm grande tradição, as instituições de ensino superior privado, que começaram a ofertar matrículas no programa a partir do Sisutec, que é a analogia ao Sisu para a educação profissional, e também as escolas técnicas privadas.
Então, vejam que há uma grande articulação entre todas as redes ofertantes de educação profissional, com parâmetro de qualidade fixado com régua alta, que permite não só, mais uma vez, atender à expectativa numérica, como à qualidade dessa formação profissional.
Eu acho que aqui o que cabe é destacar o desempenho do Senai no acordo de gratuidade. Vejam que o número de matrículas é realmente impressionante. Para além daquilo que se pode ver como desempenho na nova iniciativa do Pronatec, que é a bolsa-formação, o Senai deu uma resposta fabulosa também naquilo que está pactuado entre o Governo e a instituição em termos de oferta gratuita para a população mais carente em suas instituições.
Então, fica marcado aqui o agradecimento do Senai pelo esforço que é feito no acordo de gratuidade, que já é um esforço inerente à condição da instituição, mas também e principalmente pelo esforço excepcional vinculado à bolsa-formação, que está aqui.
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Eu pretendo acelerar a apresentação para não ser enfadonho, mas é importante destacar que houve, por meio de discussões com todas as redes ofertantes e instituições demandantes, um aprimoramento da lógica de pactuação de vagas no programa ao longo desses quatro anos. Seguramente, a contribuição do Senai foi marcante nesse processo e nos permitiu operar. Hoje, eu diria para vocês que nós temos uma tecnologia de localização, de identificação e de acesso aos cursos de educação profissional que foi desenvolvida no sistema de pactuação do Pronatec que é digna de respeito e que é uma política perfeitamente possível de ser exportada, principalmente para os países em desenvolvimento, o que, seguramente, traria grande êxito no alcance das metas da educação profissional de todos esses países também.
A lógica das matrículas se dá por meio da interação entre instituições demandantes e ofertantes. Os principais demandantes são os ministérios e as secretarias estaduais de educação e os principais ofertantes são as instituições que eu já mencionei: a rede federal, as redes estaduais, o Sistema S.
Aqui houve um erro no gráfico, mas estão marcadas aqui as principais instituições que operam por lado dos demandantes.
É importante destacar que a parceria do MEC com o Ministério do Trabalho é essencial nesse processo, porque, anteriormente, antes do Pronatec, a inserção profissional se dava numa lógica muito isolada do Ministério do Trabalho. Com o Pronatec, não só se permitiu que a identificação da demanda e a matrícula das pessoas nos cursos se dessem de uma maneira mais efetiva, mas, principalmente, que houvesse, a partir dessa parceira com o MTE, a estruturação de uma lógica de inserção profissional muito mais eficiente, por meio da conexão do Portal Brasil Mais Emprego com o sistema de matrículas do Pronatec, que identifica imediatamente em que local e em que área de formação houve formação profissional, houve profissional sendo qualificado, para que, uma vez cruzadas as bases de dados, os empregadores pudessem ter acesso a um profissional qualificado de uma maneira mais eficiente e fácil, para que pudesse haver, efetivamente, o aproveitamento do esforço de qualificação.
É importante destacar o esforço do Sisutec, uma iniciativa análoga ao Sisu que permite que instituições privadas, além das demais instituições do País ofertantes de educação profissional, operem cursos técnicos - aqui, nesse caso, apenas cursos técnicos - no âmbito do Pronatec.
É garantida a qualidade dos cursos, uma vez que as instituições privadas que ingressam nesse sistema necessitam ser habilitadas pelo Ministério da Educação. Àquelas que não tinham cursos técnicos tradicionalmente só é permitida a oferta de cursos técnicos em áreas análogas às em que elas têm cursos superiores bem avaliados pelo MEC. Por exemplo, uma instituição privada que tenha o curso de Engenharia Civil só poderia ofertar cursos técnicos análogos à formação na área de Engenharia Civil, mas isto desde que também o curso de Engenharia Civil dela seja bem avaliado pelo Ministério da Educação. Isso garante qualidade e permite a mobilização da infraestrutura laboratorial e a mobilização da inteligência do corpo docente na ampliação do número de vagas também na educação profissional.
Em 2013, foram 266 mil vagas; em 2014, no primeiro semestre, foram 296 mil; agora, no segundo semestre, nós já contamos com quase 300 mil matrículas em cursos técnicos.
Vale ressaltar: essa é uma matrícula excedente e compete principalmente à entrada de novas redes de educação profissional no País.
