3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 27 de abril de 2017
(quinta-feira)
Às 9 horas
51ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Bom dia a cada uma e a cada um dos presentes a esta sessão que se destina a homenagear os 55 anos de fundação da Universidade de Brasília, a nossa querida UnB, em função do Requerimento nº 108, que foi assinado pelos três Senadores do Distrito Federal, o Senador Hélio José, o Senador José Antônio Reguffe e eu próprio. Os outros dois Senadores estão envolvidos em diversas atividades, mas, provavelmente - eu espero que certamente -, passarão por aqui para cumprimentar todos.
Para não esperar, até porque temos muitas outras atividades no Senado, eu quero dar início compondo a Mesa.
Eu chamei a Reitora, Profª Márcia Abrahão Moura, para subir já comigo, mas eu aplaudo a sua presença aqui, como se estivesse subindo. (Palmas.)
Eu convido o Vice-Reitor Enrique Huelva Unternbäumen. (Palmas.)
O nosso queridíssimo Isaac Roitman, que é um decano, no sentido amplo do que significa decano, não necessariamente pela idade. (Palmas.)
E convido o querido amigo José Geraldo de Sousa, Reitor, um grande professor e intelectual desta cidade. (Palmas.)
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Outras pessoas, além das da Mesa, farão uso da palavra, mas nós vamos colocar na mesa esse grupo.
Tradicionalmente, começa-se com o Hino Nacional, mas hoje eu gostaria de iniciar com um minuto de silêncio pelo falecimento ontem do nosso querido Prof. Carlos Chagas. Ele foi nosso professor por 25 anos, formou uma geração, até o final esteve trabalhando e faleceu ontem. Eu peço, portanto, um minuto de silêncio pela lembrança do Carlos Chagas.
(Faz-se um minuto de silêncio.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Consulto a nossa Reitora, Profª Márcia, para saber se ela quer fazer uso da palavra no início ou mais adiante.
A SRª MÁRCIA ABRAHÃO MOURA - Mais adiante.
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu também me guardarei para mais adiante. Então, passo a palavra...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Desculpe. Deve ser a quebra do momento com o falecimento do Carlos Chagas, pois eu esqueci que, no início, antes de tudo, é o nosso Coral da UnB cantando o Hino Nacional.
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(Procede-se à execução do Hino Nacional.)
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O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Maestro, além de agradecer e dizer da beleza, seria possível quebrar protocolo e ouvirmos mais uma música? Ou é abusar de você? Eu conheço o coral, está sempre pronto esse coral!
(Procede-se à execução musical.) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Sempre digo que poesia e música a gente deveria deixar para o final, porque é muito mais bonito, toca muito mais do que discurso, mas agradeço muito que a tradição seja diferente. Agradeço muito que vocês estejam aqui, porque a tradição se torna diferente. Começamos com a coisa para cima.
Muito obrigado, maestro. Muito obrigado a cada uma e a cada um também - há alguns ali atrás - do coral. Um grande abraço e muito obrigado. Espero vê-los - não comigo aqui - no 60º aniversário.
Dando início à homenagem em si, vou passar a palavra àquele que considero que vai ser o grande orador de hoje, que é o Prof. Isaac Roitmann. Isaac não precisa de apresentação.
Passo a palavra para o Sr. Isaac Roitmann.
O SR. ISAAC ROITMANN - Bom dia a todas e a todos.
Queria cumprimentar a Mesa, cumprimentar o Senador Cristovam Buarque, nosso sempre Reitor da Universidade de Brasília. Cumprimentar a nossa querida Reitora Márcia Abrahão Moura, o nosso Vice-Reitor Enrique Huelva e o eterno Reitor da Universidade de Brasília, Prof. Geraldo de Sousa Junior.
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A Universidade de Brasília completa neste mês 55 anos. No dia 15 de dezembro de 1961, o então Presidente da República João Goulart sancionou a Lei nº 3.998, que autorizou a criação da Universidade.
No dia 21 de abril de 1962, a UnB foi inaugurada em cerimônia épica realizada no Auditório Dois Candangos. A inauguração assemelhou-se com a construção da Capital Federal. Quase tudo era canteiro de obras, poucos prédios estavam prontos. A finalização do Auditório Dois Candangos foi concluída 20 minutos antes do início do evento. O nome do espaço Auditório Dois Candangos homenageia os pedreiros Expedito Xavier Gomes e Gedelmar Marques, que morreram soterrados em um acidente durante as obras.
A Universidade de Brasília foi fundada com a promessa de reinventar a educação superior, entrelaçar as diversas formas de saber e formar profissionais engajados na transformação do País.
A criação da UnB brotou do cruzamento de mentes geniais que poderíamos chamar de um trio de ouro: Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e Oscar Niemeyer. Darcy definiu as bases da nova Universidade, Anísio planejou o modelo pedagógico e Oscar transformou as ideias em arquiteturas contemporâneas.
Antes de sua implantação, a UnB teve uma pré-história que merece ser registrada neste momento. Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro foram encarregados por Juscelino Kubitschek de organizar o plano educacional de Brasília. A necessidade de uma nova estrutura universitária capaz de dominar todo o saber humano e colocá-lo a serviço do desenvolvimento nacional foi a semente plantada no Planalto Central que floresceu e deu origem à UnB.
Houve oposição de alguns setores que não queriam ter na Capital as chamadas badernas estudantis. Esse argumento foi neutralizado por lideranças como Cyro dos Anjos e Victor Nunes Leal e por várias entidades, sobretudo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
A primeira proposta foi implantar uma universidade católica, que evoluiu para a criação de uma universidade federal. Como citada no livro de autoria de Darcy Ribeiro "UnB, Invenção e descaminhos", "A UnB foi organizada como uma fundação, a fim de libertá-la da opressão que o burocratismo ministerial exerce sobre as universidades federais. Ela deveria reger a si própria, livre e responsavelmente, não como uma empresa, mas como um serviço público autônomo".
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A experiência inovadora teve vida curta, três anos e seis meses. Em outubro de 1965, em ato de solidariedade à demissão arbitrária de cerca de 15 a 23 docentes, 223 professores se demitiram, interrompendo os sonhos de seus criadores. O então coordenador geral dos Institutos Centrais de Ciências e Tecnologia Roberto Salmeron relatou no livro clássico da história da UnB, A Universidade Interrompida Brasília 1964-1965, o que ocorreu naqueles momentos.
Lentamente, nos dez anos que se seguiram (1965-1975), a UnB foi repovoada por professores que criaram e consolidaram excelentes núcleos de ensino, pesquisa e extensão em várias áreas de conhecimento. Nessa fase de reconstrução, a UnB teve de conviver com as atrocidades do regime militar, destacando-se o assassinato do líder estudantil Honestino Monteiro Guimarães e a invasão de 1968, registrada no épico documentário de Vladimir Carvalho, "Barra 68".
A reconstrução da UnB foi consolidada após o término do regime militar. Nessa reconstrução é pertinente lembrar os reitores que estiveram a sua frente a partir de 1985: Cristovam Buarque, aqui presente; João Claudio Todorov, Antônio Ibañez Ruiz, Lauro Morhy, Timothy Mulholland, Roberto Ramos Aguiar, José Geraldo de Sousa Junior, aqui presente, e Ivan Marques de Toledo Camargo. Atualmente, a UnB está sob o comando da Reitora Márcia Abrahão Moura e do Vice-Reitor Enrique Huelva Unterbäumen.
A comunidade acadêmica da UnB conta hoje com mais de 40 mil estudantes, 2.600 professores e 3.200 servidores técnicos administrativos. Ela oferece 73 cursos de graduação presenciais nos seus quatro campi: o da Asa Norte, hoje chamado campus Darcy Ribeiro, o campus de Ceilândia, do Gama e de Planaltina. Oferece também nove cursos de graduação a distância. Na pós-graduação stricto sensu, mestrados e doutorados, são ofertados 201 cursos.
A UnB tem uma longa tradição nas atividades de extensão, destacando-se a Semana Universitária, realizada anualmente. A UnB tem consolidado suas atividades de pesquisa com considerável produção científica e um consolidado Programa de Iniciação Científica. Além disso, seis Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia são coordenados por pesquisadores da UnB.
Uma das principais missões da UnB é a conquista de uma qualidade plena que a coloque entre as principais universidades do Planeta. Além disso, ela deve ser um modelo de universidade inclusiva. Para isso, ela deve se tornar uma instituição inovadora, redefinindo o papel dos professores, para que a aprendizagem seja prazerosa, e, como pregava o nosso grande mestre Paulo Freire, o estudante motivado seria o grande protagonista de seu aprendizado. As atividades no ensino e na extensão devem ser mais valorizadas para termos uma simetria entre os três pilares da Universidade: ensino, pesquisa e extensão.
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Na história da Universidade, várias iniciativas inovadoras merecem ser lembradas. Uma delas foi o pioneirismo na política de ações afirmativas, com a implantação de cotas para negros e índios em 2004. Essa iniciativa foi adotada posteriormente por outras universidades federais e foi inspiradora para a Lei nº 12.711, de 2012, que garante uma reserva de matrículas em universidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público.
Uma outra iniciativa que merece registro foi a criação do Centro Integrado de Ensino Médio (Ciem). Era uma escola aberta a experiências pedagógicas, as mais avançadas, com o ensino voltado para o desenvolvimento da criatividade e do pensamento. Nela se fundamentou uma educação para a autonomia do pensamento, para o desenvolvimento da inteligência criativa, permitindo a construção da individualidade, com base na liberdade com responsabilidade, para a aquisição de valores essenciais, compatíveis com a grandeza do ser humano, em um contexto criado para que os educadores, com as potencialidades inerentes a cada um, pudessem responder, a seu modo, aos desafios que lhes eram propostos.
Eu gostaria também de destacar, na gestão do Prof. Geraldo, a criação, em 2009, da Revista Darcy, revista de divulgação cultural e científica, que está sendo relançada nas celebrações dos 55 anos da UnB. Parabéns, Profª Márcia; parabéns, Jornalista e Prof. Sérgio de Sá.
Rendo minhas homenagens aos editores responsáveis pelas 15 edições da Revista: Luiz Gonzaga Mota, Ana Beatriz Magno, José Negreiros, Érica Montenegro e Paulo Paniago. Essa revista tem sido utilizada como conteúdo do ensino médio nas escolas de Brasília e tem sido um laboratório para a formação de jornalistas especialistas em divulgação científica.
Um grande desafio para a UnB, como para as outras universidades públicas, é a de ser um protagonista para a conquista da qualidade do ensino básico. Uma missão prioritária será a de formar o que eu chamo de "novo professor do ensino básico". A sua missão não será a de depositar o conhecimento, com falava Paulo Freire. Ele será um estimulador da criatividade do estudante. Terá a capacidade de identificar talentos e traçar uma trajetória de desenvolvimento. Será capaz de identificar as dificuldades de cada estudante e traçar estratégias para superá-las. Além disso, a universidade deverá ser um espaço de aprendizagem para os estudantes do ensino básico, através da implantação de atividades de aprendizagem, por exemplo, nos fins de semana e no período de férias.
