07/06/2016 - 19ª - Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informática

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Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Lasier Martins. Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Boa tarde, senhoras e senhores.
Declaro aberta a 19ª Reunião da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática da 2ª Sessão Legislativa Ordinária da 55ª Legislatura, que se realiza nesta data, 7 de junho de 2016.
Nós vamos dar seguimento a uma segunda fase da audiência já realizada hoje pela manhã.
Hoje pela manhã, tivemos uma audiência pública extremamente produtiva, por mais de três horas, com o Ministro Gilberto Kassab, da Ciência e Tecnologia. Agora à tarde, nós temos a honra de receber aqui, em audiência pública também, para discutir o tema "A Biotecnologia e o Impacto no Desenvolvimento de uma Nação", o Sr. Carlos Faro, Presidente do Biocant (Centro de Biotecnologia e Parque Tecnológico de Cantanhede, Portugal).
O Biocant Park é o primeiro parque de biotecnologia de Portugal. Seu objetivo principal é patrocinar, desenvolver e aplicar o conhecimento avançado na área das ciências da vida, apoiando igualmente iniciativas empresariais de elevado potencial.
Esse parque disponibiliza um centro de investigação e desenvolvimento em biotecnologia com quadro próprio de investigadores e alicerçado na forte tradição científica dos centros de investigação de excelência da Universidade de Coimbra e da Universidade de Aveiro.
A partir de um elenco bastante qualificado de pesquisas e iniciativas de desenvolvimento tecnológico, o Biocant Park procura ser uma referência internacional na investigação e comercialização em áreas específicas da biotecnologia. Nesse sentido, procura atrair investimentos em Portugal e no exterior para iniciativas empresariais de conhecimento intensivo na área das ciências da vida.
O Biocant tem sido um indutor importante na criação de empresas com base tecnológica, na área de biotecnologia, aproximando investidores de start-ups criadas no interior de seus programas de incentivo. Algumas delas já nasceram sendo premiadas pela qualidade de suas propostas.
Hoje, então, temos a satisfação de receber, aqui no Senado, o Dr. Carlos Faro, Presidente do Biocant (Centro de Biotecnologia e Parque Tecnológico de Cantanhede), a quem, em seguida, vou passar a palavra.
Antes, mais algumas referências ao nosso ilustre convidado.
O Sr. Carlos Faro é professor associado da Universidade de Coimbra; investigador principal do CNC, o maior instituto de investigação da Região Centro; e diretor científico do Biocant. É, ainda, membro do Conselho de Administração da Biocant Ventures e de várias start-ups de biotecnologia. Representante nacional do Grupo de Trabalho de Biotecnologia na OCDE, membro de vários conselhos consultivos (FCT, Cotec, FMSS) e consultor internacional do setor de inovação e biotecnologia.
Licenciado em Biologia e doutorado em Bioquímica pela Universidade de Coimbra, foi responsável pela introdução da tecnologia da Biologia Molecular na Universidade de Coimbra, onde lecionou as disciplinas na área de Biologia Molecular e Biotecnologia.
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Foi ainda Diretor do Programa Doutoral em Biotecnologia Experimental e Biomedicina e professor visitante da University of Massachusetts, Estados Unidos. Em 2004, liderou o Projeto X-Prot, galardoado com um dos prêmios europeus de inovação.
Foi fundador do Biocant (Centro de Inovação em Biotecnologia do Biocant Park) e do UC-Biotech, tendo liderado e angariado mais de 35 milhões de euros em projetos financiados por programas comunitários.
Mais recentemente participou do lançamento de várias empresas de biotecnologia, uma das quais foi considerada, em 2015, como a segunda mais promissora da Europa em sua área.
Queremos ouvi-lo, Dr. Carlos Faro, com muita satisfação, com as lições que o senhor vai nos trazer.
Boa tarde.
O SR. CARLOS FARO - Em primeiro lugar quero agradecer ao Senador Lasier Martins, não só o amável convite, também as amáveis palavras de introdução.
Gostaria de estender este agradecimento também aos meus amigos que me acompanham nesta jornada hoje no Brasil e aos amigos do Brasil, nomeadamente o Dr. Gilberto Lima e Mauro Ferrara, que nos têm apoiado e a quem, com certeza, devo muito deste convite que muito me honra hoje para estar aqui e poder apresentar aquilo que no final tem sido a minha vida nos últimos 12 anos.
Desenvolver projetos com essa ambição e desta dimensão só é possível se for em dedicação exclusiva, só é possível se a pessoa trabalhar 14, 16 horas por dia, sete dias por semana. Obriga a um compromisso de tal forma que - em minha casa eu tenho dois filhos - costumam dizer que o Biocant é o meu terceiro filho e que tem sempre mais atenção que todos os outros.
Tirando essa introdução, hoje eu gostaria, sobretudo, de deixar algumas mensagens principais que decorrem da aprendizagem que fizemos ao longo desses 12 anos e sobretudo mensagens que podem ser relevantes para as responsáveis por decisões políticas.
Portugal, como sabem, fez uma aposta na ciência e tecnologia há 20 anos. O responsável por essa aposta foi o Ministro Mariano Gago, que infelizmente já não está conosco. Só para terem uma ideia, ele foi ministro durante 14 anos conseguiu dar à ciência portuguesa uma estabilidade e uma visibilidade internacional muito grandes -acredito que não haja outra área em Portugal onde a política tenha sido tão consistente e tenha tido resultados tão mensuráveis e tão visíveis em nível de um impacto econômico e social como a área da ciência e tecnologia.
