21/11/2017 - 13ª - CPI dos Maus-tratos - 2017

Horário

Texto com revisão

R
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Em nome de Deus, declaro abertos os trabalhos da CPI dos Maus-Tratos Infantis, que visa investigar maus-tratos infantis no Brasil.
Nós faremos a primeira parte.
Foram convocados para esta reunião o Sr. Marcos Madureira, que nós ouviremos primeiro, e, em seguida, nós ouviremos o Sr. Sérgio Rial, e o farei em sessão reservada. Por isso, eu peço ao Sr. Sérgio Rial que fique na sala da CPI, ali dentro.
Convido o Sr. Marcos Madureira, Presidente do Santander Cultural, a sentar-se aqui. Se o advogado também quiser se sentar ao lado dele, pode ficar à vontade.
R
O senhor precisa de tempo, Doutor, para poder conversar mais com ele?
Já foi feita uma identificação do Doutor, a sua OAB...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Quais documentos? É Doutor David Marques Muniz, OAB 106087. Identifica aí.
Sr. Marcos Madureira, o senhor tem direitos constitucionais que pode exercer. O senhor tem conhecimento disso, o seu advogado já deve ter-lhe dito que o senhor pode falar ou pode não falar, usar seu direito constitucional de ficar calado, a lei lhe permite isso.
Só gostaria de dizer que nenhuma CPI no mundo, quer dizer, pelo menos no Brasil... Eu sempre comandei CPIs muito duras aqui. A CPI não produz acusação, ela investiga aquilo que lhe chega à mão. E todos nós sabemos a razão por que os senhores estão aqui, essa celeuma toda em torno dessa exposição no museu em Porto Alegre, e a CPI, com a denúncia na mão, tem a obrigação de investigar, de investigar tudo e todos. É uma reação natural das pessoas não querer vir a uma CPI, mas a CPI é um fórum onde as pessoas podem de fato falar, a Comissão Parlamentar de Inquérito investiga, mas não é uma Comissão Parlamentar de Inquérito que está aqui para acusar e dar veredito acusatório. A CPI está aqui para ouvir e dizer: "Não vi, não tinha, está inocentado, está inocentado..." É só um processo, é como uma pessoa que vai depor como testemunha em qualquer outro lugar. De maneira que o senhor tem o tempo que achar conveniente para poder fazer a explanação que o senhor quiser, dizer aquilo que a mídia não falou ou que falou de forma distorcida.
O senhor pode ficar à vontade e, após a sua fala, eu então vou... O nosso Relator está acabando de desembarcar, mas eu posso ouvi-lo sem o menor problema, até porque nós precisamos de quórum qualificado para poder deliberar. Então, nós não estamos deliberando, eu estou ouvindo aquilo que nós já convocamos.
Tem a palavra o Sr. Marcos Madureira.
O SR. MARCOS MADUREIRA - Obrigado, Senador.
Nós fazemos questão de aqui... Quando o senhor nos convocou, eu estive presente, mas infelizmente não foi possível... Estamos aqui de novo hoje, o que para nós é uma oportunidade de esclarecer os fatos.
Eu queria começar as minhas palavras, dando uma breve visão do que é o Centro Cultural em Porto Alegre.
É um edifício do ano de 1932, construído para ser a sede do Banco Nacional do Comércio e que é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Com a compra do Santander do Banco Meridional, decidimos, em 2001, não o usar para as nossas atividades comerciais, mas, sim, realizar uma importante obra que consumiu, na época, R$2 milhões, o que seriam hoje cerca de R$40 milhões, e transformá-lo em um centro cultural que é referência no Sul do País.
R
Nesses 16 anos de atividades, baseados sempre no tripé artes visuais, cinema e música, nós tivemos 5 milhões de visitantes, 14.129 sessões de cinema, 70 exposições de artes visuais, com artistas famosos como Picasso, Miró, Brennand, Vik Muniz. Nós temos também, na parte musical, 727 shows e 700 aulas para a comunidade, de chorinho e samba. Passaram por ali 600 mil alunos e professores de 16 mil instituições públicas e privadas, e, finalmente, 4 mil pessoas da terceira idade foram atendidas pelo Centro de Inclusão Digital.
