09/08/2017 - 1ª - Grupo Parlamentar Brasil - Marrocos

Horário

Texto com revisão

R
O SR. PRESIDENTE (Fernando Collor. PTC - AL) - Declaro aberta a 1ª Reunião do Grupo Parlamentar Brasil - Marrocos com o objetivo de instalar este grupo no Senado Federal.
Inicialmente, agradeço a presença de S. Exª o Embaixador do Reino do Marrocos no Brasil, Sr. Nabil Adghoghi; do Sr. Embaixador Arthur Nogueira, Embaixador do Brasil em Hanoi; das Srªs e dos Srs. Senadores, bem como das demais autoridades que prestigiam este evento.
Convido S. Exª o Embaixador Nabil Adghoghi para fazer parte da Mesa diretora dos trabalhos. (Pausa.)
Um breve histórico do grupo. O Grupo Parlamentar Brasil - Marrocos foi proposto na 54ª Legislatura e instituído pela Resolução nº 14, de 2015, do Senado Federal.
O Grupo Parlamentar tem como finalidade o incentivo e o desenvolvimento das relações bilaterais entre os Poderes Legislativos dos dois países. Para tanto, deverá promover a troca de informações e a ampliação da cooperação interparlamentar.
Na ocasião da apresentação da proposta de criação do grupo, dentre as áreas relatadas na justificação, destacam-se aspectos históricos, econômicos, culturais e políticos que expressam a singularidade de ambas as nações, bem como as aproximam.
Além das profícuas relações diplomáticas entre nossos países, o Brasil reconheceu a independência do Reino do Marrocos em 1956. Nas trocas comerciais, temos uma pauta significativa de bens manufaturados, dentre os quais máquinas e aviões, com destaque para a capacidade de produção da Embraer, além da exportação de grãos. Em contrapartida, há importantes produtos semifaturados, adubos e vestuários.
O Reino do Marrocos é atualmente um grande destino turístico dos brasileiros, admiradores de cidades como Rabat, Casablanca, Marraquexe e Fez.
Em recente visita àquele país, entre os dias 19 e 25 de julho, a convite da Câmara de Conselheiros, o equivalente ao nosso Senado Federal, tive a oportunidade de reunir-me com diversas autoridades do Reino do Marrocos. Durante os eventos programados foram discutidas nossas relações bilaterais, em especial a manifestação de incrementar a parceria entre o Mercosul e o Marrocos, cujo acordo-quadro foi assinado em novembro de 2004.
Como desde 2008 não se registram avanços nessa área, sinalizou-se com a possibilidade de o Marrocos enviar delegação técnica para o Brasil já em setembro próximo, para retomar as negociações.
Dentre os temas abordados, a agricultura é uma área de expressivo intercâmbio comercial em que se identificou o recíproco interesse de cooperação técnico-científica na produção de alimentos, bem como na solução de problemas e entraves que existem e já em parte foram identificados, e a este grupo caberá trabalhar em cima desses itens.
R
Na diplomacia parlamentar foi manifestado, por parte dos integrantes da Câmara de Conselheiros do Reino do Marrocos, interesse em visitar o Senado Federal ainda neste ano, em outubro ou em novembro, podendo coincidir com a visita ao Brasil do Ministro das Relações Exteriores do Marrocos, Chanceler Nasser Bourita, programado para os dias 7 ou 9 de novembro.
O propósito da visita dos parlamentares foi manifestado pelo Exmo Sr. Abdellatif Abdouh, Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Marrocos-Brasil, que também expressou a intenção de celebrar um acordo de cidades irmãs entre São Paulo e Marraquexe, o que já está em curso.
Debateu-se também a questão do Saara Ocidental, tema geopolítico historicamente sensível ao Marrocos. Na ocasião, destaquei que a comunidade internacional reconheceu o caráter sério, credível e pragmático da proposta de solução pacífica apresentada pelo Marrocos e que, desde então, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reafirma o seu apoio ao processo de negociações políticas, além de destacar o realismo e a seriedade dos esforços feitos pelo Marrocos nesse sentido.