Olhando para o futuro, será importante a correta utilização dos avanços nas tecnologias de comunicação e informação e a substituição de aulas expositivas por análise de temas e resolução de problemas. A promoção e consolidação de valores e virtudes - a ética, a solidariedade, o diálogo, etc. - em todo o sistema educacional e, sobretudo, no ensino superior, será importante para termos uma sociedade civilizada e ética, sem injustiças sociais, e que proporcione uma vida digna a todos os brasileiros.
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A produção de conhecimento, pesquisa e inovação deverá ter como foco a melhoria da qualidade de vida da sociedade.
Quando comemoramos os 55 anos da nossa UnB, tendo como tema "Ciência e Ousadia", seria importante fazer uma prospecção dos próximos 55 anos. Completaremos 110 anos de existência no ano 2072. Uma pergunta emerge: que Brasil queremos para o ano 2072? Certamente vamos querer um País sem miséria, sem fome e sem injustiça social. Vamos querer um País democrático, sem corrupção, onde as políticas públicas beneficiem toda a sociedade. Todas as ações deverão ser permeadas pela ética e solidariedade.
A UnB e todo o sistema educacional brasileiro devem ser protagonistas dessa utopia.
Eu não poderia deixar de lembrar e render homenagens a grandes figuras que hoje já não estão entre nós e que desempenharam um papel importante na UnB, que completa 55 anos. Entre elas, cito: Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Oscar Niemeyer, Luiz Gouvêa Labouriau, Wladmir Lobato Paraense, Claudio Santoro, José de Lima Acioli, Roberto Cardoso de Oliveira, Cassiano Nunes, Therezinha Paviani - e aproveito para cumprimentar o Prof. Aldo Paviani, aqui presente, e sua filha -, João Bosco Renno Salomon, Charles Mayer, Aluízio Rosa Prata, Philip Marsden, Vanize Macedo, João da Gama Filgueiras de Lima, Maria Léa Salgado Labouriau, Athos Bulcão, Roberto Pompeu de Sousa, Amadeu Cury, Frederico Simões Barbosa, Fernando Correa Dias, Waldenor Barbosa da Cruz, Lauro Morhy - nosso querido ex-Reitor -, Paulo Espírito Santo Saraiva, Victor Nunes Leal, Aliomar Baleeiro, Josaphat Marinho e Ezechias Paulo Heringer.
Tristemente, tenho que adicionar a essa lista o Jornalista e Professor da UnB Carlos Chagas, que nos deixou ontem.
Devemos render também nossas homenagens aos servidores da UnB que já não estão entre nós. Como representante desse segmento, que contribuiu para a construção e consolidação de nossa Universidade, lembro o servidor Teodoro Freire. Esse ilustre maranhense e torcedor fanático do Flamengo começou a trabalhar na UnB em 1962 - alguns meses depois de sua inauguração -, onde permaneceu até a sua aposentadoria compulsória, em janeiro de 1991.
Aqui, o criativo maranhense encontrou o espaço de articulação e fruição artística, necessários ao desenvolvimento da brincadeira do boi. No horário de almoço, relata o Jornalista Eraldo Peres, no livro O Encantador: Seu Teodoro do Boi, o mestre se enfurnava na carpintaria da Universidade, onde fabricava uns pandeiros quadrados. As primeiras apresentações, quando o recém-formado grupo de bumba meu boi já ensaiava em um terreno doado na cidade de Sobradinho, só foram possíveis graças ao apoio financeiro de Darcy Ribeiro, que viabilizou a compra de adereços, roupas e instrumentos com 60 mil cruzeiros.
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Mesmo depois de se aposentar, Seu Teodoro não se desligou da universidade. Vinha aqui sempre, encontrar-se com professores e funcionários. "Ele queria saber de tudo o que acontecia", relembra a Profª Geralda Dias, do Departamento de História. Comentando a trajetória de Seu Teodoro, o Prof. José Córdova Coutinho assim se expressou - abro aspas: "Tanto a Cidade quanto a Universidade só vão se consolidar quando incorporarem, em seu calendário de memórias, o produto da criatividade de seu povo, e mestre Teodoro é figura inconteste nessa moldura."
É importante também ressaltar a contribuição que ex-alunos têm feito e fazem em diversos campos de atuação, o que se constitui em nosso maior e mais precioso produto e o principal indicador de nosso sucesso educacional. Entre eles, cito: Rodrigo Rollemberg, Governador do Distrito Federal; Roberto Azevêdo, Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio; Lúcia Willadino Braga, Diretora da Rede Sarah; Sidarta Ribeiro, Diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Samuel Goldenberg, Diretor do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz no Paraná; João Batista Calixto, um ícone da farmacologia brasileira; Spartaco Astolfi Filho, da Universidade Federal do Amazonas, que coordena o Programa de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal; Hamilton de Holanda, que ontem foi homenageado, nosso grande intérprete e compositor, orgulho da música popular brasileira; Luiz Vicente Rizzo, Superintendente do Hospital Albert Einstein em São Paulo; Paulo Hoff, Diretor de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês; Edécio Cunha Neto, professor e pesquisador da USP; Dario Zamboni, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. E eu poderia prosseguir nessa lista.
Eu não poderia deixar de citar, entre os nossos ex-alunos, aqueles que ocuparam e ocupam o cargo máximo da Instituição. Refiro-me ao nosso querido Reitor Ivan Camargo e à nossa querida Reitora Márcia Abrahão Moura.
Estou já terminando, ouviu, Senador?
Recentemente, a Secretaria de Comunicação introduziu um projeto intitulado "Entrevistas Imaginárias", onde foram feitas perguntas a celebridades nacionais já falecidas e que seriam respondidas por pessoas vivas. Escolheram, como uma dessas celebridades, Darcy Ribeiro, fundador da UnB, e pediram a mim que respondesse as perguntas por ele. Aceitei o desafio. A última pergunta seria uma mensagem de Darcy aos jovens brasileiros.
Encerro meu pronunciamento com a resposta dada a essa pergunta, que é uma forma de termos Darcy Ribeiro vivo aqui. Abro aspas - Darcy Ribeiro falando:
Em primeiro lugar, eu gostaria de convocar os jovens para um olhar para o futuro. As próximas décadas serão de lutas para um renascer do Brasil. Antevejo algumas dessas batalhas. A primeira delas será reconquistar a institucionalidade da lei original que criou a Universidade de Brasília como organização não governamental, livre e autoconstrutiva. Depois dessa reconquista, a expansão dessa estrutura para todas as universidades públicas do País.
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Simultaneamente, cumpre libertar-nos da tutela ministerial, assumindo plenamente a responsabilidade na condução de nosso destino.
Os jovens deverão ser protagonistas, para, de forma permanente, reinventar o ensino básico e superior, de graduação e pós-graduação, fazendo deles instrumentos de liberação do Brasil.
Olhando para o futuro, nostálgico dos velhos tempos, o que peço é que voltem ao Campus Universitário Darcy Ribeiro, e a todos os campi do País, para aquela convivência alegre, aquele espírito fraternal, aquela devoção profunda ao domínio do saber e à sua aplicação frutífera.
Vocês, jovens, devem ser protagonistas, para elaborar uma versão contemporânea dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), iniciativa do governo de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, nos quais as crianças possam ter uma educação de qualidade em tempo integral.
Repito uma frase minha: 'A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto'. Desmontar esse projeto é a nossa principal causa. Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária.
Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que nos venceram nessas batalhas.
Deixo como herança os meus fracassos, para que sejam transformados em vitórias pelos jovens desta e das próximas gerações. E deixo o recado primeiro e último aos jovens: sejam brasileiros sempre apaixonados pelo Brasil.
Vivemos um momento difícil no Brasil. Todos temos o dever de trabalhar para reverter o presente quadro. Nesse contexto, eu lembro o pensamento de Oswaldo Cruz: 'Não esmorecer, para não desmerecer'.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Muito obrigado, Isaac.
Eu acho até que o seu discurso permitiria que eu não fizesse o meu, mas vou fazê-lo.
Antes disso, quero dizer que fiquei feliz que dois ex-presidentes da Associação de ex-Alunos da UnB querem falar. Acho isso extremamente positivo, especialmente para a instituição. Um é o ex-Presidente da Associação de ex-Alunos da Faculdade de Direito, que eu chamo para falar, Ronald Barbosa; e o outro é o querido Pedro Ivo, Presidente da Associação de todos os ex-Alunos.
Eu chamo primeiro o Ronald Barbosa.
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O SR. RONALD BARBOSA - Bom dia! Eu gostaria de cumprimentar primeiramente a Mesa, o Senador Cristovam; a Reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão; o Vice-Reitor, Enrique Huelva; e o Dr. lsaac Roitman. Eu gostaria de fazer um cumprimento também àquele que foi meu professor, José Geraldo de Sousa Junior, uma pessoa que incentiva o ensino na Faculdade de Direito. E agradeço, em nome da Alumni-Direito UnB, o espaço concedido pelo Senador Cristovam e pelo Senador Hélio.
Gostaria também de aproveitar este momento para desejar melhoras ao Presidente desta Casa, que infelizmente teve um problema de saúde nesta madrugada, o Senador Eunício. Desejamos melhoras para ele.
Antes de mais nada, inicio cumprimentando também, nesta manhã, os 4.222 novos estudantes que a Universidade de Brasília receberá por meio do Programa de Avaliação Seriada, cujo resultado sai hoje. O Programa de Avaliação Seriada foi implantado e idealizado pelo Senador Cristovam, na época em que ele era Governador, a quem também desejo os cumprimentos.
Eu inicio aqui a minha fala, trazendo a memória de um jurista que também contribuiu para a realização da ideia de Universidade de Brasília, Victor Nunes Leal. Falamos bastante de Darcy, de Anísio Teixeira e de Oscar Niemeyer, que tiveram um papel decisivo na criação da universidade. Mas, sendo Presidente da Associação dos Ex-alunos da Faculdade de Direito, trago a memória de Victor Nunes Leal, que, inclusive, teve uma participação anterior e muito interessante, porque, na época em que Darcy estava no Instituto Nacional Pedagógico tratando da questão do ensino no Brasil, convencendo sobre a importância da criação de uma universidade, Darcy disse que foi fundamental conseguir o apoio de duas pessoas: do Sr. Cyro dos Anjos, que era subchefe da Casa Civil, e do Dr. Victor Nunes Leal, que era chefe da Casa Civil, naquela época.