Por fim, mais informações sobre o Pronatec podem ser obtidas a partir do próprio site do Pronatec, pronatec.mec.gov.br, do sistema de business intelligence do Ministério da Educação, que é o bisistec.mec.gov.br, diretamente pelo Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (Sistec), cujo site é sistec.mec.gov.br, e pelo site do Sisutec, que é o Sistema de Seleção Unificada de Cursos Técnicos.
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Nós gostaríamos de enfatizar a importância do WorldSkills, como o David Hoey citou, num período em que o Brasil passa a concentrar atenções no mundo inteiro pelo fato de estar muito próximo de sediar, no Rio de Janeiro, as Olimpíadas, que são, seguramente, o maior evento esportivo do mundo. Nós temos, antes da execução das Olimpíadas, a resposta análoga da educação profissional e da política pública de educação profissional no Brasil com o apoio da WorldSkills na realização desse grande evento em São Paulo no ano que vem. Nós temos a convicção de que o desempenho do País está ligado a mostrar que o nosso Brasil é um País que tem grandes respostas para dar para o mundo não só no esporte como também na indústria e, principalmente, no nosso caso, na educação.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Muito obrigado, Sr. Luciano, e parabéns pela eficácia e parceria, no Pronatec, entre MEC e CNI, pois 47% das inscrições estão com a CNI.
Concedo a palavra, com muito prazer, à Fátima Aparecida Antônio, Diretora da Divisão de Ensino Fundamental e Médio da Secretaria Municipal de Educação do Estado de São Paulo.
Seja bem-vinda!
A SRª FÁTIMA APARECIDA ANTÔNIO - Boa tarde a todos e a todas!
Queria agradecer muito o convite para estar hoje aqui nesta audiência pública.
Senador Cyro Miranda, muito obrigada. Na pessoa do Senador, cumprimento os demais membros da Mesa, em especial o Rafael, com o qual eu tive oportunidade, hoje, de conviver um pouco mais, de conhecer um pouco mais a sua história, e saio absolutamente convencida de que ele é um vencedor, ele e todos aqueles que estiveram por perto contribuindo, colaborando para que hoje ele estivesse onde está.
Parabéns!
Venho aqui representando a Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo, especialmente o Prefeito Fernando Haddad, o nosso Secretário de Educação, Cesar Callegari, e o nosso Diretor de Currículo, Prof. Fernando José de Almeida.
A Secretaria de Educação, desde agosto deste ano, vem formulando, em conjunto com a equipe do Senai, a possibilidade de participação das nossas escolas de ensino fundamental nesse evento em agosto de 2015. Então, desde agosto deste ano, ou seja, um ano antes, nós estamos dialogando para construir, em conjunto com as nossas escolas, a possibilidade não só de que serem anfitriãs das delegações estrangeiras, mas também de aproveitarem muito a experiência, o legado, o testemunho desses jovens que vêm de vários países do mundo para contar um pouco a experiência no ensino profissionalizante, no ensino técnico, e os desafios que são colocados para esses estudantes, especialmente na WorldSkills.
Quero falar um pouquinho da educação municipal na cidade de São Paulo. Nós somos uma rede bastante grande, bastante complexa, portanto, com todos os problemas que toda a rede grande neste País tem na educação básica. Como o Rafael Lucchesi bem colocou, nós estamos num caminho bastante propositivo. Nós temos uma agenda na educação, hoje, no País, extremamente afirmativa, mas temos um caminho muito longo a percorrer, especialmente na educação básica. A nossa rede tem 940 mil alunos. Ela atende desde a educação infantil, a creche, a pré-escola, até o ensino médio. Temos apenas oito escolas do ensino médio, que foram criadas na década de 1990. Não sendo competência dos Municípios ter o ensino médio, elas não foram ampliadas, mas elas foram mantidas até hoje. Inclusive, no final da apresentação, vou colocar que algumas delas mantêm também o curso técnico profissionalizante.
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Então, nós temos 940 mil alunos, 84 mil educadores, 2.700 escolas em toda a educação básica. (Pausa.)
Qual a importância de a rede municipal de ensino poder participar desse evento fundamental? Eu estava pensando aqui que o Brasil ganhou uma grande oportunidade e São Paulo ganhou um grande presente. Para o País, a oportunidade de sediar essa competição e uma oportunidade e um presente para São Paulo por poder receber tantas delegações de estudantes estrangeiros, com uma experiência no ensino profissionalizante, desafiador, resolvendo problemas, trazendo seus projetos, sendo desafiados, e os nossos alunos podendo participar desse momento será uma coisa extremamente importante para os nossos alunos, para os nossos professores e para a nossa cidade, com certeza, que também está se preparando para receber tão grande e importante evento em agosto de 2015.
Na verdade, a Rede Municipal de Ensino de São Paulo está participando do Programa Uma Escola, Um País, criado pelo Senai, que vai fazer um intercâmbio de fato entre os alunos do final do ensino fundamental da rede municipal e os alunos competidores de diferentes países.