Ressaltei ainda a resolução das Nações Unidas, que reafirma também o seu apoio aos aspectos, os mesmos termos utilizados "sérios e credíveis" feitos pelo Marrocos, reiterando a primazia da iniciativa marroquina que visa conceder autonomia à região no quadro da soberania nacional e da integridade territorial.
Manifestei-me também no sentido de esclarecer que o Brasil continua mantendo a posição que sempre defendeu, qual seja, uma posição de apoio aos esforços de negociação, visando a uma solução pacífica, justa e mutuamente aceitável dentro do quadro das resoluções pertinentes das Nações Unidas.
Mais uma vez, agradeço ao governo do Reino do Marrocos pela oportunidade da visita, a S. Exª o Embaixador Nabil Adghoghi, e pelo inestimável apoio do nosso representante diplomático naquele país, Embaixador José Humberto de Brito Cruz.
Por fim, esclareço que a presente reunião de instalação do Grupo Parlamentar abrangerá a aprovação de seu Estatuto e a eleição de sua Comissão Executiva.
Passando à pauta, o primeiro item é a aprovação do Estatuto.
Considerando a necessidade de ajustes no aparato normativo específico que orienta o funcionamento das ações desenvolvidas pelo Grupo Parlamentar Brasil-Marrocos, submeto à deliberação das Srªs e dos Srs. Senadores o respectivo Estatuto do Grupo, na forma apresentada aos senhores membros, cujas cópias já foram distribuídas.
Coloco em discussão o Estatuto. (Pausa.)
Não havendo quem queira discutir, coloco em votação o Estatuto.
As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Item 2 da pauta: adesão de novos membros.
Comunico às Srªs e aos Srs. Senadores que tenham interesse de integrar este Grupo Parlamentar que podem fazê-lo mediante solicitação à Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal do formulário de adesão para preenchimento. Acrescento que, conforme Resolução nº 14, de 2015, em seu art. 6º, §§6º e 7º, compete à Secretaria-Geral da Mesa, na forma de sua estrutura administrativa, secretariar as reuniões e dar apoio administrativo aos grupos e às frentes parlamentares internacionais, cabendo à Secretaria de Apoio aos Órgãos do Parlamento (SAOP), na pessoa da Srª Silvânia Alves de Azevedo, coordenar a execução dos trabalhos.
R
Devo registrar as adesões de S. Exª a Srª Senadora Ana Amélia e de S. Exªs Srs. Senadores Acir Gurgacz, Antonio Anastasia, Armando Monteiro, Cristovam Buarque, Jorge Viana, José Agripino, Fernando Collor, Roberto Requião e Wilder Morais, primeiros integrantes do Grupo Parlamentar Brasil-Marrocos. Esclareço ainda que os integrantes a serem eleitos para a primeira Comissão Executiva, conforme expresso no §1º do art. 7º do Estatuto do Grupo Parlamentar agora aprovado, serão também qualificados como membros fundadores do Grupo Parlamentar.
Passando ao item 3, vamos à eleição da Comissão Executiva.
De acordo com o art. 9º do Estatuto do Grupo Parlamentar Brasil-Marrocos, a Comissão Executiva é composta por um presidente de honra, um presidente executivo, dois vice-presidentes e três secretários. Informo que a chapa recebida até o presente momento figura com a seguinte composição: Presidente de honra, S. Exª Senador Eunício Oliveira; Presidente do Grupo, S. Exª Senador Cristovam Buarque; Vice-Presidentes, S. Exª Senadora Ana Amélia e S. Exª Senador Jorge Viana; Secretários, S. Exªs Senador Antonio Anastasia, Armando Monteiro e José Agripino.
As Srªs e os Srs. Senadores que queriam ocupar ou indicar nomes para os cargos da Comissão Executiva podem fazê-lo neste momento. (Pausa.)
Não havendo indicações, consulto as Srªs e os Srs. Senadores se podemos proceder à eleição por aclamação.
As Srªs e os Srs. Senadores que aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Declaro eleita a Comissão Executiva do Grupo Parlamentar Brasil Marrocos da seguinte forma:
Presidente de honra: Senador Eunício Oliveira.
Presidente: Senador Cristovam Buarque.
Vice-Presidentes: Senadora Ana Amélia e Senador Jorge Viana.
Secretários: Senador Antonio Anastasia, Senador Armando Monteiro e Senador José Agripino.