Qual foi a incumbência dada a Victor Nunes Leal? Convencer o Presidente da República sobre a importância de termos uma universidade federal aqui, neste espaço novo da Capital, no espaço de Brasília. Preocupado com o que iria falar ao Presidente, Dr. Victor Nunes Leal, depois de muito pensar, conversou com o Dr. Oswaldo Trigueiro e com Cyro dos Anjos e se remeteu à história de Thomas Jefferson. Tentando convencer o Presidente sobre a importância de haver uma universidade, Victor Nunes Leal acha o argumento e leva ao Presidente: "Presidente, o senhor sabe o que fez Thomas Jefferson?" "Bom, Thomas Jefferson foi Secretário de Estado, Presidente dos Estados Unidos e fez a Declaração dos Direitos Civis." "Mas o senhor sabe o que ele pediu que fosse colocado no epitáfio dele? Não que ele foi o Presidente, nem que ele foi o Secretário de Estado; Thomas Jefferson pediu que colocassem no epitáfio dele que ele foi o fundador da Universidade da Virgínia."
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Neste momento, relata Victor Nunes Leal, o Presidente Juscelino Kubitschek ficou muito feliz e falou: "Bom, é verdade. Temos que dar sequência a essa ideia da universidade. Fale agora com o Clóvis - que, na época, era Ministro da Educação - e peça a ele para encampar esse projeto." Ele falou: "Está tudo pronto. Darcy já tem tudo pronto." E, no dia 21 de abril de 1960, na inauguração da cidade, foi assinado o projeto que deu início à Universidade de Brasília.
Gostaria de cumprimentar a Senadora que preside agora esta sessão.
A história da Universidade de Brasília é uma história que se confunde com a história da cidade, é uma história que se confunde com a história de grandes brasileiros, porque foi nessa instituição, instituição vanguardista na Capital, que tivemos grandes pessoas com ideias de vanguarda, ideias que ajudaram a criar e a construir o Brasil. É essa a história da nossa Universidade. São essas vozes que reverberam nas paredes daquela instituição e que nos fazem prosseguir.
A história da Universidade de Brasília se confunde também com a história do Senado, pois as duas instituições, na década de 60, passaram por períodos de dificuldade. Tivemos a invasão da Universidade de Brasília, em 1964, e o fechamento do Congresso, posteriormente. Mas, coincidentemente, foi o Senado também, em 1976, que abriu o diálogo entre estudantes, reitoria e governo para a restauração da normalidade da instituição, que, em 1976, também enfrentava dificuldades com o regime militar. Foi um Senador desta Casa, o Senador Cristovam, o primeiro reitor eleito pela comunidade para que desse início, nesses novos tempos, ao trabalho.
Como eu disse, a história da Universidade de Brasília se confunde com a história das instituições, com a história daqueles que foram grandes e que apresentaram grandes projetos. E é isso, é esse espírito, é a determinação, é a capacidade de gerar o novo, de seguir e de ser senhor do seu destino que tem conduzido a história dessa Universidade, hoje sob nova direção. Sob a coordenação da Reitora Márcia Abrahão, nós temos também novas perspectivas. A Universidade de Brasília, como disse o Dr. Isaac, foi protagonista na questão da ação afirmativa, que foi uma questão importante, mas hoje caminha também em ventos novos, com novas iniciativas. Parabenizo essa nova gestão da Universidade de Brasília pela sua coragem, pelas suas ideias inovadoras que estão sendo colocadas e que são importantes para guiar a instituição e mostrar a sua importância.
Particularmente, falo em nome da Associação da Faculdade de Direito, que chamamos de Alumni, e falo desses novos projetos. Faço aqui referência ao nome do meu amigo Pedro Ivo, que preside a Alumni da Universidade de Brasília - eu presido a Alumni da Faculdade de Direito. Caminhamos juntos também neste espírito, Pedro Ivo, de trazer coisas novas no âmbito da Universidade.
A Alumni da Faculdade de Direito se colocou à disposição para fazer a reforma do prédio da faculdade. Chamou os ex-alunos para que eles pudessem contribuir com a infraestrutura básica, propiciando conexão em convênios com outras instituições de ensino. E fazemos isso por quê? Por que somos importantes? Por que queremos simplesmente melhorar a Faculdade de Direito? Não! Porque esses nomes que nos antecederam necessitam ser honrados. E eles só podem ser honrados com atos de grandeza.
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Acreditamos que, a partir do momento que entendemos que o espaço público não se restringe à responsabilidade da esfera estatal, e, sim, à responsabilidade de todos que dali tiraram proveito, construíram sua vida profissional, devem, sim, contribuir para que a instituição continue com o seu nome e com sua grandeza.
É uma grande alegria estar hoje aqui na tribuna, no plenário do Senado, com as senhoras e com os senhores, prestando esta homenagem e comemorando os 55 anos de fundação da Universidade de Brasília.
Eu gostaria de finalizar fazendo referência a duas frases de Darcy: "Só há duas opções na vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca."; e "Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada."
A coragem faz parte da história da Universidade de Brasília. A comemoração desses 55 anos corresponde à força dessa história.
Que Deus possa nos ajudar e que possamos ajudar uns aos outros para honrar essa história.
Muito obrigado. Agradeço a oportunidade.
A Alumni da Faculdade de Direito fica muito feliz com a oportunidade e se coloca à disposição para contribuir em todos os aspectos para o fortalecimento dessa instituição que é a UnB.
Parabéns, UnB!
Parabéns a todos!
Muito obrigado. (Palmas.)
(Durante o discurso do Sr. Ronald Barbosa, o Sr. Cristovam Buarque deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pela Srª Ana Amélia.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Muito obrigada, Ronald Barbosa, pela sua manifestação mais do que justa.
Eu fico muito feliz de estar nesses poucos momentos aqui presidindo esta sessão especial de homenagem aos 55 anos de uma instituição que honra todos os brasileiros, não apenas a nossa Capital Federal. Sinto-me mais honrada ainda por estar aqui uma mulher, reitora da UnB, Márcia Abrahão Moura.
Estou aqui por um motivo absolutamente explicável. O Senador Cristovam é membro titular ativo da Comissão de Relações Exteriores, em que também sou colega dele. E ele foi Relator da indicação do embaixador brasileiro que está indo servir o Brasil no Chile - um país de grande e intensa relação com o Brasil, especialmente nos momentos citados há pouco aqui pelo Ronald -, país em que muitos brasileiros e alguns Senadores foram exilados, durante o regime militar.
Eu vim até aqui para que ele pudesse lá comparecer para votar. Um deles foi aluno do Prof. Cristovam, que é o Fernando Igreja, indicado para os Emirados Árabes Unidos. Então, há dupla razão para ele ter se afastado daqui desses momentos. Honrosamente, eu vim aqui sucedê-lo e retorno à Comissão de Relações Exteriores. Ele foi lá e votou nos nossos candidatos.
Antes de retornar a Presidência ao meu querido amigo Senador, um exemplo de Parlamentar para todos nós em todas as circunstâncias - ontem mesmo aqui fez um brilhante pronunciamento a respeito de matérias que estávamos votando -, quero pedir licença ao Senador Cristovam para ler aqui um boletim médico emitido pelo Dr. Claudio Carneiro, médico responsável que atendeu o Presidente desta Casa, Senador Eunício Lopes de Oliveira. Faço-o, digamos, em justificativa à sociedade brasileira, especialmente a todos que estão aqui presentes.
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O paciente foi admitido nesta unidade de saúde devido a um desmaio ocorrido durante a madrugada. Já submetido a exames de imagem (TC de crânio e RM de crânio) com resultados normais, encontra-se, no momento, internado na UTI, mantendo observação. Apresenta-se hemodinamicamente estável, sem necessidade de uso de drogas vasoativas. Reavaliações periódicas serão realizadas no decorrer do dia.
A nota é assinada pelo Dr. Claudio Carneiro, médico responsável.
Então, é uma satisfação que temos de prestar à sociedade, dada a relevância do cargo que Eunício Oliveira ocupa, neste momento, como Presidente desta Casa.
Muito obrigada aos senhores e parabéns pelos 55 anos da UnB! (Palmas.)
(A Srª Ana Amélia deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Cristovam Buarque.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Quero agradecer à Senadora Ana Amélia, que se dispôs a vir lá de longe para cá, e que explicou porque eu tive de fazer essa indelicadeza - que se fez necessária - de sair.
E é por causa disso que, antes de chamar o Pedro Ivo, eu vou passar a palavra ao nosso Senador Hélio José, que assinou comigo. Eu digo é por isso, porque ele está presidindo uma outra sessão, que ele explica aqui para vocês qual é, e ele pediu para falar antes do Pedro Ivo, a quem eu peço um pouco de paciência.
Com a palavra o nosso Senador Hélio José.
O SR. HÉLIO JOSÉ (PMDB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Quero cumprimentar V. Exª, Senador Cristovam Buarque, e dizer que para mim é muita honra estar aqui. Não poderia estar ausente desta audiência importante, assinada por ele, por mim e pelo nosso Senador Reguffe.
Estou, neste momento, presidindo a audiência pública das rádios e TVs comunitárias. Todo mundo sabe a importância das rádios e TVs comunitárias para o Brasil. Eu sou o Vice-Presidente da Frente Parlamentar Mista das Rádios e TVs Comunitárias. Contei com a gentileza da Senadora Regina Sousa, que permitiu que eu aqui pudesse vir para poder fazer essas poucas palavras.
Eu tenho a honra de ter comigo a minha carteira de aluno da UnB, nos meus quatro anos e meio em que lá estive como aluno de Engenharia Elétrica, de ter a minha carteira do CREA, como engenheiro eletricista devidamente formado pela UnB, Universidade de Brasília. Minha turma foi a de janeiro de 1978, concluindo em fevereiro de 1982, em um momento bastante diferente do Brasil.
Quero cumprimentar o nosso nobre Senador Cristovam e, para mim e para o Senador Reguffe, foi muito importante assinarmos juntos esta audiência pública. A Drª Márcia, nossa Reitora, a quem eu quero cumprimentar, Magnífica Srª Márcia Abrahão Moura, e dizer que é com muito carinho, porque a senhora também é uma aluna da UnB, que temos a senhora hoje como Reitora. O nosso Vice-Reitor da Universidade de Brasília, Sr. Enrique Huelva, cujo sobrenome é meio complicado, Unternbäumen - acho que é mais ou menos isso.
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Quero cumprimentar o Professor Emérito do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, Sr. Isaac Roitman, parabéns. E o ex-Reitor da Universidade de Brasília, o nosso querido sempre, eterno, do Direito Achado na Rua, uma pessoa que nós admiramos, nosso nobre José Geraldo de Souza, que bem defende o direito das pessoas menos favorecidas, o direito daquelas pessoas que muitas vezes não têm voz, de se pronunciar e de ter realmente uma presença digna nos ambientes. Então, obrigado Prof. José Geraldo, pela sua existência, pelo seu Direito Achado na Rua e pela pessoa maravilhosa que sempre é.