E é mais ou menos isto o que vou fazer: eu irei apresentar o Biocant e, ao longo desta pequena viagem que irei fazer com vocês, vou salientar alguns aspectos de política científica que foram importantíssimos para o sucesso do Parque.
E por que nós criamos o Parque?
O Parque foi criado há 12 anos e a razão principal pela qual foi criado é que os promotores queriam sobretudo fazer valorização econômica do conhecimento, queriam fazer a transferência de tecnologia.
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Contudo, promover a transferência de tecnologia e a valorização do conhecimento é muito difícil quando se está apenas no seio da universidade. Infelizmente, o sistema universitário é um sistema muito fechado, e é um sistema que possui uma cultura que nem sempre é a apropriada ao desenvolvimento de projetos com a indústria.
Como devem saber, os professores - e sou professor na Universidade de Coimbra, que é uma universidade que possui mais de 700 anos - têm um grau de liberdade muito grande, podem escolher a investigação que querem fazer. Normalmente estão mais preocupados em publicar papers e em orientar teses de doutorado do que propriamente em produzir resultados que tenham realmente impacto econômico.
Essa cultura não existe na universidade e, portanto, nós, há 13 anos, quando lançamos o parque, achamos que tínhamos que sair um pouco da universidade para poder implementar uma cultura nova e, sim, uma cultura orientada para o mercado, em que os princípios de funcionamento das empresas deveriam ser interiorizados e incorporados no próprio centro de investigação e só dessa forma é que seria possível fazer uma transferência de tecnologia verdadeiramente efetiva.
Tivemos a sorte, a essa altura, de ter tido o apoio de um município vizinho de Coimbra, chamado Cantanhede, que fica a apenas 20 minutos de Coimbra, mas tem a vantagem de ficar equidistante entre as duas maiores universidades da Região Centro, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Aveiro. Ao ficar a meio caminho, estava suficientemente próximo das universidades para beber o talento e as ideias que são criadas naqueles centros de saber, mas estava suficientemente afastado para poder implementar uma cultura orientada para os interesses da empresa. Ou seja, nós íamos às universidades buscar os talentos e as ideias e, em um ambiente com a cultura empresarial, favorecíamos a valorização desse conhecimento e a criação de riqueza a partir dos resultados de pesquisa. Era uma ideia relativamente simples, e nós, àquela altura, achávamos também que tínhamos um conjunto de elementos em Portugal que garantiriam o sucesso, o provável sucesso, do projeto.
Em primeiro lugar, Portugal havia feito um investimento enorme em formação avançada. Temos que ser claros: é muito fácil construir um parque de ciência e tecnologia, é muito fácil construir edifícios, mas o sucesso do parque depende do talento que nós colocarmos lá dentro e, sem talento, não há parques de sucesso. Parques de ciência e tecnologia só têm sucesso se houver talento.
E, de fato, Portugal teve sorte, como eu já disse, de ter um ministro visionário, que investiu fortemente na formação científica. Durante mais de 10 anos os melhores alunos e alunos de grande qualidade em Portugal foram enviados para os melhores centros de investigação desse mundo afora, foram aprender uma cultura que não existia no País e há cerca de 10, 15 anos começaram a regressar. E foi a essa altura que o Parque de Ciência e Tecnologia estava a nascer, e nós percebíamos que tínhamos ali um dos ingredientes fundamentais, que é o talento.
Nos próximos eslaides, o que vou fazer é referir aqui o que são os elementos essenciais que nos motivaram a desenvolver o Parque, mas os dados que veem nos eslaides são os dados atuais, que mostram, de certa forma, qual foi o resultado da política que foi seguida no País ao longo desses últimos anos.
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Hoje, Portugal tem, de fato, uma comunidade científica de primeiro nível. Isso é reconhecido por ser um dos países europeus com maior taxa de aprovação das bolsas mais competitivas que existem na União Europeia. Tem centros de pesquisa extraordinariamente bem equipados e tem, de fato, um pool de talentos absolutamente cosmopolita. Só para terem uma ideia: na maior parte dos centros, a língua de trabalho já nem é sequer o português, mas o inglês. É tudo feito em inglês, exatamente por causa desse ambiente cosmopolita que nós criamos.
Mas, àquela altura, há dez anos - essa é a realidade de hoje -, nós tínhamos esse potencial todo para realizar, e, portanto, fazia todo sentido criar um parque dedicado à biotecnologia e às ciências da vida para poder fazer transferência de tecnologia.
Além disso, nos beneficiamos algumas vantagens competitivas. E, desse ponto de vista, inclusive para investidores de outras geografias, Portugal é neste momento um país muito atraente. Há fundos comunitários, que são fundos europeus, que permitem financiar quer investigação, quer os custos de funcionamento até das próprias empresas, em termos de atividade de P&D. Há fundos de capital de risco que são especializados em vários setores, nomeadamente para ciências da vida. Os custos, no contexto, são muito mais reduzidos do que no resto da União Europeia e, de fato, Portugal é uma ponte natural para diversos mercados emergentes. No caso do Brasil, será uma porta de entrada privilegiada para a União Europeia.
Nós achávamos que tínhamos condições, porque tínhamos o talento, tínhamos as ideias, podíamos criar as infraestruturas, e escolhemos uma área de especialização para o Parque. Isso também não é muito comum. Quem conhece os parques de ciência e tecnologia espalhados pelo mundo afora sabe que normalmente os parques são de banda larga, não há níveis de especialização. Nós sempre entendemos que devíamos criar um nível de especialização, porque era a forma de nos diferenciar, quer no contexto nacional, quer no contexto internacional.