Eu falei, hoje, pela manhã, que a competição, ou essa possibilidade de haver o contato com alunos do ensino técnico de vários países do mundo com os nossos alunos, vem num momento extremamente ímpar e importante para a nossa rede municipal.
Desde que assumimos o Governo, em 2013, pensando em, de fato, construir a possibilidade de melhorar a qualidade social da educação básica, com todos os índices e números que todos aqui sabem que temos, números tristes, difíceis, de aluno chegando ao final do ensino fundamental com pouca aquisição da leitura, com muita dificuldade na resolução de problemas de todas as ordens... Então, começamos, em 2013, propondo uma ampla reorganização curricular na cidade de São Paulo para as nossa escolas. Uma reorganização curricular que está muito focada nos nove anos do ensino fundamental.
A primeira grande novidade - não é uma novidade, mas vocês vão ver, mais adiante, que a gente trás algumas novidades - é que nós tínhamos dois ciclos e estamos dividindo, então, o ensino fundamental agora em três ciclos. O primeiro ciclo, o ciclo de alfabetização, que vai até o 3º ano, do 1º ao 3º ano, o 2º ciclo, que a gente chama de ciclo interdisciplinar, vai do 4º ao 6º ano, e o último ciclo do ensino fundamental, o ciclo autoral, vai do 7º ao 9º ano. Na verdade, o nome interdisciplinar e o nome autoral não estão colocados aí por acaso. Há uma grande intencionalidade, um grande propósito nisso.
Nós estamos convencidos, enquanto educadores, especialmente na rede municipal, porque debatemos fortemente essa reorganização curricular com os nossos educadores, com os pais, com os alunos, com as universidades na cidade, fizemos diversas audiências pública, e estamos convencidos de que há necessidade de uma mudança estrutural profunda. Que mudança? Uma mudança que torne o currículo mais significativo para os nossos alunos, um currículo que se aproxime mais dos anseios e das necessidades desses meninos e meninas que hoje estão nas escolas públicas deste País.
Ou seja, não dá mais para a gente achar que o professor é o detentor do saber absoluto e que a participação do aluno fica relegada ao último plano. Nós estamos virando isso ao contrário. Nós estamos dando uma enorme importância ao protagonismo do aluno dentro do ensino fundamental.
Trabalhar com a questão interdisciplinar, por intermédio de projeto, valorizar a autoria e o protagonismo dos alunos são dois aspectos fundamentais dessa reorganização curricular, embora trabalhar com projetos interdisciplinares e com a autoria não se restrinja apenas aos dois últimos ciclos.
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Nós, em São Paulo, temos uma educação infantil que é exemplo para o País, inclusive, que prepara a criança respeitando o mundo em que ela vive, respeitando sua infância. A gente em, por exemplo, um projeto muito importante, o São Paulo Carinhoso, pelo qual a gente está trabalhando com diferentes secretarias para olhar essa infância na cidade de São Paulo. Quer dizer, a gente vem trabalhando com projetos interdisciplinares desde sua infância e acreditando que a criança também é autora.
Se nós acreditamos nisso, esse investimento, então, vem acontecendo desde a educação infantil. Mas, especialmente a partir do 4º ano, quando entramos no ciclo interdisciplinar, será dada mais ênfase ao trabalho com projetos nos quais os alunos são protagonistas e os professores são mediadores. Esta é a grande dificuldade nessa reorganização curricular: o professor sai um pouco desse lugar de detentor do saber, daquele que transmite, para aquele que medeia, aquele que estimula, aquele que problematiza, aquele que é sensível a todo conhecimento que o aluno tem e já traz para aguçar a curiosidade, observar e ser sensível às reais necessidades do aluno. Então, essa é a grande mudança que a gente está procurando fazer na cidade de São Paulo.
Nós estamos completando o primeiro ano de implantação. Portanto, a gente tem uma longa jornada pela frente e os desafios são imensos. E trabalhar com projeto significa muito isso. Os alunos estão sendo expostos a fomentar o seu trabalho em equipe a partir de projetos interdisciplinares, em que diferentes áreas se unem para responder a uma questão, a um problema, e os alunos são estimulados a trazerem as questões, a trazerem os problemas.
Isso não quer dizer que a gente vai ficar numa discussão apenas do problema que vem. É possível - e aí a mediação do professor é importante - que, desse problema, alargue-se para outros conhecimentos do mundo que estão produzidos, para toda uma cultura produzida, que é importante e que é um direito do aluno também saber.
Eu queria destacar que o trabalho com projetos vem numa vertente bastante importante para trazer à luz o protagonismo do aluno.