Esta é uma data muito especial. Comemoramos hoje o aniversário de 55 anos da Universidade de Brasília, orgulho dos filhos desta cidade e dos adotados por esta terra. Mas não só isso, a UnB é uma universidade de referência nacional e internacional, orgulho para o Brasil.
A história da UnB confunde-se com a memória da própria cidade de Brasília. Criada em 21 de abril de 1962, a partir de um decreto do então Presidente João Goulart, a Universidade de Brasília tinha o honroso e desafiante propósito de reinventar o ensino superior no País. Não era mais suficiente um ensino baseado apenas na transferência de conteúdo, uma educação hierárquica e limitadora. Era preciso um novo modelo - um modelo em que os saberes se entrecruzassem e os profissionais formados estivessem engajados na transformação do Brasil.
Para tamanho desafio, seriam necessárias mentes de talento incomum, verdadeiramente personalidades inquietas: como Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Vítor Nunes Leal, Frei Mateus Rocha, Athos Bulcão, Oscar Niemeyer; e, por que não, Cristovam Buarque; por que não José Geraldo; por que não Morhy; por que não Timothy e todos os que passaram por lá; Ivan Toledo de Camargo - meu colega de turma, que fez comigo os quatro anos na UnB -; e, agora, nossa querida Reitora Márcia Abrahão.
Então, é uma história muito importante construída na UnB, que pessoas humildes, como eu, vindo do interior, lá de Corumbá de Goiás, consegui chegar aqui, estudar com dificuldade, passar, fazer um curso superior dificílimo, porque a Engenharia Elétrica, na minha época, era o terceiro curso mais difícil e mais concorrido da UnB. Naquela época era Medicina, Odontologia e Engenharia Elétrica. Os tempos mudam. E eu sei o tanto que tive que "ralar" para ser um aluno da cadeira de Engenharia Elétrica da UnB e o tanto que valorizo essa oportunidade que Deus me permitiu, de poder ter. Logo que concluí meu curso, fui aprovado num concurso público para trabalhar na Eletronorte. Trabalhei três anos e meio na Eletronorte. Depois, fui aprovado em outro concurso público para trabalhar na CEB, onde trabalhei 27 anos. Depois, fui aprovado em outro concurso público para trabalhar no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, onde trabalho nesses dez últimos anos. E sou Senador da República nesses dois anos que se passaram. Sou Senador por estes dois próximos anos. Ontem, fui indicado Relator da CPI da Previdência. Eu sei o tanto que a CPI da Previdência é um assunto importante para todos nós, e inclusive quero que meus colegas da UnB se sintam também relatores comigo e que me ajudem a provar que essa caixa toda de rombos da previdência não é culpa dos trabalhadores, não é culpa dos servidores públicos e não é culpa daqueles que todo mês têm seu contracheque pago rigorosamente, seus impostos e suas obrigações contratuais. E nós temos que ver formas mais adequadas para superar o rombo da previdência e comprovar quem de fato deve ou deixa de dever.
Então, meus colegas da UnB, estou fazendo um parágrafo aqui, um parêntese, dizendo que nós temos um desafio pela frente nestes quatro meses da CPI da Previdência, instalada ontem, de que eu sou o Relator, o Senador Paulo Paim é o Presidente. E vamos contar com todos do nosso País, para que a gente possa, de fato, demonstrar a real situação da previdência no Brasil.
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É uma equipe de notáveis, sem dúvida, a equipe dos formadores da UnB - Darcy Ribeiro é um exemplo para todos nós -, escolhida a dedo pelos dois primeiros, compôs esse time histórico essa turma aí. Cientistas, artistas e professores das mais tradicionais faculdades brasileiras passaram a lecionar na nova Universidade de Brasília, a nova universidade federal do País, alimentando os sonhos daqueles que buscavam um Brasil mais justo. Então, nosso nobre Darcy Ribeiro e nosso nobre Anísio Teixeira escolheram a dedo grandes nomes deste País para introduzir a UnB nessa grande universidade que é - naquele período, já era destaque, e hoje cada vez mais se destaca na sociedade.
Entre eles, faço uma pausa para lembrar o saudoso Pompeu de Sousa, nosso Senador, amigo aqui nesta Casa, ex-Senador que muito honrou esta Casa e baluarte da luta pela democracia e liberdades. Enfrentou a ditadura e as ameaças que lhe fazia o então capitão que estava investido de Reitor da UnB. Nós enfrentamos duramente para que o Cristovam fosse eleito nosso Reitor na UnB logo em seguida, depois que a democratização foi constituída. E o Cristovam fez um trabalho extraordinário junto conosco, aluno daquela universidade, para que realmente a UnB viesse para o rumo de Darcy Ribeiro, para o rumo de Anísio Teixeira e continuasse a sua trajetória.
Eu lembro que meu irmão, aluno de Medicina, quantas vezes enfrentou o King Kong e outros baluartes da ditadura que foram para dentro da UnB impedir que os alunos da Universidade de Brasília fizessem o seu real trabalho para garantir a democratização da universidade.
Senhoras e senhores, a história deste País é marcada não só por sonhos de equidade, mas também por períodos de injustiças e violência. Em nossa história, tivemos mais ditaduras que períodos democráticos, mais golpes que eleições. Com o Golpe de 1964, ainda muito jovem, a Universidade de Brasília passa então por uma grave crise, com episódios marcantes de violência e repressão. Em outubro de 65, 223 professores pedem demissão como resultado direto da dispensa arbitrária e abusiva de 29 docentes. A justificativa era de que a UnB havia se tornado um centro de manifestações e revoltas contra a ditadura. Estavam profundamente equivocados. A UnB era um ponto, sim, de resistência e democracia em prol da cultura, em prol deste País, que cada vez trabalhamos para construir e fazer dele grande nesta Casa. E tenho orgulho de estar ao lado do Senador Cristovam, ao lado do Senador Reguffe, nesta Casa, defendendo a ética, defendendo o bom senso e defendendo os caminhos adequados para o nosso País.
A duras penas, porém, após esse triste período de opressões, a Universidade de Brasília foi retomando seu lugar de destaque no ensino superior brasileiro, consolidando nosso interior como um polo de conhecimento para o restante do País. Maior universidade federal do Centro-Oeste, dona do quarto maior orçamento da União, ficando atrás apenas da UFRJ, da Universidade Federal de Minas Gerais e da UFF - Fluminense -, a UnB tem hoje mais de 30 mil alunos, 150 cursos de graduação, além de colecionar boas notas em avaliações nacionais e internacionais.
Eu tenho a honra de ter três filhas - uma já formada em Direito; outra estudando Engenharia Florestal (entrou para Ambiental e mudou para Florestal); e outra que entrou para Direito e mudou para Letras/Francês, porque assim entendeu melhor -, que estão na UnB, porque a UnB é excelência e merece todo o nosso respeito e nossa consideração.
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Caros Senadores, caros convidados, é verdade que a Universidade de Brasília foi criada em um impulso inovador e mesmo transgressor - como deve ser próprio dos estudantes, daqueles que compõem uma nova geração -, é esse mesmo impulso de renovação e modernidade que hoje caracteriza a UnB.
A Universidade de Brasília foi a primeira federal a adotar um sistema de cotas raciais para ingresso nos cursos de graduação, ainda em 2004. Esse sistema inspirou a criação de outros tantos Brasil afora. É a única do País com um programa de mestrado para povos tradicionais, que já beneficiou mais de 70 indígenas, quilombolas, raizeiros, entre outros - uma iniciativa que inspira dirigentes de universidades em todo o mundo. Então, isso faz, Cristovam, que a história que o senhor, que eu e que tantos outros ajudamos a construir realmente está, cada vez mais, no caminho certo. Por isso que, mesmo em prejuízo da audiência pública da CCT, e também não fui votar na CRE, porque sou membro dela também, tive de vir aqui proferir estas breves palavras.
Para concluir, a UnB também expandiu suas instalações físicas para além do centro da Capital, abrindo novos campi em Planaltina, Gama e Ceilândia. Favorece diretamente, desse modo, a população de baixa renda da cidade, sejam aqueles que querem estudar na universidade, sejam os que buscam os serviços oferecidos na forma de extensão acadêmica. Isso para citar somente algumas das conquistas recentes colecionadas pela nossa homenageada.
Comemorar, portanto, os 55 anos da Universidade de Brasília é celebrar uma parcela importante da história de Brasília, da história do Brasil.
Obrigado a todos.
Saiba, Drª Márcia Abrahão, que eu, como coordenador da Bancada Federal do Distrito Federal deste ano, tendo a honra de ter sido indicado pelo Senador Cristovam e pelo Senador Reguffe para representar a Bancada Federal - os três Senadores e os oito Deputados Federais neste período -, tudo o que nós pudermos fazer - eu, o Senador Cristovam e o Senador Reguffe - para colaborar para que a UnB continue sendo essa excelência, para que a UnB possa ter seus campi de Planaltina, do Gama, de Ceilândia cada vez mais consolidados, para que a gente possa, de repente, tonar realidade aquele sonho da população do Paranoá de ter um campi avançado da UnB, para que a gente possa resgatar o HUB, para ser aquela excelência que sempre foi o HUB, que era saúde complementar para o Distrito Federal. Quantos de nós já passamos pelo HUB - inclusive eu, que estou aqui falando com vocês - quando precisamos?
Então, estamos à disposição para sentar, para estarmos juntos com a comunidade da UnB, seja com a reitoria, seja com os professores, seja com os alunos, seja com os pesquisadores, para colaborarmos. Então, contem com a gente.
Foi-me dada também a tarefa de ser Presidente da Comissão Senado do Futuro, uma importante Comissão desta Casa, idealizada por este nobre professor, Senador Cristovam Buarque, similar a um exemplo que vem do Chile, onde essa comissão é uma das comissões mais importantes do Senado chileno. E nós a instalamos aqui.
Eu, então, como Presidente dessa Comissão, quero invocar aos professores da UnB: vamos para esta Comissão, vamos ser parceiros nossos no Senado nesta Comissão Senado do Futuro, fazer grandes fóruns de debates, debates futuristas com relação à questão das energias renováveis, com relação à questão da nova democracia, com relação à questão dos direitos humanos, com relação às várias questões inerentes aos jovens, aos estudantes e à qualidade que a gente precisa, cada vez maior, da educação, do trabalho, da segurança e da saúde em nosso País.
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Então, a Comissão Senado do Futuro está aqui, disponibilizando à UnB uma parceria, para a gente aproveitar esse espaço que o Senado oferece para nós, juntos, já que a UnB tem um filho seu, um aluno seu, como Presidente da Comissão Senado do Futuro nesses dois próximos anos. Ela foi idealizada pelo nosso eterno Reitor, o Senador Cristovam Buarque, e juntos podemos fazer dali uma caixa de referência, de discussão para o Brasil inteiro.