Escolhemos a biotecnologia porque, apesar de tudo, embora seja uma especialização, a biotecnologia tem a beleza de ser absolutamente transversal e cortar vários setores, desde a saúde ao agronegócio, à energia, ao mar e, agora, ao digital. Com o advento da Economia 4.0, a biotecnologia vai trazer e vai ter uma importância cada vez mais relevante nas nossas vidas.
Além disso, tínhamos outros motivos para apostar na biotecnologia. Eu entendo - esse é um eslaide que é mais pessoal - que o tempo é que é a moeda da vida, não é o dinheiro. Se nós pensarmos, o que nós fazemos na biotecnologia é dar tempo, é ganhar tempo.
Nós, na área da saúde, conseguimos hoje desenvolvimentos extraordinários, conseguimos combater doenças que, até bem pouco tempo atrás, não tínhamos qualquer capacidade para combater. E basta ver o que está a acontecer, a esperança média de vida. Na Europa, 50% das crianças que nascem do total anual hão de chegar aos 100 anos. Portanto, hoje, a esperança de vida para uma criança que nasce na Europa é de 100 anos, para 50% é 100 anos. Portanto, é qualidade de vida. O tempo que nós estamos a ganhar tem muito a ver com avanço tecnológico, e a ciência, quer se queira, quer não - eu sei que, em muitos países, a ciência não é importante no contexto e na agenda política -, está na base de todo esse desenvolvimento que nos dá qualidade de vida.
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Há um outro aspeto que também é importante, que tem a ver com essa dicotomia entre a ciência básica e a ciência aplicada. Há muita gente que defende que só se deve investir em ciência aplicada, porque é muito importante ter os resultados. Mas, na verdade, a experiência que nós adquirimos ao longo do ano é de que deve haver um compromisso. Deve haver um compromisso entre os dois tipos de ciência. Ou seja, temos que continuar a investir em ciência fundamental, porque é na ciência fundamental que surgem as ideias de rutura, as novas ideias que se formam, alunos brilhantes. Portanto, o pool de talentos vem sobretudo do financiamento à ciência básica, e depois, naturalmente, uma boa parte dela vai ser traduzida em produtos e em serviços, já ao nível de uma ciência mais aplicada e que, portanto, também terá o seu financiamento dedicado.
Para os mais céticos, eu uso sempre este valor, que foi um estudo que o Senado americano publicou há cerca de três anos, sobre o impacto daquilo que foi o projeto de sequenciação do genoma humano. Àquela altura o projeto custou vários milhões, mas, na verdade, cada euro que foi investido nessa ciência fundamental, nessa ciência básica, hoje já gerou mais de US$178 em termos de atividade econômica. Portanto, se há dúvida sobre a importância de financiar a ciência básica como uma fonte de talento, ela pode ser facilmente, de certa forma, disputada com alguns dados que são muito óbvios em relação a resultados econômicos que nós conseguimos, como comunidade, atingir com investimentos em ciência mais fundamental.
Portanto, nós tínhamos um projeto, tínhamos uma ideia, tínhamos espaço, tínhamos uma área que o Município de Cantanhede nos forneceu, que é o tal município que fica próximo de Coimbra, e tínhamos o pool de talentos que vinham das duas universidades - o Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra, a que eu pertenço, e desde o primeiro momento fui um entusiasta desse projeto, e aqui uma associação em que a Universidade de Aveiro estava presente; é uma participação indireta no projeto em termos formais.
E quais eram os elementos fundamentais que nós desenvolvemos ao longo dos anos? Nós não gostamos de chamar "parque de ciência e tecnologia" neste momento. Achamos que o que temos é um verdadeiro ecossistema de inovação, porque "parque de ciência e tecnologia" é uma designação que está muito associada à vertente imobiliária do projeto, enquanto que "ecossistema" favorece e sublinha mais a componente imaterial, que é, de fato, a componente mais importante. E esses ecossistemas tinham um parque, portanto a estruturação física, tinham um centro de transferência de tecnologia, e esse centro de transferência de tecnologia não era mais um centro de pesquisa como aqueles que nós temos na universidade. Era um centro que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do ecossistema, porque esse cento estava equipado com um equipamento de vanguarda para fazer investigação na área de biotecnologia, tinha investigadores e técnicos treinados.
Só para terem uma ideia: hoje um investigador que queira entrar no Biocant tem que ter pelo menos o doutoramento e, em seguida ao doutoramento, três anos de experiência de investigação no estrangeiro. Só depois é que é admitido, eventualmente, como investigador, se tiver um currículo adequado.
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E esse centro era fundamental, porque queríamos atrair empresas. As empresas, sobretudo os promotores de projetos nascentes de start-ups, não têm a capacidade financeira para comprar para sua empresa grandes equipamentos. Portanto, o centro faz esse papel e as empresas vão se instalando nos edifícios que estão ao lado do centro e podem utilizar os recursos quer humanos, quer a infraestrutura e toda a plataforma tecnológica que está disponibilizada pelo centro. Portanto, é uma lógica de sinergia, do win-win, para ambas as partes.
Depois há também uma incubadora e uma aceleradora de empresas no sentido de que nós pegamos os projetos, fazemos uma avaliação do potencial de transferência de tecnologias, estudamos aspectos desde a propriedade intelectual ou licenciamento, definimos a estratégia de como é que aquele ativo pode ser desenvolvido, inclusive, depois, junto da nossa rede de investidores, arranjamos o seed money, o dinheiro semente para desenvolver o projeto.