No último ciclo, o ciclo autoral, a gente vai culminar com os alunos trabalhando em equipe. A partir do 7º ano eles começam a elaborar um trabalho colaborativo de autoria, ou seja, um trabalho autoral, partindo de um problema que eles querem responder, de algo que os incomoda no território onde vivem, na cidade onde vivem, de uma curiosidade para descobrir ou entender melhor algum assunto. Eles, desde o 7º ano, mediados por professores orientadores que eles escolhem, diante da situação que eles escolhem para resolver, buscam um trabalho de autoria, com pesquisa, com produção.
Esse trabalho é concluído no 9º ano e tem um cunho importantíssimo, que é o da intervenção social. Ou seja, que problema eu pretendo resolver? Que problema incomoda a mim, jovem de 12, de 13, de 14 anos, onde eu vivo e que eu quero responder? O que eu preciso conhecer mais? O que eu gostaria de conhecer?
Então, esse trabalho no ciclo autoral termina com o ensino fundamental dando ênfase a essa autoria do aluno, mediada pelos professores orientadores.
O ciclo autoral, além de estimular à autoria, também quer propiciar ao aluno mais acesso às tecnologias de informação, de comunicação. Portanto, são os alunos do ciclo autoral que vão participar da WorldSkills.
Vejam a grande sacada de colocar os alunos do final do ensino fundamental, que estão vivendo esse processo em suas escolas e, portanto, buscando resolução de problemas, sendo autores de projetos, em contato com vários alunos competidores que vão trazer também proposições, resoluções de problemas para a sociedade, para a vida, para o mundo.
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Obviamente, a gente tem absoluta certeza de que esse evento pode e vai despertar nos nossos alunos um interesse muito grande para que eles busquem também, a partir de outras áreas de estudo, o ensino profissionalizante. Não temos dúvida nenhuma disso. Então, estamos oportunizando aos nossos alunos, acho que a WorldSkills vai oportunizar aos alunos do ciclo autoral ter informações sobre ensino técnico profissionalizante.
E aqui eu queria dar um destaque: mais importante do que eu, Secretaria de Educação, eu, Governo, dizer para o aluno que o ensino técnico é importante, que ele precisa fazer o ensino técnico, que é uma mão de obra necessária hoje para o País, para o desenvolvimento do País, muito mais importante do que isso é o Rafael dizer para eles quantas portas foram abertas para ele como cidadão, como profissional quando ele fez a opção de participar de uma competição como essa ou quando ele fez a opção por estar no ensino técnico, por cursar o ensino técnico. Então, a gente vislumbra que, entre eles, entre os jovens, da forma como eles conseguirem se comunicar, e a comunicação entre os jovens é interplanetária, nós percebemos...
Muito recentemente - só um parêntese -, a gente recebeu uma delegação de alunos de Osaka no Estado de São Paulo e ficamos extremamente preocupados. Eles foram visitar algumas das nossas escolas, e nós, adultos, tivemos dificuldade de compreendê-los. Quando a gente olhou, havia um grupo de alunos nossos se comunicando perfeitamente, fazendo - como é que chama? -, postando já coisas no Facebook, à maneira deles.
Então, a gente acredita que nós vamos ter uma oportunidade muito grande de ter, a partir da vivência, da experiência e do testemunho desses alunos, uma comunicação mais eficiente para os nossos jovens também.
Repito: mais importante do que a Fátima ir lá e falar para os seus alunos do ciclo autoral, do final do ensino fundamental, sobre a importância de poder fazer a escolha de cursar o ensino profissionalizante é ele ver outro jovem atuando e ver as possibilidades.
Além disso, não temos dúvida nenhuma, é importante a vivência intercultural, trazer a cultura de outros países e também a possibilidade de outros países conhecerem um pouquinho da nossa cultura, daquilo de que os nossos jovens gostam, curtem, enfim. As nossas escolas estão se preparando para isso, está constando do projeto político-pedagógico das escolas que serão anfitriãs estudar o país que vai visitá-la, conhecer um pouco mais a sua cultura, a sua economia, enfim, aquilo que é importante. Então, o intercâmbio será, assim, fantástico e fundamental.
Aliás, eu estava brincando hoje com o pessoal do Senai e dizendo que eu agora estou achando pouco. Eu queria mais alunos podendo participar desse intercâmbio. A gente tem toda uma complexidade para organizar, e, quando a gente olha de perto a grande possibilidade e oportunidade que isso é, eu gostaria que mais alunos da rede pública municipal de São Paulo pudesse fazer parte dessa experiência, que será, sem dúvida nenhuma, importantíssima.