Os demais Senadores também considerados membros natos: Senador Acir Gurgacz, Senador Fernando Collor, Senador Roberto Requião e Senador Wilder Morais.
Convido para que assuma a Presidência do Grupo Parlamentar Brasil-Marrocos, bem como da presente reunião, S. Exª o Senador Cristovam Buarque.
R
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. PPS - DF) - Boa tarde a cada uma e a cada um!
Eu quero agradecer muito ao Presidente, Senador Collor, por haver me indicado e agradecer muito aos Senadores que aceitaram essa indicação.
Os meus agradecimentos por isso têm alguma razão de ser: primeiro, porque eu sou um defensor, Sr. Embaixador, desses grupos parlamentares que unem o Brasil a outros países.
O mundo ficou global, e, nesse processo de globalização, uma das coisas que mais resiste a globalizar-se, em geral, é o Parlamento. Nós somos muito locais, até porque os estrangeiros não votam em nós. Então, nós somos provincianos. A nossa vida eleitoral é local, mas, cada vez mais, teremos que abrir as nossas relações, os nossos contatos. Então, eu sou um entusiasta dos grupos parlamentares.
Em segundo lugar porque é o Marrocos. Eu tenho um carinho muito especial, pois tive grandes amigos aqui - dois pelo menos - que foram embaixadores do Marrocos, os dois com o nome Larbi. Um, há mais de 30 anos, ainda quando eu era reitor, Senador José Agripino, um grande amigo, falecido há pouco tempo - por coincidência, eu estava no Marrocos -, fez uma resenha de um livro meu. Aliás, um livro meu a respeito do qual eu tenho um grande orgulho de dizer que, certa feita, na primeira página do jornal, estava estampada a foto do Presidente da República descendo a rampa com um livro no braço, Senador Anastasia, e, quando eu fui ver, era um livro meu; e o Presidente era o Presidente Collor.
Pois bem, eu sempre tive essa boa relação. Além disso, eu comecei a ter mais contato com a história quando um grande amigo meu, o jornalista Gilberto Dimenstein - e estou falando de mais de 30 anos atrás -, disse-me que a família dele teria vindo do Marrocos. Famílias judaicas vieram do Marrocos para a Região Norte, para o Pará. E há livros sobre essa migração. Então, o Dimenstein também me aproximou.
Depois, hoje, eu tenho dois grandes amigos marroquinos, posso dizer, no cenário internacional: um é o Cônsul do Brasil no Bahrein, Khalid Ghozlani, que é uma figura muito interessante. Trata-se de um marroquino, casado com uma brasileira, que é Cônsul e com quem estive na embaixada recentemente. E o outro é um marroquino muito interessante, um homem mais velho do que eu, chamado Mohamed Benaissa. Este foi embaixador do Marrocos em Washington; foi Ministro da Cultura; é prefeito, há mais de 30 anos, de uma pequena cidade; e é um homem que conhece todo mundo no mundo inteiro - conhece pessoalmente até. Ele ficou meu amigo e eu comparti com ele o conselho que escolhe quem recebe o Prêmio Isa, um prêmio dado pelo Rei do Bahrein, no valor de US$1 milhão, a cada dois anos, para quem prestou uma grande contribuição à humanidade.
Eu fui membro desse júri por duas vezes. O Benaissa é membro permanente; é uma espécie de coordenador. E eu fui escolhido graças ao Embaixador Larbi, seu antecessor, que me indicou para o Benaissa. E terminamos ficando amigos.
O Marrocos, além disso, é um país fascinante, de uma cultura variada, com cidades formidáveis. Naquela lista que o Senador Collor leu, eu colocaria Fez, que eu acho fascinante. É uma cidade onde se tem vontade de ficar muito tempo. E é um país que lhe permite viajar mil anos, facilmente, quando se muda de cidade, como em Fez e Rabat; você viaja, em duas horas, mil anos.
R
Então, fico muito feliz de estar aqui e fico feliz de ter aqui, vamos chamar assim, o Embaixador, o Conselheiro Arthur Nogueira, que está no Vietnã, que foi meu aluno no Instituto Rio Branco, um dos, e que iniciou uma aula que eu vou ter sobre o Vietnã quando sair daqui. Então, tudo isso me alegra muito.