Um centro de divulgação de ciência é importante. A divulgação científica junto da comunidade mais jovem é um aspecto muito importante, sobretudo se nós quisermos formar uma geração de pessoas que consigam compreender o impacto e a importância da ciência. Esse tipo de trabalho tem que começar a ser feito com os mais jovens, desde uma tenra idade. Portanto, nós temos miúdos, desde os seis aos doze anos, que passam neste laboratório, passam um dia a fazer experiência. As pessoas levam os seus alunos, estão todos a fazer experiências que estão adaptadas aos programas de ensino do seus respectivos ano. E é claramente um ponto de interação com a comunidade, porque os miúdos depois vão para casa, contam aos seus pais as experiências que fizeram, divulgam o centro. Esse é um trabalho quase de formiguinha, mas é muito importante, porque, no fim do dia, o que nós fazemos é cativar mais 30, 40, 50 pessoas para a causa da ciência. E, se não houver esse reconhecimento público da importância da ciência, acho que nós dificilmente vamos convencer os nossos políticos.
Eu senti uma grande diferença quando os políticos em Portugal começaram a ter filhos que eram bolseiros a fazer o doutoramento no estrangeiro. A essa altura, o problema estava dentro de casa, e eles começaram a perceber a importância da ciência, a importância das bolsas. Isso só se consegue fazer se houver de fato uma estratégia integrada: vamos sensibilizando as crianças num centro de divulgação de ciência e, ao mesmo tempo, vamos sensibilizando os nossos políticos. Apesar de tudo, temos que reconhecer - aqueles que trabalham na área da ciência e tecnologia - que ainda é preciso um trabalho adicional, porque não é fácil as pessoas num país reconhecerem a importância das nossas áreas.
Finalmente, para não gastar muito tempo, temos também capital de risco que financia os projetos.
Portanto, o parque tecnológico, ou seja, a infraestrutura física, tem algumas características próprias. Quando se estudam os fatores de sucesso de um parque de ciência e tecnologia, aquilo que se percebe no imediato é que um dos fatores mais importantes é a arquitetura e o espaço envolvente. Tem que ser aprazível, as pessoas têm que poder sentar no banco do jardim, têm que poder discutir as suas ideias num ambiente acolhedor. E isso é determinante, porque faz diferença quando alguém tem que escolher um parque para localizar a sua instituição.
O centro de transferência de tecnologia, a incubação. Ressaltei a importância do centro de ciência júnior no sentido de sensibilizar a nova geração, o capital de risco para poder financiar os projetos.
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Hoje os projetos em Portugal têm relativa facilidade de encontrar financiamento de até €1 milhão. No país temos um problema, que é uma segunda ronda de financiamento, de 4, 5 milhões, que é difícil, porque esse dinheiro não há no país. Os projetos, eventualmente, teriam que buscar esse investimento no estrangeiro, só que ainda são relativamente imaturos para poderem ir aos grandes fundos internacionais. E, portanto, há aqui ainda algo que o próprio sistema português terá que melhorar.
E há uma rede internacional, que é absolutamente essencial. A biotecnologia é uma atividade global, e os investigadores trabalham com gente de todo o mundo. Inclusive, o próprio centro favorece as relações de colaboração, com os centros mais prestigiados nos Estados Unidos e, agora, com centros emergentes na China, onde há grandes oportunidades.
Portanto, de certa forma, em 12 anos nós conseguimos atrair 35 empresas de biotecnologia - são empresas exclusivamente de biotecnologia. Isso corresponde a 40% das empresas de Portugal, e são empresas que já possuem características, algumas delas, muito interessantes. São empresas que já contam com participação do capital de risco internacional, em algumas a indústria participa no capital, porque, de fato, é a melhor maneira de garantir o investimento. Há empresas que possuem crescimento rápido... De fato, muitas dessas empresas não faturam nada durante a maior parte da sua vida, mas depois, quando começam, disparam - não sei se usam o termo no Brasil, mas nós em Portugal as chamamos de empresas gazelas. São empresas que crescem a mais de 30% ao ano.
Estes são os indicadores da realização do parque. Ou seja, em 12 anos criamos 300 postos de trabalho qualificados. Só para terem uma ideia: um terço são doutores, ou seja, são pessoas que fizeram doutoramento prioritariamente no estrangeiro - temos 100 doutorados no parque. Já houve €70 milhões de investimento. As patentes são um ativo muito importante, e hoje somos um cluster que é reconhecido em nível internacional.
Para quem tem responsabilidades no investimento público, eu gosto sempre de apresentar esse eslaide, até porque eu pertenço a uma geração... Uso o termo accountability, que é o que os americanos usam, ou seja: nós temos que dizer à sociedade o que fizemos com cada euro que nos deram. E eu acho que gosto desse eslaide porque ele mostra bem o valor que nós trouxemos para o investidor inicial.
E o investidor inicial foi o Município de Cantanhede, um pequeno município que nos deu €4 milhões para começar o projeto. Com esses €4 milhões, conseguimos ir a fundos europeus e a algum capital de risco público buscar cerca de €27 milhões, ou seja, por cada euro que o município nos deu, nós fomos buscar €7 em fundos competitivos europeus. Nós já atraímos quase €40 milhões de investimentos privados para o parque, ou seja, de um euro público, que foi o que saiu do município, nós fomos buscar €7 em fundos europeus competitivos e €10 junto a investidores privados, ou seja, multiplicamos 17 vezes aquele euro que recebemos diretamente do Estado. Portanto, isso teve um impacto grande, não foi só a transformação econômica de um pequeno município que era conhecido por ser um centro rural e hoje é um parque tecnológico que está em fase de internacionalização.