Nesse período, Senador, nós recebemos inúmeros prêmios, que não cabe aqui listar. Comento apenas que, no ano passado, a exposição Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo, do grande artista pernambucano Francisco Brennand, foi eleita a melhor exposição do País pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte.
Concentrando-nos apenas nas exposições, que é o caso dessa aqui, em pauta, em 2016, tivemos duas mostras do que nós chamamos de Rio Grande do Sul Contemporâneo, que são mostras em que damos oportunidade para jovens artistas gaúchos terem um espaço de exposição.
Tivemos ainda a exposição do Brennand, que comentei antes, e a mostra biográfica do grande escritor gaúcho Simões Lopes Neto, que, posso dizer, para o Rio Grande do Sul é o que Monteiro Lobato representa em São Paulo.
Em 2017, tivemos mais uma exposição do Projeto Rio Grande do Sul, a mostra coletiva de três grandes artistas brasileiros da década de 80, Zerbini, Barrão e Albano Afonso e, finalmente, recebemos a exposição que é foco do debate de hoje, Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. Essa exposição, Senador, era composta por 263 obras, de artistas como Portinari, Volpi e Lygia Clark, todas de artistas brasileiros, produzidas entre os anos de 1880 e o início deste século, todas já expostas em outros museus e centros de cultura no Brasil e no exterior. Portanto, nenhuma delas era inédita e, em nenhuma das mostras em que foram expostas, haviam suscitado qualquer tipo de manifestação.
Permita-me expor rapidamente, Senador, para o entendimento de todos, como é o processo que culmina em uma exposição, desde a sua proposta até sua realização. E, para deixar mais ilustrativo, eu queria usar o próprio exemplo desta exposição Cartografias.
Quem nos trouxe a proposta foi o Curador Gaudêncio Fidélis, gaúcho, que é Doutor em História da Arte pela Universidade de Nova York. Nosso centro, pela referência que é, recebe inúmeras propostas de artistas e curadores para a realização de mostras. Então, o senhor poderia nos perguntar por que decidimos abrir espaço para essa exposição. Pelo projeto que nos foi apresentado, pelos artistas que compunham a amostra e pelo tema "Diversidade". Nós, no Centro Cultural, respeitamos a diversidade, porque ela é uma característica, uma das riquezas do nosso País, que acolhe todos os credos, raças, religiões, cultura, etnias, formações e gostos. Nós respeitamos todos.
R
É fundamental que entendamos que a concepção, a escolha das obras e o projeto são de autoria do curador. Não cabe ao espaço cultural, por uma questão de censura, intervir ou influenciar.
Um dia antes da inauguração, Senador, como é de praxe no Centro Cultural, realizamos uma coletiva de imprensa para os jornalistas do segmento e uma apresentação aos professores da rede de ensino para que pudessem conhecer a exposição e, caso tivessem interesse, solicitar uma visita guiada.
Essa amostra ficou aberta cerca de um mês e recebeu a visita de 27.551 pessoas. Infelizmente, nos dias 6, 8 e 9 de setembro, recebemos visitas consecutivas de um pequeno grupo de pessoas, quatro, lamentavelmente com uma atitude extremamente agressiva com os visitantes e com os artistas que estavam presentes. Em uma dessas visitas, realizaram um vídeo retratando uma parte muito pequena dessa amostra, 4 obras de um total de 263, passando uma visão, a nosso ver, totalmente distorcida e usando termos que seriam impossíveis de eu repetir aqui. A forma como ele foi exposto e sua divulgação nas redes sociais resultaram em um nível de críticas e ameaças que nos levaram a decidir pela antecipação do término da mostra - nós fechamos com um mês de antecedência. No comunicado que enviamos à imprensa, informamos que estaríamos antecipando o encerramento devido a esse tema de insegurança que estava acontecendo.