E, Embaixador Nabil, quero dizer que esse grupo a gente quer fazer funcionar. Uma das coisas que caracterizam o Marrocos aqui em Brasília é a excelente culinária da Embaixada. (Risos.)
Então, nós estamos prontos para sermos convidados para o dia que o senhor quiser. Eu coordeno aqui os Senadores. É tão boa a comida lá que, um desses dias, eu estava num restaurante, gostei da comida, falei não sei o quê, aí trouxeram o cozinheiro que tinha sido da Embaixada, que é um marroquino que decidiu ficar aqui. (Risos.)
E virou cozinheiro em restaurantes importantes.
Eu quero que a gente faça o possível. Mas não só isto, que vai ser em benefício nosso, da culinária, mas um intercâmbio cultural. É um país fascinante pela cultura e é perto, só há esse riozinho chamado Atlântico entre nós. Não é difícil de a gente atravessar esse rio, e o senhor pode contar conosco. Eu me coloco à disposição para fazer o possível para que o Senador Collor possa dizer que a minha indicação foi correta porque eu fiz o que é possível. Conte comigo, Embaixador, e vamos aprofundar ao máximo a relação entre os nossos dois povos.
É uma relação muito antiga - muito antiga! Eu creio que o Marrocos foi um dos primeiros países a reconhecer o Brasil na independência, ainda no tempo do Imperador aqui. Não sei se ele esteve lá, eu acho que não, ele viajou mais para a outra ponta do Magreb. Mas somos países com muitas relações, há muitos marroquinos no Brasil, e temos um carinho muito grande pelo seu país.
Então, Senador Collor, vou fazer o possível para que esse grupo realmente seja muito ativo. Muito obrigado.
E obrigado aos Senadores, ao Senador Anastasia, ao Senador José Agripino, que ratificaram a indicação do Presidente Collor.
Finalmente eu queria dizer o seguinte: a lista dos membros desse grupo é realmente muito boa. Eu acho que o senhor deve ter procurado Senadores com um cuidado muito especial.
Então, terminada essa parte, eu gostaria de oferecer a palavra ao Embaixador Nabil, para que possa falar em nome do Rei do Marrocos.
Eu me esqueci de dizer uma coisa: hoje, nessa conturbação geral, o Rei do Marrocos aparece como uma figura capaz de dialogar com todos os lados. No caso, por exemplo, do Golfo Pérsico, onde eu tenho uma relação, tanto por ter sido do conselho que o Rei criou para escolher os membros, este é um lado, como também por eu ter uma admiração profunda pelo Qatar, pelo que faz pela educação. Então, esses dois hoje estão quase que em guerra. E o Rei do Marrocos é um dos poucos dirigentes do mundo que dialoga com todos os lados, tem viajado muito pela África, eu tenho visto isso, e é uma voz que hoje, na África, é bastante respeitada. Então, o senhor pode falar em nome dele e em nome de todo o reino.
O SR. NABIL ADGHOGHI - Sr. Presidente, Senador Fernando Collor, Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, Sr. Senador Cristovam Buarque, Presidente do Grupo de Amizade Marrocos-Brasil aqui no Senado Federal, Srs. Senadores Antonio Anastasia, José Agripino, Wilder Morais, eu gostaria, em primeiro lugar, de expressar toda a minha gratidão, meu reconhecimento a V. Exªs por aceitarem integrar esse Grupo de Amizade Marrocos-Brasil.
R
Na qualidade de Embaixador de Sua Majestade aqui no Brasil, é um grande orgulho ver o Marrocos contar com amigos tão prestigiosos como V. Exªs aqui no Brasil. Isso ecoa e reflete a grande estima e o grande apreço que o Marrocos tem pelo Brasil, sentimentos, Sr. Presidente, que foram devidamente expressados a V. Exª na ocasião da visita oficial que o senhor acabou de realizar, em julho passado, ao Marrocos.
Foi uma visita muito exitosa, que nos mostrou o rumo e a orientação para uma relação forte, uma relação confiante e uma relação cada vez mais ambiciosa entre o Marrocos e o Brasil. Mais uma vez, Sr. Presidente Fernando Collor, queira aceitar todos os agradecimentos das autoridades do Reino do Marrocos.