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Eu usei esse eslaide só para dizer que até os alemães, que são normalmente muito críticos em relação aos latinos, quando nos visitaram, acabaram por reconhecer que esse modelo é um modelo inteligente, que dá retorno - e não se importam que nós usemos o dinheiro dos europeus para fazer esse desenvolvimento.
E esse é um artigo que saiu num dos jornais de maior divulgação na Alemanha.
Para terminar, só para ficarem agora com uma visão, eu gostaria de passar um vídeo do Biocant.
Antes, permito agora uma imagem, visualizarem aquilo que eu falei aqui ao longo desta pequena intervenção. De certa forma, mostra que é possível... Hoje em dia a ciência é inequivocamente uma área que não traz só desenvolvimento econômico, traz desenvolvimento social e é capaz de trazer algo que eu acho que é muito apreciável, que é a promoção social. O meio onde nós estamos é um meio rural, de pessoas relativamente esclarecidas, mas é extraordinariamente agradável ver aquelas crianças que passam ali, vão para a universidade e depois até vão fazer doutoramento lá no centro - nós já temos essa realidade, já a vivemos. Portanto, o impacto social que a ciência tem... É evidente que o impacto econômico é importante, mas não podemos minimizar os impactos sociais de um projeto dessa natureza.
Termino com este vídeo. (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Lasier Martins. Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Enquanto isso, aproveito para registrar, com muita honra, a presença aqui em nosso meio do Dr. Marcelo Aguiar, que é o Secretário de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal; da Presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, Drª Ivone Diniz; e da Diretora Vice-Presidente, Regina Buani.
(Procede-se à exibição de vídeo) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Lasier Martins. Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Bem, o Dr. Carlos Faro nos apresentou um magnífico parque de biotecnologia.
Eu quero deixar a palavra à disposição das Srªs e dos Srs. Senadores para fazerem indagações para completar as informações sobre o Biocant.
Alguém quer perguntar alguma coisa?
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O SR. HÉLIO JOSÉ (PMDB - DF) - Eu quero falar, Senador.
O SR. PRESIDENTE (Lasier Martins. Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Passo a palavra ao nosso Vice-Presidente da CCT, Senador Hélio José.
O SR. HÉLIO JOSÉ (PMDB - DF) - Queria cumprimentar o nosso nobre Presidente Senador Lasier por esta importante audiência pública.
Queria cumprimentar também o Dr. Carlos Faro, Presidente da Biocant, pela brilhante exposição e dizer que, para mim, que sou Senador do Distrito Federal, Brasília, é muito importante essa palestra, é muito importante essa disposição do Biocant em fazer uma parceria com Distrito Federal. Aqui, na capital do País, nós temos uma vocação industrial não poluente. Eu creio que essa proposta do Biocant vem ao encontro dos nossos interesses.
Hoje, no Senado, o dia está extremamente concorrido, há muita coisa acontecendo. Eu sou Presidente da Frente Parlamentar Mista - que está aqui ao lado - que discute as taxas aeroportuárias; paralelamente, há a aprovação do Presidente do Banco Central; um monte de coisas. Por isso é que tanto eu quanto o Senador Lasier, que somos o Vice-Presidente e Presidente desta Comissão, lamentamos os nossos outros colegas não poderem estar presentes, por causa da importância do tema. Mas a correria é assim, e nós, da Comissão de Ciência e Tecnologia, estamos aqui para isso.
Queria ver com V. Sª, que esteve com o Governador do DF, como podemos, de fato, tentar tornar realidade uma parceria, tirar do papel uma parte do nosso Parque Tecnológico de Brasília. Gostaria de saber se há, de verdade, por parte dos irmãos portugueses, disposição para, juntos, construirmos essa parceria. Se houver, a Bancada do Distrito Federal - eu era o coordenador da Bancada; são três Senadores e oito Deputados Federais - tem total interesse em contribuir naquilo que estiver a seu alcance para efetivar essa parceria. E também parece que há desejo aqui, da Comissão, para fazermos uma visita, conhecermos esse parque tecnológico, sabermos das contribuições que vocês podem trazer aqui para nós.
Eu tive o privilégio de andar em Avieiro, de andar em Coimbra, e ver toda essa questão tecnológica vocês têm. E acho que Brasil e Portugal podem se ajudar mutuamente muito; e essa área de tecnologia é uma área em que Portugal tem feito muita coisa importante; e nós também temos feito. Então podemos intercambiar conhecimentos para nos ajudar mutuamente.
Então quero parabenizá-lo. Creio que a transparência e o filme vão ficar à disposição da Comissão, e depois nós podemos ter acesso com mais calma, vistoriá-los. Se houver essa comissão, eu pretendo fazer parte dela junto com Senador Lasier, para irmos visitar, conhecer e ver como fazemos para efetivamente trazer a parceria para Brasília. Está bem, Carlos?
Parabenizo V. Sª e os outros diretores - acho que são também componentes do Biocant, não é?
Até fui aqui chamado para podermos conversar um pouquinho depois, mas eu tenho que voltar para a comissão aqui ao lado, da qual sou Presidente, mas coloco meu gabinete - vou deixar aqui meus cartões com vocês - à disposição, como membro da Bancada de Brasília, para juntos podermos discutir como nos ajudar mutuamente. O interesse da população de Brasília, do Governador do DF e da nossa Bancada é muito grande nessa construção.
Estou agradecido e o parabenizo. Vou olhar com mais cuidado toda a questão.