Esse tema, Senador, foi abordado de forma extensiva seja pelas redes sociais, seja pela imprensa, porém eu me permito destacar a reportagem da revista Época de 18 de setembro passado - depois eu a passarei às suas mãos -, pp. 44 a 48, que, mediante um trabalho detalhado da repórter, expõe de maneira didática todo o processo que ocorreu ali.
Como gestor, não é meu papel explicar a exposição nem o entendimento e o significado das obras - isso, realmente, é um papel do curador e dos artistas -, porém, de forma alguma, nós compactuamos com a visão que foi passada, de uma forma que não me cabe aqui analisar.
Para encerrar, Sr. Presidente, eu aproveito a oportunidade que tenho de estar nesta CPI, que trata de um tema que para nós do Santander é fundamental, que é a proteção da criança e do adolescente, para lhe passar alguns números do que fazemos nesse campo.
Nós temos o orgulho, Senador, de ter o terceiro maior programa de mobilização de apoio à criança e ao adolescente no Brasil, depois de dois grandes programas que o senhor conhece e que têm meios de comunicação por trás. É o programa Amigo de Valor, que nós já realizamos há 15 anos, desde 2002. Nesse período, nós apoiamos mais de 600 iniciativas sociais voltadas à garantia de direitos em 199 Municípios do País. Sempre, ou na maioria das vezes, atuamos, Senador, nos casos de crianças que já sofreram abusos. Nós destinamos, nesse período, mais de R$100 milhões. Nós beneficiamos, nesse programa, 46 mil crianças e adolescentes e suas famílias, pois tratamos também a família. Só em 2016, nós direcionamos 11 milhões para 37 projetos em 27 Municípios localizados em 8 Estados. Nesses projetos, atualmente, 2.769 crianças e adolescentes em situação de risco social e 1.882 famílias encontram-se em atendimento. Os projetos que apoiamos, como eu disse, tratam principalmente das temáticas de violência familiar ou comunitária, crianças ou adolescentes sob a ameaça do uso de drogas e medidas socioeducativas para adolescentes já infratores.
R
Termino dizendo que deixo aqui, à disposição dos presentes, o livro dos quinze anos do Santander Cultural e um resumo desse programa Amigo de Valor que a gente patrocina.
Mais uma vez, Senador, obrigado pela oportunidade de estar aqui e poder explicar de viva voz esse caso.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Muito obrigado, Sr. Madureira.
Na verdade, o nosso foco é um só. Muito obrigado pelas informações que o senhor passou, mas, as atividades do banco em si, a idade, a vontade de fazer cultura, isso para nós é secundário, porque o meu foco é a criança. E me admira muito que quem tem esses números todos cuidando de crianças não prestasse atenção a uma exposição que, ainda que fosse uma imagem só... A criança, na sua primeira infância, carrega o bem ou mal, os traumas ou a falta de trauma, o que acumula no seu psicológico por aquilo que lhe é dado, aquilo que... É por isso que o Estatuto da Criança e do Adolescente trata isso com muita claridade.
Mas eu gostaria de saber do senhor - até porque, pelo que sei, não foi tratado com o senhor, não era o senhor à época o diretor da área cultural - o seguinte: quando esse projeto foi aprovado, ele foi aprovado já na sua gestão?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Senador, eu entrei no banco em 2005. Nesse ano, eu já assumi a presidência do Santander Cultural.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Não, não, assim, objetivamente. O senhor já era o Presidente do Santander Cultural?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Eu era o Vice-Presidente Executivo.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Não, não. O que eu quero saber é o seguinte: essa exposição foi tratada com o senhor, foi o senhor que a aprovou?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Sim.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - A informação que nós temos é que ela aconteceu com base no projeto de renúncia fiscal da Lei Rouanet. Qual foi o custo dessa exposição? O senhor pode...