Sr. Presidente, Excelências, Srs. Senadores, a relação entre o Marrocos e o Brasil se destaca hoje pelo compartilhamento de valores de democracia e de direitos humanos. Destaca-se também pela visão convergente no que toca aos temas globais, como o desenvolvimento sustentável, o meio ambiente e o multilateralismo. Gostaria de salientar, como o Sr. Presidente Cristovam Buarque acabou de dizer agora, que a dinâmica reformadora empreendida no Marrocos, sob a liderança de Sua Majestade o Rei Mohammed VI está levando o país para mais democracia, mais abertura e mais modernidade.
Esse compromisso permite a consagração dos valores de abertura e de tolerância, de promoção dos direitos humanos e de liberdades individuais, assim como da pacífica coexistência entre as culturas e as religiões. O Sr. Presidente salientou esse fato da imigração de marroquinos de confissão hebraica. Hoje em dia, mais de 20% de brasileiros de confissão judaica são de origem marroquina, vieram na era da borracha, Sr. Presidente, no século XIX, e se instalaram no Amazonas. A primeira sinagoga aberta no Rio de Janeiro foi dos marroquinos mesmo. E a dinâmica que o Marrocos conhece, dinâmica endógena, interna, reflete-se também no âmbito diplomático, já que o Marrocos preside, desde novembro de 2016, a COP 22, essa Conferência que foi lançada em junho de 1992 aqui, no Brasil, sob a liderança do Sr. Presidente, e o Marrocos teve a honra de receber o mundo. O maior evento diplomático que a gente organizou foi em novembro passado, sobre um tema tão importante como as mudanças climáticas.
Também o Marrocos copreside, junto com a Alemanha, a iniciativa global sobre Migrações e Desenvolvimento. Este é um tema muito importante entre a África e a Europa, devido ao diferencial demográfico que existe entre os dois continentes. Também o Marrocos copreside, junto com os Estados Unidos, a Iniciativa global de Luta contra o terrorismo e o extremismo violento.
R
Sr. Presidente, Srs. Senadores, a política externa multidirecionada do Marrocos, como o Sr. Cristovam Buarque acabou de destacar, permite hoje ao Marrocos desenvolver um papel regional destacado na África, no mundo árabe e no Mediterrâneo. Por sua vez, o Brasil se posiciona como global player, um ator global cuja influência na agenda multilateral aumenta e cuja presença internacional cresce cada dia mais.
Rabat e Brasília compartilham a mesma convicção, de que a parceria Sul-Sul é um elemento fundamental para o fortalecimento e a estabilização do equilíbrio em nível mundial. Por esses motivos, Marrocos e Brasil têm o potencial de construir uma relação ainda mais forte e mais confiante.
Essa nova dinâmica requer o fortalecimento dos laços entre as instituições legislativas dos dois países. O intuito, Sr. Presidente, Srs. Senadores, é que os parlamentos do Marrocos e do Brasil se apropriem cada vez mais da agenda bilateral para impulsionar e incentivar os atores institucionais - o governo, no caso, e também os atores privados - dos dois lados a se aproximarem ainda mais e a concretizarem ações inovadoras.
Nesse sentido, Sr. Presidente, Srs. Senadores, o ano de 2017 está sendo um ano rico e promissor. Além deste evento solene hoje no Senado Federal, com a criação do grupo de amizade, o comércio bilateral evoluiu de uma maneira satisfatória entre os dois países. As duas chancelarias tiveram uma nova sessão de consultas políticas com a visita ao Marrocos do Embaixador Fernando Abreu em maio passado. As agências de cooperação, a Agência Brasileira de Cooperação e a Agência Marroquina de Cooperação Internacional, estão trabalhando para desenvolver um tipo de parceria tanto bilateral quanto tripartida para países africanos. E já foram identificados dois países onde o Marrocos e o Brasil vão desenvolver uma ação de cooperação técnica: a Guiné (Conacri) e a Guiné Bissau.
Também uma comitiva militar das Forces Armées Royales visitou pela primeira vez o LAAD, a iniciativa LAAD Defesa e Segurança, que aconteceu em abril passado no Rio de Janeiro. A comitiva marroquina teve um encontro muito interessante e muito promissor tanto com o Ministro da Defesa, Sr. Raul Jungmann quanto com o Sr. Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, Sr. Sobrinho.