Muito obrigado, um forte abraço a todos e contem comigo: Senador Hélio José, do Distrito Federal. Um forte abraço. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Muito obrigado, Hélio José.
Eu, agora, passo a palavra ao Pedro Ivo, que é um amigo de muitos de nós, inclusive meu.
O SR. PEDRO IVO - Exmo Sr. Senador e eterno professor, Cristovam Buarque. Gostaria de saudar aqui também o Senador Hélio José, o Senador Reguffe, que escreveram esse requerimento para o dia de hoje. Magnífica Reitora da Universidade de Brasília, Profª Márcia Abrahão; Prof. Enrique Huelva, nosso Vice-Reitor; Prof. José Geraldo, nosso ex-Reitor e professor; e o nosso querido Prof. Isaac, muito bem representando todos estes últimos anos que ele tão bem viveu em nossa universidade.
Bom dia a todas e a todos. Para mim é uma satisfação enorme estar aqui, no dia de hoje, falando em nome da Alumni UnB, que é a associação dos ex-alunos de toda a nossa universidade.
Senador Cristovam, essa instituição, fundada há 32 anos, com muita ajuda do senhor, está hoje enraizada em três grandes compromissos. O primeiro deles é o mais objetivo e simples, que é o sucesso dos nossos egressos, representar, de fato, os ex-alunos. Nosso segundo compromisso está com a excelência acadêmica da nossa universidade. E o terceiro, e talvez o mais desafiador, seja trabalhar pelo desenvolvimento cultural, social e econômico de Brasília e do Brasil.
Nesse sentido, Profª Márcia, é uma pena notar que a nossa associação passou esses últimos anos um pouco distante, não só da comunidade acadêmica, mas de toda a sociedade da nossa cidade. Estava muito difícil perceber, para os egressos, qual era de fato o papel da associação dos ex-alunos, muito diferente do que a gente está propondo agora, neste novo ciclo que foi iniciado em novembro do ano passado, quando eu, Gabriel, Max e alguns outros diretores que estão aqui, no nosso auditório, no nosso plenário, assumimos a gestão da Alumni.
Nesses primeiros meses, nós já tivemos algumas iniciativas interessantes. Trouxemos, nesse primeiro nosso objetivo de garantir o sucesso dos nossos egressos, palestras de grandes empresas para apresentar seus programas de seleção dentro do nosso auditório, como a Ambev. Fizemos a transmissão simultânea da Brazil Conference, um evento muito importante que acontece em Harvard e MIT, com algumas das maiores lideranças do nosso País. Tivemos inúmeras palestras, debates, recebemos clubes. A professora, nossa Decana de Ensino de Graduação, Profª Cláudia Garcia, esteve em um desses debates que discutia exatamente o papel da mulher no desenvolvimento do nosso País, juntamente com a Fernanda Costandrade, a Diretora de Relacionamentos da Concentro, que é a Federação de Empresas Juniores do Distrito Federal, que está aqui conosco também.
Enfim, nessa linha, nós já fizemos algumas coisas nesses primeiros meses de dois anos de gestão. Estamos seguindo esse caminho e, sem dúvida alguma, honraremos o primeiro compromisso, de garantir e representar os nossos ex-alunos, garantir o sucesso e representá-los.
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Por sua vez, o segundo compromisso, Prof. Henrique, que está relacionado à excelência acadêmica da nossa universidade, talvez seja um pouquinho mais difícil de se concretizar. Porém, assim como o Ronald, relator que está em trabalho com a direção da Faculdade de Direito, que quer ajudar a reformar o prédio - e há várias iniciativas já em andamento -, nós começamos a dialogar com alguns diretores de unidade acadêmica. Entre eles, lá na Faculdade de Tecnologia, como egresso do curso de Engenharia Civil, mesmo curso a que o professor Paulo César, nosso chefe de gabinete, está vinculado, eu tive a oportunidade de conversar com o Prof. Antônio Brasil, nosso diretor, e discutir sobre a possibilidade de termos um novo espaço de estudo naquele ambiente acadêmico. Temos uma demanda enorme por mais espaços de estudo, Prof. Cristovam, Senador.
No mesmo sentido, em diálogo com o Prof. Sanches, nosso diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, percebemos a necessidade, de fato, de tirar o canteiro experimental da FAU do papel, e também estamos em diálogo sobre como podemos contribuir nisso. E como seria essa contribuição? Seria em diálogo com os ex-alunos. Todos nós podemos contribuir com projetos como esse. Então, vamos lá, vamos conversar com o egresso da Faculdade de Tecnologia; pessoas que estão no mercado; algum que queira contribuir com R$5 mil; outro, com R$10 mil; e a gente consegue fazer uma grande diferença na nossa universidade, seja através de uma sala de estudo na FT, seja através do canteiro experimental da FAU, que há anos não sai do papel, seja através de outras n possibilidades que podemos ter. E faço o convite para que pensemos juntos em como podemos tirar esses projetos do papel.
Estou vendo aqui o nosso Decano de Assuntos Comunitários, Prof. André, com quem também estamos em diálogo sobre como podemos contribuir com o nosso Centro Olímpico. Não é mesmo, professor? O senhor já teve oportunidade de coordená-lo e de dirigi-lo.
É nessa linha que estamos trabalhando no nosso segundo compromisso de contribuir com a excelência acadêmica da nossa universidade, com o tripé universitário: com o ensino, com a pesquisa e com a extensão.
Por fim, o nosso terceiro compromisso, que, como disse, talvez o mais audacioso, está muito relacionado ao problema que nosso País enfrenta atualmente, um problema que a nossa universidade enfrenta de corte orçamentário, de dificuldade de tirar os projetos do papel.
Fiquei muito feliz aqui, Senador Cristovam, de ter tido a presença da Senadora Ana Amélia na nossa sessão, porque eu a citaria no meu discurso, independentemente da presença dela aqui. Mas foi simbólica a presença dela, porque ela é autora do Projeto de Lei do Senado (PLS) nº16, de 2015, que nada mais busca, meus caros, do que regulamentar a existência de fundos patrimoniais, dos conhecidos endowments, no nosso País.
Ao longo do ano passado, trabalhamos seis meses para tirar um projeto do papel, que foi aprovado no Conselho de Administração da nossa universidade, o CAD, que era o Programa Parceiros da UnB. O que esse programa buscava e busca até hoje? Criar uma facilidade nessa interação com a sociedade, essa facilidade, Prof. Isaac, de uma contribuição maior. E, sem dúvida alguma, se olharmos para grandes exemplos lá fora, se olharmos as universidades mais renomadas, vamos perceber que todas elas possuem fundos como esse - fundos patrimoniais ou fundos perpétuos, mais conhecidos como endowments.
Em parceria com o Ronald, na Associação de ex-Alunos da Faculdade de Direito, trabalhamos insistentemente sobre esse projeto, que teve um avanço.
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E, novamente, Senador Cristovam, a UnB esteve à frente do seu tempo, porque já aprovou um projeto que está em discussão hoje no Senado. E, neste momento, eu gostaria de colocar o compromisso da Alumni em ajudar nesse diálogo de aprovação de um projeto tão importante como esse, que pode facilitar muito a contribuição dos nossos egressos. Ele já foi aprovado na Comissão de Educação e está aqui nesta Casa.
Fazendo uma análise muito clara, Prof. Cristovam, o senhor, que ajudou tanto com relação ao projeto de lei que foi aquele que regulamenta as empresas juniores - novamente cito aqui a Fernanda, que está representando a nossa Federação -, teve uma participação brilhante. Foram quatro anos. Como é que um grupo de jovens, com a idade de 20 anos, conseguiu aprovar um projeto de lei no Congresso Nacional?
Foram quatro anos, meus caros, quatro anos, desde 2012 - projeto de autoria do Senador José Agripino -, com grande participação do Senador Cristovam, foi aprovado na Comissão de Educação desta Casa, seguiu adiante, foi para a Câmara dos Deputados, teve alteração, teve que voltar para a Comissão de Educação do Senado e, enfim, foi sancionado no ano passado. Como um grupo de poucas pessoas, com idade de 20 anos, conseguiu tirar um projeto de lei do papel? Isso é algo fenomenal e, sem dúvida alguma, contou com uma grande participação do senhor e de tantos outros Senadores desta Casa e também de Deputados.
Então, se a Brasil Júnior, que é a nossa Confederação Brasileira de Empresas Juniores, conseguiu esse trabalho, nós, certamente, enquanto alumni, que é um termo latino que significa "egresso", alumni da UnB, alumni da Faculdade de Direito, juntando outras entidades de representação de outras universidades - como temos a Escola Politécnica da USP, os amigos da Poli, que já tem um endowment no valor de R$6 milhões, já está investindo na sua universidade -, se juntarmos essas outras iniciativas, conseguiremos, ao lado do senhor, Senador Cristovam, e ao lado de outros Senadores, transformar esse projeto em realidade. E ele, sem dúvida alguma, seria de grandiosa contribuição não só para a UnB, mas também para todas as universidades brasileiras.
E o senhor, Prof. Isaac, tão bem relatou aqui: como será que estaremos daqui a 55 anos, 2072? Onde será que a Universidade de Brasília estará?
Sem dúvida alguma, com um projeto como esse, com mais iniciativa, mais participação dos nossos egressos, tirando um projeto como endowment do papel, ela pode ter projeções inimagináveis no que podemos pensar no dia de hoje. Então, nós estamos fazendo grande história aqui. Nós temos a possibilidade de fazer história.
E, ao longo desses 32 anos de existência da Alumni, sempre fomos muito bem amparados e tivemos uma excelente relação com a nossa administração superior. Primeiramente, com o Senador e Prof. Cristovam, no início da fundação da Associação dos ex-Alunos, que tanto amparou a nossa existência. Sem dúvida alguma, não estaríamos aqui no dia de hoje sem a sua contribuição, Senador Cristovam. Assim como também não estaríamos hoje tão bem localizados, com uma sede tão bonita, com dois andares, compartilhada com a Aposfub, que é a Associação dos Aposentados, com auditório de 68 lugares muito bem equipado, sem a ajuda de outros dois ex-reitores. Primeiro, o Prof. Lauro Morhy, que cedeu aquele espaço e permitiu a execução do projeto e, segundo, o Prof. José Geraldo, porque foi na sua gestão que a sede foi inaugurada, aquele prédio imediatamente ao lado da ADUnB. Os senhores também tiveram grande participação na nossa história.
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E, hoje - agora me dirigindo à senhora, Profª Márcia Abrahão, e ao senhor, Prof. Enrique Huelva -, nós temos a oportunidade de avançarmos ainda mais. Nós temos a oportunidade de tirar grandes projetos como esse do papel. E eu gostaria de me colocar à disposição da Alumni, pois, sem dúvida alguma, o Ronald compartilha dessa ideia, de tantos outros colegas, de contribuir com esse novo passo que podemos dar. E temos quase quatro anos adiante, Profª Márcia. Temos tempo suficiente para avançarmos significativamente.