O SR. MARCOS MADUREIRA - Nessa exposição foram gastos cerca de R$800 mil, Senador. E o Santander, quando houve esse... Só explicando, Senador, como funciona. Nós recebemos a visita do curador...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Não, não, eu conheço o processo. Eu sei, é um projeto que vai para o Ministério da Cultura, ele tem que aprovar o projeto e depois o sujeito sai captando recursos. E ele captou com vocês. E o que eu estou perguntando é o seguinte: qual foi o valor...
O SR. MARCOS MADUREIRA - Oitocentos mil, que nós devolvemos ao Fisco.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Oitocentos mil reais, que é renúncia fiscal.
O SR. MARCOS MADUREIRA - Sim. Nós devolvemos o valor integral com multas e correção monetária.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Devolveram a partir de quando?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Quando houve essa polêmica, que pessoas interpretaram de uma forma...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Sim. Assim que houve a polêmica, o Santander resolveu devolver aquilo que havia sido renúncia fiscal, aquilo que foi... Então, esses R$800 mil vocês voltaram para o Fisco. Quer dizer, de qualquer maneira, deu duas vezes: fez a renúncia quando foi para a exposição e, depois, mediante a polêmica, resolveu devolver corrigido para o Fisco.
Quem é que faz a triagem? Foi o senhor que autorizou? Quem é que autoriza, que faz a triagem e que viu? Porque, na verdade, há um portfólio, e qualquer... O senhor é pai?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Sim, sou pai de dois filhos.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - E qualquer pai - eu sou pai de quatro filhas -, qualquer pai que veja aquelas imagens e tenha criança em casa, se choca, não há como não se chocar. Eu não vou mostrá-las aqui porque elas circularam; não há razão para mostrá-las aqui, mas o senhor conhece as imagens.
R
Isso foi no portfólio? Quando eles foram pedir a renúncia, mostraram e disseram "É isso aqui que nós vamos expor, há tantas obras, mas essas também estão"? Ainda que fosse uma... Nós estamos falando de criança. Não vamos nem entrar na história da cristofobia, da catolicofobia, da evangelicofobia, da familiafobia, daquelas imagens todas em cima do Cristo, daquele deboche à Nossa Senhora, mas da bestialidade, de crianças serem levadas para ver animal ser estuprado, dois brancos estuprando um negro.
Eu estou falando da criança, porque o Estatuto... A minha pergunta para o senhor é a seguinte: o senhor conhece o Estatuto da Criança e do Adolescente?
O SR. MARCOS MADUREIRA (Fora do microfone.) - Sim.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Vocês sondam o Estatuto na época de uma exposição como essa? Porque a violência contra o Estatuto da Criança e do Adolescente é claríssima ali. O Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é crime você expor uma criança. Quando você leva, ainda que direcionada, uma criança pela mão de um professor para dentro de uma exposição como essa...
A minha pergunta é a seguinte: o senhor conhece e foi o senhor que autorizou? O senhor conhece o Estatuto da Criança e do Adolescente. Depois de tudo isso que aconteceu, analisando friamente, o Santander recuou por causa da celeuma nacional ou por que entendeu que aquelas imagens realmente não eram apropriadas?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Senador, nós fechamos a exposição porque havia realmente uma manifestação que passou da questão de palavras para uma manifestação física contra a exposição.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Os seus filhos iriam àquela exposição ver aquelas imagens? O senhor acha normal uma criança do senhor ver aquelas imagens? É a minha pergunta para eu poder entender sobre as outras crianças. Seria normal o senhor descer lá com seu filho e sua esposa e dizer: "Vamos ver isso aqui, Jesus com pênis na mão, bunda, um monte de palavrão em cima da hóstia, que vocês comem na missa? Isso aqui é tudo cultura, meu filho. É muito bacana ver Nossa Senhora sendo debochada. Isso aqui é tudo bacana. Está vendo essa criança estuprada aqui? Isso é absolutamente normal."