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Eu acho que, inclusive, nós poderíamos aproveitar, nessa visita que eventualmente faremos ao Biocant, para intercambiar alguma coisa na área de infraestrutura, porque os irmãos de Portugal têm um avanço muito bom na produção de energias alternativas - energia eólica em alto mar, energia solar, que também estamos aqui em fase de construção. Então, há outros assuntos. De repente, poderíamos, nesse diálogo que abro com meu gabinete - eu sou Presidente da Frente Parlamentar Mista da Infraestrutura -, junto com a Comissão de Ciência e Tecnologia e vocês, fazer outras visitas aproveitando essa viagem.
Muito obrigado. Um abraço grande a vocês. Coloco-me à disposição.
Vocês estão aqui em ótimas mãos, porque o nosso Presidente é uma pessoa profundamente preocupada com ciência e tecnologia, uma pessoa que realmente tem uma liderança muito grande nesse setor, que, com certeza, vai saber conduzir uma boa relação entre nós.
Muito obrigado, Senador. Obrigado, pessoal.
O SR. CARLOS FARO - Muito obrigado, Senador Hélio José, não só pelas amáveis palavras, mas também pelo desafio que nos deixa de tentar, no futuro, ter uma perninha, uma casa do Biocant aqui em Brasília. Sobre isso, devo lhe dizer o seguinte.
Há um mês nós viemos ao Brasil em uma visita de prospecção para encontramos o local onde iríamos instalar o Biocant Brasil. Fizemos visita a vários sítios, mas devo dizer - não sei se foi amor à primeira vista ou não - que eu e meus colegas ficamos verdadeiramente entusiasmados com a possibilidade de instalar o Biocant em Brasília. Havia várias razões para isso. Para entendê-las, é preciso perceber como a biotecnologia está a evoluir nos dias de hoje.
A biotecnologia hoje está a evoluir em uma grande integração com o digital. A Revolução Industrial 4.0 está em curso neste momento. Portanto, ter um parque exclusivamente de biotecnologia não faz sentido. O que faz sentido é ter um parque onde a biotecnologia possa ter uma interação fortíssima com as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) no sentido de desenvolver novas funções, quer no âmbito da medicina personalizada, quer - sobretudo aqui em Brasília e no Brasil - no âmbito da agricultura de precisão, porque, definitivamente, o Brasil é uma potência nessa área, tem centros como a Embrapa, que tem recursos absolutamente especiais. Acho que é possível criar uma estratégia.
A nossa ideia, quando viemos desta vez - tenho que confessar -, era começar a trabalhar no sentido de preparar a criação de um Biocant em Brasília virado exatamente para essa interface com essa nova perspectiva orientada para a Indústria 4.0.
Devo dizer que fiquei não tão entusiasmado com as conversas que tivemos ao longo da semana, porque nós percebemos que há alguma indefinição em relação a quem vai ser o promotor ou o líder desse projeto. Ou seja, nós queríamos ter um papel importante, e faz sentido que alguém com a experiência que temos consiga estar na gênese do projeto desde o início, porque só assim é que podem se beneficiar do projeto. Caso contrário, nós seríamos, pura e simplesmente, inquilinos. Ou seja, vamos deixar que Brasília construa o seu parque de ciência e tecnologia e, quando o parque estiver construído, podemos pensar. Porque onde achamos que está o valor não é nos imóveis. Esqueçam. O valor está em pegar os talentos que este País tem, convocá-los a trabalhar nas redes internacionais de valorização do conhecimento e objetivamente gerar mais valias não só para a sociedade, mas também para os investidores, porque estamos nesse papel hoje como investidores. E é possível, devido à experiência que temos e àquilo que se avizinha, conseguir tirar bastante rentabilidade de um investimento dessa natureza.
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Regresso a Portugal nos próximos dias com o sentimento de que Brasília tem de pensar exatamente no que quer, como quer. Depois disso estar completamente definido, nós então poderemos dizer onde é que vamos ajudar. Nós não vamos entrar nessas guerras, como me parece haver em todos os lugares - quem vai ser o promotor, quem vai ficar na fotografia, como vamos fazer o imobiliário, tu entras, tu não entras. Eu não tenho paciência para isso. Foi por isso que eu saí da Universidade de Coimbra. Por que digo isso? Eu vou para a Universidade de Coimbra, onde está a gênese de toda essa maneira de estar, porque a Universidade de Coimbra é uma universidade com mais de 700 anos, onde os professores, quando eu era aluno, mantinham as revistas científicas nas gavetas durante seis meses. Só ao fim de seis meses é que libertavam as revistas científicas para os alunos para que nós não soubéssemos tanto quanto o professor. Era basicamente essa a ideia. Para isso, não contem comigo.
Terei todo gosto em participar de um projeto que seja centrado nas pessoas, na valorização e naquilo que esse projeto pode trazer em desenvolvimento econômico e social para esta região. Eu não fechei ainda a porta para Brasília. Saio daqui como alguma esperança de que Brasília, durante os próximos dois, três meses, nos consiga propor uma solução de modo a que consigamos implementar um parque com essa ambição. Mas não seria um parque com a mesma perspectiva que tínhamos há 12 anos: é com a perspectiva dos próximos 12 anos.
Portanto, saber exatamente fazer o casamento com essa realidade do mundo digital vai ser esmagador e, de fato, Brasília tem todas as condições. É uma cidade fantástica, pode atrair talento e pode atrair os interesses, porque hoje a ciência feita sozinha num único laboratório já não existe. Nós temos que perceber que a ciência hoje é cada vez mais exigente. Precisamos ter equipes multidisciplinares e precisamos ter gente com muita experiência. É uma atividade global, e temos que saber tratá-la como tal. Eu posso estar em Brasília, mas, se os melhores especialistas estiverem em Tóquio ou na China, eu tenho de os ter no meu projeto, mas eu estou a trabalhar com eles a partir daqui.