E, para finalizar, eu queria dizer que a rede municipal não tem uma vocação específica no ensino profissionalizante, mas ela, ao longo dos últimos anos, vem tecendo algumas parcerias importantes para também oportunizar o ensino técnico, o ensino profissionalizante, de forma tímida. Mas eu acredito que agora, especialmente com o Pronatec, que a gente está, em São Paulo, batendo para conseguir concretizar o Pronatec pela rede pública municipal, especialmente para os nossos jovens da educação de jovens e adultos, acho que a gente vai dar um salto importante.
O que nós temos hoje é uma grande parceria com o Senac e as escolas do Centro Paula Souza, estaduais. Nós atendemos mais de 5600 jovens e adultos que não são alunos da rede pública municipal, mas que moram em torno do CEU, o Centro Educacional Unificado, que é uma grande marca, um grande diferencial de educação que a gente tem em São Paulo. A gente tem 45 CEUs. O CEU é um centro integrado de educação que atende desde a educação infantil até o final do ensino fundamental, mas também promove a educação do ponto de vista integral, pensando na cultura, nas oportunidades de cultura, de esporte que temos dentro dos CEUs. As comunidades do entorno do CEU são beneficiadas por esses cursos, os cursos que são oferecidos pelo Senac e pela Etec. Nós temos apenas oito escolas de ensino médio, mas em duas delas permanece.
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Nós tínhamos em todas o Ensino Técnico, nas oito. Aí, por problemas de professor, pela dificuldade de encontrar professores, esses cursos foram tendo problemas. Hoje, temos, em duas escolas, a oferta de ensino técnico: modulagem, magistério, marketing, contabilidade e prótese dentária.
Temos uma escola de saúde pública, a Escola Técnica de Saúde Pública, que é muito interessante. Ela atende 1.300 alunos e tem uma fila de espera de 2.600. Esse dado nos dá uma ideia de como o ensino técnico profissionalizante, em diversas áreas, é bastante procurado. Acho que a gente precisa articular todos os demandantes de cursos para potencializar isso, porque procura a gente tem. Essa Escola Técnica de Saúde Pública Professor Makiguti está na Zona Leste de São Paulo. Ela surgiu no momento em que havia um plano, de 2001 a 2004, de desenvolvimento econômico para a Zona Leste. Portanto, ela vem para atender à demanda de mão de obra que foi colocada naquele momento na Zona Leste e permanece até hoje. Ela tem uma grande procura.
O Pronatec, que em São Paulo... Na prefeitura de São Paulo, a gente tem a Fundação Paulistana, que está trabalhando com a implantação do Pronatec, tentando implantar o Pronatec nas oito escolas de ensino médio. Estamos com algumas dificuldades. Onde está o rapaz do Pronatec? Eu falei que, depois, ia conversar com ele em particular. Já foi embora? Falei para as meninas que iria conversar com ele um pouquinho.
A gente tem também cursos FIC, que a gente está formulando do ano passado para cá, tentando buscar também oferecer Pronatec, cursos FIC para os jovens.
Nós temos a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas nossas escolas de ensino municipal em São Paulo. Portanto, esse é o público na educação, no ensino municipal, para a oferta de cursos FIC e Pronatec.
Para terminar de verdade, qual é a agenda da Secretaria Municipal de Educação com a WorldSkills? Primeiro, no dia 3 de fevereiro, um aluno de cada escola anfitriã mais um adulto, que pode ser o pai, pode ser um professor, vai fazer parte desse primeiro momento de preparação, dessa grande reunião onde os representantes das delegações vão estar, em São Paulo. No dia 4, o Prefeito, Fernando Haddad, tem a previsão de receber essas delegações. No dia 11 de agosto, as nossas escolas, efetivamente, vão receber as delegações; eles já escolheram os países, como Irã, Estados Unidos, Emirados Árabes, Brasil - escolheram o Brasil, vejam que coisa interessante. Depois, os nossos alunos vão poder participar de uma visita monitorada durante a realização da WorldSkills, no Anhambi.
Eu quero acreditar, tenho 34 anos de magistério, que estamos, realmente, num momento extremamente importante no País. Já foi dito nesta Mesa que a gente não pode perder a dimensão deste momento, que precisamos, sim, unir esforços. A quantidade de ações, projetos e programas que vem se construindo, vem se disponibilizando, vem se consolidando só acontecerá de fato e de verdade se todos estivermos juntos, potencializarmos as nossas ações, mas em conjunto.
Muito obrigada pela oportunidade. Espero encontrá-los todos em São Paulo em agosto do próximo ano. Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Agradeço à Fátima Aparecida pela sua exposição.
Para encerrarmos o nosso ciclo, a palavra do nosso medalhista de ouro da WorldSkills, Rafael Wenderson.
O SR. RAFAEL WENDERSON - Boa tarde a todos. Primeiramente, sabemos que as horas passam, prometo ser um pouco rápido nas minhas palavras.