A minha pergunta é a seguinte: recuou por causa de uma celeuma, porque a agência foi pichada ou porque entendeu realmente que não era uma exposição em que crianças deveriam estar expostas?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Senador, como eu comentei, houve realmente ameaças físicas a instalações e a pessoas. Além disso, a forma como foi colocada nas redes sociais, que levou a essa violência, deu uma interpretação de que era um crime que estava sendo cometido.
Senador, eu diria que um paralelo que podemos fazer seria com uma exposição que falasse sobre o Holocausto...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Não, o senhor... Eu vou fazer outra pergunta porque o senhor não me respondeu. O senhor está... Eu fiz uma pergunta objetiva. Se o senhor não for me responder objetivamente, não tem o menor sentido porque estou perguntando ao senhor objetivamente.
No guia de visitas à exposição, há uma palavra, na introdução, do curador, Sr. Gaudêncio. E, nessa introdução, ele admite que é uma exposição homoerótica. Vocês leram isso?
O SR. MARCOS MADUREIRA - De novo, Senador, essa é uma responsabilidade do curador. É que nós, Senador, nessas mesmas...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Desculpe, mas uma empresa do tamanho da sua, com a respeitabilidade que tem, botar agora a culpa só no curador não dá, não vale, porque, quando você abre mão de R$800 mil em renúncia fiscal para dar para uma exposição não pode dizer que não sabe o que contém nela. O senhor me desculpe, o senhor é um homem escolado, inteligente... Agora, imagine o senhor: eu aqui defendendo o Gaudêncio - imagine o senhor. Agora vai ficar tudo na conta dele?
Então é o seguinte: se ele afirma que tinha isso, então ninguém... A CPI não foi... Vocês não fizeram uma renúncia... Fizeram uma renúncia sabendo a que estavam renunciando e que era esse tipo de exposição.
R
E eu fiz uma pergunta ao senhor muito objetiva e que, para mim, clareia muito e até encerra isso aqui: o senhor levaria seus filhos para verem aquelas imagens?
O senhor tentar fazer uma comparação com uma exposição sobre o Holocausto não tem o menor sentido. Nós estamos falando aqui é de imagem de criança sendo violentada, nós estamos falando é de bestialidade, é de uma criança sendo estuprada por três homens. Isso é que eu estou perguntando. Isso é CPI de Maus Tratos. Eu estou investigando isso. Então, quero saber até que ponto vocês sabiam que era isso ou que não era isso, para que eu possa formar juízo.
O SR. MARCOS MADUREIRA - Pois não.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - A história da empresa e comparar com o Holocausto não têm nada a ver.
Então, é de responsabilidade do curador, mas vocês, que patrocinaram, não têm responsabilidade nenhuma? Essa é a minha pergunta. Vocês botaram quase R$1 milhão em alguma coisa e, agora, você está me dizendo que a responsabilidade é do Gaudêncio. Claro que não! Se há responsabilidade, é compartilhada. Onde é que está a responsabilidade de vocês nisso? Nenhuma?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Senador, quando nos trazem um projeto, que foi o que o curador fez, é um curador conhecido, ele traz um projeto com um guia, com algumas obras, e com uma temática. Nós aprovamos a temática, nós aprovamos algumas...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Como é o senhor que aprova, o senhor leu que havia essa palavra aqui? O senhor leu que havia essa palavra na proposta dele?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Homoerótica? Na verdade, eu não vi, Senador.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Mas o senhor aprovou um negócio que...
O SR. MARCOS MADUREIRA - Eu aprovei...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - ... nem o senhor sabe o que é. E agora diz que a culpa é do curador? Desculpe-me. Agora é o Gaudêncio que vai ser crucificado?
Se alguém tem culpa, tem que ter a mea culpa do Santander, foi o dinheiro que foi... Oitocentos mil reais num negócio que vocês nem sabiam o que era? Vocês rasgam dinheiro? Jogam dinheiro fora? O senhor me desculpe, o senhor me desculpe.