Para finalizar, eu gostaria de lembrar do discurso proferido pelo pai da UnB, Professor Darcy Ribeiro, ao senhor, Senador Cristovam, quando o senhor teve a oportunidade de assumir a gestão da nossa universidade. Em seu discurso, que se transformou em livro na nossa Editora UnB, Universidade para quê?, Darcy disse que sabia formar engenheiros, médicos e matemáticos, mas nunca grandes talentos, como foram Oscar Niemeyer, Aleijadinho e Heitor Villa-Lobos.
Mesmo assim, nesses 55 anos, formamos artistas, pensadores, cientistas. Sem dúvida alguma, formamos líderes, formamos amigos e formamos o caráter de muitas pessoas. Aqui representados nesta Casa, formamos dois Senadores, o Senador Reguffe e o Senador Hélio José. E o senhor, sem dúvida, Prof. Cristovam, faz parte da história da universidade, ainda mais presente, mesmo não sendo egresso na nossa instituição. E formamos também a nossa primeira reitora, mulher, aqui tão bem representada nesta Mesa, a Profª Márcia.
E tenho certeza, se é que ainda não conseguimos, um dia, formaremos um Oscar Niemeyer, um Aleijadinho, um Heitor Villa-Lobos. O resultado do trabalho da UnB são os ex-alunos, como muito bem dito aqui pelo Professor Isaac. E é sabendo que eles são, assim como queria Darcy, autênticos, singulares e criativos que sabemos que o trabalho está sendo bem feito.
Gostaria de deixar aqui, então, meus parabéns à nossa Universidade de Brasília. Parabéns aos nossos estudantes, aos nossos servidores técnicos administrativos, aos nossos professores e a toda nossa comunidade acadêmica.
Eu não poderia deixar de citar aqui o Chiquinho, que tanto representa a história da nossa universidade como comerciante. São milhares de pessoas que fazem parte da história da universidade. Eu queria, por favor, pedir uma salva de palmas ao Chiquinho. (Palmas.)
Chiquinho, você representa muito a nossa universidade. Este é um lugar perfeito para você.
É isso, meus caros. Gostaria de deixar esse Feliz 55 anos para a UnB e que venha 2072.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Muito obrigado, Pedro Ivo.
Eu quero fazer um intervalo para citar aqui algumas personalidades: a Srª Lorena del Carmen Martínez, Embaixadora da República da Nicarágua; a Adida de Cooperação Educativa da Embaixada da França, Srª Catherine Pétillon; membros do Corpo Diplomático das Embaixadas da República do Paraguai, da República do Sudão, da República de Angola; obviamente, nossos queridos senhoras e senhores decanos e diretores das faculdades e institutos, membros dos corpos docente, discente, servidores; e três figuras - uma é o Dr. Salviano Guimarães, que muito nos orgulha ter aqui; a sua esposa, Profª Maria Alice Guimarães, que tem uma longa história na nossa universidade; e, claro, o Chiquinho, que só não citei em primeiro lugar para não chamarem de nepotismo, porque somos compadres: sou padrinho do Lucas. Mas o Chiquinho é essa figura fundamental da nossa história e meu amigo, que muito me orgulha.
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Bem, os que me conhecem sabem que não sou muito chegado ao protocolo, apesar de que seja algo importante para pôr ordem nas coisas, mas vou cumprir o protocolo hoje. O protocolo diz que quem faz o último discurso é a pessoa mais importante na mesa. E a pessoa mais importante, para mim, é a Profª Márcia, que representa a Universidade.
Portanto, vou fazer os meus comentários sobre esta manhã, dizendo, inicialmente, que, de todos os cargos que já ocupei, nenhum me traz uma gratificação biográfica maior do que a de reitor. E aí incluo não apenas cargos como Governador, Senador, Ministro da Educação, os livros escritos, programas que implantei bem-sucedidos. Tudo isso trouxe satisfação menor do que aqueles quatro anos difíceis, mas - vocês sabem, o José Geraldo sabe - quatro anos ricos de ser reitor.
Eu tenho razões para essa satisfação: além do desafio que é ser reitor, você tem que ser um político, tem que ser um intelectual, você tem que ser um diplomata, porque está na Capital da República, você tem que ser um negociador.
Eu fui o primeiro eleito pela comunidade, e tivemos quatro anos de relação perfeita com todos os segmentos. Os pequenos problemas ou grandes que tivemos não foram da comunidade com a administração, foram da comunidade com os governos de então, por razões de reivindicações.
Conseguimos expandir a relação da Universidade com a comunidade exterior, acadêmica e não acadêmica. Ao final de quatro anos, aumentamos o número de alunos, professores, servidores, departamentos, institutos; iniciamos uma nova estrutura que chamamos na época, de universidade tridimensional, e para isso foram criados núcleos temáticos e os núcleos culturais, diversos centros como o de Desenvolvimento Tecnológico, programas de extensão.
Mesmo assim, apesar dessas criações todas e de eu ter feito um pequeno relatório sobre isso, quase sem texto, eram gráficos, mesmo assim, fiz questão de apresentar um relatório cujo título era Os Próximos 20 Anos, que tive a ousadia de distribuir para vocês. Ousadia por quê? Porque distribuí sem reler. Eu não sei o que está aí, 30 anos depois. É possível que haja coisas que nada mais têm a ver.
Mas, naquela época, a UnB tinha 27 anos apenas. Eu fiz questão de fazer algo 20 anos na frente. Naquela época diziam que pensar 20 anos era uma loucura, sobretudo porque é um País que passava por diversas moedas e outros problemas graves que a gente tinha.
Agora, 20 anos já se passaram. Creio que quase 20 anos depois, dez ou doze anos depois já estamos. Ou seja, já passamos 20 e mais 12 ou 13.
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Agora, aos 55, neste 2017, ao passo que lembro a conhecida glória dos nossos primeiros anos, que foram citados pelo Isaac, pelos demais oradores, citando, sobretudo, gente como Darcy Ribeiro, quero citar também Anísio Teixeira, citando grandes lutadores como os dois candangos. Eu cito também muito especialmente o Honestino Guimarães, citando Pompeu, e eu quero citar Lauro Campos.
Apesar de toda essa glória do passado, eu creio que vale a pena pensar os próximos anos na linha do que fez o Isaac e eu vou ser mais ousado: em vez de 20, vou pensar os próximos 45, que é o que faz completar os cem anos que o Isaac lembrou, que ocorrerão em 2062.
Eu gostaria de imaginar a marcha até o nosso primeiro centenário. O problema é que, muito diferente de 1989, quando fiz o texto de Os Próximos 20 Anos, apesar das dificuldades políticas, nós tínhamos um mundo que parecia ser bem administrado. Não tinha havido ainda a queda do Muro de Berlim, não tinha se iniciado para valer a revolução tecnológica, não tinha havido a perplexidade que hoje domina cada um dos que tentam agir aqui dentro, por exemplo, todos nós perplexos, os que tentam entender. Não estão perplexos os que não tentam. Hoje é muito mais difícil imaginar os próximos cinco anos, porque o mundo não se move mais na velocidade de 1989 e é impossível imaginar com clareza como deve ser a universidade de 2062.
Pode-se, entretanto, imaginar qual deve ser sua tendência até lá, neste momento de vertigem nas transformações por que passam a humanidade, a civilização e até mesmo o planeta físico nessa era antropocena. É uma vertigem o que estamos vivendo no mundo e no Brasil, que é um pedaço do mundo. Mesmo sem poder prever o que vai acontecer ao longo de décadas, a meu ver um conceito deve nortear toda instituição universitária e não só a UnB: esse conceito é ser vanguarda na geração do conhecimento e na busca de construir um mundo melhor, mais sustentável, belo e justo. O desafio é ser vanguarda e, aí, quanto mais vertigem, dificuldade e perplexidade, mais vanguarda precisamos ser.
Esta deve ser a tendência que ofereça continuidade aos mil anos de universidade no mundo, os quase cem de universidade no Brasil e os 55 de nossa UnB, criada não apenas para ser vanguarda do conhecimento na sua época, mas também para estar à frente também do próprio conceito, estrutura e compromissos de universidade. Darcy Ribeiro não quis fazer uma universidade que fosse vanguarda para o conhecimento. Queria uma instituição que - ela própria - fosse uma vanguarda do conceito, do sentido, do papel de universidade.
Nós nascemos vanguarda e devemos continuar nesse caminho entendendo o que mudar para estarmos avante, em tempos de transformações vertiginosas. E, aí, me atrevo a sugerir alguns itens.
Não é vanguarda a universidade que não se solidariza e busca solução humanista - no longo prazo - e humanitária - no imediato - para a tragédia da migração em massa. Não é vanguarda a universidade que não percebe o sofrimento de dezenas de milhares de seres humanos barrados no Mar Mediterrâneo e de bilhões barrados do outro lado nos mediterrâneos invisíveis que cercam o mundo moderno, inclusive nas universidades.
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Aqui ao redor, há um mediterrâneo que a gente não vê, mas, essa semana, os índios não puderam entrar aqui, porque havia um mediterrâneo vestido de soldados da polícia. E ao redor de onde eu moro, um apartamento na Asa Norte, há tanto tempo, há um mediterrâneo, nos restaurantes que eu frequento, nos hospitais aonde nós vamos. Não é vanguarda quem não luta contra esses mediterrâneos.
Não é vanguarda a universidade que não perceber a velocidade do avanço do conhecimento, fazendo com que a imensa maioria dos doutorados cheguem à sua conclusão com informações já superadas, com teses que já estão ultrapassadas no dia da defesa. Essa é a realidade de hoje. A universidade, para ser vanguarda, vai ter que inventar uma forma em que o doutor é on-line ou não é doutor, em que o aluno da graduação tenha que estar - ele próprio e também seu curso e o conteúdo - em permanente transformação.
Não é vanguarda a universidade imaginar que o saber confirmado por diplomas tem curta duração. Não é vanguarda a universidade que não imaginar, desculpe-me aqui a falha. Não é vanguarda a universidade que não imaginar que o saber confirmado por diplomas tem curta duração, tem prazo de validade, porque, na vertigem do conhecimento, ele avança muito mais rápido e se transforma antes do final da vida útil do profissional. A dinâmica atual exige que todo curso seja permanente ao longo de toda vida útil profissional do aluno, que nunca será ex-aluno; a não ser no túmulo, onde a gente pode escrever ex-aluno. A associação pode ser de ex-aluno no conceito dos que já têm o diploma; mas, se o diploma não foi renovado, ele já não reflete o conhecimento do momento.