Vou falar um pouco, basicamente, sobre a minha trajetória na ocupação de solda como competidor. Nesses três anos de treinamento por que passei, abri mão de muitas coisas em prol dessa minha qualificação. Vou falar um pouco sobre a minha trajetória e sobre todas as etapas das quais participei.
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A primeira etapa foi em 2012, a etapa estadual, que se realizou em Mossoró, no Rio Grande do Norte, na qual eu fui o primeiro lugar. A partir daí, garanti o meu passaporte para a etapa nacional, que aconteceu em São Paulo, em outubro de 2012, onde consegui o primeiro lugar. No mesmo evento, também, fui eleito o melhor competidor do Estado do Rio Grande do Norte, que é uma premiação feita ao melhor de cada Estado.
Logo após, passei por várias seletivas, etapas de índice, etapas de desempate, pois há um índice em cada ocupação. Se eu não atingir essa nota, corro o risco de não ir para o evento. Embora eu tenha sido campeão nacional, se eu não conseguir atingir essa nota, eu corro o risco de ser cortado da delegação brasileira.
Eu participei, em 2013, da WorldSkills International, que aconteceu em Leipzig, Alemanha, na qual eu fui medalha de prata entre 36 países. Então, eu não considero isso pouca coisa. Fiquei atrás apenas da Coreia. Então, entre 36 países eu ser medalha de prata, considero-me já um campeão, um vencedor.
Logo após, eu não esperava o convite para participar da WorldSkills Americas. Até então eu pensei que a minha jornada tinha acabado como competidor. Mas aí eu recebi o convite para participar em Bogotá, Colômbia, e voltei a me preparar. Eu já estava trabalhando no Senai, já estava ministrando cursos, treinamentos, tive que abrir mão do trabalho. Isso tudo foi acordado entre a direção da escola e o departamento regional. Abri mão do meu salário, abri mão do meu trabalho, para voltar novamente a ser competidor.
Eu me preparei em torno de quatro meses para participar da etapa americana, que aconteceu em Bogotá, na qual eu concorri contra outros 11 países. Fui o primeiro lugar. Fui também o melhor competidor da delegação brasileira, The Best of Nation. E também recebi o Prêmio Albert Vidal, que é este troféu aqui, por ter alcançado o melhor desempenho de toda a competição. Então, eu me preparei bastante para esse evento e não tinha certeza de que iria ganhar. Mas eu tinha convicção de que, se eu fizesse o meu trabalho benfeito, eu teria grandes chances. Foi uma coisa que eu combinei com o meu professor no primeiro dia de competição. Ele disse: "Rafael, eu não quero você apenas campeão na sua modalidade, eu quero você o melhor da delegação brasileira e quero também você o melhor de todo o evento". E eu disse: está certo, vou fazer o possível para acontecer isso. E graças a Deus aconteceu, recebi todos esses prêmios.
Durante essa trajetória, recebi várias oportunidades de emprego. Eu tive o prazer de conversar com a nossa amiga no horário de almoço e falei um pouco sobre a minha trajetória e sobre as coisas que eu deixei um pouco de lado para participar desse evento.
Eu tenho algumas imagens aqui para mostrar para vocês, que eu considero melhor do que palavras para mim.
Aqui é minha equipe de professores até a etapa nacional. O do lado esquerdo é meu irmão. Ele foi competidor, assim como eu, e também representou o Brasil na WorldSkills, em Shizuoka, Japão, em 2007. Então, ele foi a minha maior influência para poder entrar no Senai.
Eu entrei no Senai através de um curso técnico em mecânica, que eu ainda não concluí, porque, com um ano de curso, eu já tive que trancar o curso para me dedicar apenas ao treinamento da WorldSkills, no início da etapa estadual, no princípio.
O meu treinamento era de manhã, de tarde e de noite, nos finais de semana, sábado e domingo, feriado, não tinha dia de folga. Só no domingo, depois de meio-dia, é que eu tinha folga. Na segunda, eu voltava aos meus treinamentos. Isso foi durante três anos. Durante esse período, eu abri mão de família, abri mão de amigos, abri mão de festas, de dinheiro. Porque antes eu já tinha recebido várias propostas de emprego, mas não quis em nenhuma empresa onde eu estagiava. Tudo em prol desse evento, dessa competição, pois eu sabia que se eu conseguisse um bom resultado eu seria uma pessoa diferenciada no mercado de trabalho.
O da direita também foi aluno do meu irmão. Ele também participou da WorldSkills que aconteceu em Londres, em 2011. No caso, nós três somos da mesma escola, da mesma cidade, e trabalhamos juntos na nossa unidade, o Centro de Educação e Tecnologias Ítalo Bologna, que se encontra em Mossoró, Rio Grande do Norte.