Eu vou continuar lhe perguntando objetivamente, mas, se o senhor não tem condições de me responder objetivamente... Está uma conversa de bêbado para delegado, porque eu estou perguntando um negócio e o senhor começa a fazer... Eu quero objetivamente. Eu não estou aqui investigando qualquer outro tipo de coisa. Só quero ouvir a verdade disso para formar juízo, mais nada, porque, ao final disso, há um relatório. Não há nada complicado nisso.
"Não, até aqui a gente não sabia. Quando explodiu aquilo tudo, foi que nós tomamos conhecimento." Sabe por que o senhor não me respondeu até agora? Porque o senhor não levaria os seus filhos lá. O senhor não pegaria as suas crianças pela mão, duas meninas, e levaria lá para ver dois homens abusando sexualmente de um negro. O senhor não levaria!
Então, é isso o que eu estou querendo entender. Então, não há problema nenhum dizer: "Olha, eu não sabia, eu não olhei, eu não vi. Nós realmente sabemos o valor."
Eu estou com as perguntas todas aqui, mas, do que já me foi colocado, penso que: ou o senhor não viu, não leu o que estava na exposição, o senhor não tomou conhecimento do folder deles, não foi o senhor que liberou... E não pode um homem que é executivo de um banco feito o Santander dizer que fez um troço que não viu, que a culpa é do Gaudêncio. O Gaudêncio levou o produto dele, e o senhor comprou porque quis. O Gaudêncio não foi fazer vocês patrocinarem. Ele foi lá e mostrou: "Olha, eu quero fazer essa exposição com isso, com isso, com isso, com isso, com isso". Agora o senhor vem aqui e diz que a culpa é do curador? O curador é o Gaudêncio; quer dizer, a culpa é só dele? Quer dizer, o Gaudêncio pegou na mão dos diretores, fez com que assinassem os cheques, o Gaudêncio fez com que dessem o "De acordo", o "O.k."? Não fez! Não fez! Então, quero saber o seguinte. O Santander tem culpa nisso? O Santander participa disso? O Santander recuou porque teve clientela indo embora, porque picharam agência, porque a sociedade civil brasileira, a sociedade de família que rejeita esse tipo de procedimento... Aliás, é uma violação da lei, do Estatuto da Criança e do Adolescente. O que eu citei aqui é violação. Eu posso pegar o Estatuto e ler para o senhor ou pedir o senhor para ler para mim. O senhor vai ver que cada palavra... Eu vou dizer uma coisa: eu fui o Relator da lei que tornou crime hediondo o crime de pedofilia. Parece que cada frase escrita ali é exatamente o texto da produção da exposição. Então, não tem sentido o senhor...
R
Aí nós estamos perdendo tempo. Pelo que o senhor já falou, eu já fiz juízo, eu já tenho juízo formado para o relatório do Relator. Agora, eu achei que o senhor ia dizer: "Olha, realmente, nós entendemos, olhamos e vimos que realmente havia coisas dentro da exposição que afrontavam, que não estavam dentro daquilo que nós entendemos que era a proposta e nós retiramos."
O SR. MARCOS MADUREIRA - Eu posso comentar?
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Pode.
O SR. MARCOS MADUREIRA - Senador, primeiro, não existe naquelas obras, no nosso entender - e isto o Ministério Público Federal confirmou -, nenhum incentivo à pedofilia. Na verdade, aquela obra...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Um procurador. E outro procurador fala diferente, e outros falam diferente. Então, a palavra desse procurador não é o suprassumo para dizer que não estava.
Eu pensei que, quando vocês escreveram aquela carta para o povo, uma carta do Santander dizendo por que parou a exposição, é porque tinham esse sentimento.
Agora, objetivamente, para eu encerrar isto aqui com o senhor, porque já vi que nós não vamos a lugar nenhum: o Santander tem algum tipo de culpa? Fechou a exposição um mês antes por causa de agressão física ou por que entendeu que havia obras ali que violavam sentimento de família?