Portanto, era isso o que eu queria deixar. Há claramente um interesse forte da nossa parte, mas precisamos de perceber um pouco melhor qual é a intenção desta cidade. Deixo só esse desafio. Eu acho que Brasília, pela minha experiência - e eu vivi nos Estados Unidos, conheço o mundo em relação à biotecnologia -, no ponto em que está, com as condições que tem, nessa interface do mundo digital, pode ser um farol não só para a América do Sul, mas para todo o mundo moderno.
O SR. PRESIDENTE (Lasier Martins. Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Professor Marcelo Aguiar, já que o nosso ilustre convidado faz tantas referências a Brasília, o senhor gostaria de dizer alguma coisa?
O SR. MARCELO AGUIAR (DEM - SP) - Bem, em primeiro lugar, eu queria agradecer ao Senador Lasier por poder participar desta audiência e cumprimentar o Dr. Carlos Faro.
Infelizmente, o Senador Hélio teve que sair - é um amigo de longa data.
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E eu não sei, Dr. Carlos, com quem o senhor esteve esses dias. Na realidade, eu assumi a Secretaria há muito pouco tempo. Efetivamente faz duas semanas e meia que estou à frente da Secretaria Adjunta da Secretaria da Casa Civil.
Na primeira conversa que tive com o Governador Rollemberg depois da minha nomeação, a primeira missão que ele me deu foi esta: "Olha, Marcelo, primeiro, eu queria que você organizasse uma missão nossa para conhecer o parque Biocant em Portugal, porque eles estiveram comigo aqui, apresentaram uma proposta que achei extremamente interessante, que casa muito bem com o perfil do parque que estamos pensando". A partir do levantamento feito pelos secretários anteriores sobre o melhor perfil que o parque poderia ter... O Secretário anterior, o Oscar, me deu uma informação que eu não conhecia, mas depois confirmei com o Reitor da Universidade de Brasília: mais da metade dos doutores em atividade produtiva aqui no Distrito Federal são da área de biotecnologia. Só isso já justificaria que o perfil do parque fosse mais voltado para essa área.
Nós temos trabalhado, desde que assumi, no sentido de viabilizar essa ideia do Governador. Tive várias reuniões com relação a isso, inclusive com a Terracap, que é a detentora do terreno. A ideia, inclusive, não é de venda imobiliária, de jeito nenhum. Há uma pressão muito forte de alguns setores empresariais para se criar um parque a partir da venda de terrenos. A Terracap começou a acordar para o fato de que terreno é finito e que, se venderem todos os terrenos que tem no Distrito Federal, vai simplesmente desaparecer. Assim, mudaram o perfil de negócio da companhia - eu conversei com o Diretor de Novos Negócios da Terracap, que é responsável pela condução dessa questão do parque pela Terracap, Dr. Mário -, e a ideia passou a ser justamente a contrária a essa posição: era a de se criar um modelo de negócio no qual a Terracap participasse como sócia, criando um fundo imobiliário - não está fechado isso, mas a ideia é criar um fundo que captaria investimentos para a viabilização do parque e a contratação de uma gestora desse parque, que faria toda a gestão no modelo que o Biocant apresentou aqui.
Então, esse é o norte que o Governador me deu, e é esse o norte que nós vamos perseguir. Não sei com quem o senhor conversou, não sei por que surgiram todas essas dúvidas. Estava marcado para conversarmos hoje, mas infelizmente não foi possível. Mas o norte é esse, esse é o norte que nós vamos seguir. Se lhe deram outras informações... Eu não sei com quem o senhor conversou para deixá-lo com tantas dúvidas.
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A ideia desse parque já existe há alguns anos aqui em Brasília, desde 2002, ou antes um pouco. Foi lançada a ideia em 2002, e o governador, à época, o Sr. Joaquim Roriz, fez o lançamento do parque. Havia a concepção de ser um parque digital. Isso criou uma expectativa muito grande no setor de TI da cidade, de que eles seriam os motores desse negócio, criou-se essa expectativa.
Agora, é o que o senhor disse: o parque, mesmo tendo a vocação da biotecnologia, não pode ser só um parque de biotecnologia. Há espaço para todo mundo, até porque o setor de TI é complementar a todas as atividades que são desenvolvidas ali no parque de biotecnologia. Vocês mostraram softwares que são construídos para atender toda a questão da pesquisa, desenvolvimento das pesquisas. Então, eu acho que é possível compatibilizar todos esses interesses empresariais para termos efetivamente um parque que possa fazer jus ao que a nossa cidade merece.
O Senador Hélio já colocou o interesse de os Senadores fazerem uma visita ao Biocant. Nós vamos conversar com Senador Lasier para compatibilizarmos as agendas e o Governador poder ir junto também, ele me pediu para organizar isso. Queremos ir conhecer o parque e aprofundar essa nossa relação.
Era isso o que queria dizer, Presidente.
Muito obrigado.
O SR. CARLOS FARO - Muito obrigado.
Eu fico muito feliz por ouvir as suas palavras. Gostaria muito que o próximo passo fosse em Portugal. Em Portugal, seria mais fácil, então, ao verem a realidade, ao sentirem, ao poderem desfrutar da boa gastronomia portuguesa... Nomeadamente, a região é uma região vinícola muito reconhecida. Mas que também seja possível, nessa altura, dar passos mais concretos.