Não é vanguarda a universidade não perceber que a educação de base... E aqui eu complemento e, na verdade, vou na linha do Isaac, que há anos fala nisto: não é vanguarda a universidade não perceber que a educação de base deve ter a máxima qualidade e ser oferecida com total equidade para todos, especialmente para as crianças, como forma de não desperdiçar um único cérebro que viva no Território de nosso País. Para isso, a universidade que quiser ser vanguarda deve envolver-se, técnica e politicamente, na busca da necessária revolução, que só será possível pelo ensino igual para todos, de qualidade para todos, tendo como lema fazer o Brasil um país com educação da máxima qualidade e garantindo que os filhos dos mais pobres estudem nas mesmas escolas dos filhos dos mais ricos. Esse é o slogan da instituição que quiser ser vanguarda. E aí não só a universidade; dos partidos, dos militantes.
A grande vanguarda hoje não é prometer a utopia que uma engenharia social construiria nas relações trabalhistas, nem na propriedade dos meios de produção; mas na igualdade, igualdade radical da qualidade da educação, independentemente da raça, independentemente da renda, independentemente do local onde mora a criança.
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Não é vanguarda a universidade não entender que os departamentos por categoria do conhecimento não são mais capazes de elevar o saber até o seu limite no entendimento dos problemas do mundo e não entender que, daqui para a frente, a instituição deverá trabalhar mantendo os departamentos, mas de forma multidisciplinar. Não é vanguarda um aluno ou um professor serem prisioneiros da caixinha do seu departamento.
Não é vanguarda uma universidade onde o aluno se forma em uma profissão, faz pós-graduação na mesma área do conhecimento, em vez de saltar para outras áreas e outros temas, nem aquelas onde boa parte dos seus professores foram seus alunos. Ou seja, explicando melhor, não é vanguarda uma universidade em que sofremos de uma endogenia, em que o aluno faz graduação, pós-graduação, "pós-pós-graduação" e entra como professor na mesma universidade. Alguns, tudo bem; mas, se é um número grande, a universidade cria uma endogenia. É uma espécie de incesto intelectual, que termina criando as deformações que o incesto cria na genética.
Não é vanguarda uma universidade monoglota, que fala apenas a língua nacional, em vez de buscar o desempenho de forma poliglota, usando os idiomas do mundo.
Não é vanguarda uma universidade que ainda considera que o ensino se faz apenas presencialmente, de professor para o aluno, no lugar da interação, hoje possível por meio dos modernos meios de comunicação, de forma aberta internacionalmente, em que os professores são alunos, e os estudantes podem ser professores de vez em quando, porque certos itens em debate ninguém garante que um professor saiba mais do que o aluno.
Não é vanguarda a universidade que optar pela média, que é uma das maneiras de se falar mediocridade, no lugar de exigir excelência e mérito no trabalho intelectual.
Não é vanguarda a universidade que se limita a medir o desempenho de seus membros pelas notas nas provas e os artigos publicados, no lugar também de mensurar pela inovação criada e por patentes conseguidas.
Não é vanguarda uma universidade prisioneira de seu próprio país, que não entende que, nesta era antropocena, a pátria é a terra, e o nacionalismo é o humanismo. Um desses dias, alguém me perguntou sobre isso de nacionalismo, patriotismo, e disse que o meu patriotismo, que é forte, só ia até quando encontrava um estrangeiro humanista, aí deixo de ser patriota; ou quando encontrava um brasileiro xenófobo, aí deixo de ser patriota. O meu patriotismo combina com o humanismo de todos os seres humanos e recusa o patriotismo dos que se sentem defensores de uma supremacia qualquer em relação aos outros.
Não é vanguarda uma universidade que não percebeu os limites ao crescimento econômico, baseando-se na utopia do consumo proposta pela civilização industrial.
Não é vanguarda querer apenas o crescimento econômico, orientado para aumentar o PIB e não - aí entra a vanguarda - para a ampliação do grau de liberdade, do tempo livre disponível, da criação cultural e espiritual.
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Não é vanguarda a universidade que não perceber a necessidade de revolucionar-se, ela própria, substituindo dogmas por dúvidas, reestruturando-se para ficar em sintonia com a velocidade como avanço no conhecimento, rompendo com seus preconceitos teóricos, incentivando os seus alunos a desertarem do que aprenderam e a formularem seus próprios conceitos. Não há maior traição do que um soldado que deserta do seu exército rompendo com o seu comandante em campo de guerra, mas eu acho que não há maior pecado do que o intelectual que não rompe com o seu mestre, elaborando algo superior, posterior. Imagine se Marx tivesse continuado fazendo genuflexões para Hegel. Foi romper com Hegel teoricamente que ele se fez grande.
Não é vanguarda a universidade que não perceber que o capitalismo global dividiu os trabalhadores em dois grupos, cujos interesses se chocam, por um lado cooptando, em altos níveis de renda, trabalhadores especializados do setor moderno e, ao mesmo tempo, jogando na miséria bilhões de pobres preteridos. E aí surgiu o que debati há 35 anos com o meu querido Lauro Campos: a ideia de que há hoje uma mais-valia ainda tridimensional entre os capitalistas, os trabalhadores dos capitalistas e os excluídos, que nem trabalhadores conseguem ser. Aqueles disputam, mas se unem; esses ficam de fora. A universidade vanguardista tem que imaginar essa realidade.
Não é vanguarda a universidade que não se dá como desafio mudar o mundo para desfazer os mediterrâneos invisíveis, que excluem os pobres em seus guetos e aprisionam ricos nas suas casas cercadas, fechadas, protegidas.
Finalmente, não é vanguarda a universidade que não for capaz de saltar da direita para a esquerda em um quadro que aqui está, em que listo 21 itens que, a meu ver, indicariam a diferença entre a universidade conservadora e a universidade vanguardista; da aceitação da mediocridade para a valorização do mérito; do acomodamento para a militância; do descomprometimento para o compromisso; da dedicação exclusiva ao contracheque em que só se ganha da universidade a uma dedicação exclusiva à atividade intelectual; da desumanização, que caracteriza o mundo, ao humanismo; do imediatismo futuro, da submissão a dogmas pela preferência a críticas e à contestação; da monodisciplinaridade para a multidisciplinaridade; da endogenia de resolver por dentro os seus problemas para a exogenia da convivência com todos os outros setores; do isolamento para a integração; do descuido com a inovação para a fonte de inovação; da instituição monoglota para a poliglota; do desperdício para eficiência.
Não é vanguarda o desperdício em um mundo em que o Planeta não aguenta mais continuar aumentando o produto interno bruto de maneira desvairada. O futuro será austero.
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Não é vanguarda a universidade prisioneira do interesse corporativo em vez do espírito nacional.
Não é vanguarda aquela que fica no burocratismo em vez de ter a confiança de agir e de correr o risco, sem cair nas amarras do burocratismo.
Não é suficientemente vanguardista a instituição que fica presa a artigos e não pula para valorizar patentes; ou aquela que fica presa à estatização e não à publicização, que significa servir ao interesse público; ou aquela que tem a estabilidade plena do servidor, do professor em vez de uma estabilidade responsável, comprometida com aqueles que nos fazem poder trabalhar, pagando seus impostos.
Eu creio que nós temos que refletir sobre como sair da pura, simples, ilusória gratuidade para um sistema em que nós sabemos que estamos sendo subvencionados. Nesses dias, houve um debate sobre algo de que as universidades não estão gostando. Eu coloquei que os alunos de Medicina e de Enfermagem deveriam passar dois anos, depois de saírem de suas universidades, prestando serviço no SUS. Eu lembrei que a universidade, na verdade, não é gratuita, como esta água aqui que eu vou beber de graça, mas que alguém pagou para ela chegar aqui; e como este ar frio, pelo qual estou vendo se acobertarem, mas que vocês estão pagando. É grátis, não é? Ninguém pagou para entrar, mas vocês pagam e pensam que não estão pagando. A gente tem que perceber que a universidade é paga. A gratuidade é de quem? A gratuidade não é de todos. Os recursos vão de um lado para outro.
Eu creio que a gente tem que sair da tolerância às falhas para a avaliação constante; da intolerância intelectual para a mais absoluta tolerância intelectual; da intolerância com os erros, com as omissões, para a tolerância com o pensamento.
Alguns talvez ainda estejam aqui na época do centenário - não é, Isaac? -, porque, nesse mundo vertiginoso, não vai ser impossível quem tem 40 anos hoje chegar aos seus cento e poucos anos. Para mim, obviamente, não vai dar mais, pelo avanço da vertigem científica, a não ser que consigam reencarnar as pessoas. Como eu disse a um cientista que falou que a morte está terminando, a mim já não interessa a imortalidade; interessa a ressurreição. Se vocês estão trabalhando nisso, me informem. Talvez poucos de nós conseguirão, graças à vertigem do avanço científico, estar aqui no centenário. Não vou estar, mas vou querer que alguém distribua essas provocações, como eu tive a ousadia de distribuir as que eu fiz há quase 30 anos - no próximo ano, faz 30 anos -, ou seja, há 29 anos, sobre os próximos 20 anos da universidade. Só que ali vocês vão ver que havia ainda uma estabilidade que me permitiu fazer um documento meio administrativo, burocrático, organizativo. Dessa vez, não dá. Dessa vez, seria uma ilusão, seria uma ficção científica.
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Eu preferi fazer uma reflexão no sentido de como continuar a única coisa que é permanente numa universidade: ser vanguarda. E a UnB nasceu para ser vanguarda, tem a obrigação de continuar vanguarda, para continuar sendo a universidade que é orgulho do Brasil e que a Profª Márcia tem o orgulho de dirigir.
Muito obrigado, Profª Márcia, por ser nossa Reitora, por estar aqui conosco. E conte comigo não apenas para eventos como este; conte comigo para tudo o que for preciso, como disse também o Senador Hélio José, para que a gente possa ajudar, a fim de que nossa universidade continue sendo o que ela é e a ser vanguardista, como o Brasil precisa.
Muito obrigado. (Palmas.)
Com a palavra a nossa Reitora, que hoje orgulha todos nós por ser a primeira reitora mulher, o que é um gesto que já deveria ter sido feito há mais tempo, mas chegou a hora, graças a sua competência, não por ser mulher, por disputar a escolha e ser uma mulher reitora. É muito bom isso, como disse a Senadora Ana Amélia.
A SRª MÁRCIA ABRAHÃO MOURA - Obrigada, Senador Cristovam - e falar depois do Senador Cristovam realmente é um desafio enorme, mas me coube essa tarefa.
Senador Cristovam, muito obrigada por ter solicitado a sessão solene, juntamente com o Senador Hélio José. Agradeço também ao Senador Reguffe, com quem tive também a oportunidade de conversar e que também já se colocou à disposição para colaborar com a UnB.