O SR. MARCOS MADUREIRA - Senador, essas obras foram interpretadas assim, nós não entendíamos assim. Quando nós percebemos que pessoas, pela forma como foram divulgadas as imagens, tiveram esse sentimento, nós fechamos. Um dos quadros que o senhor coloca ficou, inclusive, aqui exposto...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Não, doutor, não pessoas... Eu perguntei... Eu não estou falando de pessoas, estou falando do banco.
O SR. MARCOS MADUREIRA - Não, o banco, vendo que houve esse sentimento das pessoas, que resultou nas agressões físicas... Nós fechamos por causa disso. Nós nunca, na nossa análise... E isso já foi exposto várias vezes, inclusive aqui, na Câmara dos Deputados, essa obra ficou exposta, e nunca houve nenhuma manifestação. Nós nunca tínhamos enxergado... Esse caso do quadro da Varejão é uma denúncia a práticas que nós consideramos atos ilegais e abusivos. Não estávamos, naquele quadro, defendendo nada. Nós estávamos... Toda a linha da exposição é de uma denúncia de coisas, de atos com que nós não concordamos de forma alguma, nunca de apologia, Senador.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - O Senador Humberto Costa acabou de chegar. Embora não sendo membro da Comissão, ele é membro do Parlamento, é Senador da República. Gostaria de falar?
O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Fora do microfone.) - Não, eu vou só acompanhar. Depois, eu...
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Eu já encerrei.
O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) - Já encerrou?
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Já.
Obrigado pela sua presença.
Para mim... Eu não vou adiantar, porque... O senhor me desculpe, mas, com todo o respeito, eu disse que acabei de ver uma conversa de bêbado para delegado, uma conversa muito mais de Rolando Lero que qualquer outra coisa. Com todo o respeito, não era isso que eu esperava ouvir, porque não é isso que vocês fizeram na carta que vocês mandaram ao Brasil. De qualquer maneira, o senhor vir aqui e dizer que a culpa é do curador, ou seja, a culpa é do Gaudêncio... O senhor disse que a culpa é do curador, o senhor disse que a responsabilidade é dele. Quer dizer que a responsabilidade é dele? Ele será o crucificado agora? Não. Ele foi vender um produto a vocês e vocês o compraram. Ele não foi lá, meteu a mão no dinheiro do Santander e puxou. Vocês patrocinaram, vocês sabiam o que estavam patrocinando. Agora dizer - é fácil - que a culpa é do curador, a culpa é do Gaudêncio... Inclusive, vou ouvi-lo aqui. Agora ficou muito fácil. Quer dizer, todas as vezes que eu lhe faço a pergunta, o senhor tenta me dar a mesma resposta. O senhor já percebeu que eu não sou menino, ninguém é menino. E carta que o senhor escreveu para o Brasil, que vocês escreveram, não reza nada disso que o senhor está tentando me explicar. As informações que o senhor me deu, as informações que o senhor passou, as informações da história do banco, de tudo do banco, acho tudo isso muito bonito, continue fazendo. Agora, é difícil para mim os senhores chegarem aqui e dizerem que aprovaram um troço e o curador tem que responder por isso - ele não violentou vocês, vocês fizeram espontaneamente -, e não fazerem a mea culpa nisso. O senhor diz que havia muitas obras, mas só focaram em duas. É dessas duas que estou falando. "Havia tantas e só focaram nessa?" É dessa que eu estou falando porque é o foco da minha CPI, maus-tratos infantis. Não estou falando de arte. A arte tem que continuar, eu sou defensor da arte. Eu sou do Estado das paneleiras de barro, que é uma obra de arte. Eu sou a favor da arte. Eu só não entendo que erotização de criança seja arte. Por isso eu lhe fiz aquela última pergunta.
R
Está encerrada a sessão.
O SR. MARCOS MADUREIRA - Obrigado, Senador.
O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco Moderador/PR - ES) - Volto a sessão nos próximos cinco minutos, porque será fechada, com o Sr. Sérgio Rial.
(Iniciada às 14 horas e 18 minutos, a reunião é suspensa às 14 horas e 49 minutos e tornada secreta.)