Mais recentemente, também nessa dinâmica bilateral, think tanks marroquinos e brasileiros se reuniram em São Paulo para tentarem identificar quais são os setores nos quais a cooperação pode ser desenvolvida. Nesse sentido, foram identificadas áreas como segurança alimentar, conectividade logística, turismo e também cooperação científica e técnica, sobretudo entre a Embrapa e o ministério marroquino de agricultura.
R
Tudo isso para dizer, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que a relação entre o Marrocos e o Brasil vive uma boa dinâmica, amparada por um marco jurídico cada vez mais rico, cada vez mais abrangente, e que vai se enriquecer, dentro em breve, esperamos, antes do final do ano, com a assinatura do ACFI, Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos.
O Marrocos vai ser um dos primeiros países com quem o Brasil vai assinar esse acordo de nova geração. O Brasil já experimentou esse quadro jurídico com países como o México, Colômbia e Angola, e o Marrocos vai ser um dos primeiros que vai experimentar. Já está tudo finalizado. Só falta a assinatura. Estamos aguardando o timing apropriado.
O Sr. Presidente já tocou neste assunto durante a visita ao Marrocos e também no acordo em matéria de defesa e no acordo para evitar a bitributação em matéria de transporte aéreo e marítimo, porque temos a Maroc, a companhia marroquina que liga São Paulo a Casablanca - são cinco voos por semana; a partir do ano que vem será um voo diário.
Para comparar, senhoras e senhores, a Maroc começou esta ligação em 1977. No mesmo ano, o Marrocos lançou Casablanca/Rio de Janeiro, e Casablanca/Nova York. Em 1992,1993, devido às condições econômicas, o voo entre Marrocos e Brasil foi suspenso. Só agora, em 2013, voltou, e a dinâmica é tão boa que vai virar um voo diário. Em três anos de atividade, o voo será diário. Aproveitamos cada vez mais da visita de turistas brasileiros; são mais de 35 mil visitantes em Marrocos. Mas também porque Casablanca virou um hub aéreo, Sr. Presidente, porque para chegar à Europa, à África Ocidental ou ao Oriente Médio, é muito mais fácil chegar até Casablanca, já que a ligação, o tempo é 8h30 entre Casablanca e São Paulo.
Também neste ano de 2017 o nosso objetivo é de iniciar negociações técnicas, para se chegar a um acordo de livre comércio entre o Marrocos e o Mercosul. Como o Sr. Presidente antecipou, o Acordo-Quadro foi assinado em 2004. Em 2008, começamos negociações técnicas, mas, infelizmente, não houve o prosseguimento dessas negociações. Para o Marrocos, como torço junto às minhas autoridades, não é possível para um país que assinou acordo de livre comércio com a União Europeia, Turquia, Estados Unidos e, dentro do Acordo de Agadir, com o Egito e com países do Golfo, e também com a ECOWAS não é possível dar as costas para um mercado tão promissor como o Mercosul. A ideia é de tentar superar as dificuldades técnicas e iniciar essas negociações técnicas. Esperamos que, em breve, possamos alcançar um acordo de livre comércio que coloque esse espaço comum do Atlântico Sul como espaço comum mais próspero e mais ligado economicamente.
R
Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, o Marrocos está tão satisfeito com a boa dinâmica na sua relação com o Brasil quanto ambicioso para fortalecer cada vez mais esses laços de cooperação e de amizade com essa grande nação que é o Brasil.
Minha convicção pessoal é no empenho de V. Exªs com seus homólogos na Chambre des Conseillers, no Marrocos. Nossos dois países vão promover juntos uma parceria inovadora, que envolva mais coordenação diplomática multilateral, que permita mais parcerias e intercâmbios comerciais, que facilite mais conectividade logística, aérea e marítima, e que proporcione mais redes de cooperação universitária e de pesquisa científica.
A partir de uma perspectiva mais global no que diz respeito às relações entre Brasil e África, é importante sublinhar que, além das afinidades históricas e culturais que unem os dois países, hoje em dia há um imperativo para a construção de uma ordem mundial mais equilibrada, mais justa.