Nas últimas edições, três competidores foram para a etapa mundial. Somos nós aí, da mesma escola. Isso prova que não é cor, não é classe social, não é sotaque que vai provar quem você vai ser realmente na vida. O que prova é a sua dedicação e a sua confiança de correr atrás. E, tendo a certeza, se você correr atrás, você vai conseguir tudo que você quiser na vida.
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Até então, isso era apenas um sonho para mim, pois eu via os competidores, via tudo aquilo ali montado para eles e eu pensava comigo mesmo: um dia eu vou estar aí, eu vou querer isso para mim também. Então, eles foram o meu maior gás para poder participar da competição e acordar todos os dias às 6 horas da manhã para ir para o Senai motivado. Eles foram a minha maior inspiração, fora o orgulho da minha família, porque todo mundo só falava nele, no meu irmão. Ele viajava, chegava, todo mundo só falava nele. Aí, eu pensei: é, está certo! E, graças a Deus, não desmerecendo ele, eu fui até além, que é o que ele queria. Ele falava: "Rafael, não quero que você vá só até aonde eu fui não, quero que você vá além". Isso prova que realmente nós somos bons no que nós fazemos. Eu ouvia toda aquela bajulação da família com ele e eu falava que queria também aquilo. E, hoje, somos nós dois, e meu irmão de quinze anos já entrou no Senai para participar também.
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - WorldSkills em família? (Risos.)
O SR. RAFAEL WENDERSON - No caso, aí foi a minha premiação, a medalha de melhor competidor na minha ocupação, juntamente com o troféu. E o outro troféu como melhor aluno da delegação do Rio Grande do Norte, o momento da premiação. Nesse momento, você esquece todo aquele cansaço, todo o suor que você derramou. E realmente fala: valeu a pena tudo isso que passei. É nesse momento aí. Resultado de muito esforço e dedicação.
Aí é toda a delegação do Rio Grande do Norte na etapa nacional, em São Paulo, 2012.
Aí já é a etapa mundial, que aconteceu na Alemanha, nos dias de trabalho e de competição. Então, imagine passar de dez a doze horas com essa roupa. Eram três camadas de roupa para proteger contra a radiação emitida pela solda. Era muito cansaço, terminava o dia exausto, mas no outro dia tinha que ter as forças renovadas para voltar ao treinamento novamente.
Aí são os competidores medalhistas da competição mundial. E aí é a equipe de professores. A partir da etapa nacional, entrou o professor, o Júlio, que está ao meu lado direito. Então, nós quatro fazemos parte hoje da equipe que vai treinar os próximos que vão competir em São Paulo no próximo ano.
E tenho orgulho de representar o meu País. Porque eu nunca tinha parado para pensar que um jovem lá do interior de Mossoró, no Rio Grande do Norte, pudesse representar o País dele em uma competição internacional. Como eu falei antes, era apenas um sonho, mas aí se tornou uma grande realidade.
Os prêmios da etapa nacional e da etapa mundial. E aí toda a delegação brasileira.
Aí já foi em Bogotá, na Colômbia, onde eu consegui o prêmio de melhor soldador, de melhor competidor da delegação do Brasil e o prêmio Albert Vidal, como falei anteriormente.
Então, havia três premiações que apenas uma pessoa poderia ganhar nesse evento. E eu fui essa pessoa a ganhar. Graças a Deus, porque tudo isso eu devo a Ele; se não fosse ele, eu não estaria aqui, como eu falei pela manhã. Porque não é fácil você estar em um local... No início eu não ganhava nada. Eu ganhava apenas a esperança de um dia estar onde eu estou hoje.
Então, eu nunca pensei, nunca passou na minha cabeça estar aqui sentado nessa cadeira, nessa mesa aqui juntamente com vocês. Então, graças a Deus, Deus me colocou aqui. E toda a honra e toda a glória eu dedico a Ele. Tudo que eu sou hoje é graças a Ele.
E aí foi o fechamento de um ciclo, um sonho realizado, pois, a partir de agora, eu não posso mais ser competidor. Eu só posso ir para o evento como avaliador ou como outra coisa, mas como competidor eu não posso mais. Então, nada melhor do que você terminar um ciclo como competidor ganhando todos os prêmios de uma competição, não é verdade?
Aí foi uma homenagem com a Presidente logo após o torneio na Colômbia e o reconhecimento por ter feito um bom trabalho.