De fato, eu gostaria que, nessa missão - e eu deposito grande esperança nessa missão -, quem fosse tivesse capacidade de decidir. Que pudéssemos pôr como objetivo, desde já, que o resultado dessa visita não poderá ser só desfrutar da boa gastronomia portuguesa: será também assinar um memorando de intenções, em que nós nos comprometeremos para que, em parceria, possa ser desenvolvido um parque nesses moldes, com esses objetivos.
Eu não quero questões imobiliárias sob a minha gestão de forma alguma. O imobiliário é um meio para atingir um fim. Se nos derem o parque para nós o gerirmos, se conseguirmos pôr com o pool de talentos... A impressão que eu tenho, e eu já estudei a realidade brasileira, senti... Em Coimbra, há 2 mil estudantes brasileiros, na Universidade de Coimbra; é a maior universidade brasileira fora do Brasil. Portanto, eu sei a qualidade daquilo que eu tenho.
Sinto que a comunidade que está a ser gerada agora, a comunidade de investigadores, de estudantes brasileiros que estão no estrangeiro, é um pool muito interessante, mas, ao contrário de Portugal... Eu estava na gênese destes programas doutorais, portanto, eu sabia exatamente onde é que estavam os meus melhores alunos e, quando eu quis fazer o Biocant, eu fui atrás deles e os desafiei a vir.
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Essa realidade não existe aqui. Eu tenho a sensação, por exemplo, de que o nível médio dos alunos que nos aparecem em Coimbra, quanto ao inglês por exemplo, para ser franco, é um grande problema. Se as aulas forem em inglês, os alunos brasileiros terão dificuldade em acompanhar. E, para um negócio internacional como a biotecnologia, há esses detalhes que nós vamos ter que limar em conjunto, porque são políticas de ciência e de educação que têm que ser muito bem integradas e orientadas para o fim comum. Se eu vou ter um desenvolvimento econômico na área de biotecnologia, que é uma área de expressão global, eu tenho que ter quadros bem formados, tenho que saber investigação, tenho que ter uma mentalidade cosmopolita, tenho que tratar o inglês com maior facilidade, porque, se isso não houver, não se vai conseguir competir, porque, depois, chego a uma Harvard, a uma Boston ou ao MIT, e tenho problemas de comunicação e, portanto, nunca vão conseguir interagir com os melhores.
E esse foi o mérito do Ministro Mariano Gago. Ele percebeu quais eram os elementos necessários para nós rompermos com uma tradição e com uma cultura portuguesa que era de algum isolacionismo, muito fechada sobre si própria. Ele abriu-nos ao mundo. E isso, em conjunto com os fundos comunitários, fizeram, de fato, toda a diferença.
E, no Brasil, eu sinto isso, e o meu desafio e o desafio que deixo ao Governo do Distrito Federal é: tenho muito gosto em receber-vos nessa visita, mas vamos pôr, como output da visita, claramente a assinatura de um compromisso, porque estes projetos não se compadecem com namoros muito longos. Nós temos de ser pragmáticos, porque o mundo gira a uma velocidade tremenda. Quer dizer, nós estamos a competir com os chineses, estamos a competir com os americanos, e eles não dormem! E, de fato, nós não podemos perder a oportunidade. E eu sinto que Brasília, neste momento, está no ponto para tomar a decisão e depois implementá-la.
Aliás, eu li a história da vossa cidade e deixem-me que vos diga: com um Presidente que construiu uma cidade destas em três anos e meio, até fica mal aos seus descendentes que não consigam construir um parque em dois anos. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Lasier Martins. Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Perfeito.
Senhores, muito bem. Os namoros de hoje têm de ser rápidos em tudo, não é? Também nesse convênio. Mas percebemos que o caminho está aberto, porque Brasília quer instalar seu parque tecnológico, e os senhores estão vindo ao encontro dessa ideia, estão oferecendo essa oportunidade de entendimento.
O senhor quer nomear a comitiva que o está acompanhando?
O SR. CARLOS FARO - Sim, com muito gosto.
De Portugal, embora sejam brasileiros, temos o engenheiro Josué Júnior, que está ali, que está comigo em Portugal; o Dr. Sérgio Ricardo Ribeiro, presidente do conselho de administração da empresa que tem os direitos de exploração do Biocant no estrangeiro e que, por isso mesmo, é interlocutora do governo regional, que é um empresário e nativo brasileiro de São Paulo; e depois os nossos amigos de Brasília da Going Global, que têm sido os nossos consultores e que nos têm orientado por estes caminhos intrincados de Brasília, o Dr. Gilberto Lima e o Dr. Mauro Ferrara.
São as quatro pessoas que, comigo, fazem parte desse grupo que está atento a implementar e trazer para Brasília o Biocant.
O SR. PRESIDENTE (Lasier Martins. Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Temos também a presença do Senador Pedro Chaves, que chegou durante o andamento da nossa reunião.
Se não houver mais alguém que queira perguntar alguma coisa, nós vamos agradecer muito por sua ilustre visita e desejar que seja apenas o primeiro de uma série de contatos.
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Em combinação com o Secretário Aguiar, vamos projetar a possibilidade da nossa visita.
Estamos aqui à sua disposição. Foi uma honra recebê-lo.
Vamos dar por encerrada a presente reunião, desejando-lhe boa sorte no empreendimento e mais prosperidade ainda ao Biocant. (Palmas.)
(Iniciada às 14 horas e 45 minutos, a reunião é encerrada às 15 horas e 46 minutos.)