O continente africano é um polo em ascensão, é a região com maior potencial de crescimento econômico do Planeta. Mas especialmente o potencial econômico do Atlântico Sul evidencia a importância de requisitos de segurança marítima para lidar com as ameaças, sobretudo no Golfo da Guiné. O Marrocos expressa aqui o seu apreço pela visão estratégica adotada pelo Brasil, que apreende, que considera o Atlântico Sul como seu esboço estratégico imediato.
Para concluir, Sr. Presidente do Grupo de Amizade, Srª Senadora Ana Amélia, Srs. Senadores, mais uma vez, agradeço muito a V. Exªs por terem aceitado o convite do Sr. Presidente Fernando Collor para se juntarem a esse grupo de amizade. De minha parte, o meu compromisso é forte, não há dúvida nenhuma.
Para facilitar o seu trabalho, desde já, com a coordenação do Sr. Presidente Cristovam Buarque, vamos organizar um encontro, dependendo da agenda de V. Exªs, para celebrar esse grande evento para o Marrocos, de ser considerado aqui, no Senado Federal da República Federativa do Brasil.
Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)
O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Sr. Presidente, só um comentário rápido.
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. PPS - DF) - Pois não.
O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Eu acho que esse evento... Eu queria, inicialmente, cumprimentar o Senador Fernando Collor pelo empenho que teve em montar esse Grupo de Amizade Brasil-Marrocos e fazer um registro. Eu estive no Marrocos duas vezes já - pousei em Casablanca e estive duas vezes em Marraquexe. Guardo de lá muito boas memórias do país e do povo.
Há uma coisa singular: o Rei do Marrocos é adorado pelo povo do Marrocos. É uma coisa curiosa. E há outro detalhe: ele é uma espécie de traço de união entre os países da África, África do Norte, e deve ter a sua capacidade de diálogo com o restante do continente africano, o que é uma coisa muito importante, em tempos de conflito, como o que estamos assistindo no norte da África e em países próximos. A interlocução de uma pessoa com a credibilidade do Rei do Marrocos é muito importante. E é importante para nós brasileiros termos essa proximidade com esse interlocutor confiável, tendo em vista que o Brasil é um país muito apreciado pelo mundo inteiro por razões as mais diversas. Então, este não é um grupo de amizade qualquer; é um grupo de amizade que tem o objetivo muito claro de estabelecer uma interlocução muito próxima com um país que é liderado por uma pessoa muito estimada, que é o Rei do Marrocos, e que tem uma interlocução muito poderosa, bastante ampla, com muitos países, inclusive onde reside forte conflito. E ele se apresenta como uma das pouquíssimas pessoas capazes de exercer, pela via do diálogo, a capacidade de moderação, que pode ser importante em alguns momentos.
R
Por essa razão, eu acho que a missão do Presidente Cristovam Buarque não é uma situação qualquer; é uma posição de importância, tendo em vista o que está ocorrendo naquele pedaço do mundo e pelo que representa o Marrocos e o seu dirigente máximo, o Rei do Marrocos.
Cumprimentos a V. Exª e ao Presidente Fernando Collor, que tomou a iniciativa de fazer as tratativas todas para que este evento acontecesse e ocorresse a instalação do grupo de amizade Brasil-Marrocos.
Cumprimentos ao Embaixador Nabil.
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. PPS - DF) - Consulto se algum Senador quer usar da palavra. (Pausa.)
Não havendo quem o queira, antes de encerrar, quero parabenizar o Embaixador pelo seu português. Não é tão comum um português com essa qualidade.
Proponho a dispensa da leitura e a aprovação da ata dessas reuniões para que possamos colocá-las no Diário do Senado Federal.
Agradeço bastante ao Senador Collor, não só pela iniciativa de criar este grupo, pela escolha dos Senadores, como também por ter me indicado para ser o coordenador.
As Srªs Senadoras e os Srs. Senadores que aprovam a ata permaneçam como se encontram. (Pausa.)
A cada uma e a cada um eu agradeço bastante a confiança.
Está encerrada esta reunião.
(Iniciada às 14 horas e 38 minutos, a reunião é encerrada às 15 horas e 16 minutos.)