Cumprimento também meu querido Prof. Enrique Huelva, meu colega de batalha diária; meu querido ex-Reitor Prof. José Geraldo; e Prof. Isaac. Eu tenho orgulho de estar aqui ao lado de dois ex-reitores e eu votei nos dois. O Prof. Cristovam lembrou aqui que ele foi o primeiro reitor eleito. Naquela época, eu era estudante de graduação, e nós votamos na lista sêxtupla. A Profª Cláudia também era aluna na época, juntamente com a Profª Lia Zanotta, que estava ontem na homenagem dos 55 anos.
Cumprimento as demais autoridades presentes.
Um cumprimento especial ao Maestro David Junker. Muito obrigada, Maestro, pela belíssima apresentação e por todo o seu trabalho na UnB.
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Também cumprimento o querido Chiquinho, com quem convivo há muitos anos - nenhum de nós dois pode contar quantos anos, não é, Chiquinho?
E cumprimento todos os presentes.
Na nossa administração, além da Reitora, nós temos a alta administração com muitas mulheres. Estão aqui a Profª Cláudia, a Profª Helena, a Profª Maria Emília. Está também o nosso querido Decano de Assuntos Comunitários, Prof. André. É uma administração feminina.
Vou falar algumas rápidas palavras.
Eu quero ressaltar que o Prof. Cristovam Buarque não é geólogo, mas até geologicamente está à frente do tempo, discutindo o antropoceno, que ainda é uma discussão acadêmica. Realmente, todas as evidências mostram que nós, provavelmente, estamos mesmo em um antropoceno, o que não é mais discutido, mas o cientista fica discutindo tudo a vida inteira.
O Prof. Cristovam citou Honestino Guimarães, que iria ser geólogo, pois estava perto de se formar. Ele foi o primeiro colocado no vestibular de geologia no primeiro ano do curso de geologia, o primeiro vestibular do curso de geologia da UnB. Ele seria meu colega geólogo hoje em dia. Nos 50 anos do curso de geologia, nós homenageamos Honestino Guimarães
Senador Cristovam, é muito simbólico para a Universidade de Brasília estar aqui hoje com o Senado se abrindo para comemorar os 55 anos da UnB. E nós estamos comemorando com o tema "Ciência e Ousadia" para mostrar que é uma universidade que tem, sim, que ser de vanguarda; ela foi criada para ser de vanguarda e ela não pode se furtar a continuar sendo vanguarda. E o Senado Federal, ao longo desses anos, tem atuado em parceria com a Universidade de Brasília. Desde que eu assumi, desde que fui eleita, eu já estive aqui. O Senador Cristovam foi o primeiro Parlamentar que eu visitei, prontamente recebeu-me e tem atuado assim desde que assumimos.
A universidade nasceu - já foi relatada a sua história - também por uma inquietação do Darcy Ribeiro que conseguiu convencer o Parlamento, o Presidente a assinar o ato de criação da Universidade de Brasília, a lei de criação da Universidade de Brasília.
A universidade começou no Campus Darcy Ribeiro, que virou Campus Darcy Ribeiro recentemente - recentemente para nós, nós que já estamos ficando velhos -, e hoje já está em quatro campi. A universidade hoje também está na Ceilândia, no Gama e em Planaltina. Tive orgulho de participar e de coordenar esse processo de expansão com o Prof. José Geraldo, que, apesar de ser humanista também, saiu com um grande patrimônio e foi o que mais expandiu a universidade fisicamente, numa atitude corajosa. Eu tive oportunidade de ser, então, Decana de Graduação.
Nós também somos uma universidade que, ao longo desses anos, foi pioneira em vários temas. Ela foi pioneira nas cotas para negros e foi uma universidade que trouxe os indígenas para dentro, por meio do vestibular e convênio com a Funai. E nós, agora, estamos retomando o vestibular para indígenas, que ficou três anos sem acontecer. Também recebemos os índios, mas nós nos abrimos para eles e nós nos comprometemos a já, agora, fazer o vestibular para indígenas, porque é inadmissível nós ficarmos com a redução da comunidade indígena na Universidade de Brasília.
É uma universidade que tem sido protagonista dos grandes debates nacionais e internacionais em termos de qualidade acadêmica, na graduação, na pós-graduação, na ciência, mas é uma universidade que forma e formou pessoas para atuar no Brasil e no mundo. Ainda agora, vindo para cá, recebi um WhatsApp de uma colega, ex-aluna de geologia, que é professora no Canadá, chamando-me para uma pesquisa conjunta. Infelizmente, estou agora mais voltada para a burocracia.
É uma universidade que sempre quis ser vanguarda na ciência, mas também que jamais se furtou a participar dos grandes debates de Brasília e do Brasil.
É uma universidade que enfrentou bravamente a ditadura, custando a vida de muitos colegas, estudantes, docentes e técnicos; uma universidade que ainda hoje é uma universidade de resistência para que nós não percamos as nossas conquistas e continuará sendo uma universidade de resistência.
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É uma universidade que também tem a editora que completa 55 anos, uma editora muito importante. Ontem, o Prof. Aldo Paviani reafirmou a importância da editora.
O Hospital Universitário é um hospital que trabalha com altíssima complexidade e que obviamente ainda tem muitos desafios pela frente. Somos parceiros do GDF também na melhoria da qualidade de vida da população do DF.
É uma universidade que, com toda a importância que dá para a ciência, para a publicação de papers - hoje em dia, muitos colegas ficam escravos até mesmo, podemos dizer, da publicação de papers -, também tem a ousadia de criar e recriar a revista Darcy, uma revista para a divulgação científica e cultural da nossa comunidade, de modo muito mais palatável para a sociedade. Nós falamos muitas vezes para nós mesmos e achamos que todos têm que entender. Então, a universidade tem que se abrir, e a revista Darcy, que nós estamos relançando - relançamos ontem e hoje estamos reafirmando o relançamento, distribuímos aí para todos -, é uma revista que agora voltará a ser uma revista periódica da Universidade de Brasília. O Prof. Sérgio de Sá, que é o coordenador, o Secretário de Comunicação, teve a ousadia de relançar a Darcy, aceitando o desafio em poucos meses, não é, Prof. Sérgio de Sá?
Agora, é uma universidade que precisa de investimentos. É uma universidade que precisa de investimentos para continuar existindo, investimentos de todos os tipos, investimento do Governo, investimento da sociedade. E ainda agora eu estava aqui conversando com o Prof. Cristovam - desculpe-me, Senador Cristovam, mas sempre professor - da nossa necessidade de ampliar esse investimento, de ampliar, inclusive, a capacidade de recebermos os recursos próprios que nós mesmos temos a capacidade de gerar, mas que não podemos incorporar ao nosso orçamento por limitações orçamentárias. Eu costumo dizer que nós temos, muitas vezes - neste momento, particularmente, temos isto -, o dinheiro no banco, mas não temos nem o cheque, nem o cartão de crédito para usar. Então, ele mais uma vez se colocou à disposição para nos ajudar.
Já na nossa gestão, com esse olhar para o futuro, nós criamos o Decanato de Pesquisa e Inovação, porque a universidade tem, sim, que fazer pesquisa, mas ela tem que saber aplicar pesquisa. Ela tem que não só produzir papers, artigos, indicadores acadêmicos, mas também patentes, sabendo se colocar para a sociedade. O Decanato de Pesquisa e Inovação, então, vem nesse intuito. Ele incorporou o CDT, que passa a ter uma função muito maior de fazer com que as nossas pesquisas acadêmicas se transformem em patentes, em inovação. E o nosso parque científico e tecnológico passa a ter um papel muito mais preponderante dentro da cidade e dentro do País. Então, é um desafio enorme que nós temos, mas nós estamos nos propondo. A Profª Maria Emília é Decana de Pesquisa e Inovação; até então, ela era Diretora do Instituto de Ciências Exatas e veio para essa aventura de criar o Decanato de Pesquisa e Inovação. E o Decanato de Pós-graduação, que a Profª Helena dirige, passa a se voltar prioritariamente para a pós-graduação e para a iniciação científica.
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Como disse o Prof. Cristovam, uma universidade tem que se pensar para os próximos 45 anos. Uma universidade de vanguarda tem que sair das suas caixinhas. Na época em que eu era decana de graduação, nós criamos os cursos interdisciplinares. Infelizmente, até hoje, algumas unidades, alguns colegas não entenderam esses cursos, porque eles não são cursos de um departamento. "Mas eu quero participar do colegiado do departamento." Não. É um curso que é realmente interdisciplinar. Falamos muito em interdisciplinaridade, mas, na hora de praticar, nós temos dificuldade. Infelizmente, alguns desses cursos retrocederam e já entraram nas caixinhas. Nós temos que saber sair das caixinhas e pensar à frente. Não podemos mais ficar falando em ensino. Temos que falar em aprendizagem.
Estamos, exatamente neste momento, refazendo o Centro de Ensino a Distância da UnB para que ele se volte para a aprendizagem. Nós somos muito arrogantes, nós, professores. Achamos que somos nós que detemos todo o conhecimento e que o estudante vai ficar ali sentado, ouvindo o professor falar por horas - no nosso caso, duas horas. A geração de hoje é uma geração do século XXI, e nós continuamos dando aula no século XIX. Esse é um desafio para o decanato de graduação - está aqui a Profª Cláudia -, uma universidade que tem uma evasão enorme, uma universidade que se abriu para a sociedade, mas que continua não olhando adequadamente para a permanência dos estudantes, não aquela permanência paternalista, mas a permanência qualificada. Nós temos que dar qualidade para a formação dos nossos estudantes. Esse também é o desafio do Prof. André.
Nós continuamos e continuaremos cada vez mais abertos para a sociedade. Já começamos a fazer os grandes debates. Estamos trabalhando na construção do Fórum Internacional da Água, que será aqui no Distrito Federal, no ano que vem. Queremos contribuir para as soluções vindouras, para acabar com essa vertigem que nós temos, certo, Prof. Cristovam, Senador Cristovam?
Lembrando o que o senhor falou no seu discurso, não será de vanguarda a universidade que não for capaz de saltar da direita para a esquerda nesse quadro. Uma universidade tem que saber dar os saltos e tem que se comprometer. Uma universidade que tem na sua história tantas pessoas que foram retiradas brutalmente da nossa convivência não pode se fechar para os grandes dilemas da sociedade, para os grandes dilemas da humanidade. Esse é o compromisso que nós temos para os próximos 45 anos. Senão, não valeu a pena chegar aqui.
Vida longa à nossa UnB.
Muito obrigada pela oportunidade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Com os agradecimentos a todos que fazem essa universidade, desde Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, passando por todos, todos, todos os atuais alunos, professores e servidores, a todos vocês que vieram aqui, dou por encerrada esta sessão de homenagem aos 55 anos da UnB.
(Levanta-se a sessão às 11 horas e 27 minutos.)