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Então, é basicamente isso que eu tinha para falar para vocês. Todos aqui já ilustraram bastante a importância desse evento para o nosso País. Eu não tenho mais o que falar, pois eles já falaram tudo. Então, vou deixar aqui apenas o meu depoimento e toda essa história que vivi durante esses três melhores anos da minha vida, como competidor.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cyro Miranda. Bloco Minoria/PSDB - GO) - Parabéns! Parabéns, Mossoró! Parabéns, Rio Grande do Norte! Parabéns, Brasil! Obrigado, Rafael, por você se dedicar e trazer, com todo o seu esforço, essas medalhas para o Brasil. E sei que, daqui para frente, você não vai mais competir, mas vai formar vários campeões, vários medalhistas com certeza.
Não temos mais muito tempo, porque, de acordo com o nosso Regimento do Senado, quando começa a sessão plenária deliberativa, nós somos obrigados a suspender todas as comissões e reuniões que estiverem em andamento. E nos avisaram que o Presidente já está abrindo a sessão.
Eu quero aqui, de coração, agradecer a presença de todos. Quero parabenizar o meu amigo - hoje, digo amigo - Simon pela iniciativa, por tudo o que tem feito pelos cursos profissionalizantes por esse mundo afora. Agradeço ao David e ao Gustavo. Dê nosso abraço, mais uma vez, ao grande campeão Rafael Lucchesi. Leve o nosso abraço ao Robson, da CNI, uma instituição à qual temos muito orgulho de estar ligados. Ao Luciano Toledo, mais uma vez, por tudo o que tem feito nessa área; ao MEC, leve ao meu particular amigo Henrique Paim nosso abraço e nossa gratidão; à Fátima, que conheci hoje aqui, uma educadora de 34 anos; e a você, Rafael, de que já falei há muito tempo.
Aqui, só uma coisa que me gravou muito e é uma experiência de vida que já repeti várias vezes. Eu fazia faculdade de Engenharia Industrial, no final da década de 60, e tive um colega de Londrina, Paraná, cujos pais eram cafeicultores. E o café, naquela época, oscilava muito. Ao final do nosso primeiro ano, esse rapaz virou para mim - ficamos muito amigos - e disse: "Cyro, eu vou ser obrigado a desistir da faculdade, porque os meus pais quebraram literalmente, foram à bancarrota e não tenho mais como me sustentar aqui. Eu vou, praticamente, sair com a roupa do corpo."
Agora, há uma preocupação. Vou lembrar uma preocupação da minha época, que, talvez, alguns dos senhores se lembrem: eu fiz quatro anos de primário, quatro anos de ginásio - oito -, três anos de colegial, que nós chamávamos de científico - onze anos -, um ano de cursinho, um ano de faculdade. Então, eu tenho 13 anos, e não sei fazer nada. Eu não tenho uma especialidade. Eu sei as capitais de todas as ilhas gregas, o nome dos peixes de profundidade de Fernando Noronha - cultura inútil. O que eu vou fazer da vida? Eu vou ser um office-boy depois de 13 anos de estudo. Isso me chamou a atenção e me carrega de muita vontade, desde o início da década de 70, de ver o Brasil caminhar com o Pronatec, que hoje é um programa de que todos nós temos o maior orgulho ao vermos instituições como a CNI dando a ele uma atenção especial. Ela faz tantas obras, mas para mim esta é uma das mais importantes: trazer ao jovem uma perspectiva, uma profissionalização. Daí para frente, o resto é com ele. Daí para frente, ele vai fazer a sua faculdade. Não adianta querermos abrir uma faculdade em cada esquina se não vamos dar oportunidade a esse jovem de, às vezes, chegar até ao final.
Então, fico aqui com uma sensação muito contente de ver que o dever está sendo cumprido. A estrada é longa - nós sabemos -, mas estamos no caminho certo e, graças aos organizadores da WorldSkills, que vêm complementar tudo isso que estamos fazendo aqui no Brasil, vamos levando a prática, levando esses jovens a estimularem outros jovens.
Só peço uma coisa: que, através desta Casa e de cada um dos senhores - do MEC, da Secretaria de São Paulo, da própria CNI, que já faz isso, da WorldSkills -, nós sejamos os grandes incentivadores e divulgadores desse evento da WorldSkills.
Sucesso ao Brasil! Sucesso ao WorldSkills, em agosto de 2015, em São Paulo! Que tenhamos muitos e muitos vencedores, porque o maior vencedor somos nós mesmos, que estamos conquistando esse espaço na profissionalização do Brasil e do mundo.
Muito obrigado a todos. De coração, agradeço a presença.
Encerro aqui a presente audiência, convocando todos para a próxima reunião deliberativa da Comissão de Educação, na próxima terça-feira, às 11 horas, neste plenário.
Muito obrigado. Um bom fim de dia.
(Iniciada às 14 horas e 28 minutos, a reunião é encerrada às 16 horas e 28 minutos.)
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